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INTRODUÇÃO Uma das atribuições do profissional nutricionista é a prescrição dietética. Mesmo sendo considerada uma atividade individualizada, existem recomendações nutricionais mínimas e máximas de nutrientes reconhecidas mundialmente. As recomendações baseadas em estudos científicos auxiliam no equilíbrio de uma prescrição individualizada. Diversos fatores são levados em consideração na determinação das recomendações nutricionais, dentre eles, a biodisponibilidade dos nutrientes. Desse modo, serão abordados os principais fatores que influenciam na biodisponibilidade dos nutrientes e, consequentemente, em sua recomendação. MÓDULO 1 Reconhecer as recomendações nutricionais no processo de prescrição dietética AVALIAÇÃO NUTRICIONAL O estado nutricional do indivíduo e o atendimento às necessidades fisiológicas estão diretamente relacionados. Informações como história clínica, consumo dietético, hábitos sociais, dados antropométricos e bioquímicos permitem, juntos, a elaboração do diagnóstico nutricional, servindo de base para o planejamento e a orientação dietética. A avaliação nutricional tem por objetivo avaliar os hábitos alimentares do indivíduo e identificar problemas nutricionais, o que irá proporcionar uma melhoria na qualidade de vida. A classificação e a quantificação da ingestão de alimentos é parte importante da avaliação nutricional, sendo utilizada para a tomada de decisão quanto à adequação do consumo alimentar do indivíduo e indicando a melhor conduta dietoterápica. RECOMENDAÇÃO NUTRICIONAL Existem padrões estipulados para recomendação de ingestão alimentar. Esses valores de referência são estimados objetivando atender às necessidades energéticas e fisiológicas de indivíduos ou grupos de semelhantes. Denominadas recomendações nutricionais passam por atualizações frequentes em relação a diferentes necessidades, de acordo com o estágio de vida, carência ou efeito tóxico relacionado ao consumo em excesso de nutrientes (MOREIRA et al., 2012). A primeira recomendação nutricional registrada foi definida em 1941 pela Food and Nutrition Board, sendo denominada como: Recommended Dietary Allowance((RDA)) . O documento tinha por objetivo definir metas para uma boa nutrição. Com o tempo, ficou claro que as avaliações deveriam ser revistas de acordo com a regionalidade e as modernidades. Portanto, diversos países fizeram alterações específicas, por exemplo o Canadá, que fez uma última atualização em 1990, e, no mesmo ano, o Brasil, por meio da: Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição((SBAN)), publicou Aplicações das recomendações nutricionais adaptadas à população brasileira. Veja, a seguir, a recomendação nutricional de acordo com sexo e estágio de vida, publicada em 1989 e conhecida como RDA: Fonte: SBAN, 1990. No período de 1997 a 2004, os EUA e o Canadá fizeram uma atualização das recomendações baseados nos seus perfis populacionais. Estas foram publicadas e seu uso extrapolado para toda população mundial. Hoje, as Dietary Reference Intakes (DRI) são o conjunto de recomendações mais utilizadas na elaboração da prescrição dietética. Os nutrientes são recomendados de acordo com a necessidade do organismo e níveis de segurança para que haja uma adequada ingestão sem risco de uma intoxicação, determinando, portanto, níveis máximos e mínimos. Nas DRIs, são indicados níveis de macronutrientes e micronutrientes com base em quatro referências, sendo, portanto, mais abrangentes que as RDAs. Para determinação das DRIs, consideraram-se: A informação disponível sobre o balanço de nutriente no organismo. O metabolismo nas diferentes faixas etárias. A diminuição de risco de doenças. As variações individuais nas necessidades de cada nutriente. A biodisponibilidade dos nutrientes. Os erros associados aos métodos de avaliação do consumo dietético. Veja, a seguir, as definições dos níveis de referência utilizados como base para formulação das DRIs de acordo com a NRC: Nível de referência Definição Necessidade Média Estimada (Estimated Average Requirement – EAR) Valor de ingestão diária de um nutriente que se estima suprir a necessidade de metade (50%) dos indivíduos saudáveis de um grupo de mesmo gênero e idade. Corresponde à mediana da distribuição de necessidade de um nutriente. Ingestão Diária Recomendada (Recommended Dietary Allowance – RDA) Nível de ingestão dietética diária suficiente para atender às necessidades de um nutriente de todos os indivíduos saudáveis de um grupo de mesmo gênero e idade. Ingestão Adequada (Adequate Intake – AI) Utilizada quando não há dados suficientes para a determinação da EAR ou RDA. Considerado um valor estimado, baseado em níveis ajustados experimentalmente ou em aproximação da ingestão observada de nutrientes de um grupo de indivíduos saudáveis. Limite Superior Tolerável de Ingestão (Tolerable Upper Intake – UL) Valor máximo de ingestão diária continuada de um nutriente que, aparentemente, não oferece risco de efeito adverso à saúde para a maioria dos indivíduos em determinado estágio de vida ou gênero. A utilização de cada uma das recomendações deve ocorrer de acordo com a ingestão do indivíduo ou de acordo com a informação disponível para o nutriente em questão. Caso um indivíduo esteja com ingestão abaixo da recomendada pela EAR, deve-se adequar ao que é sugerido na própria EAR. Porém, existem alguns nutrientes que ainda não têm determinação de EAR ou RDA, como vitamina K, cromo, manganês, cálcio, ácido pantotênico, biotina, colina, ácido linoleico, ácido linolênico, fibras, água, potássio, sódio e cloro. Nesses casos, a AI deverá ser utilizada como base para recomendação (VIEIRA et al., 2008). Por fim, o Limite Superior Tolerável de Ingestão (UL) foi necessário quando se observou um crescimento no processo de fortificação de alimentos e na suplementação de nutrientes. A maior parte da população não apresenta qualquer reação quando exposta a altas concentrações de nutrientes. Existe, porém, uma parcela da população que pode apresentar características fisiológicas mais suscetíveis a processos adversos quando exposta a altas concentrações de algum elemento químico. Essa distribuição pode ser observada na figura a seguir, na qual a maior distribuição populacional consome uma ingestão média de suplementos, enquanto uma pequena parcela ingere acima dos limites máximos, o que pode desencadear danos à saúde. Relação entre a frequência de ingestão e a quantidade de suplemento ingerida. Fonte: Instituto de Medicina. 2000. A relação do agravamento dos efeitos produzidos pelo excesso de nutrientes é diretamente proporcional à quantidade que foi excedida, ou seja, quanto maior a quantidade do elemento consumido, mais graves os sintomas. ATENÇÃO É importante lembrar que não há UL definido para todos os nutrientes, já que a definição desse limite é baseada em estudos onde há exposição a um agente e a avaliação do risco, associado com estudos epidemiológicos e toxicológicos. Porém, nenhum risco é esperado caso o limiar predeterminado não seja ultrapassado. Os limiares são definidos de acordo com particularidades dos indivíduos dentro de uma população. A comissão da Food and Agriculture Organization (FAO) da World Health Organization (WHO) para aditivos alimentares tem identificado fatores que influenciam nessas diferenças entre indivíduos. Para tais determinações, são utilizados índices como o No Observed Adverse Effect Level (NOAEL) e o Lowest Observed Adverse Effect Level (LOAEL), como indicado na figura a seguir (FAO/WHO, 2005). Relação entre o risco de inadequação de ingestão dos nutrientes e o risco de aparecimento de efeitos adversos com os níveis de ingestão. Fonte: Brian Lindshield, 2015. UTILIZAÇÃO DE EAR E RDA PARA INDIVÍDUOS A RDA pode ser definida como a ingestão diária de um nutriente