Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
WEBCONFERÊNCIA 1 FUNDAMENTOS DA TEORIA LITERÁRIA PROFA. LUCIANA FERNANDES Noções Básicas de Literatura e Teoria Literária O que é Literatura? Debatendo o conceito: • A literatura é manifestação cultural das mais importantes, já que por meio dela o homem pode recriar a realidade e, pela imaginação, fazer existir um mundo de infinitas possibilidades. A produção literária pode seguir um estilo subjetivo de cada autor – que interpreta a realidade sob o seu ponto de vista - , ou, então, pode ser determinada pela ótica de uma sociedade de uma época. • A literatura é sempre um convite à interpretação: assim como o autor faz uma interpretação pessoal dos fatos de sua época, essa interpretação também é permitida ao leitor. À medida que o leitor reconhece na produção literária um mundo de possibilidades, isto é, diversas maneiras de interpretar e reintepretar a realidade ao seu redor, a obra literária ganha outros contornos que a enriquecem. A Literatura e a vida social • O texto literário está aberto a diferentes interpretações, pois a Literatura é a arte da palavra, mas a nossa interpretação de uma obra pode estar relacionada ao lugar que ocupamos social e historicamente. • Essa possibilidade que temos de ressignificar os textos e nossas próprias concepções quando lemos é um dos pontos que caracterizam a literatura. • A literatura também cria a recria a realidade. Embora possa ser determinada pela cultura de determinada época, a literatura não precisa ter um compromisso com a realidade. A palavra como material artístico • Literatura é a palavra usada para se referir a textos escritos com uma função estética. • Como matéria-prima, o escritor usa a palavra. As palavras, por sua vez, fazem parte de um sistema ordenado – a língua. A literatura utiliza-se da língua, muitas vezes subvertendo algumas de suas regras e o sentido comum de certas palavras. Textos literários e não literários • “Uma coisa é escrever como poeta, outra coisa como historiador: o poeta pode contar ou cantar coisas não como, mas como deveriam ter sido, enquanto o historiador deve relatá-las não como deveriam ter sido, mas como foram, sem acrescentar ou subtrair da verdade o que quer que seja.” Cervantes TEXTO LITERÁRIO TEXTO NÃO LITERÁRIO ◼ Não deixa de ser informativo, mas abre espaço para a ficção e para emoção. ◼ Expressa sentimentos. ◼ É subjetivo. ◼ Tem intenção estética ◼ Usa linguagem pessoal. ◼ Sugere, insinua, evoca e remete a algum outro lugar, situação, emoção. ◼ Tem característica conotativa. ◼ É predominantemente informativo. ◼ É objetivo. ◼ Tem intenção mais imediata e utilitária. ◼ É uma comunicação fria e direta. ◼ Diz, afirma e declara. ◼ Tem característica denotativa. Literatura, leitura e sociedade AUTOR OBRA PÚBLICO Teoria da Literatura: o que é e onde surgiu? • A teoria literária nada mais é do quem um saber, um conhecimento que se construiu a partir da transformação da literatura em um tema de investigação. • A contribuição dos gregos para pensar o fazer literário se deu com o surgimento de duas disciplinas: a retórica e a poética. • Mimeses é a imitação da realidade. A mimesis de Platão: a imitação da imitação MESA A mimesis de Aristóteles Em Aristóteles, mimesis é a representação artística – no caso, a imitação propriamente dita. Assim, ao contrário de Platão, Aristóteles valoriza a arte como representação do mundo. Em função disso, passa a ver o que hoje se chama de “belas-artes” (literatura, escultura, música, retórica, pintura, etc.) como técnicas, sendo a obra de arte pensada em conformidade com regras e procedimentos de fabricação. O artista – aquele que domina uma determinada arte – segue essas normas para atingir o fim a que a arte se destina. A verossimilhança Segundo Aristóteles, a representação deve sempre seguir certos critérios que a tornem possível. Ou seja, seus efeitos precisam estar de acordo com os efeitos da realidade para que ela possa, enfim, suscitar exatamente esses efeitos no espectador. Isso não significa que uma obra deva sempre reproduzir o modo como as pessoas veem a realidade. Significa, na verdade, que uma obra deve estabelecer com a realidade uma relação de lógica e necessidade com as referências que ela mesma suscita, de modo que possa ser entendida justamente a partir dessa relação. A