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SERVIÇO SOCIAL E O DEBATE CONTEMPORÂNEO AULA 5 Prof.ª Neiva Silvana Hack 2 CONVERSA INICIAL Ao longo desta aula abordaremos aspectos relacionados ao serviço social organizacional, bem como falaremos sobre as possiblidades de ação nesse campo, relacionadas à assessoria, consultoria, auditoria e supervisão técnica. A atuação do assistente social na iniciativa privada não é uma novidade, uma vez que está no cenário brasileiro desde as décadas de 1940 e 1950, com a criação do Serviço Social da Indústria (SESI) e o Serviço Social do Comércio (SESC), bem como teve grande expansão nas décadas de 1970 e 1980, em uma conjuntura de maior organização política dos trabalhadores. Contudo, esse campo de atuação é permeado por demandas que se atualizam cotidianamente, não se tratando, portanto, de um espaço compreendido de forma definitiva. Vale destacar, contudo, que se trata de um campo com especificidades e singularidades, que desafiam o fazer cotidiano, exigindo a construção e reconstrução contínua da instrumentalidade dos profissionais que nele atuam. (Amaral; Cesar, 2009; Moraes et. al, 2015; Souza; Beleza; Fonseca, 2016). Ao longo desta aula, trabalharemos os temas “Serviço Social Organizacional: compreendendo este espaço sócio-ocupacional”; “Possibilidades de atuação no ambiente organizacional”; “Assistente social prestador de serviços”; “Consultoria, assessoria, auditoria e supervisão técnica”. Nosso objetivo, ao final da discussão e aprofundamento dos estudos sobre cada um dos temas citados, é apreender as diferentes formas de participação e contribuição do serviço social como elemento trabalhador e empreendedor no campo organizacional. Dessa forma, construiremos um debate com base em produções anteriores e avançaremos no saber acerca desse tema que ainda é bastante complexo e inovador. TEMA 1 – SERVIÇO SOCIAL ORGANIZACIONAL – COMPREENDENDO ESSE ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL Discutir o serviço social organizacional na contemporaneidade compreende um debate permeado de contradições. Para explorar essa temática, poderíamos iniciar com uma questão: seria possível ao assistente social atuar de forma ética e crítica em uma organização com finalidade lucrativa e que sustenta o desenvolvimento do capitalismo? 3 Essa questão pode levantar tanto respostas positivas quanto negativas, devido à sua complexidade. E é justamente com base nessa problematização que podemos discutir mais sobre esse espaço de atuação profissional. Certamente o ambiente empresarial evidencia as contradições de ser um trabalhador inscrito na divisão sociotécnica do trabalho, dentro de uma sociedade capitalista. Embora o serviço social tenha sua crítica em relação ao projeto de sociedade vigente, é dentro desta que ele atua e onde se estabelece. (Iamamoto, 2001; Alves, 2016). O significado social da profissão pode ser entendido como a compreensão da posição do serviço social na divisão social e técnica de trabalho. O serviço social, além de se posicionar em favor da classe trabalhadora, faz parte dessa classe, já que seus profissionais são assalariados. Assim, o assistente social vive todos os reflexos advindos do processo de produção e reprodução da sociedade do capital, vivenciando cotidianamente todos os rebatimentos que incidem sobre a classe que sobrevive do trabalho. (Alves, 2016, p. 105-106). Portanto, como trabalhador nas organizações, o serviço social está cooperando para a lucratividade destas e, por sua vez, para a acumulação de riquezas dos seus proprietários/acionistas. Contudo, é também nesse espaço que pode implementar práticas fundamentadas no seu projeto ético-político e defender direitos dos trabalhadores, fomentar o acesso às políticas públicas, promover o enfrentamento aos preconceitos. As organizações são, portanto, mais do que um espaço de lucratividade, mas um espaço de relações sociais. Dessa forma, o campo de trabalho para o assistente social é amplo e, ainda que com desafios, a prática ética é possível (Amaral; Cesar, 2009; Moraes et. al, 2015). Caberia também refletir que mesmo aqueles assistentes sociais que atuam na esfera pública governamental ou em instituições privadas sem fins econômicos também se encontram em espaços permeados de contradições. Embora essas não sejam instituições que visem lucro ou, de forma objetiva, o enriquecimento de seus líderes, elas também se encontram em um conjunto de relações institucionais capitalistas. Já é sabido que o capitalismo contemporâneo, desde sua classificação como capitalismo monopolista, é dependente do Estado para sobreviver (Netto, 2009). Portanto, há, sim, contradições no espaço empresarial, mas não são um “privilégio” desse campo de atuação. 