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aula 3

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SERVIÇO SOCIAL E O DEBATE 
CONTEMPORÂNEO 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Mariana Patrício Richter Santos 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, faremos uma abordagem acerca do serviço social na cena 
contemporânea, apresentando as características da profissão dentro de um 
processo de ofensiva neoliberal, revelando também a redução de gastos sociais 
e a precarização das relações de trabalho. Nesse sentido, vamos abordar 
algumas características inerentes aos espaços sócio-ocupacionais, dentre as 
quais, a relativa autonomia do profissional. Por fim, trabalharemos sobre quatro 
espaços sócio-ocupacionais do assistente social e suas especificidades, quais 
sejam: a esfera estatal, as instâncias públicas de controle democrático, as 
empresas capitalistas e os fluxos migratórios. 
TEMA 1 – O SERVIÇO SOCIAL NA CENA CONTEMPORÂNEA 
 Para abordarmos a questão do mercado de trabalho do profissional 
assistente social, algumas reflexões e resgates anteriores são necessários, sob 
a perspectiva de contextualização dos espaços sócio-ocupacionais da profissão. 
Entender o serviço social, em seu significado sócio-histórico, à luz das demandas 
contemporâneas, salienta a necessária compreensão acerca do processo 
histórico-político-social que se engendrou no Brasil em meados das décadas de 
80 e 90 do século XX. 
Reflexo das lutas de movimentos populares, a aprovação e a 
promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil em 1988 (CF 
1988), com a inserção de direitos sociais, coloca a Constituição no status de 
Constituição Cidadã, porém, em um movimento de contradição, negação e 
retrocesso dos direitos constitucionalmente assegurados, há a reforma do 
aparelho do Estado implantada pelo Plano Diretor da Reforma do Aparelho do 
Estado, de 1995), que redesenha as ações e atribuições do Estado, fortalecendo 
a proposta de um Estado Mínimo. Tal proposta redireciona as ações estatais, 
desresponsabilizando o Estado, em grande parte no que tange à oferta de 
serviços e políticas públicas sociais, transferindo essa responsabilidade à esfera 
denominada terceiro setor. Essa alteração impacta diretamente tanto nas 
atribuições, competências e funções destinadas ao assistente social quanto 
reconfigura, significativamente, os espaços sócio-ocupacionais colocados para 
esse profissional. 
 
 
3 
Saiba mais 
Para aprofundar esse debate, acesse o link a seguir e leia o Plano Diretor 
da Reforma do Aparelho do Estado, proposto pelo então Ministério da 
Administração Federal e da Reforma do Estado (MARE): 
BRASIL. Presidência da República. Câmara da Reforma do Estado. 
Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado. Brasília: Presidência da 
República, 1995. Disponível em: 
<http://www.bresserpereira.org.br/documents/mare/planodiretor/planodiretor.pdf
>. Acesso em: 22 jul. 2019. 
 Nos espaços sócio-ocupacionais, em que pese que competências e 
atribuições profissionais estão definidas, de forma homogênea, conforme a Lei 
de Regulamentação da Profissão (Lei n. 8.662/93), estas assumem suas 
particularidades a depender das relações sociais, forças e tensões presentes 
nos distintos espaços sócio-ocupacionais assumidos pela categoria profissional. 
Desse modo, os assistentes sociais se encontram, permanentemente, no conflito 
entre interesses institucionais e respostas profissionais às demandas colocadas. 
E é nesse processo que dizemos que os assistentes sociais possuem relativa 
autonomia em seu espaço de trabalho. Como afirma Iamamoto (2009, p. 354, 
grifos do autor): “uma tensão entre o trabalho controlado e submetido ao poder 
do empregador, as demandas dos sujeitos de direitos e a relativa autonomia do 
profissional para perfilar o seu trabalho”. 
 Há a confluência, nesse sentido, entre antigas demandas de trabalho do 
assistente social e as novas demandas, que atendem às contemporâneas 
exigências da sociabilidade do capital. O mercado de trabalho do assistente 
social, assim, se torna metamorfoseado, imbuído de novas objetivações e 
necessárias releituras críticas às condições materiais de existência, além das 
condições de trabalho. Diante dessa nova realidade, o assistente social precisa 
imbuir-se da urgente leitura crítica da atualidade, que identifica a ampliação de 
demandas ao serviço social, em seu caráter sociopolítico. Como nos revela Mota 
(2016, p. 699): 
Esse quadro de expansão do mercado de trabalho e de ampliação das 
demandas ao Serviço Social, aqui minimamente descrito, evidencia as 
mediações que os processos sociopolíticos vêm operando na realidade 
brasileira. Revela tanto o espraiamento das manifestações da questão 
social, como a criação de práticas e mecanismos institucionais 
determinados pela atuação do Estado e da organização política das 
classes. Também é portador de exigências técnico‑administrativas e 
 