verossimilhança, portanto, é uma lei que opera tanto interna quanto externamente: ela atua no interior da obra, costurando as relações entre os elementos que a compõem – as relações entre enredo, personagens, tempo, espaço, narração, etc. –, ao mesmo tempo em que opera com os fatos e as coisas do mundo a que necessariamente faz referência. Uma obra verossímil é a que utiliza a realidade como pano de fundo, ainda que a obra não adote as mesmas regras do mundo factual. Esse pano de fundo é necessário para que o espectador consiga estabelecer o que você pode chamar de pacto ficcional. As diversas linhas teóricas Já sabemos que o principal objeto de estudo da teoria literária é a obra literária em si, mas que ela também pode investigar a literatura em conexão com outros elementos, como a condição do escritor e o leitor, as formas de recepção pelo público, o ambiente cultural da obra que a envolve no momento de sua criação, exercendo influência sobre ela, e a história literária à qual a obra pertence. OBRIGADA! NOME DO APRESENTADOR CONTATOSCARGO FUNDAMENTOS DAS TEORIA LITERÁRIA Webconferência II Profa. Luciana Fernandes O que vamos estudar hoje? • Unidade 2 – Os gêneros literários Os gêneros literários e um pouco mais de teoria ❑ Ode – trata-se de uma composição em estrofes simétricas, um poema destinado a ser cantado, podendo apresentar um canto alegre ou triste. ODE AO AMOR (Augusto dos Anjos) Enches o peito de cada homem, medras N'alma de cada virgem, e toda a alma Enches de beijos de infinita calma... E o aroma dos teus beijos infinitos Entra na terra, bate nos granitos E quebra as rochas e arrebenta as pedras! (...) ❑ Sátira – caracteriza-se por zombar de alguém ou de alguma situação. É uma composição poética rica em sarcasmos e ironias, cujo objetivo é apontar e ridicularizar os defeitos de uma sociedade, incindindo em um tema em particular. Epigrama Que falta nesta cidade?... Verdade. Que mais por sua desonra?... Honra. Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha. O demo a viver se exponha, Por mais que a fama a exalta, Numa cidade onde falta Verdade, honra, vergonha. Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio. Quem causa tal perdição?... Ambição. E no meio desta loucura?... Usura. Notável desaventura De um povo néscio e sandeu, Que não sabe que perdeu Negócio, ambição, usura. ❑ Hino – textos que louvam ou engrandecem algo, como uma nação ou divindade. Hino Nacional do Brasil (...) Gigante pela própria natureza És belo, és forte, impávido colosso E o teu futuro espelha essa grandeza Terra adorada Entre outras mil És tu, Brasil Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil Pátria amada Brasil! (...) ❑ Haicai – forma tradicional da literatura japonesa, composto por três versos com dezessete sílabas poéticas. Arco-íris (Helena Kolody) Arco-íris no céu. Está sorrindo o menino Que há pouco chorou. ❑ Soneto – trata-se de um tipo de texto composto em conformidade com a métrica. É um poema com catorze versos, sendo dois quartetos e dois tercetos Amor é um fogo que arde sem se ver; é ferida que doi e não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealmente. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade se tão contrário a si é o mesmo Amor? Segundo Yves Stalloni, os elementos que são mais frequentes na Lírica são: • O verso; • A imagem; • A prosódia; • A intransitividade.Tipos de Romance • Romance de formação • Romance policial • Romance psicológico • Romance histórico ◼ Fábula – os personagens são geralmente animais com características humanas. O objetivo é transmitir mensagens morais por meio da história com linguagem simples. ◼ Conto – narrativa linear e curta. A linguagem é simples e direta. Envolve poucos personagens, os quais torno de uma única ação. As ações se passam em um só espaço, constituem um só eixo temático e só conflito. ◼ Novela – é um texto narrativo em prosa, cuja extensão é menor que a de romance e menor que de um conto. ◼ Crônica – faz um relato de um ou mais acontecimentos em um determinado tempo. Traduz fato do cotidiano com uma linguagem informal e sucinta. ◼ Ensaio – gênero reflexivo por excelência, no qual se desenvolve uma opinião ou apreciação de um tema. Epopeia – forma literária na qual se incluem narrativas longas com uma coletânea de façanhas e eventos histórico de uma ou diversas