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02 Educação na Idade Média

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DESCRIÇÃO
Educação na Europa Ocidental no período da Idade Média (entre os séculos V e XV). Legados
medievais na forma de pensar a Educação: Artes Liberais, “monopólio” do campo educacional
pelo clero, influência árabe para a cultura europeia, método de ensino da Escolástica e
aparecimento das universidades.
PROPÓSITO
Demonstrar que a base da Educação ocidental é fortemente influenciada pelas tradições
educacionais desenvolvidas na Idade Média, em especial o papel da Igreja e a formação moral
do sujeito, marca recorrente ainda na maneira como a Educação é vista e empreendida no
Brasil e no mundo.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar as principais características da transição da Educação entre a Antiguidade e a Idade
Média
MÓDULO 2
Descrever a importância das artes liberais para a formação dos sujeitos na Idade Média
MÓDULO 3
Comparar aspectos da Reforma Carolíngia e da Educação islâmica na Europa Ocidental
MÓDULO 4
Determinar a importância da Escolástica para as escolas urbanas e universidades na Baixa
Idade Média
INTRODUÇÃO
Como você imagina a Idade Média?
 
Imagem: Shutterstock.com
Castelos e princesas, lembrando as histórias infantis?
 
Imagem: Shutterstock.com
Lutas de espadas e as ações da Igreja, como nos filmes e séries?
 
Imagem: Shutterstock.com
Professores que explicam que a Idade Média era a Idade das Trevas?
Essas visões construídas fazem parte do nosso cotidiano e têm relação com os iluministas, que
queriam se afirmar contra o pensamento da Igreja. Além disso, há o Romantismo, que idealizou
as figuras do cavaleiro e da donzela e, por fim, o cinema e a literatura contemporânea que
veem com certo fascínio a Idade Média.
A tarefa de resumir a Idade Média a esses conceitos é difícil, pois um milênio não é
representado por uma coisa só. De fato, esse olhar europeu só tem sentido se pensamos nos
legados medievais. As sociedades atuais são frutos de influências europeias e do seu auge,
que gerou o colonialismo e o imperialismo. Esse período fez com que as instituições europeias
e suas diversas formações dessem base às nossas estruturas sociais, políticas e,
principalmente, educacionais.
A Idade Média concentra os fundamentos da moral ocidental, marcados pela tradição judaico-
cristã da Igreja. As referências da Antiguidade foram reconstruídas e marcam nossa forma de
ver o mundo. Apesar de ter sido reconhecida de maneira pejorativa como apenas um período
de transição, uma época de trevas, a Idade Média apresenta práticas que fazem parte de
nosso cotidiano mesmo que nós não percebamos.
Nosso objetivo, portanto, é demonstrar que as tais trevas tinham intelectuais
importantes, debates vigorosos, além de disputas entre grupos sociais para organizar e
manter a Educação.
MÓDULO 1
 Identificar as principais características da transição da Educação entre a Antiguidade
e a Idade Média
CONTEXTO
A Idade Média é um período marcado pelo surgimento de um novo tipo de intelectual na
Europa Ocidental: os padres cristãos. Esse grupo foi o principal responsável por manter uma
Educação formal (escolas) na Europa entre os séculos V e XV. Os primeiros a inaugurarem
esse novo pensamento são conhecidos como membros da Patrística.
PATRÍSTICA
Nomenclatura adotada para englobar os principais intelectuais que construíram os
dogmas, as bases filosóficas e as práticas da Igreja Romana, que seria conhecida
posteriormente pelo nome de Igreja Católica. O termo significa pais da Igreja, mas
poderíamos também apresentá-lo como inauguradores da filosofia cristã, que muito
contribuíram para o conhecimento e para a Educação.
A Igreja Cristã foi a única instituição que atravessou todo o período de transição da Antiguidade
para a Idade Média.
Em meados do século III, o Império Romano apresentava graves sinais de crise econômica e
política. Na busca de reformulações que permitissem sua permanência, foram procuradas
novas formas de governo – chega-se a ter quatro imperadores de uma só vez.
Outra tentativa foi a organização das mensagens e preceitos religiosos que dessem sentido à
nova construção imperial. Quando o Imperador Constantino se converteu ao cristianismo,
houve um movimento que pode ser interpretado como uma tentativa de coesão pela religião.
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Mesmo assim, após a fragmentação do Império Romano Ocidental, a Educação foi
creditada à Igreja, já que valorizava os princípios educacionais herdados da Antiguidade para
ocupação dos seus quadros e para sua pregação.
FRAGMENTAÇÃO DO IMPÉRIO ROMANO
OCIDENTAL
No lugar de um império, passamos a ter reinos menores, conhecidos como “reinos
bárbaros”. Esses reinos tinham um modelo político aristocrático – o rei comandava um
conselho de senhores em que cada um mandava na sua região – e passaram a ter forte
relação com a Igreja depois da conversão dos reis e de seus povos germânicos ao
cristianismo.
O diálogo entre esses grupos foi iniciado pela religião cristã e gerou, com a conversão, a
construção de um novo mundo.
O império romano deixou de existir, tornou-se um conjunto fragmentado de reinos com a
mistura de três grandes tradições:
1. As romanas - com a maior parte da população.
2. As germânicas - reunião de características dos novos senhores.
3. A cristã – grupo que se difundia e se fazia presente no cotidiano, marcando
intensamente a Educação no período.
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Foto: Statue de Constantin Ier, Musée du Capitole, Rome/Wikimedia Commons/licença CC-BY-
2.5
 Constantino, primeiro imperador cristão, foi canonizado pela Igreja Ortodoxa.
 
Imagem: Bibl. nat. de France, manuscrit français n°9198, f. 19.
 Scriptorium - Copiste au travail.
A Igreja, por meio de seus membros, transmitiu uma mistura das culturas antigas (greco-
romana) cristianizadas. Sua pregação era levada às praças, para o cotidiano dos reis, para
todos que ouviam a Igreja, fazendo com que a Educação fosse difundida por meios não
formais. No entanto, sua estrutura de manutenção era formal, organizada em centros de
formação desses clérigos.
O saber antigo preservou-se nos livros que os mosteiros e as igrejas agasalharam
carinhosamente (NUNES, 2018).
MOSTEIROS
Os mosteiros possuíam bibliotecas e recebiam hóspedes vindos das regiões mais
diversas. Nesses locais, eram desenvolvidas as tecnologias dos óculos, as melhorias das
técnicas de irrigação, de produção de fermentados (incluindo pão e cerveja) e até estudo
das ervas (inclusive medicinais).
Os mosteiros eram verdadeiros ambientes educacionais presentes e disseminados por
toda Europa, norte da África e Oriente Próximo durante o período medieval.
CURIOSIDADE HISTÓRICA
O clero impulsionou fundamentalmente o fenômeno de latinização nos séculos IV e V, o que
representou o embrião das línguas neolatinas, fio condutor que fez possível também a
transmissão de elementos culturais da Antiguidade Clássica até a Baixa Idade Média.
LÍNGUAS NEOLATINAS
Italiano, francês, espanhol, catalão, galego, português e romeno são exemplos de línguas
neolatinas.
CONCEITOS
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Nessa época, a Igreja Católica foi muito importante para o desenvolvimento da ciência e para
a preservação da cultura. Além disso, foi fundamental na manutenção da Educação. Os
monges copistas foram responsáveis pela armazenagem do saber, pois copiavam e
guardavam os registros escritos. Assim, toda a produção de conhecimento nas civilizações
antigas – principalmente dos sábios gregos – foi preservada e retomada no período do
Renascimento.
CATÓLICA
O termo católico, derivação da palavra grega katholikos, que significa universal, passou a
ser adotado pela Igreja no século XII, mas, mesmo antes, muitos dos seus membros já
utilizavam esse nome.
RENASCIMENTO
Movimento do fim da Idade Média em que intelectuais, pintores e filósofos alegavam
recuperar os valores romanos. Na prática, esses valores nunca desapareceram, só foram
adaptados à forma de um discurso cristão.
 
Fonte: Madonna a Maesta/Wikiart/Domínio públic
 OgnissantiMadonna obra de Giotto di Bondone de 1310.
Mesmo com a expansão do cristianismo, ainda na Antiguidade, bem como nos séculos
subsequentes, os jovens romanos e cristãos frequentavam as mesmas escolas, liam os
mesmos textos, recebiam a mesma instrução. O ensino da cultura clássica era necessário,
sobretudo para aqueles oriundos das classes médias e altas, que formariam os quadros das
carreiras administrativas.
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Por conta dessa característica, a cultura clássica influenciava os principais intelectuais da
Igreja de forma intensa.
O modelo educacional da Igreja era uma cópia do modelo do Império Romano.
A arte da transição é um bom exemplo dessa mistura. De um lado, a forma é romana, de outro,
o discurso é cristão. Repare nesta imagem. A Bíblia e a cruz, o pergaminho em grego e as
roupas da nobreza.
 
Foto: Shutterstock.com
As obras clássicas foram adotadas, seus pensadores reconhecidos, sua forma de educar
valorizada, mas os objetivos e formas universalistas foram abandonados e substituídos por
elementos cristãos.
Por outro lado, a cultura romana também foi muito influenciada pelo catolicismo. As pinturas, as
esculturas e os livros eram marcados pela temática religiosa. Os vitrais das igrejas
apresentavam cenas bíblicas, pois essa era uma forma didática de transmitir o evangelho a
uma população quase toda formada por iletrados. Assim como os romanos faziam com seus
monumentos e afrescos, a Igreja repaginou e permaneceu com sua utilização.
 
Fonte: Shutterstock.com
CURIOSIDADE HISTÓRICA
Gregório (papa entre os anos 590 e 604) criou o canto gregoriano – outra forma de
disseminar as informações e os conhecimentos religiosos por meio de um instrumento simples
e interessante da tradição romana: a música.
CORRENTES FILOSÓFICAS MEDIEVAIS
Pode-se dividir, de forma generalista, a Idade Média, no que diz respeito à Educação, em duas
linhas principais:
 
Imagem: Antonio Rodríguez (1636 - 1691)/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Agostinho de Hipona
Patrística
Pretende expor racionalmente a doutrina religiosa, com destaque para Agostinho de Hipona.
 