que se considerasuficiente para atender os indivíduos saudáveis de um grupo etário de mesmo sexo. A RDA só poderá ser estabelecida após a definição de EAR. Ambas serão utilizadas para guiar a recomendação de ingestão realizada no processo de prescrição dietética. A primeira etapa recomendada para prescrição é a obtenção de informação sobre a ingestão alimentar de acordo com o relato do indivíduo, considerando variedades e monotonia da alimentação, dias da semana, estação do ano, férias e ocasiões especiais, apetite, que pode variar de acordo com condições físicas, como períodos menstruais e mudança na intensidade de atividade física. Quanto mais dias puderem ser avaliados, melhor o parâmetro do perfil do indivíduo. Para obtenção dessas informações, várias ferramentas podem ser utilizadas, como recordatório 24h e lista de frequência alimentar. Porém, deve-se levar em consideração que a estimativa dos hábitos alimentares e das quantidades consumidas pelos indivíduos pode levar a uma sub ou superestimação. UTILIZAÇÃO DE EAR E RDA PARA GRUPOS A determinação do ajustamento de ingestão de um nutriente por um grupo é baseada na relação entre o número de indivíduos que ingerem uma quantidade usual do nutriente e o número de indivíduos que ingerem menos que a quantidade usual. Para a saúde pública, essa relação é determinante para traçar um perfil alimentar da população e direciona os programas públicos para a melhoria da qualidade da ingestão alimentar desses grupos. O desafio maior é a identificação do consumo alimentar em um grupo, desse modo, a determinação acaba sendo estimada e uma média é utilizada. Uma prescrição dietética adequada deve levar em consideração a recomendação estipulada para o nutriente e a ingestão relatada pelo indivíduo. Considere como exemplo as recomendações dos micronutrientes para um adulto listadas no quadro a seguir: Recomendações e limites de micronutrientes. Valores de micronutrientes em miligrama por dia para um adulto. Ao utilizar o quadro acima, pode-se observar que os valores dos micronutrientes que precisam ser ingeridos por um indivíduo adulto saudável devem se encontrar na quantidade recomendada em EAR ou AI, e no limite máximo determinado por UL, quando informado. Por exemplo, a ingestão recomendada de ferro deve ser de 8,1 mg a 45 mg, para, desse modo, atender às necessidades nutricionais e evitar efeitos prejudiciais causados pelo excesso desse mineral. A partir dessa comparação, podemos determinar se a ingestão de nutrientes de um indivíduo está adequada ou não. Observe o exemplo no quadro a seguir: Adequação entre recomendações e limites de ingestão, e um exemplo de ingestão de micronutrientes. Valores de micronutrientes em miligrama por dia para um adulto. A partir do quadro, podemos observar que a ingestão de tiamina, riboflavina, niacina e vitamina C estão adequadas, porém, os valores de ferro e cálcio estão abaixo dos recomendados pelas definições de EAR e de AI. Observa-se, portanto, a necessidade de ajuste na dieta, para que haja melhor adequação aos micronutrientes em questão. Ambos, EAR e AI, têm por objetivo promover uma alimentação saudável ao indivíduo. Contudo, os valores de AI são menos acurados que os de EAR, já que são determinados por uma estimativa, necessitando de muitas amostras para uma avaliação correta. Portanto, os valores de AI costumam ser numericamente maior que os de EAR e, consequentemente, de RDA, sendo necessário um uso cuidadoso dessa recomendação (NIH, 1998). Além dos micronutrientes, há recomendação para os macronutrientes que são necessários em maiores quantidades, conferindo ao organismo a energia que os alimentos fornecem. A recomendação mais utilizada mundialmente é a da FAO/OMS de 2003, exposta de forma resumida no quadro a seguir: Recomendação de macronutrientes da FAO/OMS, de 2003. Nutrientes Quantidade recomendada Gordura total 15 – 30% do total de energia diária Carboidrato total 55 – 75% do total de energia diária Açúcares < 10% Proteínas 10 – 15% do total de energia diária Colesterol < 300mg por dia Cloreto de sódio < 2g por dia Fibras alimentares >25g por dia COMENTÁRIO Um fator que deve ser considerado quando há adaptações nas recomendações é a digestibilidade e a biodisponibilidade do nutriente em questão. A SBAN considerou que a digestibilidade da proteína consumida na dieta do povo brasileiro era de 80 a 85%, ou seja, grande parte da proteína consumida era facilmente digerida e absorvida. Portanto, a recomendação da SBAN é de que o consumo de proteína para mulheres e homens acima dos 18 anos deve ser de 1g/kg/dia. À medida em que mais estudos populacionais são realizados, os valores de recomendação podem ser alterados. As DRIs apresentam valores de referência mais completos que os estabelecidos pela RDA e pela SBAN, por terem como objetivos não só prevenir deficiências nutricionais e doenças crônicas, mas também evitar riscos de toxicidade. Para um adequado planejamento alimentar e uma avaliação de dietas para grupos ou indivíduos, a melhor ferramenta ainda é as DRIs, que também são preconizadas em pesquisas e práticas clínicas (MOREIRA et al., 2012). Desse modo, é fundamental compreender o que são as DRIs e quais os seus objetivos, para que o diagnóstico e a orientação dietética sejam realizados com objetivo de melhor atender às necessidades dos indivíduos. Há uma exceção entre as recomendações: os compostos bioativos não apresentam recomendação de ingestão, pois não atendem aos conceitos convencionais de nutrientes, apesar de haver evidências de que, quando consumidos regularmente, promovem benefícios à saúde. Nesse grupo, são incluídos os elementos com propriedades antioxidantes, como: Flavonoides Vitamina C Vitamina E Selênio Betacaroteno Outros carotenoides (α-caroteno, β- criptoxantina, licopeno e zeaxantina) A ação benéfica desses nutrientes é inegável, porém, seu caráter antioxidante ainda necessita de maiores estudos exploratórios. Desse modo, a recomendação para tal finalidade ainda é indefinida. Alguns avanços foram observados em relação à inclusão de recomendações de quantidades desses elementos nas DRIs, como: 1- Inclusão da definição de antioxidante alimentar 2- Determinação de que a recomendação para vitamina E e selênio não deve variar com a idade ou gênero após os 14 anos. 3- Determinação de que a vitamina E deve ser recomendada de acordo com os níveis de α- tocoferol. 4- Estabelecimento de UL para vitamina C, vitamina E e selênio (AMAYA-FARFAN; DOMENE; PADOVANI, 2001). Essas ratificações sugerem que os estudos sobre a recomendação de compostos bioativos caminham para que haja também uma determinação quantitativa desses elementos. COMENTÁRIO A cautela para determinações de recomendações para esses elementos se justifica aparentemente pela forma variável com que certos componentes agem, por exemplo, os carotenoides, que podem agir como antioxidantes em baixas concentrações, e como pró- oxidantes em altas concentrações. Desse modo, faz- se necessária a recomendação de pesquisas sobre os potenciais efeitos preventivos de doenças pelos antioxidantes, inclusive, o betacaroteno e os outros carotenoides, para que se possa elaborar as recomendações pertinentes. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A RESPONSABILIDADE DA PRESCRIÇÃO DIETÉTICA PELO NUTRICIONISTA É BASEADA NA AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DE SAÚDE E NA INGESTÃO DE ALIMENTOS PELO INDIVÍDUO. SÃO USADAS RECOMENDAÇÕES BASEADAS EM MÉTRICAS INTERNACIONAIS PARA A ELABORAÇÃO DESSA PRESCRIÇÃO. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE NÃO INDICA UMA RECOMENDAÇÃO DE PRESCRIÇÃO DIETÉTICA: RDA EAR IA UL RDC 2. ALGUNS ELEMENTOS NUTRICIONAIS, APESAR DE SEREM CONHECIDOS COMO BENÉFICOS À SAÚDE, NÃO APRESENTAM RECOMENDAÇÃO, JÁ QUE OS ESTUDOS COMPROBATÓRIOS AINDA SÃO INSUFICIENTES. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE INDICAQUAIS SÃO ESSES COMPONENTES. Aminoácidos essenciais Fibras Compostos bioativos Minerais Vitaminas GABARITO 1- A alternativa "E " está correta. As recomendações que devem ser utilizadas em conjunto são: RDA, EAR, IA e UL. 2- A alternativa "C " está correta. A maioria dos compostos bioativos está relacionada com sua atividade antioxidante, porém, os estudos nessa área ainda são insuficientes para que haja determinação de recomendação nutricional mínima e máxima. MÓDULO 2 Identificar o conceito de biodisponibilidade e sua importância na recomendação nutricional BIODISPONIBILIDADE Os estudos relacionados à biodisponibilidade começaram na área da Farmacologia, visando determinar o comportamento do princípio ativo medicamentoso no indivíduo, ou seja, como o composto circulava no organismo, a proporção de sua absorção e sua consequente metabolização. O termo biodisponibilidade foi proposto pela Food and Drug Administration dos EUA. No setor farmacológico, a biodisponibilidade do medicamento é estudada principalmente para medicamentos que são administrados de forma oral. Essa via apresenta vantagens, como: fácil administração, melhor custo- benefício, menor necessidade de método de esterilização e maior flexibilidade na dosagem. Porém, o maior obstáculo para essa via de admissão de fármacos é a baixa biodisponibilidade, que pode ser influenciada pela solubilidade do componente, pelo tamanho da partícula, pela forma química da substância, pela permeabilidade e pela suscetibilidade frente a mecanismos de exclusão metabólica (KRISHNAIAH, 2010). Aproximadamente 40 anos depois de o termo biodisponibilidade ter sido utilizado para medicamentos, o setor de alimentos também percebeu a necessidade de avaliar a biodisponibilidade de nutrientes, já que a ingestão de uma quantidade de alimentos não é garantia de que todo o nutriente será absorvido pelo organismo. Para um completo entendimento da biodisponibilidade de nutrientes, é importante definir a diferença entre três termos: biodisponibilidade, bioacessibilidade e bioatividade. BIOACESSIBILIDADE Definida como a quantidade de nutriente liberada na matriz alimentar no trato gastrointestinal, e se torna disponível para absorção. Essa liberação pode ser realizada de acordo com as transformações digestivas. Alguns nutrientes apresentam ação benéfica no lúmen do trato gastrointestinal, como as fibras e alguns minerais. BIODISPONIBILIDADE Outros nutrientes devem ser absorvidos pela parede celular e alcançar a circulação sistêmica para, então, promover sua ação frente ao organismo. BIOATIVIDADE Consiste na determinação do benefício celular e na resposta fisiológica obtida pela interação entre o componente alimentar e a célula do indivíduo propriamente dita. Resumidamente, a interação entre esses fatores pode ser descrita como na figura abaixo, onde a bioatividade depende da biodisponibilidade dos alimentos, que é realizada quando o nutriente está bioacessível no interior do trato gastrointestinal (CARBONELL-CAPELLA et al., 2014). Fonte: Carolina Beres.Relação entre as etapas de avaliação do nutriente do indivíduo. MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO A determinação de cada uma dessas etapas difere nos seus princípios e nas técnicas que podem ser utilizadas. É importante diferenciar alguns conceitos para tornar a compreensão das técnicas mais clara. Algumas definições estão listadas a seguir (COZZOLINO, 2006): ABSORÇÃO Fração do alimento que ultrapassa a parede do trato gastrointestinal. METABOLIZAÇÃO Quantidade de nutriente que é utilizada a nível celular. BIOCONVERSÃO Proporção do nutriente ingerido que estará biodisponível para a conversão em sua forma ativa. BIOEFICÁCIA Eficiência com a qual os nutrientes ingeridos são absorvidos e convertidos à forma ativa do nutriente. BIOEFICIÊNCIA Proporção da forma ativa convertida do nutriente absorvido que atingirá o tecido-alvo. O resultado da determinação da biodisponibilidade na Farmacologia é caracterizado de acordo com a via de acesso do medicamento. Se a via é intravenosa, considera-se o máximo de biodisponibilidade, denominada biodisponibilidade absoluta. Caso a via de administração do medicamento seja outra, este deve ser metabolizado, convertido e, por fim, absorvido pela corrente sanguínea. Nesse caso, a denominação é de biodisponibilidade relativa, já que se subentende que a absorção não será de 100%. Para alimentos, a melhor denominação é a biodisponibilidade quantitativa, ou seja, é calculado o percentual do nutriente-alvo na matriz alimentar, quanto desse nutriente está disponível no lúmen do trato gastrointestinal (bioacessibilidade) e quanto é absorvido pelas células do epitélio de superfície do trato (biodisponibilidade). Fatores tais quais a maneira como o nutriente é ingerido, a forma química do nutriente, como ele é encontrado no alimento, métodos de cocção, a quantidade ingerida, a presença de agentes ligantes e de outros nutrientes, o estado nutricional do indivíduo e a composição da sua dieta influenciarão na bioacessibilidade e biodisponibilidade do nutriente. ATENÇÃO A determinação da biodisponibilidade de um nutriente influencia diretamente os teores de recomendação vistos anteriormente e são influenciados pelos hábitos e culturas de cada localidade. Desse modo, estudos que possam avaliar o desempenho da biodisponibilidade são de extrema relevância científica para relacionar a quantidade de nutrientes com o estado de saúde do indivíduo. No quadro a seguir, estão listados os principais métodos utilizados para a determinação da bioacessibilidade e biodisponibilidade dos nutrientes, assim como as vantagens e desvantagens: Outra metodologia amplamente utilizada é a marcação de um nutriente com um isótopo radioativo, ou seja, um elemento químico que apresenta a propriedade física de tornar o núcleo instável, causando desintegração radioativa, o que leva à emissão de partículas subatômicas que emitem radioatividade e, portanto, podem ser quantificadas e acompanhadas ao longo do sistema gastrointestinal do indivíduo. Consideradas inofensivas aos indivíduos saudáveis, podem ter ampla utilização, mas apresentam como limitação o fato de não poderem ser testadas em crianças, gestantes e nutrizes, além de alguns isótopos terem meia vida curta, o que pode encurtar o estudo (HEANEY, 2001). BIODISPONIBILIDADE DE MACRONUTRIENTES Macronutrientes são aqueles que necessitam ser consumidos em maior quantidade pelos indivíduos, como proteínas, lipídios e carboidratos. Alguns fatores podem influenciar a biodisponibilidade de macronutrientes, como estrutura química, presença de componentes antinutricionais, processamento industrial e método de cocção, além da ligação com outros nutrientes. As proteínas são os macronutrientes mais estudados em relação à sua biodisponibilidade, já que são alimentos de alto valor agregado, e sua ingestão está diretamente relacionada à constituição do indivíduo. As proteínas estão relacionadas com a formação de estruturas de controle, defesa e transporte, sendo atuantes na maioria das reações do indivíduo. Dentre os fatores que influenciam a biodisponibilidade de proteínas, a presença dos antinutricionais é relevante principalmente para indivíduos veganos e vegetarianos. Em alimentos como soja, são encontrados compostos conhecidos como inibidores enzimáticos. Eles atuam nas enzimas digestivas (tripsina e quimiotripsina) e acabam por reduzir a digestibilidade das proteínas. Por terem natureza proteica, uma maneira de reduzir a ação desses inibidores é a utilização de processamento térmico. Porém, este pode levar ao desencadeamento da Reação de Mailard, também conhecida como escurecimento não enzimático. Por muitas vezes desejável, por alterar de forma benéfica as características sensoriais do