Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Pneumonia Definição ● Infecção do parênquima pulmonar que causa sintomas respiratórios inferiores e quando se detecta um infiltrado pulmonar na radiografia de tórax. ● As pneumonias são comumente classificadas como: Adquiridas na comunidade, Associadas aos cuidados de saúde e Nosocomiais. Associadas aos cuidados de saúde Pn. Nosocomial PAC As pneumonias associadas aos cuidados de saúde ocorrem em pacientes que se encontram institucionalizados, que estiveram hospitalizados durante mais de 2 dias nos 90 dias precedentes, que têm contato frequente com instituições de saúde (p. ex. hemodiálise, tratamento de feridas, antibióticos intravenosos ou quimioterapia) ou que estão imunossuprimidos. A pneumonia nosocomial surge, pelo menos, 48 horas depois da admissão hospitalar ou desenvolve-se pouco tempo após a alta hospitalar. A PAH é aquela que ocorre após 48 horas da admissão hospitalar, geralmente tratada na unidade de internação (enfermaria/ apartamento), não se relacionando com entubação endotraqueal e ventilação mecânica, podendo, entretanto, ser encaminhada para tratamento em UTI, quando se apresenta ou evolui de forma grave. Dentro desse conceito, deve ser considerado o tempo de incubação médio característico de cada germe. Devido a implicações etiológicas, terapêuticas e prognósticas, a PAH tem sido classificada quanto ao tempo decorrido desde a admissão até o seu aparecimento. A PAH precoce é a que ocorre até o quarto dia de internação, sendo Todas as outras pneumonias são classificadas como adquiridas na comunidade. Do ponto de vista clínico, a pneumonia adquirida na comunidade (PAC) caracteriza-se pelo aparecimento de manifestações agudas do aparelho respiratório (tosse e ao menos mais um entre expectoração, dor torácica e dispneia), pela presença de sinais focais ao exame físico do tórax na dependência da extensão do comprometimento pulmonar (estertores crepitantes e macicez à percussão torácica) e por pelo menos um sinal de comprometimento sistêmico (sudorese, calafrios, febre igual ou superior a 38º C, tremores ou mialgias). considerada tardia a que se inicia após cinco dias da hospitalização. Pneumonia adquirida no hospital A PAH é aquela que ocorre após 48 horas da admissão hospitalar, geralmente tratada na unidade de internação (enfermaria/ apartamento), não se relacionando com entubação endotraqueal e ventilação mecânica, podendo, entretanto, ser encaminhada para tratamento em UTI, quando se apresenta ou evolui de forma grave. Dentro desse conceito, deve ser considerado o tempo de incubação médio característico de cada germe. Devido a implicações etiológicas, terapêuticas e prognósticas, a PAH tem sido classificada quanto ao tempo decorrido desde a admissão até o seu aparecimento. A PAH precoce é a que ocorre até o quarto dia de internação, sendo considerada tardia a que se inicia após cinco dias da hospitalização. Pneumonia associada à ventilação mecânica A pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM) é aquela que surge 48 a 72 horas após entubação endotraqueal e instituição da ventilação mecânica invasiva. De modo similar, a PAVM também é classificada em precoce e tardia. A PAVM precoce é a que ocorre até o quarto dia de entubação e início da ventilação mecânica, sendo a PAVM tardia a que se inicia após o quinto dia da entubação e ventilação mecânica. Apesar da validade dessa classificação para muitos centros hospitalares e UTIs, a ocorrência de PAH causada por germes resistentes, comumente associados à de início tardio, tem sido relatada com relativa frequência em pacientes portadores de PAH de início precoce. Esse fato reforça a necessidade do conhecimento da microbiota local e do respectivo perfil de sensibilidade, essencial para a adoção de protocolos institucionais mais adaptados à realidade de cada unidade, permitindo o uso racional dos recursos diagnósticos e terapêuticos disponíveis. Pneumonia relacionada com cuidados de saúde A pneumonia relacionada com cuidados de saúde (PRCS) ocorre em pacientes com as seguintes características: residentes em asilos ou tratados em sistema de internação domiciliar, pacientes que receberam antimicrobianos via intravenosa ou quimioterapia nos 30 dias precedentes da atual infecção, pacientes em terapia renal substitutiva e aqueles que foram hospitalizados em caráter de urgência por dois ou mais dias nos últimos 90 dias antes da infecção. Epidemiologia A pneumonia é a infecção aguda potencialmente letal mais frequente nos Estados Unidos, afetando a cada ano 1% da população e causando mais de 1,25 milhão de hospitalizações. A incidência de pneumonia é alta entre lactentes e crianças, diminui consideravelmente durante a infância, permanece relativamente incomum em adultos jovens, mas depois começa a aumentar após os 50 anos de idade e, em especial, após os 65 anos (E-Fig. 97-1). A pneumonia bacteriana não é só mais prevalente entre os idosos como também é mais grave, com um risco de morte progressivamente crescente com o avançar da idade. Os fatores que predispõem os adultos mais velhos a desenvolver pneumonia incluem diminuição do reflexo de engasgamento e da tosse, função glótica diminuída, diminuição das respostas dos receptores toll-like e respostas humorais menos robustas. Esses fatores são muito mais importantes em pacientes acamados — quer seja em casa, numa instituição tipo lar ou no hospital — do que em pessoas idosas saudáveis. A maioria dos adultos de qualquer idade que desenvolve uma pneumonia bacteriana apresenta frequentemente uma ou mais condições predisponentes (Tabela 97-1). - A mais comum é a infecção respiratória viral prévia, que aumenta a adesão das bactérias às células epiteliais respiratórias e altera os mecanismos do clearance devido à interferência com a ação ciliar. O vírus influenza (da gripe) aumenta de modo considerável a suscetibilidade à pneumonia causada por Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae ou Staphylococcus aureus, e estudos recentes confirmaram que a maioria das mortes atribuídas ao vírus influenza durante a grande pandemia de 1918 a 1919 deveu-se a uma superinfecção bacteriana. A pneumonia bacteriana geralmente não afeta adultos jovens perfeitamente saudáveis. Mesmo quando surtos de pneumonia pneumocócica ocorrem em adultos jovens aparentemente saudáveis, como recrutas militares, infecção viral intercorrente, exaustão física e estresse podem ter todos um papel contributivo. Pneumonia por Haemophilus e Moraxella ocorre quase sempre em pessoas com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e a pneumonia por Pseudomonas ocorre em pacientes com DPOC, fibrose cística, bronquiectasias ou outras alterações estruturais do pulmão, em particular se também estiverem tomando corticosteroides. Outros fatores predisponentes incluem desnutrição, que fragiliza o sistema imunitário; consumo excessivo de álcool , que diminui o reflexo de tosse e afeta a migração dos leucócitos; tabagismo, que aumenta as secreções pulmonares e altera a função ciliar; doença hepática ou renal, que diminui a formação de anticorpos e a função dos leucócitos; diabetes melito, que diminui a função dos leucócitos; e deficiência de imunoglobulinas de qualquer causa. É provável que o aumento de cerca de 100 vezes da incidência de pneumonia bacteriana em adultos jovens com AIDS seja devido, em grande parte, à deficiente produção de anticorpos. Diferentemente da pneumonia bacteriana, a pneumonia viral ou por Mycoplasma ocorre quando esses organismos são transmitidos a hospedeiros imunologicamente naïves. A presença ou ausência de uma imunidade prévia e a competência do sistema imunitário por si sós parecem ser os principais determinantes da ocorrência de infecção. O comprometimento imunitário contribui em grande parte para a gravidade da pneumonia pelos vírus sincicial respiratório, vírus da influenza e vírus parainfluenza, e a gravidez predispõe a pneumonia grave pelo vírus da influenza e do sarampo. Biopatologia Os microrganismos infectantes podem atingir os alvéolos e desenvolver pneumonia devidoà aspiração de pequenas quantidades de secreções nasofaríngeas ou de conteúdos da boca, em especial durante o sono. Algum grau de aspiração ocorre normalmente. Aspirações mais importantes, contudo, são mais frequentes em pessoas mais idosas, particularmente naquelas mais frágeis ou acamadas, nas quais a aspiração pode ser documentada através da colocação de material radiopaco na faringe posterior, cuja presença é demonstrada nos brônquios e no pulmão através de uma radiografia simples do pulmão na manhã seguinte. A aspiração é a causa mais comum de pneumonia bacteriana por S. pneumoniae ou H. influenzae, nas quais as vias aéreas superiores estão colonizadas com bactérias potencialmente infectantes. A aspiração é, provavelmente, também responsável pelo número importante de casos nos quais um organismo responsável não é identificado mas que podem resultar de um conjunto de organismos microaerofílicos e anaeróbios da boca e do trato respiratório superior. Essa aspiração de pequenas quantidades de secreção deve ser diferenciada da aspiração maciça. A aspiração maciça ocorre, por exemplo, em pessoas que apresentam convulsões, em pessoas que se engasgam enquanto vomitam ou em pessoas cujo reflexo de engasgo está marcadamente diminuído pelo álcool, drogas ou doenças neurológicas. Em tais pacientes, a síndrome clínica de pneumonia de aspiração inclui os efeitos dos microrganismos e do material aspirado, assim como do ácido gástrico. Outra causa de pneumonia é a inalação direta de material em aerossóis para os pulmões. Esse processo é incomum para a maioria das pneumonias bacterianas mas é característico do Mycobacterium tuberculosis e do Bacillus anthracis. Esse mecanismo também explica a infecção por alguns vírus, como o da influenza ou sincicial respiratório. Alguns vírus que infectam os pulmões — como o vírus influenza, o vírus sincicial respiratório e o metapneumovírus humano — replicam-se e disseminam-se ao longo