Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
NEFRITE LÚPICA INTRODUÇÃO › A nefrite lúpica é uma complicação muito frequente encontrada em 30 a 80% dos pacientes com LES (mulheres jovens), sendo ainda a maior causa de morbimortalidade da doença. › A maioria dos quadros renais apresenta-se nos primeiros 5 anos de LES. Patogenia: Nefropatia induzida por imunocomplexos depositados ou formados in situ (auto anticorpos FAN, anti DNA ) → ativação do complemento e resposta inflamatória → lesão glomerular e vascular. CLASSIFICAÇÃO ↪ São seis classes histopatológicas da nefrite lúpica: I= mesangial mínima; II = proliferativa mesangial; III = focal; IV = difusa (nome antigo: proliferativa difusa); V= membranosa; VI = esclerótica avançada. › A transformação entre as classes histológicas pode ocorrer tanto de classes mais graves para as menos graves (em resposta a terapêutica instituída), como no sentido inverso, sobretudo em situações de recidivas ou tratamento inadequado. IMPORTANTE!!! Mais comum e mais grave: classe IV (nefrite difusa). OBS.: Caracterizada por síndrome nefrótica, hematúria e disfunção renal. Manifestação com síndrome nefrótica franca: classe V (nefrite membranosa) Complicação da classe V: trombose de veia renal. OBS.: Síndrome nefrótica → mais suscetível a eventos trombóticos → forte dor lombar, piora da função renal, hematúria. Peculiaridade laboratorial da classe V: geralmente anti-DNA negativo e complemento sérico normal. OBS.: Quanto mais grave a nefrite lúpica, maior é a chance de encontrarmos o anticorpo anti- DNA nativo (dupla-hélice) positivo e níveis baixos de complemento sérico!!! A nefrite lúpica membranosa foge a essa regra. QUADRO CLÍNICO e LABORATORIAL ↪ Pacientes com as formas mais leves de lesões histológicas, confinadas à região mesangial (classes I e II), em geral têm sedimento urinário pouco ativo e proteinúria (presente em um terço) inferior a 1g/dia. Os testes sorológicos (anti-DNA e complemento sérico), entretanto, podem estar alterados, mesmo sem existir comprometimento da função renal. ↪ Pacientes com histologia classe III apresentam alterações clínicas renais mais evidentes: hematúria e cilindros hemáticos em 50% dos casos; proteinúria sempre presente e com características nefróticas em aproximadamente 30% dos casos. HAS é muito frequente e a sorologia para LES costuma estar positiva no momento da biopsia renal. ↪ Pacientes com glomerulonefrite lúpica difusa (classe IV) apresentam-se com a forma mais ativa, e frequentemente grave, de envolvimento renal. Em aproximadamente 75% dos casos, o sedimento urinário está alterado, e mais da metade apresenta síndrome nefrótica franca. Insuficiência renal moderada é bastante comum, e evolução com rápida perda de função pode ocorrer em 20% dos casos. Os portadores habitualmente se apresentam com hipocomplementenemia significativa e altos níveis de anti-DNA. ↪ Na glomerulonefrite membranosa do LES (classe V), o quadro clínico habitual é o da síndrome nefrótica com função renal preservada. Pode haver sedimento urinário ativo e hipertensão arterial de modo inconstante. Reduzida atividade sorológica. OBS.: A nefropatia membranosa lúpica pode estar associada à trombose da veia renal, como complicação da síndrome nefrótica e/ou por defeitos de coagulação da própria doença de base, como a ocorrência de anticorpos antifosfolipídicos. ↪ Pacientes com histologia classe VI geralmente se apresentam com insuficiência renal crônica lentamente progressiva, associada a proteinúria e alterações discretas no sedimento urinário. OBS: No quadro clínico, geralmente também há atividade sistêmica da doença: acometimento articular, hematológico, cutâneo ou de serosas. Testes imunológicos na nefrite lúpica › O FAN possui sensibilidade de 90% para o diagnóstico de lúpus e especificidade de 70%. É importante lembrar que este exame pode ser positivo em diversas outras situações clínicas, como em outras doenças reumatológicas, neoplasias, infecções etc. › O anti-DNA está presente em até 90% das nefrites lúpicas não tratadas. › A hipocomplementemia é um bom marcador de atividade da doença, sendo usada tanto no diagnóstico, como no acompanhamento de recidivas e avaliação de efeito de tratamento. Como identificar a ATIVIDADE renal do lúpus? A atividade nefrítica lúpica, pode (e deve) ser monitorizada acompanhando-se os níveis séricos do anticorpo anti-DNAds e também os níveis séricos do complemento total (CH50) e seus componentes (C3 e C4). ▶ Exames laboratoriais para avaliar a FUNÇÃO renal (EAS, proteinúria de 24 horas, creatinina) também são mandatórios. O envolvimento renal no LES, segundo a American College of Rheumatology, é definido pela presença de proteinúria persistente > 500 mg/dia e/ou presença de cilindros celulares no sedimento urinário, desde que outras causas estejam afastadas (p. ex., infecções do trato urinário e efeito de drogas). DIAGNÓSTICO › O diagnóstico e classificação histológica definitivos é feito pela biópsia renal, sendo esta, útil para adequação do tratamento específico, avaliação prognóstica e exclusão de outros achados não relacionados ao LES. - A biópsia no LES tem padrão patognomônico na IF: padrão full house ⇨ depósitos de vários tipos de imunoglobulinas (IgG, IgM, IgA), além de complemento (C3, C4 e C1q). › As lesões histológicas renais no LES são heterogêneas e sujeitas a transformações no decorrer do seguimento em longo prazo (intercambialidade e superposição). LEMBRAR: A biópsia renal não deve atrasar o tratamento (tratar empiricamente)!!! ▶ DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Podemos dividir os diagnósticos diferencias em dois grupos: 1. Doença renal sem manifestações clínicas: deve-se fazer diagnóstico diferencial com qualquer glomerulopatia primária, porém sempre suspeitar de nefrite lúpica em mulheres jovens e com outras doenças autoimunes associadas. 