 
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políticas, como a descentralização e interiorização de algumas 
políticas sociais e, consequentemente, do Serviço Social. 
 De acordo com as novas demandas ou, melhor dizendo, com as novas 
realidades apresentadas à profissão, em conjunto com os desafios presentes, é 
urgente que o assistente social, com base nas três dimensões que fundamentam 
a profissão, proceda à releitura da realidade, vislumbrando possibilidades de 
intervenção profissional, mesmo sob a órbita de um novo ordenamento da 
sociabilidade do capital. 
 É preciso compreender que a dimensão teórico-metodológica elucida o 
campo do saber no que tange às linhas do pensamento social, reverberando as 
concepções histórico-críticas e assinalam uma relação com a potencial 
transformação da realidade. É importante utilizar a dimensão técnico-operativa 
para referendar as reflexões provenientes da dimensão teórico-metodológica, na 
forma de instrumentos e habilidades necessárias ao trabalho profissional que se 
qualifique como comprometido e qualificado. E, por fim, é preciso que a 
dimensão ético-política norteie os saberes profissionais no campo dos 
tensionamentos e das relações sociais contraditórias, como elemento de análise 
e posicionamento profissional, relembrando-se sempre que o caráter de 
indissociabilidade das três dimensões reverberará em práticas coerentes com o 
projeto ético político da profissão. 
TEMA 2 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: A ESFERA 
ESTATAL 
 Ao comentar sobre os espaços sócio-ocupacionais do assistente social, 
um dos mais conhecidos e abordados, certamente, é o da esfera estatal, espaço 
que surge em consonância com as origens da profissão, com as demandas da 
população e da classe trabalhadora. É o campo de trabalho que localiza o 
assistente social muito próximo das políticas públicas sociais. 
É certo que, com concepções distintas, a depender do recorte temporal 
utilizado, a esfera estatal e a área de saber das políticas sociais constituíram (e 
ainda constituem) um significativo espaço do saber-fazer profissional. Seja nas 
origens da profissão, com o processo de industrialização do Brasil e do 
agravamento das desigualdades sociais de grande parte da classe trabalhadora, 
o Estado usa do expediente das políticas sociais, buscando amenizar o processo 
de exponenciação da pobreza, pelo qual passava a classe trabalhadora. Esse 
 
