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SERVIÇO SOCIAL E O DEBATE CONTEMPORÂNEO AULA 4 Profª Mariana Patrício Richter Santos 2 CONVERSA INICIAL Esta aula vai abordar temas relacionados aos espaços sócio- ocupacionais do serviço social, como as fundações empresariais, as organizações privadas não lucrativas, as organizações da classe trabalhadora, a educação superior e suas especificidades. É salutar compreender as particularidades de cada um desses espaços, compreendendo a forma dinâmica e flexível por meio da qual o serviço social se insere nesses espaços, propiciando, assim, uma leitura crítica acerca dos debates e caminhos profissionais traçados na cena contemporânea. TEMA 1 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: FUNDAÇÕES EMPRESARIAIS Com o processo de reestruturação produtiva, a crise do capitalismo nos anos 70-80 e, posteriormente, elementos como o processo de redemocratização do país, seguido da reforma do aparelho do Estado no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e com a ofensiva neoliberal, as empresas reveem seu processo de planejamento e sua forma de inserção na dinâmica societária. No processo próprio de internacionalização do capital, de globalização do mercado financeiro em fins do século XX, os países se organizam de modo a manter sua permanência na esfera da órbita do capital e sua inserção no mercado mundialmente capitalista. Desse modo, ações e processos precisam ser engendrados como forma não apenas de uma simples inserção na dinâmica mundial renovada do processo do capital, mas como estratégia de aglutinação de mercados e fortalecimento do capital por parte dos países. Diante dessa realidade, os empresários acabam por tornarem-se as pessoas que buscam garantir a confiança dos investidores em seus produtos e mercadorias, comprometidos com o processo de indicadores que revelem, minimamente, processos de sustentabilidade da empresa. O termo sustentabilidade, aqui, está sendo usado no sentido que diz respeito aos investimentos próprios do capital em seus produtos, por meio de ações, garantindo transparência na relação com esses investidores. A isso chamou-se de governança corporativa, nos dizeres de Amaral e Cesar (2009). Essa sustentabilidade envolveria diversos sujeitos sociais, sendo eles os 3 acionistas, os credores, os investidores, o governo, os empregados e a comunidade. Ainda na esteira de Amaral e Cesar (2009, p. 434), A “governança corporativa” vincula-se, portanto, à “responsabilidade social empresarial”, que passa a ser um dos indicadores da sustentabilidade dos negócios e vem sendo objeto de iniciativas dos empresários no contexto de mudanças no padrão de organização e gestão das empresas. É salutar compreender que esse processo de reordenamento das empresas guarda relação com o momento político-econômico vivenciado no Brasil, contando com o quadro de agudização da pobreza, reflexo de políticas econômicas de base neoliberal, com a redução efetiva da responsabilidade estatal transferida para um setor, construído hegemonicamente pela burguesia, como um setor que atenderia às demandas represadas pelo Estado: a sociedade civil, que é aquela que assume a responsabilidade estatal, elegendo a solidariedade e as negociações pactuadas como conceitos integradores e definidores. Essa sociedade civil, podemos entendê-la, com base nas reflexões propostas por Montãno (2010) e Richter, Albiero e Costa (2018), como acrítica ou dócil. A recorrência a essa sociedade civil pauta-se pelo novo processo de reestruturação produtiva e de lógica do capital, ganhando, assim, as fundações (por sua vez, ligadas às empresas) um campo de espaço, inserção e ações. É salutar refletir que muitos empresários, agora preocupados com a governança corporativa (focado em resultados de transparência e responsabilidade aos seus investidores) e assumindo um papel de “salvadores” da população mais vulnerável (pois o Estado não consegue cumprir suas responsabilidades), têm, na figura de suas fundações empresariais, a possibilidade dual de atendimento às mazelas sociais não atendidas pelo Estado e o reforço da imagem de seus produtos e mercadorias no mercado brasileiro. O processo de contradição, tão presente na realidade profissional do serviço social, está dado na realidade das fundações, as quais, nesse sentido, são compreendidas como um meio adequado para profissionalizar as ações sociais das grandes corporações, tendo em vista uma melhor estruturação dos projetos sociais, um