das células que revestem o trato respiratório inferior, em geral mas nem sempre, após terem entrado primeiro por inalação. As bactérias também podem atingir os pulmões através da corrente sanguínea, ser filtradas pelos mecanismos normais do clearance do hospedeiro, mas depois escapar e causar pneumonia. A pneumonia por S. aureus é comumente causada por disseminação hematogênica, em especial se uma infecção endovascular como a endocardite estiver presente. A Escherichia coli e outros bacilos Gram-negativos podem, ainda, causar pneumonias através de disseminação hematogênica. Um conjunto de mecanismos de defesa do hospedeiro protege o trato respiratório inferior da entrada de organismos infecciosos. ● A configuração das vias aéreas superiores garante que um fluxo de ar fino e laminar passe sobre os pelos e superfícies pegajosas que podem reter partículas potencialmente infecciosas. ● A imunoglobulina A secretora (IgA), que constitui cerca de 10% das proteínas nas secreções nasais, neutraliza os vírus. As imunoglobulinas também inibem a colonização bacteriana. ● O encerramento da epiglote previne a entrada de partículas alimentares para a traqueia durante a deglutição. ● A laringe previne a passagem de secreção para a traqueia e permite a criação de pressões intratorácicas necessárias a uma tosse eficaz. Quando os microrganismos ultrapassam esses mecanismos, a ação ciliar das células epiteliais arrasta-os progressivamente para cima, em direção à laringe, e o reflexo de tosse desloca-os ainda mais rápido na mesma direção. A secreção traqueobrônquica mantém as superfícies úmidas, e o surfactante pulmonar provavelmente contribui para a prevenção de atelectasias, que podem interferir com o clearance distal. Quando os organismos infecciosos atingem os alvéolos, as defesas inatas e específicas entram em ação. As células que revestem o trato respiratório produzem substâncias que inibem ou destroem os microrganismos, incluindo a lisozima, a lactoferrina, β-defensinas e surfactante. Os componentes da parede celular bacteriana, como o lipopolissacarídeo nas bactérias Gram-negativas e opeptidoglicano nas Gram-positivas ativam a via alternativa do complemento, levando à opsonização ou à destruição das bactérias. Promovem também o aumento da expressão de receptores toll-like, com a consequente potenciação dos mecanismos imunes humorais e celulares. Os anticorpos contra os componentes expressos na superfície bacteriana potenciam de forma significativa as respostas defensivas do hospedeiro, sendo que os anticorpos específicos de soótipos contra o polissacarídeo capsular bacteriano são especialmente importantes na proteção contra a infecção pneumocócica. Se esses mecanismos de defesa falharem, as bactérias podem replicar-se nos alvéolos onde estimulam a produção local de citocinas e causam extravasamento capilar e o acúmulo de plasma e células inflamatórias. Essa sequência inicia um círculo vicioso, no qual células inflamatórias adicionais são atraídas e a liberação subsequente de mais citocinas é estimulada. Na pneumonia bacteriana, a resposta inflamatória do hospedeiro é responsável pela maioria das manifestações da doença. Patologia Patologicamente, a pneumonia resulta da replicação e disseminação de microrganismos através do interstício pulmonar e dos alvéolos. ➔ A presença de microrganismos e a resposta inflamatória resultante, caracterizada pelo acúmulo de plasma e leucócitos nos alvéolos, explica a maioria das manifestações clínicas da pneumonia. Esse exsudado inflamatório progressivo, que é detectado na radiografia como uma pneumonia, causa um desequilíbrio da ventilação-perfusão e hipoxemia. Ao contrário da pneumonia bacteriana, o vírus influenza invade diretamente as células do epitélio cilíndrico, originando assim alterações patológicas que vão desde a vacuolização de algumas células epiteliais respiratórias até a descamação de toda a camada epitelial. Essas alterações dispersas que originam o padrão intersticial difuso observado na radiografia de tórax também predispõem a invasão bacteriana secundária. A Chlamydophila pneumoniae adere a receptores específicos e replica-se dentro das células, produzindo, desse modo, microcolônias que estimulam a resposta inflamatória e resultam em pneumonia focal. O Mycoplasma também lesa as células epiteliais respiratórias mas, em vez de invadi-las, adere à superfície celular, onde impede a atividade ciliar e gera substâncias tóxicas. A pneumonia bacteriana secundária é incomum na pneumonia por Mycoplasma, talvez porque esses organismos, ao contrário do vírus influenza, não afetam adversamente as células fagocíticas. Manifestações clínicas ➔ A pneumonia caracteriza-se, em geral, por início agudo de febre, tosse frequentemente produtiva e um infiltrado pulmonar novo detectado na radiografia de tórax. Contudo, pacientes com pneumonia podem não tossir, nem sempre apresentam expectoração, podem estar apiréticos quando são observados pela primeira vez e podem não apresentar infiltrados pulmonares óbvios, especialmente caso se trate de pacientes adultos de alto risco com doença pulmonar crônica, obesos ou se forem avaliados apenas com uma radiografia portátil. Em adultos jovens com pneumonia bacteriana, mal-estar intenso e uma sensação subjetiva de febre são comuns, muitas vezes com calafrios, tosse e produção de expectoração ou pelo menos sensação de necessidade de produzir expectoração. Alguns pacientes apresentam dor torácica pleurítica. Quando existe expectoração, esta pode ser hemoptoica. Com o avançar da idade, os pacientes muitas vezes apresentam apenas algumas ou mesmo poucas dessas manifestações típicas de pneumonia, em parte porque produzem níveis mais baixos de citocinas e porque podem apresentar uma resposta menos vigorosa a elas mesmas. Como resultado, os pacientes idosos com pneumonia podem apresentar desorientação, confusão, fadiga ou alterações mais sutis do estado mental. A diarreia, que pode ser uma manifestação importante na pneumonia por Legionella, é também frequente na pneumonia pneumocócica e provavelmente em outraspneumonias bacterianas, devido à resposta gastrointestinal não específica às citocinas circulantes. A pneumonia viral tem a tendência para apresentar sintomas respiratórios superiores tais como rinorreia ou odinofagia e tosse seca. Os pacientes referem com frequência contato com alguém manifestando infecção respiratória. Diagnóstico Exame Físico ➔ Pacientes mais jovens com pneumonia bacteriana ou por influenza apresentam-se agudamente doentes, ao contrário dos indivíduos idosos e frágeis, que podem estar simplesmente apáticos. Os adultos jovens com pneumonias virais não gripais e por Mycoplasma ou Chlamydophila frequentemente não aparentam estar agudamente doentes. Os pacientes com tuberculose ou outras formas mais crônicas de pneumonia podem-se apresentar cronicamente doentes ou podem aparentar um estado geral relativamente bom. Uma frequência respiratória superior a 20 ciclos por minuto é anormal, e a frequência superior a 25 ciclos por minuto deve causar preocupação. Saturação de oxigênio (SaO2) inferior a 92% indica com muita probabilidade uma pressão parcial de oxigênio muito baixa, e saturação baixa juntamente com frequência respiratória elevada sugere comprometimento respiratório grave. Em um paciente com pneumonia e taquipneia, SaO2 inferior a 90% levanta a suspeita de desconforto respiratório iminente. Na pneumonia bacteriana, crepitações ou estertores estão geralmente presentes na área afetada. Sons respiratórios brônquicos e egofonia, quando presentes, sugerem fortemente pneumonia, mas não são sensíveis para o diagnóstico. A macicez à percussão da área afetada pode ser detectada em cerca de metade dos casos. O aumento da transmissão das vibrações vocais está muitas vezes presente e é especialmente útil na distinção entre infiltrado pulmonar e derrame pleural, no qual o frêmito se encontra diminuído ou ausente. A impossibilidade de detectar a excursão diafragmática pela percussão sugere derrame. Infelizmente, a sensibilidade e especificidade do exame físico para a pneumonia são relativamente baixas. Como resultado, o diagnóstico de pneumonia necessita de validação radiográfica. Achados Radiográficos ➔ A pneumonia é geralmente diagnosticada pela presença de um infiltrado na radiografia de tórax ou excluída pela ausência de um infiltrado. A consolidação densa que envolve um segmento ou um lobo do pulmão reflete muito provavelmente uma infecção bacteriana aguda. Muitos pacientes com pneumonia bacteriana, contudo, apresentam infiltrados radiográficos que não são claramente segmentares. Pequenas áreas de consolidação alveolar podem passar despercebidas em uma radiografia de tórax, em especial numa radiografia anteroposterior portátil, mas podem ser detectadas pela tomografia computadorizada (TC), muito mais sensível. No entanto, pequenas áreas de consolidação (aspecto em vidro fosco) são frequentemente descritas na TC de pacientes que não apresentam pneumonia. Embora a presença de um infiltrado seja essencial para o diagnóstico de pneumonia, o aspecto radiográfico fornece muito pouca informação com relação à etiologia. ➔ Uma consolidação densa de um segmento ou lobo é geralmente bacteriana (Fig. 97-1), em particular pneumocócica, FIGURA 97-1 Pneumonia pneumocócica do lobo inferior esquerdo em incidência posteroanterior (A) e de perfil (B). ➔ mas outras bactérias, incluindo a Legionella (Fig. 97-2), podem causar um aspecto semelhante, embora muitas pneumonias bacterianas não causem infiltrados segmentares ou lobares. FIGURA 97-2 Consolidação lobar densa com broncograma aéreo em um paciente com documentação de pneumonia por Legionella. A pneumonia aerogênica por S. aureus apresenta-se como uma pneumonia segmentar ou lobar, enquanto as pneumonias hematogênicas por S. aureus e por bacilos Gram-negativos frequentemente causam pneumonia necrosante, que se define como uma lesão cavitada dentro de um infiltrado pneumônico. Contudo, a pneumonia pneumocócica também causa necrose pulmonar