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S Í N D R O M E D O O V Á R I O P O L I C Í S T I C O LAYANE SILVA Incidência: afeta 4-12% das mulheres na idade reprodutiva; sintomas de excesso de androgênios variam entre grupos étnicos. Prevalência: varia de 6 a 16%. A síndrome do ovário policístico (SOP) é uma endocrinopatia comum em mulheres durante o menacme, cujas principais características clínicas são oligo-ovulação ou anovulação crônica, sinais de excesso androgênico (diferentes graus de manifestação) e múltiplos pequenos cistos ovarianos. 1935: Stein-Leventhal definiu como uma associação entre amenorreia e a forma policística dos ovários. 2004: Consenso de Rotterdam foi publicado em conjunto pelas Sociedades Americana de Medicina Reprodutiva – ASRM e Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia – ESHRE. 2012: revisão do Consenso de Rotterdam. SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO (SOP): disfunção ovulatória na qual as mulheres afetadas devem ter pelo menos 2 dos seguintes critérios de Rotterdam: (1) oligo-ovulação e/ou anovulação, (2) hiperandrogenismo (clínico e/ou bioquímico) e (3) ovários policísticos identificados ao exame ultrassonográfico - deve-se excluir hiperplasia suprarrenal congênita, tumores secretores de androgênios e hiperprolactinemia (diagnóstico de exclusão). DEFINIÇÃO Síndrome de acantose nigricante hiperandrogênica resistente à insulina (HAIRAN): presença de hiperandrogenismo acentuado, resistência insulínica grave e acantose nigricante. HIPERTECOSE OVARIANA E SÍNDROME DA HAIRAN: forma mais grave de SOP, condição rara que se caracteriza por ninhos de células tecais luteinizadas distribuídos pelo estroma ovariano, causa hiperandrogenismo grave, sinais evidentes de virilização (clitoromegalia, calvície temporal e engrossamento da voz), aumento da resistência insulínica e acantose nigricante. DEFINIÇÃO DA SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO desregulação do gene CYP11a em pacientes com SOP, gene que codifica a enzima de clivagem da cadeia lateral do colesterol (etapa limitante da taxa de biossíntese de esteroides). suprarregulação de outras enzimas na via androgênica biossintética. envolvimento do gene receptor de insulina do cromossomo 19p13.2 Suspeita-se de origem genética multifatorial e poligênica, há possibilidade de transmissão autossômica dominante, com expressão em indivíduos do sexo feminino e masculino - os genes supostamente envolvidos são aqueles relacionados com a síntese de androgênios e à resistência à insulina - outras suspeitas incluem: ETIOLOGIA FISIOPATOLOGIA FATORES ENDÓCRINOS não se sabe se a disfunção hipotalâmica é causa primária de SOP ou se é secundária a feedback anormal dos esteroides. A anovulação em mulheres com SOP é caracterizada por secreção inadequada de gonadotrofinas, assim, há alterações no padrão de secreção de gonadotrofinas (GnRH), que resulta em hipersercreção característica de LH, aumento na amplitude dos pulsos e secreção de FSH baixa ou no limite inferior - que causam hiperatividade das células da teca que produzirão mais androgênios (testosterona) sem a conversão proporcional deste androgênio em estradiol em função do desbalanço entre secreções de LH e FSH. I. GONADOTROFINAS a exposição intrauterina a elevadas concentrações de androgênios promove alterações na programação central da regulação do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano (HHO), e tende à hipersecreção de LH. mulheres com SOP tem menor sensibilidade hipotalâmica ao retrocontrole feitos pelos estrogênios e progesterona de origem ovariana, com resistência dos neurônios secretores de GnRH à regulação inibitória feita pela progesterona, o que prologariam os pulsos de GnRH e LH. Insulina e LH estimulam a produção androgênica das células da teca ovariana, assim, os ovários afetados secretam níveis elevados de testosterona e androstenediona, que contribuem para aumento nos níveis de estrona em razão da conversão periférica de androgênios em estrogênios por meio da atividade aromatase. II. ANDROGÊNIOS mulheres com SOP tem graus elevados de resistência insulínica para ação da insulina no músculo estriado e no tecido adiposo, e hiperinsulinemia compensatória independente da presença ou não