Buscar

Espaços de Atuação do Serviço Social

Prévia do material em texto

SERVIÇO SOCIAL E O DEBATE 
CONTEMPORÂNEO 
AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Mariana Patrício Richter Santos 
 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Esta aula vai abordar temas relacionados aos espaços sócio-
ocupacionais do serviço social, como as fundações empresariais, as 
organizações privadas não lucrativas, as organizações da classe trabalhadora, 
a educação superior e suas especificidades. É salutar compreender as 
particularidades de cada um desses espaços, compreendendo a forma dinâmica 
e flexível por meio da qual o serviço social se insere nesses espaços, 
propiciando, assim, uma leitura crítica acerca dos debates e caminhos 
profissionais traçados na cena contemporânea. 
TEMA 1 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: 
FUNDAÇÕES EMPRESARIAIS 
 Com o processo de reestruturação produtiva, a crise do capitalismo nos 
anos 70-80 e, posteriormente, elementos como o processo de redemocratização 
do país, seguido da reforma do aparelho do Estado no governo de Fernando 
Henrique Cardoso (FHC) e com a ofensiva neoliberal, as empresas reveem seu 
processo de planejamento e sua forma de inserção na dinâmica societária. 
 No processo próprio de internacionalização do capital, de globalização do 
mercado financeiro em fins do século XX, os países se organizam de modo a 
manter sua permanência na esfera da órbita do capital e sua inserção no 
mercado mundialmente capitalista. Desse modo, ações e processos precisam 
ser engendrados como forma não apenas de uma simples inserção na dinâmica 
mundial renovada do processo do capital, mas como estratégia de aglutinação 
de mercados e fortalecimento do capital por parte dos países. 
 Diante dessa realidade, os empresários acabam por tornarem-se as 
pessoas que buscam garantir a confiança dos investidores em seus produtos e 
mercadorias, comprometidos com o processo de indicadores que revelem, 
minimamente, processos de sustentabilidade da empresa. 
O termo sustentabilidade, aqui, está sendo usado no sentido que diz 
respeito aos investimentos próprios do capital em seus produtos, por meio de 
ações, garantindo transparência na relação com esses investidores. A isso 
chamou-se de governança corporativa, nos dizeres de Amaral e Cesar (2009). 
Essa sustentabilidade envolveria diversos sujeitos sociais, sendo eles os 
 
 
3 
acionistas, os credores, os investidores, o governo, os empregados e a 
comunidade. Ainda na esteira de Amaral e Cesar (2009, p. 434), 
A “governança corporativa” vincula-se, portanto, à “responsabilidade 
social empresarial”, que passa a ser um dos indicadores da 
sustentabilidade dos negócios e vem sendo objeto de iniciativas dos 
empresários no contexto de mudanças no padrão de organização e 
gestão das empresas. 
 É salutar compreender que esse processo de reordenamento das 
empresas guarda relação com o momento político-econômico vivenciado no 
Brasil, contando com o quadro de agudização da pobreza, reflexo de políticas 
econômicas de base neoliberal, com a redução efetiva da responsabilidade 
estatal transferida para um setor, construído hegemonicamente pela burguesia, 
como um setor que atenderia às demandas represadas pelo Estado: a sociedade 
civil, que é aquela que assume a responsabilidade estatal, elegendo a 
solidariedade e as negociações pactuadas como conceitos integradores e 
definidores. Essa sociedade civil, podemos entendê-la, com base nas reflexões 
propostas por Montãno (2010) e Richter, Albiero e Costa (2018), como acrítica 
ou dócil. 
 A recorrência a essa sociedade civil pauta-se pelo novo processo de 
reestruturação produtiva e de lógica do capital, ganhando, assim, as fundações 
(por sua vez, ligadas às empresas) um campo de espaço, inserção e ações. É 
salutar refletir que muitos empresários, agora preocupados com a governança 
corporativa (focado em resultados de transparência e responsabilidade aos seus 
investidores) e assumindo um papel de “salvadores” da população mais 
vulnerável (pois o Estado não consegue cumprir suas responsabilidades), têm, 
na figura de suas fundações empresariais, a possibilidade dual de atendimento 
às mazelas sociais não atendidas pelo Estado e o reforço da imagem de seus 
produtos e mercadorias no mercado brasileiro. O processo de contradição, tão 
presente na realidade profissional do serviço social, está dado na realidade das 
fundações, as quais, nesse sentido, são compreendidas como 
um meio adequado para profissionalizar as ações sociais das grandes 
corporações, tendo em vista uma melhor estruturação dos projetos 
sociais, um maior controle dos investimentos, uma maior transparência 
na gestão e, consequentemente, a ampliação das possibilidades de 
parcerias e captação de recursos (Amaral; Cesar, 2009, p. 439-440). 
 As fundações, entendidas como braços das empresas, podem reforçar 
sua reconhecida responsabilidade social corporativa, atendendo a demandas 
 