 
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período trata do processo de profissionalização do serviço social (Raichelis, 
2009). 
 Refletindo para o serviço social mais contemporâneo, no final do século 
XX e início do século XXI, com a ofensiva neoliberal, o processo de terceirização 
de serviços públicos acaba por repercutir nos espaços sócio-ocupacionais, em 
especial na esfera estatal. Uma característica significativa no processo estatal 
nos idos de 90 foi a redução do Estado, dos gastos sociais, além da 
implementação de políticas sociais fragmentadas, reducionistas e seletivas. 
Esse processo impacta diretamente na execução do exercício profissional dos 
assistentes sociais, bem como no alcance das propostas, além da forma decontratação. 
 Antes contratados por meio da realização de concursos públicos, com 
garantias constitucionais, sob a égide da proteção estatutária, na 
contemporaneidade, os profissionais são contratados pelas organizações do 
terceiro setor que assumem as vezes do Estado quanto ao seu papel no 
oferecimento de serviços e garantias de direito. Essas organizações essas 
contratam profissionais, por vezes, por meio de projetos, contratos temporários, 
flexibilizando e precarizando as relações de trabalho dos profissionais, em 
especial, do assistente social (Raichelis, 2009). 
 Na esfera estatal, os assistentes sociais podem atuar no âmbito do 
Executivo diretamente com políticas sociais, como: assistência social, habitação, 
saúde, entre outras. Pode também atuar na esfera sócio-jurídica, em órgãos 
como Defensoria Pública (dos estados e da União), Ministério Público (estaduais 
ou federal), Varas da Infância e Juventude, Varas de Família, Tribunais de 
Justiça. Os espaços sócio-ocupacionais na esfera estatal são os mais 
ampliados, assim como o são também as demandas inerentes a esses espaços 
de trabalho. 
Por fim, tomando por base a reflexão feita por Raichelis (2009) em seu 
artigo “O trabalho do assistente social na esfera estatal”, alguns desafios estão 
postos aos profissionais de serviço social dessa área, quais sejam: 
a. o desafio da interlocução pública do serviço social; 
b. Exigências de profundas mudanças no perfil do assistente social; 
c. O caráter interdisciplinar e intersetorial do trabalho profissional no campo 
das políticas sociais públicas; e 
d. O desafio de recuperar o trabalho de base junto à população. 
 
 
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Esses desafios demonstram e revelam a necessária atualização e o 
aperfeiçoamento constante do profissional, para que, dentro da perspectiva do 
projeto ético-político profissional do serviço social, ofereça respostas 
qualificadas aos usuários de seus serviços, apresentando, assim, um exercício 
profissional comprometido com os anseios da classe trabalhadora. 
TEMA 3 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: 
INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE CONTROLE DEMOCRÁTICO 
 O espaço sócio-ocupacional do assistente social na esfera das 
instituições públicas de controle democrático encontra, no período de 
redemocratização vivenciado no Brasil, sua forma e consolidação. No processo 
da Constituinte no Brasil, culminando com a promulgação da denominada 
Constituição Cidadã, em 1988, os espaços democráticos de participação popular 
foram instituídos, oficial e formalmente, por meio do texto constitucional. 
Porém, em que pese o momento de conquistas no que tange ao alcance 
e à garantia dos direitos sociais e da participação popular nessas instâncias, de 
outra monta, houve a retração da ação dos movimentos populares e sociais no 
Brasil. Dessa feita, os movimentos passam a institucionalizar-se, pautando 
demandas e lutas nas instâncias próprias de controle democrático. Ora, se 
estamos falando de instâncias próprias de controle democrático, estamos 
falando de um Brasil, pós-Constituição de 1988, com um regime democrático e 
fim do regime militar. Esse elemento é fundamental para compreender a nova 
organização do Estado brasileiro – expressa na CF 88 –, a qual repercute 
espaços como Conselhos e Conferências como lugares de vivência da 
experiência democrática. Como elucida Bravo (2009, p. 396) 
Os conselhos são espaços paritários em que a sociedade civil (50%) e 
os prestadores de serviços públicos, privados e filantrópicos discutem, 
elaboram e fiscalizam as políticas sociais das diversas áreas: saúde, 
educação, assistência social, criança e adolescência, idoso, entre 
outras. [...] As conferências são eventos que devem ser realizados 
periodicamente para discutir as políticas sociais de cada esfera e 
propor diretrizes de ação. As deliberações das conferências devem ser 
entendidas enquanto norteadoras da implantação das políticas e, 
portanto, influenciar as discussões travadas nos diversos conselhos. 
 Nota-se, tanto nos Conselhos quanto nas Conferências, a possibilidade 
de participação popular nas instâncias democráticas. As políticas, suas 
diretrizes, direcionamentos, orçamentos, passam a ser objeto de debate público-
 