de obesidade. Complicações: DM tipo 2, HAS, dislipidemia e doença cardiovascular (DCV). IGF-1: atua na produção de androgênios ovarianos, estimulando a proliferação de células da teca. Definida como absorção reduzida de glicose em resposta a uma quantidade de insulina cujo mecanismo está relacionado com uma anormalidade pós-ligação na transdução do sinal mediado pelo receptor insulínico. Há papel significativo da insulina e do IGF-1 na produção anômala de androgênios, assim, o aumento da insulina circulante tem efeito direto na produção de androgênios ovarianos, uma vez que esta possui ação sinérgica ao LH nas células da teca, estimulando a produção de androgênios. Há papel significativo da insulina e do IGF-1 na produção anômala de androgênios, assim, o aumento da insulina circulante age na produção de androgênios ovarianos, uma vez que esta possui ação sinérgica ao LH nas células da teca, estimulando a produção de androgênios - e está envolvida na redução da produção da proteína carreadora de androgênios (SHBG) pelo fígado. Ambos efeitos aumentam a concentração de testosterona livre, ou seja, da fração ativa do hormônio, em função disso, o uso de sensibilizadores periféricos à ação da insulina reduz os níveis de testosterona circulante em mulheres com SOP, na presença ou não de obesidade. III. RESISTÊNCIA À INSULINA IV. GLOBULINA DE LIGAÇÃO AO HORMÔNIO SEXUAL LAYANE SILVA níveis baixos de SHBG foram associados a problemas no controle da glicose e a risco de desenvolvimento de DM tipo 2. Mulheres com SOP tem níveis elevados de globulina de ligação ao hormônio sexual (SHBG), glicoproteína produzida no fígado, que liga-se a maior parte dos esteroides sexuais, cuja síntese é suprimida por insulina e androgênios, corticoides, progesterona e hormônio do crescimento. Assim, há menos androgênios circulantes ligados a proteínas e mais circulam livres e disponíveis para ligarem-se aos receptores nos órgãos-alvo, assim, há níveis de testosterona total na faixa normal apesar da hiperandrogenia clínica. Embora os níveis androgênicos normalmente estejam elevados, os níveis de progesterona são baixos em razão dos ciclos anovulatórios cujo mecanismo é desconhecido, mas a hipersecreção de LH tem implicações na irregularidade menstrual, e a anovulação pode resultar de resistência insulínica - visto que há retorno dos ciclos ovulatórios após iniciar tratamento com metformina (agente sensibilizador da insulina). Considerando que o desenvolvimento folicular normal depende da sincronia entre gonadotrofinas (LH e FSH), insulina, IGF-1, AMH, enzimas ligadas à esteroidogênese e outros fatores de crescimento, pode-se compreender o impacto que estas mudanças regulatórias causam sobre a foliculogênese ovariana. Em mulheres com SOP, o recrutamento e ativação folicular ocorrem de maneira intensa, porém com menor atresia dos folículos em estágios iniciais, assim, apesar do recrutamento mais proeminente não há depleção precoce da população de folículos - os menores níveis de FSH dificulta o crescimento do folículo até estágios maduros, os quais acabam estacionados em estágios intermediários. V. ANOVULAÇÃO FATORES GENÉTICOS a expressão de genes no tecido ovariano de mulheres portadoras de SOP demonstra padrões distintos entre grupos com desregulação na expressão de genes ligados a processos biológicos. em mulheres SOP não obesas ocorrem alterações na expressão de receptores de LH, que levam ao padrão de hipersecreção de androgênios, já em mulheres SOP obesas há alteração nos receptores de insulina, com sub expressão destes receptores em tecidos metabólicos (tecido adiposo) e aumento da expressão no tecido ovariano. a fisiopatologia inclui outros genes reguladores de vias biológicas de transporte de substância transmembrana, regulação deendocitose e reciclagem de receptores. Há evidências de padrão mais complexo de hereditariedade, envolvendo múltiplos genes, pode-se identificar alterações em múltiplos loci associados à SOP (doença oligo ou poligênica), há também a influência de penetrância gênica incompleta, modificações epigenéticas e fatores ambientais. Em mulheres com SOP, as queixas tem origem em diversos efeitos endócrinos e incluem irregularidade menstrual, infertilidade, manifestações de excesso de