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42 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II Unidade II 3 LEIS DA NUTRIÇÃO Em 1937 as condições ideais para a alimentação saudável já eram discutidas e avaliadas. Foi nessa época que o argentino Pedro Escudero definiu as quatro leis da alimentação, expressando, de forma simples, algumas orientações para dietas, contribuindo com a garantia da manutenção e do desenvolvimento saudável do organismo humano. Mesmo passados oitenta anos, essas leis se mantêm atuais e importantes. As quatro leis da alimentação saudável são detalhadas a seguir: — Lei da quantidade: a quantidade de alimentos deve ser suficiente para cobrir as necessidades energéticas do organismo; — Lei da qualidade: a alimentação deve incluir todos os nutrientes necessários, o que se obtém com a inclusão de todos os grupos alimentares; — Lei da harmonia: as quantidades dos alimentos devem ser harmônicas, respeitando a proporcionalidade; — Lei da adequação: a alimentação deve ser individualizada e deve respeitar as características sociais, econômicas e culturais (LANDABURE, 1968 apud ALMEIDA; FERNANDES, 2011, p. 56). Os nutrientes são componentes dos alimentos e são agrupados de acordo com a função orgânica que exercem no organismo. Há três grupos alimentares: energético, construtor e regulador. Os energéticos são formados pelos três macronutrientes – proteína, carboidrato e lipídios. A proteína também tem o papel de construtora. Os nutrientes reguladores são representados pelos minerais, as vitaminas, as fibras comestíveis e a água. A cada fase da digestão, os macronutrientes vão diminuindo de tamanho até resultarem em glicose, que é um açúcar simples absorvível pela corrente sanguínea a fim de gerar energia para nosso organismo executar funções primordiais, como a manutenção do sistema nervoso. O nível ótimo de glicose no organismo é de 70 a 90 mg por 100 ml de sangue (MARTINS et al., 2014). Em resumo, os grupos alimentares recebem a seguinte classificação e composição: • energético: carboidrato, proteína e lipídios; • construtor: proteína; • regulador: vitaminas, sais minerais e água. 43 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS 3.1 Macronutrientes A palavra nutriente deriva do latim nutriens, “aquele que alimenta”, de nutrire, “alimentar”. Nutrição é outro termo derivado dessa palavra. Nutrir tem relação com o organismo, em mantê‑lo em funcionamento. Nesse contexto, três nutrientes são categorizados como macro e são fundamentais para o organismo: • carboidratos; • lipídios; • proteínas. Nesse momento, vem à tona a seguinte questão: como se encontram na natureza as formas de nutrição? Há duas maneiras, a nutrição autotrófica, que acontece quando o organismo é capaz de retirar as substâncias minerais do meio ambiente e sintetizá‑las nas moléculas orgânicas de que necessita; para isso, o organismo absorve a energia do Sol através de uma substância denominada clorofila, em um processo conhecido como fotossíntese. Nele a energia do Sol cria as condições ideais para a transformação das substâncias minerais em orgânicas, liberando gás oxigênio (O2) para a atmosfera. Esse processo é usado por vegetais e uma das substâncias produzidas é a glicose (C6H12O6). A segunda maneira de nutrição é conhecida como heterotrófica; não envolve a fotossíntese, precisa apenas que o organismo ingira outros organismos vivos (GEWANDSZNAJDER; LINHARES, 1995, p. 17). Segundo Gewandsznajder e Linhares (1995, p. 15‑16), todo ser vivo precisa de constante reabastecimento de proteínas e de moléculas através de sua alimentação, e isso é necessário devido ao desgaste natural que ocorre em seu organismo com o passar do tempo. A alimentação reconstrói o que é desgastado e forma novas moléculas de proteínas nas fases de crescimento e desenvolvimento. A alimentação não tem somente a função de reconstruir moléculas, tem, ainda, o papel fundamental de gerar energia através da queima de moléculas. A molécula mais vantajosa para o organismo queimar e produzir energia é a glicose, derivada de um carboidrato. A glicose reage com o O2, transformando‑se em gás carbônico (CO2) e água (H2O), processo denominado respiração celular aeróbica. Em alguns casos a glicose é fermentada, por isso ela não é totalmente quebrada e não promove a energia máxima para o organismo; a construção de moléculas pelo organismo também cria energia, em menor quantidade. A união de todas essas formas de reação molecular no organismo é chamada de metabolismo. Essa energia gerada no organismo é conhecida como caloria. Seyffarth (2006/2007, p. 5) explica que a caloria é: A representação métrica de energia produzida por determinados nutrientes quando metabolizados pelo organismo [...] Os principais grupos fornecedores de calorias são os macronutrientes: carboidratos, proteínas e gorduras. Os carboidratos e as proteínas, quando totalmente metabolizados no organismo, geram 4 kcal de energia por grama, enquanto as gorduras, 9 kcal. 44 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II 3.1.1 Carboidratos Todo ser vivo demanda energia em forma de calorias. A energia interna é naturalmente consumida no decorrer de qualquer atividade, por isso precisa ser reposta. Os carboidratos são os nutrientes mais eficientes no fornecimento de energia. Uma dieta composta de carboidrato tem a vantagem de evitar o consumo energético das proteínas ou lipídios, deixando as proteínas disponíveis para exercer sua função construtora e mantendo regulado o nível de oxidação dos lipídios (GROFF, 1995; STIPANUK, 2000 apud COSTA; COSTA, 2008; SEYFFARTH, 2006/2007). Os carboidratos fazem parte da constituição de diversos compostos e têm a função de regular o metabolismo. São nutrientes de primeira ordem na conversão e reposição de energia; recomenda‑se o consumo de carboidratos em cerca de 50 a 60% das calorias diárias (2.000 calorias). Contudo, em algumas situações participam com valores entre 50 e 80% das calorias ingeridas. São consumidos na forma de amido, derivados de raízes, tubérculos, cereais, sacarose etc. Mesmo com sua importante participação, não são nutrientes considerados essenciais, como alguns aminoácidos e ácidos graxos; sua participação nos alimentos é vital por serem facilmente metabolizados (GROFF, 1995; STIPANUK, 2000 apud COSTA; COSTA, 2008; SEYFFARTH, 2006/2007). Para Gewandsznajder e Linhares (1995, p. 38‑39), “quando um ser vivo se movimenta, constrói suas células ou produz calor, ele gasta energia.” Esta demanda de energia é suprida pelos alimentos energéticos, como o arroz, a batata e o açúcar. Os carboidratos possuem diferentes tamanhos e recebem o nome conforme o número de moléculas de glicose. Carboidratos simples contêm uma molécula; carboidratos complexos, cerca de 10 mil moléculas (tabela adiante). Durante a digestão, os carboidratos passam por um processo de hidrólise, a decomposição em pequenas partículas, até se transformarem em glicose. Quanto mais complexo o carboidrato, mais lento é o seu metabolismo. Com isso, a glicose é distribuída aos poucos na corrente sanguínea de um modo benéfico, sem sobrecarga ao organismo (MARTINS et al., 2014). Monossacarídeos são considerados carboidratos simples, formados por cinco ou seis carbonos em cadeias fechadas. Já os dissacarídeos são constituídos por duas moléculas de monossacarídeos, com a liberação de uma molécula de H2O. Os dissacarídeos mais conhecidos são: a maltose, encontrada em cereais, a lactose, no leite, e a sacarose ou açúcar comum de rápida absorção. Por fim, há os polissacarídeos, que são formados por várias moléculas de monossacarídeos e são os únicos insolúveis em H2O. Entre os polissacarídeos, há o amido, a celulose e os polissacarídeos nitrogenados. O amido é resultado do excesso de glicose derivado da fotossíntese, característico dosvegetais; para os animais, o glicogênio exerce a mesma função de fornecimento de energia. A celulose, facilmente encontrada na natureza, tem ligação molecular distinta, por isso não é digerida por animais, mas há bactérias que o conseguem e protozoários capazes de digeri‑la, ação constatada por cupins. Os polissacarídeos nitrogenados servem como ligantes entre células epiteliais. Há outros carboidratos importantes, por exemplo, a frutose, encontrada em frutas e de absorção lenta pelo organismo, o contrário da glicose, originada da quebra de polissacarídeos, encontrada em cereais e frutas de absorção imediata, sendo armazenada no fígado ou no músculo em forma de glicogênio. A galactose derivada da lactose é transformada no fígado; a maltose resulta da quebra da glicose em cereais ou derivados do malte; a 45 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS maltodextrina tem mecanismo enzimático intestinal, evitando picos glicêmicos na transformação de um polissacarídeo em um monossacarídeo e sendo um precursor para a síntese de glicogênio muscular; a celulose (encontrada nas plantas) é fibrosa e não digerível, tendo papel importante em regular o intestino e formar o bolo fecal. Presente em crustáceos, a quitina é semelhante à celulose, fazendo parte da função estrutural do organismo. Por fim, destaca‑se a pectina, indigerível e presente nas cascas de frutas, com a função de retardar o esvaziamento enzimático (PINHEIRO; PORTO; MENEZES, 2005). Tabela 4 – Composição dos carboidratos Carboidrato Moléculas de monossacarídeo Composição Exemplo Monossacarídeo 1 Glicose ou dextrose ou frutose ou galactose Frutas, mel e leite Dissacarídeo 2 Lactose (galactose + sacarose) ou sacarose (frutose + glicose) ou maltose Leite Oligossacarídeo 2 a 20 Rafinose estaquinose – Polissacarídeo 10 a 10 mil Dez a dez mil unidades de monossacarídeo Amido, fécula glicogênio, dextrina, celulose e pectina Adaptado de: Martins et al. (2014). 