maior controle dos investimentos, uma maior transparência na gestão e, consequentemente, a ampliação das possibilidades de parcerias e captação de recursos (Amaral; Cesar, 2009, p. 439-440). As fundações, entendidas como braços das empresas, podem reforçar sua reconhecida responsabilidade social corporativa, atendendo a demandas 4 comunitárias, com o objetivo único de reforçar seu processo de responsabilidade solidária na minimização ou atenuação das expressões da questão social. Desse modo, o profissional assistente social que atua nos programas de responsabilidade social nas fundações pode trabalhar com diferenciadas frentes de trabalho. Como ponderam Amaral e Cesar (2009, p. 441) acerca dessas frentes de trabalho: elaboração, implementação, monitoramento e avaliação de projetos sociais e campanhas institucionais internas e externas; assistência social aos empregados e seus dependentes; suporte ao trabalho comunitário; coordenação do programa de voluntariado; desenvolvimento de projetos educativos e socioambientais, de capacitação e inserção no mercado de trabalho. O exercício profissional do assistente social, seja nas empresas capitalistas, seja nas fundações empresarias, deve ser pautado pelo exercício do processo de mediação, como categoria histórico-analítica para a compreensão da realidade social dada. Apenas um profissional assistente social, imbuído do conhecimento e propriedade do projeto de sua profissão, do projeto ético-político e instrumentalizado por meio das dimensões ético-política, teórico- metodológica e técnico-operativa que permeia o serviço social, é capaz de compreender a teia de relações que envolve a profissão, buscando caminhos alternativos que configurem um exercício profissional em consonância com os interesses dos usuários dos serviços e da classe trabalhadora. TEMA 2 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: ORGANIZAÇÕES PRIVADAS NÃO LUCRATIVAS Refletir sobre o mercado de trabalho do assistente social nas organizações privadas não lucrativas requer pensar também na configuração social da sociedade brasileira, na dinâmica capitalista, no processo de reforma do Estado brasileiro, capitaneado em meados da década de 90 do século XX, e na inserção e no fortalecimento do terceiro setor. Esses condicionantes são essenciais na compreensão do lugar das organizações privadas não lucrativas, para que se possa compreender sua gênese, suas condições de manutenção de existência e os interesses aos quais se encontram organicamente vinculadas. Como já trabalhado nesta aula, os processos de significativa ofensiva neoliberal presentes no Brasil a partir da década de 90, movimento contrário às conquistas dos direitos sociais conquistados quase que no mesmo período 5 (referenciados com a Constituição de 1988), tangenciam a existência e o lugar social das organizações privadas não lucrativas. As organizações privadas orientam a pensar em espaços organizados fora do âmbito estatal, não lucrativos, ou seja, que não possuem na atividade econômica sua fonte de anseio ou justificação. Embora seja contraditório, pois essas organizações, no Brasil, se fortalecem dentro da ótica capitalista e da instância neoliberal, elas dependem da captação de recursos para efetivar seus projetos e programas sociais. É nesse contexto que se encontra mais um espaçosócio-ocupacional do assistente social. Dentro dessa lógica, novas funções e competências são exigidas do profissional assistente social, que precisa rever-se como profissional, na perspectiva de atender às demandas contemporâneas a ele direcionadas e apropriar-se dos processos de inserção da profissão. As demandas profissionais ao serviço social são reconfiguradas, assim como os próprios espaços sócio- ocupacionais ocupados pelos profissionais. As tendências de privatização, mercantilização e refilantropização das formas de enfrentamento das questões sociais são utilizadas pelas parcas políticas sociais restantes no Estado, delineando a realidade contemporânea desse assistente social (Alencar, 2009). Os próprios espaços socioprofissionais dos assistentes sociais, dentro da dinâmica do processo de terceirização, consequente da desresponsabilização do Estado, fortalece valores de ordem moral colocados como referências nos processos interventivos na área social, como princípios de ajuda e solidariedade. A absorção própria dos assistentes sociais no mercado de trabalho das organizações privadas não lucrativas delineia algumas especificidades