androgênio ou outras disfunções endócrinas. SINAIS E SINTOMAS - MANIFESTAÇÕES CLÁSSICAS: hiperandrogenismo resulta de alterações na programação da regulação do eixo HHO, com interferências na sensibilidade do hipotálamo ao feedback exercido pelo estrogênio e progesterona de origem ovariana, assim, há secreção atípica de GnRH, que determina a secreção de pulsos anárquicos de gonadotrofinas, caracterizado pela hipersecreção de LH, levando a ciclos anovulatórios, com recrutamento inicial de múltiplos folículos, porém sem a maturação completa, mantendo-os retidos em desenvolvimento intermediário (morfologia policística dos ovários). A anovulação secundária a esse processo gera atraso menstrual com ciclos longos e normoestrogênicos, já que o crescimento folicular ocorre parcialmente, causando oligomenorreia e infertilidade. Ademais, o efeito direto dos androgênios sobre os folículos pilosos e sebáceos leva aos sinais e sintomas clínicos do hiperandrogenismo, como hirsutismo, acne, pele oleosa, queda de cabelo e nos casos mais graves, sinais de virilização com clitoromegalia e alopecia androgênica. I. DISFUNÇÃO MENSTRUAL Varia de amenorreia que resulta de anovulação a oligomenorreia até menometrorragia episódica com anemia, visto que a ausência de ovulação impede a produção de progesterona e queda da progesterona que desencadeia a menstruação. - Amenorreia: ausência de menstruação por > 3 meses consecutivos, pode ser causada por níveis elevados de androgênios, estes podem neutralizar o estrogênio e produzir endométrio atrófico - sendo comum observar amenorreia e camada fina de endométrio em pacientes portadoras de SOP com altos níveis androgênicos. - Sangramento intenso e imprevisível: não há produção de progesterona em função da ausência de ovulação, o que resulta em exposição crônica aos estrogênios, com isso, há estimulação mitogênica constante do endométrio - essa instabilidade do endométrio espessado resulta em sangramento com padrão imprevisível. - Oligomenorreia: < 8 períodos menstruais em 1 ano. II. HIPERANDROGENISMO Manifesta-se clinicamente como hirsutismo, acne e/ou alopecia androgênica, sinais de virilização (aumento da massa muscular, redução das mamas, engrossamento da voz e clitoromegalia), que reflete níveis androgênicos elevados e exige investigação imediata para verificar presença de tumores produtores de androgênios no ovário ou na glândula suprarrenal. HIRSUTISMO: presença de pelos terminais escuros e ásperos distribuídos com padrão masculino, comumente causado pela SOP (70-80%) e outras causas mais frequente são hirsutismo idiopático e alguns medicamentos, em geral, se inicia na fase final da adolescência (início da terceira década de vida). - Fisiopatologia: aumento nos níveis dos androgênios atua na determinação do tipo e distribuição de pelos, assim, dentro de um folículo piloso, a testosterona é convertida em di-hidro-testosterona (DHT) pela enzima 5a-redutase. A conversão é irreversível, e apenas os pelos de áreas sensíveis a androgênios são alterados dessa forma em pelos terminais, assim, as as áreas mais comuns afetadas com excesso de crescimento piloso incluem lábio superior, queixo, costeletas, tórax e linha alba da parte inferior do abdome. Hipertricose: aumento lanuginoso generalizado, ou seja, presença de pelos macios e pigmentados associado ao uso de medicamentos e malignidades. MEDICAMENTOS QUE PODEM CAUSAR HIRSUTISMO Escutiforme: padrão de distribuição de pelos no abdome inferior. nas mulheres, há padrão triangular sobre o monte pubiano, e nos homens, os pelos se estendem sobre a linha alba assumindo a forma de diamante. Etnia: de acordo com a etnia do paciente pode-se considerar hirsutismo valores entre 4-6 (mais baixo para orientais e mais alto para mulheres do Oriente Médio, hispânicas e de outras regiões do Mediterrâneo). Genética: há uma forte tendência familiar para desenvolvimento de hirsutismo pelas diferenças genéticas na sensibilidade dos tecidos-alvo a androgênios e à atividade da 5a-redutase. - Sinais de pontuação de Ferriman-Gallwey: usada para quantificação do grau de hirsutismo, a distribuição anormal de pelos é avaliada em 9 áreas do corpo e pontuadas de 0 (ausência completa de pelos) a 4 (crescimento acentuado de pelos terminais) - aumentos