3.1.2 Lipídios O excesso de carboidratos ingeridos na alimentação acumula‑se na forma de gordura, em células especiais conhecidas como células adiposas, que estão na parte mais profunda da pele. As gorduras ou lipídios diferem‑se uns dos outros por suas características físico‑químicas, moléculas apolares dissolvidas em meios solventes orgânicos e insolúveis em meio polar, como a água (GEWANDSZNAJDER; LINHARES, 1995, p. 41; SABARENSE; PELUZIO, 2008, p. 155‑156). De acordo com Seyffarth (2006/2007), os lipídios fornecem mais energia por conterem menor quantidade de oxigênio (O) em sua estrutura quando comparados aos carboidratos e às proteínas. São importantes condutores de vitaminas e fornecedores de ácidos graxos, que não são produzidos pelo organismo e que são considerados essenciais. Por serem gorduras com alta concentração de calorias, recomenda‑se o consumo moderado de lipídios, preferindo‑se as gorduras vegetais (insaturadas) às gorduras de origem animal (saturadas), isso porque uma dieta com teor de gordura de até 25% das necessidades diárias auxilia na melhora dos lipídios sanguíneos (como o colesterol total e a lipoproteína LDL‑colesterol). Lembrete No consumo energético, a transformação do volume adequado de carboidratos em energia evita o consumo de lipídios e de proteínas; o consumo de lipídios evita o consumo energético de proteínas. 46 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II Lipídios são gorduras. Podem ser provenientes de fontes vegetais consideradas óleos ou de fonte animal com forma sólida. Produzem 9 kcal quando metabolizados no organismo ao exercer funções energéticas, estruturais e hormonais; fazem parte das biomembranas por terem baixa condutividade térmica, reduzindo a perda de calor pelo organismo (SABARENSE; PELUZIO, 2008, p. 155). Os lipídios são formados por carbono, oxigênio e hidrogênio. São pequenas moléculas orgânicas encontradas nas membranas das células, e são solúveis somente em compostos orgânicos e dotadas de uma ligação com um glicerol. Existem muitos tipos de lipídio. A seguir, estudaremos os principais. 3.1.2.1 Ácidos graxos ou carboxílicos Os ácidos graxos são formados por cadeias carbônicas com o grupo carboxílico em uma de suas extremidades. Uma característica dos ácidos graxos é o tamanho de sua cadeia: ácidos de cadeia curta têm até quatro carbonos; ácidos graxos de cadeia média, até dez; os de cadeia longa, acima de 12. Essa característica é importante, pois o comprimento da cadeia e a quantidade de ligações saturadas (ligações simples) ou insaturadas (ao menos uma ligação dupla entre carbonos) na cadeia carbônica alteram o estado do lipídio à temperatura ambiente. Lipídios saturados são sólidos à temperatura ambiente, enquanto lipídios insaturados são líquidos, como os óleos. Observação Hidrólise é o fenômeno de quebra de uma molécula pela ação da molécula da água. 3.1.2.2 Triglicerídeos O glicerol é uma molécula dotada de três oxidrilas, possuindo caráter polar. Quando o glicerol entra em contato com três moléculas de ácido carboxílico, que tem caráter apolar, ocorre uma reação entre as moléculas. Os ácidos carboxílicos podem ser diferentes entre si, e o resultado dessa interação molecular é que a ligação com o hidrogênio da oxidrila é rompida, formando água e triacilglicerol ou óleo de gordura, um lipídio simples, o triglicerídeo (figura a seguir). Por possuírem função energética, os triglicerídeos são imediatamente utilizados no consumo energético do organismo ou, se necessário, são armazenados em células dos tecidos adiposos. Os ácidos graxos da estrutura do triglicerol podem ser essenciais ou não (MARTINS et al., 2014). 47 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS H H + H H Glicerol + H2O Ácido carboxílico (ácido graxo) Triglicerídeo e água H H OH HO HO HO OH OH C C C C C C H H H H Figura 6 – Estrutura química dos lipídios 3.1.2.3 Ácidos graxos trans e cis Ácidos graxos cis são ácidos com hidrogênios dispostos do mesmo lado na ligação dupla, enquanto nos ácidos trans os hidrogênios estão intercalados. Em condições ideais e com certas temperaturas, o hidrogênio é incorporado aos lipídios, rompendo certas ligações ou modificando o posicionamento de determinados elementos na cadeia; com isso, alteram‑se suas características físico‑químicas, tornando‑os matéria‑prima de gorduras variadas para a produção de margarinas, biscoitos, bolos e conferindo‑lhes aspecto de maciez. Outros lipídios são o esterol e o colesterol, que é exclusivo do reino animal. Ambos estruturam as membranas e são ricos em vitamina D. Já os fitosteróis são semelhantes ao colesterol, mas encontrados em plantas. Há os fosfolipídios, complexos que têm o fósforo em suas estruturas. Além de sua função energética, fornecem ácidos graxos essenciais. Ácidos graxos essenciais são ácidos que não produzimos e necessários na dieta, por exemplo, o óleo de soja e a semente de chia. Gorduras são hidrofóbicas, então sua digestão começa no estômago (SABARENSE; PELUZIO, 2008, p. 155). 3.1.3 Proteínas Segundo Batista e Peluzio (2008), proteínas são polímeros naturais. A expressão advém do grego protos – “primeiro”. Estão presentes em todas as células. As proteínas podem ser consideradas completas (de origem animal) ou incompletas (de origem vegetal) de acordo com a falta de um ou mais aminoácidos essenciais. As proteínas que fornecem somente aminoácidos na hidrólise são consideradas simples. As proteínas também são classificadas conforme sua solubilidade. Solução é uma mistura na qual um soluto (menor quantidade) é diluído ou dissolvido em um solvente (de maior quantidade). As principais proteínas recebem a seguinte nomenclatura: • Albuminas, solúveis em água. • Globulinas, insolúveis ou parcialmente solúveis em água. • Glutelinas,insolúveis em soluções salinas, porém solúveis em ácidos e bases diluídas. Ácidos são moléculas que em água liberam o cátion H+; bases são moléculas que em meio aquoso liberam o ânion OH‑. 48 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II • Prolaminas, insolúveis em água e soluções salinas, mas solúveis em soluções alcoólicas. Batista e Peluzio (2008) destacam que proteínas são compostos estruturados de aminoácidos. Os aminoácidos possuem um grupamento amina (NH2) e um grupamento carboxila (COOH). Do volume de aminoácidos identificados, vinte são considerados aminoácidos primários e fazem parte da dieta. De acordo com os aminoácidos, determina‑se o valor da proteína e sabe‑se que, em alguns casos, por sofrerem isomeria ao serem aquecidas em meio alcalino, têm sua absorção dificultada. As proteínas devem ser consumidas diariamente, e todo o excesso é transformado em gordura ou desidrata a pessoa, por causa da produção excessiva de ureia (LEMON, 1991 apud GUEDES; GUEDES, 2003). 3.1.3.1 Cálculo do teor de proteína para consumo equilibrado Estima‑se a necessidade de consumo entre 0,8 e 1,0 grama de proteína por quilograma de peso corporal. Então, para determinar a quantidade de proteínas em um alimento, usa‑se o alimento com nitrogênio como referencial, com base no método de Kjeldhal. Como exemplo de cálculo, adotou‑se nas proteínas animais e vegetais o valor entre 16 e 18,75% de nitrogênio. Convencionou‑se 16% de nitrogênio para relacioná‑lo às proteínas e criar um fator universal. Aplicou‑se a regra de três. Vejamos: • 16 g de nitrogênio para cada 100 g de proteína. • 1 g de nitrogênio para obter o valor de proteína (Xg). • Logo, Xg equivale a 6,25 g de proteína por 1 g de nitrogênio (BATISTA; PELUZIO, 2008). Observação Isomeria é quando compostos moleculares têm a mesma fórmula molecular, mas com posicionamento diferente das moléculas na estrutura. 