que é visível na radiografia de tórax em 2% dos casos e na TC em 11% dos casos (Fig. 97-2). A pneumonia hematogênica por S. aureus, em especial quando ocorre concomitantemente à endocardite ou a estrutura intravascular infectada, pode apresentar-se com um aspecto radiográfico típico com várias lesões arredondadas de 1 a 3 cm, que tendem a cavitar (Fig. 97-3, A e B). FIGURA 97-3 Pneumonia hematogênica por Staphylococcus aureus. A, A radiografia de tórax evidencia lesões redondas características de cavitação. B, As mesmas lesões confirmadas na tomografia computadorizada. A pneumonia subsegmentar ou “dispersa” (Fig. 97-4) pode se dever a bactérias, vírus, Mycoplasma ou a Chlamydophila. FIGURA 97-4 A, Infiltrados bilaterais “dispersos” em um paciente com pneumonia por coronavírus. B, Radiografia de tórax de uma pneumonia adquirida na comunidade que demonstrou ser causada por metapneumovírus humano. O Pneumocystis jirovecii causa um infiltrado intersticial difuso que pode, nos seus estágios iniciais, ser confundido com infiltrado reticular proeminente. A aspiração de bactérias anaeróbias, microaerofílicas e facultativas da boca pode causar pneumonia, mas também pode originar um abscesso pulmonar com parede espessa, um nível hidroaéreo e consolidação circundante, particularmente em segmentos superiores dos lobos inferiores ou segmentos posteriores dos lobos superiores. Uma lesão cavitada de um lobo superior sem nível hidroaéreo, em especial se confinada ao segmento posterior, sugere tuberculose. Por vezes, as apresentações mais agudas de tuberculose podem mimetizar uma pneumonia bacteriana aguda. O Aspergillus pode crescer como uma massa dentro de uma cavidade, causando um aspecto típico de micetoma (bola fúngica) intracavitário circundado por um arco ou halo de ar (E-Fig. 97-2). E-FIGURA 97-2 Um aspergiloma pulmonar, algumas vezes chamado de bola de fungos intracavitário, em uma radiografia simples do tórax (A) e na tomografia de tórax (B), que mostra o crescimento fúngico dentro de uma cavidade e fixado à parede por uma haste. A pneumonia rapidamente progressiva de qualquer causa pode resultar em infiltrados pulmonares difusos compatíveis com síndrome do desconforto respiratório agudo do adulto. Embora o aspecto ou o aumento dos infiltrados após a hospitalização possam ser atribuídos a reposição de fluidos, tal progressão reflete mais provavelmente uma continuação da resposta inflamatória. A TC torácica pode ajudar a esclarecer a natureza de um infiltrado e determinar se estamos perante um derrame ou uma massa, mas não é geralmente necessária no momento da admissão hospitalar nos pacientes em que se consegue obter uma radiografia de tórax de boa qualidade. Achados Laboratoriais A maioria dos pacientes com pneumonia bacteriana apresenta contagem de leucócitos superior a 11.500/μL no momento da admissão hospitalar e cerca de um terço apresenta contagens de leucócitos superiores a 15.000/μL. A contagem baixa de leucócitos não deve ser interpretada como tranquilizadora porque contagens de leucócitos de 6.000/μL ou menos podem ser observadas em infecções bacterianas fulminantes. Quando infecções bacterianas fulminantes suprimem a contagem de leucócitos, as formas celulares imaturas (bastões) estão quase sempre elevadas. Cerca de 40% dos pacientes não infectados que recorrem ao hospital com uma síndrome compatível com pneumonia adquirida na comunidade, como os pacientes com edema pulmonar ou câncer do pulmão, também apresentam contagens de leucócitos superiores a 11.500/μL. Portanto, a elevação da contagem de leucócitos não é, de maneira alguma, específica de pneumonia. No entanto, contagens de leucócitos superiores a 20.000/μL são incomuns em condições pulmonares agudas além da pneumonia bacteriana. *** Elevações leves não específicas da bilirrubina sérica, do nível das aminotransferases e da lactato desidrogenase (LDH) são frequentemente observadas. Elevações acentuadas de LDH podem ser observadas na pneumonia por Pneumocystis e Histoplasma em pacientes com AIDS. A elevaçãodo valor sérico da procalcitonina aumenta a probabilidade de infecção bacteriana, enquanto um nível baixo contraria esse diagnóstico. Em ensaios randomizados de pacientes que se apresentaram com sintomas do trato respiratório inferior, mesmo com sintomas graves, o tratamento guiado pelo nível de procalcitonina (antibióticos não recomendáveis se valor ≤0,25 μg/L e fortemente não recomendáveis se <0,1 μg/L) resultou em um menor uso de antibióticos sem efeitos adversos gerais. Contudo, até 25% dos pacientes com pneumonia bacteriana apresentam um nível de procalcitonina normal, e cerca de 25% dos pacientes com síndrome pneumônica mas sem evidência de infecção bacteriana apresentam uma elevação do nível de procalcitonina. Como tal, esse teste não pode ser usado isoladamente para orientar as decisões terapêuticas. Diagnóstico Microbiológico O trato respiratório elimina o exsudado inflamatório através da ação ciliar das células que revestem os brônquios e a traqueia juntamente com o reflexo da tosse. A expectoração é composta por este exsudado — plasma, leucócitos e bactérias — com maior ou menor mistura de saliva. A presença de grandes quantidades de um único tipo de bactéria em uma amostra inflamatória que apresenta ausência relativa de células epiteliais contaminantes sugere fortemente que esse organismo é o agente etiológico responsável pela pneumonia (Fig. 97-5). FIGURA 97-5 Expectoração corada pelo método de Gram de um paciente com pneumonia pneumocócica evidenciando um número elevado de leucócitos polimorfonucleares e muitos cocos Gram-positivos em forma de lanceta sem células epiteliais, indicando que esta amostra teve origem nas vias aéreas inferiores. Uma amostra deste tipo é diagnóstica de pneumonia pneumocócica, embora não se possa excluir uma infecção concomitante por outro organismo, como um vírus que não cora pelo método de Gram. O Haemophilus, a Moraxella e os bacilos Gram-negativos são ainda mais característicos no aspecto microscópico. Se não tiverem sido administrados antibióticos previamente, a ausência de organismos visíveis em uma amostra inflamatória sugere que a causa da pneumonia é uma bactéria que não cora com a coloração de Gram (p. ex. Legionella ou Mycobacteria) ou outro tipo de organismo como o Mycoplasma, Chlamydophila ou um vírus que não possui a parede bacteriana típica e não cora com a coloração de Gram. Os relatórios que atribuem baixa sensibilidade da expectoração na detecção de bactérias refletem a inclusão de amostras que são impróprias ou que foram obtidas após o início da terapia antibiótica. Em pacientes com pneumonias pneumocócicas com bacteriemia que expectoram uma amostra válida e que não tenham recebido antibióticos, a sensibilidade da coloração de Gram e da cultura é de cerca de 90% para a detecção do pneumococo. Uma vez que a sensibilidade desses testes microbiológicos padrão diminui drasticamente passadas 18 horas do início da terapia antibiótica, as amostras são úteis para o diagnóstico apenas se colhidas no tempo correto. O exame direto da expectoração com coloração de Gram é também útil caso não mostre a presença de bactérias. No passado, o diagnóstico de infecção por esses organismos dependia de técnicas sorológicas pouco confiáveis. A disponibilidade de técnicas de diagnóstico modernas tenderá a redefinir o papel desses agentes como causadores de pneumonia adquirida na comunidade. As culturas bacterianas permitem o rápido crescimento de Haemophilus, Moraxella, S. aureus ou de bacilos Gram-negativos quando esses organismos são os causadores da pneumonia. No entanto, a presença de S. aureus ou de bacilos Gram-negativos na cultura quando estes não foram observados microscopicamente em amostras de expectoração de boa qualidade sugere que sejam contaminantes da flora oral. A detecção de pneumococos em uma cultura de expectoração pode ser mais difícil devido à prevalência de outros estreptococos α-hemolíticos na saliva. O ensaio imunossorvente ligado à enzima (ELISA, do inglês, enzyme-linked immunosorbent assay) pode detectar os polissacarídeos da parede celular ou capsular do pneumococo em 60% a 80% dos pacientes com pneumonia pneumocócica com bacteriemia e, em menor proporção, naqueles com doença sem bacteriemia. Um teste ELISA para o antígeno urinário da Legionella detecta apenas o sorótipo mais comum, embora seja positivo em cerca 70% dos casos de pneumonia por Legionella, com maior sensibilidade para as formas mais graves de doença. Os testes para os antígenos urinário do Histoplasma e sérico do Cryptococcus são positivos em pacientes com doença disseminada, mas tendem a ser menos positivos em pacientes com infiltrados pulmonares discretos. Os testes de reação em cadeia da polimerase (PCR) da expectoração são uma técnica altamente sensível que pode ser não específica, uma vez que pode detectar colonização, e não infecção. Quando usada em pacientes africanos com AIDS e suspeita de pneumonia, os testes de PCR quantitativos no esfregaço nasofaríngeo identificaram adequadamente pneumonia pneumocócica. A generalização desse método para pacientes em países desenvolvidos precisa, ainda, ser definida. Para os organismos que normalmente não colonizam as vias aéreas superiores, a PCR é específica e sensível. A PCR no esfregaço da faringe pode detectar de modo adequado Chlamydophila e Mycoplasma, bem como 15 vírus respiratórios (incluindo vírus influenza, parainfluenza, vírus sincicial respiratório, metapneumovírus humano, coronavírus e adenovírus) com sensibilidade e especificidade muito elevadas. Como consequência, a PCR substituiu, de modo geral, a cultura de vírus como o “padrão ouro” para o diagnóstico de infecções por vírus da gripe. A PCR da expectoração pode também detectar o M. tuberculosis e faz agora parte da avaliação recomendada para pacientes com suspeita desse diagnóstico. É documentada bacteriemia em cerca de 10% dos pacientes que são hospitalizados por pneumonia adquirida na comunidade, incluindo em torno de 25% dos pacientes com