pessoas, reais, fabulares ou míticas. Estrutura da Epopeia •Proposição (ou exórdio): introdução da obra com apresentação do herói e do tema. •Invocação: parte da epopeia em que o herói pede auxílio e inspiração as divindades. •Dedicatória: a epopeia sempre é dedicada a alguém. •Narração: narração dos feitos heroicos. •Epílogo: encerramento da obra. Três Unidades do Teatro Grego 1. Unidade de Tempo - A história de uma peça deveria ocorrer num curto espaço de tempo, não podendo ultrapassar 24 horas. Sendo assim, uma peça era sempre um recorte temporal bastante rápido. A história contada só poderia acontecer no máximo ao longo de um dia. 2. Unidade de Lugar - A história de uma peça deveria estar ligada a apenas um lugar. Uma peça deveria se passar em apenas um cenário para não confundir o espectador. 3. Unidade de Ação - Uma peça deveria ter uma trama central e ela deveria ser claramente dividida em começo, meio e fim. Deveria haver claramente uma causa e um efeito. FUNDAMENTOS DA TEORIA LITERÁRIA Webconferência III Professor(a): Luciana de Santana Fernandes O QUE VAMOS APRENDER? • Os elementos da narrativa • Leitor, autor, narrador • O personagem de ficção • A organização espacial e temporal • Teorias narrativas: Narratologia e Teoria do romance AUTOR X NARRADOR • Autor: aquele que produz um texto, escrito ou oral, ou a quem se deve uma obra científica ou artística. • Narrador: aquele que narra, conta ou relata. Armadilhas do texto de Machado Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus. - Brás Cubas FONTE: ASSIS, Machado. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Abril, 2010. O narrador é, na verdade, uma entidade inventada. Falamos “entidade” para podermos generalizar um pouquinho essa definição. Isso porque um narrador não precisa ser, necessariamente, uma pessoa. Claro! Se o narrador é inventado e se há verossimilhança dentro da narrativa, ele pode ser um bicho, uma planta, um extraterrestre, enfim, ele pode ser qualquer coisa que um autor de literatura queira que ele seja e que a lógica da narrativa permita. No caso de Machado de Assis, ele quis que o narrador de seu livro fosse um cadáver. FOCO NARRATIVO • É o ponto de vista a partir do qual uma história é narrada. • Pode ser em 1ª ou 3ª pessoa. TIPOS DE NARRADORES, SEGUNDO GENETTE • AUTODIEGÉTICO – narra as próprias experiência (1ª pessoa). • HETERODIEGÉTICO – aquele que não participa da história. • HOMODIEGÉTICO – aquele que também é personagem, mas não o principal (1ª ou 3ª pessoa). NARRATÁRIO • O narratário é uma espécie de leitor imaginado. “Era fixa a minha ideia, fixa como... Não me ocorre nada que seja assaz fixo nesse mundo: talvez a Lua, talvez as pirâmides do Egito, talvez a finada dieta germânica. Veja o leitor a comparação que melhor lhe quadrar, veja-a e não esteja daí a torcer-me o nariz, só porque ainda não chegamos à parte narrativa destas memórias. Lá iremos. Creio que prefere a anedota à reflexão, como os outros leitores, seus confrades, e acho que faz muito bem.” (ASSIS, 2010, p. 28-29) O PERSONAGEM DA FICÇÃO • Figura fictícia de peça teatral, romance, conto, filme, etc. É quem realiza a ação. • Tipos de personagem: protagonistas, antagonistas, coadjuvantes. • Para Foster, existem basicamente dois tipos de personagem: os planos e os redondos. A distinção é bem simples. - Personagens planos: aqueles que apresentam características superficiais, comuns, sem profundidade; - Personagens redondos: aqueles que têm como características principais a complexidade e a multiplicidade. A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL • Um romance ou um conto costuma trabalhar com duas das principais técnicas do texto em prosa: a narração e a descrição. Vamos nos deter um pouquinho sobre essas duas formas, já que elas refletem um pouco da maneira como se articulam espaço e tempo no interior de uma narrativa. • Narrar: expor, oralmente ou por escrito, as particularidades de um fato, um evento ou uma sequência de ações; relatar algo. • Descrever: fazer a descrição de algo; contar pormenorizadamente; traçar características que fazem parte de determinado objeto. O TEMPO • É importante distinguirmos o tempo interno do tempo externo. O tempo externo é aquele que temos conhecimento, com medidas organizadas e convencionadas em minutos, horas, dias, semanas, meses etc. Esse é o