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Febre sem sinais localizatórios FEBRE X HIPERTERMIA: • Pirógenos – endógenos ou exógenos: ↑ formação de citocinas (IL-1, IL6, FNT, INF) pelas células fagocíticas • Citocinas – induz a formação de prostaglandinas (PGE2) • Hipotálamo anterior – centro termorregulador (setpoints) Não há consenso absoluto, entre os vários autores, sobre o valor específico para definição de febre em crianças, em decorrência das inúmeras variáveis que afetam a temperatura. Entretanto, os valores geralmente utilizados são: temperatura retal > 38,3°C; temperatura oral > 38°C e temperatura axilar > 37,8°C. Mecanismos: Perda de calor = dilatação de pequenos vasos e suor (↓ temperatura) Conservação e produção de calor: vasoconstrição, piloereção, secreção de adrenalina e tremores (↑ temperatura) Hipertermia: Elevação de temperatura corporal sem alteração do setpoint hipotalâmico Ex: atividade física excessiva ( desequilíbrio do mecanismo termorregulador) Febre: 25% de todas as consultas em emergências pediátricas. • Maioria: é possível identificar a causa após avaliação inicial < 36 meses : 20-40% sem identificação após avaliação inicial FEBRE SEM SINAIS LOCALIZATÓRIOS: Febre de até 7 dias de duração, que após anamnese e exame físico cuidadosos não tem a causa estabelecida. A maioria dessas crianças apresenta uma doença infecciosa aguda autolimitada ou está no pródromo de uma doença infecciosa benigna; poucas têm uma infecção bacteriana grave ou potencialmente grave. Dessa forma, o grande desafio dos pediatras, no atendimento das crianças com FSSL, reside na diferenciação dos processos febris de uma doença benigna autolimitada daqueles poucos que podem ter uma infecção bacteriana grave. Importante ressaltar que FSSL não é sinônimo de criança com febre e exame físico normal, pois a elucidação da causa da febre pode estar na história, como por exemplo, em uma criança com relato de disenteria e febre! Causas: ○ Doença benigna e autolimitada ○ Fase prodrômica de doença benigna ○ Infecção bacteriana grave (IBG) Bacteremia oculta Pneumonia, Meningite Infecção do trato urinário Artrite séptica, osteomielite INFECÇÕES BACTERIANAS GRAVES (IBG): É toda infecção bacteriana que acarreta risco de morbidade ou mortalidade, caso ocorra atraso em seu diagnóstico. O conceito de doença bacteriana grave inclui: infecção urinária, pneumonia, bacteremia oculta, meningite bacteriana, artrite séptica, osteomielite, celulite e sepse. O risco de IBG é maior nos menores de 3 meses de idade, principalmente nos recém-nascidos (RN), e decresce progressivamente com a idade. O que é Bacteremia oculta? Refere-se a presença de bactéria em hemocultura, em uma criança febril, sem infecção localizada e com pouco ou nenhum achado clínico, sem histórico, exame físico e exames laboratoriais sugestivos de infecção bacteriana. Embora a maioria dos episódios de BO tenha resolução espontânea, às vezes podem ocorrer complicações sérias, como pneumonia, meningite, artrite séptica, osteomielite, sepse e morte. Enquanto a febre normalmente indica um processo infeccioso, em raras situações pode ser a manifestação de outros processos, como intoxicações exógenas, colagenoses ou doenças malignas. • Hemocultura POSITIVA em criança com FSSL clinicamente BEM e SEM infecção localizada • Prevalência da Bacteremia oculta (BO) - relacionada à vacinação (HiB, S. pneumoniae, N. meningitidis) População não vacinada - 5% (S. pneumoniae, N. meningitidis) População vacinada - <1% (E.coli, Salmonella, S.aureus, S.pyogenes) Qual é a morbidade da Bacteremia oculta? Qual é a evolução? Evolução da Bacteremia oculta