na pontuação numérica correspondem a maior densidade pilosa em uma determinada área, assim, hirsutismo como pontuação igual ou superior a 8 usando a versão modificada (pode ser brando, moderado ou grave, dependendo da localização e densidade do crescimento piloso). - indivíduos de origem mediterrânea têm maior concentração de folículos pilosos que os de origem norte-europeia, e uma concentração muito maior que os de origem asiática. - deve-se observar a distribuição dos pelos em áreas não androgênio dependentes, como antebraço, que deve refletir o esperado para dada paciente. LAYANE SILVA III. ACNE no folículo piloso, a testosterona é convertida no interior das glândulas sebáceas a seu metabólito mais ativo (DHT) pela 5a-redutase, que possui 2 enzimas - isoenzima 1 predomina nas glândulas sebáceas. Quando persistente ou de início tardio sugere SOP, sua patogênese envolve 4 fatores: bloqueio da abertura folicular por hiperceratose, produção excessiva de sebo, proliferação de Propionibacterium acnes comensal e inflamação. Em mulheres com excesso androgênico, a estimulação excessiva dos receptores androgênicos na unidade pilossebácea aumenta a produção de sebo, que causa inflamação e formação de comedão. - Tratamento: visa reduzir a inflamação, diminuir a produção de queratina e reduzir a colonização por P. acnes e os níveis androgênicos para diminuir a produção sebácea. Independente do escore, se os pelos têm localização em áreas mais expostas que incomodam a paciente, como a face, deve-se realizar o tratamento. IV. ALOPECIA ANDROGÊNICA FEMININA deve-se excluir disfunção da tireoide, anemia ou outras doenças crônicas. Compreende a perda de cabelos que evolui lentamente e se caracteriza por afinamento difuso na coroa, com preservação do contorno frontal do couro cabeludo e recessão bitemporal, sua patogênese envolve o excesso de atividade da 5a-redutase no folículo piloso, aumentando os níveis de DHT. V. DISTÚRBIO METABÓLICO Fisiopatogenia: a RI leva à hiperinsulinemia, que estimula o crescimento de queratinócitos e fibroblastos dérmicos, produzindo mudanças características na pele. A SOP é frequentemente acompanhada de distúrbio metabólico, principalmente dos carboidratos e lipídeos, aumentando risco de síndrome metabólica, por isso, acredita-se que a gênese da SOP tenha participação genética e epigenética, do meio ambiente (poluentes e disruptores endócrinos) e estilo de vida, piorando com sedentarismo e obesidade. - Fisiopatogenia: durante a gestação, quando o estresse oxidativo resultante de restrição de crescimento piora a captação de glicose pelos tecidos e reduz a secreção de insulina pelas células betapancreáticas. Mecanismos adaptativos de sobrevivência metabólica fetal incrementam produção de glicocorticoides, que podem influenciar a produção e ação da insulina no período neonatal, intensificando o distúrbio dos carboidratos (modificação epigenética). - Manifestações clínicas: aumento da relação cintura-quadril, adipócitos volumosos, níveis séricos reduzidos de adiponectina e menor atividade da lipase de lipoproteínas, que podem agravar a disfunção ovulatória, hiperandrogenismo e surgimento de acantosenigricante. RESISTÊNCIA À INSULINA: tanto mulheres magras como obesas com SOP apresentam taxas elevadas de resistência à insulina e DM tipo 2. - Acantose nigricante: doença de pele caracterizada por placas aveludadas espessas de cor marrom acinzentada que se localizam nas áreas de flexão, como parte posterior do pescoço, axilas, dobra abaixo dos seios e região inguinal (marcador cutâneo de resistência insulínica). - Intolerância à glicose e DM2: mulheres com SOP tem maior risco de intolerância à glicose (IGT) e DM2. OBESIDADE: mulheres com SOP têm maior probabilidade de serem obesas, o que se reflete em aumentos no IMC e na proporção entre cintura e quadril, que indica padrão androide ou central de obesidade (fator de risco para doença cardiovascular e RI). - Dislipidemia: o perfil lipoproteico aterogênico clássico observado na SOP se caracteriza por níveis elevados de LDL, triglicerídeos e aumento na razão entre colesterol total e HDL, e níveis reduzidos de HDL. VI. APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO Geralmente está relacionada com obesidade