4 TEMA 2 – POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL Quando abordamos o serviço social organizacional, abre-se um leque de possibilidades de intervenção. Mais do que atuar como funcionário em uma empresa, o assistente social pode também ter a sua própria empresa e pode, como pessoa física ou jurídica, prestar serviços para as organizações. E para cada uma dessas colocações profissionais, o conjunto de atividades a ser realizado é amplo e pode constantemente ser atualizado, de forma a atender às demandas da contemporaneidade. Neste contexto, parece surgir um conjunto diverso de frentes de trabalho para o assistente social nas empresas, entre as quais destacamos: gestão de recursos humanos; programas participativos; desenvolvimento de equipes; ambiência organizacional; qualidade de vida no trabalho, voluntariado; ação comunitária; certificação social; educação ambiental etc. Podemos afirmar que essas frentes de trabalho estão relacionadas com os processos macrossociais contemporâneos que incidem na vida social e inflexionam as práticas sociais, nas quais se inclui a experiência profissional do assistente social. (Amaral; Cesar, 2009, p. 2). Neste tema, abordaremos as práticas do assistente social efetivo em uma empresa, diante dos três principais públicos que atende, e, no tema 3, compreenderemos a sua atuação como prestador de serviços. 2.1 Atuação com os trabalhadores Uma das demandas comuns ao serviço social organizacional é a atuação com os trabalhadores daquela empresa. Assim, os profissionais são alocados em áreas como a de recursos humanos ou de gestão da qualidade de vida no trabalho, ou outras similares. Nesses espaços, são demandados a gerir benefícios e criar programas voltados ao público interno da organização. A demanda originária das empresas ao serviço social constituía-se de uma necessidade de controlar os trabalhadores, para que seguissem produtivos. À medida que os princípios da própria administração empresarial foram amadurecendo e contemplando novos saberes acerca das relações humanas, motivação e saúde do trabalho, também as demandas para o serviço social vão sendo refinadas. E, ainda, compete ao profissional, dentro desse campo de contradições, identificar as melhores estratégias de intervenção profissional, que possam assegurar a efetividade do projeto ético-político profissional da 5 categoria, que se afirma em favor da classe trabalhadora (Moraes et. al., 2015; Mota, 2010). Nesse campo, o assistente social desenvolve atendimento diretos aos trabalhadores da organização, bem como desenvolve programas coletivos ou campanhas de caráter socioeducativo. Promove e serve como intermediário do acesso a benefícios, bem como pode socializar informações acerca de direitos e como exercê-los, com base no acesso às políticas públicas. A sua atuação na instituição privada não impede que o assistente social recorra à rede de serviços públicos para atendimento dos trabalhadores, uma vez que estes possuem direitos assegurados por lei, como cidadãos. 2.2 Atuação com os usuários Uma outra característica de atuaçãoé quando essa é demandada para o público externo da organização. Isso é comum nos casos em que empresas privadas prestam serviços essenciais à população, tais como escolas, hospitais, clínicas, casas de repouso, cemitérios, entre outros. Nesses espaços, são ofertados serviços similares àqueles encontrados na dinâmica das políticas públicas, e, segundo cada área, estão alinhados a estas em maior ou menor grau. E será junto aos usuários desses serviços que se dará o maior volume de atuação do assistente social. Podemos exemplificar: nas escolas particulares, o assistente social tem como usuários os alunos e seus familiares e desenvolve programas de atendimento individual e/ou coletivo para eles. Também quando se trata de atender o usuário da organização em que atua, o assistente social pode (e deve) utilizar-se de encaminhamentos para a rede de serviços públicos. 