Imagem: The Yorck Project (2002)/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Tomás de Aquino
Escolástica
Predominante nos espaços escolares durante o Renascimento Carolíngio e readaptada a partir
do racionalismo cristão e de Tomás de Aquino.
O termo patrística foi criado para designar os primeiros intelectuais da Igreja Romana, como
Justino, Tertuliano, Orígenes, Atenágoras, Clemente. No entanto, dedicaremos nosso olhar a
um membro tardio, mas fundamental para a Educação na Idade Média: Agostinho de Hipona.
A Patrística se configurou como uma corrente de pensamento fundada pelos padres da Igreja
Católica que procuravam estabelecer uma concepção racional dos fundamentos dos dogmas
da fé cristã e uma resposta às suas perspectivas antagônicas, que eles denominavam de
heresias.
FÉ CRISTÃ
O cristianismo não nasceu de forma espontânea. Ele precisou da ação de muitos
homens. Dependeu dos Atos dos Apóstolos, liderados por Paulo de Tarso e sua
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disseminação da religião entre os gentios. Uma vez que a religião chega ao
Mediterrâneo, ela passa a ser disseminada e ganhar características helenísticas, com a
valorização da retórica, a construção de uma dialética singular, o que exigia a formação
de grupos de especialistas, que, de fato, organizavam a mensagem de Deus. Vários
nomes são importantes nessa estrutura, como Jerônimo – que organizou a primeira
versão da Bíblia, chamada de Vulgata –, Cirilo de Alexandria, que levava tantos a
ouvirem sua pregação que era necessário organizar filas para entrada e saída para evitar
que pessoas fossem pisoteadas.
EDUCAÇÃO
A base do pensamento educacional na Idade Média é o neoplatonismo cristão. Essa
corrente filosófica misturava traços da leitura de Platão e princípios diversos filosóficos do
Mediterrâneo, como estoicismo, e os preceitos da religião cristã.
NEOPLATONISMO
O prefixo neo indica o novo ou a retomada.
ESTOICISMO
Movimento filosófico romano que defendia que o homem deve lutar contra a natureza e
seus desejos.
O nome mais importante para a Educação formulada para a Igreja e para além dela é o bispo
africano Agostinho de Hipona (354-430). Ele estruturou seu pensamento como os demais
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membros da Patrística, isto é, combinando elementos da fé a princípios filosóficos de nomes
importantes da cultura clássica, como Platão (428 a.C.-347 a.C.) e Plotino (204 d.C.-270 d.C.).
A influência de Agostinho de Hipona no campo educacional foi notória na Idade Média com
suas obras:
A DOUTRINA CRISTÃ
A obra que mais influenciou a Educação medieval, servindo de guia para os estudos dos
intelectuais cristãos, bem como de ideário e planejamento para as escolas desse período. Para
Agostinho, o lugar de aprendizagem era a Bíblia.
Além disso, para ele, Deus era o único mestre. Os professores, na realidade, nada ensinavam,
apenas despertavam em seus alunos a busca pelo conhecimento.
Agostinho idealizou a Educação como um processo por meio do qual o “homem exterior”,
material, mutável e mortal cedia espaço para o “homem interior”, espiritual, imutável e imortal.
Essa transformação se dava à medida que o homem se aproximava e se familiarizava com
Cristo: a Verdade, a Palavra de Deus que se fez homem (MELO, 2002, p. 67).
Assim, fica claro que o Bispo de Hipona acreditava que a aprendizagem se dava por
intermédio de Deus, uma vez que Ele permitia que se captassem as coisas da verdade
essencial.
DE MAGISTRO
Em De Magistro, Agostinho dedica-se a explicar a postura do mestre (professor). A estrutura é
de um diálogo filosófico entre Agostinho, no papel de mestre, sendo questionado por um
discípulo chamado Adeodato. Um dos elementos centrais da obra é a forma como a Educação
pode ser atingida e para que ela serve. A proposta é mostrar que o conhecimento pelo
conhecimento, como muito era pensado e visto na tradição romana, não levaria a lugar algum.
Assim, o único mestre possível era Jesus, e a Salvação era atingir o mundo real, abandonar a
ilusão e as dificuldades desse mundo. O professor seria, portanto, um guia, alguém que
deveria mostrar que as paixões e prazeres desse mundo são insignificantes diante do peso e
da beleza da Salvação efetiva.
Esse sentido pode parecer religioso, mas ainda é recorrente na maneira do senso comum
interpretar a Educação em nossos dias. A percepção de que o conhecimento deve formar o
sujeito para que ele se torne um ser melhor, aqui possui sentido religioso; mas podemos
pensar no âmbito da moral. A Educação como o caminho de formação do ser humano,
incutindo valores sociais necessários é, sem dúvida, parte do legado agostiniano.
Um dos legados é a ideia de que religião e Educação podem ser tratadas como elementos
indissociáveis, isto é, a formação educacional e a formação religiosa podem e devem ser feitas
com base nos mesmos instrumentos e para o mesmo fim. Veja que as escolas de matriz
religiosa, por exemplo, continuam fortemente reconhecidas no nosso cotidiano. Além disso, os
pastores, padres e afins assumem funções didáticas com seus fiéis nas pregações e nas
homílias, demonstrando a proximidade, que bebe, sem dúvida, na tradição inaugurada por
Agostinho.
HOMILÍA
Sermão religioso ministrado por um sacerdote no decorrer de uma celebração religiosa
após a leitura da Bíblia, destinado a explicar o tema ou texto religioso.
Vimos que para Agostinho o conhecimento era advindo de Deus, mas para quem se destinava
os ensinamentos?
Quem eram os alunos?
 
Imagem: Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
Quem estudava, nesse momento, era a elite.
Essa escola servia para formar novos quadros de clérigos, mas acabava também servindo à
elite local.
RESUMO
Neste vídeo, veremos um resumo dos principais tópicos deste módulo, com foco no principal
representante da corrente filosófica Patrística: Agostinho de Hipona.
O professor RodrigoRainha explica a importância de Agostinho de Hipona na formação da
educação na Idade Média.
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FIGURAS RELEVANTES
Vamos conhecer alguns dos sujeitos que foram apresentados ao longo deste módulo.
 
Foto: Statue de Constantin Ier, Musée du Capitole, Rome/Wikimedia Commons/licença CC-BY-
2.5
 Constantino
Primeiro imperador romano a professar a religião cristã.
 
Foto: The Yorck Project (2002) /Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Papa Gregório
Criador do canto gregoriano.
 
Imagem: Antonio Rodríguez (1636 - 1691)/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Agostinho de Hipona
Representante da corrente Patrística que influenciou fortemente a Educação medieval.
 
Imagem: The Yorck Project (2002)/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Tomás de Aquino
Representante da corrente Escolástica, com influências na Filosofia e Teologia.
 
Imagem: Blaffer Foundation Collection, Houston, TX/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Paulo de Tarso
Disseminou a religião entre os gentios.
 
Imagem: Wikimedia Commons/licença CC-BY-2
 Jerônimo de Estridão
Traduziu a Bíblia para a primeira versão em latim, chamada de Vulgata.
 
Imagem: Cirilo de Alexandria em Chora/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Cirilo de Alexandria
Alcançou multidões com suas pregações, expandido a doutrina cristã.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. QUANDO O HISTORIADOR MEDIEVALISTA RONALDO AMARAL
AFIRMA QUE, “PARA PREDICAR A VERDADE CONTIDA NA LITERATURA
CRISTÃ, SOBRETUDO A BÍBLICA, PODER-SE-IA USAR AS DOUTRINAS
DOS PAGÃOS, SENDO TAL POSTURA APENAS PERMISSÍVEL, CASO
PREPARASSEM PARA O ENTENDIMENTO DAQUELA (...)”, POSSIBILITA
QUE COMPREENDAMOS O PROCESSO EM QUE SE DEU A TRANSIÇÃO
DA IDADE ANTIGA PARA A MEDIEVAL. NESTE SENTIDO, PODEMOS
AFIRMAR:
A) As obras clássicas foram destituídas de suas essências e sentido abrangente, sendo
utilizadas conforme as necessidades do cristianismo.
B) O cristianismo conquistou a história e nesta se colocou em decorrência de seu Deus ter
encarnado.
C) Autores como Platão foram utilizados, ganhando características cristianizadas em suas
proposições.
D) Os padres da Igreja não fizeram uso de absolutamente nada da cultura clássica porque
consideravam que ela era imprópria para os desígnios divinos.
2. O LATIM “FOI O FUNDAMENTO DA UNIDADE CULTURAL QUE VIRIA A
SER PROPORCIONADA PELAS ESCOLAS MANTIDAS PELA IGREJA”
(ARMINDA CAMPOS). AO ENTENDERMOS A FRASE NO CONTEXTO DO
PROCESSO EDUCACIONAL QUE SE CONCEBE NO INÍCIO DA IDADE
MÉDIA, COMO PODEMOS RESUMIR A POSIÇÃO DE AGOSTINHO DE
HIPONA?
A) A ideia de que o homem deve seguir sua natureza, explorá-la e melhorá-la como processo
educacional.
B) A ideia de que o imperador romano era uma liderança política e deveria ser tratado como
tal.
C) A ideia de usar autores não cristãos, o que poderia configurar uma heresia, para
explicações religiosas.
D) A ideia de formular debates teológicos, uma vez que a divindade e a mensagem divina não
deveriam ser discutidas.
GABARITO
1. Quando o historiador medievalista Ronaldo Amaral afirma que, “para predicar a
verdade contida na literatura cristã, sobretudo a bíblica, poder-se-ia usar as doutrinas
dos pagãos, sendo tal postura apenas permissível, caso preparassem para o
entendimento daquela (...)”, possibilita que compreendamos o processo em que se deu a
transição da Idade Antiga para a Medieval. Neste sentido, podemos afirmar:
A alternativa "A " está correta.
 
A Igreja reutilizou parte da cultura clássica, evidentemente adaptada segundo os preceitos
dessa nova cultura cristã buscou-se “cristianizar” a literatura didática herdada dos romanos.
2. O latim “foi o fundamento da unidade cultural que viria a ser proporcionada pelas
escolas mantidas pela Igreja” (Arminda Campos). Ao entendermos a frase no contexto
do processo educacional que se concebe no início da Idade Média, como podemos
resumir a posição de Agostinho de Hipona?
A alternativa "A " está correta.
 