 
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popular, referendando seu caráter público e transparente, porém esses espaços 
são repletos de contradições. Enquanto alguns autores reconhecem essas 
instâncias como arenas de conflito, as quais são permeadas por interesses 
antagônicos, outros autores as compreendem como um espaço de mediação e 
negociação (Bravo, 2009). 
3.1 Algumas aproximações do exercício profissional do assistente social 
nas instâncias públicas de controle democrático 
 A inserção do assistente social nas instâncias públicas de controle 
democrático pode acontecer, no mínimo, de duas maneiras: como participante 
efetivo (conselheiro de políticas sociais) ou desempenhando um trabalho de 
assessoria e capacitação da população, para que participe, de forma qualificada, 
desses processos ditos democráticos. Alguns exemplos de exercício profissional 
realizado nesses espaços são elucidados por Bravo (2009), ao consultar 
pesquisar sobre o tema: 
a organização da documentação dos Conselhos; a organização de 
plenárias; a elaboração de cartilhas sobre controle social e política de 
saúde; a pesquisa de temas e realização de oficinas; a elaboração das 
atas de reuniões do conselho; a idealização de boletins informativos do 
Conselho; [...] a elaboração de Planos com propostas de participação 
popular, que devem conter o diagnóstico da localidade e o plano 
propriamente dito; a realização de reuniões periódicas, que discutam 
previamente a pauta da reunião dos Conselhos; a pesquisa sobre a 
realidade; a realização de cursos de capacitação de conselheiros; o 
acompanhamento dos conselhos; a realização do perfil do conselheiro 
e o incentivo à realização e participação no orçamento participativo. 
 O exercício profissional do assistente social nesses espaços é rico de 
possibilidades, mas frágil em seu alcance. O cuidado que profissionais da área 
precisam identificar, de início, é o de não burocratizarem suas ações e 
atividades, sob pena de diminuir o caráter crítico-reflexivo da profissão, 
fragilizando as dimensões do fazer profissional. Não se pode reduzir o fazer 
profissional a atividades meramente burocrático-administrativas, características 
presentes nas instâncias públicas de controle democrático, já que tem por 
princípio registrar todos os atos e ações inerentes aos Conselhos e 
Conferências. 
Cabe ao profissional de serviço social desburocratizar suas ações, 
concebendo-as com base em um caráter histórico-crítico, compreendendo seu 
papel nesse espaço sócio-ocupacional como um papel de defesa de direitos, 
 
 
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qualificação da participação dos usuários de serviços, em consonância com o 
projeto de sociedade do serviço social, que opta por um projeto profissional que 
vislumbra uma nova ordem societária (Brasil, 1993). 
TEMA 4 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: EMPRESAS 
CAPITALISTAS 
 No processo de reestruturação produtiva, tangenciando pelo capital, as 
empresas perceberam a necessidade urgente de adaptarem seus processos aos 
interesses do capital. Uma forma de consolidar e ajustar os interesses das 
empresas capitalistas, mantendo seus trabalhadores satisfeitos, diz respeito à 
implantação de uma série de ações e programas empresariais. 
 O necessário processo de acumulação do capital, proveniente das 
orientações do capitalismo mundial, deveria apresentar consonância com a 
manutenção da satisfação dos trabalhadores, minimizando qualquer 
possibilidade de lutas e organizações coletivas. O controle do comportamento 
da classe trabalhadora, mediando conflitos na relação entre capital x trabalho, 
tornou-se o objeto de trabalho direto do exercício profissional do assistente 
social. Diante dessa realidade, pode-se compreender que a intervençãoprofissional do assistente social na empresa capitalista era antagônica: o serviço 
social, por um lado, atendia aos interesses da empresa capitalista, enquanto, de 
outra monta, atendia às demandas provenientes do trabalhador e de sua família 
(Amaral; Cesar, 2009). 
 A inserção do profissional de serviço social nesse espaço sócio-
ocupacional está adstrita, também, a alguns programas empresariais. Como 
apontam Amaral e Cesar (2009), o assistente social encontra-se inserido em 
programas empresariais, como Programas de Treinamento e Desenvolvimento, 
que buscam requalificar a força de trabalho para as novas demandas de 
produção; os Programas Participativos, que pautam a satisfação de clientes 
internos e externos das organizações; Programa de Qualidade de Vida, que 
busca associar a produtividade das empresas, por meio do bem-estar dos 
trabalhadores e o Programa de Clima ou Ambiência Organizacional, que analisa 
a relação entre organização do trabalho, satisfação e desempenho. A grande 
crítica que se faz ao exercício profissional do serviço social nesse espaço sócio-
ocupacional guarda relação com posturas profissionais que sejam acríticas, 
focadas no processo de acumulação capitalista. 
 