central e RI, mas tem ligação com anormalidades metabólicas e hormonais associadas à SOP visto que o risco de desenvolver AOS é 30-40 vezes maior em mulheres com SOP. VII. DOENÇA CARDIOVASCULAR há risco relativo de infarto do miocárdio de 7,4 em mulheres com SOP. mulheres portadoras de SOP tem maior incidência de disfunção diastólica ventricular esquerda e aumento do endurecimento interno e externo da artéria carótida. observa-se aumento de disfunção endotelial (evento inicial na evolução para aterosclerose). VIII. NEOPLASIA ENDOMETRIAL mulheres com SOP apresentam risco 3 vezes maior de câncer endometrial. recomenda-se a avaliação endometrial de qualquer mulher com > 35 anos e sangramento anormal, e mulheres com < 35 anos e suspeita de sangramento uterino anovulatório, refratário a tratamento clínico. A hiperplasia endometrial e câncer endometrial são riscos em longo prazo da anovulação crônica, sendo que as alterações neoplásicas no endométrio aumentam em decorrência de estimulação estrogênica crônica sem oposição - exacerbadas em função dos efeitos do hiperandrogenismo e hiperinsulinemia reduzindo os níveis de SHBG. IX. INFERTILIDADE Infertilidade e subfertilidade são queixas frequentes em mulheres com SOP e resultam de ciclos anovulatórios, sendo que em mulheres com infertilidade secundária à anovulação, a SOP é a causa mais comum (80-90%). X. PERDA DE GRAVIDEZ Mulheres com SOP que engravidam tem taxa elevada (30-50%) de abortamento precoce, no entanto a fisiopatogenia dessa complicação ainda é desconhecida. XI. COMPLICAÇÕES NA GRAVIDEZ mulheres com SOP que usam medicamentos indutores de ovulação ou fertilização in vitro para engravidar, tem mais chances de gestação multifetal, que está associada a taxas maiores de complicações maternas e neonatais. Mulheres com SOP tem risco 2-3 vezes maior de diabetes gestacional, HAS induzida por gravidez, nascimento prematuro e mortalidade perinatal, sem relação com gestações multifetais. XII. SAÚDE PSICOLÓGICA Mulheres com SOP podem se apresentar com diversos problemas psicossociais como ansiedade, depressão, baixa autoestima, redução da qualidade de vida e imagem corporal negativa. A SOP é considerada um diagnóstico de exclusão, ou seja, deve-se excluir rotineiramente outros distúrbios potencialmente graves que possam ser confundidos clinicamente com a SOP. DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE DISFUNÇÃO OVULATÓRIA E HIPERANDROGENISMO I. HORMÔNIO ESTIMULANTE DA TIREOIDE E PROLACTINA Solicita-se dosagem sérica de TSH pois a doença da tireoide pode causar disfunção menstrual semelhante à observada em mulheres com SOP, bem como a prolactina é usada para descartar hiperprolactinemia, visto que níveis elevados de prolactina levam à anovulação por meio da inibição da secreção pulsátil do GnRH pelo hipotálamo. II. TESTOSTERONA LAYANE SILVA valores limítrofes de testosterona total além de 200 ng/mL justificam a realização de investigação complementar para lesão ovariana. tumores ovarianos e suprarrenais são causas raras e graves de excesso de androgênios. neoplasias ovarianas, benignas e malignas podem produzir testosterona e levar à virilização. A dosagem sérica de testosterona pode ser usada para excluir tumores ovarianos, sendo que a dosagem da testosterona livre é mais sensível que os níveis de testosterona total como indicador de hiperandrogenismo, sendo a melhor abordagem para exclusão de tumores. - Mulheres com instalação abrupta (meses) ou agravamento repentino, de sinais de virilização indicam tumores suprarrenais ou ovarianos produtores de hormônios - cujos sintomas são: engrossamento da voz, calvície frontal, acne e/ou hirsutismo intensos, aumento na massa muscular e clitoromegalia. III. SULFATO DE DESIDROEPIANDROSTERONA Produzido exclusivamente pela glândula suprarrenal, níveis séricos de SDHEA > 700 mg/dL sugerem a presença de neoplasias suprarrenais, sendo indicado exame de imagem das suprarrenais por TC ou RM. VI. CORTISOL Usado para confirmação da produção excessiva de glicocorticoides, a fim de descartar síndrome de Cushing, inicialmente deve-se avaliar a excreção de cortisol livre na urina de 24 horas (<90 Mg em 24 horas são normais, e > 300 Mg por dia são diagnósticos para síndrome de Cushing). Mulheres