 
4 
comunitárias, com o objetivo único de reforçar seu processo de responsabilidade 
solidária na minimização ou atenuação das expressões da questão social. Desse 
modo, o profissional assistente social que atua nos programas de 
responsabilidade social nas fundações pode trabalhar com diferenciadas frentes 
de trabalho. Como ponderam Amaral e Cesar (2009, p. 441) acerca dessas 
frentes de trabalho: 
elaboração, implementação, monitoramento e avaliação de projetos 
sociais e campanhas institucionais internas e externas; assistência 
social aos empregados e seus dependentes; suporte ao trabalho 
comunitário; coordenação do programa de voluntariado; 
desenvolvimento de projetos educativos e socioambientais, de 
capacitação e inserção no mercado de trabalho. 
 O exercício profissional do assistente social, seja nas empresas 
capitalistas, seja nas fundações empresarias, deve ser pautado pelo exercício 
do processo de mediação, como categoria histórico-analítica para a 
compreensão da realidade social dada. Apenas um profissional assistente social, 
imbuído do conhecimento e propriedade do projeto de sua profissão, do projeto 
ético-político e instrumentalizado por meio das dimensões ético-política, teórico- 
metodológica e técnico-operativa que permeia o serviço social, é capaz de 
compreender a teia de relações que envolve a profissão, buscando caminhos 
alternativos que configurem um exercício profissional em consonância com os 
interesses dos usuários dos serviços e da classe trabalhadora. 
TEMA 2 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: 
ORGANIZAÇÕES PRIVADAS NÃO LUCRATIVAS 
 Refletir sobre o mercado de trabalho do assistente social nas 
organizações privadas não lucrativas requer pensar também na configuração 
social da sociedade brasileira, na dinâmica capitalista, no processo de reforma 
do Estado brasileiro, capitaneado em meados da década de 90 do século XX, e 
na inserção e no fortalecimento do terceiro setor. Esses condicionantes são 
essenciais na compreensão do lugar das organizações privadas não lucrativas, 
para que se possa compreender sua gênese, suas condições de manutenção de 
existência e os interesses aos quais se encontram organicamente vinculadas. 
 Como já trabalhado nesta aula, os processos de significativa ofensiva 
neoliberal presentes no Brasil a partir da década de 90, movimento contrário às 
conquistas dos direitos sociais conquistados quase que no mesmo período 
 