profissionais, conforme constamos em Alencar (2009): a gestão de programas sociais; o que repercute em conhecimento de legislações pertinentes de forma atualizada; saberes na construção de diagnósticos sociais; e o trabalho com indicadores sociais como subsídio para a construção de propostas de trabalho adequadas às demandas dos usuários. Por fim, em relação ao mercado de trabalho dos assistentes sociais nessa área especificamente, as condições de trabalho e os processos próprios de contratação repercutem o ideário neoliberal de flexibilização das relações trabalhistas do qual as organizações privadas não lucrativas fazem parte. Contratação de profissionais por tempo determinado, para execução de projetos específicos, jornada de trabalho de tempo parcial, entre outras fragilidades no 6 processo de contratação, fazem com que não nos esqueçamos de que o assistente social, antes de tudo, é trabalhador assalariado, pertencente à classe trabalhadora, com todas suas limitações. Em que pesem as limitações nesse espaço sócio-ocupacional, as fragilidades e lutas que precisam ser capitaneadas buscando direitos mais efetivos, não apenas em relação à população atendida, mas aos próprios profissionais que nesses espaços atuam, são algumas das possibilidades vislumbradas. As próprias demandas inerentes ao exercício profissional do assistente social e que justifiquem sua contratação podem, por vezes, tratar de competências profissionais. Cabe ao profissional assistente social, dentro de suas possibilidades e dimensões, executar tarefas e planejar ações que justifiquem e reifiquem o exercício profissional dentro da esfera das atribuições privativas e não apenas das competências profissionais. Ao elucidar, dentro das organizações privadas não lucrativas, a necessidade do trabalho profissional por meio de suas atribuições privativas, o assistente social forja seu processo de luta, fortalecendo a profissão, na mesma medida em que deve fortalecer os interesses dos usuários dos serviços. TEMA 3 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: ORGANIZAÇÕES DA CLASSE TRABALHADORA O espaço sócio-ocupacional das organizações da classe trabalhadora, em tese, seria o espaço de maior possibilidade de adesão de profissionais assistentes sociais e de consolidação efetiva do projeto ético-político profissional do serviço social. Em tese, justamente porque a realidade de inserção ocupacional dos profissionais nesses espaços é ínfima ou muito baixa. Saiba mais Para aprofundar esse debate, leia o artigo: “O trabalho do assistente social nas organizações da classe trabalhadora”, de autoria de Franci Gomes Cardoso e Josefa Batista Lopes. Esse artigo é um dos trabalhos que compõem o livro Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais, publicado pelas entidades representativas da categoria: CFESS e ABEPSS. 7 CARDOSO, F. G.; LOPES, J. B. O trabalho do assistente social nas organizações da classe trabalhadora. In: CFESS – Conselho Federal de Serviço Social. ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ ABEPSS, 2009. Disponível em: <http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/7td9938a021b2W55LR0Y.pdf>. Acesso em; 22 jul. 2019. Essa baixa inserção justifica-se devido ao cenário político-econômico que acomete o Brasil nos fins dos anos 80 e 90 do século passado, cenário que já apresentamos para aprofundar o debate acerca das empresas e fundações empresariais. No que tange às organizações da classe trabalhadora, o movimento que se faz é contrário: enquanto as empresas e o terceiro setor, com as organizações privadas não lucrativas, cresce exponencialmente, de acordo com os ideais liberais hegemônicos e com a crescente redução do Estado, as lutas advindas de movimentos populares de base e organizações efetivas da classe trabalhadora sofrem uma retração, diminuindo, ou mesmo desaparecendo do processo de lutas sociais, por assumirem formas mais institucionalizadas. Enquanto no processo anterior à Constituinte, as lutas das organizações das classes trabalhadoras como movimentos sociais, sindicatos e centrais sindicais foram fortalecidas, acompanhando um processo de ruptura do exercício profissional com práticas conservadoras e descomprometidas com a classe trabalhadora, a vinda da Constituição de 1988 e dos direitos nela instituídos, somados às alterações impostas pelo ideário neoliberal, reforçam um quadro de enfraquecimento das lutas populares. Nesse novo cenário político-econômico, apenas