3.1.3.2 Aminoácidos Como relatamos, supunha‑se que as vitaminas derivaram dos aminoácidos, que também são conhecidos como monopeptídeos. Os aminoácidos apresentam em sua estrutura um grupamento amina (NH2) mais um grupamento carboxila (COOH). Quando são produzidos por um organismo, são considerados naturais; quando não, são essenciais. Entre os aminoácidos necessários, temos: fenilalanina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, treonina, triptofano e valina. Os populares arroz e feijão propiciam a ingestão de todos os aminoácidos exigidos não produzidos pelo corpo humano (LOPES; ROSSO, 2013). 49 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS 3.2 Micronutrientes Os micronutrientes são os nutrientes reguladores utilizados na manutenção do organismo. São exigidos em pequenas quantidades, por exemplo, microgramas ou miligramas. O excesso ou a falta de micronutrientes pode prejudicar o organismo. As vitaminas e os aminoácidos fazem parte dos micronutrientes. A palavra vitamina vem do inglês vitamin, que deriva do latim vita – “vida”. O termo amine é retirado de aminoacid – “aminoácido”. 3.2.1 Vitaminas As vitaminas fazem parte da manutenção das funções orgânicas, do crescimento e do metabolismo e, ao contrário dos macronutrientes, não são transformadas e não são usadas em funções estruturais. Dessa forma, seu consumo indicado é invariável, mesmo para diabéticos. À medida que foram sendo descobertas, foram catalogadas em ordem alfabética e em dois grupos: • Vitaminas A, D, E, K: são as lipossolúveis, que não dissolvem em água e não possuem valor energético; são essenciais ao organismo, e sua ingestão é indispensável. • Vitaminas B1 a B9, B12 e C: são do grupo hidrossolúveis, que se dissolvem em água; são essenciais, pois servem como coenzimas para a roteirização metabólica no organismo. Vejamos, por exemplo, a atuação da vitamina A, que é sensível à presença de luz e calor. Cerca de 50% dela é absorvida e armazenada no fígado, 20% excretada pelas fezes, 17% pela urina e 3% pela transpiração. Tem função de manutenção da acuidade visual e sua deficiência pode, em casos extremos, causar cegueira. Essas características mostram a importância do consumo equilibrado de vitamina (PELUZIO; OLIVEIRA, 2008). No quadro adiante veremos detalhes sobre as demais vitaminas. 3.2.2 Minerais Potássio, zinco e cobre são algumas das substâncias químicas da tabela periódica e são conhecidas como minerais. Nos organismos vivos aparecem “dissolvidos nas formas de íons na água do corpo; no estado sólido, formando cristais, como o carbonato e o fosfato de cálcio, encontrados no esqueleto; ou combinados como moléculas orgânicas, tais como o ferro” (GEWANDSZNAJDER; LINHARES, 1995, p. 37). Os minerais atuam como reguladores e ativadores de diversas reações químicas que liberam energia no organismo, e essa atuação se dá através da [...] síntese dos carboidratos e das gorduras, além de agir nos processos do anabolismo a partir dos aminoácidos. Os minerais também atuam como solução no controle do equilíbrio dos fluidos corporais (CLARKSON, 1991 apud GUEDES; GUEDES, 2003, p. 168). 50 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II Conforme Gewandsznajder e Linhares (1995, p. 37), algumas outras atuações ocorrem na “formação do esqueleto de muito animais, no transporte de oxigênio, na fotossíntese, no equilíbrio da água no corpo, na transmissão do impulso nervoso e no bom funcionamento das enzimas”. Como uma máquina, o que ocorre no organismo é uma operação através da interação de todos os nutrientes (macro ou micro). Nota‑se, pelas funções dos minerais, a importância que exercem no organismo. A falta ou o excesso deles pode ser muito prejudicial. Dessa forma, uma dieta equilibrada subsidia o melhor funcionamento do organismo. Se por algum motivo faltou mineral de ferro, essa falta “pode reduzir a capacidade de oxigênio no sangue” (GUEDES; GUEDES, 2003, p. 169); do mesmo modo, o excesso de sal na forma de sódio “pode alterar o equilíbrio eletrolítico do organismo e produzir aumento na retenção de líquidos” (GUEDES; GUEDES, 2003, p. 169). Quadro 4 – Vitaminas: funções e principais fontes alimentares Vitamina Funções Fonte B1 (tiamina) Atua no metabolismo de carboidratos e gorduras. É necessária na respiração celular e na condução de impulsos nervosos. A deficiência pode causar beribéri (inflamação e degeneração dos nervos), insuficiência cardíaca e distúrbio mental. Carnes, legumes, cereais e flocos de cereais integrais, verduras, massas alimentícias enriquecidas, amendoim, nozes e soja. B2 (riboflavina) Atua na respiração celular e na produção de glóbulos vermelhos. A deficiência pode causar fissuras na pele, como rachaduras no canto da boca, anemia e fotofobia. Laticínios, carnes e vísceras de animais, cereais integrais, verduras, leite integral ou enriquecido e derivados, ovos e fígado. B3 (niacina ou nicotinamida ou vitamina PP ou ácido nicótico) Atua na respiração celular e é especialmente importante para células da epiderme, do epitélio intestinal e dos nervos. A deficiência pode causar a pelagra (lesões na pele, diarreia e distúrbios nervosos). PP = preventiva da pelagra Nozes, vísceras e carnes de animais, peixes, cereais integrais, amendoim, nozes e fígado. B5 (ácido pantotênico) Atua na respiração celular e no metabolismo das gorduras. Cicatrização dos tecidos e metabolismo da água no organismo. A deficiência pode causar anemia, fadiga, formigamento nas mãos e nos pés. Carnes e vísceras de animais, gema de ovo, leites e derivados, brócolis, batata, couve‑flor, cereais integrais e verduras. B6 (piridoxina) Metabolismo de proteínas, gorduras e carboidratos, atuando como coenzima. Age na síntese de hemoglobina e no sistema nervoso. A deficiência pode causar anemia, convulsões e contrações musculares involuntárias. Vísceras e carnes de animais,verduras, cereais integrais, soja, leite, fígado e peixe. B8 ou H (biotina) Age na síntese de queratina. Atua como coenzima nas reações metabólicas orgânicas. A deficiência pode causar inflamações na pele e distúrbios neuromusculares. Víscera e carnes de animais, gema de ovo, chocolates, amendoim, legumes, verduras, leite e derivados. B9 (ácido fólico) Durante o desenvolvimento embrionário, atua na formação do tubo neural, que dá origem ao sistema nervoso. A deficiência pode causar anemia e, em gestantes, a má‑formação do feto. Carnes, vegetais verdes, feijão, amendoim, laranja, nozes, legumes e cereais integrais. É também sintetizado em nosso corpo por bactérias da flora intestinal normal. 51 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS B12 Atua na síntese dos ácidos nucleicos e das proteínas e no metabolismo do sistema nervoso. Estimula a síntese de células sanguíneas. Vísceras e carne de animais, peixe, leite e derivados. C (Ácido ascórbico) Importante no metabolismo dos aminoácidos. Aumenta a resistência do organismo a agentes externos, como o frio e os micro‑organismos patogênicos. Colabora na formação do tecido colágeno. Frutas cítricas, goiaba, morangos, melão, tomate, batata, verduras cruas ou pouco cozidas. A (retinol nos animais) As plantas possuem pigmentos carotenoides (que são transformados em retinol no fígado) Necessária à manutenção da integridade da pele, dos epitélios respiratório, das mucosas, intestinal e urinário; atua na síntese de pigmentos da retina e como antioxidante. A deficiência pode causar pele escamosa e seca e problemas de visão, especialmente cegueira noturna. Vegetais verdes e amarelos, derivados de vegetais em geral, frutas amarelas e alaranjadas, fígado, leite e derivados, gema de ovo, óleo de fígado de bacalhau, tomates, agriões, cenouras e margarina. D (calciferol) Construção e resistência e regeneração do tecido ósseo. Estimula a absorção de cálcio e fósforo no intestino. A deficiência em criança pode causar raquitismo (enfraquecimento e deformação dos ossos); em adultos, enfraquecimento dos ossos. Está associada a emagrecimento, fortalecimento do sistema imunitário, prevenção do diabetes tipo 2 e da hipertensão, além de estar relacionada