pneumonia pneumocócica, 10% a 15% de pacientes que são hospitalizados por pneumonia aerogênica por S. aureus ou por bacilos Gram-negativos, numa proporção inferior em pacientes com pneumonia por H. influenzae não classificáveis e apenas raramente em pneumonias por Moraxella catarrhalis. Em comparação, pacientes com pneumonias hematogênicas por S. aureus apresentam quase sempre hemoculturas positivas. Diagnóstico Diferencial O Streptococcus pneumoniae, que é a origem infecciosa identificada mais comum de pneumonia adquirida na comunidade, causa até cerca de 20% dos casos de pneumonia em pacientes hospitalizados nos Estados Unidos mas uma maior porcentagem de casos na Europa, talvez pelas maiores taxas de tabagismo nesta região do mundo e pelas maiores taxas de vacinação antipneumocócica nos Estados Unidos. O H. influenzae, o S. aureus, a P. aeruginosa e outros bacilos Gram-negativos são, a seguir, as causas mais frequentes de pneumonia adquirida na comunidade. ⇮⇮ O Haemophilus, em geral causa pneumonia apenas em pessoas que apresentam doença broncopulmonar prévia. A Pseudomonas e outros bacilos Gram-negativos geralmente causam pneumonia em pacientes que apresentam doença estrutural do pulmão e que estejam sob corticoterapia ou sejam imunossuprimidos por outras razões. Quando o vírus influenza está ativo em uma comunidade, é identificado numa proporção substancial de pacientes admitidos na unidade de tratamento intensivo devido à pneumonia adquirida na comunidade. A identificação do vírus influenza em pacientes com pneumonia deve levar à instituição de tratamento antiviral apropriado, mesmo que tenham passado mais de 48 horas do início dos sintomas. Detecta-se evidência de infecção viral em cerca de 20% a 30% de todos os adultos hospitalizados por pneumonia adquirida na comunidade. O rinovírus é detectado com frequência, mas seu papel como causa da pneumonia não está bem estabelecido. O vírus sincicial respiratório, o coronavírus e o metapneumovírus humano estão claramente implicados como causasde pneumonia e são, a seguir, os vírus mais frequentemente identificados em adultos hospitalizados por pneumonia. Surtos de pneumonia por adenovírus podem ocorrer em recrutas militares. ⇮⇮ Uma vez que bactérias coinfectantes podem também ser detectadas em cerca de metade dos casos de pneumonia viral documentada, a identificação de um vírus por PCR em um paciente com pneumonia não prova que o vírus é a causa ou a única causa de doença. Outras características, tais como o histórico, a gravidade da doença, a produção de expectoração, a natureza do infiltrado pulmonar, a contagem de leucócitos e o nível de procalcitonina podem ajudar a inferir ou a refutar o diagnóstico de pneumonia viral. Embora o Mycoplasma e a C. pneumoniae sejam causas comuns de pneumonia em ambulatório, estes são com menos frequência responsáveis por hospitalizações. A pneumonia causada por esses organismos caracteriza-se por tosse não produtiva prolongada, febrícula e infiltrados pulmonares dispersos. A PCR é preferível em relação às sorologias para o diagnóstico de infecções por Chlamydophila ou Mycoplasma. Outras Causas de Síndrome Pneumônica A síndrome composta por febre, tosse e produção de expectoração sem infiltrado pulmonar é denominada bronquite aguda . Em pessoas que não apresentam doença pulmonar crônica, a bronquite aguda é geralmente uma doença viral autolimitada, mas a infecção bacteriana, por exemplo por H. influenzae, pode causar bronquite em pacientes que têm DPOC. Tosse seca persistente durante várias semanas, sem febre ou expectoração, sugere tosse convulsa ou uma síndrome pós-infecção viral devido, por exemplo, a adenovírus. O contexto epidemiológico pode sugerir causas infecciosas específicas de pneumonia (Tabela 97-2). O Coccidioides immitis, encontrado em regiões áridas das Américas, ou o Histoplasma capsulatum, encontrado em todo o mundo, mas especialmente nas bacias dos rios da América do Norte, causam uma proporção variável de pneumonias adquiridas na comunidade em regiões endêmicas. A exposição a animais de pecuária ou a residência no período estival tardio em zonas de fazenda quentes e secas sugere Coxiella burnetii (febre Q), especialmente em pacientes com cefaleias importantes e com alterações das enzimas hepáticas. A exposição a psitacídeos deve levantar a suspeita de Chlamydia psittaci. A tuberculose deve ser suspeitada em pacientes que moraram em regiões endêmicas, em pacientes que foram reclusos ou são sem-teto e em pacientes imunossuprimidos, particularmente em pacientes com AIDS. O Mycobacterium kansasii pode causar uma síndrome idêntica em pacientes sem nenhum fator de risco descrito. O Mycobacterium avium, frequentemente denominado Mycobacterium avium-intracellulare (MAI) ou complexo Mycobacterium avium (MAC), causa pneumonia bilateral difusa em pacientes imunossuprimidos. O Mycobacterium intracellulare também é conhecido por causar pneumonia em adultos, especialmente em homens com bronquiectasias ou cicatrizes pulmonares extensas devido a enfisema ou a tuberculose previamente tratada. Esse organismo também causa doença em mulheres de meia-idade que não apresentam tais fatores de risco; nessas pacientes, infiltrados sutis podem passar despercebidos na radiografia torácica de rotina. Pacientes com infecção por HIV são suscetíveis a uma variedade de infecções pulmonares, dependendo do grau de imunossupressão que apresentam (Tabela 97-2). Essas infecções oportunistas incluem micobactérias tuberculosas típicas e atípicas e micobactérias não tuberculosas, o Pneumocystis, o Histoplasma e o Cryptococcus. Os pacientes com AIDS têm também um risco aumentado em 50 a 100 vezes para o desenvolvimento de doença pneumocócica. Mesmo após uma avaliação exaustiva, o agente etiológico não é identificado em cerca de metade dos pacientes hospitalizados por sintomas, achados no exame físico, alterações laboratoriais e alterações radiológicas compatíveis com pneumonia adquirida na comunidade. Presume-se que uma infecção bacteriana seja responsável pela maioria dessas pneumonias, dado que, geralmente, elas respondem à terapia com antibióticos. Considerações Não Infecciosas Muitas condições não infecciosas causam síndromes compatíveis com pneumonia aguda ou subaguda (Tabela 97-1). ➔ A pneumonia em organização criptogênica, a pneumonia intersticial aguda, a pneumonia eosinofílica e outras pneumonias intersticiais são condições incomuns que quase sempre são erroneamente diagnosticadas de modo inicial como pneumonias adquiridas na comunidade. ➔ A hemorragia pulmonar e a vasculite podem também causar infiltrados pulmonares e febre. Na vasculite granulomatosa associada a ANCAs, esses infiltrados podem também associar-se a lesões cavitadas. Um histórico criterioso pode revelar história mais prolongada de sintomas e a revisão atenta das radiografias de tórax iniciais pode revelar a existência de alterações radiográficas prévias, compatíveis com um processo crônico, não infeccioso. ➔ Êmbolos pulmonares com infarto podem causar dor torácica pleurítica e infiltrados pulmonares, com expectoração que contém neutrófilos mas poucas ou nenhuma bactéria. Os pacientes com êmbolos sépticos devem ser avaliados para determinar a presença de outro foco de infecção, como uma válvula cardíaca infectada ou um dispositivo intravascular. ➔ O edema pulmonar é a causa não infecciosa mais comum de uma síndrome semelhante à pneumonia adquirida na comunidade e de pacientes de meia-idade e mais velhos. O diagnóstico deve ser baseado no histórico, no exame físico, nos achados radiográficos e apoiado por níveis elevados de peptídeo natriurético tipo B. ➔ Pacientes com câncer pulmonar frequentemente apresentam-se com febre e infiltrado pulmonar que, por vezes, é atribuído à pneumonia pós-obstrutiva. ➔ A síndrome do desconforto respiratório agudo na sequência de uma infecção não pulmonar grave é muitas vezes indistinguível de uma pneumonia porque normalmente apresenta-se com febre, crepitações pulmonares, elevação da contagem de leucócitos e infiltrados pulmonares. À luz dessas possibilidades, devem ser consideradas, pelo menos, outras infecções ou causas não infecciosas antes de se tratar presuntivamente uma pneumonia adquirida na comunidade com a terapia empírica recomendada pelas diretrizes. Tratamento Internação Hospitalar Os índices de avaliação de gravidade podem ajudar a determinar se o paciente com pneumonia adquirida na comunidade necessita de hospitalização (Tabelas 97-3 e 97-4). A decisão seguinte, a admissão do paciente em uma unidade de tratamento intensivo (UTI), pode ser tomada com base na frequência respiratória, frequência cardíaca, pressão arterial sistólica, oxigenação, no estado mental, na extensão do envolvimento pulmonar, no nível de albumina sérica e no pH arterial (Tabela 97-5). Esse auxiliar de decisão é 92% sensível na detecção de pacientes que vão necessitar de transferência para a UTI para suporte ventilatório ou vasopressor intensivo. Outras indicações de infecção fulminante que indicam a necessidade de admissão na UTI incluem a contagem de leucócitos de 6.000/μL ou menos em uma pneumonia bacteriana (especialmente se estiver com número aumentado de bastões), trombocitopenia e hipotermia. Tabela 97-3 A terapia de suporte deve incluir reposição de fluidos para manter a pressão arterial (p. ex., uma média de 4,5 litros de fluidos com eletrólitos serão necessários em um paciente com pneumonia e choque séptico, oxigênio pela hipoxemia e ventilação mecânica. Terapia Antibiótica ➔ Com base na evidência de boa qualidade, os resultados são piores com atrasos prolongados na administração da terapia antibiótica. Os antibióticos devem ser administrados assim que o diagnóstico de pneumonia for considerado provável, independentemente de ser administrado na sala do médico ou no serviço de emergência. ➔ As diretrizes para a terapia antibiótica da pneumonia adquirida na comunidade (Tabela 97-6)8,9 concentram-se nas causas comuns de pneumonia e são geralmente bem-sucedidas pelo fato de que um