não tratada/ diagnosticada ■ Na avaliação 24-48 horas após: Febre persistente - 76% Bacteremia persistente - 21% Internação hospitalar - 50% Meningite - 9% ■ Risco de meningite se Bacteremia por pneumococo - 4% (1,9-7,1%) ■ Risco de meningite se Bacteremia por meningococo - 56% (21,1-78,9%) Qual é a infecção invasiva mais frequentemente associada à FSSL? Infecção do Trato Urinário (ITU) ■ Prevalência de ITU na FSSL: 3-4% meninos < 12 meses 8-9% meninas < 24 meses 70% dos Lactentes com ITU apresentam Pielonefrite ao mapeamento renal Nos lactentes < 3 meses 7,5% meninas 2,5% meninos com postectomia 20% meninos sem postectomia Coleta de urina em crianças sem controle esfincteriano deve ser através de sondagem vesical O que é Pneumonia Oculta? Pneumonia oculta ocorre em 3% das crianças com FSSL na ausência de taquipnéia ou outros sinais respiratórios FSSL = 26% das crianças NÃO vacinadas para Hib e S.pneumoniae COM Temperatura axilar > 39⁰C E leucócitos >20.000/mm3 = PNEUMONIA Nos casos em que a contagem leucócitos totais do hemograma está acima de 25.000/mm³ a taxa de pneumonia é de 40% EPIDEMIOLOGIA DA FEBRE SEM SINAIS LOCALIZATÓRIOS: Após avaliação de um paciente pediátrico febril, cerca de 20% dos mesmos podem ser classificados como FSSL (Febre sem sinais Localizatórios). Até 2% dos pacientes com idade entre 3 e 36 meses podem ter BO, mas a maioria apresenta doenças virais autolimitadas. Entretanto, é importante lembrar que a epidemiologia das infecções bacterianas na criança tem mudado com a introdução de vacinas como a Hib (que protege contra o Haemophilus influenzae tipo b) e as antipneumocócicas (PCV 7, PVC10 ou PVC13, que protegem contra o Streptococcus pneumoniae). Tendo em vista que as crianças pequenas, especialmente recém-nascidos (RN) e crianças com menos de 3 meses, são mais imaturas imunologicamente e têm menos habilidade para demonstrar evidências clínicas de doenças (exame físico inespecífico), o risco de IBG é maior nessas faixas etárias, e chega a 12%. Os RN (lactentes com menos de 4 semanas de idade) são de risco para infecções por agentes microbianos neonatais (Escherichia coli e estreptococos do grupo B), bem como da comunidade (Streptococcus pneumoniae, Salmonella sp. e Neisseria meningitidis). Também são de risco para infecções de sistema nervoso central por herpes vírus (0,3%, o mesmo risco de meningite bacteriana). O risco de óbito da meningoencefalite herpética é de 15%. As infecções pelo H. influenzae tipo b, que chegaram a representar 19% das hemoculturas positivas de crianças febris que procuravam serviço médico na década de 1980, após a vacinação universal, diminuíram de forma a quase eliminar este agente como causa de doenças. Isso torna nula a importância desse agente como etiologia de BO e a investigação é desnecessária atualmente. Essa vacina é amplamente aplicada no Brasil, o que provavelmente faz com que o padrão de queda da incidência dessas infecções se assemelhe ao dos Estados Unidos. SINAIS E SINTOMAS: O principal sintoma da bacteremia oculta é febre com temperatura ≥ 39° C (≥ 38° C para recém-nascidos < 3 meses). Por definição, crianças com doença focal aparente (p. ex., tosse, dispneia e estertores pulmonares sugerindo pneumonia; eritema cutâneo sugerindo celulite ou artrite séptica) estão excluídas (a doença não é oculta). O aspecto toxêmico (p. ex., claudicação e apatia, letargia, sinais de perfusão diminuída, cianose e hipo ou hiperventilação acentuadas) sugere sepse ou choque séptico; a bacteremia nessas crianças também não é classificada como oculta ou febre sem uma origem. Entretanto, pode ser difícil diferenciar sepse precoce