com a formação de vários hormônios. É produzida na pele humana sob ação dos raios solares, e no fígado, com substâncias precursoras presentes sobretudo em laticínios, gema de ovo, vegetais ricos em óleos e peixes de águas frias, sardinhas e margarina. E (tocoferol) Age como antioxidante. Acredita‑se que a deficiência esteja relacionada a anemia e esterilidade. Conservação dos tecidos nervoso e muscular. Feijões, gérmen de trigo, cereais integrais, vegetais folhosos, óleos vegetais e gema de ovo. K (filoquinona) É um dos fatores necessários à coagulação sanguínea. A deficiência pode causar ausência de formação de coágulos e hemorragias. Vegetais de folha verde, chá e soja. Também produzida por bactérias da flora intestinal normal do ser humano. Adaptado de: Guedes e Guedes (2003); Lopes e Rosso (2013). Quadro 5 – Minerais e algumas de suas fontes Mineral Funções Fonte alimentar Cálcio Age no metabolismo dos ossos, dos dentes, da coagulação sanguínea, participa do sistema nervoso, do batimento cardíaco e das contrações musculares. É necessário para a atividade de algumas enzimas. Vegetais verdes e verde‑escuros, gema de ovo, soja, leite e derivados e nozes. Cloro Atua no equilíbrio hídrico. É importante para regular os minerais no corpo (controle ácido‑base dos íons). Age nas membranas das células e nos impulsos nervosos. Sal comum de cozinha. Cobre Componente de diversas enzimas e coenzimas. Colabora na síntese da hemoglobina, citocromos etc. Tem atividade antioxidante. Em quase todos os alimentos. Ferro Forma a hemoglobina e a mioglobina (pigmentos com afinidade a gases respiratórios como o oxigênio) e participa da respiração celular, transportando oxigênio às células e tecidos do organismo. Carnes, fígados, vegetais verdes e verde‑escuros, leguminosas, gema de ovo, feijão, lentilhas, soja e cereais integrais. Flúor Manutenção da estrutura dos ossos e do esmalte dos dentes. Peixes. 52 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II Fosfato Forma ossos e dentes. Participa das moléculas de ácido nucleico e do ATP, molécula que fornece energia para a célula. Constitui quase todos os alimentos e retém água. Fósforo Participa e mantém a estrutura dos ossos e dos dentes. Faz parte do trifosfato de adenosina, molécula de reserva de energia. Participa do ácido nucleico, colaborando com muitos sistemas enzimáticos. Participa do metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas dos músculos. Carnes, leite e derivados, aves, peixes, cerais e legumes. Iodo Atua na produção de hormônios que regulam o crescimento e o metabolismo. Produtos marinhos (peixes e frutos do mar), vegetais provenientes de terras ricas em iodo e sal ionizado. Magnésio Age na síntese de proteínas e forma a clorofila. Ativador dos sistemas produtores de energia. Tem participação na contração muscular. Cereais, vegetais e frutas. Potássio Gera a potência necessária para as atividades dos músculos, nervos e glândulas através da síntese de glicogênio e proteínas. Age no metabolismo dos ossos e dos dentes. Atua no equilíbrio hídrico e é importante para regular os minerais no corpo (controle ácido‑base dos íons). Age nas membranas das células e nos impulsos nervosos. Participa da contração muscular e da regulação da pressão sanguínea. Verduras, frutas, leguminosas, carnes, leite e derivados, bananas, batatas, tomates, pêssegos, figos secos, caju, abacate, amendoim, lentilhas e soja. Sódio Atua no equilíbrio hídrico e é importante para regular os minerais no corpo (controle ácido‑base dos íons). Age nas membranas das células, nos impulsos nervosos, no relaxamento muscular e na pressão osmótica extracelular. Quase todos os alimentos contêm sódio, contudo o sal comum de cozinha é a principal fonte. Zinco Constitui enzimas dos hormônios das vias metabólicas. Atua no processo de cicatrização. Compõe as enzimas da digestão. Carnes, fígados, peixes, ovos, mariscos e cereais integrais. Adaptado de: Guedes e Guedes (2003); Lopes e Rosso (2013). Saiba mais Por meio das tabelas Taco e TBCA, é possível conhecer a composição centesimal do alimento, que indica a quantidade de macro e micronutriente a cada 100 g do alimento. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP). Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA‑USP). Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental. São Paulo, [s.d.]. Disponível em: <http://www.fcf.usp.br/ departamentos/pagina.php?menu=107&pagina=602&departamento=1>. Acesso em: 21 dez. 2017. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP). Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (Taco). Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa). Campinas, 2011. Disponível em: <http://www.cfn.org. br/wp‑content/uploads/2017/03/taco_4_edicao_ampliada_e_revisada. pdf>. Acesso em: 21 dez. 2017. 53 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS 3.2.3 Água Sabemos que uma alimentação para ser saudável deve incluir uma boa hidratação. Essa afirmação nos leva a refletir sobre a importância da água para a vida humana. Quanto tempo será que podemos sobreviver sem tomar água? Quais as funções que a água exerce em nossa vida? Mahan et al. (2013) apresentam as respostas e esclarecem as funções da água: — Torna os solutos disponíveis para reações celulares. — É um substrato em reações metabólicas e como componente estrutural, dando forma às células. — É essencial para os processos de digestão, absorção e excreção. — Tem um papel fundamental na estrutura e função do sistemacirculatório. — Atua como meio de transporte para nutrientes e todas as substâncias do corpo. — A água conserva a constância física e química dos líquidos intracelulares e extracelulares e tem um papel direto na manutenção da temperatura corporal. — Evita ou retarda a hipertermia por meio da evaporação da perspiração, que resfria o corpo no clima quente. — A perda de 20% da água corporal (desidratação pode causar a morte). — A perda de apenas 10% pode causar danos aos sistemas essenciais do corpo. — Os adultos saudáveis podem viver até 10 dias sem água, as crianças podem viver até 5 dias, enquanto se pode sobreviver durante várias semanas sem alimento (MAHAN et al., 2013, p. 182‑183). O organismo não tem capacidade de armazenar água. Então, para manter a saúde e o equilíbrio, devemos repor diariamente a água perdida. Perdemos água pelos rins, na forma de urina, pelo trato gástrico intestinal, na forma de fezes, pela respiração, através do ar expirado dos pulmões, e pelo vapor de água que sai da pele. O rim é o regulador primário da perda de água e tem a capacidade de ajustar as quantidades de água do corpo, aumentando ou diminuindo sua perda na urina. Existe ainda a perda de água considerada inconsciente, ocasionada por situações de baixa umidade e altas temperaturas, podendo aumentar as perdas de líquidos pelos pulmões e pela sudorese. A quantidade de água que devemos repor diariamente, em condições normais de saúde, é pautada na ingestão calórica ou no peso corpóreo; as refeições preenchem essa quantidade, pois fornecem cerca de 19% da ingestão total de líquidos por dia (MAHAN et al., 2013). Para uma mulher de 60 kg, o consumo diário recomendado de água é 2.100 ml ou 2 litros e 100 ml; para um indivíduo cuja dieta é de 2.000 kcal por dia, indica‑se 2.000 ml (2 litros). 54 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II Em geral os alimentos in natura ou minimamente processados têm alto conteúdo de água, assim como as preparações à base deles, conforme descrição a seguir: — Leite e a maior parte das frutas contêm entre 80% e 90% de água. — Verduras e legumes cozidos ou na forma de saladas costumam ter mais do que 90% do seu peso em água. — Após o cozimento, macarrão, batata ou mandioca têm cerca de 70% de água. — Um prato de feijão com arroz é constituído de dois terços de água. — Alimentação balanceada fornece cerca de metade da água que precisamos ingerir (BRASIL, 2014, p. 86‑87). Tabela 5 – Recomendação diária de ingestão de água Indivíduo Quantidade de água a ser ingerida por dia mL por kg mL por kcal Adulto homem 35 1 Adulto mulher 35 1 Criança 50 a 60 1,5 Bebê 150 1,5 Adaptado de: Mahan et al. (2013). De acordo com Mahan et al. (2013), não é aconselhável esperar pela sede para tomar água, pois em algumas situações a sensação de sede é variável e não corresponde à real necessidade que o nosso corpo tem de líquidos. Usualmente a sensação de sede é diminuída nas seguintes situações: • Na infância, quando não independentes, as crianças não costumam tomar água espontaneamente. Quando pedem, é sinal de que o organismo já está com déficit de líquido. • Atletas e indivíduos que se exercitam bastante. • Doentes e idosos. • Qualquer indivíduo doente o suficiente para ser hospitalizado, independentemente do diagnóstico, apresenta risco de desequilíbrio de água e eletrólitos. • Os adultos mais velhos são particularmente suscetíveis em decorrência de outros fatores, como deterioração da capacidade de concentração renal, febre, diarreia, vômitos e diminuição da capacidade de cuidar de si mesmo. • Em situações que envolvem calor ou sudorese excessiva, a sede pode não acompanhar as necessidades reais de água do corpo. 