agenteetiológico específico não é frequentemente determinado em pacientes ambulatoriais que têm pneumonia. Contudo, essa abordagem não deve desconsiderar possíveis causas não infecciosas de febre e infiltrados pulmonares nem desencorajar as tentativas adequadas para estabelecer um diagnóstico infeccioso específico, especialmente em pacientes que não respondem de pronto. Tratamento empírico da pneumonia adquirida na comunidade PACIENTES AMBULATORIAIS* ➔ Nas síndromes sugestivas de pneumonia bacteriana “típica” (tosse de início agudo, expectoração, febre alta, leucocitose e aumento dos níveis de procalcitonina): Amoxicilina-ácido clavulânico (500 a 125 mg a cada 6 h durante 5 a 7 dias); associar azitromicina (500 mg por via oral no dia 1, seguidos de 250 mg por via oral por dia nos dias 2 a 5) se Legionella for uma possibilidade, ou Levofloxacina (750 mg por dia), moxifloxacina (400 mg por dia) ou gatifloxacina (320 mg por dia) durante 5 dias ➔ Nas síndromes sugestivas de pneumonia por vírus influenza: Oseltamivir (75 mg duas vezes por dia durante 5 dias); considerar a possibilidade de infecção bacteriana secundária ➔ Nas síndromes sugestivas de pneumonia viral além da influenza (contato com alguém com uma infecção viral, sintomas do trato respiratório superior, o paciente aparenta bom estado geral, contagem de leucócitos <10.500 e nível de procalcitonina não elevado): Tratamento sintomático ➔ Nas síndromes subagudas sugestivas de pneumonia por Mycoplasma ou Chlamydophila: Azitromicina (500 mg no dia 1, seguidos de 250 mg por dia durante 5 dias) ou doxiciclina (100 mg duas vezes por dia durante 7 dias) PACIENTES INTERNADOS Pacientes internados por pneumonia têm muito provavelmente uma infecção bacteriana que necessita quase sempre de prescrição de antibióticos a não ser que se suspeite de um diagnóstico alternativo. Em todos os pacientes hospitalizados, devem ser feitos todos os esforços razoáveis para determinar o diagnóstico etiológico. ➔ Como terapia empírica: Betalactâmico (ceftriaxona 1 g por dia, cefotaxima 1 g a cada 6 h, ou ceftarolina 600 mg a cada 12 horas) e um macrolídeo (azitromicina 500 mg) ou Quinolona (levofloxacina 750 mg, moxifloxacina 400 mg ou gatifloxacina 320 mg por dia) O tratamento inicial é IV até o paciente se apresentar clinicamente estável; a partir daí pode ser alterado para via oral, ajustando a terapia com base nos resultados das culturas ou selecionando os antibióticos que forneçam uma cobertura semelhante. A duração total da terapia antibiótica é geralmente de 5 a 8 dias. ➔ Se a influenza for provável: Oseltamivir (75 mg duas vezes por dia durante 5 dias) com observação atenta devido à possibilidade de infecção bacteriana secundária ➔ Se a influenza se complicar com pneumonia bacteriana secundária, associar ao oseltamivir: Ceftarolina, ceftriaxona ou cefotaxima mais vancomicina ou linezolida (a ceftarolina isolada poderá ser suficiente se for aprovada para o tratamento da pneumonia por S. aureus) ➔ Se o S. aureus for provável, associar ao esquema usual de terapia antibiótica empírica: Vancomicina (15 a 20 mg/kg a cada 8 a 12 h, monitorando para manter um nível sérico de 15 a 20 mcg/mL ou linezolida (600 mg a cada 12 h); ver anteriormente a observação sobre a ceftarolina. A duração do tratamento para a pneumonia por S. aureus documentada é de 10 a 14 dias. ➔ Se a Pseudomonas ou outro organismo Gram-negativo for provável: Betalactâmico antipseudomônico: piperacilina-tazobactam (4,5 g a cada 6 h), cefepima 1 a 2 g a cada 6 a 8 h ou Carbapenem (meropenem 500 mg IV a cada 6 h ou 1 g a cada 8 h ou imipenem-cilastatina 500 mg IV a cada 6 h ou 1 g a cada 8 h; as infusões prolongadas de carbapenems são preferíveis), mais azitromicina como descrito anteriormente† IM = intramuscular; IV = intravenoso. * A decisão de tratar uma pneumonia em ambulatório deve ser tomada após avaliar a necessidade de hospitalização e apenas após o planejamento de um contato de seguimento. † Adicionar um aminoglicosídeo em pacientes com pneumonias adquiridas na comunidade nos quais a P. aeruginosa ou um organismo Gram-negativo resistente a antibióticos for provável, dado que a suscetibilidade é difícil de prever. Atenuar a terapia para um antibiótico com atividade contra bacilos Gram-negativos assim que os resultados de suscetibilidade estiverem disponíveis. Esquemas de Terapia Antibiótica para Ambulatório Para a terapia empírica de pacientes ambulatoriais, as diretrizes da Infectious Diseases Society of America e da American Thoracic Society recomendam um macrolídeo, doxiciclina, uma quinolona “respiratória” (levofloxacina ou moxifloxacina, mas não a ciprofloxacina, que é levemente inferior contra os pneumococos) ou um β-lactâmico associado a um macrolídeo. Essas recomendações são baseadas no intuito de oferecer tratamento eficaz para as causas bacterianas comuns de pneumonia tais como o S. pneumoniae, o H. influenzae, a M. catarrhalis e a Legionella, assim como para as infecções por Mycoplasma ou Chlamydophila. Por outro lado, a Swedish Society of Infectious Diseases recomenda para o tratamento em ambulatório de pneumonia aguda o uso de penicilina oral ou amoxicilina. A razão para essa abordagem baseia-se no fato de que o pneumococos, que é o agente etiológico potencialmente mais perigoso da pneumonia adquirida na comunidade, é mais bem tratado com penicilina ou amoxicilina do que com doxicilina ou macrolídeos, enquanto no paciente que não responde à penicilina ou à amoxicilina dentro de poucos dias esta pode ser substituída por um macrolídeo ou doxiciclina para tratar uma possível infecção por Mycoplasma e Chlamydophila. A pneumonia por Legionella apresenta-se com uma síndrome aguda que é indistinguível da pneumonia pneumocócica, mas na ausência de uma história específica de exposição, apenas raramente causa pneumonia no ambiente ambulatorial. Nos Estados Unidos, um terço dos Haemophilus e a maioria das Moraxella produzem β-lactamases, que tornam a amoxicilina com ácido clavulânico uma melhor opção em pacientes que apresentam doença pulmonar estrutural. Os pacientes com pneumonia e uma história de febrícula e tosse com mais de 5 a 6 dias de evolução devem ser tratados com um macrolídeo ou doxiciclina. Esquemas de Terapia Antibiótica para Pacientes Internados Em pacientes internados, o médico deve fazer um esforço racional para identificar o agente etiológico; a terapia inicial pode ser empírica, mas os antibióticos devem ser adaptados ao agente etiológico. ********* ➔ A terapia antibiótica empírica inicial recomendada para o tratamento da pneumonia que não necessita de internação na UTI (Tabela 97-6) inclui fluoroquinolona respiratória (levofloxacina ou moxifloxacina, mas não a ciprofloxacina) ou um β-lactâmico (cefotaxima, ceftriaxona, ampicilina ou ampicilina-sulbactam), juntamente com um macrolídeo. Qualquer um desses esquemas tratará a pneumonia por S. pneumoniae e também será eficaz contra o Haemophilus, a Moraxella, a Legionella, o Mycoplasma e a Chlamydophila, assim como contra organismos menos comuns. Contudo, com essa abordagem corre-se o risco de super e subtratamento. ➔ Para evitar o supertratamento, sugere-se a identificação do organismo responsável, direcionando-se o tratamento especificamente. Contudo, a associação de um macrolídeo a um β-lactâmico pode melhorar o prognóstico nas pneumonias pneumocócicas. Para evitar o subtratamento, a infecção provável por S. aureus é uma consideração importante, especialmente em pacientes que possam ter influenza ou que tenham antecedentes de uso de fármacos injetáveis, insuficiência renal crônica, corticoterapia prévia ou progressão da pneumonia apesar do uso prévio de antibióticos em ambulatório.Nesses pacientes, a prevalência do S. aureus meticilina-resistente (SARM) na comunidade exige maior ponderação em relação ao uso da vancomicina ou da linezolida; a ceftarolina (ainda não aprovada para esta indicação) pode também mostrar-se útil no futuro. A ausência de colonização nasal por SARM através doteste de PCR reduz a probabilidade de esse organismo ser o agente etiológico da pneumonia. Esquemas de Terapia Antibiótica na UTI ➔ Em pacientes que necessitam de admissão na UTI, deve ser administrado um β-lactâmico (cefotaxima, ceftriaxona ou ampicilina-sulbactam) em combinação com a azitromicina ou uma quinolona respiratória. ➔ Quando a Pseudomonas é uma possibilidade (p. ex., em pacientes que apresentam predominantemente bacilos Gram-negativos no exame de expectoração; pacientes com DPOC; bronquiectasias ou outras doenças estruturais do pulmão; ou pacientes que foram tratados com glicocorticoides ou outros fármacos imunossupressores), deve ser escolhido um β-lactâmico ou um carbapenêmico com atividade antipseudomonas (piperacilina-tazobactam, cefepima, imipenem ou meropenem). Não está bem elucidado se a adição de um segundo fármaco antipseudomonas, como quinolona ou aminoglicosídeo, é útil ou não. Um princípio mais importante é o de que o tratamento da pneumonia por bacilos Gram-negativos deve centralizar-se no uso da dose otimizada do antibiótico apropriado de acordo com o teste de sensibilidade. ➔ O benefício do uso de corticoterapia em baixa dose em pacientes com pneumonia adquirida na comunidade, em particular nos casos de doença mais grave, é incerto. Evolução no Hospital Os esforços para determinar a causa da pneumonia tornam-se necessários durante a permanência do paciente no hospital. ➔ A resposta esperada à terapia antibiótica inclui resolução da febre, regressão da contagem de leucócitos ao normal e desaparecimento dos sinais sistêmicos de infecção aguda poucos dias após o início da terapia antibiótica. A tosse pode persistir por semanas, e a fadiga, durante meses, especialmente em pessoas idosas. Os pacientes podem não responder ou mesmo apresentar agravamento durante o primeiro ou segundo dia apesar da terapia antibiótica correta, e os médicos necessitam de informação diagnóstica para evitar a combinação de antibióticos que podem não revelar benefício adicional e ter efeitos