Vamos nos situar. Agostinho é um membro da patrística, pensadores que formulam as bases
da Igreja romana. A força do pensamento patrístico é a associação e diálogo com as tradições
romanas. O pensamento expresso na letra A, seguir a natureza, tem base em Cícero, e na
melhoria do sujeito pela educação. Isso prova, que somente aquilo que fosse dogmaticamente
inaceitável do pensamento romano não-cristão seria criticado, se não afetasse o que é base do
pensamento religioso cristão, que o homem deva resistir às tentações mundanas, uma vez que
não é por si que se alcança a Salvação, mas por Jesus, o restante poderia ser lido e utiizado.
Noções como reconhecimento das autoridades seculares, uso de autores da tradição clássica
e introdução às dinâmicas de debates – inclusive nos concílios – foram adaptadas e bem vistas
por Agostinho e pelos principais membros da Igreja, como a própria manutenção do uso do
latim deixa claro.
MÓDULO 2
 Descrever a importância das artes liberais para a formação dos sujeitos na Idade
Média
INTRODUÇÃO
Boa parte do conhecimento originário da Antiguidade foi preservado graças ao papel
desempenhado pelos mosteiros e igrejas, que reproduziram manuscritos clássicos e
elaboraram manuais e enciclopédias. Depois da Patrística, uma nova geração de bispos se
notabilizou por escrever, defender e disseminar a Educação, como Marciano Capela,
Cassiodoro, Boécio, Isidoro de Sevilha e Beda.
CURIOSIDADE HISTÓRICA
No século IV, houve o aparecimento do códice, que levou ao desaparecimento do papiro –
formato de pergaminho. Tal invenção teve consequências psicológicas fundamentais, pois
permitiu dispensar um escravo leitor quando havia necessidade de se tomar nota. Podia-se
estudar o texto com uma das mãos e escrever com a outra, ou seja, ler e escrever
simultaneamente, o que reforçou a prática da leitura mental. Também ofereceu a facilidade de
copiar um texto ou comparar vários exemplares ao mesmo tempo.
Devemos lembrar que o pensamento de Agostinho é referência na orientação dos estudos
nessa fase, o que significa que continuamos com a figura dos mestres e dos discípulos, com a
relação pessoal e com a Educação como um caminho para a Salvação. Por outro lado, os
conhecimentos do mundo antigo permanecem vivos e presentes.
O modelo patrístico é um dos mais longos e presentes. Por isso, neste segundo módulo,
estudaremos seu modelo “curricular”. As aspas não são à toa, pois seria anacronismo imaginar
a existência de um currículo escolar nesse momento. Porém, há conteúdos que são centrais
para a Educação ao longo de toda Idade Média e um legado que ainda nos influencia
atualmente.
Antes de nos aprofundarmos, vamos conhecer melhor o contexto histórico.
O professor Rodrigo Rainha nos explica os principais pontos da Alta Idade Média, expondo os
motivos que levaram à conversão dos povos pagãos ao cristianismo.
AS SETE ARTES LIBERAIS
Quando falamos em Educação no período em questão, notamos a prevalência do modelo
chamado de Sete Artes Liberais, que foi criado por Marciano Capela. Essa divisão é marcada
por três artes da alma (Trivium), inspiradas por Deus, e quatro artes humanas (Quadrivium),
como veremos a seguir.
MARCIANO CAPELA
“Marciano Capela foi um escritor romano da África no século V e contemporâneo de
Agostinho. Esse intelectual escreveu uma enciclopédia, dividida em nove volumes,
intitulada As Núpcias de Filologia com Mercúrio, cujos dois primeiros livros tratam das
bodas de Filologia com Mercúrio e os outros sete exemplares aludem às sete artes
liberais. Esse texto teve como inspiração a enciclopédia de Varrão – Sobre as Nove
Disciplinas –, mas Capela incorporou em sua obra apenas sete artes: Gramática,
Retórica, Dialética, Geometria, Aritmética, Astronomia e Harmonia, excluindo a Medicina
e a Arquitetura. Esse trabalho foi de suma importância para a Idade Média, pois serviu de
base para estudiosos e para as escolas desse período e só sofreu uma ampliação no
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século XIII, no qual foram incorporadas as disciplinas filosóficase científicas “(NUNES,
1979, p. 74-75).
TRIVIUM
A capacidade de bem falar, bem escrever e bem argumentar é atribuída à Santíssima
Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo.
 
Imagem: Les sept arts libéraux/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
DIALÉTICA
Exercício filosófico do convencimento, o ponto preciso para se atingir a verdade. É uma das
grandes bases de relação entre o exercício da cultura greco-romano e a religião.
 
Imagem: Les sept arts libéraux/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
RETÓRICA
Exercício do bem falar, da praça pública, e lida com estilo, com o envolvimento.
 
Imagem: Les sept arts libéraux/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
GRAMÁTICA
Exercício de escrever, dominar os aspectos do que já havia sido escrito, reproduzir e construir
a escrita com perfeição. O latim era uma língua entendida como sagrada.
QUADRIVIUM
As artes humanas tinham relação direta com a mão humana, trabalhos artesanais e com a
interpretação do mundo.
 
Imagem: Les sept arts libéraux/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
ARITMÉTICA
Representa a interpretação do mundo, a base matemática de explicação das coisas. Ela fez
com que muitos clérigos virassem contadores, ou controladores dos reinos. Os números são
seu principal objeto.
 
Imagem: Les sept arts libéraux/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
GEOMETRIA
Era usada nos exercícios de medida, normalmente voltados à prática e à interpretação da
prática, como construção de moinhos, rodas de transportes e construções como igrejas e
muralhas. Envolve também a medida de distâncias, rios e trajetos diversos.
 
Imagem: Les sept arts libéraux/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
MÚSICA
Muitos não sabem, mas existiam escalas e teoria musical na Idade Média. No entanto, é
importante destacar que, para a Igreja, só era música aquilo que tinha as escalas corretas,
tocadas nos ambientes corretos e com o objetivo de aproximar o homem de Deus. Músicas de
festa e cantos de guerra eram duramente recriminados.
 
Imagem: Les sept arts libéraux/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
ASTRONOMIA
A mais contestada das artes. Muitos defendiam que era perigosa por ser confundida com
relações pagãs, pois era responsável pelas colheitas, marcação de datas e calendários e ainda
efeitos.
Todas as artes eram adaptações ordenadas de estudos que já existiam no mundo grego. De
alguma forma, é como se tivessem criado um currículo.
O homem comum aprendia o quadrivium, mas o trivium era para aqueles que gostariam de
assumir uma outra condição, de líderes, de próximos à Igreja.
Ao passo que as instituições escolares oficiais e a dos mestres particulares (literatores) iam
sumindo, a Igreja passou a adotar medidas para garantir a formação dos pretendentes ao
sacerdócio, com o objetivo de promover a instrução básica indispensável para o ofício do
ministério sacerdotal. A fase inicial desse ensino era realizada nas escolas paroquiais,
enquanto o nível superior nas episcopais/catedralícias.
Também devemos destacar as escolas monásticas. Estas se originaram a partir dos mosteiros,
ainda sem a adesão dos estudos filosóficos. A regra agostiniana, por exemplo, recomenda
muitas horas de estudo, enquanto a Regula Monachorum, de São Jerônimo, sugere instruir-se
com os filósofos segundo a sua utilidade religiosa. Por fim, os mosteiros beneditinos, na
prática, podem ser avaliados como “escola”, afinal, a própria Regra de São Bento indica duas
noções pedagógicas em seu capítulo 30:
“Cada idade e cada inteligência deve ser tratada segundo medidas próprias e os que cometem
faltas serão punidos com muitos jejuns ou refreados com ásperas varas, acris verberibus”.
 
Imagem: Santa Maria Gloriosa dei Frari, Sacristy - Triptych Madonna and Child/Wikimedia
Commons/licença CC-BY-4.0
 São Bento.
É importante informar que a cultura intelectual estava monopolizada pela Igreja. Isso fazia da
Educação um campo feito de sacerdotes para sacerdotes, com os conteúdos orientados às
necessidades do culto. Desse modo, nas escolas paroquiais, episcopais e, especialmente, nas
monásticas – diga-se de passagem, na realidade, as únicas existentes –, lecionava-se as
denominadas Sete Artes Liberais.
Você sabe por que 7 é um número tão importante para o cristianismo?
O numeral é a referência da perfeição, são as idades do mundo, é marca do escolhido.
 
Imagem: Philosophia et septem artes liberales (Philosophy and the Seven Liberal Arts), as
illustrated in Hortus deliciarum/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Philosophia et septem artes liberales (Filosofia e As Sete Artes liberais) Herrad de
Landsberg, da obra Hortus Deliciarum (século XII)
Ainda não entendeu o conceito e o papel das artes liberais? Veja os exemplos a seguir:
O bispo Isidoro de Sevilha, pensador visigodo da passagem do século VI para o VII, em sua
obra Etimologias, definiu as artes liberais da seguinte forma:
“As artes liberais consistem em sete disciplinas. A primeira é a gramática, isto é, a capacidade
de falar. A segunda, a retórica, que, pela elegância e recursos da eloquência, é considerada
extremamente essencial nos assuntos civis. Terceiro, a dialética, também chamada de lógica,
que, com os argumentos mais sutis, separa o verdadeiro do falso. Quarta, aritmética, cujo
conteúdo são os fundamentos e divisões dos números. A quinta é a música, que lida com
esquemas e métricas. O sexto, a geometria, que inclui as medidas e dimensões terrestres. E a
sétima, astronomia, que lida com as leis das estrelas”.
 
Foto: Statue of Isidore of Seville/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Isidoro de Sevilha.
Mas por que elas eram tão importantes para o bispo?
Ele era um conselheiro do rei, líder de uma das cidades mais importantes do reino. Assim,
mostrar o quanto era educado para seus pares e para o povo indicava o quão diferente ele era.
Na Alta Idade Média, a erudição e o domínio das Sete Artes Liberais eram considerados
fatores de diferenciação e importância dentro e fora da Igreja.
O reino ostrogodo tinha, ao longo do século VI, a referência do monarca Teodorico, seguidor de
uma versão herética do cristianismo conhecida como arianismo. Depois de vencer os romanos,
negociou com o bispo de Roma, Gregório Magno.
Para que uma certa autonomia fosse dada à Igreja na cidade de Roma, ao mesmo tempo, a
Igreja deveria legitimar e reconhecer o seu poder.
Para facilitar esse trabalho, foi chamado Boécio, retórico importante, membro vinculado à
Igreja, que deveria comandar a construção legislativa nas negociações com as lideranças
locais e na articulação política de Teodorico.
 