produto, levando à formação de melanoidinas, a reação entre açúcares e o grupamento amino dosaminoácidos reduz a digestibilidade das moléculas de lisina. Escurecimento não enzimático observado antes (Imagem A) e após (Imagem B) exposição da carne a um processamento térmico. IMAGEM A: IMAGEM B: Outros componentes que podem influenciar de forma negativa a biodisponibilidade de proteínas são a presença de compostos como radicais livres, compostos fenólicos, solventes halogênicos e nitritos. O nitrito (NO2) é classificado pela legislação como um aditivo químico que pode ser utilizado dentro de uma faixa de segurança, para potencializar a cor vermelha de carnes, principalmente, embutidos. Porém, quando em excesso, esse componente pode interagir com aminas secundárias formando estruturas denominadas N-nitrosaminas, que apresentam ação carcinogênica. Os radicais livres que podem ser formados quando há o fenômeno de oxidação lipídica nos ácidos graxos insaturados dos alimentos levam à formação de ligações cruzadas e polimerização, que geram substâncias denominadas quinonas, que são altamente reativas e reagem com o grupamento amino dos aminoácidos. Lecitinas são glicoproteínas que podem se ligar à mucosa intestinal interferindo na absorção de aminoácidos. Por serem termolábeis, o tratamento térmico pode reduzir o impacto dessa molécula na digestibilidade da proteína. Dentre os compostos fenólicos, os taninos se destacam como um componente que pode influenciar na biodisponibilidade de proteínas. Eles se ligam covalentemente com o grupamento amino dos resíduos de lisina e impedem a quebra da ligação peptídica pela enzima tripsina, reduzindo a biodisponibilidade de proteínas. De acordo com Silva et al. (2002), a principal característica que permite elevar o grau de biodisponibilidade das proteínas é o processo de digestibilidade. Desse modo, é necessário que haja ação das enzimas proteolíticas promovendo a hidrólise da cadeia peptídica e liberando aminoácidos para melhorar a digestibilidade das proteínas, determinada pela proporção de nitrogênio ingerido. O tamanho do resíduo produzido após a hidrólise interfere na digestibilidade, já que aminoácidos, dipeptídios e tripeptídios conseguem penetrar na mucosa intestinal, enquanto peptídios com mais de três aminoácidos não são absorvidos na mesma intensidade. Desse modo, o processo de hidrólise é primordial para que haja uma boa absorção dos aminoácidos, e este é facilitado quando há um melhor acesso das enzimas digestivas à cadeia polipeptídica. Portanto, proteínas desnaturadas pelo calor, irradiação, pressão, pH ou solventes orgânicos permitem maior acesso das enzimas e, consequentemente, melhor digestibilidade das moléculas proteicas. BIODISPONIBILIDADE DE MICRONUTRIENTES Ao consultar a RDC 269 do Ministério da Saúde, de 2005, pode-se observar a recomendação de micronutrientes para diferentes estágios de vida. Porém, há uma observação de que haja ao menos 10% de biodisponibilidade. Atender à quantidade adequada de micronutrientes em uma dieta é sempre um desafio, já que esses elementos são influenciados por diversas interações que podem reduzir sua absorção pelo organismo. Veja, a seguir, o quadro de recomendação nutricional de micronutrientes para um adulto saudável, de acordo com a RDC 269 de 2005: Nutriente Unidade Valor Proteína (1) G 50 Vitamina A (2) (a) micrograma RE 600 Vitamina D (2) (b) Micrograma 5 Vitamina C (2) Mg 45 Vitamina E (2) (c) Mg 10 Tiamina (2) Mg 1,2 Riboflavina (2) Mg 1,3 Niacina (2) Mg 16 Vitamina B6 (2) Mg 1,3 Ácido fólico (2) Micrograma 240 Vitamina B12 (2) Micrograma 2,4 Biotina (2) Micrograma 30 Ácido pantotênico (2) Mg 5 Vitamina K (2) Micrograma 65 Colina (1) Mg 550 Cálcio (2) Mg 1000 Ferro (2) (d) Mg 14 Magnésio (2) Mg 260 Zinco (2) (e) Mg 7 Iodo (2) Micrograma 130 Fósforo (1) Mg 700 Flúor (1) Mg 4 Cobre (1) Micrograma 900 Selênio (2) Micrograma 34 Molibdênio (1) Micrograma 45 Cromo (1) Micrograma 35 Manganês (1) Mg 2,3 Um fator que influencia no processo de absorção de micronutrientes é o local ou sítio de absorção, que varia de acordo com a vitamina ou mineral ao longo do trato gastrointestinal. A maior parte dos micronutrientes é absorvida na porção duodenal do intestino delgado, porém, alguns minerais, como cobre e selênio, podem ser absorvidos também no estômago. No cólon, é concentrada a absorção de sódio, potássio, cloro, cálcio, fósforo e magnésio. ATENÇÃO Fatores intrínsecos (idade, sexo, saúde e gravidez) e extrínsecos (dieta) também atuam de forma negativa ou positiva na absorção de micronutrientes. Por exemplo, dietas ricas em fibras alimentares, fitatos, polifenóis, oxalatos, taninos e flavonoides prejudicam a absorção de micronutrientes, enquanto dietas com fibras solúveis, ácido ascórbico, ácido cítrico, lactose e frutose atuam de forma positiva. Sobre as fibras alimentares, é importante destacar que estas são formadas por um conjunto de fibras solúveis e insolúveis, e atuam de forma diferente no intestino. As fibras insolúveis podem levar à diminuição do tempo de trânsito no lúmen intestinal, que, por sua vez, pode levar ao aumento da absorção de minerais. Por outro lado, podem levar à formação de quelatos, que diminuem a biodisponibilidade dos micronutrientes. As fibras solúveis que podem ser fermentadas pela microbiota intestinal geram como subproduto moléculas de ácidos graxos de cadeia curta, como, por exemplo, o butirato, que acidifica o pH do meio e aumenta a ionização dos minerais permitindo que sejam mais solúveis e, consequentemente, mais absorvíveis. Veja, no quadro a seguir, os fatores que influenciam de forma positiva ou negativa a biodisponibilidade dos micronutrientes: MICROBIOTA INTESTINAL E A INFLUÊNCIA NA BIODISPONIBILIDADE Nos estudos mais recentes sobre o processo de absorção dos nutrientes e, consequentemente, sua biodisponibilidade, há enfoque maior na influência do papel da microbiota intestinal. Essa linha de pesquisa ganhou importância quando houve uma crescente valorização do uso de compostos bioativos na alimentação e suplementos alimentares e seus efeitos benéficos no indivíduo. Diversos estudos mostraram os efeitos in vitro dos compostos bioativos, porém, o mesmo efeito não era percebido in vivo. Desse modo, observou-se que havia necessidade de ajuste nas quantidades e nas formas de administração de alguns desses compostos. A microbiota intestinal é formada por uma diversidade de microrganismos, conhecida como microbial pool, que pode conter até 1.000 espécies diferentes. Em adultos saudáveis, há uma prevalência dos filos Bacteroidetes, Firmicutes, Actinobacteria, Proteob acteria e Verrucomicrobia. As diferenças genéticas encontradas entre as espécies sugerem uma diversidade de ações maior que o próprio material genético do indivíduo. De forma comparativa com o genoma do humano, a união dos materiais genéticos da microbiota é denominada microbioma. Assim como há variabilidade entre os indivíduos, também há entre as microbiotas intestinais. Desse modo, existe uma dificuldade em realizar estudos e intervenções terapêuticas que tenham como alvo ou como produto de tratamento a microbiota intestinal (ARIAS et al., 2020). Veja, na figura a seguir, exemplos de espécies formadoras da microbiota intestinal de adultos saudáveis: A influência no metabolismo de um fármaco foi testada em camundongos germfree, em comparação com camundongos colonizados com bactérias do gênero Bacteroides, comuns à microbiota intestinal. O estudo revela a melhor eficácia do medicamento em camundongos colonizados, provando a participação da microbiota na biodisponibilidade e exposição do composto ativo. A maneira como a microbiota interage com o composto farmacológico ou o alimento ainda não é totalmente elucidada, porém, existem algumas interpretações: 1Os microrganismos da microbiota intestinal transformam os compostos alimentares ou farmacológicos em compostos comatividades. 