o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) consegue manter viva a perspectiva de um projeto de sociedade emancipada, fundado na solidariedade intraclasse trabalhadora, nos dizeres de Abreu e Lopes (2004, citados por Cardoso; Lopes, 2009). Os assistentes sociais, como trabalhadores assalariados nesse espaço sócio-ocupacional, prestaram serviço junto ao MST, embora, por vezes, não se reconhecessem como funcionários e parte do quadro de trabalhadores do movimento. Essa é uma confusão histórica e presente na categoria profissional: a dificuldade de separar processos de militância política (que acontece em 8 espaços de movimentos sociais e demais organizações da classe trabalhadora), com trabalhos técnicos desenvolvidos dentro desses mesmos espaços. Nas décadas de 70 e 80 do século passado, o trabalho do assistente social junto à organização das classes trabalhadoras era constituído pela “mobilização social e organização, de modo a contribuir para viabilizar projetos de interesse dessa classe, tais como: projetos de construção de novas relações hegemônicas na sociedade para superação da sua condição de subalternidade” (Cardoso; Lopes; 2009, p. 468-469). Aqui, toma-se ainda como referência o exercício profissional dos assistentes sociais junto ao MST, tendo em vista as duas esferas que o compõem: a esfera da educação e a esfera da produção. Enquanto na educação trabalha-se para além da educação formal, alcançando a educação política, na esfera da produção, nos dizeres de Cardoso; Lopes, (2009), foca-se nas cooperativas agrícolas, fundadas em valores de solidariedade e cooperação intraclasse. É providencial esclarecer que o assistente social inserido no espaço sócio-ocupacional das organizações da classe trabalhadora está imbuído, diretamente, na configuração das relações e das lutas de classe, processo próprio do capitalismo e aferente à dinâmica do capital. Trata-se de terreno fértil no que diz respeito ao desempenho do exercício profissional, a compreender e desvelar todas as possibilidades concreto-históricas presentes no chão detrabalho dos assistentes sociais junto às organizações da classe trabalhadora. Os desafios e as relações são complexos e presentes, mas calcam a possibilidade real de efetivação do projeto ético-político do serviço social e na sua mais possível materialização e concretude. TEMA 4 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: EDUCAÇÃO SUPERIOR Compreender o espaço sócio-ocupacional do serviço social na educação superior, previsto por meio da própria Lei de Regulamentação da Profissão (Lei n. 8.662/93, em seu art. 5º), pressupõe compreender, anteriormente, a história da profissão, seus diferentes momentos e movimentos de regulação e regulamentação legal, além dos processos dinâmicos de alteração da realidade contemporânea (Brasil, 1993). 9 Saiba mais Art. V da Lei n. 8.662/93: Assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular (Brasil, 1993). Podemos pensar a inserção do assistente social na educação superior em dois momentos: por meio da história da profissão e de seus movimentos no que diz respeito aos processos elucidatórios de formação profissional, construção de currículos nacionais e posteriores diretrizes curriculares nacionais em âmbito mais contemporâneo; por outro lado, podemos (e devemos) salientar a importância das atribuições privativas desse profissional no processo vinculado ao ensino superior. Consoante os movimentos históricos da realidade brasileira, o serviço social passa por vivências de renovação da profissão, em especial nos anos de 1960 e 1970, além de haver um olhar crítico sobre as demandas postas ao assistente social, questionamento este mais próximo dos anos 1980. Essa realidade foi acompanhada de uma produção intelectual que passava a redirecionar o olhar da profissão, tanto de forma endógena quanto de forma exógena, perante outros campos do saber. Nos idos de 1970, com a expansão privatista da educação, alterou-se a realidade das universidades, as quais ampliaram a oferta de seus programas de pós-graduação. É válido mencionar os esforços realizados pela atual ABEPSS (antiga ABESS), no que tange aos processos de revisão curricular do serviço social, que hoje direcionam o processo de formação profissional dos futuros assistentes sociais, em sintonia com o projeto ético político da profissão. Porém, é sabido que algumas tensões são vivenciadas nesse espaço, tendo em vista as forças de interesse do capital, que buscam, a todo custo, a flexibilização de projetos pedagógicos dos cursos de serviço social. Algumas atividades desempenhadas por assistentes sociais no campo da educação superior guardam relação com a função própria do magistério, com a direção de unidades de cursos de serviço social, além de estarem à frente de projetos de extensão universitária, os quais buscam associar os conceitos de ensino à pesquisa e à extensão. 