2. Doença renal com manifestações sistêmicas: os diagnósticos diferenciais incluem crioglobulinemia, vasculites relacionadas a ANCA, neoplasias e infecções. Obs.: Vale ressaltar que o paciente com LES pode apresentar inúmeras alterações renais, que NÃO são devidas à nefrite lúpica, incluindo: microangiopatia trombótica, amiloidose, nefrite túbulo-intersticial mediada por IC, doenças infecciosas túbulo-intersticiais ascendentes, infecções renais oportunistas e lesões induzidas por drogas nefrotóxicas. TRATAMENTO ↪ As nefrites lúpicas classes I e II são de bom prognóstico e não necessitam de terapêutica específica, a não ser que progridam para classes mais graves. ↪ As lesões de classe III ou IV, ou qualquer forma que apresentar declínio de função renal ou crescentes celulares à histologia renal, devem ser tratadas com imunossupressão rígida de duração aproximada de 24 meses. O tratamento é dividido em indução e manutenção: Fase de indução (primeiros seis meses): pulso com metilprednisona IV por 3 dias (seguido de prednisona oral) + ciclofosfamida IV (podendo ser em pulsos mensais). Fase de manutenção (de seis meses a pelo menos dois anos): envolve hidroxicloroquina (reduz chance de atividade de doença) + prednisona (5-10 mg/dia) + micofenolato oral ou azatioprina oral. ↪ O tratamento da nefrite membranosa (classe V) permanece controverso... Pacientes assintomáticos não requerem tratamento. A remissão espontânea ocorre em 50% dos casos! A doença moderada geralmente responde à corticoterapia isolada (1 mg/kg/dia de prednisona). Naqueles que não respondem, e evoluem com piora da função renal e síndrome nefrótica grave, os imunossupressores estão indicados. ↪ A lesão renal classe VI é sequelar e não há benefício de terapêutica medicamentosa. Obs.: Os IECA e BRA são benéficos no controle da proteinúria e da hipertensão arterial (alvo < 130 x 80 mmHg), e os diuréticos melhoram o edema associado. Além disso, devem-se tratar agressivamente a dislipidemia e os fatores de risco de aterosclerose (estatinas). CLASSE ACHADOS LABORATÓRIO TRATAMENTO I Mesangial mínima ( pouco encontrado na prática) Paciente assintomático do ponto de vista renal. Mínima alteração mesangial → presençade complexos imunes, sem hipercelularidade. Não há alterações no exame de urina ou função renal. Complemento baixo e DNA de dupla fita + pode estar presente. Nenhum II Mesangial Proliferativa (10-20%) Clínica branda. Caracterizada por hiper-celularidade mesangial ou expansão da matriz mesangial. Proteinúria discreta (< 1 g/24h) Hematúria discreta Creatinina normal Complemento baixo e DNA de dupla fita + pode estar presente O prognóstico é bom e nenhuma terapia específica é recomendada. Se surgirem indícios clínicos → Biopsiar de novo para avaliar mudança de classe. III Focal (10-20%) Possíveis HAS, sínd. nefrí-tica ou mesmo nefrótica. Alterações proliferativas (hipercelularidade) focais (< de 50% dos glomé-rulos), sendo usualmente associada a depósitos subendoteliais. Crescen-tes glomerulares e necrose fibrinoide podem ocorrer. Proteinúria elevada Hematúria presente Creatinina normal ou ↑ Pode evoluir para tipo IV a qualquer momento Complemento baixo e DNA de dupla fita + Leve: corticoide ↓ dose. Grave: igual classe IV. IV Difusa (40-60% mais comum) HAS está invariavelmente presente e a insuficiência renal é marcante. Lesões histológicas seme-lhantes às da classe III, porém em > 50% dos glomérulos. Proteinúria elevada Hematúria intensa Creatin. normal ou ↑ Complemento consu-mido e DNA de dupla fita fortemente + Pior prognóstico de todas as classes. Imunossupressão agressiva (corticoi-des em ↑ doses + ciclofosfamida ou micofenolato). V Membranosa (10-20%) Síndrome nefrótica. Espessamento difuso da MBG com imunodepósi-tos subepiteliais, além de alterações mesangiais. Proteinúria nefrótica (com função renal normal) Pode evoluir com inflamação glomerular e hematúria. Iniciar corticoide para tentar remissão da S. nefrótica. Sem resposta: associar citotóxico. VI Esclerosante (5%) Insuficiência renal crônica Esclerose global ≥ 90% dos glomérulos, sem evidência de lesão ativa. Pode ser a evolução das formas crônicas das classes III, IV ou V. Proteinúria e hematúria discretas e perda de função renal. Terapia de substituição renal (diálise,transplante). Indicação de tto imunossupressor apenas em função do acometimento de outros órgãos.
Compartilhar