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1 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Cirurgia Torácica CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS E CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS Avaliação Pré-Operatória: A avaliação pré-operatória tem como objetivo diminuir o risco de complicações pós- operatórias da cirurgia torácica. A complicação pós-operatória é definida como doença inesperada ou exacerbação de doença preexistente que ocorre até 30 dias após a cirurgia, alterando o quadro clínico do paciente e determinando intervenção terapêutica, farmacológica ou não farmacológica. Os principais exemplos de complicações pós-operatórias de cirurgias torácicas são pneumonia, atelectasias com sintomas respiratórios agudos, insuficiência respiratória aguda, IOT > 48 horas e broncoespasmo que necessita de intervenção terapêutica. A avaliação pré- operatória baseia-se em realização de anamnese, exame físico e exames complementares (espirometria). Fatores de Risco: Os principais fatores de risco para complicações pós-operatórias são: - Cirurgia torácica: as cirurgias torácicas são consideradas de alto risco para complicações pulmonares pós-operatórias. - Cirurgia de emergência. - Tempo cirúrgico aumentado. - Anestesia geral. - Transfusão de > 4 unidades de CHAD. Outros fatores de risco para complicações pós-operatórias de cirurgias torácicas são: - Idade avançada. - Classe ASA ≥ II. - Arritmia cardíaca. - ICC. - DPOC. - Tabagismo. - Alcoolismo/Etilismo. - Perda aguda de peso. - Uso de corticoide. - Dependência funcional. As cirurgias torácicas causam alterações pós-operatórias, tais como diminuição dos volumes e das capacidades pulmonares, alteração do padrão ventilatório, diminuição das trocas gasosas e diminuição das defesas pulmonares, aumentando o risco de complicações pulmonares pós-operatórias. Na paresia diafragmática, a capacidade vital diminui em 50-60% nas primeiras 24-48 horas de pós-operatório e retorna ao normal em aproximadamente 2 semanas. Além disso, o volume residual e a capacidade residual funcional diminuem em 30%, retornando a 90% do normal até o 5º dia de pós-operatório. Nas cirurgias torácicas, a alteração do padrão ventilatório é máxima em 24 horas de pós-operatório, devido à inflamação e ao edema pulmonar, e retorna ao normal em 2 semanas. O volume corrente diminui em até 25% e a frequência respiratória (FR) aumenta em até 20% de forma a manter o volume-minuto inalterado. A PaO2 pode diminuir em até 30% nas primeiras 48 horas de pós-operatório. Além disso, a alteração do padrão ventilatório, o decúbito dorsal prolongado, a imobilidade prolongada e a dor pós-operatória podem causar atelectasias. A atelectasia, portanto, pode ser causada por processo mecânico, mas também por processo inflamatório, devido à inflamação pulmonar resultante do trauma cirúrgico. 2 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 A atelectasia cursa com diminuição da relação ventilação/perfusão e representa a principal causa de febre nas primeiras 48 horas de pós-operatório. Além da febre, a atelectasia também pode cursar com taquipneia, taquicardia e tosse e, na maioria das vezes, apresenta resolução espontânea. Espirometria: A espirometria é um exame complementar frequentemente realizado para a avaliação pré-operatória de pacientes que serão submetidos a cirurgias torácicas. A espirometria avalia o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e a capacidade vital forçada (CVF) pré- broncodilatador e pós-broncodilatador, analisando a porcentagem que o paciente alcança do valor previsto e se há ou não resposta à administração de broncodilatador. Avaliação Pré-Operatória: A avaliação pré-operatória de cirurgias torácicas de ressecção pulmonar baseia-se em: - Avaliação cardiológica: ECG, ecocardiograma em pacientes > 65 anos de idade ou com história de quimioterapia prévia e avaliação de risco por médico cardiologista. - Avaliação pulmonar: espirometria pré e pós-broncodilatador e/ou difusão de monóxido de carbono (DLCO). A ventilação voluntária máxima (VVM) baseia-se em inspiração e expiração em 12 segundos. A presença de VVM < 50% e de CVF < 70% sugere mortalidade pós- operatória de 40%. A presença de VEF1 < 60% associa-se a aumento significativo de morbimortalidade pós-operatória e a presença de VEF1 < 50% geralmente contraindica a realização de cirurgia torácica. A partir dos resultados da espirometria pré- operatória, especialmente do VEF1 pré- operatório, pode-se calcular o VEF1 pós- operatório previsto para o paciente que será submetido à cirurgia de ressecção pulmonar. Além dos exames complementares, o teste da caminhada de 6 minutos também pode ser utilizado para a avaliação pulmonar pré- operatória. Os pacientes que caminham < 400 metros em 6 minutos apresentam aumento de risco operatório. Em geral, os pacientes que apresentam VEF1 > 2 L ou VEF1 > 80% do previsto ou DLCO > 80% estão liberados para a realização de cirurgia. Entretanto, em pacientes que apresentam VEF1 < 2 L ou VEF1 < 80% do previsto ou DLCO < 80%, deve-se calcular o VEF1 pós-operatório previsto. Se o VEF1 pós-operatório for > 60%, o paciente é classificado como de baixo risco operatório. Se o VEF1 pós-operatório for de 30-60%, deve-se realizar o teste da caminhada de 6 minutos para a determinação do risco operatório. Se o VEF1 pós-operatório for < 30% ou se o paciente não for capaz de realizar o teste da caminhada de 6 minutos, deve-se avaliar o VO2 máximo. Se o VO2 máximo for < 10 mL/kg ou < 35%, a cirurgia torácica está contraindicada. Se o VO2 máximo for de 10-15 mL/kg ou > 35%, deve-se considerar outras formas de avaliação de risco para a decisão quanto a operar ou não operar. Se o VO2 máximo for > 20 mL/kg, a cirurgia está liberada. Complicações Pós-Operatórias: Morbimortalidade Pós-Operatória: A mortalidade pós-operatória da lobectomia é de 4% e da pneumonectomia é de 11,5%. A morbidade pós-operatória da lobectomia é de 23,8% e da pneumonectomia é de 25,8%. Os pacientes que devem ter leito de UTI garantido no pós-operatório de cirurgia de ressecção pulmonar são: - VEF1 < 44% do previsto à espirometria. - Fibrose pulmonar. - Tabagismo ativo. - Idade > 70 anos. - Quimioterapia prévia. 3 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Obesidade. - Cardiopatia. - Disfunção hepatorrenal. O paciente deve ser extubado assim que possível, preferencialmente na sala de cirurgia. Os critérios de reintubação do paciente no pós-operatório são: - PaCO2 > 50 mmHg. - Estridor. - Cianose. - Agitação. - Não conseguir falar devido à dispneia. - pH < 7,25. - SatO2 < 85%. A fisioterapia respiratória já deve ser iniciada no pré-operatório para o paciente aprender a realizar os exercícios. Hemorragia: Sangramentos imediatos > 1 L ou > 200 mL/hora por 2-4 horas devem ser reabordados. Atelectasia: As atelectasias geralmente ocorrem entre o 3º e o 5º dia de pós-operatório e cursam com febre, taquicardia e taquipneia. Pneumonia: - A incidência de pneumonia é paralela à de atelectasia, pois normalmente a primeira é resultante da segunda. - Principais agentes causais: Streptococcus pneumoniae (pneumococo), Haemophilus influenzae e Staphylococcus sp. - Achados clínicos: febre, dispneia, escarro purulento, leucocitose, radiografia de tórax sugestiva (consolidação pulmonar). Escape Aéreo: - Após ressecções pulmonares, pequenos escapes aéreos ocorrem por 1-7 dias, apresentando resolução espontânea. - Escapes aéreos prolongados (> 10-12 dias) são comuns em pacientes enfisematosos, necessitando de intervenção específica. Fístula Broncopleural: - Após lobectomias ou pneumonectomias, geralmente após a primeira semana de pós- operatório. - Fístula broncopleural antes da primeira semana de pós-operatório geralmente é causada por má-técnica cirúrgica. - Achados clínicos: febre, escarro sanguinolento e exame de imagem sugestivo. - Após lobectomia, afístula broncopleural pode ter resolução espontânea ou necessitar de correção cirúrgica. - Após pneumonectomia, a fístula broncopleural é mais grave, geralmente resulta em empiema e necessita de correção cirúrgica. Herniação Cardíaca: - Após pneumonectomia com ressecção pulmonar e/ou ligadura intrapericárdica. - Geralmente ocorre nas primeiras 24 horas de pós-operatório. - A frequência de herniação cardíaca é igual à direita e à esquerda, mas à direita apresenta pior prognóstico devido à possibilidade de formação de dobra do coração, impedindo seu fluxo sanguíneo normal. Torção Lobar: - Geralmente ocorre com o lobo médio do pulmão direito após lobectomia direita superior. - A ocorrência de torção lobar indica a realização de nova ressecção pulmonar. - O tratamento baseia-se em suturar o lobo médio do pulmão direito ao lobo remanescente. Quilotórax: - O quilotórax é a entrada do quilo (gordura), que é transportado por meio do ducto torácico, na cavidade pleural. - Geralmente iatrogênico, por lesão do ducto torácico. Enfisema Subcutâneo: - Entrada de ar no tecido celular subcutâneo. 4 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Para que ocorra o enfisema subcutâneo, há necessidade de uma solução de continuidade na pleura parietal. Síndrome pós-pneumonectomia: - Mais comum à direita, ocorre por compressão ou torção traqueal e/ou brônquica devido à tração das estruturas do mediastino durante a pneumonectomia. Outras complicações: - Infecção de ferida operatória. - Síndrome da angústia respiratória aguda do adulto (SARA). Peculiaridades da Cirurgia Torácica: - Ventilação monopulmonar. - Tubo de ventilação seletiva (Carlens ou Robert Shaw): utilizado para a ventilação seletiva, ou seja, de apenas um pulmão, enquanto o pulmão contralateral é operado. - Decúbito lateral: paciente em decúbito lateral com o lado pulmonar a ser operado posicionado para cima. - Colapso pulmonar e expansão pulmonar. - Restrição ventilatória pós-cirúrgica. - Analgesia: a cirurgia torácica é considerada uma das cirurgias mais dolorosas, havendo necessidade de analgesia intensa com uso de cateter peridural.
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