2A microbiota é estimulada pela presença do componente ingerido a produzir compostos que apresentam benefícios à saúde. 3A microbiota produz compostos que impedem a inibição dos compostos ativos ingeridos. De modo geral, todas as possibilidades são baseadas na capacidade da microbiota em secretar substâncias. A esses componentes, é dado o nome de metabólitos. MICROBIOTA INTESTINAL Para a manutenção da boa qualidade da microbiota intestinal, diferentes condutas podem ser tomadas, dentre elas, a prescrição de fibras alimentares. Como foi visto no módulo anterior, a recomendação para fibras dietéticas é de aproximadamente 25g por dia para adultos saudáveis. As fibras alimentares direcionadas para o beneficiamento da microbiota intestinal são classificadas como prebióticos, já que têm ação direta em microrganismos que são também conhecidos como probióticos (VAMANU; GATEA, 2020). FIBRAS ALIMENTARES Micronutrientes Fatores que influenciam a biodisponibilidade Vitamina A, D, E e K Por serem vitaminas lipossolúveis, a presença de lipídio aumenta a biodisponibilidade. Vitamina B1 Alto consumo de álcool prejudica absorção de tiamina. Sódio Excesso de potássio e cálcio aumenta a excreção do sódio. Zinco Cálcio, ferro, fitato e fibra diminuem a absorção. Cálcio Sódio, cafeína, oxalatos e fósforo diminuem a absorção de cálcio, e proteínas aumentam a excreção de cálcio. Ferro Ferro-heme não sofre influência na sua absorção. Ferro-não heme tem biodisponibilidade aumentada pelo consumo de ácido fítico e vitamina C. Oxalatos, fosfatos e polifenóis diminuem a absorção do ferro. Magnésio Sódio, cálcio, cafeína e fitatos podem reduzir a excreção do magnésio. O processo de refinamento remove o mineral de cereais. Cobre Processamento a quente e alta ingestão de zinco e ferro podem reduzir biodisponibilidade devido à Reação de Maillard. As fibras alimentares são constituídas majoritariamente por polissacarídeos não digeríveis ao longo do trato gastrointestinal, que alcançam o intestino grosso quase intactos, sendo, então, fermentados pela microbiota intestinal. Nessa fermentação, são produzidos compostos, ou metabólitos, como os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), como o ácido butírico, o ácido propiônico e o ácido acético. Os AGCC, por si, já apresentam efeitos benéficos comprovados controlando a obesidade e a diabetes, além de beneficiar o crescimento de Lactobacillus e Bifidobacterium, gêneros bacterianos importantes na microbiota intestinal (ZHANG et al., 2020). Os estudos mais aprofundados na área de biodisponibilidade foram necessários quando houve uma crescente aplicação de compostos fenólicos como suplementos alimentares. Os compostos fenólicos são, naturalmente, encontrados nos vegetais, conhecidos como metabólitos secundários, não sendo essenciais à sobrevida dos vegetais, mas têm função como mecanismo de defesa ou pigmento. Podem ser encontrados em diferentes partes do vegetal, como flores, folhas, frutas, caules e raízes. Existem aproximadamente mais de 8.000 compostos fenólicos identificados no reino vegetal, podendo ser classificados como flavonoides ou não flavonoides. Possuem atividade antioxidante, responsável por promover efeitos benéficos na célula, atuando no sequestro de radicais livres (KAWABATA, YOSHIOKA, TERAO, 2019). Os radicais livres são produzidos por fatores, como estresse, poluição, má alimentação, sedentarismo, fumo, entre outros, e promovem um dano celular. Desse modo, a ação do antioxidante de neutralizar esse radical livre protege a célula de possíveis danos. Além da capacidade antioxidante, os compostos fenólicos apresentam propriedades imunomodulatórias, anti-inflamatórias, cardioprotetivas e antienvelhecimento, sendo, portanto, foco de diversas abordagens científicas, como demonstrado no quadro a seguir: Relação entre os compostos fenólicos, os microrganismos da microbiota intestinal que estão relacionados ao seu metabolismo e o efeito benéfico no indivíduo. Compostos fenólicos Componentes da microbiota intestinal Efeito benéfico à saúde Curcumina Firmicutes Atividade antioxidante Naringenina Helicobacter pylori, Escherichia coli, Salmonella aureus Modulação do trato gastrointestinal Catequina Eubacterium Melhora na excreção de fezes Epicatequina Bacteroides, Firmicutes e Bacteroidetes Modulação da microbiota Fenólicos Firmicutes, bacteroidetes Modulação da microbiota Epicatequina e catequina Clostridium, Bifidobacterium, Escherichia coli Modulação da microbiota Flavonoides Enterococcus Modulação da microbiota Resveratrol Coriobacteriaceae Redução da inflamação crônica Estilbenos Bifidobacterium, Lactobacillus, Akkermansia Modulação da microbiota Ácido cafeico, ácido clorogênico, ácido ferrúlico, ácido coumarico BIfidobacterium, Lactobacillus Aumento da produção de butirato O principal fator observado no quadro é a modulação da microbiota. Desse modo, é possível observar que o consumo de compostos fenólicos promove uma melhoria da composição da microbiota intestinal. Esta será responsável por metabolizar os compostos fenólicos, produzindo metabólicos que poderão atuar em nível celular no indivíduo, promovendo os efeitos citados anteriormente. Ocorre, portanto, um efeito cascata, em que a ingestão de compostos fenólicos auxilia na manutenção da microbiota, que produzirá os metabólitos a partir dos compostos fenólicos, que, por sua vez, promoverão os benefícios à saúde. Porém, a biodisponibilidade dos compostos fenólicos é influenciada por outros fatores, como o tamanho do composto. Acredita-se que os compostos fenólicos de baixo peso molecular são absorvidos mediante transporte direto no intestino delgado, enquanto compostos de alto peso molecular, como os taninos, são transportados íntegros até o intestino grosso, podendo ser excretados nas fezes ou metabolizados pela microbiota. O estômago é o local de menor absorção dos compostos fenólicos, porém, devido a um transporte ativo, é o local de absorção de antocianinas, um composto fenólico que atua como pigmento responsável pelas cores vermelha, roxo e azul de frutas e pétalas, comumente encontrado em frutas como uva e jabuticaba, com conhecido caráter benéfico à saúde dos indivíduos (KAWABATA; YOSHIOKA; TERAO, 2019). INFLUÊNCIA DA MATRIZ ALIMENTAR NA BIODISPONIBILIDADE A matriz alimentar, ou seja, a composição do alimento, influencia na biodisponibilidade dos nutrientes, já que ocorrem ligações químicas entre os elementos, o que pode levar a uma diminuição da biodisponibilidade por dificultar o acesso das enzimas na porção mais interna da matriz alimentar. Ou pode ocorrer uma proteção das moléculas de interesse, por exemplo, os compostos fenólicos que serão protegidos pela matriz alimentar e alcançarão o intestino grosso de forma íntegra (UDENIGWE; FOGLIANO, 2017). O alimento é basicamente composto por macro (proteínas, lipídios e carboidratos) e micronutrientes (vitaminas e minerais), e ambos formam a matriz alimentar que influencia na bioacessibilidade e biodisponibilidade de compostos de interesse. Os carboidratos do tipo digeríveis, como açúcares, podem apresentar efeitos benéficos na biodisponibilidade de alguns compostos bioativos do tipo flavonoides, como pode ser observado em amostras de chocolate, que apresentam esse componente proveniente do cacau. O aumento da biodisponibilidade de compostos ativos pelo açúcar também pode ser observado no consumo de chá adoçado com sucralose ou sacarose. Alguns autores relacionam essa melhoria na biodisponibilidade com uma ação dos açúcares no aumento da solubilidade de compostos fenólicos, sendo estes, então, mais facilmente absorvíveis. COMENTÁRIO Em contrapartida, lactose, amido e pectina influenciaram de forma negativa na absorção de compostos fenólicos em chás