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Transtorno do Espectro Autista (TEA) Introdução • Em um estudo com uma amostra de 204 crianças com TEA, foi obtido como resul- tado na média do tempo para diagnóstico: - Idade média dos primeiros sintomas: 2 anos e 4 meses; - Diagnóstico: 6 anos e 8 meses; - Atraso médio para diagnóstico: 4 anos e 2 meses; - Número médio de visitas a profissio- nais antes do encaminhamento correto: 2,4; • A família identifica as alterações muito precocemente e passa por um processo longo e cansativo na busca pelo diagnóstico e intervenções; • Inicialmente Kanner considerou autismo como psicose. No século passado a termino- logia saiu da caracterização de psicose para transtorno de desenvolvimento, feita por Ortiz e Ritvo, até o termo atual transtorno do espectro autista (TEA), denominação mais apropriada, em razão da complexidade e da diversidade do quadro clínico; • Esta denominação é recomendada pela American Psychiatric Association na 5ª edi- ção do Manual de Diagnóstico de Doenças Mentais (DSM-V-APA,2013); • O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição de neurodesenvolvimento que se caracteriza por dificuldades na inte- ração social: com pouca reciprocidade, atraso de comunicação verbal e não verbal e um repertório restrito de atividades e inte- resses (como por exemplo, brinca sempre com um mesmo brinquedo) • A criança com TEA não busca uma apro- vação do adulto, comum em crianças que não são neurodivergentes; • Observa-se as três áreas mais afetadas pe- las desordens autistas: - A comunicação e a linguagem; - A socialização; - E os comportamentos repetitivos e os in- teresses restritos; • Não há um exame médico específico para o diagnóstico do autismo. Podem ser feitos exames complementares para excluírem di- agnósticos diferenciais, havendo uma asso- ciação com o diagnóstico clínico, com as- pectos chaves na anamnese e que podem au- xiliar o pediatra na avaliação dos casos sus- peitos de autismo; • Autismo não é uma disfunção única, mas sim um espectro de problemas. Em geral acomete indivíduos antes dos três anos de idade; • A CDC (Center of Diseases Control) ór- gão máximo do governo americano para a saúde refere que em 2006 uma em cada 110 crianças é portadora de uma desordem do espectro autista. Em 2014 foi verificado um caso para cada 58 crianças; • É cerca de 4 vezes mais frequente em me- ninos. Etiologia • Atualmente acha-se que sejam fatores bi- ológicos e genéticos responsáveis pelo TEA há evidências convincentes que autismo seja uma desordem hereditária; • Verifica-se risco aumentado em gemelar e na recorrência de autismo em famílias nas quais já existe uma criança autista; Marianne Barone (15A) Disciplina – Prof. Marianne Barone (15A) Puericultura – Prof. Maira Kassabian Oliveira Pacheco • Em alguns estudos epidemiológicos indi- cam fatores ambientais, como exposição tó- xicas, teratógenos, insultos perinatais, in- fecções pré-natais, como rubéola e citome- galovírus, como “gatilhos ambientais”; • Parece também que está associado a toxo- plasmose, encefalites, meningites bacteri- ana, intoxicação por chumbo, e doenças me- tabólicas como fenilcetonúria e mucopolis- sacaridoses; • Fatores de risco: idade avançada dos pais negligência extrema dos cuidados das crian- ças exposição a certas medicações na gesta- ção (ácido valpróico), nascimento prema- turo e baixo peso ao nascer; • Vacinas: sem relação. Classificação • De maneira geral existem 3 tipos de au- tismo. → • Descrita a primeira vez pelo pediatra aus- tríaco Hans Asperger (1906 – 1980) é con- siderada uma forma mais branda de autismo; • Seus portadores apresentam os sintomas básicos: dificuldade de interação social, comportamentos repetitivos, não