de bacteremia oculta. PARÂMETROS PARA IDENTIFICAR UMA IBG EM UMA CRIANÇA COM FSSL: Aparência Clínica: Avaliação clínica não é suficiente para identificar todas as crianças com IBG! Se TOXEMIA ou COMPROMETIMENTO do estado geral - há risco aumentado de IBG * Resposta a antipiréticos em crianças em BEG não são preditores de IBG Idade: Risco de IBG é maior nos lactentes < 3 meses (RN) Faixa etária de risco Não imunizados contra HiB, S.pneumoniae, N.meningitidis ⅔ das crianças nessa faixa etária = FSSL Quadro clínico é inespecífico ( FEBRE = ALERTA) Reconhecimento precoce de IBG Entre 3 -36 meses - risco é semelhante Acima de 36 meses - risco é bem menor Temperatura: Em crianças NÃO VACINADAS para Hib e S.pneumoniae o risco de BO aumenta proporcionalmente com a temperatura! AVALIAÇÃO LABORATORIAL: ○ Urina tipo 1/ Urocultura ○ Hemograma/ Hemocultura ○ RX de tórax Contagem de Leucócitos: Em crianças NÃO VACINADAS para Hib e S.pneumoniae há correlação entre o n° de leucócitos totais e o risco de BO: ■ < 10.000/mm³ - taxa de bacteremia 0,3% ■ > 20.000/mm³ - taxa de bacteremia 8,2% ■ < 5.000/mm³ em lactentes < 3 meses = FATOR DE RISCO Alguns trabalhos consideram o valor de 15.000/mm³ para separar crianças com alto e baixo risco para IBG Contagem de Neutrófilos: Em crianças NÃO VACINADAS para Hib e S.pneumoniae: ■ Neutrófilos < 5.000/mm³ - taxa de bacteremia 0,2% ■ Neutrófilos > 10.000/mm³ - taxa de bacteremia 5,8% ■ Formas jovens > 1.500/mm³ - taxa de bacteremia 5,2% Provas de Fase aguda: Proteína C reativa e Procalcitonina ■ PCR não se eleva antes de 12h ■ Procalcitonina mais sensível, pouco disponível ■ IDENTIFICAÇÃO IBG - PCR≥ 80mg/L ou procalcitonina ≥ 2ng/mL (S-50% E-90%) ■ EXCLUSÃO IBG - PCR< 20mg/L ou procalcitonina < 0,5ng/mL (S-80% E-70%) Uroanálise: ○ Urocultura - padrão ouro ○ Análise do sedimento urinário (Urina tipo 1) AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA: Radiografia de tórax ■ NÃO é necessário solicitar para todas crianças ■ Se Leucocitose >20.000/mm³ - Risco aumentado de Pneumonia oculta RELAÇÃO ENTRE IBG E INFECÇÕES VIRAIS: ○ Crianças com Síndromes virais apresentam < risco para IBG ○ Crianças com PVR + apresentam < risco para IBG ○ Isolamento viral - Literatura ↓ risco de bacteremia 5x ↓ risco de IBG 3x Sem meningite ○ PVR pode diminuir o uso de ATB ○ DENGUE e COVID - FSSL em lactentes jovens ESCALAS PARA IDENTIFICAÇÃO DE FFSL PARA IBG: Rochester, Filadélfia e Boston Critérios de Rochester: • RN de termo • Sem intercorrências no período neonatal • Sem uso de ATB/ doença crônica/ contactante com doença invasiva • Contagem total de leucócitos 5.000-15.000/mm³ • Sedimento urinário < 10 leucócitos/campo VPN = 99,1% TRATAMENTO: Antibióticos (empiricamente, para pacientes específicos dependendo dos resultados da cultura, bem como para aqueles com culturas positivas) Antipiréticos contra desconforto Hidratação adequada (por causa do aumento das perdas com a febre e possível anorexia); hidratação oral se possível, do contrário, parenteral As crianças que recebem antibióticos antes que a bacteremia seja confirmada pela hemocultura aparentemente são menos propensas a desenvolver infecções locais, mas esses dados são inconsistentes. Entretanto, como a bacteremia tem incidência baixa, muitas crianças receberiam tratamento desnecessário se todas as testadas fossem empiricamente tratadas. Como acima, a administração varia de acordo com a idade e outros fatores clínicos. Independentemente da idade, todas as crianças devem ser reexaminadas em 24 a 48 h. Aquelas que apresentam febre persistente ou hemo ou uroculturas positivas que não foram tratadas fazem culturas