2.3 Atuação com a responsabilidade social e o investimento social privado O campo da responsabilidade social compreende uma diversidade de atores, que envolvem a rede empresarial, tais como os fornecedores, diretoria, gerências, operadores, clientes e comunidade de entorno (Borba; Borsa; Andreatta, 2001; Souza; Beleza; Fonseca, 2016). O investimento social privado contempla o fomento de iniciativas sociais do terceiro setor, que podem ser de iniciativa própria da empresa, tal como 6 ocorre com os institutos e fundações empresariais. Podem também ser totalmente externas a esta, como os casos em que se investe em projetos sociais de organizações da sociedade civil. Essa área pode estar relacionada também ao setor de recursos humanos ou possuir setor próprio, dentro do organograma definido em cada espaço: Em meio ao novo mundo dos negócios, o assistente social – propulsor da sensibilização social – poderá contribuir por meio de suas intervenções juntamente com outros profissionais inseridos no RH, como administradores e psicólogos, com o intuito de atender aos preceitos da responsabilidade social e a todos os sujeitos que fazem parte da rede empresarial (acionistas, fornecedores, governo, funcionários, consumidores, comunidades e meio ambiente) por meio de programas e projetos de responsabilidade social (Souza; Beleza; Fonseca, 2016). O assistente social é requisitado nessas áreas por seu conhecimento sobre as demandas e conjunturas sociais, bem como por suas competências relacionadas à elaboração, à gestão e à avaliação de projetos sociais. Trata-se, contudo, de área multidisciplinar em que é comum a diversidade de profissionais e saberes. É importante destacar que a atuação nessas equipes deve ocorrer de forma cooperativa, como o próprio Código de Ética estabelece, sem incorrer, entretanto, na perda da identidade profissional (Brasil, 2012). É preciso problematizar e delinear quais são as contribuições genuínas do serviço social nesse campo. TEMA 3 – ASSISTENTE SOCIAL PRESTADOR DE SERVIÇOS O assistente social pode também atuar de forma independente no que tange ao espaço organizacional. Seu fazer profissional não depende somente da consolidação de espaços em empresas já constituídas. O próprio assistente social pode ser dono de sua empresa e, com base nela, prestar serviços relacionados às competências e às atribuições privativas da profissão. Como profissional liberal, cabe ao assistente social a liberdade para atuar de forma autônoma, independente de uma relação de empregado-empregador. Pode ainda constituir personalidade jurídica, ou seja, abrir uma empresa com finalidade lucrativa para exercer atividades profissionais de sua área de formação. 7 O significado do termo “profissional liberal” gera equívocos, pois muitos o confundem com profissionais autônomos, isto é, aqueles que não têm vínculo empregatício e trabalham por conta própria. No entanto: os profissionais liberais podem ser autônomos, empregados ou empresários. O exercício de suas atribuições corresponde à aplicação prática do conhecimento técnico em favor de alguém e pode ser dado com ou sem vínculo empregatício, mas sempre regulamentado por órgãos fiscalizadores. (Lagioto, 2013, p. 2) Portanto, nem sempre que abordamos o tema organizações, o assistente social está disposto como um trabalhador assalariado. Ele pode ser também um empregador, ele pode ser um empreendedor. Nesse caso, a renda do seu trabalho é obtida mediante a prestação dos seus serviços profissionais ou mesmo da prestação de serviços profissionais. São exemplos de atividades autônomas do serviço social: a realização de palestras, a elaboração de projetos técnicos, a oferta de capacitações ou assessorias. Deve-se considerar que o trabalho autônomo é uma classificação reconhecida na legislação previdenciária e trabalhista brasileira, compreendendo inclusive tributação e previsões de proteção social. É importante diferenciar trabalho autônomo de trabalho informal, trabalho