ocorrendo comprometimento da fala e da inteligência; • Na verdade, alguns até mesmo apresentam níveis de QI acima da média, assim a cri- ança portadora da Síndrome de Asperger é comumente considerada até um pequeno gênio que descobre códigos e resolve enig- mas. Entretanto acomete apenas 20 a 30% dos portadores de desordens de espectro au- tista. → • É o descrito pelo médico austríaco Leo Kanner em 1943, no qual ele descrevia 11 crianças com comportamentos muito seme- lhantes; • O médico descreveu como “solidão autís- tica e insistência na mesmice”, os portadores têm comprometimento das capa- cidades cognitivas que varia de moderado a grave (sendo menos comum em meninas, que acaba por atrasar o seu diagnóstico), além da dificuldade de interação social, de comunicação e do comportamento repeti- tivo; • Pacientes de nível 1 são aqueles que de- mandam um menor suporte, enquanto os de nível 3 demandam um maior suporte. → • Crianças que se desenvolvem bem até 1 ano e meio, e em seguida até 3 anos sofrem regressão da linguagem e do comporta- mento tornando-se autista. Diagnóstico clínico • A avaliação clínica deve levar em consi- deração alguns aspectos chaves na anam- nese, capazes de auxiliar o pediatra na ava- liação clínica dos casos suspeitos de au- tismo: Idade Desenvolvimento normal Sinais de alerta 2 meses - Fixa o olhar - Reage ao som - Se aconchega no colo dos pais e troca olhares (durante mamadas e trocas de fralda) - Não fixa o olhar 4 meses - Emite sons - Mostra interesse em olhar o rosto de pessoas, respon- dendo com sorriso, vocali- zação ou choro - Retribui sorriso - Não retribui sor- riso - Não interage so- cialmente 6 meses - Sorri muito ao brincar com pessoas - Localiza sons - Acompanha objetos com o olhar - Não apresenta sorrisos (nem so- cial) e expressões alegres - Apresenta pouco contato visual e engajamento soci- ocomunicativo - Poucas expres- sões faciais 9 meses - Sorri e ri enquanto olha para as pessoas - Interage com sorrisos, fei- ções amorosas e outras ex- pressões - Não responde às tentativas de inte- ração feita pelos outros quando es- tes sorriem, fazem caretas ou sons - Brinca de “esconde- achou” - Duplica sílabas - Não interagem emitindo sons, ca- retas ou sorrisos - Não balbucia “mama” ou “papa” - Não olha quando chamado ou para onde o adulto aponta - Não faz troca de turno comunica- tiva - Imitação pouco ou ausente 12 meses - Imita gestos como dar tchau e bater palmas - Responde ao chamado do nome - Faz sons como se fosse conversar com ela mesma - Não balbucia ou se expressa como bebê - Não balbucia “mama” ou “papa” - Não responde ao seu nome quando chamado - Não aponta coi- sas no intuito de compartilhar aten- ção - Não segue com olhar gestos que os outros façam 15 meses - Troca com as pessoas muitos sorrisos, sons e ges- tos de uma vez - Executa gestos a pedido - Fala uma palavra - Não fala palavras que não seja “mama”, “papa” ou o nome de um familiar 18 meses - Fala no mínimo 3 palavras - Reconhece claramente pessoas e partes do corpo quando nomeados - Faz brincadeiras simples de faz de conta - Não fala palavras (exceto ecola- lia) - Não expressa o que quer - Utiliza-se da mão do outro para apontar o que quer 24 meses - Brinca de faz de conta - Forma frase de duas pala- vras com sentido que não seja repetição - Gosta de estar com crian- ças da mesma idade e tem interesse em brincar conjun- tamente - Procura por objetos famili- ares que estão fora do campo de visão quando per- guntado - Não fala frases com suas palavras que não sejam re- petição 36 meses - Realiza brincadeira simbó- lica com interpretação de personagens • Em qualquer idade, se for observada uma perda de habilidade, deve-se pensar em TEA do tipo regressivo; • No diagnóstico