portadoras de SOP com intervalos cíclicos regulares (8 a 12 menstruações por ano) e hiperandrogenismo brando podem passar apenas por rastreamento periódico para dislipidemia e diabetes melito. PERDA DE PESO dietas ricas em carboidratos aumentam e dietas ricas em proteínas e gorduras reduzem as taxas de secreção de insulina - mas, dietas com teor extremamente alto de proteínas podem causar sobrecarga na função renal. Nos casos de mulheres obesas com SOP, deve-se orientar mudanças no estilo de vida com foco na dieta e em exercícios, visto que a perda de peso moderada (5% do peso corporal) pode resultar em restauração dos ciclos ovulatórios normais, em função das reduções nos níveis de insulina e de androgênios (mediadas por elevação nos níveis de SHBG). A escolha do tratamento para cada sintoma de SOP depende dos objetivos da paciente e da gravidade da disfunção endócrina. Ex.: o tratamento de mulheres anovulatórias que desejam engravidar é diferente do tratamento de adolescentes com irregularidade menstrual e acne, visto que os objetivos terapêuticos serão distintos em ambos casos. Colar de pérolas: folículos são distribuídos em linha logo abaixo da cápsula. Ovário multicístico: tamanho normal, contém > 6 folículos sem deslocamento periférico e não tem aumento no volume estromal central. Usada para observar alterações teciduais dos ovários policísticos, que se caracterizam por aumento de volume, número de folículos em fase de amadurecimento e atrésicos, espessura estromal cortical e ninhos de células hilares - sendo essencial em mulheres com SOP que estejam fazendo tratamento para fertilidade e naquelas com sinais de virilização. - Critérios ultrassonográficos: >12 cistos pequenos (2 a 9 mm de diâmetro) ou volume ovariano aumentado (>10 mL), ou ambos. TRATAMENTO Em mulheres com níveis androgênicos excessivamente elevados, a ultrassonografia pélvica é usada para excluir a presença de neoplasia ovariana - como alternativa há TC e RM. IV. GONADOTROFINAS Nas avaliações para verificar a presença de amenorreia é necessário dosar os níveis de FSH e LH para excluir insuficiência ovariana prematura e hipogonadismo hipogonadotrófico. V. 17-HIDROXIPROGESTERONA Usado para descartar HSRC de início tardio, visto que esse distúrbio afeta principalmente a enzima 21-hidroxilase, cuja deficiência leva a acúmulo de seu substrato (17-hidroxiprogesterona) - valores limítrofes de 17- hidroxiprogesterona > 200 ng/dL indicam necessidade imediata de realizar o teste de estimulação com ACTH. Neste, injeta-se 250 mg de ACTH sintético, IV, e dosa-se o nível sérico de 17-hidroxiprogesterona 1 hora mais tarde, de modoque o ACTH administrado estimula a captação de colesterol e síntese de pregnenolona e, se a atividade da 21-hidroxilase for ineficaz, 17- hidroxiprogesterona acumulam-se na córtex suprarrenal e sangue circulante. VII. MEDIÇÕES DA RI E DISLIPIDEMIA Usados para avaliar o metabolismo da glicose e secreção alterada de insulina nessas mulheres, sendo o padrão-ouro a fixação euglicêmica hiperinsulinêmica, como alternativas há: (1) teste de tolerância à glicose de 2 horas (TTG 2h); (2) nível de insulina sérica de jejum; (3) avaliação de mo- delo homeostático de resistência insulínica, (4) verificação quantitativa de sensibilidade à insulina (QUICKI); e (5) cálculo da razão glicose sérica/insulina. O teste de perfil lipídico em jejum é usado para investigar dislipidemia. VIII. BIÓPSIA ENDOMETRIAL Recomendada nas mulheres com mais de 35 anos e sangramento anormal, e em mulheres mais jovens com sangramento anovulatório refratário aos tratamentos hormonais. IX. ULTRASSONOGRAFIA OBSERVAÇÃO São benéficos no tratamento de pacientes com DM tipo 2, em um grupo de mulheres e homens com risco de diabetes instados a perder > 7% do peso e fazer exercícios durante 150 minutos por semana houve como benefícios o retardo no início do diabetes e melhora da capacidade cardiovascular. EXERCÍCIOS Mulheres com oligo-ovulação ou anovulação tem < 8 menstruações por ano e deixam de menstruar durante vários meses consecutivos ou tem amenorreia - o fluxo pode ser escasso ou muito longo e intenso causando anemia. TRATAMENTO DE OLIGO-OVULAÇÃO E ANOVULAÇÃO COC com progestinas: noretindrona, progestogênio de 3a geração (norgestimato ou