voluntário ou, em termos gerais, trabalho precarizado. No trabalho autônomo, está se falando de uma prestação de serviços ofertada por uma pessoa física, mediante um contrato ou acordo preestabelecido e em acordo com a legislação vigente. Quando se fala da prestação de serviços como pessoa jurídica, está se tratando de uma relação empresarial, que pode ser de diferentes portes. Uma empresa é consolidada a partir do registro de suas atividades no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ. É possível ao assistente social ser o dono da sua própria empresa ou constituir sociedade e dividir a responsabilidade com outros profissionais. Uma possibilidade vigente no Brasil desde o ano de 2008 é o CNPJ como Microempreendedor Individual – MEI. Esse caso se aplica a rendimentos que não ultrapassem a R$ 81.000,00 por ano. Outra possibilidade, que já permite a previsão de uma lucratividade maior, é o cadastro como Microempresa – ME. Na sequência, seguem possibilidades referentes à indicadores de rentabilidade ainda mais elevados, como é o caso das empresas consideradas de pequeno, de médio ou de grande porte (Conheça..., 2017). 8 Saiba mais O caso citado se aplica para rendimentos que não ultrapassem a R$ 81.000,00 por ano. Trata-se aqui do valor vigente em 16 de julho de 2019. Para informações atualizadas, é preciso consultar Portal do Empreendedor MEI, disponível no link a seguir: PORTAL DO EMPREENDEDOR – MEI. Disponível em: <http://www.portaldoempreendedor.gov.br/>. Acesso em: 22 jul. 2019. A prestação de serviços como pessoa jurídica permite gerar e fornecer nota fiscal àqueles que contratam seus serviços. Esse é um critério de legalidade exigido nas relações comerciais e que permite avançar em possibilidades de oferta de serviços. Ainda que o Recibo de Pagamento Autônomo – RPA seja um documento fiscal válido, no cotidiano organizacional e mesmo nas relações com o poder público, há uma maior valorização da prestação de contas legitimada por notas fiscais. É importante destacar que, no processo de abertura de uma empresa e de sua formalização, devem ser predefinidas suas atividades principais e secundárias. É feita uma escolha acerca do serviço que se pretende ofertar. Dentre essas atividades, devem estar compreendidas ações que estejam relacionadas, ao máximo, com as competências e atribuições privativas da profissão (Brasil, 2012). TEMA 4 – CONSULTORIA, ASSESSORIA, AUDITORIA E SUPERVISÃO TÉCNICA Dentre as ações compreendidas no âmbito do serviço social organizacional, podemos aqui dar um destaque às iniciativas de assessoria, consultoria, auditoria e supervisão técnica. Todas essas quatro abordagens requerem alta especialização do profissional. Contudo, entre si, possuem tanto similaridades quanto especificidades. Não se trata de funções exclusivas do serviço social, mas são possibilidades também para essa profissão. Quando a temática em questão é o serviço social, aí alinham-se comas atribuições privativas da profissão, conforme a Lei de Regulamentação da Profissão – Lei n. 8.662/93 (Brasil, 1993). 9 4.1 Assessoria A assessoria é prestada em uma área em que o profissional possui experiência, conhecimento aprofundado e atualizado. Podemos recorrer a exemplos de outras áreas: assessor financeiro, assessor jurídico, assessor de imprensa etc. Esses exemplos nos orientam para a compreensão de que aqueles que demandam pela assessoria precisam de uma orientação específica, especializada e na qual possam confiar. E, ainda, os demandantes da assessoria reconhecem que o assunto não é plenamente de seu domínio e por isso contratam alguém que possa orientá-los na tomada de decisões, na definição de novas estratégias, na gestão de seus empreendimentos. Portanto, ao assessor é indispensável o conhecimento abrangente e a responsabilidade técnica acerca do tema sobre o qual se dispõe assessorar (Matos, 2010). No âmbito empresarial, a assessoria pode ser ofertada em qualquer um dos espaços anteriormente citados. O assessor pode ser um empregado efetivo, bem como um prestador de serviços. No quadro efetivo, o assessor pode atuar diretamente junto aos gestores, cooperando nos processos decisórios, mas pode também intervir junto às equipes, contribuindo para que as ações sejam realizadas com maior coerência no que tange à sua área de especialidade (Matos, 2010). Como prestação de serviços, a assessoria pode ser ofertada tanto a empresas quanto ao poder público, movimentos sociais e organizações de usuários. Nesse caso, a dimensão empresarial que destacamos é o serviço prestado como pessoa jurídica. 