55 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS 4 PERSPECTIVAS ALIMENTARES Além da perspectiva nutricional que discutimos até agora, a alimentação deve ser analisada sob perspectivas econômicas, sociais e culturais, conforme mencionado na quarta lei da alimentação. Esses três aspectos são independentes e ao mesmo tempo complementares; devem ser considerados nos planejamentos de alimentação, de modo a respeitar as características individuais, como renda das famílias, ritmos e estilos de vida, gostos, hábitos, tradições culinárias, preferências, repulsões, ritos e tabus (OLIVEIRA, 1997 apud ALMEIDA; FERNANDES, 2011). 4.1 Hábitos alimentares “Os hábitos alimentares são costumes relacionados à alimentação que caracterizam determinadas classes sociais, faixas etárias, religiões e grupos sociais”. Martins et al. (2014, p. 111‑112) destacam alguns fatores que influenciam e determinam os hábitos alimentares: — Cultural: hábitos alimentares fazem parte da cultura de um povo, sendo transmitidos de geração para geração, através de instituições, igreja, escola e família. — Econômico: a disponibilidade de alimento é impactada pela classe social e o custo de compra dos produtos. — Social: as preferências alimentares pessoais são reflexo das escolhas feitas pelo grupo social frequentado (igrejas, sindicatos). — Psicológico: a motivação para o consumo de determinados alimentos pode ocorrer em caráter psicológico ou fisiológico. — Educacional: hábitos alimentares são oriundos da educação que pais, professores e responsáveis dão aos seus educandos. — Modismo: a moda pode influenciar e ditar hábitos alimentares por meio da TV, rádio, propagandas, revistas etc. — Tabus alimentares: são crendices de origem desconhecida que estabelecem interdições a certos alimentos, com o intuito de preservar o indivíduo de perigos não comprovados. — Crenças alimentares: são convicções íntimas e subjetivas sobre o bem ou mal que determinados alimentos podem gerar. — Influência da mídia: é um grande influenciador dos hábitos alimentares, pois impulsiona a compra de produtos por meio de destaques visuais e campanhas de marketing. 56 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II 4.2 Distúrbios alimentares Os distúrbios comuns relacionados a alimentos são a intolerância alimentar e a alergia alimentar. Elas são diferenciadas, basicamente, pelas consequências que causam ao organismo. Intolerância alimentar trata‑se de “sensibilidade não alérgica a alimentos, ou seja, reações adversas aos alimentos causadas por mecanismos não imunológicos, incluindo reações tóxicas, metabólicas, farmacológicas ou idiossincráticas” (MAHAN et al., 2013). As alergias alimentares são identificadas por reações do sistema imunológico específicas de cada indivíduo, e “os sintomas alérgicos mais frequentes são vistos como respostas respiratórias ou gastrointestinais, ou reações cutâneas, mas podem incluir fadiga, letargia e alterações comportamentais” (MAHAN et al., 2013). “’A abstenção total dos alimentos inseguros (alérgenos alimentares) é o único tratamento comprovado para a alergia alimentar”. Testes experimentais com vacinas estão em andamento, pois “a imunoterapia é um possível tratamento futuro destinado a complementar o ato de evitar alérgenos alimentares” (SICHERER; SAMPSON, 2010 apud MAHAN et al., 2013). Quadro 6 – Principais alimentos alérgenos Alérgeno Espécie Amêndoa Prunus dulcis (Prunusamygdalus amygdalus) Amendoim – Avelãs Corylus spp. Castanha‑de‑caju Anacardium occidentale Castanha‑do‑brasil ou castanha‑do‑pará Bertholletia excelsa Castanhas Castanea spp. Cereais Trigo, centeio, cevada, aveia e suas estirpes hibridizadas Crustáceos – Leites Todas as espécies de animais mamíferos Macadâmias Macadamia spp. Nozes Juglans spp. Ovos – Pecãs Carya spp. Peixes – Pinoli Pinus spp. Pistaches Pistacia spp. Soja – Fonte: Brasil (2015c). 57 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Quadro 7 – Distúrbios alimentaresSubstância ou alimento envolvido Causa da intolerância Sintomas, consequências Lactose Deficiência da enzima lactase. Distensão abdominal, flatulência, diarreia e dor abdominal. Leguminosa fava Deficiência de enzima glicose‑6‑fosfato desidrogenase. Anemia hemolítica. Alimentos contendo sacarose ou frutose Deficiência da enzima frutase. Distensão abdominal, flatulência, diarreia e dor abdominal. Alimentos ricos em lipídios ou determinadas proteínas Doença fibrose cística. Distensão abdominal, diarreia, dor abdominal e má absorção. Alimentos ricos em lipídios Dor abdominal após comer. Doença da vesícula biliar. Alimentos que contenham fenilalanina Erros inatos do metabolismo de fenilcetonúria. Concentrações séricas elevadas de fenilalanina e atraso mental. Alimentos que contenham lactose ou galactose Galactosemia (doença que afeta o metabolismo da galactose). Vômito, letargia e déficit de crescimento. Refrigerantes, queijos, salsicha e diversos alimentos com conservantes Reações aos aditivos, ácidos benzoicos ou benzoato de sódio; BHA, BHT e nitratos. Urticária, erupção cutânea e asma brônquica. Camarão, cogumelo em conserva, sucos ácidos, vinho, cerveja e diversos alimentos processados Reações aos aditivos à base de sulfitos (sulfito de sódio, sulfito de potássio, metabissulfito de sódio, metabissulfito de potássio, bissulfito de sódio, bissulfito de potássio e dióxido de enxofre). Asma aguda e choque anafilático, bem como perda de consciência. Peixe escombrídeo sem refrigeração (atum, bonito, cavala) Reações à toxina histamina (formada devido à ação de bactérias Proteus mirabilis, Klebsiella ou Escherichia coli). Envenenamento (prurido, erupção cutânea, vômitos e diarreia). Reação do tipo anafilática. Adaptado de: Mahan et al. (2013). 4.3 Guia Alimentar para a População Brasileira Como um instrumento de apoio e incentivo às práticas alimentares saudáveis, o Guia Alimentar para a População Brasileira foi lançado pelo Ministério da Saúde em 2014 após pesquisas e consultas públicas para colher sugestões de pessoas e instituições relacionadas à alimentação, como profissionais da saúde, educação, assistência social e agricultura, além de membros de organizações de defesa do consumidor. O objetivo do guia é promover a alimentação adequada, a fim de contribuir com a diminuição de desnutrição, obesidade e demais doenças ligadas à alimentação de indivíduos ou da coletividade, subsidiando políticas e programas governamentais que são voltados à segurança alimentar e nutricional da população. O guia aborda características dos alimentos e conceitos de uma alimentação adequada e saudável, com o intuito de fornecer informações relevantes que norteiem a tomada de decisão das pessoas diante de escolhas alimentares, tanto pessoais quanto familiares e profissionais (BRASIL, 2014). O Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda que o momento da alimentação seja valorizado por meio da adoção dos seguintes comportamentos (BRASIL, 2014): 58 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II Comer com regularidade e com atenção: procure fazer suas refeições diárias em horários semelhantes. Evite “beliscar” nos intervalos entre as refeições. Coma sempre devagar e desfrute o que está comendo, sem se envolver em outra atividade. Comer em ambientes apropriados: procure comer sempre em locais limpos, confortáveis e tranquilos e onde não haja estímulos para o consumo de quantidades ilimitadas de alimentos. Comer em companhia: sempre que possível, prefira comer em companhia, com familiares, amigos ou colegas de trabalho ou escola. Procure compartilhar também as atividades domésticas que antecedem ou sucedem o consumo das refeições. Para uma alimentação saudável, o Guia Alimentar para a População Brasileira propõe que a base da alimentação seja composta de alimentos frescos, que são os in natura ou