colaterais deletérios. ➔ Nos pacientes que respondem, a identificação do organismo etiológico permite que os antibióticos de largo espectro sejam substituídos por um esquema de antibióticos mais simples, encurtando, desse modo, o tempo de hospitalização, reduzindo o risco de complicações tais como a colite por Clostridium difficile, e evitando a incerteza em relação ao medicamento responsável no caso de surgir uma reação adversa a fármacos. Insucesso da Terapia Antibiótica O insucesso da terapia antibiótica suscita uma série de questões (Tabela 97-7). O diagnóstico inicial de pneumonia adquirida na comunidade pode estar incorreto, e uma de muitas outras causas de infiltrado pulmonar, tosse e febre (p. ex., um Mycobacterium ou um fungo) pode ser a responsável. Em alternativa, pode-se tratar de um tipo de doença completamente diferente de câncer do pulmão ou doença pulmonar inflamatória. Se o paciente simplesmente não melhora, a terapia antibiótica pode não ser apropriada para o organismo infectante. O primeiro passo deve consistir na revisão das culturas e do teste de sensibilidade aos antibióticos para garantir que o paciente recebeu a dose adequada de um antibiótico apropriado. A terapia antimicrobiana pode ter sido a correta, e o organismo etiológico pode ser suscetível, mas esta pode ser uma infecção loculada, como um empiema (Cap. 99), particularmente em pacientes que melhoram inicialmente, mas depois apresentam febrícula e leucocitose persistentes. Tabela 97-7 Causas para o insucesso da terapia antibiótica na pneumonia: ● Organismo correto, escolha ou dose de antibiótico inadequadas ● Organismo não suscetível ● Dose errada (p. ex., obesidade mórbida ou paciente com sobrecarga de volume) ● O antibiótico não foi administrado ● Organismo e antibiótico corretos, mas infecção está loculada ● Empiema (o mais comum) ● Obstrução (p. ex., câncer do pulmão, corpo estranho) ● Organismo etiológico responsável não identificado Causa não infecciosa ● Neoplasia ● Infiltrado inflamatório Quando os antibióticos são administrados de modo empírico e não são obtidas culturas, esta falha origina imediatamente um dilema terapêutico. Em pacientes com resposta parcial ou inadequada, medidas diagnósticas iniciais — como culturas adicionais, TC de tórax e toracocentese se houver derrame, broncoscopia com lavado broncoalveolar e possivelmente biópsia transbrônquica — devem ser consideradas em vez de simplesmente se adicionarem antibióticos. Duração do Tratamento A duração ideal de tratamento é incerta. ➔ Geralmente, pacientes ambulatoriais com pneumonia adquirida na comunidade devem ser tratados durante 5 a 7 dias. ➔ Os pacientes que são hospitalizados devem receber terapia parenteral até ficarem hemodinamicamente estáveis ou serem capazes de ingerir e absorver antibióticos por via oral, momento a partir do qual podem ser administrados antibióticos por via oral. Três a 5 dias de terapia parenteral e os dias restantes de tratamento oral após o paciente ficar apirético (temperatura <37 °C) parecem ser a melhor abordagem para a pneumonia pneumocócica. ➔ O tratamento da pneumonia adquirida na comunidade de etiologia indeterminada não deve exceder, geralmente, um total de 7 a 8 dias, e 3 dias de tratamento são tão eficazes quanto 8 dias para pneumonias leve a moderadamente graves. ➔ Por outro lado, a pneumonia por S. aureus ou bacilos Gram-negativos provavelmente necessita de 10 a 14 dias de tratamento, ao passo que a pneumonia por S. aureus com bacteriemia necessita de 4 semanas de tratamento devido ao risco de endocardite, como causa ou como consequência da pneumonia. ➔ Para a pneumonia por Legionella documentada, a recomendação é de 5 a 10 dias de tratamento com azitromicina, 14 dias com a fluoroquinolona ou 3 semanas com ambos os regimes se o paciente for imunossuprimido. Os pacientes podem ter alta quando estiverem clinicamente estáveis, não apresentarem outros problemas médicos que necessitem de hospitalização e apresentarem apoio domiciliar adequado. Os indicadores de estabilidade clínica incluem temperatura de 37,8 °C ou menos, frequência cardíaca de 100 batimentos por minuto ou menos, frequência respiratória de 24 ciclos por minuto ou menos, pressão arterial sistólica de 90 mmHg ou superior, saturação de oxigênio de 90% ou superior ou PO2 de 60 mmHg ou superior em ar ambiente (para pacientes que não dependiam previamente de oxigênio suplementar) e estado mental igual ao basal. Os critérios mais rigorosos sugerem temperatura inferior a 37 °C, frequência respiratória normal ou quase normal e saturação de oxigênio e pressão arterial iguais aos valores basais. Os pacientes são mantidos em ambiente hospitalar até cerca de 24 horas após a passagem da via intravenosa para a via oral, mas não existe evidência que apoie essa prática, não sendo necessária em pacientes que se apresentem, de outro modo, estáveis. Complicações Infecciosas ➔ O empiema, que é a complicação infecciosa mais comum da pneumonia, deve ser considerado em pacientes que se apresentam com febre e leucocitose persistentes após 4 a 5 dias de terapia antibiótica apropriada para a pneumonia. A repetição da radiografia de tórax e TC é uma importante ferramenta diagnóstica. Outras infecções extrapulmonares ocorrem quando as bactérias são transportadas pela corrente sanguínea até os ossos ou as articulações (em especial os espaços intervertebrais), cavidade peritoneal (se havia líquido peritoneal durante o período de bacteriemia), meninges, válvulas cardíacas ou mesmo os grandes grupos musculares. Tais infecções manifestar-se-ão por si próprias ao causar sintomas, aos quais o médico deve permanecer atento em pacientes cuja recuperação não é tão satisfatória quanto o esperado. Complicações Não Infecciosas O infarto do miocárdio e novas arritmias, em particular a fibrilação atrial (Cap. 64), são observados em 7% a 10% dos pacientes admitidos por pneumonia adquirida na comunidade, e a descompensação da insuficiência cardíaca é aindamais frequente. Esses eventos cardíacos estão associados ao aumento substancial da morbidade e da mortalidade. Prevenção ➔ A manutenção do bom estado geral de saúde, a cessação do tabagismo, evitar a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas e o controle da glicemia em pacientes diabéticos são medidas gerais adequadas para reduzir o risco de pneumonia bacteriana. ➔ A vacinação contra a influenza reduz o risco não apenas de gripe, mas também de todas as causas de pneumonia, uma vez que a infecção pelo vírus influenza predispõe a infecção pulmonar bacteriana secundária. Atualmente, existem duas vacinas antipneumocócicas disponíveis que reduzem de modo específico o risco de pneumonia pneumocócica: a vacina polissacarídica, que contém polissacarídeo capsular constituído por 23 sorótipos diferentes de pneumococos (comercializada nos Estados Unidos como Pneumovax 23 ou Pnu-Imune), e a vacina pneumocócica conjugada, na qual os polissacarídeos capsulares são conjugados com uma proteína imunogênica (originalmente comercializada nos Estados Unidos como Prevnar e agora como Prevnar. Ao contrário da vacina polissacarídica, a vacina conjugada também elimina a colonização pelos pneumococos detectáveis na nasofaringe e, consequentemente, a disseminação do pneumococo para os indivíduos não vacinados. A infecção pneumocócica causada por cepas que fazem parte da vacina heptavalente foi reduzida em 95% nas crianças e em 85% nos adultos desde que a vacinação em massa em crianças teve início. Essa redução também já começou a ser observada nas cepas que fazem parte da vacina contra 13 sorótipos. A vacina antipneumocócica polissacarídica está recomendada para todas as pessoas com 65 anos ou mais e para todos com idade entre os 19 e 64 anos que estejam imunossuprimidos (p. ex., imunodeficiência congênita ou adquirida, infecção por HIV, insuficiência renal crônica, síndrome nefrótica, neoplasias hematológicas, imunossupressão iatrogênica, neoplasia generalizada e transplantados) ou que apresentem condições que predisponham à infecção pneumocócica ou que exponham um indivíduo a risco particularmente alto de complicações (p. ex., asplenia, tabagismo, asma, doença pulmonar crônica, insuficiência cardíaca, diabetes, alcoolismo, doença hepática crônica, fístula liquórica e um implante coclear). Os pacientes que receberam a vacina antipneumocócica polissacarídea antes dos 65 anos devem receber outra dose aos 65 anos ou depois, desde que tenham passado pelo menos 5 anos desde a última dose. Múltiplas revacinações após os 65 anos de idade não são recomendadas. A vacina antipneumocócica conjugada está recomendada para todos os adultos imunossuprimidos com 19 anos ou mais, e indivíduos que tenham sido submetidos a esplenectomia, que apresentem fístula liquórica ou implante coclear devem receber a dose única de vacina conjugada para toda a vida. Se não tiverem recebido previamente nenhuma vacina antipneumocócica, devem receber a vacina conjugada, seguida da vacina polissacarídica contra 23 sorótipos pelo menos 8 semanas depois. Não existem recomendações relativas à administração de mais de uma dose de vacina conjugada em adultos. Prognóstico Nos países desenvolvidos, a mortalidade dos pacientes com pneumonia tratados em ambulatório é inferior a 2%, mas excede os 10% em pacientes que são hospitalizados e aproxima-se dos 40% em pacientes que necessitam de admissão em uma UTI. Em pacientes com pneumonia pneumocócica, a contagem de leucócitos inferior a 6.000/μL está associada a mortalidade superior a 65%. Na pneumonia adquirida na comunidade, a natremia inferior a 130 mEq/L, elevação do nível sérico de creatinina recorrente ou glicemia superior a 250 mg/dL em um paciente não diabético são também fatores associados a mau prognóstico. Os pacientes muitas vezes recuperam-se lentamente, com fadiga residual e fraqueza que persistem por meses. Após a recuperação de uma pneumonia bacteriana que necessitou de hospitalização, a mortalidade está substancialmente aumentada ao fim de 1 ano e, pelo menos no caso de