adoçados com leite ou preparaçãoque envolvessem esses carboidratos. A vitamina C, que já apresenta efeito antioxidante, aumenta a biodisponibilidade de compostos bioativos, como a catequina, protegendo esse componente de processos oxidativos que podem ser ocasionados no armazenamento, processamento ou na própria mistura de componentes do alimento. Por serem de origem vegetal, os compostos fenólicos estão intimamente ligados à estrutura de parede celular da célula vegetal. Podemos, dessa forma, encontrar dois grupos mais significativos de compostos fenólicos: os livres e os ligados. LIVRES Os compostos fenólicos livres são mais facilmente absorvidos no trato gastrointestinal. LIGADOS Os compostos fenólicos ligados a ligninas, celulose e hemicelulose, carboidratos que compõem a parede celular de vegetais, apresentam ligações fortes, que, dificilmente, são rompidas no processo digestivo. Assim, chegam intactos no intestino grosso e só serão liberados caso a microbiota intestinal promova a quebra dessas ligações. Os lipídios apresentam um papel importante na biodisponibilidade de alguns compostos fenólicos, como a quercetina, aumentando a oferta desse componente lipofílico. Estudos demonstram que a quercetina, comumente encontrada na cebola, pode ser muito mais facilmente absorvida pelo sistema gastrointestinal quando acompanhada de óleo de peixe ou de soja. Os fatores relacionados a esse aumento na biodisponibilidade de quercetina são as propriedades físicas de promover uma emulsão e a capacidade química de formar uma micela. O mesmo efeito pode ser observado em compostos fenólicos de tomate, como a naringenina, que apresenta um aumento da sua biodisponibilidade quando consumido junto com azeite de oliva (KAMILOGLU et al., 2021). Em relação às proteínas, foi determinado que estas e os compostos fenólicos formam complexos que podem ser considerados solúveis ou insolúveis. Porém, os resultados sobre a influência desses complexos na biodisponibilidade ainda são inconclusivos. Foi comparado, por exemplo, se havia diferença na biodisponibilidade dos compostos fenólicos de morango quando este era consumido com e sem creme de leite, e as respostas para essa questão não foram claras. Desse modo, são necessários mais estudos na interação das moléculas proteicas com a biodisponibilidade de compostos fenólicos (KAMILOGLU et al., 2021). VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. É UM MÉTODO DE ESTUDO DA BIODISPONIBILIDADE QUE PODE FAZER USO DE MARCADORES RADIOATIVOS QUE SÃO OBSERVADOS AO LONGO DO ORGANISMO E DURANTE TODO O PROCESSO DIGESTIVO. ESSE MÉTODO APRESENTA COMO LIMITAÇÃO O FATO DE NÃO PODER SER UTILIZADO EM TODOS OS GRUPOS DE PESSOAS. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA A METODOLOGIA A QUAL A DESCRIÇÃO SE REFERE: Depleção animal Estudos celulares Balanço químico Estudos in vitro Isótopos radioativos 2. A BIODISPONIBILIDADE DOS NUTRIENTES PODE SER INFLUENCIADA DE FORMA NEGATIVA E POSITIVA. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE INDICA UM ELEMENTO QUE AUXILIA DE FORMA POSITIVA A BIODISPONIBILIDADE DOS NUTRIENTES: Fibra insolúveis Fibras solúveis Água Proteína Açúcares GABARITO 1- A alternativa "E " está correta. Isótopos radioativos correspondem a uma metodologia que envolve radiação. Embora inofensiva aos indivíduos saudáveis, não podem ser testadas em crianças, gestantes e nutrizes. 2- A alternativa "B " está correta. As fibras solúveis podem ser fermentadas pela microbiota colônica, formando ácidos graxos de cadeia curta. INTRODUÇÃO Ao avaliar a composição química e nutricional, podemos classificar os alimentos em grupos como: Açúcares; Óleos e gorduras; Frutas; Hortaliças; Cereais; Carnes; Ovos e laticínios. Essa classificação permite o agrupamento dos alimentos por suas semelhanças nutricionais, ou seja, suas semelhanças na composição de macronutrientes e micronutrientes, que são as proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas e minerais presentes naturalmente em alimentos. Utilizando e conhecendo os grupos alimentares, é possível direcionar os indivíduos para ingestão de alimentos que promoverão um equilíbrio no consumo de nutrientes. Isso é feito por meio da indicação de alimentos e substitutos adequados para cada um de acordo com o grupo que esse produto se encontra e, consequentemente, com a sua composição nutricional. MÓDULO 1 Definir açúcares, óleos e gorduras, seus tipos e recomendação nutricional AÇÚCARES, ÓLEOS E GORDURAS Açúcares, óleos e gorduras são normalmente utilizados para auxiliar os processos de preparo (como cozimento e fritura) e, principalmente, fornecer sabor aos demais alimentos. São importantes fontes de energia e calorias para o corpo humano, usados por diversas culturas e regiões. Devem ser consumidos controladamente, evitando o desenvolvimento de doenças. AÇÚCARES DEFINIÇÃO DOS AÇÚCARES Os açúcares são grupos de alimentos compostos por macronutrientes carboidratos, substâncias constituídas por hidratos de carbono em sua forma mais simples, monossacarídeos e dissacarídeos. MONOSSACARÍDEOS São moléculas constituídas por unidades semelhantes, unidas por ligações peptídicas. Os mais comuns em alimentos são a glicose, a frutose e a galactose. DISSACARÍDEOS São constituídos por duas moléculas simples unidas por ligações peptídicas para formar um açúcar. Podemos citar como exemplos: a sacarose, que é obtida da cana-de-açúcar e formada pela união de moléculas de glicose e frutose; a lactose, que é o açúcar encontrado no leite e obtido pela união de glicose e galactose; e a maltose, que é obtida do malte e formada pela união de moléculas de glicose. Açúcares são moléculas que apresentam poder de adicionar sabor adocicado aos alimentos. Em razão disso, são muito utilizados em preparos alimentícios, sendo a sacarose o principal açúcar adicionado e consumido. VALOR NUTRICIONAL E RECOMENDAÇÕES Os açúcares são considerados a principal fonte de energia para o corpo devido à sua composição ser basicamente carboidratos (4kcal por grama consumido). Alguns alimentos doces considerados açúcares, como o melado de cana-de-açúcar (melaço), possuem ainda minerais, como ferro e cálcio, e vitaminas do complexo B. A rapadura, alimento também obtido da cana-de-açúcar, também apresenta valor nutricional maior, quando comparado à sacarose, apresentando em sua composição ferro e cálcio. ATENÇÃO O açúcar mascavo possui menor teor de sacarose que o açúcar branco, além de ser rico em diversos micronutrientes como cálcio, ferro, potássio, além de conter também vitaminas, componentes que reduzem a carga energética (RODRIGUES; GALLI; MACHADO, 1998; COENDER, 1996). Segundo a Organização Pan-Americana de saúde (OPAS) (2021), em 2015, a Organização Mundial de Saúde (OMS) criou um guia com novas diretrizes para consumo de açúcares, sendo recomendado que o consumo de açúcares livres não ultrapasse 10 % das calorias diárias, sendo o valor ideal de consumo de 5%. O açúcar livre não está incluso na composição de frutas e demais alimentos naturais, e sim é adicionado aos alimentos processados ou caseiros. A maior parte do consumo de açúcares no Brasil é obtida por meio da inclusão de alimentos processados em excesso no consumo alimentar diário. Esses açúcares são potencialmente responsáveis pelo desenvolvimento de doenças inflamatórias, crônicas e não transmissíveis, como diabetes, obesidade e câncer. Por essa razão, é ideal que sejam consumidos em quantidades controladas. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS A principal propriedade dos açúcares é a capacidade de geração de sabor doce. Além disso, apresentam boa solubilidade em água, que aumenta com o aquecimento das soluções. Aproximadamente 200g pode ser solubilizado em 100mL de água a 25°C, ou 333g em 100ml a 60°C (VETORAZZI; MACDONALD, 1989). VOCÊ SABIA O açúcar possui capacidade de formação de cristais em determinadas temperaturas (variando com o tipo de açúcar), que é uma característicadesejável para alteração de textura em alguns produtos, como leite condensado. Além disso, os açúcares podem ser utilizados como conservantes devido à capacidade de alteração da pressão osmótica, diminuindo a atividade de água e restringindo o crescimento dos microrganismos. TIPOS DE AÇÚCARES ENCONTRADOS OU ADICIONADOS A ALIMENTOS Os principais grupos de açúcares encontrados nos alimentos são sacarose e glicose. A sacarose é um dissacarídeo, formado por uma molécula de glicose e frutose, por sua vez, a glicose e a frutose são monossacarídeos. A sacarose é comumente extraída da beterraba (Beta vulgaris) e cana-de-açúcar (Sacharum officinarum). Está presente também em frutas (como pêssego, maçã, coco, abacaxi), mel, néctar de flores e algumas raízes (batata-doce, cebola) e cereais. A sacarose obtida da cana-de-açúcar é o açúcar definido pela legislação em diferentes grupos, classes e tipos, de acordo com os requisitos de identidade e qualidade definidos pela Instrução Normativa nº 47, de 30 de agosto de 2018 do Ministério da Agricultura e Agropecuária (BRASIL, 2018): As etapas de produção começam com a extração do caldo por processos mecânicos que separam o caldo do bagaço (ou fibra celulósica). Em seguida, o caldo é tratado por aquecimento e produtos químicos que irão flocular as impurezas removidas por decantação e peneiramento. caldo purificado é concentrado e cozido até cristalizar, dando origem a uma massa que será posteriormente centrifugada para separação física dos grãos de açúcar. Ao fim, esses grãos são secos para remoção da umidade. Grupo I: Envolve os açúcares que são vendidos diretamente ao consumidor final. De acordo com o processo de obtenção, é classificado em: CRISTAL BRANCO Extraído e clarificado do caldo da cana-de-açúcar por processos físico-químicos com branqueamento, evaporação, cristalização, centrifugação e secagem. CRISTAL BRUTO Obtido pelo mesmo processo de obtenção do cristal branco, mas sem a etapa de branqueamento. O cristal branco e o cristal bruto podem ser classificados em diferentes tipos de acordo com os limites dos parâmetros de polarização, umidade, cor, cinzas, pontos pretos e partículas magnetizadas, determinados pela Instrução Normativa nº 47, de 30 de agosto de 2018 (BRASIL, 2018). Esses cristais podem ser dos tipos: (conculsultar tabela no slide) Grupo II: Envolve o açúcar destinado à indústria alimentícia e a outras finalidades de uso. De acordo com o processo de obtenção e o estado físico, o açúcar do grupo II será: BRANCO Obtido pela extração e clarificação do caldo da cana-de-açúcar seguido de branqueamento, evaporação, cristalização, centrifugação e secagem. BRUTO Semelhante ao branco, porém, sem a etapa de clarificação. LÍQUIDO Obtido pela dissolução do açúcar cristal ou refinado, seguido da purificação. De acordo com os limites dos parâmetros expostos para esse grupo presente na Instrução Normativa nº 47 de 30 de agosto de 2018 (BRASIL, 2018), o açúcar pode ser dos tipos: Cristal, refinado granulado, refinado amorfo ou refinado, açúcar de confeiteiro demerara, VHP ou Very High Polarization, VVHP ou Very Very High Polarization: javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Definição semelhante à descrita para o grupo I. Líquido: Obtido pela dissolução do açúcar cristal ou refinado e purificação da calda. Líquido invertido: Obtido pela dissolução do açúcar cristal ou refinado, seguido de purificação e inversão Se não atender a nenhum dos requisitos, o açúcar poderá ser chamado de Fora de Tipo. Demais tipos de açúcares são comuns na alimentação, como mascavo e rapadura. Eles são produzidos de modo artesanal e apresentam coloração escura quando comparados aos açúcares cristal e refinado comercializados. Para obtenção desses produtos, a cana-de-açúcar é esmagada para extração do caldo que passa pelo peneiramento visando à remoção de impurezas. Em seguida, é aquecido para concentração até atingir o ponto de cristalização da sacarose (DELGADO; DELGADO, 1999; GENEROSO, et al., 2009; LOPES; BORGES, 1998). COMPOSIÇÃO QUÍMICA A composição dos principais açúcares está diretamente relacionada à sua forma de obtenção, como mostrado no tópico acima. Na tabela abaixo, estão expostos os principais macro e micronutrientes encontrados nos açúcares mais comuns consumidos. Composição química de açúcares presentes na alimentação de brasileiros. *composição é dada por 100g de parte comestível. **Tr: traço. Tabela: Adaptado TACO, 2011, pág. 59-61. ÓLEOS E GORDURAS DEFINIÇÃO DE ÓLEOS E GORDURAS Óleo e gorduras são produtos constituídos por macronutrientes chamados lipídios. São hidrofóbicos e insolúveis em água. Eles apresentam em sua estrutura ácidos graxos saturados ou insaturados. Os triacilgliceróis são os ácidos graxos mais encontrados em óleos e gorduras alimentícios. Eles são compostos por 3 ácidos graxos que são unidos ao glicerol por ligação éster (JORGE, 2009). Na imagem, é possível ver a estrutura básica dos triacilgliceróis. As propriedades químicas desse grupo alimentar estão diretamente relacionadas à composição dos ácidos graxos. GORDURAS As gorduras apresentam aproximadamente de 98 a 99% da sua composição de triacilgliceróis de cadeia longa (JORGE, 2009). Elas se apresentam em estado sólido em temperatura ambiente (aproximadamente 20°C). ÓLEOS Enquanto os óleos são líquidos, o que está relacionado à proporção de ácidos graxos saturados e insaturados. VOCÊ SABIA A denominação “azeite” ocorre quando os óleos são extraídos da polpa de frutas. O nome é dado por “azeite” acrescido da fruta de origem, como azeite de oliva, que é extraído dos frutos da oliveira. A manteiga entende-se por um produto gorduroso obtido pela bateção e malaxagem, com ou sem modificação biológica de creme pasteurizado derivado exclusivamente do leite de vaca, por promessa tecnologicamente adequados. FUNÇÕES DOS ÓLEOS E GORDURAS Tecnologicamente, óleos e gorduras apresentam capacidade de emulsificar, além de propriedades texturizantes e umectantes. Fornecem palatabilidade aos alimentos, sendo importantes para o aroma e flavor. Apresentam boa condutividade em processos de transferência de calor, facilitando os processos de fritura. Além disso, também apresentam diversas funções fisiológicas, sendo a principal o fornecimento de energia e fonte de ácidos graxos essenciais. Também possuem importância para diversas reações enzimáticas, participam da transmissão de impulsos nervosos, do armazenamento de memória e síntese de hormônios. São fontes principais de ácidos graxos essenciais e carreadores de vitaminas (como A, D, E e K) (JORGE, 2009). RECOMENDAÇÕES E FONTES ALIMENTARES Segundo o Guia Alimentar para população brasileira (2014), óleos e gorduras devem ser usados no preparo de alimentos em pequenas quantidades, pois possuem elevada caloria, podendo apresentar até 6 vezes mais calorias por grama que grãos cozidos e 20 vezes mais calorias que verduras e legumes cozidos. Entre o consumo diário de calorias, é recomendado que 20 a 35% do total seja de gorduras, visto que uma dieta com redução do total de gorduras e rica em carboidratos, pode contribuir para elevação do triglicérides e redução da lipoproteína “colesterol bom” HDL, enquanto o excesso (consumo maior que 35 % das calorias totais) é potencialmente causador de obesidade e, por consequência, de doenças cardiovasculares (Institute of Medicine, 2005). ATENÇÃO Deve-se ficar atento aos tipos de gorduras e óleos disponíveis e sua composição. São preferíveis óleos e gorduras insaturados, como os óleos vegetais. Entre os indicados, estão os óleos de soja, milho, canola. Também é indicado o consumo de alimentos oleosos, como linhaça, nozes e gérmen de trigo, que são boas fontes de ácidos graxos