4.2 Consultoria Acerca da consultoria, a prestação de serviços ocorre de maneira semelhante à assessoria, exigindo especialização, experiência, atualização e responsabilidade técnica. Contudo, o grande diferencial reside na dedicação de tempo e no desdobramento do acompanhamento da ação. A consultoria prevê uma intervenção mais focada na problemática para a qual foi requisitada. Será realizada de forma intensa, em um período curto de tempo. A assessoria pressupõe acompanhamento, que pode se dar por um período determinado de tempo (exemplos: seis meses, um ano, dois anos etc.), ou de forma permanente. Por isso, é comum que haja assessores como 10 integrantes de equipes efetivas, tanto no ambiente corporativo quanto na gestão pública. Contudo, o consultor é um agente (em geral, externo), com dedicação pontual e específica. 4.3 Auditoria A auditoria é um campo ainda pouco explorado pelo serviço social, mas que pode ganhar muito mais espaço quando se fala do desenvolvimento do fazer profissional na iniciativa privada. Os processos de auditoria estão relacionados à conferência do rigor no cumprimento de propostas de trabalho previamente estabelecidas. Auditoria é um exame sistemático das atividades desenvolvidas em determinada empresa ou setor, que tem o objetivo de averiguar se elas estão de acordo com as disposições planejadas e/ou estabelecidas previamente, se foram implementadas com eficácia e se estão adequadas. (Significados, 2016). As auditorias podem ser realizadas em diferentes áreas, tais como a contabilidade e as finanças, a responsabilidade social e ambiental, entre outras. Podem ser demandadas pelo próprio auditado, como uma forma de controle e conseguinte comprovação da qualidade dos seus processos, como podem ser requeridas como uma forma de fiscalização de documentação, uso de recursos e eficiência nos processos. Essas intervenções podem ser realizadas tanto por equipe interna quanto externa (Significados, 2016). O serviço social pode compor essas equipes e contribuir com seu conhecimento técnico especializado. 4.4 Supervisão técnica A supervisão técnica, da mesma forma que as demais abordagens anteriormente apresentadas, exige alta qualificação do profissional. Um diferencial importante no caso da supervisão técnica é que esta pressupõe uma relação de autoridade e, pode-se dizer, até mesmo de hierarquia entre supervisor e supervisionados. Em uma relação entre assessor/consultor e aqueles que demandam seus serviços, há um processo cooperativo, em que é realizada uma orientação, são apontados caminhos, são esclarecidas as diferentes perspectivas de análise sobre determinada situação, podem ser sugeridas algumas atitudes e decisões, contudo cabe ao assessorado acatar ou não todo 11 esse conjunto de orientações. Na relação entre supervisor e supervisionado, existe uma margem de poder decisório do supervisor, ao qual os demais integrantes da equipe devem acatar. Conforme já afirmado, percebemos que há uma confusão na categoria profissional de se compreender a supervisão profissional como assessoria, sendo que Vieira (1981) já alertava que a diferença está no grau de autonomia que a assessoria pressupõe, pois a supervisão profissional, por mais democrática que seja, tem – pelo local que ocupa na organização – um poder de mando. (Matos, 2010, p. 36-37) Guerra e Braga (20029) ainda diferenciam o processo de supervisão devido ao vínculo do supervisor, que tende a ser um vínculo efetivo e disposto em uma ordem hierárquica no desempenho de sua função junto aos demais. TEMA 5 – ATITUDE PROATIVA O universo empresarial inspira e exige dos profissionais uma atitude proativa. Ao participar desse setor da sociedade, como profissional, seja como empregado ou como prestador de serviços, lhe são exigidas habilidades indispensáveis nesse espaço, tais como a criatividade, capacidade de comunicação e de estabelecer