adicionais, são internadas para avaliação de possível sepse e recebem antibióticos por via parenteral. Se novos sinais de infecção focal são encontrados no reexame, a avaliação e terapia são direcionadas pelos achados. Crianças com 3 a 36 meses de idade Administram-se antipiréticos com a dose baseada no peso. Os antibióticos só são administrados se as culturas são positivas. Para a infecção do trato urinário, crianças com bom estado geral podem receber antibióticos orais para uma infecção do trato urinário pediátrica e ser tratadas ambulatorialmente; outras (p. ex., aquelas que parecem mais enfermas) podem requerer internação para terapia antibiótica parenteral. Crianças < 3 meses de idade Um método comum para o tratamento antes dos resultados das culturas ( Avaliação e tratamento do lactente febril com < 3 meses de idade) minimiza o uso de antibióticos na maioria dos lactentes febris que não são propensos a ter infecção bacteriana grave e prontamente sugere o uso de antibióticos para aquelas poucas crianças que realmente precisam deles. Se exame de urina e culturas de urina sugerem infecção do trato urinário, crianças com bom estado geral podem receber antibióticos orais para infecções do trato urinário pediátricas como pacientes ambulatoriais; outras (p. ex., aquelas que parecem mais enfermas) podem requerer internação para terapia antibiótica parenteral. É importante citar que alguns especialistas preferem internar todos os lactentes febris < 1 mês de idade, fazer uma avaliação completa com culturas de sangue, urina e LCS, e administrar antibióticos por via parenteral (p. ex., ceftriaxona) dependendo dos resultados das culturas, porque recém- nascidos febris < 1 mês de idade são a faixa etária com a maior incidência de IBG. Evolução para Bacteremia: Evolução para Meningite: PONTOS-CHAVE: ■ É improvável que lactentes e crianças menos < 36 meses de idade febris que tenham sido devidamente imunizadas com H. influenzae tipo b e vacinas conjugadas pneumocócicas e que pareçam bem e não tenham focos evidentes de infecção tenham bacteremia oculta ou infecção bacteriana grave (IBG, p. ex., sepse, meningite). ■ Usar hemoculturas (2 amostras de 2 locais separados) para diagnosticar bacteremia oculta em crianças febris específicas. ■ Deve-se avaliar em todos os lactentes febris < 36 meses de idade infecçõesdo trato urinário com exame de urina e urocultura porque ITU agora é a causa mais comum de IBG com febre. ■ Crianças com aparência toxêmica (e talvez todos os lactentes febris < 1 mês de idade) também exigem culturas de sangue, líquor e hospitalização para terapia antibiótica empírica. ■ Em crianças de 3 meses a 36 meses de idade com temperatura ≥ 39° C e que foram apropiadamente imunizadas, testes além de cultura de urina não são indicados para aquelas que parecem bem; outras devem ser submetidas a testes com base nos achados clínicos e outras circunstâncias (p. ex., teste viral rápido para o vírus da influenza, vírus sincicial respiratório e enterovírus durante as estações apropriadas). ■ Em lactentes < 3 meses com temperatura ≥ 38° C, a boa aparência clínica não exclui completamente uma IBG, de modo que exames, incluindo exame de urina, hemograma completo com diferencial, culturas de sangue e urina, e, se disponível (dependendo da epidemiologia local e estação), talvez teste viral rápido para o vírus da influenza, vírus sincicial respiratório e enterovírus, é indicado para todos os indivíduos dessa faixa etária. ■ Crianças não toxêmicas de baixo risco exigem acompanhamento atento se não forem tratadas com antibióticos.
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