Imagem: H.F. Helmolt, History of the World, Volume VII, Dodd Mead 1902. Portion of the right
half of plate between pages 154 and 155/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.
 Teodorico, o Grande - Rei dos Ostrogodos.
Teodorico adotou práticas dos antigos imperadores romanos e, como forma de garantir essa
disseminação, permitiu a ampliação das escolas – escolas de bispos e monásticas que
formavam novos clérigos e um corpo burocrático cristão para administrar querelas que
remetessem à atuação econômica, como cobrança de impostos, e mediadores em questões
políticas.
Os “currículos” dessas escolas eram todos pautados nas Sete Artes Liberais.
HISTÓRIAS ARTURIANAS
Durante a Alta Idade Média, os reinos viviam um quadro de constante disputas, quedas e
substituição das estruturas políticas. Nesse momento, aparece uma das principais iconografias
representativas da Idade Média: as histórias arturianas.
Nos séculos anteriores, as ilhas britânicas eram o verdadeiro fim do mundo romano. As
muralhas de Adriano representavam, de alguma forma, o fim da civilidade.
MURALHAS DE ADRIANO
Construção de pedra e madeira feita no norte da Inglaterra, na fronteira com a Escócia,
em homenagem ao Imperador Adriano. Foi construída entre os anos de 122 e 126. Essa
é a muralha mais extensa construída durante o Império Romano.
 
Imagem: British Heritage
 Mapa da Muralha de Adriano.
A ideia de fim do mundo acaba sendoum processo dúbio. Por um lado, o centro-sul da Ilha se
afirmava com um bastião romano. O norte e a Irlanda, por sua vez, eram um espaço místico,
bárbaro e iconográfico. Durante as “invasões saxônicas” à ilha, passaram a coexistir três
tradições – as locais, tidas como místicas, as romanas e a dos novos grupos, entendidos como
bárbaros.
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Foto: Arthur as one of the Nine Worthies, tapestry, c. 1385/Wikimedia Commons/licença CC-
BY-2.5
 Tapeçaria retratando Arthur usando uma vestimenta com um brasão 
geralmente atribuído a sua figura.
Ainda que derrotados pelos saxões, a ideia de que um libertador reuniria as forças locais e
expulsaria os inimigos passa a ser fortemente construída. A figura de Arthur só ganhou seus
contornos mais típicos nos textos franceses do século XII, mas já revelava um certo espírito
das ilhas britânicas em imaginar um salvador político.
Por que essa história é importante para a Educação?
A ideia de um unificador, um salvador que uniria aqueles povos, também seria utilizada pela
religião, mas de forma diferente. Se um une pela espada, o outro une pela palavra, pela
proposta de unir as pessoas sob uma mensagem de cunho religioso. A Educação teria a
função de mostrar esse papel. Existem muitos “mitos” britânicos nesse sentido, mas o mais
famoso é Beda, o Venerável, que, na Irlanda, fundou mosteiros, recuperou Patrício como herói
que trouxe o cristianismo aos bárbaros e explicou como a Educação, pautada nas Sete Artes
Liberais, era o caminho para a religião e, por consequência, para a Salvação.
PATRÍCIO
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Conhecido como São Patrício ou Saint Patrick, foi o primeiro a levar o cristianismo à
Irlanda, pregando sem negar totalmente os cultos locais que encontra e, por isso, é tão
querido.
ESTUDO DA TEOLOGIA
Finalizadas as etapas do Trivium e do Quadrivium, passava-se para o último nível: o estudo da
Teologia. Vale lembrar que a Teologia era considerada na Idade Média o saber capital, ao qual
os eclesiásticos se voltariam por toda a vida. Em razão do ambiente cultural e do próprio
objetivo que se conferia ao conhecimento, o pleno desenvolvimento das “ciências
investigativas” ficava restrito. Prevalecia o princípio de que o fim último do homem era chegar
ao Reino de Deus e que a Revelação se encontrava nas Sagradas Escrituras. Dessa maneira,
não se procurava contemplar a natureza com o intuito de formular deduções explicativas ou
mesmo elaborar hipóteses, mas unicamente para procurar os símbolos dos desígnios divinos.
 
Fonte: Shutterstock.com
 Bíblia medieval.
FIGURAS RELEVANTES
Vamos conhecer alguns dos sujeitos que foram apresentados ao longo deste módulo.
 
Foto: BnF, Manuscrits, Latin 7900 A fol. 127v/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Marciano Capela
Organizador de um casamento entre a cultura clássica e os saberes cristãos, estabelecendo-o
em um modelo que pudesse ser disseminado.
 
Foto: Statue of Isidore of Seville/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Bispo Isidoro de Sevilha
Primado do reino visigodo – uma espécie de arcebispo – educou reis e organizou uma escola
importante em Sevilha. Sua obra mais importante são as Etimologias – que buscavam reunir
todo o conhecimento do mundo até aquele momento.
 
Imagem: Fulda workshop - Leiden, University Library, Ms. vul. 46/Wikimedia Commons/licença
CC-BY-2.5
 Cassiodoro
Monge, fundador do mosteiro de Vivarium. Foi conselheiro de Teodorico e, com a queda deste,
se refugiou em Constantinopla, onde foi acusado de traição.
 
Imagem: Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Boécio
Líder romano e cristão da península Itálica durante grande parte do governo Ostrogodo.
Organizou bibliotecas, escolas e criou uma nova dinâmica de relação com os “bárbaros”. Por
conta de intrigas foi julgado e condenado à morte.
 
Imagem: Depiction of the Venerable Bede (CLVIIIv) from the Nuremberg Chronicle,
1493/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Beda
Consolidador do cristianismo nas ilhas britânicas a partir de um modelo de criação de
mosteiros. Pregava em língua local, traduzindo textos, organizando uma teologia que fizesse
sentido para aqueles povos.
 
Imagem: Santa Maria Gloriosa dei Frari, Sacristy - Triptych Madonna and Child
 São Bento
Considerado um dos primeiros santos ocidentais do cristianismo. Criador da Regra Beneditina,
um dos regulamentos de vida monástica mais importantes e utilizados.
 
Imagem: H.F. Helmolt, History of the World, Volume VII, Dodd Mead 1902. Portion of the right
half of plate between pages 154 and 155/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Teodorico
Monarca ostrogodo conhecido como O Grande, era um estrategista militar de excelência.
Permitiu a ampliação das escolas de bispos e monásticas que formavam novos clérigos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. HERDADAS DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA E ORGANIZADAS NA IDADE
MÉDIA, AS ARTES LIBERAIS ERAM DIVIDIDAS EM:
A) Trivium (Dialética, Gramática e Música) e Quadrivium (Aritmética, Lógica, Química e
Filosofia).
B) Quadrivium (Música, Química e Retórica) e Trivium (Dialética, Astronomia, Filosofia e
Geometria).
C) Trivium (Astronomia, Música e Retórica) e Quadrivium (Química, Filosofia, Gramática e
Geometria).
D) Trivium (Dialética, Gramática e Retórica) e Quadrivium (Aritmética, Astronomia, Música e
Geometria).
2. MARCIANO CAPELA FOI UM DOS QUE MAIS CONTRIBUIU PARA O
DESENVOLVIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DAS SETE ARTES LIBERAIS. O
CONJUNTO CONHECIDO COMO QUADRIVIUM TEM NO SEU ENTORNO
UM GRUPO DE CONHECIMENTOS QUE LISTAMOS, CUJO FIM ERA:
A) Treinar e preparar o homem para as práticas do século.
B) Fazer com que o sujeito pudesse se desenvolver neste mundo.
C) Dominar o mundo conforme o desejo expresso na Criação.
D) Liderar os homens para que pudessem alcançar a Salvação.
GABARITO
1. Herdadas da Antiguidade Clássica e organizadas na Idade Média, as artes liberais
eram divididas em:
A alternativa "D " está correta.
 
As Sete Artes Liberais, que representavam as disciplinas acadêmicas, eram desempenhadas
por homens livres, devidamente direcionados pelos membros da Igreja. Lembrando que o
Trivium corresponde às artes do espírito e o Quadrivium, às artes do corpo.
2. Marciano Capela foi um dos que mais contribuiu para o desenvolvimento e
consolidação das Sete Artes Liberais. O conjunto conhecido como Quadrivium tem no
seu entorno um grupo de conhecimentos que listamos, cujo fim era:
A alternativa "B " está correta.
 
O “currículo” escolar medieval era dividido em duas fases. Na primeira parte, estudava-se o
Trivium (Gramática, Retórica e Dialética). Na segunda fase, aprendia-se as disciplinas que
compõem o Quadrivium (Aritmética, Geometria, Astronomia e Música). O objetivo desse
currículo era preparar o homem para o mundo, sendo uma herança das artes mecânicas.
MÓDULO 3
 Comparar aspectos da Reforma Carolíngia e da Educação islâmica na Europa
Ocidental
INTRODUÇÃO
Agora vamos falar da segunda grande reforma da Educação na Idade Média: a Escolástica.
Muitos manuais de História da Educação citariam Tomás de Aquino e a recuperação de textos
aristotélicos, um movimento chamado de racionalismo cristão. Mas falta uma peça desse
quebra-cabeça, pois, é claro, que não foi uma mudança repentina a ideia de mudar o caminho
filosófico que seguíamos e, com isso, a Educação.
ESCOLÁSTICA
Termo que significa produção intelectual ligada à escola.
A Escolástica é um movimento que vem de diversas influências. Optamos por duas delas:
REFORMA CAROLÍNGIA
Termo histórico inventado para mostrar como importantes mudanças da Educação na corte de
Carlos Magno foram iniciadas e abriram caminho para a Escolástica.