 
5 
(referenciados com a Constituição de 1988), tangenciam a existência e o lugar 
social das organizações privadas não lucrativas. As organizações privadas 
orientam a pensar em espaços organizados fora do âmbito estatal, não 
lucrativos, ou seja, que não possuem na atividade econômica sua fonte de 
anseio ou justificação. Embora seja contraditório, pois essas organizações, no 
Brasil, se fortalecem dentro da ótica capitalista e da instância neoliberal, elas 
dependem da captação de recursos para efetivar seus projetos e programas 
sociais. 
 É nesse contexto que se encontra mais um espaçosócio-ocupacional do 
assistente social. Dentro dessa lógica, novas funções e competências são 
exigidas do profissional assistente social, que precisa rever-se como profissional, 
na perspectiva de atender às demandas contemporâneas a ele direcionadas e 
apropriar-se dos processos de inserção da profissão. As demandas profissionais 
ao serviço social são reconfiguradas, assim como os próprios espaços sócio-
ocupacionais ocupados pelos profissionais. As tendências de privatização, 
mercantilização e refilantropização das formas de enfrentamento das questões 
sociais são utilizadas pelas parcas políticas sociais restantes no Estado, 
delineando a realidade contemporânea desse assistente social (Alencar, 2009). 
 Os próprios espaços socioprofissionais dos assistentes sociais, dentro da 
dinâmica do processo de terceirização, consequente da desresponsabilização 
do Estado, fortalece valores de ordem moral colocados como referências nos 
processos interventivos na área social, como princípios de ajuda e solidariedade. 
 A absorção própria dos assistentes sociais no mercado de trabalho das 
organizações privadas não lucrativas delineia algumas especificidades 
profissionais, conforme constamos em Alencar (2009): a gestão de programas 
sociais; o que repercute em conhecimento de legislações pertinentes de forma 
atualizada; saberes na construção de diagnósticos sociais; e o trabalho com 
indicadores sociais como subsídio para a construção de propostas de trabalho 
adequadas às demandas dos usuários. 
 Por fim, em relação ao mercado de trabalho dos assistentes sociais nessa 
área especificamente, as condições de trabalho e os processos próprios de 
contratação repercutem o ideário neoliberal de flexibilização das relações 
trabalhistas do qual as organizações privadas não lucrativas fazem parte. 
Contratação de profissionais por tempo determinado, para execução de projetos 
específicos, jornada de trabalho de tempo parcial, entre outras fragilidades no 
 
 
6 
processo de contratação, fazem com que não nos esqueçamos de que o 
assistente social, antes de tudo, é trabalhador assalariado, pertencente à classe 
trabalhadora, com todas suas limitações. 
Em que pesem as limitações nesse espaço sócio-ocupacional, as 
fragilidades e lutas que precisam ser capitaneadas buscando direitos mais 
efetivos, não apenas em relação à população atendida, mas aos próprios 
profissionais que nesses espaços atuam, são algumas das possibilidades 
vislumbradas. 
As próprias demandas inerentes ao exercício profissional do assistente 
social e que justifiquem sua contratação podem, por vezes, tratar de 
competências profissionais. Cabe ao profissional assistente social, dentro de 
suas possibilidades e dimensões, executar tarefas e planejar ações que 
justifiquem e reifiquem o exercício profissional dentro da esfera das atribuições 
privativas e não apenas das competências profissionais. 
Ao elucidar, dentro das organizações privadas não lucrativas, a 
necessidade do trabalho profissional por meio de suas atribuições privativas, o 
assistente social forja seu processo de luta, fortalecendo a profissão, na mesma 
medida em que deve fortalecer os interesses dos usuários dos serviços. 
TEMA 3 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: 
ORGANIZAÇÕES DA CLASSE TRABALHADORA 
 O espaço sócio-ocupacional das organizações da classe trabalhadora, em 
tese, seria o espaço de maior possibilidade de adesão de profissionais 
assistentes sociais e de consolidação efetiva do projeto ético-político profissional 
do serviço social. Em tese, justamente porque a realidade de inserção 
ocupacional dos profissionais nesses espaços é ínfima ou muito baixa. 
Saiba mais 
Para aprofundar esse debate, leia o artigo: “O trabalho do assistente social 
nas organizações da classe trabalhadora”, de autoria de Franci Gomes Cardoso 
e Josefa Batista Lopes. Esse artigo é um dos trabalhos que compõem o livro 
Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais, publicado pelas 
entidades representativas da categoria: CFESS e ABEPSS. 
 