que podemos chamar de tempo cronológico. Porém, o tempo interno é um tempo psicológico, um tempo transmitido de acordo com a necessidade do enredo, que pode ser às vezes acelerado e às vezes muito lento. TEORIAS DA NARRATIVA: NARRATOLOGIA E TEORIA DO ROMANCE • A narratologia surgiu mais ou menos entre 1920 e 1930, na chamada Escola Formalista Russa, com a intenção de estudar as narrativas de ficção e não- ficção, procurando encontrar elementos e estruturas comuns dentro delas. Um dos primeiros nomes de destaque da narratologia foi Vladimir Propp. Ele fez um estudo de narrativas do folclore russo e identificou situações que estavam presentes em todas as histórias. A chamada “Morfologia do Conto” apresentava diversas etapas que, com uma variação ou outra, faziam parte de tudo aquilo o que se contava oralmente. A JORNADA DO HERÓI DE CAMPBELL A TEORIA DO ROMANCE • Da mesma escola russa em que surgiram os primeiros estudos de narratologia, com Vladimir Propp, surgiu também um dos principais teóricos que pensou e escreveu sobre o principal gênero narrativo: o romance. Esse teórico era Mikhail Bakhtin. • Bakhtin refletiu e escreveu sobre diversos aspectos do romance, traçando como suas principais características: a contínua transformação de coordenadas temporais, o caráter inacabado de sua trama e o plurilinguismo. • Em primeiro lugar, pensemos no que Bakhtin chama de caráter inacabado. Para ele, o romance é um tipo de texto que ainda está por se constituir, se formar e se consolidar. A epopeia, ao contrário, nasceu com uma forma determinada e nunca se transformou, ou seja, sempre teve as mesmas características. O mesmo não ocorreu com o romance, já que os primeiros romancistas não puderam, e ainda hoje não se pode, prever todas as possibilidades plásticas que esse gênero é capaz de adotar. Além disso, para Bakhtin, o caráter inacabado do romance também está ligado com o presente que costuma ser retratado por ele. Ao contrário da epopeia que narrava fatos do passado, o romance costuma ser escrito com um olhar do presente, ainda que relate acontecimentos históricos. • Em relação ao segundo elemento que destacamos a respeito do que Bakhtin pensasobre o romance, a temporalidade, podemos novamente traçar um comparativo do romance com a epopeia. Na epopeia grega os personagens viviam um tempo imanente, ou seja, que não se transformava. Assim, não havia mudança, transformação ou evolução de um personagem. Se ele começava a história sendo uma pessoa gananciosa, por exemplo, ele necessariamente seria assim até o final da história, mesmo que se passassem muitos anos e ele tivesse tido algumas lições. Na contramão dessa ideia, o romance procura retratar o homem moderno que está em constante transformação e aperfeiçoamento, ele muda de ideias, muda de atitudes, mudas de convicções etc. Sendo assim, Bakhtin aponta a continua mudança de coordenadas temporais como uma das características próprias do romance. • Por último, a ideia de plurilinguismo foi a principal ideia de Bakhtin acerca do romance. Essa concepção diz respeito à multiplicidade de vozes que um romance é capaz de apresentar. Segundo Bakhtin, o processo de entrecruzamento de discursos diversos é algo inerente à sociedade. Quer dizer, para ele, a “voz” de cada indivíduo é permeada de referências de outras vozes, de outros contextos sociais, ou filosóficos e assim por diante. Quando damos nossa opinião sobre alguma coisa, por exemplo, não estamos dizendo algo que necessariamente surgiu de nossa cabeça de maneira autônoma. Normalmente, estamos mesclando discursos de determinados ambientes que frequentamos. FUNDAMENTOS DA TEORIA LITERÁRIA Webconferência IV Professor(a): Luciana de Santana Fernandes O QUE VAMOS APRENDER? Formalismo Estruturalismo New Criticism A morte do autor e a obra aberta Estudos culturais Crítica feminista FERDINAND SAUSSURE • Saussure foi o criador do mais importante campo científico ligado à área das letras: a Linguística. Ele escreveu um livro chamado Curso de Linguística Geral e essa obra causou muito impacto quando foi publicada pela primeira vez em 1916. No texto, Saussure sistematiza as possibilidades de estudo da língua e da linguagem, fazendo distinções importantes que até hoje são utilizadas. No Curso de Linguística Geral Saussure apresenta uma série de conceitos dicotômicos, ou