10 4.1 A supervisão direta como atribuição privativa do assistente social Outro elemento de fundamental importância nos espaços sócio- ocupacionais do assistente social junto da educação superior diz respeito à supervisão direta de estágio, a qual se configura como atribuição privativa da profissão, elencada no art. 5º, inciso VI da lei n. 8662/93, lei que regulamenta a profissão (Brasil, 1993). Vale ressaltar que essa função é constituída por uma tríade, envolvendo três profissionais: supervisor acadêmico (instituição de ensino), supervisor de campo (unidade concedente de campo de estágio) e o aluno. Porém, apesar de instituir-se como atribuição privativa e que permeia os mais diversos espaços sócio-ocupacionais da profissão, muitos assistentes sociais ainda não refletem sobre seu exercício profissional como rico espaço, no qual é possível desenvolver a função pedagógica da supervisão de estágio (Albiero; Brun, 2018). Ao assistente social que se insere na educação superior e no magistério, o desempenho da função de supervisor acadêmico, certamente, lhe será direcionado. Essa supervisão deve ser desempenhada com base nos regulamentos da profissão, com preceitos relacionados ao projeto ético-político da profissão, além de estabelecer uma leitura histórico-crítica da realidade vivenciada no cotidiano de formação do acadêmico em Serviço Social. Nesse sentido, é importante ressaltar a importância da supervisão direta de estágio como instrumento balizador de processos vivenciais dos alunos. Albiero e Brun (2018, p. 7) relatam: Essa inserção do profissional, nas diversas esferas do modo de produção seja, social, econômica, cultural e, política faz com que o estágio, através da supervisão direta seja uma ferramenta única de vivências, de aproximações teórico-prática, de convívio com os enfrentamentos das limitações e contradições impostas a profissão. O cunho pedagógico da supervisão se faz nesses espaços e tensões e são nesses momentos que o supervisor deve promover junto ao aluno as reflexões, análises e proposições frente aos embates do mundo do trabalho. Nesse modo, o processo de supervisão direta adquire uma dimensão pedagógica, imiscuída nas diferentes dimensões atinentes à profissão. 11 TEMA 5 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: O ENSINO À DISTÂNCIA Abordar o tema do ensino à distância dentro do serviço social é assunto delicado e polêmico, tendo em vista o posicionamento do conjunto CFESS/CRESS sob essa modalidade de ensino. Em que pesem as resistências existentes, é importante referenciar que a educação à distância traz a possibilidade de acesso a milhares de pessoas que, em seus mais afastados territórios de vivências e lugares de sobrevivência, de outro modo não teriam acesso à educação. O processo de educação à distância, em especial no serviço social, é relativamente novo, permitindo apenas aproximações iniciais. É importante perceber que, nessa modalidade, há um ensino pautado em ambientes virtuais de aprendizagem, além de diferentes profissionais que compõem os quadros profissionais dos cursos de graduação em serviço social à distância. Dessa maneira, ao refletir acerca da função dos docentes assistentes sociais nesse processo de ensino à distância, Ferreira (2016, p. 4) os dividiu em três grandes grupos: 1º) responsável pela concepção e realização dos cursos e materiais; 2º) assegura o planejamento e organização da distribuição de materiais e administração acadêmica (matrícula, avaliação); e o 3º) responsabiliza-se pelo acompanhamento do estudante durante o processo de aprendizagem (tutoria, aconselhamento e avaliação). Desse modo, pensar a educação à distância dentro do espectro do serviço social é pensar na proposta de cursos de graduação que apresentem projetos pedagógicos consoantes com as Diretrizes Curriculares Nacionais, com o projeto ético-político da profissão e em consonância com os princípios fundamentais da profissão. Aqui é importante recuperarmos o princípio V do Código de ética do(a) assistente social, que afirma: “Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática” (Brasil, 2012). O