 
7 
CARDOSO, F. G.; LOPES, J. B. O trabalho do assistente social nas 
organizações da classe trabalhadora. In: CFESS – Conselho Federal de Serviço 
Social. ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço 
Social. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: 
CFESS/ ABEPSS, 2009. Disponível em: 
<http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/7td9938a021b2W55LR0Y.pdf>. 
Acesso em; 22 jul. 2019. 
Essa baixa inserção justifica-se devido ao cenário político-econômico que 
acomete o Brasil nos fins dos anos 80 e 90 do século passado, cenário que já 
apresentamos para aprofundar o debate acerca das empresas e fundações 
empresariais. No que tange às organizações da classe trabalhadora, o 
movimento que se faz é contrário: enquanto as empresas e o terceiro setor, com 
as organizações privadas não lucrativas, cresce exponencialmente, de acordo 
com os ideais liberais hegemônicos e com a crescente redução do Estado, as 
lutas advindas de movimentos populares de base e organizações efetivas da 
classe trabalhadora sofrem uma retração, diminuindo, ou mesmo 
desaparecendo do processo de lutas sociais, por assumirem formas mais 
institucionalizadas. 
 Enquanto no processo anterior à Constituinte, as lutas das organizações 
das classes trabalhadoras como movimentos sociais, sindicatos e centrais 
sindicais foram fortalecidas, acompanhando um processo de ruptura do exercício 
profissional com práticas conservadoras e descomprometidas com a classe 
trabalhadora, a vinda da Constituição de 1988 e dos direitos nela instituídos, 
somados às alterações impostas pelo ideário neoliberal, reforçam um quadro de 
enfraquecimento das lutas populares. 
Nesse novo cenário político-econômico, apenas o Movimento dos 
Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) consegue manter viva a perspectiva de 
um projeto de sociedade emancipada, fundado na solidariedade intraclasse 
trabalhadora, nos dizeres de Abreu e Lopes (2004, citados por Cardoso; Lopes, 
2009). 
 Os assistentes sociais, como trabalhadores assalariados nesse espaço 
sócio-ocupacional, prestaram serviço junto ao MST, embora, por vezes, não se 
reconhecessem como funcionários e parte do quadro de trabalhadores do 
movimento. Essa é uma confusão histórica e presente na categoria profissional: 
a dificuldade de separar processos de militância política (que acontece em 
 
 
8 
espaços de movimentos sociais e demais organizações da classe trabalhadora), 
com trabalhos técnicos desenvolvidos dentro desses mesmos espaços. 
Nas décadas de 70 e 80 do século passado, o trabalho do assistente 
social junto à organização das classes trabalhadoras era constituído pela 
“mobilização social e organização, de modo a contribuir para viabilizar projetos 
de interesse dessa classe, tais como: projetos de construção de novas relações 
hegemônicas na sociedade para superação da sua condição de subalternidade” 
(Cardoso; Lopes; 2009, p. 468-469). 
 Aqui, toma-se ainda como referência o exercício profissional dos 
assistentes sociais junto ao MST, tendo em vista as duas esferas que o 
compõem: a esfera da educação e a esfera da produção. Enquanto na educação 
trabalha-se para além da educação formal, alcançando a educação política, na 
esfera da produção, nos dizeres de Cardoso; Lopes, (2009), foca-se nas 
cooperativas agrícolas, fundadas em valores de solidariedade e cooperação 
intraclasse. 
 É providencial esclarecer que o assistente social inserido no espaço 
sócio-ocupacional das organizações da classe trabalhadora está imbuído, 
diretamente, na configuração das relações e das lutas de classe, processo 
próprio do capitalismo e aferente à dinâmica do capital. Trata-se de terreno fértil 
no que diz respeito ao desempenho do exercício profissional, a compreender e 
desvelar todas as possibilidades concreto-históricas presentes no chão detrabalho dos assistentes sociais junto às organizações da classe trabalhadora. 
Os desafios e as relações são complexos e presentes, mas calcam a 
possibilidade real de efetivação do projeto ético-político do serviço social e na 
sua mais possível materialização e concretude. 
TEMA 4 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: EDUCAÇÃO 
SUPERIOR 
 Compreender o espaço sócio-ocupacional do serviço social na educação 
superior, previsto por meio da própria Lei de Regulamentação da Profissão (Lei 
n. 8.662/93, em seu art. 5º), pressupõe compreender, anteriormente, a história 
da profissão, seus diferentes momentos e movimentos de regulação e 
regulamentação legal, além dos processos dinâmicos de alteração da realidade 
contemporânea (Brasil, 1993). 
 