bons relacionamentos interpessoais. Isso se dá por tratar-se de um espaço em que vigoram as leis de mercado e a livre concorrência. Por um lado, não há a estabilidade assegurada ao servidor público, por exemplo. Por outro, existe um inúmero conjunto de novas possibilidades de intervenção a cada dia. (Matos, 2010; Mota, 2010) Um grande diferencial entre a esfera estatal e a esfera privada é que a primeira é regida por um princípio de previsibilidade e a segunda desfruta do poder da livre iniciativa. O princípio da previsibilidade implica que qualquer ação do poder público só pode prosseguir se esta estiver prevista em lei. Um gestor não pode implementar uma nova ideia se esta não estiver contemplada na legislação vigente e, muito menos, se contrariar os pressupostos legais. Nem a execução dos recursos financeiros disponíveis ao poder público é possível se não estiver de acordo com o aprovado, junto ao Poder Legislativo, nas leis orçamentárias municipais, estaduais ou federais (Derani, 2004). Apesar de se exigir da iniciativa privada que não atue em desacordo com a lei, aquela dispõe de toda a liberdade para criar novas formas, novas propostas, novos caminhos, novos produtos e serviços. Vemos expressões disso 12 em nosso cotidiano e não é diferente quando o assunto é serviço social. É sempre possível inovar. No que tange aos profissionais que atuam na esfera pública ou mesmo nas organizações da sociedade civil, há grande exigência de proatividade para que seu exercício profissional ocorra da maneira mais ética e com melhores resultados. Contudo, aqui, focamos a discussão na proatividade indispensável para fazer parte do cenário do serviço social organizacional. Evidencia-se, nesse campo, a disputa pela sobrevivência, pelo reconhecimento, pela “sobrevivência no mercado”. Um profissional que decide criar sua empresa e prestar serviços de assessoria e consultoria não pode dar sua missão como cumprida quando a empresa está criada, pois terá que trabalhar, como gestor, para assegurar que esta cumpra sua missão e visão, que seja lucrativa, que expanda, que represente um empreendimento de sucesso e, enfim, que lhe assegure um crescimento na carreira. Vale destacar que, como trabalhador, essa é a sua forma de vender sua força detrabalho e, consequentemente, de assegurar o seu sustento. O exercício profissional cotidiano do serviço social se dá dentro de uma conjuntura capitalista e, dentro desta, sobrevive (Alves, 2016). NA PRÁTICA A vivência prática desta aula será orientada com base numa proposta de pesquisa breve. Recomendamos que você procure conhecer, entre seus contatos, profissionais assistentes sociais que atuem em ambientes empresariais. Procure identificar, junto a um ou mais desses profissionais, qual é a perspectiva dele(s) de contribuição do serviço social nas organizações. Assim, você poderá unir o saber construído ao longo desta aula com outras experiências cotidianas. FINALIZANDO Ao longo desta aula, abordamos o serviço social organizacional. Pudemos compreender que o espaço organizacional é um campo legítimo de atuação dos assistentes sociais, embora possua particularidades e seja permeado de 13 contradições. Destacamos, contudo, que essas contradições também estão presentes em outros espaços, uma vez que a prática profissional se consolida dentro de uma sociedade capitalista, na qual o assistente social é também um trabalhador inscrito na divisão social e técnica do trabalho. Abordamos também que, quando se refere ao âmbito organizacional, o assistente social pode atuar como empregado efetivo, prestador de serviços de forma autônoma e pode também ser empresário e, dessa forma, prestar seus serviços técnicos. Destacam-se, dentre estes serviços, a assessoria, a consultoria, a auditoria e a supervisão técnica. São atendidos pelos profissionais, no âmbito organizacional, tanto gestores quanto trabalhadores e usuários. Por fim, concluímos que o espaço organizacional impulsiona o assistente social a manter-se proativo, construindo sempre novas alternativas para a continuidade, a efetividade e a qualidade do seu trabalho. 14 REFERÊNCIAS ALVES, M. O. Desafios históricos do serviço social. 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