pneumonia pneumocócica, continua significativamente aumentada 3 a 5 anos depois, presumivelmente porque a pneumonia representa um indicador de comorbidades que limitam a expectativa de vida. Existe boa correlação entre a gravidade da pneumonia e o risco posterior de morte. Harrisson: A pneumonia, uma infecção do parênquima pulmonar, é classificada como adquirida na comunidade (PAC), adquirida no hospital (PAH), associada ao ventilador (PAV) ou associada aos serviços de saúde (PASS). Embora a categoria PASS inicialmente se referia a PAC causada por um patógeno resistente a múltiplos fármacos (MDR), ela agora descreve pacientes com pelo menos 2 ou 3 fatores de risco para infecção por patógenos MDR (Tab. 134-1). TABELA 134-1 ■ Fatores de risco para patógenos resistentes aos tratamentos habituais para pneumonia adquirida na comunidadea Bactérias Gram-negativas resistentes a múltiplos fármacos e MRSA MRSA nosocomial MRSA adquirido na comunidade Internação hospitalar por ≥ 2 dias nos últimos 90 dias Uso de antibióticos nos últimos 90 dias Imunossupressão Condição de não deambulação Alimentação por sonda Supressão da acidez gástrica Bronquiectasia ou DPOC graveb Internação hospitalar por ≥ 2 dias nos últimos 90 dias Uso de antibióticos nos últimos 90 dias Hemodiálise crônica nos últimos 30 dias Colonização prévia documentada por MRSA Insuficiência cardíaca congestiva Supressão da acidez gástrica Infiltrado cavitário ou necrose Hemoptise macroscópica Neutropenia Exantema eritematoso Influenza concomitante Condição de jovem previamente saudável Início em meses de verão https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786558040040/epub/OEBPS/Text/chapter134.xhtml#tab134-1 aCefalosporinas/macrolídeos ou fluoroquinolonas respiratórias. bRisco de infecção por Pseudomonas aeruginosa. Siglas: DPOC, doença pulmonar obstrutiva crônica; MRSA, Staphylococcus aureus resistente à meticilina (de methicillin-resistant Staphylococcus aureus). FISIOPATOLOGIA •Os microrganismos conseguem acesso ao trato respiratório inferior pela microaspiração a partir da orofaringe (a via mais comum), por disseminação hematogênica ou por extensão contígua de espaço pleural ou mediastinal infectado. •Muitos patógenos de PAC são componentes da microbiota alveolar normal, que é semelhante à microbiota orofaríngea. Esta observação sugere que as alterações nas defesas do hospedeiro (p. ex., atividade de macrófagos alveolares, proteínas surfactantes A e D, função do elevador mucociliar) permitem um crescimento excessivo de um ou mais componentes da microbiota bacteriana normal. As duas origens mais prováveis de uma microbiota alveolar alterada são infecções virais do trato respiratório superior para PAC e terapia com antibióticos para PAH/PAV. •A pneumonia clássica (exemplificada por aquela devida ao Streptococcus pneumoniae) manifesta-se como um padrão lobar e evolui em quatro fases, caracterizadas por alterações nos alvéolos: –Edema: exsudatos proteináceos presentes nos alvéolos. –Hepatização vermelha: eritrócitos e neutrófilos presentes no exsudato intra-alveolar. –Hepatização cinzenta: abundantes depósitos de neutrófilos e fibrina. –Resolução: os macrófagos são o tipo de célula predominante. •Na PAV, uma bronquiolite respiratória pode preceder um infiltrado radiologicamente aparente. PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE Microbiologia Embora muitas bactérias, vírus, fungos e protozoários possam causar PAC, a maioria dos casos se deve a relativamente poucos patógenos. Em > 50% dos casos, uma etiologia específica nunca é determinada. •Os patógenos bacterianos típicos incluem S. pneumoniae, Haemophilus influenzae, Staphylococcus aureus e bactérias Gram-negativas como Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa. –A incidência de pneumonia pneumocócica está diminuindo devido ao uso crescente de vacinas pneumocócicas. •Os microrganismos atípicos incluem Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae, espécies de Legionella e vírus respiratórios(p. ex., vírus da influenza, adenovírus, metapneumovírus humano, vírus sincicial respiratório). –Um vírus pode ser responsável por uma grande proporção dos casos de PAC que necessitam internação hospitalar, mesmo em adultos. –Dos casos de PAC, 10 a 15% são polimicrobianos e envolvem uma combinação de microrganismos típicos e atípicos. –A incidência de casos devidos a M. pneumoniae e C. pneumoniae está aumentando, especialmente entre adultos jovens. •O envolvimento de anaeróbios, os quais têm papel significativo na PAC somente quando a aspiração ocorre dias a semanas antes da manifestação clínica, costuma resultar em empiemas significativos. Epidemiologia A PAC acomete mais de 5 milhões de adultos todos os anos nos EUA, 80% dos quais são tratados ambulatorialmente. •A incidência de PAC é maior nos extremos de idade (p. ex., < 4 e > 60 anos). •Os fatores de risco para PAC incluem alcoolismo, asma, imunossupressão, institucionalização e idade ≥ 70 anos (vs. 60 a 69 anos). •Muitos fatores – por exemplo, tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crônica, colonização com S. aureus resistente à meticilina (MRSA), hospitalização ou antibioticoterapia recente – influenciam os tipos de patógenos que devem ser considerados no diagnóstico etiológico. Manifestações clínicas Os pacientes frequentemente apresentam febre, calafrios, suores, tosse (produtiva ou não de escarro mucoide purulento ou hemático), dor torácica pleurítica e dispneia. •Outros sintomas comuns são náuseas, vômitos, diarreia, fadiga, cefaleia, mialgias e artralgias. •Os pacientes idosos podem apresentar atipicamente confusão mental e poucas outras manifestações. •O exame físico costuma revelar taquipneia; maior ou menor frêmito tátil; percussão maciça ou imprecisa que reflete consolidação ou líquido pleural, respectivamente; estertores; ruídos respiratórios brônquicos; ou atrito pleural. Diagnóstico São necessárias a confirmação do diagnóstico e a avaliação da etiologia provável. Embora nenhum dado tenha demonstrado que o tratamento dirigido para um patógeno específico seja superior ao tratamento empírico, um diagnóstico etiológico permite que se estreite o regime empírico, a identificação de microrganismos com implicações de segurança pública (p. ex., Mycobacterium tuberculosis, vírus influenza) e o monitoramento das tendências de suscetibilidade antibiótica. •A radiografia de tórax costuma ser necessária para diferenciar a PAC de outras condições, em particular porque a sensibilidade e a especificidade dos achados de exame físico para PAC são de apenas 58 e 67%, respectivamente. –A TC de tórax pode ser útil para pacientes com suspeita de pneumonia pós-obstrutiva ou de doença cavitária. –Alguns padrões radiológicos sugerem uma etiologia; por exemplo, pneumatoceles sugerem S. aureus. •As amostras de escarro devem ter > 25 leucócitos e < 10 células epiteliais escamosas por campo de grande aumento para serem apropriadas à cultura. A sensibilidade das culturas de escarro é altamente variável; em casos de pneumonia pneumocócica bacterêmica comprovada, a taxa de culturas positivas de amostra de escarro é ≤ 50%. •As hemoculturas são positivas em 5 a 14% dos casos, produzindo mais comumente S. pneumoniae. As culturas de sangue são opcionais para a maioria dos pacientes com PAC, mas devem ser feitas para os pacientes de alto risco (p. ex., pacientes com hepatopatia crônica ou asplenia). •Os testes de antígenos urinários para S. pneumoniae e Legionella pneumophila tipo l podem ser úteis. •A PCR de swabs de nasofaringe se tornou o padrão para o diagnóstico de infecção respiratória viral e também é útil para a detecção de muitas bactérias atípicas. •Sorologia: um aumento de 4 vezes no título do anticorpo IgM específico pode ajudar a firmar o diagnóstico de pneumonia devida a alguns patógenos; porém, o tempo necessário para dispor de um resultado final e a dificuldade de interpretação limitam a utilidade clínica da sorologia. •Biomarcadores: medidas seriadas dos níveis da proteína C-reativa sérica podem ajudar a identificar piora da doença ou falha no tratamento. A medida dos níveis de procalcitocina (PCT) sérica pode ajudar a distinguir entre infecção viral e bacteriana, estabelecer a necessidade de terapia antibacteriana ou determinar o momento de descontinuar o tratamento. TRATAMENTO Pneumonia adquirida na comunidade DECISÃO SOBRE A HOSPITALIZAÇÃO DE PACIENTES •Dois conjuntos de critérios identificam os pacientes que serão beneficiados pela assistência hospitalar. Ainda não ficou claro qual é o superior, devendo a aplicação de cada instrumento ser mediada por uma análise dos fatores relevantes para cada paciente. –Índice de gravidade da pneumonia (IGP): são atribuídos pontos para 20 variáveis, como idade, enfermidade coexistente, além de achados físicos e laboratoriais anormais. Com base nisso, os pacientes são incluídos em uma de cinco classes quanto ao risco de mortalidade. –CURB-65: consiste em cinco variáveis – confusão (C); ureia > 7 mmol/L (42 mg/dL) (U); frequência respiratória ≥ 30/min (R); pressão arterial, sistólica ≤ 90 mmHg ou diastólica ≤ 60 mmHg (B); e idade ≥ 65 anos (65). Os pacientes com um escore de 0 podem ser tratados em casa, aqueles com um escore de 1 ou 2 (sem contar os pontos atribuídos por idade ≥ 65 anos) devem ser hospitalizados e os que tenham um escore ≥ 3 podem necessitar de tratamento em UTI. → à beira de leito CRB-65 (sem o U) SELEÇÃO DA ANTIBIOTICOTERAPIA •Para as recomendações sobre o tratamento antibiótico empírico da PAC, ver a Tabela 134-2. TABELA 134-2 ■ Tratamento antibiótico empírico da pneumonia adquirida na comunidade https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786558040040/epub/OEBPS/Text/chapter134.xhtml#tab134-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786558040040/epub/OEBPS/Text/chapter134.xhtml#tab134-2 Pacientes ambulatoriais 1. Anteriormente saudáveis e sem história de tratamento antibiótico nos últimos 3 meses •Um macrolídeo (claritromicina [500 mg VO 2×/dia] ou azitromicina [500 mg VO em dose única, depois 250 mg/dia]) ou •Doxiciclina (100 mg VO 2×/dia) 2. Comorbidades ou antibióticos nos últimos 3 meses: escolher uma alternativa de outra classe farmacológica •Uma fluoroquinolona de ação respiratória (moxifloxacino [400 mg/dia VO], gemifloxacino [320 mg/dia VO] ou levofloxacino [750 mg/dia VO]) ou •Um betalactâmico (preferível: amoxicilina em doses altas [1 g 3×/dia] ou amoxicilina/clavulanato [2 g 2×/dia]; alternativas: ceftriaxona [1 a 2 g/dia IV], cefpodoxima [200 mg VO 2×/dia] ou cefuroxima [500 mg VO 2×/dia]) mais um macrolídeoa 3. Nas regiões com altos índices de resistência de “alto nível” dos pneumococos aos macrolídeos, considerar as alternativas citadas antes para os pacientes com comorbidades Pacientes hospitalizados fora da UTI •Uma fluoroquinolona de ação respiratória (moxifloxacino [400 mg/dia VO ou IV] ou levofloxacino [750 mg/dia VO ou IV]) •Um betalactâmicoc (ceftriaxona [1 a 2 g/dia IV], ampicilina [1 a 2 g IV a cada 4 a 6 h], cefotaxima [1 a 2 g IV a cada 8 h] ou ertapenem [1 g/dia IV]) mais um macrolídeod (claritromicina ou azitromicina oral [conforme descrito acima] ou azitromicina IV [1 g em dose inicial, depois 500 mg/dia]) Pacientes hospitalizados na UTI •Um betalactâmicoe (p. ex., ceftriaxona [2 g IV 1×/dia], ampicilina-sulbactam [2 g IV a cada 8h] ou cefotaxima [1 a 2 g IV a cada 8h]) mais azitromicina ou uma fluoroquinolona (conforme listado antes para pacientes hospitalizados fora da UTI) Preocupações especiais Se houver possibilidade de infecção por Pseudomonas: •Um betalactâmico antipseudomona (p. ex., piperacilina/tazobactam [5 g IV a cada 6 h], cefepima [1 a 2 g IV a cada 12 h], imipenem [500 mg IV a cada 6 h] ou meropenem [1 g IV a cada 8 h]) mais ciprofloxacino (400 mg IV a cada 12 h) ou levofloxacino (750 mg/dia IV) •Os betalactâmicos citados antes mais um aminoglicosídeo (amicacina [15 mg/kg 1×/dia] ou tobramicina [1,7 mg/kg/dia]) mais azitromicina •Os betalactâmicosf citados antes mais um aminoglicosídeomais uma fluoroquinolona antipneumocócica Se houver possibilidade de infecção por MRSA-AC: •Acrescentar linezolida (600 mg IV a cada 12h) ou vancomicina (15 mg/kg a cada 12h inicialmente, com ajuste das doses) mais clindamicina (300 mg a cada 6 horas) aA doxiciclina (100 mg VO 2×/dia) é uma alternativa aos macrolídeos. bCIM > 16 μg/mL em 25% das cepas isoladas. cUma fluoroquinolona de ação respiratória deve ser utilizada pelos pacientes alérgicos à penicilina. dA doxiciclina (100 mg IV a cada 12 h) é uma alternativa aos macrolídeos. ePara os pacientes alérgicos à penicilina, utilizar uma fluoroquinolona de ação respiratória e aztreonam (2 g IV a cada 8 h). fPara os pacientes alérgicos à penicilina, substituir pelo aztreonam. Siglas: MRSA-AC, Staphylococcus aureus resistente à meticilina adquirido na comunidade; UTI, unidade de terapia intensiva. As diretrizes norte-americanas têm sempre como alvo o S. pneumoniae e patógenos atípicos. Dados retrospectivos sugerem que essa abordagem reduz a taxa de mortalidade. •Um paciente tratado inicialmente com antibióticos IV pode passar a receber agentes orais quando consegue ingeri-los e absorvê-los, apresenta-se hemodinamicamente estável e mostra melhora clínica. •Um esquema de 5 dias de uma fluoroquinolona é suficiente para os casos de PAC não complicada, mas um esquema mais longo pode ser necessário para os pacientes com bacteremia, infecção metastática ou infecção por um patógeno particularmente virulento (p. ex., P. aeruginosa, MRSA adquirida na comunidade). •A febre e a leucocitose em geral melhoram em 2 a 4 dias. Os pacientes que não melhoraram com a terapia no terceiro dia devem ser reavaliados, considerando-se diagnósticos alternativos, resistência antibiótica no patógeno e possibilidade de administração do fármaco errado. . Além do CURB, deve-se observar o estado de oxigenação do paciente, a extensão radiológica da pneumonia e o suporte sociofamiliar para decidir pela hospitalização Decidida a gravidade da pneumonia e o local de tratamento, o próximo passo é decidir o esquema terapêutico antimicrobiano. A escolha inicial sempre é empírica, uma vez que a etiologia não pode ser prontamente definida. O objetivo da terapia empírica em pacientes com PAC é fazer uma cobertura para o agente etiológico mais provável, de acordo com o local de administração do tratamento (domicílio ou hospital), a gravidade da doença, a presença de comorbidades e de fatores de risco para germes resistente aos esquemas convencionais, tais como pneumococo resistente à penicilina, bacilos entéricos gram-negativos e Pseudomonas aeruginosa (Tabela 12.6).3, Quando a decisão for por tratamento no âmbito ambulatorial, é essencial reavaliar o paciente em 48 a 72 horas (se possível, precedido por um telefone após 24 horas do tratamento), pois é o período crítico da evolução desfavorável. As medidas gerais adicionais ao tratamento antimicrobiano são a cessação do tabagismo, repouso, hidratação adequada e analgésicos/antiinflamatórios não-esteróides para controle da dor pleurítica, caso ocorra. Para terapia empírica de pacientes ambulatoriais com PAC, um macrolídeo como claritromicina ou azitromicina ou uma nova fluoroquinolona com atividade estendida para S. pneumoniae, como levofloxacina ou moxifloxacina, são apropriados, oferecendo cobertura para pneumococo, H. influenzae e microrganismos atípicos. Amoxicilina oral, cefalosporinas orais de 2a geração são apropriadas para tratarem PAC por S. pneumoniae suscetível à penicilina ou com resistência intermediária. No nosso meio, a resistência do pneumococo à penicilina ainda não representa um problema que contra-indique o uso de β-lactâmicos (lembrar que mesmo PAC causada por pneumococo com resistência intermediária à penicilina pode ser tratada com β-lactâmico em altas doses, o que não é verdade para isolados com alta resistência à penicilina ou para casos de meningite). No entanto, β-lactâmicos não oferecem cobertura adequada para os agentes atípicos, que em um estudo brasileiro representaram 47% dos agentes isolados em PAC ambulatorial. Dessa forma, recomenda-se o uso de macrolídeo para pacientes com PAC que sejam previamente hígidos, sem co-morbidades e que não tenham utilizado antibiótico nos últimos três meses. A resistência in vitro aos macrolídeos entre isolados de S. pneumoniae com sensibilidade intermediária e franca à penicilina é de aproximadamente 10 a 25%.18 Considerando-se a baixa prevalência de cepas resistentes no nosso meio, os macrolídeos podem ser usados com boa resposta. Embora uma metanálise que incluiu pacientes com PAC não-grave demonstrou um modesto benefício terepêutico das fluoroquinolonas quando comparadas a outros antimicrobianos, não se recomendam as fluoroquinolonas como terapia de primeira linha, tendo em vista as crescentes preocupações com a resistência bacteriana. O uso indiscriminado de quinolonas também pode mascarar quadros de pneumonia tuberculosa. No entanto, elas podem ser uma alternativa em pacientes intolerantes a β-lactâmicos ou macrolídeos, ou em locais onde a resistência ao pneumococo é elevada. Uma vez que a resistência à penicilina em pneumococos é causada pela diminuição da afinidade a proteínas ligadoras das penicilinas, que são estruturalmente alteradas, β-lactâmicos com inibidores da β-lactamase não são mais efetivos do que penicilinas contra esses microrganismos. Pacientes com fatores de risco adicional, como idade avançada ou co-morbidades e suspeita de pneumonia por pneumococo resistente à penicilina, devem ser avaliados quanto à necessidade de internação para uso de terapia antimicrobiana parenteral. O ciprofloxacino tem atividade marginal contra S. pneumoniae suscetível à penicilina, não sendo a quinolona de escolha para tratar PAC (é, por outro lado, a quinolona de escolha para tratamento de P. aeruginosa). A combinação de sulfametoxazol e trimetoprima oferece cobertura para menos de 50% dos agentes de PAC, ficando reservada apenas para tratar pneumocistose, nocardiose ou infecção hospitalar por Stenotrophomonas maltophilia. Na suspeita de pneumonia aspirativa, a associação de β-lactâmico com inibidor de β-lactamase (como amoxicilina/clavulanato, amoxicilina/sulbactam ou ampicilina/sulbactam) ou clindamicina são excelentes opções. Embora a doxiciclina seja recomendada em vários consensos, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia não recomenda seu uso devido ao fato de que as tetraciclinas são ativas somente contra 65% dos pneumococos sensíveis à penicilina, segundo dados que reúnem várias amostras brasileiras. A recomendação da maioria das sociedades é de se tratar PAC por período de 7 a 14 dias. Pacientes com pneumonia pneumocócica não-complicada podem ser tratados até que estejam afebris por pelo menos 72 horas. Considerando-se que o tempo de defervescência mediano na PAC é de dois dias, muitos pacientes com PAC poderão ser tratados por menos de cinco dias de terapia antibiótica com o uso dessa abordagem. Pacientes com PAC causada por bactérias que causam necrose do parênquima (como S. aureus, K. pneumoniae e anaeróbios) podem necessitar de tratamento por três semanas ou mais, dependendo da evolução individual. Depois da resolução clínica da pneumonia, é recomendado realizar-se uma radiografia de tórax de controle em 4 a 6 semanas para excluir neoplasia ou outra anormalidade pulmonar persistente, sobretudo em tabagistas e pacientes acima de 40 anos. RESUMINDO TTO ambulatorial: ● sem comorbidades / sem uso de atb nos últimos 3 meses → macrolídeo VO [ou Beta lactâmico (amoxicilina OU amoxicilina/clavulanato ou Beta lactâmico) PROTOCOLO ] ● c/ comorbidade / uso de atb nos últimos 3 meses → Fluorquinolona respiratória OU B-lactâmico + macrolídeo (todos VO) TTO internação ● Fluorquinolona respiratória OU B-lactâmico + macrolídeo [VO] TTO internação em UTI ● Fluorquinolona respiratória OU B-lactâmico + macrolídeo [IV] Complicações As complicações comuns da PAC grave são insuficiência respiratória, choque e falência de múltiplos órgãos,
Compartilhar