clínico, podem ser usadas algumas ferramentas para identificar a pre- sençaou ausência de ações comuns, como a criança não demonstrar emoções ou não ou- vir ao ser chamada; • Eye tracking: também chamado de mape- amento visual, é uma forma de investigação, consistida em um monitor com equipamen- tos específicos para capitação do olhar. Em sua parte inferior, luzes infravermelhas en- tram em contato com as pupilas e verificam para qual ângulo a pessoa está olhando. En- quanto isso, são apresentadas na tela ima- gens como desenhos ou frases, tornando possível concluir para onde e quanto tempo a pessoa observou os estímulos em sua frente; • Estudos recentes sugerem que os instru- mentos de triagem associados à avaliação clínica acurada são efetivos em crianças com 2 anos de idade ou mais velhas; • Atualmente, entre os questionários mais utilizados está o Modifield Cheklist for Au- tism in Toddlers (M-CHAT), que é reco- mendado pela Sociedade de Pediatria de São Paulo; Versão final do M-CHAT em português 1. Seu filho gosta de se ba- lançar, de pular no seu joe- lho, etc SIM NÃO 2. Seu filho tem interesse por outras crianças? SIM NÃO 3. Seu filho gosta de subir em coisa como escadas ou móveis? SIM NÃO 4. Seu filho gosta de brin- car de esconder e mostrar o rosto ou de esconde-es- conde? SIM NÃO 5. Seu filho já brincou de faz de conta, como, por exemplo, fazer de conta que está falando no telefone ou que está cuidando da bo- neca, ou qualquer outra brincadeira de faz de conta? SIM NÃO 6. Seu filho já usou o dedo indicador dele para apontar para pedir alguma coisa? SIM NÃO 7. Seu filho já usou o dedo indicador dele para apontar para indicar in- teresse em algo? SIM NÃO 8. Seu filho consegue brin- car de forma correta com brinquedos pequenos (exemplo: carros ou blo- cos), sem apenas colocar na boca, remexer no brinquedo ou deixar o brinquedo cair? SIM NÃO 9. O seu filho alguma fez trouxe objetos para você (pais) para lhe mostrar este objeto? SIM NÃO 10. O seu filho olha para você no olho por mais de 1 segundo ou 2 segundos? SIM NÃO 11. O seu filho pareceu muito sensível ao barulho, (ex: tapando os ouvidos)? SIM NÃO 12. O seu filho sorri em resposta ao seu rosto ou ao se sorriso? SIM NÃO 13. O seu filho imita você? (ex:você faz expres- sões / caretas e seu filho imita?) SIM NÃO 14. O seu filho responde quando você chama ele pelo nome? SIM NÃO 15. Se você aponta um brinquedo do outro lado do cômodo o seu filho olha para ele? SIM NÃO 16. Seu filho já sabe andar? SIM NÃO 17. O seu filho olha para coisas que você esta olhando? SIM NÃO 18. O seu filho faz movi- mentos estranhos com os dedos perto do rosto dele? SIM NÃO 19. O seu filho tenta atrair a sua atenção para a ativi- dade dele? SIM NÃO 20. Você alguma fez já se perguntou se seu filho é surdo? SIM NÃO 21. O seu filho entende o que as pessoas dizem? SIM NÃO 22. O seu filho as vezes fica aéreo, “olhando para o nada” ou caminhando sem direção definida? SIM NÃO 23. O seu filho olha para seu rosto para conferir a sua reação quando vê algo estranho? SIM NÃO • Pontuação: resultados superiores a 3 (fa- lha em três itens no total) ou em 2 dos itens considerados críticos (2, 7, 9, 13, 14, 15), após confirmação, justificam uma avaliação por técnicas de neurodesenvolvimento. As respostas sim/não são convertidas em passa/falha. As questões em negrito repre- sentam os itens críticos: 1. Não 6.Não 11. Sim 16. Não 21. Não 2. Não 7.Não 12.Não 17. Não 22. Sim 3. Não 8.Não 13.Não 18. Sim 23. Não 4. Não 9.Não 14.Não 19. Não 5. Não 10.Não 15.Não 20. Sim • O reconhecimento mais precoce nos pri- meiros anos de vida proporciona uma inter- venção mais adequada e oferece maior qua- lidade de vida às crianças e as suas famílias; • Exames complementares