minimamente processados, de origem predominantemente vegetal, os quais, por serem naturais, contêm alta concentração de fibras, minerais e vitaminas, além de serem de baixa caloria. O guia ressalta que esses alimentos são abundantes (vários tipos) e recomenda prepararmos refeições a partir deles, pois é uma grande oportunidade para garantir o aporte de nutrientes e obter inúmeras variações de cardápio. O consumo de alimentos de origem animal também faz parte da base alimentar, entretanto, é recomendável evitar o consumo de carne vermelha por causa de sua alta concentração de gorduras saturadas; é preferível ingerir pescados e aves sem gordura, pois são ricos em proteína e livres de gordura saturada. Para manter a saudabilidade desses alimentos, é imprescindível acrescentar a menor quantidade possível de óleo e sal e valorizar a utilização de ervas como o tomilho, a sálvia e o alecrim (BRASIL, 2014). O processamento ou ultraprocessamento de alimentos existe para prolongar sua vida útil e permitir sua variabilidade com praticidade. Contudo, quanto mais processado um alimento, mais diferente do original ele passa a ser, pois recebe ingredientes artificiais e seus nutrientes originais tendem a não resistir. O processamento, que consiste na adição de sal, gordura ou açúcar aos alimentos frescos, pode ser exemplificado no caso da espiga de milho in natura, que se transforma em milho em conserva devido à adição de salmoura, rica em sódio, que, quando em excesso, pode ser prejudicial à saúde; já o milho ultraprocessado tem teor de fibras menor que o milho in natura e pode ser visto em forma de salgadinhos de pacote após receber aditivos diversos, como conservantes, corantes e aromatizantes. O Guia Alimentar para a População Brasileira destaca que alimentos processados podem ser consumidos desde que sejam limitados a serem servidos ou preparados em conjunto com alimentos in natura ou minimamente processados. Os alimentos ultraprocessados, por sua vez, devem ser evitados, pois são ricos em substâncias consideradas prejudiciais e dispensáveis para uma alimentação saudável, como gordura trans e aditivos (BRASIL, 2014). 59 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Ultraprocessado Evite LimiteProcessado In natura e minimamente processado Prefira e aproveite Figura 7 – Guia alimentar No tocante à quantidade de alimento a ser ingerido, o Guia Alimentar para a População Brasileira não estabelece nem indica algo exato, mas ressalta que a quantidade adequada depende de vários fatores, como a necessidade calórica específica de acordo com o sexo, a idade e a altura, e deve ser abordada individualmente quando preciso. O guia revela a qualidade funcional do alimento na questão de proporcionar saúde à população em geral, residentes de meios urbanos e rurais de qualquer classe social, não abordando especificamente a quantidade de calorias que o alimento contém. Todavia, recomenda que a quantidade de alimentos consumidos seja relativa ao peso do indivíduo, isto é, o controle de peso permite saber se a quantidade de alimento está adequada e propicia adaptações necessárias (BRASIL, 2014). Lembrete A medida da circunferência da cintura do indivíduo é um parâmetro de controle e identificação da obesidade; “recomenda‑se uma circunferência da cintura inferior a 88 cm para mulheres e inferior a 102 cm para os homens” (MAHAN et al., 2013). 4.4 Grupo de alimentos por método de produção Antes de adquiridos, preparados ou consumidos por pessoas ou restaurantes, os alimentos são submetidos a processamentos que causam impactos em suas características físicas, sensoriais e nutricionais, modificando sua forma de apresentação e seu sabor e interferindo no teor de nutrientes originais (BRASIL, 2014). 60 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II Alimento ultraprocessado Empanado de peixe (nuggets) Alimento processadoPeixe em conserva Alimento in natura Peixe fresco Figura 8 – Variações do alimento 4.4.1 Alimentos frescos Os alimentos in natura são aqueles obtidos diretamente de plantas e animais, como folhas, frutos, leite e ovos. Quando submetidos a processos simples, que não alteram suas características naturais, eles passam a ser considerados minimamente processados. Entre os processos mínimos, encontram‑se etapas de limpeza, seleção, descascamento, fatiamento, fracionamento, moagem, secagem, refrigeração, pasteurização etc. Todos esses mecanismos conferem a vantagem de preparar o alimento para o consumo e preservá‑lo ao aumentar sua validade, já que os produtos in natura são altamente perecíveis. Importante ressaltar que um alimento processado não contém açúcar, gordura ou sal acrescentado à sua composição original e que a aplicação excessiva de processamento mínimo prejudica o valor nutricional. Por exemplo, arroz branco e farinha de trigo branca contêm menos fibras e nutrientes que suas versões integrais. Exemplos de produtos minimamente processados são cereais polidos e empacotados (em forma de farinha ou grãos), cortes de carne resfriados ou congelados e leite pasteurizado. Uma grande vantagem dos alimentos frescos é sua alta qualidade nutricional, além do baixo valor calórico em comparação aos alimentos processados e ultraprocessados; quando consumidos em proporções equilibradas, fornecem quase todos os nutrientes de que o organismo precisa, como fibras, minerais e vitaminas. Como desvantagem dos alimentos in natura e minimamente processados, menciona‑se a dificuldade de seu acesso, pois possuem alto custo de produção e preço para o consumidor final em relação aos produtos processados (BRASIL, 2014). 4.4.2 Alimentos processados e ultraprocessados Conforme Brasil (2014), o grupo de alimentos processados é composto de “produtos relativamente simples e antigos fabricados essencialmente com a adição de sal ou açúcar (ou outra substância de uso culinário como óleo ou vinagre) a um alimento in natura ou minimamente processado”. Sua principal desvantagem é que o método empregado para sua fabricação impacta negativamente o valor nutricional do alimento, sobretudo acrescentando sódio e calorias, que muitas vezes são provenientes de grandes quantidades de sal e açúcares tipicamente adicionadas ao produto. Exemplos de alimentos processados são: conservas vegetais em salmoura 61 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS com sal e vinagre; compota de frutas inteiras preservadas em açúcar; carne e peixes em sal ou óleo; queijos feitos de leite, sal e micro‑organismos para fermentação; pães feitos de farinha de trigo, água e sal. Nessa conjuntura, é vital acentuar o seguinte aspecto: quando adicionados de gordura vegetal hidrogenada, conservantes ou outros aditivos, os alimentos processados passam a ser considerados ultraprocessados. Vejamos a definição de alimento ultraprocessado e as características de sua fabricação: Alimentos ultraprocessados são formulações industriais feitas inteiramente ou majoritariamente de substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, amido, proteínas), derivadas de constituintes de alimentos (gorduras hidrogenadas, amido modificado) ou sintetizadas em laboratório com base em matérias orgânicas como petróleo e carvão (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e vários tipos de aditivos usados para dotar os produtos de propriedades sensoriais atraentes). Técnicas de manufatura incluem extrusão, moldagem e pré‑processamento por fritura ou cozimento (BRASIL, 2014). Para a criação de alimentos ultraprocessados, o fabricante faz uso de diversos ingredientes adicionais para aumentar a validade do produto e intensificar ou modificar seu sabor. Os ingredientes utilizados frequentemente em grandes quantidades são gorduras saturadas, gorduras hidrogenadas, sódio, entre outros que são considerados prejudiciais à saúde. As versões light e diet são opções reformuladas com quantidade inferior desses ingredientes em excesso, entretanto, quando se tira ou diminui um deles, necessariamente se aumenta outro a fim de manter as características do produto industrializado. Assim, para um “baixo teor de sódio”, adiciona‑se o dobro de gordura; para “zero açúcar”, acrescentam‑se mais sal e aditivos. Por conterem quantidades mínimas ou nulas de ingrediente in natura, os produtos ultraprocessados são pobres em fibras, vitaminas e minerais, e outra característica negativa é que são prejudiciais à saúde. “Uma forma prática de distinguir alimentos ultraprocessados de alimentos processados é consultar a lista de ingredientes, que, por lei, deve constar no rótulo” (BRASIL 2014). Quadro 8 – Tipos de alimento Tipo de alimento Característica Exemplo In natura Fresco, sem alterações. Proveniente direto da planta ou de animais. Frutas, ovos e leite cru. Minimamente processados São os in natura que passaram por alterações mínimas. Grãos secos polidos ou moídos. Raízes e tubérculos lavados. Cortes de carne resfriada ou congelada, bem como leite pasteurizado. Processados Com adição de sal, açúcar, óleos, gorduras ou outras substâncias ao alimento original. Conservas de legumes e peixes, compota de frutas, extrato de tomate, queijos e pães. Ultraprocessados Com adição de gordura vegetal hidrogenada, açúcar, amido, soro de leite, emulsificantes e outros aditivos. Biscoitos recheados, salgadinhos de pacote e macarrão instantâneo. Adaptado de: Brasil (2014). 