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INFLUÊNCIA DOS MUÇULMANOS
Maomé não trouxe só outra religião. A partir da sua fundação, um novo mundo, um novo
sistema de governo e uma nova forma de ver a Educação foram criados. O tamanho e o poder
dessa presença foram tão grandes que fizeram com que eles dominassem norte da África, sul
da Europa e partes importantesda Ásia. Mas não era pela espada, era uma expansão que
tinha muito comércio e cultura.
CONTEXTO: IMPÉRIO CAROLÍNGIO X
ISLAMISMO
Essas duas culturas desempenharam importante papel na História da Educação e a junção
dessas influências possibilitam a compreensão do surgimento da Escolástica. A seguir,
identificaremos o ponto de vista dessas culturas tão diferentes e muito importantes para o
desenvolvimento da Educação.
Especialistas debatem o ponto de vista de cada uma das culturas.
Veremos, a seguir, como cada cultura, cristã e islâmica, se desenvolveu, além de suas
influências na Educação durante a passagem da Alta Idade Média para a Baixa Idade Média.
CULTURA CRISTÃ X ISLÂMICA
Será que é possível comparar as duas culturas? Sim, é. Vamos perceber as características de
um modelo e de outro e, dessa forma, mostrar como a Escolástica bebe desta relação.
Erudição
ISLAMISMO
Essa cultura teve dois tipos de escola: elementar e superior. Na escola elementar, o foco do
ensino era o Alcorão, que possui um conteúdo interdisciplinar, pois aborda, além da questão
religiosa, assuntos sobre direito, política, sociedade e noções básicas sobre ciências. Já no
ensino superior, além da abordagem religiosa, havia várias áreas do saber, como a Química e
a Erontologia, estudo do sexo, e a Medicina – inclusive com o desenvolvimento de cirurgias. 
 
A erudição se manifestava pela tradução de intelectuais de diversas religiões e partes do
mundo para o árabe, permitindo que suas ideias circulassem.
SEXO
Para os muçulmanos o sexo e o prazer eram divinos, entendidos como um presente de
Alá. Por isso precisava ser estudado, para ser aprimorado e garantir o máximo de prazer
ao casal.

CRISTIANISMO
O que dá legitimidade a algum elemento, ou seja, o que deixa algo reconhecido de forma viva e
valorizada? Mostrar que existem antecessores importantes e pares poderosos. Esse é um
traço da cultura escolar construída. O tempo todo afirma-se por meio de herdeiros de santos,
herdeiros de intelectuais, pares de reis, bispos, ou seja, criando uma rede, que é valorizada ao
dizer que um estudou com o outro e isso foi tônica durante o Renascimento Carolíngio. 
 
A pregação é feita sempre usando as Sagradas Escrituras, mas nunca apenas elas.
Primeiramente, o pregador mostra como é erudito e busca as palavras de um clérigo
importante que tenha comentado sobre a mesma passagem.
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Escrita
O sentimento de que o mundo falava árabe era comum aos cronistas que, ao andar pelo
mundo, sempre encontravam alguém que conhecia o idioma. A expansão do islamismo teve
diversos desafios, mas um dos maiores foi integrar povos tão diversos. Os muçulmanos não
impunham a sua religião, no entanto, davam vantagens a quem se convertia. 
 
Mesmo para grupos tão diferentes, todos os que buscavam a conversão precisavam escrever e
falar em árabe. O entendimento era de que o Alcorão não era uma revelação só pela
mensagem, mas na forma. O árabe era a língua em que a mensagem se manifestou.
 
Assim, durante a aquisição das primeiras letras, nas escolas fundamentais, a instrução aos
jovens começava pelo mesmo caminho: ensino da língua e domínio da escrita árabe.

Para mostrar e difundir este olhar sobre a Educação, não basta uma revisão superficial do texto
bíblico, que já tinha sido modificado no decorrer dos séculos. Era preciso ir além. Assim, duas
inovações foram seguidas. A primeira foi a adoção de uma escrita de melhor qualidade. Dessa
forma, os clérigos carolíngios generalizam o uso da minúscula carolíngia, espécie de letra
menor e mais elegante, que foi utilizada nos séculos precedentes. Essa mudança tornou os
livros mais manuseáveis e legíveis. 
 
A segunda mudança, também na época carolíngia, foi a adoção do hábito de separar as
palavras e as frases umas das outras com um novo sistema de pontuação em oposição ao
modo antigo de escrita que o ignorava completamente. 
 
Essas duas alterações, acrescidas de uma melhor organização dos scriptoria favoreceu a
popularização da escrita.
MELHOR ORGANIZAÇÃO
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Os monges passaram a trabalhar em equipes, dividindo as várias seções de uma mesma
obra. Com isso, a produção de livros cresceu de maneira considerável. No entanto, é
preciso lembrar que o efetivo destas obras ainda está ligado à necessidade do culto
cristão, mas outras, menos numerosas, concernem à literatura latina clássica.
SCRIPTORIA
Locais em que os monges copistas ficavam reunidos para as cópias, verdadeiras fábricas
de produção com revisores, coordenadores para tirar dúvidas, ilustradores e
preparadores dos documentos finais.
Língua
O crescimento de seu domínio e o despertar do interesse de governos gerava uma ampla
circulação de pessoas, que desejavam conhecer e dominar a língua e os ensinamentos. O
reino do Gana, por exemplo, vai aos principais intelectuais pedir ajuda para se converter.
Turcos e mongóis, que surgem como inimigos da religião e do domínio muçulmano, acabam
sendo convertidos pelos seus líderes à nova religião. 
 
Professores e intelectuais eram contratados nas cidades maiores e circulavam pelo mundo
muçulmano dedicados a ensinar a língua e outros fundamentos da cultura e da religião. Esse
interesse se dava pelo que representava seus conhecimentos. Sua expansão fazia com que o
mundo conhecesse seus domínios de medicina, leis, navegação etc. As trocas constantes e
intensas geraram uma rica dinâmica comercial e cultural. Não é exagero dizer que, durante a
Idade Média, o mundo muçulmano representava os mais importantes centros de cultura,
pesquisa e comércio, atraindo vários povos.
GANA
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Reino africano de grande desenvolvimento e intensa troca comercial com as regiões do
Saara e norte da África. Sua conversão foi pelo desejo dos reis de se integrar àquela
nova cultura. Buscaram trazer intelectuais e fazer construções que indicassem seu
desenvolvimento.

Outra forma de divulgação das obras antigas é a perpetuação de um conhecimento regular das
regras do latim, que faz com que a gramática e a retórica sejam as principais disciplinas da
erudição carolíngia. Vale lembrar que estamos em um período em que a língua latina evolui de
maneira distinta em cada região. Nesse momento, os eclesiásticos carolíngios adotam uma
decisão que conduziu o futuro linguístico da Europa. Eles admitiam que as línguas faladas
pelas populações se distanciavam irrevogavelmente do latim clássico, a ponto de
aconselharem que os sermões fossem traduzidos para as distintas línguas vulgares. 
 
De um lado, havia uma multiplicidade de línguas vernáculas faladas localmente pela população
e, de outro, uma língua erudita, aquela do texto sagrado e da Igreja, incompreensível para os
fiéis.
VULGAR
Latim vulgar: os carolíngios restauraram a língua latina, não precisamente em sua pureza
clássica, mas em sua variante simplificada. Eles procuravam garantir a transmissão de
um texto bíblico correto, bem como, a compreensão dos alicerces do pensamento cristão.
Mas, concomitantemente, eles abriram a via do bilinguismo, que caracteriza toda a Idade
Média.
Escolas
A instrução básica ocorria em centros formados dentro das mesquitas. Deveria ser ensinado a
todos uma formação básica no idioma e alguns rudimentos de filosofia/religião islâmica. 
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Os estudos avançados eram realizados em centros maiores conhecidos como “Casas de
Cultura” chamados por muitos de embriões das universidades medievais. Esses espaços
reuniam escritos, sábios de regiões diversas e o ensino era marcado pelo ecletismo. Só
poderiam participar muçulmanos ou povos dos livros – salvo quando cristãos e muçulmanos
estavam em conflito.
POVOS DOS LIVROS
Forma como os muçulmanos chamavam os sujeitos que seguiam os livros: Torá e
Talmude (judeus) e Bíblia (cristãos).