desogestrel), progesterona mais recente (drospirenona). Opções alternativas: adesivos contraceptivos cutâneos e anéis vaginais. se a última menstruação da mulher tiver ocorrido há > 4 semanas, haverá indicação de teste de gravidez - se negativo, pode-se usar progesterona para desencadear sangramento menstrual antes de iniciar o tratamento com COCs. O tratamento de primeira linha para irregularidades na menstruação é uso de contraceptivos orais combinados (COCs), cuja função é induzir ciclos menstruais regulares e reduzir os níveis androgênicos, assim, os COCs suprimem a liberação de gonadotrofina resulta em redução da produção de androgênio ovariano. Além disso, o componente estrogênico aumenta os níveis de SHBG, por fim, a progesterona antagoniza o efeito proliferativo endometrial do estrogênio, reduzindo riscos de hiperplasia endometrial pela presença de estrogênio sem oposição. - Esquema terapêutico: 10 mg/dia de acetato de medroxiprogesterona (MPA), VO, por 10 dias; 10 mg de MPA, VO, 2 vezes ao dia, por 5 dias; ou 200 mg/dia de progesterona micronizada, VO, por 10 dias. I. CONTRACEPTIVOS ORAIS COMBINADOS Em pacientes que não sejam candidatas ao uso de COCs, recomenda-se uso de progesterona por 1-3 meses. - Esquema terapêutico: 5 a 10 mg/dia de MPA, por via oral, durante 12 dias, ou 200 mg/dia de progesterona micronizada, VO, todas as manhãs, por 12 dias. II. PROGESTERONAS CÍCLICAS São benéficos no tratamento de problemas metabólicos ou ginecológicos, principalmente metformina para mulheres com intolerância à glicose e RI, melhorando a melhora a sensibilidade insulínica periférica, reduzindo a III. AGENTES INSULINO-SENSIBILIZANTES LAYANE SILVA Efeito colateral raro: acidose lática, encontrada quase exclusivamente em pacientes com insuficiência renal, doença hepática ou insuficiência cardíaca congestiva. Efeitos colaterais comuns: tem origem gastrintestinal, minimizados iniciando-se o tratamento com administração de dose baixa a ser aumentada gradualmente, ao longo de semanas, até atingir o nível ideal. Glitazonas: medicamentos da categoria C e, portanto, devem ser usadas como agentes indutores da ovulação em casos raros, devendo ser suspensas assim que se confirme a gravidez. produção de glicose hepática e aumentando a sensibilidade insulínica no tecido-alvo - além de reduzir a concentração de androgênios em mulheres magras ou obesas, resultando em taxas aumentadas de ovulação espontânea. - Metformina: medicamento da categoria B e segura para ser usada como agente para indução ovulatória, pode ser usado isoladamente ou em combinação com outros fármacos (Ex.: citrato de clomifeno). - Tiazolidinedionas/Glitazonas: incluem rosiglitazona e pioglitazona, agentes que se ligam aos receptores insulínicos nas células de todo o corpo, tornando- as mais responsivas à insulina e reduzindo níveis séricos de insulina e glicose. O tratamento visa reduzir os níveis androgênicos para evitar novas conversões de pelos finos não pigmentados em pelos terminais, mas o tratamento não consegue eliminar o crescimento de pelos anormais já presentes e demora de 6-12 meses para evidenciar melhora clínica. HIRSUTISMO I. CONTRACEPTIVOS ORAIS COMBINADOS São eficazes para restabelecer a regularidade menstrual e reduzir a produção de androgênios ovarianos, além disso, o componente estrogênico dessas pílulas eleva os níveis de SHBG, provocando maior ligação de testosterona livre que, assim, se torna biologicamente indisponível no folículo piloso. II. AGONISTAS DO HORMÔNIO LIBERADOR DA GONADOTROFINA Com o tempo, diminuem efetivamente os níveis de gonadotrofinas, o que reduz os níveis de androgênio, mas pode estar associado a perdas ósseas, custos elevados e efeitos colaterais menopáusicos. III. CLORIDRATO DE EFLORNITINA Esse creme tópico antimetabólito deve ser aplicado 2 vezes ao dia nas áreas de hirsutismo facial, sendo inibidor irreversível da ornitina-descarboxilase - enzima que atua na divisão e função das células do folículo piloso, cuja inibição resulta em crescimento mais lento dos pelos - com resultados clínicos em 4-8 semanas de uso do medicamento. IV. ANTAGONISTA DE RECEPTORES ANDROGÊNICOS Esquema terapêutico: espironolactona, VO, 50 a 100 mg, 2 vezes ao dia - esta afeta a conversão de pelos velos