 
9 
Saiba mais 
Art. V da Lei n. 8.662/93: Assumir, no magistério de Serviço Social tanto 
a nível de graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam 
conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular (Brasil, 
1993). 
 Podemos pensar a inserção do assistente social na educação superior em 
dois momentos: por meio da história da profissão e de seus movimentos no que 
diz respeito aos processos elucidatórios de formação profissional, construção de 
currículos nacionais e posteriores diretrizes curriculares nacionais em âmbito 
mais contemporâneo; por outro lado, podemos (e devemos) salientar a 
importância das atribuições privativas desse profissional no processo vinculado 
ao ensino superior. 
Consoante os movimentos históricos da realidade brasileira, o serviço 
social passa por vivências de renovação da profissão, em especial nos anos de 
1960 e 1970, além de haver um olhar crítico sobre as demandas postas ao 
assistente social, questionamento este mais próximo dos anos 1980. Essa 
realidade foi acompanhada de uma produção intelectual que passava a 
redirecionar o olhar da profissão, tanto de forma endógena quanto de forma 
exógena, perante outros campos do saber. Nos idos de 1970, com a expansão 
privatista da educação, alterou-se a realidade das universidades, as quais 
ampliaram a oferta de seus programas de pós-graduação. 
 É válido mencionar os esforços realizados pela atual ABEPSS (antiga 
ABESS), no que tange aos processos de revisão curricular do serviço social, que 
hoje direcionam o processo de formação profissional dos futuros assistentes 
sociais, em sintonia com o projeto ético político da profissão. 
Porém, é sabido que algumas tensões são vivenciadas nesse espaço, 
tendo em vista as forças de interesse do capital, que buscam, a todo custo, a 
flexibilização de projetos pedagógicos dos cursos de serviço social. Algumas 
atividades desempenhadas por assistentes sociais no campo da educação 
superior guardam relação com a função própria do magistério, com a direção de 
unidades de cursos de serviço social, além de estarem à frente de projetos de 
extensão universitária, os quais buscam associar os conceitos de ensino à 
pesquisa e à extensão. 
 
 
10 
4.1 A supervisão direta como atribuição privativa do assistente social 
 Outro elemento de fundamental importância nos espaços sócio-
ocupacionais do assistente social junto da educação superior diz respeito à 
supervisão direta de estágio, a qual se configura como atribuição privativa da 
profissão, elencada no art. 5º, inciso VI da lei n. 8662/93, lei que regulamenta a 
profissão (Brasil, 1993). 
Vale ressaltar que essa função é constituída por uma tríade, envolvendo 
três profissionais: supervisor acadêmico (instituição de ensino), supervisor de 
campo (unidade concedente de campo de estágio) e o aluno. Porém, apesar de 
instituir-se como atribuição privativa e que permeia os mais diversos espaços 
sócio-ocupacionais da profissão, muitos assistentes sociais ainda não refletem 
sobre seu exercício profissional como rico espaço, no qual é possível 
desenvolver a função pedagógica da supervisão de estágio (Albiero; Brun, 
2018). 
Ao assistente social que se insere na educação superior e no magistério, 
o desempenho da função de supervisor acadêmico, certamente, lhe será 
direcionado. Essa supervisão deve ser desempenhada com base nos 
regulamentos da profissão, com preceitos relacionados ao projeto ético-político 
da profissão, além de estabelecer uma leitura histórico-crítica da realidade 
vivenciada no cotidiano de formação do acadêmico em Serviço Social. 
Nesse sentido, é importante ressaltar a importância da supervisão direta 
de estágio como instrumento balizador de processos vivenciais dos alunos. 
Albiero e Brun (2018, p. 7) relatam: 
Essa inserção do profissional, nas diversas esferas do modo de 
produção seja, social, econômica, cultural e, política faz com que o 
estágio, através da supervisão direta seja uma ferramenta única de 
vivências, de aproximações teórico-prática, de convívio com os 
enfrentamentos das limitações e contradições impostas a profissão. O 
cunho pedagógico da supervisão se faz nesses espaços e tensões e 
são nesses momentos que o supervisor deve promover junto ao aluno 
as reflexões, análises e proposições frente aos embates do mundo do 
trabalho. 
Nesse modo, o processo de supervisão direta adquire uma dimensão 
pedagógica, imiscuída nas diferentes dimensões atinentes à profissão. 
 