 
9 
 Algumas possibilidades de maior alcance para o serviço social dentro das 
empresas capitalistas dizem respeito ao processo de responsabilidade social, 
fazendo com que a empresa, por vezes, amplie seu leque de atuação e alcance 
para além dos muros da empresa, alcançando comunidades próximas, por 
exemplo. E é nesse processo, contraditório e antagônico, que o assistente social 
prevê possibilidades: administrar interesses da empresa capitalista (pois que é 
trabalhador assalariado), em conjunto com interesses de comunidades 
atendidas ou atingidas pelo processo de trabalho da empresa à qual é vinculado. 
Certamente, o espaço sócio-ocupacional das empresas capitalistas, para o 
serviço social, é um dos espaços mais desafiadores em sua atuação profissional, 
tendo em vista a dinâmica complexa e a teia de relações sociais perenes e 
presentes nesse processo. 
TEMA 5 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: FLUXOS 
MIGRATÓRIOS 
 A intervenção profissional do assistente social no que diz respeito aos 
fluxos migratórios internacionais, se faz de forma complexa, reverberando a teia 
de relações sociais presentes na contemporaneidade. Embora a justificativa dos 
processos que envolvem os fluxos migratórios remonte ao século XVIII, tendo 
em vista o processo de ascensão do capitalismo, a sua configuração 
contemporânea elucida a dinâmica societária atual. 
 Um dos debates intrinsecamente relacionados a essa questão diz respeito 
aos fluxos migratórios da própria classe trabalhadora, enquanto fluxo de novos 
campos de trabalho e necessidade de sobrevivência (Santos, 2016). Esse fluxo 
incide na recomposição própria das classes sociais, de sua necessidade de 
inserção no mercado de trabalho e de reconfiguração e de revalidação de sua 
força produtiva. 
Ao mesmo tempo em que a migração se torna processo vívido no 
cotidiano mundial, o não atendimento da população migrante por parte de 
diferentes países torna esse processo, além de arriscado, totalmente contrário à 
efetivação dos direitos humanos, tão discutidos na esfera mundial. Cabe 
localizar essa discussão na esfera do capitalismo contemporâneo e ascendente, 
o que nos remete ao termo migração forçada, pois o “deslocamento é situado no 
marco do traço constitutivo do capitalismo, ou seja, na sua essência exploradora” 
(Santos, 2016, p. 8). 
 