62 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II Saiba mais Para uma reflexão sobre o relacionamento do alimento com a industrialização, leia: MOSS, M. Sal, açúcar e gordura: como a indústria alimentícia nos fisgou. Rio de Janeiro: Intrínseca, 1999. 4.5 Grupos de alimentos por funcionalidade nutricional Os alimentos com característica e valor nutricionais similares são agrupados em conjunto, o que nos permite realizar substituições a fim de variar os cardápios e as refeições sem perder o equilíbrio quanto ao teor de nutrientes. Desse modo, atenderemos às leis da alimentação saudável: a lei da qualidade, que informa que a alimentação deve incluir todos os nutrientes necessários, e um mecanismo para isso é a utilização e o conhecimento de todos os grupos alimentares; e a lei da harmonia, que nos orienta a consumir e preparar refeições harmônicas a partir da utilização, em conjunto, de todos os tipos de alimento, desde que em proporções e quantidades equilibradas (LANDABURE, 1968 apud ALMEIDA; FERNANDES, 2011). Conheça os grupos a seguir: — Leguminosas: feijões, grão‑de‑bico, lentilha e ervilha. São fonte de proteína, fibras, vitamina do complexo B, ferro, zinco e cálcio. — Cereais: arroz, milho, trigo, aveia, centeio em formato de grãos, farinha e macarrão. São fonte de carboidratos, fibras, vitaminas, minerais, excetuando‑se os refinados, que são excessivamente modificados. — Raízes e tubérculos: mandioca (macaxeira, aipim), batata in natura ou em farinha. São fonte de carboidratos, fibras, minerais (potássio), vitamina A e C. — Leguminosas e verduras: os tipos variam conforme a região e a safra (época de maior produção). São fonte de vitaminas, minerais, fibras e contêm pouca caloria. — Frutas: possuem excelentes quantidades de fibras, vitaminas e sais minerais. Os tipos variam conforme a região. — Castanhas e nozes: amendoim, castanha‑do‑brasil, castanha‑do‑pará, amêndoa e nozes. São fonte de minerais, vitaminas, fibras e gordura saudável, que são as gorduras insaturadas (ricas em antioxidante). 63 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS — Leite e queijos: são ricos em proteína, vitaminas (sobretudo vitamina A) e minerais (em especial, cálcio). Quando na versão integral, contudo, contêm gordura nãosaudável, a saturada. — Carnes e ovos: aves, pescados e carne vermelha (gado, porco, cabrito, cordeiro). Ricos em proteína de alto valor biológico, vitaminas e minerais (ferro, zinco e vitamina B12). Todavia, as carnes vermelhas e a gordura das aves contêm gordura saturada. — Água: essencial para a manutenção do organismo, está presente nos alimentos e nas preparações culinárias (BRASIL, 2014). Outro fator favorável à obtenção de cardápios variados e criativos é a biodiversidade brasileira, que oferece inúmeras opções de alimentos típicos disponíveis em determinadas regiões do País, conforme acentuado na tabela a seguir. Tabela 6 – Quantidade e tipos de alimento por região Variedade de alimentos – quantidade encontrada por região Alimento Centro‑Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Total geral Ervas, condimentos e temperos 3 2 2 2 3 12 Farinhas e preparações 0 0 5 0 0 5 Frutas, castanhas e nozes 24 19 30 13 11 97 Hortaliças 9 7 6 18 12 52 Leguminosas 0 4 0 7 4 15 Tubérculos, raízes e cereais 3 6 3 0 0 12 Total geral 39 38 46 40 30 193 Adaptado de: Brasil (2015a). Combinações de alimentos de origem vegetal que se complementam do ponto de vista nutricional são encontradas mundialmente. Vejamos: 64 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II Quadro 9 – Combinações de alimentos Combinações Exemplos Cereais com leguminosas Culinária mexicana Brasil (arroz com feijão) Cereais com legumes e verduras Países asiáticos Brasil (arroz com jambu do Pará) Tubérculos com leguminosas Países africanos Brasil (tutu de feijão) Cereais ou tubérculos com frutas Várias culinárias Brasil (arroz com pequi de Goiás e farinha de mandioca com açaí da Amazônia) Adaptado de: Brasil (2014). Quadro 10 – Alimentos regionais brasileiros Categoria Nordeste Norte Centro‑Oeste Sudeste Sul Frutas Acerola Banana‑nanica Banana‑da‑terra Cacau Cajá Cajarana Caju Ciriguela Coco Dendê Fruta‑pão Graviola Juá Mamão Maracujá itomba Sapoti Tamarindo Umbu Abricó Abiu Açaí Araçá Bacaba Bacuri Banana‑pacova Biribá Buriti Cajarana Camu‑camu Castanha‑do‑brasil (do‑pará ou da‑amazônia) Cubiu Cupuaçu Cupuí Cutite Guaraná Inajá Ingá Jambo Mangaba Murici Piquiá Pupunha Abacaxi‑do‑cerrado Araticum Baru Cagaita Cajuí Coco‑babão Coco‑cabeçudo Coco‑indaiá Coroa‑de‑frade Curriola Guabiroba Guapeva Jaracatiá Jatobá Jenipapo Lobeira Macaúba Mama‑cadela Maracujá Marmelada‑de‑cachorro Pequi Pera‑do‑cerrado Pitanga Xixá Sapota‑do‑solimões Sorva Taperebá Tucumã Urnari Uxi Abacate Brejaúva Caqui Carambola Goiaba Jabuticaba Jaca Jambolão Laranja Manga Pinha Sapucaia Sapoti Amora Banana Feijoa Figo Maçã Morango Nectarina Pêssego Pinhão Tangerina/bergamota Uva 65 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Hortaliças Agrião Jurubeba Major‑gomes Maxixe Palma Quiabo Vinagreira Bertalha Espinafre‑d’água Jambu Maxixe‑do‑reino Quiabo‑de‑metro Feijão regional Abóbora AImeirão‑de‑árvore Caruru Couve Croá Dente‑de‑leão Fisali Gueroba Serralha Abobrinha Agrião Berinjela Beldroega Capiçoba Capuchinha Chuchu Couve Espinafre Jiló Mostarda‑de‑folha Ora‑pro‑nóbis Pimentão Quiabo Repolho Rúcula Taioba Vagem Almeirão Azedinha Beterraba Broto‑de‑bambu Crem Gila Muricato Ora‑pro‑nóbis sem espinho Radite Repolho Tomate Tomate‑de‑árvore Tubérculos, raízes e cereais Araruta Gergelim Inhame Junça Mandioca Sorgo Ariá Inhame‑roxo Jacatupé Mangarito Mandioca Milho‑verde – – Farinhas e preparações – Farinha de carimã Farinha de piracuí Farinha de uarini Maniçoba Tucupi – – – Ervas, condimentos e temperos Cebolinha Coentro Chicória‑do‑pará Pimenta‑do‑reino Açafrão‑da‑terra Cheiro‑verde Cebola Coentro Salsa Canela Cominho Cravo Leguminosas Algaroba Feijão‑de‑corda Feijio‑verde Guandu – – Feijão‑branco Grão‑de‑bico Orelha‑de‑padre Mandioca Mandioquinha‑saIsa Milho Taro Lentilha Batata‑doce Batata Milho Adaptado de: Brasil (2015a). 66 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II Resumo Alimentação agradável e saudável comumente é sinônimo de comida caseira, preparada em casa de forma simples. Essas são tendências de qualidade que podem servir de base para restaurantes com o propósito de conquistar um público‑alvo. Outra contribuição interessante para que os estabelecimentos alimentícios atinjam resultados positivos vem das leis da alimentação, as quais resumem de maneira prática a formulação ideal para qualquer planejamento alimentar. Estudamos nesta unidade que as leis da alimentação correspondem a quantidade, qualidade, harmonia e adequação; são fatores interdependentes e abrangentes, desde as necessidades básicas até a função hedônica que o alimento proporciona ao gerar satisfação e prazer por meio da reunião das pessoas, assim como acontece nos encontros familiares em que a alimentação está sempre presente. Quando adotadas em conjunto, as quatro leis expressam o conceito e a prática da alimentação saudável. A princípio, vimos que a lei da quantidade nos orienta a disponibilizar e consumir alimentos em quantidade suficiente para a saúde de acordo com as carências energéticas de cada organismo. Essa necessidade também é conhecida com demanda energética e varia, para mais ou para menos, conforme as características individuais, como idade, sexo e nível de atividade física. A principal forma de obtenção de energia é a partir da alimentação. A lei da qualidade nos indica que não basta consumir a quantidade estimada ou determinada de calorias para