As escolas cristãs eram organizadas principalmente nos mosteiros. A partir dos oito anos, as
crianças seguiam para esses locais e, ao completarem 18 anos,poderiam escolher se
seguiriam a vida eclesiástica ou não. No período do governo Franco de Carlos Magno, surgem
as primeiras escolas nas cidades, com profissionais que ofereciam seus serviços como
professores particulares. Esses locais eram reconhecidos como escolas menores. Elas eram
depreciadas pelas grandes escolas monacais e, por isso, tratadas com desdém, como
escolinhas ou Escolástica. Em pouco tempo, esses professores e as escolas dos centros
urbanos motivaram uma importante mudança no pensamento medieval.
Podemos dizer que os francos salvaram a cultura ocidental? Claro que não! Há outros povos
importantes. Quer conhecer mais? Leia o texto Os visigodos no Explore +.
CURIOSIDADE HISTÓRICA
Muitos imaginam que somente os homens escreviam e que as mulheres estavam fora desse
processo, mas não era bem assim. Alcuíno, conselheiro de Carlos Magno, é também o
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conselheiro de Gisele, irmã de Carlos Magno e abadessa de Chelles. Ela foi estimulada a
desenvolver uma vida intelectual e uma intensa atividade de cópia de manuscritos em seu
mosteiro. Uma grande aristocrata da Aquitânia, Dhuoda, longe da corte, transmitiu saber, no
começo do século IX, ao seu filho Bernardo, duque de Septimânia, redigindo para ele um
manual educativo.
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO NA
CULTURA ISLÂMICA
O povo árabe foi, de alguma forma, aquele que reinseriu a cultura clássica no Ocidente. Esse
fato foi possível em virtude, do entendimento que tiveram da ciência grega, o que não se
caracterizou como imitação. Dessa maneira, ao inserir seus elementos religiosos e científicos,
acabaram difundindo elementos gregos que tinham sido remodelados. O ensino árabe também
recebeu forte influência das escolas gregas e romanas.
Em parte, isso se deu pelo ensinamento de Maomé que mandou que seu povo fosse atrás do
conhecimento não importando onde tivesse que chegar. Trilhando esse princípio, filósofos e
sábios árabes edificaram uma grande civilização que incorporou a cultura e o conhecimento de
outros povos. Foi dessa maneira que os árabes transmitiram grande conhecimento à Europa,
como ocorreu, por exemplo, com a bússola, o astrolábio, o papel e a pólvora (PILETTI;
PILETTI, 2012, p. 51-52).
A religião islâmica se expandiu para além das fronteiras do mundo árabe. Em 711, consolidava
seu domínio na península Ibérica, dominando uma parte importante deste território.
A expansão muçulmana cessa com a vitória de Carlos Martel em Poitiers. Ainda que os
carolíngios sejam exaltados por essa vitória, não devemos imaginar anos de conflito na relação
entre cristãos e muçulmanos. Depois da expansão no século VIII, os séculos seguintes foram
marcados pela intensa troca comercial entre esses povos. Como sabemos, o comércio leva
bem mais que seus produtos. Dessa forma, elementos da cultura árabe-islâmica se difundiram
e influenciaram o pensamento cristão.
Durante o domínio muçulmano na península Ibérica, os cristãos que permaneceram em suas
regiões aprenderam a falar e escrever em árabe e nas línguas locais. Essa troca permitiu que
tradutores recuperassem textos da Grécia Clássica – Aristóteles, principalmente –, que só
existiam, até então, em árabe para as línguas conhecidas, fundamentando o caminho para o
racionalismo cristão no século XII.
Normalmente, imaginamos um mundo de conflito, em especial quando começam os
movimentos das Cruzadas, em 1095, mas a relação de troca no mundo mediterrânico foi
intensa. Em um primeiro momento, os textos gregos traduzidos para o árabe ajudam a
consolidar os espaços culturais muçulmanos conhecidos como casas de cultura. Depois,
esses mesmos materiais foram traduzidos do árabe para as línguas românticas (início das
línguas modernas).
CRUZADAS
As Cruzadas são normalmente explicadas como um movimento cristão para retomada da
Terra Santa, mas é muito mais do que isso. O mundo muçulmano, mais rico e dinâmico,
também era marcado por conflitos, em especial após a conversão dos turcos. Tais
embates foram incrementados quando a recuperação econômica europeia gerou o
aumento da população e dos conflitos e a Igreja passou a fomentar que as guerras não
deveriam ser travadas entre cristãos, mas direcionadas aos infiéis. As disputas foram
marcantes no Oriente Próximo, mudando a região, mas não podem ser entendidas
apenas como um conflito generalizado. O outro lado dessas batalhas envolve aumento da
troca entre esses povos, troca de textos, costumes, tecnologia e comércio.
CASAS DE CULTURA
Instituições localizadas nas principais cidades árabes, foram chamadas de embrião das
universidades europeias medievais. Elas eram instituições de ensino autônomas e tinham
professores de diferentes religiões, como cristãos e judeus. O público também era
diversificado, pois recebiam alunos de todo o Ocidente. Houve o fortalecimento da
Filosofia e da Ciência Natural dos gregos.
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DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO NA
CULTURA CRISTÃ
As reformas realizadas por Carlos Magno e seus conselheiros foram importantes. A principal
delas foi a reforma da escrita. A nova escrita, minúscula carolíngia, é clara, normalizada,
elegante, mais fácil de ler e escrever. Podemos dizer que foi a primeira escrita europeia. Numa
intensa atividade de cópia de manuscritos nos scriptoria monásticos, reais e episcopais,
Alcuíno introduziu uma nova preocupação com a clareza e a pontuação.
 
Imagem: Page of text (folio 160v) from a Carolingian Gospel Book (British Library, MS Add.
11848), written in Carolingian minuscule/wikimedia Commons/Licença CC-BY-AS-3.0
 Exemplo de minúscula carolíngia.
Carlos Magno também buscou corrigir o texto da Bíblia. Esse cuidado de correção, que
animará a grande atividade de exegese bíblica no Ocidente Medieval, é uma preocupação
importante que concilia o respeito pelo texto sagrado original e a legitimidade das emendas
devidas ao progresso dos conhecimentos e da instrução.
A renascença carolíngia impõe-se ainda hoje, sobretudo pela riqueza de sua ilustração, as
iluminuras.
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ILUMINURAS
Na acepção atual, a iluminura é uma imagem realizada em um manuscrito, do mesmo
modo como a miniatura. Não obstante, no período medieval, o verbo latino iluminare
significava o ato de pintar, e não propriamente a fabricação das imagens dos livros em si.
Alguns evangeliários ou saltérios (salmos) são obras de arte carolíngia. O gosto pelo texto dos
salmos, que atravessará a Idade Média, fez nascer na Europa um atrativo pela poesia bíblica
que dura até hoje.
RUMO À ESCOLÁSTICA
A Educação urbana, considerada menor, que passou a se organizar e se difundir a partir da
Reforma Carolíngia, é fortalecida com o crescimento das cidades. Assim, aumentaram as
trocas comerciais e culturais com o mundo muçulmano. A soma destes dois fatores criou um
terreno fértil para outra cultura educacional.
Por isso, o movimento intelectual conhecido como Escolástica, que marca a mudança do
pensamento educacional medieval, só pode ser compreendido a partir do entendimento deste
novo mundo.
FIGURAS RELEVANTES
Vamos conhecer alguns dos sujeitos que foram apresentados ao longo deste módulo.
 
Imagem: Bibliothèque nationale de France / Expositions virtuelles / Galerie du livre et de la
littérature / L'art du livre arabe / Pistes pédagogiques / Les religions du livre / Filiations Le
Prophète Mahomet/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Maomé
O profeta dos muçulmanos. Como portador da mensagem, lidera o processo político-religioso
de fundamentar a umma – união dos seguidores do profeta – sua ação praticamente unifica a
península Arábica e, com suas propostas, fundamenta os pilares da nova religião.
 
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
 Carlos Magno
Foi coroado pelo papa em Roma e aclamado como imperador. Manteve uma apurada política
de vitórias militares e não se afastou dos ideais políticos francos, deixando o reino para todos
seus filhos.
 
Imagem: Manuscript: Wien, Österreichische Nationalbibliothek,cod.652, fol. 2v/Wikimedia
Commons/licença CC-BY-2.5
 Alcuíno
Foi importante conselheiro de Carlos Magno, fundamentando a organização das principais
escolas do reino, tanto para formar nobres como para organizar os mosteiros – femininos e
masculinos.
 
Imagem: Scanned image from a book entitled Silsilat A'lam Al-thaqafa Al 'arabiyya/Wikimedia
Commons/licença CC-BY-2.5
 Alfarabi
Filósofo e teólogo que fundamenta um movimento aristotélico no mundo muçulmano, atuando
na aproximação entre as questões políticas e filosóficas. O conhecimento é algo integrado.
 
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
 Averróis
Filósofo que fundamentava seu olhar em Aristóteles, estudou Teologia, Medicina, Direito,
Filosofia e Matemática. Sua grande contribuição foi por seus comentários às obras de
Aristóteles, que foram de suma importância para o Renascimento na Europa medieval.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. O POVO ÁRABE TEVE GRANDE RELEVÂNCIA PARA A CULTURA
OCIDENTAL E, NA QUESTÃO EDUCACIONAL, CONTRIBUIU MUITO PARA
O AVANÇO DA CIÊNCIA E FILOSOFIA DO PERÍODO MEDIEVAL. O ENSINO
DO ÁRABE E SUA DIFUSÃO ERA PARTE FUNDAMENTAL DESTE
PROCESSO, AINDA QUE AS POPULAÇÕES ISLÂMICAS NÃO FOSSEM
NECESSARIAMENTE DE ORIGEM ÁRABE. O DOMÍNIO DA LÍNGUA
ÁRABE COMO BASE DO FUNDAMENTO DA EDUCAÇÃO CONSTITUIU-SE
POR QUAL MOTIVO?
A) Os árabes acreditavam que a sua grafia era divina, inspirada por Alá para difundir a religião
e, por isso, precisava ser preservada.
B) A tradição árabe exigia que a sua língua étnica fosse mantida para garantir uma unidade
política.
C) O Alcorão foi revelado em árabe e envolvia o domínio da língua para sua compreensão,
passando a ser a base da alfabetização das regiões de expansão da religião.
D) O Alcorão conta a história dos povos árabes e as ações de Alá e, por isso, era exigida a
manutenção da língua árabe para identidade de grupo.
2. O IMPÉRIO CAROLÍNGIO, COM CARLOS MAGNO, CERCOU-SE DE
LETRADOS E DE SÁBIOS, OS CHAMADOS “INTELECTUAIS DO
PALÁCIO”. ENTRE OS NOMES ESTÃO, POR EXEMPLO, O LOMBARDO
PAULO, O DIÁCONO, O ITALIANO PAULINO DE AQUILEIA, O ESPANHOL
TEODULFO DE ORLEANS, O ABADE DE FLEURY-SUR-LOIRE E,
SOBRETUDO, O ANGLO-SAXÃO ALCUÍNO. ESSE MOVIMENTO FICOU
CONHECIDO POR RENASCIMENTO CAROLÍNGIO POR TER PROMOVIDO
UMA SÉRIE DE AVANÇOS NA QUESTÃO CULTURAL E EDUCACIONAL
QUE IMPACTARAM A EUROPA MEDIEVAL. COM BASE NISSO,
IDENTIFIQUE QUAIS FORAM OS DOIS PRINCIPAIS AVANÇOS DESSE
PERÍODO:
A) Redefinir usos litúrgicos e normatizar a vida monástica do império.
B) Fizeram uso de uma escrita de melhor qualidade, a minúscula carolíngia, e os escribas
adotaram uma escrita com a separação das palavras, ou seja, um sistema de pontuação.
C) Expandiu a Educação para as mulheres e criou o francês, língua que até hoje é utilizada.
D) Introduziu elementos da cultura germânica na Educação como a prática da oralidade e o
resgate das práticas da retórica das escolas romanas.
GABARITO
1. O povo árabe teve grande relevância para a cultura ocidental e, na questão
educacional, contribuiu muito para o avanço da ciência e filosofia do período medieval.
O ensino do árabe e sua difusão era parte fundamental deste processo, ainda que as
populações islâmicas não fossem necessariamente de origem árabe. O domínio da
língua árabe como base do fundamento da educação constituiu-se por qual motivo?
A alternativa "A " está correta.
 
Os árabes foram aqueles que colaboraram para inserir a cultura clássica no Ocidente. Esse
fato foi possível em virtude do entendimento que tiveram da ciência grega, que não se
caracterizou como imitação. O ensino árabe também recebeu forte influência das escolas
gregas e romanas.
2. O Império Carolíngio, com Carlos Magno, cercou-se de letrados e de sábios, os
chamados “intelectuais do Palácio”. Entre os nomes estão, por exemplo, o lombardo
Paulo, o Diácono, o italiano Paulino de Aquileia, o espanhol Teodulfo de Orleans, o
abade de Fleury-sur-Loire e, sobretudo, o anglo-saxão Alcuíno. Esse movimento ficou
conhecido por Renascimento Carolíngio por ter promovido uma série de avanços na
questão cultural e educacional que impactaram a Europa medieval. Com base nisso,
identifique quais foram os dois principais avanços desse período:
A alternativa "B " está correta.
 