 
10 
 Ainda na esteira dos fluxos migratórios, é importante a diferenciação entre 
o conceito de migrante e refugiado (dois públicos inerentes ao processo 
migratório e sujeitos relacionados ao trabalho do assistente social). Como 
elucidam D´Oco e Dias (2016, p. 30, grifos nossos), 
O processo de migração [...] implica mudança de país por distintos 
motivos, como possibilidade de ascensão econômica e estudos; já o 
refúgio implica a migração forçada, onde há um movimento de pessoas 
em situação de coação, incluindo a ameaça de vida e de subsistência. 
 É referencial mencionar que, no que tange ao termo refúgio, há todo um 
processo histórico que referenda a conceituação da população refugiada, seu 
atendimento e órgãos definidores das políticas, como a Declaração Universal 
dos Direitos Humanos (1948), a Convenção de Genebra de 1951 (que elegeu o 
Estatuto dos Refugiados). Em âmbito nacional, temos a Lei n. 9.474/ 1997, que 
contém definições específicas sobre o tema (Brasil, 1997). 
 No que diz respeito ao espaço sócio-ocupacional do assistente social 
diante dessa demanda, esta pode ocorrer tanto no trabalho junto à Cáritas 
Arquidiocesana (que desenvolve trabalhos junto a refugiados), além de 
demandas junto às próprias políticas sociais, nas quais a população migrante e 
refugiada constitui-se como sujeito de atendimentos. 
Saiba mais 
Para compreender melhor este processo, acesse o link a seguir e leia o 
texto “Desafios do acolhimento institucional para refugiados no município do Rio 
de Janeiro”, de autoria de Tathiana Costa dos Santos: 
SANTOS, T. C. dos. Desafios do acolhimento institucional para refugiados 
no município do Rio de Janeiro. VIII Jornada Internacional Políticas Públicas, 
22 a 25 de agosto de 2017. Universidade Federal do Maranhão. Disponível em: 
<http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2017/pdfs/eixo14/desafiosdoacolhim
entoinstitucionalpararefugiadosnomunicipiodoriodejaneiro.pdf>. Acesso em: 22 
jul. 2019. 
 De acordo com dados publicados pelo CFESS Manifesta no que tange à 
relação do serviço social e refúgio, são mencionados os três pilares de 
atendimento a essa população na Cáritas Arquidiocesana: o acolhimento, a 
proteção legal e a integração local (CFESS, 2019). Alguns desafios no 
atendimento à população refugiada são retratados como a escuta atenta, 
 
 
11 
reflexiva e voltada para a construção conjunta de possibilidades com base na 
realidade da pessoa em situação de refúgio (Brasil, 2019). 
 Por fim, alguns desafios à intervenção profissional do assistente social 
são postos no atendimento à população migrante/refugiada, como: a limitação 
do idioma, a escolarização, a empregabilidade, a questão cultural e a 
discriminação (Santos, 2017). Esses desafios estão colocados na realidade 
contemporânea do serviço social, seja no atendimento direito da população 
migrante e/ou refugiada em programas específicos, seja no atendimento junto às 
mais diversificadas políticas sociais brasileiras. O assistente social, nesse 
sentido, precisa rever seu exercício profissional diante dessa demanda, 
galgando esforços na perspectiva de socialização e defesa de direitos. O projeto 
ético-político da profissão, nesse sentido, faz-se mais presente, ao considerar 
que se trata de uma população que vem, historicamente, vivenciando as mais 
variadas formas de violação de direitos. 
NA PRÁTICA 
 Diante das reflexões propostas nesta aula, foi possível perceber os 
diferentes espaços sócio-ocupacionais nos quais o assistente social atua e as 
interferências de processos histórico-político nesse processo. Sendo assim, 
pesquise sobre a atuação do assistente social junto à população migrante e aos 
refugiados, pois trata-se de tema ainda pouco discutido e debatido na esfera da 
profissão. 
FINALIZANDO 
 Nesta aula, conversamos sobre os processos contemporâneos que 
envolvem os espaços sócio-ocupacionais na profissão, sua relativa autonomia e 
particularidades. Pensar o assistente social na esfera estatal, nas instâncias 
públicas de controle democrático, nas empresas capitalistas ou atuando frente 
aos fluxos migratórios, demonstra a ampla gama de possibilidades de 
intervenção da profissão, lançando luz ao necessário comprometimento ético-
político inerente à profissão. 
 
 
 
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	CONVERSA INICIAL
	TEMA 1 – O SERVIÇO SOCIAL NA CENA CONTEMPORÂNEA
	TEMA 2 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: A ESFERA ESTATAL
	TEMA 3 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE CONTROLE DEMOCRÁTICO
	3.1 Algumas aproximações do exercício profissional do assistente social nas instâncias públicas de controle democrático
	TEMA 4 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: EMPRESAS CAPITALISTAS
	TEMA 5 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: FLUXOS MIGRATÓRIOS
	NA PRÁTICA
	FINALIZANDO
	REFERÊNCIAS

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