cada indivíduo, é preciso analisarmos e optarmos por alimentos benéficos, que exerçam função energética, construtora e reguladora para o organismo. O conhecimento dos grupos de alimentos por funcionalidade nutricional bem como da composição nutricional específica de cada alimento é a premissa para o atendimento da lei da qualidade, a qual revela que alimentação saudável é constituída por macronutrientes (carboidrato, proteínas e lipídios) e micronutrientes (água, minerais e vitaminas). Um aliado da alimentação de qualidade, ou seja, alimentação saudável, é o Guia Alimentar para a População Brasileira. Trata‑se de uma ferramenta do Governo Federal com o fito de fornecer informações úteis, que gerem autonomia e poder de decisão sobre as escolhas alimentares. O guia aborda o conceito dos tipos de alimento, apresentando como saudáveis aqueles na forma in natura ou minimamente processados, pois denotam características nutricionais preservadas, sendo fonte de altos teores de fibras, vitaminas 67 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS e minerais, que são micronutrientes reguladores fundamentais para o organismo. O documento ressalta que alimentos in natura ou minimamente processados devem ser a base da alimentação, isto é, devem ter prioridade no dia a dia, haja vista possuírem baixas calorias, o que evita o excesso de peso e o consequente consumo inadequado de alimentos. O segundo tipo de alimento acentuado pelo guia são os processados, cuja produção consiste na adição de sal, açúcar e/ou gordura, devendo seu consumo ser limitado e sempre em conjunto com os alimentos in natura ou minimamente processados. Vimos que os alimentos ultraprocessados são apontados como prejudiciais à saúde por conterem altas concentrações de ingredientes e aditivos, acarretando doenças cardiovasculares e diabetes. Por isso, seu consumo deve ser evitado. Já a lei da harmonia foca a distribuição proporcional dos micronutrientes e macronutrientes em todas as refeições, ou seja, não basta estarem presentes, devem ser dispostos de modo equilibrado. Um exemplo comum e considerado não harmônico seria um prato formadopor batata, macarrão e arroz, pois todos eles são ricos em carboidratos – fazem parte do grupo de energéticos. Para equilibrar essa apresentação, falta, por exemplo, acrescentar alimentos que sejam fonte de proteína, vitaminas e minerais, como carnes e hortaliças, respectivamente. Daí surge o conceito de alimentação balanceada. Já que nem todo alimento contém todos os tipos de nutriente, é indispensável o consumo variado, a fim de ingerir ao mesmo tempo quantidades adequadas de carboidrato, lipídio, proteína, vitaminas e minerais. Por fim, destacamos a lei da adequação, que remete à necessidade de alinhar as práticas da boa cozinha com a ciência da nutrição e também com o respeito ao próximo. Esse desafio pode ser superado com a busca contínua por informação, aplicando o conhecimento com criatividade e responsabilidade. São indispensáveis o domínio e a análise dos principais hábitos culturais e distúrbios alimentares para adequar a alimentação conforme as preferências e restrições alimentares, sem com isso deixar de lado a característica de saudabilidade da receita e das preparações. Exercícios Questão 1. (Enade 2016) O novo Guia Alimentar para a População Brasileira tem como um de seus pressupostos o direito à alimentação saudável, saborosa e balanceada. Além de ser um instrumento de educação alimentar e nutricional, insere‑se na estratégia global de promoção da saúde e do enfrentamento ao excesso de peso e comorbidades associadas. Considerando o proposto no novo Guia, avalie as afirmações a seguir. 68 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II I. Apresenta uma lista de alimentos ultraprocessados proibidos, cujo consumo, mesmo que esporádico, contribui para o aumento da incidência de obesidade nas populações. II. Estrutura suas orientações em grupos de alimentos e na quantidade de porções a serem consumidas, recomendando que a alimentação se baseie em alimentos frescos, como frutas, carnes e legumes, e minimamente processados, como arroz, feijão e frutas secas. III. É voltado tanto aos profissionais envolvidos na promoção da saúde da população, quanto às famílias brasileiras, apresentando uma linguagem de fácil compreensão para leigos. IV. Orienta as pessoas a optarem por refeições caseiras e a evitarem produtos prontos que dispensam preparação culinária e em redes de fast‑food, uma vez que busca valorizar a culinária, principalmente a regional. V. Enfatiza as formas pelas quais os alimentos são produzidos e distribuídos, privilegiando aqueles cujas produção e distribuição sejam social e ambientalmente sustentáveis, como os alimentos orgânicos e os de base agroecológica. É correto apenas o que se afirma em A) I, II e III. B) I, II e IV. C) I, III e V. D) II, IV e V. E) III, IV e V. Resposta correta: alternativa E. Análise das afirmativas I) Afirmativa incorreta. Justificativa: o Guia não apresenta lista de alimentos ultraprocessados proibidos. Relaciona exemplos desses alimentos, cujo consumo não é recomendado por serem alimentos com composição nutricional desbalanceada, que favorecem o consumo excessivo de calorias, por substituírem alimentos saudáveis. II) Afirmativa incorreta. Justificativa: o Guia foca em refeições ideais baseadas na realidade cultural do país, diversificando os tipos de alimentos e citando pratos regionais, como pão de queijo e tapioca, para abranger o maior 69 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS número possível de pessoas e ser tangível à realidade da população. Evita, assim, recomendar porções ou quantidades específicas de alimentos. III) Afirmativa correta. Justificativa: o novo Guia direciona‑se principalmente às pessoas (e não só aos profissionais), fala mais de comida, usa menos termos técnicos e, como grande inovação, aborda as circunstâncias que envolvem o ato de comer (como, onde e com quem comer). IV) Afirmativa correta. Justificativa: as recomendações são pautadas em padrões de alimentação praticados por uma parcela substancial da população brasileira, aquela que baseia sua alimentação em alimentos e preparações culinárias. Ou seja, a principal base do Guia é aquilo que a população come, e não aquilo que está destacado em estudos e que, muitas vezes, foram feitos em países com hábitos alimentares bem diferentes do brasileiro. V) Afirmativa correta. Justificativa: os alimentos com produção agroecológica – que valoriza o trabalhador do campo e a agricultura policultura e familiar – também devem ser priorizados. Questão 2. (Enade 2015) Atualmente, a Ciência da Nutrição e a Gastronomia estão intimamente associadas. As preocupações dos clientes de um restaurante não são mais somente o sabor e a textura do alimento, mas também uma refeição saudável, cheia de alimentos nutritivos de alta qualidade. O número e a frequência de doenças relacionadas ao consumo inadequado de alimentos têm aumentado muito nos últimos anos. O consumo inadequado de determinados tipos de alimentos ou ingredientes, como excesso de sal, açúcar e gorduras, pode levar à ocorrência de algumas doenças crônicas, como o diabetes e a hipertensão. Em face desses problemas, a prática de atividade físicas torna‑se essencial para a saúde de qualquer indivíduo. Disponível em: <htpp://nacoesunidas.org>. Acesso em: 6 ago. 2015 (adaptado). Na elaboração do cardápio de um restaurante, o chef deve considerar o maior número de opções viáveis economicamente e observar se as preparações oferecidas atendem às necessidades de seus clientes. Ao considerar os aspectos nutricionais e sensoriais adequados para a alimentação, na escolha do menu, deve‑se levar em conta A) As calorias das preparações oferecidas, dando opção de pratos menos calóricos à clientela do restaurante. B) A técnica de preparo adequada, observando‑se a conservação dos nutrientes e das características organolépticas dos alimentos. 70 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade II C) A retirada do sal de cozinha utilizado no tempero das preparações oferecidas no restaurante. D) A necessidade de descascar os vegetais de maneira a aumentar o peso líquido do alimento e, em consequência, o lucro do restaurante. E) A distribuição dos macronutrientes: carboidratos, proteínas, lipídios, sais minerais e vitaminas, em cada preparação oferecida à clientela do restaurante. Resolução desta questão na plataforma.
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