seja, conceitos que são apresentados em duas versões opostas. As principais dicotomias saussurianas dizem respeito: às diferenças entre língua e fala (langue, parole); à visão diacrônica versus a visão sincrônica dos estudos da linguagem; às noções de sintagma em contraste com as noções de paradigma; e à ideia de significante em oposição à ideia de significado. FORMALISMO • Em 1914, dois anos antes do lançamento do Curso de Linguística Geral, havia sido fundado o Círculo Linguístico de Moscou, na Rússia. Esse “círculo” era formado por um grupo de pensadores e de pesquisadores, em geral ligados à Universidade, que procuravam pesquisar e escrever sobre temas relacionados às letras. Fizeram parte desse grupo, nomes muito importantes até os dias de hoje. Dentre esses nomes, podemos citar três dos mais importantes, sendo que todos eles você já conheceu nesta disciplina: Mikhail Bakhtin, Vladimir Propp e Roman Jakobson. • A teoria das Funções da Linguagem, que vimos na primeira Unidade, é considerada uma das expressões centrais do pensamento dos Formalistas. Como você deve se lembrar, essa concepção estabelecia padrões relativos à intencionalidade da comunicação de maneira que a função poética era isolada, demonstrando assim como a linguagem literária era capaz de se diferenciar das outras linguagens usadas socialmente. As seis Funções da Linguagem elaboradas por Roman Jakobson: Função referencial – tem a intenção de passar alguma informação de maneira objetiva; está presente em textos científicos e jornalísticos, por exemplo. Função emotiva – expressa algum tipo de emoção por parte do emissor da mensagem; costuma ser expressada em primeira pessoa. Função conativa – serve para impor, persuadir ou dar um comando; está centrada no receptor da mensagem. Função fática – tem o simples objetivo de iniciar uma conversa, testando o canal. Função metalinguística – refere-se à própria linguagem, por isso é encontrada nos dicionários. Função poética – atribuída à expressão literária. • Assim, o método Formalista, como o próprio nome já sugere, consistia em estudar a forma do texto literário. Isso quer dizer que os formalistas se preocupavam com aquilo que era intrínseco ao texto, como por exemplo: as palavras, a pontuação, a ordem, a sonoridade etc. Sendo assim, os Formalistas rejeitavam concepções que procuravam estudar a literatura a partir de elementos extrínsecos ao texto, como por exemplo o autor, o leitor, a representação do mundo etc. A partir principalmente dos estudos de Roman Jakobson, criou-se o termo literariedade, um dos mais importantes e conhecidos conceitos dos Formalistas. A literariedade nada mais é do que aquilo que define a função poética, ou seja, o que faz da literatura ser reconhecida como literatura e não como outra forma de expressão e comunicação. ESTRUTURALISMO • O Estruturalismo tem como objetivo observar as partes estruturais que se organizam formando uma totalidade. Como o próprio termo já diz, a estrutura é o que deve ser encontrada e observada depois de se fazer a retirada das camadas mais superficiais do objeto de estudo. • Em relação à literatura e à teoria literária, como você já deve ter percebido, essa ideia de “estrutura comum” já estava de certa forma no pensamento dos Formalistas. No conceitode literariedade de Jakobson essa ideia já estava, de certa maneira, presente. Também no conceito de estranhamento do texto, elaborada por Chklovski, a mesma ideia de estrutura comum estava mais ou menos presente. Essa aproximação não é aleatória, uma vez que, como já lembramos, tanto o Formalismo como o Estruturalismo partiram da linguística de Saussure. NEW CRITICISM • O New Criticism foi um movimento que surgiu em um ambiente acadêmico nos Estados Unidos. Como você deve se lembrar, o Formalismo havia surgido na Rússia e o Estruturalismo na França. Pois bem, como você pode notar ainda, no período de ebulição da Teoria Literária, uma série de grupos de intelectuais se formaram em países diferentes e, com isso, elaboraram teses e teorias que tinham suas diferenças, embora muita houvesse também muita proximidade possível de ser identificada. O New Criticism é o único desses nomes que muitas vezes não é traduzido, ou seja, você encontrará esse mesmo nome, em inglês, em diversos livros. Os autores que optam por traduzir o nome desse movimento, usam ou o