 
11 
TEMA 5 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: O ENSINO 
À DISTÂNCIA 
 Abordar o tema do ensino à distância dentro do serviço social é assunto 
delicado e polêmico, tendo em vista o posicionamento do conjunto 
CFESS/CRESS sob essa modalidade de ensino. Em que pesem as resistências 
existentes, é importante referenciar que a educação à distância traz a 
possibilidade de acesso a milhares de pessoas que, em seus mais afastados 
territórios de vivências e lugares de sobrevivência, de outro modo não teriam 
acesso à educação. 
 O processo de educação à distância, em especial no serviço social, é 
relativamente novo, permitindo apenas aproximações iniciais. É importante 
perceber que, nessa modalidade, há um ensino pautado em ambientes virtuais 
de aprendizagem, além de diferentes profissionais que compõem os quadros 
profissionais dos cursos de graduação em serviço social à distância. Dessa 
maneira, ao refletir acerca da função dos docentes assistentes sociais nesse 
processo de ensino à distância, Ferreira (2016, p. 4) os dividiu em três grandes 
grupos: 
1º) responsável pela concepção e realização dos cursos e materiais; 
2º) assegura o planejamento e organização da distribuição de materiais 
e administração acadêmica (matrícula, avaliação); e o 3º) 
responsabiliza-se pelo acompanhamento do estudante durante o 
processo de aprendizagem (tutoria, aconselhamento e avaliação). 
 Desse modo, pensar a educação à distância dentro do espectro do serviço 
social é pensar na proposta de cursos de graduação que apresentem projetos 
pedagógicos consoantes com as Diretrizes Curriculares Nacionais, com o projeto 
ético-político da profissão e em consonância com os princípios fundamentais da 
profissão. Aqui é importante recuperarmos o princípio V do Código de ética do(a) 
assistente social, que afirma: “Posicionamento em favor da equidade e justiça 
social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos 
programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática” (Brasil, 2012). 
O acesso à educação tem sido ampliado por meio das fronteiras da educação à 
distância. 
 Para finalizar e estimular o debate, outros espaços sócio-ocupacionais do 
assistente social têm se reconfigurado, ampliado ou foram criados na cena 
contemporânea. Como elenca Mota (2014): esportes, área ambiental 
 
 
12 
(trabalhando com projetos, educação ambiental, entre outros) e de 
sustentabilidade, planos de saúde privados, saúde do trabalhador com as novas 
mudanças engendradas pelo mundo do trabalho, mediação de conflitos na 
esfera judiciária. Independentemente do espaço de trabalho, o projeto ético 
políticoda profissão e o compromisso com os usuários dos serviços deve, 
sempre, permear a realização do exercício profissional do assistente social. 
NA PRÁTICA 
Nesta aula, falamos sobre diferentes espaços sócio-ocupacionais dos 
assistentes sociais, seja nas fundações empresarias, nas organizações da 
classe trabalhadora, na educação superior, entre outros. Pesquise, em seu 
município, quais das áreas indicadas de campo do trabalho do assistente social 
existem em seu município, analisando as possibilidades e limitações do fazer 
profissional. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, pudemos observar a inserção dos assistentes sociais nos 
mais diferenciados espaços sócio-ocupacionais, identificando suas 
especificidades e contradições. Pudemos perceber todo o espectro histórico, 
político-social e econômico que delineia a inserção dos profissionais nesses 
diferentes espaços, além de delimitar as atribuições e competências específicas 
em cada espaço mencionado. Finalizamos com a elucidação do debate acerca 
da educação à distância e serviço social, com breves aproximações sobre o 
tema. 
 