em terminais por inibição direta da 5a-redutase, além de ser um diurético poupador de potássio. Os antiandrogênios são inibidores competitivos da ligação do androgênio ao seu receptor, tem diversos efeitos colaterais como metrorragia e risco de produzir pseudo-hermafroditismo nos fetos do sexo masculino de mulheres que os utilizem na fase inicial da gravidez, por isso devem ser usados com COCs, a fim de regularizar a menstruação e ter efeito anticoncepcional. - Contraindicação: não deve ser prescrito para uso crônico em combinação com agentes que possam elevar níveis de potássio no sangue, como suplementos de potássio, inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA), AINES ou outros diuréticos poupadores de potássio. V. INIBIDORES DA 5A-REDUTASE A conversão de testosterona em DHT pode ser reduzida pela finasterida em doses de 5 mg, apesar da pouca efetividade no tratamento do hirsutismo, seus efeitos colaterais não são significativos (diminuição da libido). VI. REMOÇÃO DE PELOS Remoção mecânica: inclui técnicas que removem os pelos com a raiz com o uso de pinça, cera, linha, eletrólise e tratamento a laser. Destruição térmica: pode-se conseguir epilação permanente pela destruição térmica dos folículos pilosos através da: (1) eletrólise, aplicação de eletrodo fino e passagem de corrente elétrica para destruir folículos individuais, (2) terapia a laser, usa comprimentos de onda para destruir folículos. O hirsutismo pode ser tratado por meios mecânicos, como depilação, técnicas de epilação e clareamento de pelos com agentes clareadores. DEPILAÇÃO: remoção de pelos acima da superfície da pele, não exacerba o hirsutismo, pode ser feita através de depiladores químicos tópicos com tioglicolato de cálcio, que rompe as ligações dissulfeto entre as cadeias proteicas, provocando quebra dos pelos e facilitando sua eliminação da superfície da pele. EPILAÇÃO: O tratamento de acne envolve redução dos níveis androgênicos, consiste em: (1) COCs, (2) antiandrogênios (espironolactona ou flutamida); ou (3) inibidoresda 5a-redutase (finasterida). ACNE ALGORITMO PARA TRATAMENTO DA ACNE MEDICAMENTOS TÓPICOS PARA ACNE I. RETINOIDES TÓPICOS Agentes: tretinoína, adapaleno e o tazaroteno. Esquema terapêutico: aplicar pequenas quantidades, suficientes para cobrir toda a face a cada 3 noites, aumentando-se progressivamente, de acordo com a tolerância, para aplicações todas as noites. Efeitos colaterais: agravamento temporário da acne durante as primeiras semanas de tratamento. Derivados da vitamina A, regulam o queratinócito folicular e normalizam a descamação do epitélio folicular, além de possuirem propriedades anti- inflamatórias diretas. II. PERÓXIDO DE BENZOÍLA TÓPICO Excelente agente antimicrobiano e anti-inflamatório usado como ingrediente ativo de produtos sem prescrição médica para tratamento de acne, além de ser usado em combinação com antibióticos (clindamicina, eritromicina). III. ANTIBIÓTICOS TÓPICOS E SISTÊMICOS Efeitos colaterais: sensibilidade aos raios solares e distúrbios gastrintestinais. incluem eritromicina e clindamicina, e os antibióticos orais usados com maior frequência no tratamento de acne são doxiciclina, minociclina e eritromicina. IV. ISOTRETINOÍNA Contraindicações: é teratogênico no primeiro trimestre da gravidez - as malformações envolvem crânio, face, coração, SNC e timo - por isso, se limita a mulheres que usam métodos contraceptivos altamente efetivos. Ou Accutane, é um análogo da vitamina A altamente efetivo no tratamento de acne recalcitrante grave. O tratamento deve se direcionar a redução da resistência insulínica e da hiperinsulinemia, a partir de sensibilizadores insulínicos - outros métodos incluem antibióticos tópicos, retinoides tópicos e sistêmicos, queratolíticos e corticosteroides tópicos. ACANTOSE NIGRICANTE ooforectomia pode ser viável para mulheres que não estejam interessadas em ter filhos e que tenham sinais e sintomas de hipertecose ovariana e hiperandrogenismo grave. Pode-se realizar ressecção em cunha dos ovários, tem-se que a perfuração ovariana por via laparoscópica recupera a ovulação em um número significativo de mulheres com SOP resistentes ao citrato de clomifeno. TRATAMENTO CIRÚRGICO
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