termo “Nova Crítica” ou “Neocrítica”. • Para os New Critics , os elementos extrínsecos não deveriam ser admitidos de maneira alguma na análise de uma obra literária. Era o próprio texto, em especial o poema, que deveria conter absolutamente todas as ferramentas necessárias para que ele fosse pensado e desvendado. • Os integrantes do grupo New Criticism ficaram conhecidos pela postura bastante clara em relação à não acepção de elementos extrínsecos à obra como forma de análise. Tanto é que eles acabaram sendo os principais representantes contra a ideia de intencionalidade do autor, que era o método mais frequente de refletir sobre uma obra. Para eles, a biografia e o pensamento pessoal do autor de uma obra eram elementos completamente isolados do texto, estavam fora dele, e por isso não deveriam ser adotados como critérios de análise. A MORTE DO AUTOR E A OBRA ABERTA • O texto de Barthes se chamava A morte do autor e era justamente uma provocação às antigas ideias, especialmente às ideias dos críticos românticos alemães, que buscavam analisar uma obra literária a partir da pretensa descoberta da intenção de seu autor. Para Barthes a intenção de quem escreveu um texto não deve ter importância alguma, especialmente no contexto da Modernidade já avançada no século XX. Além disso, segundo ele, um texto não precisa ser desvendado ou compreendido. Isso porque um texto pode ser lido de inúmeras maneiras, ele é uma máquina repleta de significados e referências. • Assim se revelao ser total da escrita: um texto é feito de escritas múltiplas, saídas de várias culturas e que entram umas com as outras em diálogo, em paródia, em contestação; mas há um lugar em que essa multiplicidade se reúne, e esse lugar não é o autor, como se tem dito até aqui, é o leitor: o leitor é o espaço exato em que se inscrevem, sem que nenhuma se perca, todas as citações de que uma escrita é feita; a unidade de um texto não está na sua origem, mas no seu destino, mas este destino já não pode ser pessoal: o leitor é um homem sem história, sem biografia, sem psicologia; é apenas esse alguém que tem reunidos num mesmo campo todos os traços que constituem o escrito. (BARTHES, 2004) ESTUDOS CULTURAIS • Os Estudos Culturais surgiram na década de 1960. • Esses estudos tiveram um impacto direto na Teoria Literária da segunda metade do século XX e até mesmo do início do século XXI. A partir desses Estudos Culturais que a Teoria Literária abriu definitivamente o seu campo de observação, passando a refletir sobre problemas da vida social que estavam transpostos em textos literários, por exemplo. • Para compreender os Estudos Culturais, é importante pensar numa noção que também surgiu na segunda metade do século XX: a noção de multiculturalismo. CRÍTICA FEMINISTA • Estamos falando dos fins do século XX. Você deve saber que essa não é precisamente a data de nascimento do movimento Feminista no mundo. O Feminismo surgiu, na verdade, no século XIX. Entretanto, as teorias criadas a partir dessa vertente tiveram grande impacto na década de 1990, influenciando outros movimentos sociais e alcançando o pensamento acadêmico e científico. Esse período, na verdade, representa o que chamamos de “Terceira Onda do Feminismo”, e teve como uma das principais representantes a historiadora estadunidense Joan Scott. Scott escreveu um artigo chamado Gênero: uma categoria útil de análise histórica, que em pouco tempo se tornou a grande referência desse campo de estudos. • No texto, Scott coloca em pauta a distinção entre os verbetes gênero e sexo, defendendo a ideia de que há uma diferença biológica entre homens e mulheres, mas acima disso há também uma diferença construída e marcada socialmente. Como sabemos, essa distinção construída socialmente é utilizada para hierarquizar e para oprimir. Nesse contexto, a sociedade é a responsável por criar a ideia de que homens são seres superiores às mulheres. • Em meio a todas essas discussões relativas ao Feminismo, a Teoria Literária foi fortemente impactada. Surgiu, então, de maneira mais delimitada a Crítica Feminista. Este campo estava disposto a atuar em basicamente duas frentes: 1. O resgate de obras perdidas no tempo que tinham sido produzidas por mulheres; 2. A análise da figura da mulher em obras literárias já publicadas, reconhecidas e com grande circulação.
Compartilhar