acesso à educação tem sido ampliado por meio das fronteiras da educação à distância. Para finalizar e estimular o debate, outros espaços sócio-ocupacionais do assistente social têm se reconfigurado, ampliado ou foram criados na cena contemporânea. Como elenca Mota (2014): esportes, área ambiental 12 (trabalhando com projetos, educação ambiental, entre outros) e de sustentabilidade, planos de saúde privados, saúde do trabalhador com as novas mudanças engendradas pelo mundo do trabalho, mediação de conflitos na esfera judiciária. Independentemente do espaço de trabalho, o projeto ético políticoda profissão e o compromisso com os usuários dos serviços deve, sempre, permear a realização do exercício profissional do assistente social. NA PRÁTICA Nesta aula, falamos sobre diferentes espaços sócio-ocupacionais dos assistentes sociais, seja nas fundações empresarias, nas organizações da classe trabalhadora, na educação superior, entre outros. Pesquise, em seu município, quais das áreas indicadas de campo do trabalho do assistente social existem em seu município, analisando as possibilidades e limitações do fazer profissional. FINALIZANDO Nesta aula, pudemos observar a inserção dos assistentes sociais nos mais diferenciados espaços sócio-ocupacionais, identificando suas especificidades e contradições. Pudemos perceber todo o espectro histórico, político-social e econômico que delineia a inserção dos profissionais nesses diferentes espaços, além de delimitar as atribuições e competências específicas em cada espaço mencionado. Finalizamos com a elucidação do debate acerca da educação à distância e serviço social, com breves aproximações sobre o tema. 13 REFERÊNCIAS ALBIERO, C. E.; BRUN, B. B. A. Função pedagógica da supervisão direta! XVI ENPESS. Vitória- ES, 2018. ALENCAR, M. M. T. de. O trabalho do assistente social nas organizações privadas não lucrativas. In: CFESS – Conselho Federal de Serviço Social. ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009. ALMEIDA, N. L. T. de. Magistério, direção e supervisão acadêmica. In: CFESS – Conselho Federal de Serviço Social. ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009 AMARAL, A. S. do; CESAR, M. J. O trabalho do assistente social nas fundações empresariais. In: CFESS – Conselho Federal de Serviço Social. ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ ABEPSS, 2009. BRASIL. Lei n. 8.662, de 7 de junho de 1993. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 8 jul. 1993. BRASIL. CFESS – Conselho Federal de Serviço Social. Código de Ética do Assistente Social. Lei n. 8.662/93 de Regulamentação da Profissão. 10. ed. rev. e atual. Brasília: CFESS, 2012. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE.pdf>. Acesso em: 22 jul. 2019. CARDOSO, F. G.; LOPES, J. B. O trabalho do assistente social nas organizações da classe trabalhadora. In: CFESS – Conselho Federal de Serviço Social. ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ ABEPSS, 2009. Disponível em: <http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/7td9938a021b2W55LR0Y.pdf>. Acesso em; 22 jul. 2019. FERREIRA, A. A. Educação à distância e o serviço social: análise positiva que fomenta a crítica construtiva. ABED, Ribeirão Preto/SP, fev. 2016. Disponível 14 em: <http://www.abed.org.br/congresso2016/trabalhos/7.pdf>. Acesso em: 22 jul. 2019. MONTAÑO, C. Terceiro setor e questão social: crítica ao padrão emergente de intervenção social. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2010. RICHTER, M. P.; ALBIERO, C. E.; COSTA, D. da. O terceiro setor e os movimentos sociais: a construção de uma sociedade civil dócil na contemporaneidade. II Congresso Internacional de Política Social e Serviço Social: Desafios Contemporâneos; III Seminário Nacional de Território e Gestão de Políticas Sociais; II Congresso de Direito à Cidade e Justiça Ambiental. Londrina, 2018. CONVERSA INICIAL TEMA 1 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: FUNDAÇÕES EMPRESARIAIS TEMA 2 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: ORGANIZAÇÕES PRIVADAS NÃO LUCRATIVAS TEMA 3 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: ORGANIZAÇÕES DA CLASSE TRABALHADORA TEMA 4 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: EDUCAÇÃO SUPERIOR 4.1 A supervisão direta como atribuição privativa do assistente social TEMA 5 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: O ENSINO À DISTÂNCIA NA PRÁTICA FINALIZANDO REFERÊNCIAS
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