No plano educacional, o Renascimento Carolíngio foi muito além do que uma simples revisão
dos textos sagrados. Eles desenvolveram uma nova maneira de escrever, com letras menores
e uma escrita mais elegante, bem como desenvolveram um novo sistema de pontuação.
MÓDULO 4
 Determinar a importância da Escolástica para as escolas urbanas e universidades na
Baixa Idade Média
INTRODUÇÃO
A Escolástica não é algo fácil de entender. Para facilitar a compreensão, veja algumas chaves
de explicação:
Ela é um movimento relacionado ao crescimento do comércio e dos centros urbanos na Europa
e, consequentemente, marcado pela disputa de intelectuais.
Ela muda o lugar de Deus. Sim! Se Deus era algo a ser alcançado, agora Ele está dentro de
cada um de nós e alcançá-lo é uma operação racional.
O papel da Educação nisso é preparar o sujeito para que ele possa ativar sua centelha divina,
seu lugar de razão e mergulhar em si para poder alcançar a Deus e explicar o mundo.
NEOPLATONISMO X NEOARISTOTELISMO
De um lado, temos uma tradição histórica, monástica, que bebe nos chamados pais da Igreja,
com uma forma reconhecida e reafirmada: o modelo neoplatônico. Do outro lado, aparecem os
movimentos urbanos e as novas tendências educacionais recebidas pelo mundo árabe. As
cidades se tornam um local de debates públicos e valorização da razão. Lembrando que é uma
razão cristianizada.
Filosoficamente, esses modelos têm questões fundamentais com a Educação:
 
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
NEOPLATONISMO
Herdeiro da Patrística, partindo especialmente de Agostinho – Deus deve ser sentido, ele não
precisa de uma explicação racional. Precisamos de mestres para conduzir os sujeitos pela
prática, pela repetição de nomes da Igreja para alcançar Deus. Como Deus é tudo, inclusive
todo o conhecimento, a busca por Ele é um exercício constante de alcançar a verdade em
algum lugar.
 
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
NEOARISTOTELISMO
Herdeiro da Escolástica, em especial de Tomás de Aquino – Deus deve ser explicado. Todo
homem tem uma essência, um caminho racional que explica tudo. Essa essência, no caso dos
homens, é divina. Logo, Deus não está em um lugar que deva ser alcançado, mas deve ser
buscado dentro de cada um. Se minha capacidade de pensar e entender o mundo é centelha
divina e a razão é divina, é divino fomentar o conhecimento e o racionalismo. Deus deve ser
conhecido.
Veja, a seguir, uma comparação entre essas duas correntes filosóficas.
O professor Rodrigo Rainha explica as principais diferenças entre Patrística e Escolástica.
Mas por que isso acontece? Vamos ver o contexto.
O século XIII europeu, caracterizado pelo crescimento urbano e comercial, foi também, no
ambiente citadino, o século da Europa escolar e universitária. Assistiu-se, a partir do século XII,
beneficiadas pelos burgueses, a multiplicação das escolas urbanas. Por extensão, criou-se
uma fundação capital para o ensino na Europa, o nascimento mais extraordinário e que
introduziu uma tradição ainda viva atualmente: a das “escolas superiores”, também chamadas
de universidades.
Essas escolas superiores ganharam, ao término do século XII, a denominação de stadium
generale (escola geral), que significava uma condição superior e uma instrução de traço
enciclopédico. As universidades, localizadas em regiões de grande presença de organização
de ofícios urbanos, aparelharam-se em corporação como os outros ofícios e adotaram a
terminação “universidade”, que expressava corporação. Tal vocábulo foi usado pela primeira
vez em Paris, no ano de 1221, para indicar o grupo de mestres e de estudantes parisienses
(universitas magistrorum et scholarium).
 
Foto: BNF, Français 1537, fol. 27v.
 Manuscrito medievalmostrando uma reunião de doutores na Universidade de Paris.
 
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
MODELO BOLONHÊS
Apenas os alunos constituíam juridicamente a universitas.
 
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
MODELO PARISIENSE
Mestres e estudantes compunham uma única comunidade.
Somente o exemplar parisiense chegou aos dias atuais.
AS UNIVERSIDADES
A primeira universidade foi a de Bolonha, ainda que tenha sido regulamentada pelo papa
apenas em 1252. Desde 1154, o Imperador Frederico Barba Ruiva conferira prerrogativas aos
mestres e aos estudantes de Bolonha. Só para entendermos, há várias associações de
mestres que transformavam as cidades em polos de atração de alunos. Esses alunos eram
famosos pelas bebedeiras, festas e pelo conhecimento, mas estas escolas não eram
reconhecidas como nada diferente do que um centro de cultura.
 
Imagem: (VOLTOLINA, Laurentius. Liber ethicorum des Henricus de Alemannia. The Yorck
Project (2002) 10.000 Meisterwerke der Malerei (DVD-ROM))
 Universidade Escolástica.
A partir do final do século XII, principalmente ao longo do XIII, vemos a consolidação de uma
instituição, com regras e cátedras (cadeiras) reconhecidas pelo papa. Seu modelo era
semelhante ao de um mosteiro, mas, ao invés de um abade, havia um rector (reitor). Além
disso, o reconhecimento do título passa a ter uma cerimônia em que o mestre, representando
ser o portador do conhecimento, dá a outorga ao aluno, transformando-o em um novo portador
do dom.
Para entender isso melhor, olhe para os cerimoniais de formatura que ainda existem hoje.
Todos ainda se baseiam na tradição e sua reprodução. O magnífico reitor outorga o grau – não
mais por Deus, mas pelo Estado e pela instituição – colocando o aluno na condição de membro
da Universitas.
A Universidade de Bolonha é um exemplo. Podemos ver processos parecidos destas duas
fases – organização e status formal de universidade – igualmente em Paris:

1174 
Mestres e estudantes de Paris ganham privilégios do Papa Celestino III.
1200 
O rei da França, Filipe Augusto, também concede privilégios aos mestres e estudantes de
Paris.


1215 
A universidade recebe seu regimento do legado pontifício, Roberto de Courson.
1231 
Papa Gregório IX emite a Bula Universitas Parens Scientiarum, que regulamenta as atividades
da universidade.

As novas universidades não nasceram do nada. São filhas das escolas que se formaram desde
Carlos Magno, mas seu modo de pensar e operar, sua formalização, dependeu do novo
momento político, vivido no século XIII. As universidades são campos abertos para novas
ideias. Não à toa, são espaços vitais da Escolástica e do pensamento aristotélico.
CURIOSIDADE HISTÓRICA
A Bula Universitas Parens Scientiarum conferida à Universidade de Paris pelo Papa Gregório
IX continha um elogio famoso a respeito da instituição universitária e da Teologia, que se
tornara na universidade, segundo expressão do Padre Chenu, uma “ciência”.
FUNDAMENTO ARISTOTÉLICO DA
ESCOLÁSTICA
Dois grandes nomes se destacam na corrente Escolástica. São eles:
 
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
ARISTÓTELES
De certo modo, foi o principal teórico das universidades do século XIII e, especialmente, da
Universidade de Paris. Apesar de seus textos já terem sido traduzidos para o latim há muitos
séculos, foi a partir do século XIII que se destacaram nessas traduções oriundas do árabe para
línguas vernáculas a sua metafísica, sua ética e sua política. Assim, podemos afirmar que
houve um aristotelismo medieval por volta de 1260-1270, pois suas ideias estavam presentes
em quase todo o ensino universitário.
VERNÁCULAS
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ver·ná·cu·lo
(latim vernaculus, -a, -um, de escravo nascido em casa, de escravo)
adjetivo
1. Próprio do país ou da nação a que pertence.=NACIONAL 
2. [Figurado] Diz-se da linguagem sem incorreções e sem inclusão de
estrangeirismos.=CASTIÇO 
3. Que se expressa de modo rigoroso e sem incorreções (ex.: escritor vernáculo).
substantivo masculino
4. Língua própria de um país ou de uma região.
"vernáculas", In Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020,
https://dicionario.priberam.org/vern%C3%A1culas [consultado em 06-02-2020].
 