são utilizados para exclusão de diagnóstico diferencial; • Resumo do quadro clínico: - Atraso na linguagem: não aparecimento do balbuciar aos 9 meses, não pronunciar nenhuma palavra até aos 16 meses, não for- mar frases até os 2 anos são sinais de alerta - Afeto rígido e ou comprometido com di- ficuldade de expressar emoções; - Sociabilidade diminuída; - Brinquedo sem imaginação; - Movimentos estereotipados; - Não apontar aos 12 meses. Diagnostico diferencial • Problemas auditivos; •Transtornos no desenvolvimento de lin- guagem; • Síndrome de Rett; • Distúrbios desintegrativos da infância; • Síndrome de Landau – Kleffner; • Esquizofrenia; • Déficit cognitivo; • Crianças que foram expostas a negligência e abuso de forma severa podem desenvolver os sintomas de TEA. Tratamento • Intervenção precoce; • O tratamento deverá ser individualizado, de acordo com as limitações apresentadas por cada pessoa; • Os principais pilares para o manejo ade- quado das crianças autistas estão na educa- ção especial e nas modificações comporta- mentais trabalhadas por equipes multipro- fissionais. Cada equipe trabalhará com a criança e sua família.; • Tratamento ideal: família + escola + pa- ciente + terapias; • Equipe multiprofissional: neuro, psquia- tra, pediatra, psicóloga, fonoaudióloga, te- rapia ocupacional, psicopedagoga e educa- dor; • Seguir o guideline da comorbidade: de- pressão, TDHA, agressividade e alimenta- ção (podem apresentar seletividade para a comida ou sintomas gastrointestinais); • Onde não tem cura existem diversos ou- tros tratamentos diversos, que podem, ou não, terem comprovação científica; • Podem ser feitos tratamentos auxiliares de autistas com cachorros, equoterapia, como uma forma de estimulação; • Tratamentos com comprovação cientí- fica: - ABA (análise do comportamento apli- cada): é uma abordagem que foca na com- preensão do comportamento, com carga de cerca de 20 a 40 horas por semana; - TEACCH: tratamento e educação para autistas e crianças com déficit relacionados com a comunicação, que se baseia na adap- tação do ambiente para facilitar a compre- ensão da criança em relação ao seu local e ao que se espera dela); • Apesar de a tendência atual ser a inclusão de alunos com deficiência em escolas regu- lares, as limitações que o distúrbio provoca devem ser respeitadas. Há casos em que é melhor procurar uma instituição que ofe- reça atendimento mais individualizado; • Prognóstico: TEA não tem cura, mas apresenta um bom prognóstico em casos de intervenção precoce, melhorando sua quali- dade de vida e da família. Papel do pediatra • Escutar cuidadosamente as queixas dos pais; • Rastreamento ativo, através da realização do M-CHAT aos 18-24 meses; • Encaminhamento precoce para avaliação especializada; • Na dúvida pecar pelo excesso. Considerações • Grau de comprometimento é de intensi- dade variável. Pode ir desde quadros mais leves, como a síndrome de Asperger (na qual não há comprometimento da fala e da inteligência), até formas mais graves em que o paciente se mostra incapaz de manter qualquer tipo de contato interpessoal e é portador de comportamento agressivo e re- tardo mental; • Evitar o olhar, o embotamento afetivo, o isolamento, baixa tolerância a frustração, repertório restrito de interesses, dificuldade estas enfrentadas pela criança; • Na família de um autista, não é só a criança que está doente. A família inteira está com- prometida, necessitando de suporte psicoló- gico; - Demora no diagnóstico; - Dificuldade em lidar com o diagnóstico e sintomas; - Deficiente acesso ao serviço de saúde e apoio social; - Escassez de atividades para crianças com TEA; - Situação financeira; - Preocupação com o futuro.
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