 
 
13 
REFERÊNCIAS 
ALBIERO, C. E.; BRUN, B. B. A. Função pedagógica da supervisão direta! XVI 
ENPESS. Vitória- ES, 2018. 
ALENCAR, M. M. T. de. O trabalho do assistente social nas organizações 
privadas não lucrativas. In: CFESS – Conselho Federal de Serviço Social. 
ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. 
Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: 
CFESS/ABEPSS, 2009. 
ALMEIDA, N. L. T. de. Magistério, direção e supervisão acadêmica. In: CFESS 
– Conselho Federal de Serviço Social. ABEPSS – Associação Brasileira de 
Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Serviço social: direitos sociais e 
competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009 
AMARAL, A. S. do; CESAR, M. J. O trabalho do assistente social nas fundações 
empresariais. In: CFESS – Conselho Federal de Serviço Social. ABEPSS – 
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Serviço social: 
direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ ABEPSS, 2009. 
BRASIL. Lei n. 8.662, de 7 de junho de 1993. Diário Oficial da União, Poder 
Legislativo, Brasília, DF, 8 jul. 1993. 
BRASIL. CFESS – Conselho Federal de Serviço Social. Código de Ética do 
Assistente Social. Lei n. 8.662/93 de Regulamentação da Profissão. 10. ed. 
rev. e atual. Brasília: CFESS, 2012. Disponível em: 
<http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE.pdf>. Acesso em: 22 jul. 
2019. 
CARDOSO, F. G.; LOPES, J. B. O trabalho do assistente social nas 
organizações da classe trabalhadora. In: CFESS – Conselho Federal de Serviço 
Social. ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço 
Social. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: 
CFESS/ ABEPSS, 2009. Disponível em: 
<http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/7td9938a021b2W55LR0Y.pdf>. 
Acesso em; 22 jul. 2019. 
FERREIRA, A. A. Educação à distância e o serviço social: análise positiva que 
fomenta a crítica construtiva. ABED, Ribeirão Preto/SP, fev. 2016. Disponível 
 
 
14 
em: <http://www.abed.org.br/congresso2016/trabalhos/7.pdf>. Acesso em: 22 
jul. 2019. 
MONTAÑO, C. Terceiro setor e questão social: crítica ao padrão emergente 
de intervenção social. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2010. 
RICHTER, M. P.; ALBIERO, C. E.; COSTA, D. da. O terceiro setor e os 
movimentos sociais: a construção de uma sociedade civil dócil na 
contemporaneidade. II Congresso Internacional de Política Social e Serviço 
Social: Desafios Contemporâneos; III Seminário Nacional de Território e 
Gestão de Políticas Sociais; II Congresso de Direito à Cidade e Justiça 
Ambiental. Londrina, 2018. 
 
	CONVERSA INICIAL
	TEMA 1 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: FUNDAÇÕES EMPRESARIAIS
	TEMA 2 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: ORGANIZAÇÕES PRIVADAS NÃO LUCRATIVAS
	TEMA 3 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: ORGANIZAÇÕES DA CLASSE TRABALHADORA
	TEMA 4 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: EDUCAÇÃO SUPERIOR
	4.1 A supervisão direta como atribuição privativa do assistente social
	TEMA 5 – O MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: O ENSINO À DISTÂNCIA
	NA PRÁTICA
	FINALIZANDO
	REFERÊNCIAS

Continue navegando