Imagem: Imagem: The Yorck Project (2002)/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
TOMÁS DE AQUINO
Foi um dos grandes introdutores do pensamento aristotélico nas universidades. No entanto,
aproximadamente em 1270, o aristotelismo recuou por causa da condenação de
tradicionalistas, como Estêvão Tempier, e pelos ataques de mestres mais “modernos”, que
opunham a ele ideias mais místicas e menos racionalistas, tais como os franciscanos João
Duns Escoto (1266-1308) e Guilherme de Ockham (1285-1347), além do dominicano Meister
Eckhart (1260-1328).
O legado da ação intelectual, especialmente a universitária, do século XIII, foi a série de
métodos e de textos que foram categorizados como Escolástica, inicialmente no século XII, e,
mais profundamente, nas universidades no século XIII.
A Escolástica deriva do desenvolvimento da Dialética, uma das artes que compõem o Trivium,
“a arte de argumentar por perguntas e respostas numa situação de diálogo”. O fundador da
Escolástica é Anselmo de Cantuária (1033-1109), para quem a Dialética é o procedimento
principal da sustentação da reflexão ideológica. O objetivo da Dialética é a inteligência da fé,
cuja fórmula ficou famosa desde o período medieval: fé em busca de entendimento (fides
quaerens intellectum).
Esse método era baseado em três etapas:
QUAESTIO 
Elaboração de um problema, ou seja, na exposição de uma questão.
A DISPUTATIO 
Discussão do questionamento entre mestres e alunos.
A DETERMINATIO 
Resolução do problema por parte do mestre.
Vale lembrar que, no século XII, no programa das universidades, havia um exercício cujo fim
era a demonstração do talento intelectual dos mestres. Nessas oportunidades, duas vezes
ao ano, os discentes propunham ao mestre uma questão de qualquer temática. O renome e o
status dos mestres, muitas vezes, se faziam em cima de sua competência de replicar a esses
assuntos.
DEMONSTRAÇÃO DO TALENTO
INTELECTUAL DOS MESTRES
Uma importante prática intelectual desse momento era o duelo de correntes de
pensamento. Seguidores do pensamento agostiniano, seguidores da forma aristotélica e
ainda outras correntes cristãs se reuniam nos espaços da universidade e duelavam
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defendendo as suas ideias. Mestres ficavam famosos ou caiam em desgraça
dependendo do seu desempenho. É interessante notar que a cultura circula. Essa mesma
prática vai ser adotada por trovadores nas festas para ver quem era mais reconhecido.
De trovadores e jogralesas, percebemos que uma prática da Educação chegava ao
grande público.
CURIOSIDADE HISTÓRICA
No século XIII, o filósofo que promoveu a transição real do platonismo para uma forma mais
sofisticada de Filosofia foi Tomás de Aquino (1225-1274): o grande nome da Escolástica. Sua
obra-prima, Summa Theologica (1485), é o maior exemplo desse método de aprendizagem.
A Escolástica ampliou-se quando Tomás de Aquino introduziu ao método elementos da
Filosofia de Aristóteles. Historicamente, na Idade Média latina, a partir da segunda metade do
século XIII e no século XIV, a Filosofia apresentava-se de duas formas distintas. Vejamos:
FILOSOFIA ARTICULADA À TEOLOGIA
Sob a regência normativa da Teologia – ou, como diria Tomás de Aquino, subalternada a essa
ciência –, tal Filosofia era oficialmente praticada nas Faculdades de Artes das universidades.
Esse era o degrau necessário para atingir a Faculdade de Teologia.
FILOSOFIA VOLTADA À TRADIÇÃO ANTIGA
Esta Filosofia retomava, pela mediação do ideal de vida filosófica – renascido em terras do Islã
–, a tradição antiga do exercício de filosofar como fonte do mais alto prazer e da felicidade.
As universidades foram fundadas a partir das disciplinas disponíveis nas faculdades. Existiam
quatro faculdades que faziam parte de todas asuniversidades:
DIREITO 
Elaboração de um problema, ou seja, na exposição de uma questão.
TEOLOGIA 
Estudo da exegese bíblica e da fundamentação filosófica de Deus.
MEDICINA 
Dava à Medicina uma aparência mais livresca e teórica do que experimental e prática.
ARTES 
Onde se lecionavam as Artes, principalmente as do Quadrivium.
Mas vale lembrar que, acima de todas elas, no que tange ao status e ao reconhecimento
social, impunha-se a faculdade suprema: a de Teologia.
Com muita frequência, uma faculdade prevalecia por sua importância sobre as outras da
universidade. Nesse sentido:
Bolonha foi prioritariamente uma Faculdade de Direito;
Paris foi uma Faculdade de Teologia.
Montpellier foi uma Faculdade de Medicina.
 
Imagem: Livro Germânico de Música – ilustrado por Heinrich von Meißen.
 Representação dos jograleses – prática comum entre os estudantes durante o período.
Havia uma hierarquia pelo lugar no curriculum e pela reputação entre uma faculdade de base
propedêutica. Na prática, a Faculdade de Artes foi frequentemente dominada pelas disciplinas
que hoje chamaríamos de científicas. Do ponto de vista social, a faculdade foi povoada por
estudantes mais jovens, mais turbulentos, menos ricos, e só uma minoria deles prosseguia
seus estudos em uma faculdade superior (Direito, Teologia e Medicina).
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PROPEDÊUTICA
pro·pe·dêu·ti·ca
(francês propedeutique)
substantivo feminino
1. Introdução, prolegómenos de uma ciência. 
2. Instrução preparatória, ciência preliminar, introdução a estudos mais desenvolvidos de
determinada disciplina.
"propedêutica", In Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020,
https://dicionario.priberam.org/proped%C3%AAutica [consultado em 22-01-2020].
Assista ao vídeo a seguir, que trata das universidades e suas características na Idade Média.
Entrevista com o professor Rodrigo Rainha sobre as quatro faculdades existentes na Idade
Média, e a comparação entre as universidades medievais e atuais.
FIGURAS RELEVANTES
Vamos conhecer alguns dos sujeitos que foram apresentados ao longo deste módulo.
 
Foto: St. Anselm of Canterbury in an English glass window of 19th cent/Wikimedia
Commons/licença CC-BY-2.5
 Anselmo de Cantuária
A proximidade com a península Ibérica e as traduções de Aristóteles acabam por transformar
Anselmo no fundador da Escolástica.
 
Foto: The Yorck Project (2002)/Wikimedia Commons/licença CC-BY-2.5
 Tomás de Aquino
Principal nome da Escolástica, foi um dos grandes introdutores do pensamento aristotélico nas
universidades.
 
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
 Frederico Barba Ruiva
Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Morreu partindo para as Cruzadas antes
mesmo de lutar.
 
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
 Duns Escoto
Filósofo escocês que seguiu a Escolástica e explicou a origem filosófica de Deus.
 
Imagem: William of Ockham, from stained glass window at a church in Surrey/Wikimedia
Commons/licença CC-BY-2.5
 Guilherme de Okham
Defendia que a única forma de atingir a verdade era a adoção da razão para chegar a fé.
 
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público
 Urbano II
Papa que “convocou” a primeira Cruzada.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A CULTURA EUROPEIA NO PERÍODO CONHECIDO COMO BAIXA
IDADE MÉDIA PODE SER CARACTERIZADA PELO(A):
A) Esforço de Santo Isidoro de Sevilha em estruturar os conceitos da Filosofia Clássica.
B) Aparecimento e difusão da cultura muçulmana.
C) Difusão do dogma escolástico baseado na negação da união entre a fé e a razão para a
busca da verdade.
D) Decadência do ensino urbano seguido de sua ruralização.
2. O FUNDADOR DA ESCOLÁSTICA FOI ANSELMO DE CANTUÁRIA,
PARA QUEM A DIALÉTICA ERA O PROCEDIMENTO PRINCIPAL QUE
SUSTENTAVA A REFLEXÃO IDEOLÓGICA. O OBJETIVO DA DIALÉTICA
ERA A INTELIGÊNCIA DA FÉ, CUJA FÓRMULA FICOU FAMOSA – FÉ EM
BUSCA DE ENTENDIMENTO. DE ACORDO COM O QUE FOI VISTO, COMO
SE DAVA A APLICAÇÃO DESSE MÉTODO NAS UNIVERSIDADES:
A) Elaborar uma questão, discutir essa questão entre mestre e alunos e, por último, chegar a
uma solução.
B) Elaborar uma tese, depois escrevê-la e, por último, apresentá-la por meio de uma defesa.
C) Discutir com os alunos sobre todo e qualquer assunto até se esgotarem as possibilidades
positivas e negativas do assunto debatido.
D) Elaborar uma questão para que, em seguida, o mestre imponha a solução finalizada sobre o
assunto, fazendo com que os alunos aprendam segundo a visão de seus mestres.
GABARITO
1. A cultura europeia no período conhecido como Baixa Idade Média pode ser
caracterizada pelo(a):
A alternativa "C " está correta.
 
As universidades medievais apareceram em um contexto de crescimento urbano e comercial,
marcas da Europa do século XII. Vale lembrar que foi nessa centúria que as escolas superiores
ganharam a denominação de stadium generale (escola geral), que significava uma condição
superior e uma instrução de traço enciclopédico. 
 
As universidades, localizadas em regiões de grande presença de organização de ofícios
urbanos, aparelharam- se como os outros ofícios e adotaram a terminação “universidade”, que
expressava corporação.
2. O fundador da Escolástica foi Anselmo de Cantuária, para quem a Dialética era o
procedimento principal que sustentava a reflexão ideológica. O objetivo da Dialética era
a inteligência da fé, cuja fórmula ficou famosa – fé em busca de entendimento. De
acordo com o que foi visto, como se dava a aplicação desse método nas universidades:
A alternativa "A " está correta.
 
A valorização do debate como forma central de construir o argumento. Com isso, a questão era
levantada. Esse método tinha dois efeitos: dava nova roupagem à dialogia que existia em
Agostinho – substituição da condução pelo embate racional – e fomentava a disputa entre os
mestres sobre quem tinha mais erudição.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizamos nossa jornada sobre a Educação na Idade Média estudando os elementos que a
Igreja Católica resgatou da Antiguidade e as características das escolas romanas e do Trivium
e Quadrivium e a readequação desses princípios da cultura clássica pela Patrística, com
destaque para Agostinho de Hipona, o Renascimento Carolíngio e o contraponto da cultura do
Islã e sua influência na Europa medieval até chegarmos nas universidades e o método da
Escolástica com destaque para Tomás de Aquino.
Devemos pensar a Educação como um evento que pode assumir formas e maneiras diversas
dependendo dos diferentes grupos humanos e suas correspondentes etapas de organização.
Dessa forma, a Educação resulta em intencionalidade, bem como em imposição para alcançar
seus propósitos, procurando que seus elementos cheguem a todas as partes que compõem a
sociedade, como modo de se legitimar, buscando, assim, determinar uma série de valores e
práticas particulares. No nosso caso, o período medieval.
Esse percurso não se finda aqui, pois a caminhada pela Educação é só o começo.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
DI BERNARDINO, A. D. (Org.). Dicionário Patrístico e de Antiguidade Cristã. Petrópolis:
Vozes, 2002.
GARCÍA DE CORTÁZAR, J. A. História de España. 2. La época medieval. Madrid: Alianza
Editorial, 2004.
LE GOFF, Jacques. As raízes medievais da Europa. Petrópolis: Vozes, 2007.
LOPEZ, Roberto. Nascimento da Europa. Lisboa: Cosmos, 1965.
MELO, J. J. P. A educação em Santo Agostinho. In: Luzes sobre a Idade Média. Maringá:
UEM, 2002, pp. 65-78.
NUNES, R. A. C. História da Educação na Antiguidade Cristã: O pensamento educacional
dos mestres e escritores cristãos no fim do mundo antigo. São Paulo: Universidade de São
Paulo, 1978.
NUNES, R. A. C. História da educação na Idade Média. São Paulo: EPU: Universidade de
São Paulo, 1979.
NUNES, R. A. C. História da Educação na Idade Média. 2. ed. Campinas: Kírion, 2018.
PILETTI, C; PILETTI, N. História da Educação: De Confúcio a Paulo Freire. São Paulo:
Contexto, 2012.
RUCQUOI, A. História medieval da Península Ibérica. Lisboa: Editorial

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