essenciais. As gorduras sólidas, como manteigae óleo de coco, são, principalmente, compostas por ácidos graxos saturados. Por conta disso, é necessário moderação no seu consumo. Evita-se ainda o consumo de produtos hidrogenados, como gorduras trans, comumente, encontradas em alimentos industrializados devido às suas propriedades tecnológicas. As gorduras saturadas estão relacionadas à elevação dos níveis do colesterol LDL e redução dos níveis de HDL. TIPOS DE ÓLEOS E GORDURAS A Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 270 de 22 de setembro de 2005 (BRASIL, 2005), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) do Ministério da Saúde, apresenta os padrões de qualidade e identidade de óleos vegetais, gorduras vegetais e cremes, classificando-os em: Óleos vegetais e gorduras vegetais: Composto por glicerídeos de ácidos graxos vegetais, podendo estar presentes em quantidades menores de outros lipídios, como fosfolipídios, constituintes insaponificáveis e ácidos graxos livres. Óleos vegetais: Líquidos a 25ºC e gorduras vegetais são sólidas ou pastosas. Azeite de oliva: É extraído dos frutos da oliveira (Olea europaea L.), sem que haja reações com solventes, processos de reesterificação e mistura de outros óleos. Azeite de oliva virgem: Produto extraído dos frutos da oliveira (Olea europaea L.) por meio de processos mecânicos ou físicos sem tratamentos subsequentes. Óleo de bagaço de oliva refinado: Extraído do bagaço dos frutos da oliveira (Olea europaea L.), por métodos que envolvem solventes ou tratamentos físicos, seguido da refinação. Óleos mistos ou compostos: Mistura de óleos de diferentes fontes vegetais. Óleos vegetais e gorduras vegetais com especiarias: Óleos e gorduras extraídos de fontes vegetais com adição de especiarias. Óleos e gorduras vegetais modificados: Produzidos a partir de óleo por processos físicos ou químicos, como o fracionamento, a hidrogenação ou a interesterificação. Creme Vegetal: Emulsão de água e óleo vegetal e ou gordura vegetal, com ou sem adição de outros ingredientes. Todos devem ser nomeados como “óleo” ou “azeite” e o nome da fruta de origem. O azeite de dendê é uma exceção, uma vez que seu óleo é extraído de palma. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. OS AÇÚCARES SÃO CARBOIDRATOS NORMALMENTE EXTRAÍDOS DA CANA-DE- AÇÚCAR E BETERRABA, UTILIZADOS PARA ADOÇAR OS ALIMENTOS. SOBRE ESSE GRUPO ALIMENTAR, ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA. O principal dissacarídeo usado para adoçar os alimentos é a sacarose. O demerara é o açúcar bruto que não passa pelo refino. Açúcar de confeiteiro é uma nomenclatura inventada popularmente que não apresenta definição na legislação brasileira. O açúcar possui capacidade de cristalização. Alguns tipos de açúcares apresentam em sua composição carboidratos e minerais. 2. O USO DE ÓLEOS E GORDURAS NA CULINÁRIA DEVE SER FEITO EM PEQUENAS QUANTIDADES. PORÉM, APESAR DISSO, SÃO IMPORTANTES FONTES DE LIPÍDIOS. SOBRE ESSE GRUPO ALIMENTAR, ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA. São importante fontes de ácidos graxos essenciais. Manteiga são óleos produzidos de fontes vegetais. Óleo e gordura é o nome popular para o mesmo produto, não apresentando nenhuma diferença. Os principais lipídios encontrados em óleos alimentícios são os triglicerídeos. Os azeites são óleos extraídos de frutas. GABARITO 1. Os açúcares são carboidratos normalmente extraídos da cana-de-açúcar e beterraba, utilizados para adoçar os alimentos. Sobre esse grupo alimentar, assinale a alternativa incorreta. 1- A alternativa "C " está correta. Segundo Instrução Normativa nº 47, de 30 de agosto de 2018 do MAPA, o açúcar de confeiteiro é o produto do peneiramento ou extração do pó do açúcar cristal ou refinado amorfo. 2-A alternativa "B " está correta. As gorduras e os óleos se diferem principalmente pelo estado físico em temperatura ambiente. Gorduras são sólidas nessa temperatura, enquanto óleos são líquidos. MÓDULO 2 Definir frutas, hortaliças e cereais e suas recomendações nutricionais FRUTAS, HORTALIÇAS E CEREAIS Entre os produtos de origem vegetal, estão os grupos de alimentos: frutas, hortaliças e cereais. Em sua maioria, esses alimentos são consumidos na forma que são obtidos na natureza (in natura) e devem estar presentes diariamente na dieta em quantidades relativamente altas. VOCÊ SABIA Esses alimentos apresentam em sua composição muitos macronutrientes e micronutrientes que variam de acordo com espécie, variedade e fatores ambientais do local onde são produzidos. Porém, são alimentos sazonais, ou seja, somente são produzidos em determinados períodos do ano. A partir disto, surge o processamento (como produção de sucos e demais bebidas prontas para o consumo) desse tipo de alimento, visando à distribuição deles por um maior período. FRUTAS Compondo um dos setores de maior importância para a economia brasileira, a produção de frutas se destaca quando comparada a de outros países devido à sua diversidade. Atualmente, o Brasil é o terceiro maior produtor de frutas, que são direcionadas, tanto para o consumo in natura, como para o processamento e produção de bebidas e doces. DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO As frutas são produtos vegetais produzidos pela frutificação de vegetais. Segundo Belitz, Grosch e Schieberle (2009), elas podem ser classificadas em: Frutas de sementes (Ex.: maçã) Frutas com caroço (Ex.: pêssego) Bagas ou berries (Ex.: morango) Frutas tropicais e subtropicais (Ex.: acerola, banana, mamão) Frutas secas de casca dura Frutas silvestres Quanto ao processo de maturação, as frutas podem ser classificadas em climatéricas e não climatéricas. Frutos climatéricos são aqueles que continuam o processo de maturação mesmo após a colheita, por exemplo, abacate, banana, kiwi, manga, mamão, maçã, pera, ameixa e maracujá. Eles apresentam aumento da taxa de respiração e da produção do hormônio do amadurecimento etileno após serem colhidos. Já os frutos não climatéricos apresentam um decréscimo nas atividades respiratórias do fruto. Portanto, ao invés de continuarem o amadurecimento, entram nos processos de senescência. Entre os frutos não climatéricos, estão: limão, carambola, cereja, laranja, figo, melancia etc. COMPOSIÇÃO A composição química das frutas varia de acordo com diversos fatores como composição do solo e características do local onde é produzida (altitude, umidade relativa e temperatura ambiente). As frutas ainda apresentam diferenças quanto à variedade e ao estágio de maturação que se encontram. ATENÇÃO Em sua maioria, frutas são constituídas por açúcares (principalmente, os polissacarídeos) e ácidos orgânicos, além de apresentarem em menores quantidades proteínas, lipídios, vitaminas e minerais, assim como pigmentos e substâncias aromáticas (BELITZ; GROSCH; SCHIEBERLE, 2009). 1) CARBOIDRATOS Dos açúcares presentes em frutas, estão, principalmente, a frutose e a sacarose. Na tabela abaixo, é possível ver a composição de açúcares em algumas frutas. Outros açúcares podem ser amplamente encontrados na composição de diversas frutas como arabinose, xilose, sorbitol. Composição dos principais açúcares presentes em algumas frutas amplamente consumidas no Brasil. Fruta Glicose (% da porção comestível) Frutose (% da porção comestível) Sacarose (% da porção comestível) Maçã 1,8 5,7 2,4 Pêra 1,8 6,7 1,8 Uva 7,2 7,4 0,4 Laranja 2,4 2,4 3,4 Limão 1,4 1,4 0,4 Banana 3,5 3,4 10,3 Abacaxi 2,3 2,4 7,9 SAIBA MAIS Alguns dos carboidratos presentes nas frutas são indigeríveis, por isso, são chamados de fibras. Eles promovem a saciedade e auxiliam na formação do bolo fecal, formando um gel e ativando o funcionamento do intestino. Devido a essa ação, previnem problemas intestinais, inclusive, o câncer. 2) PROTEÍNAS Entre as proteínas, as principais encontradas em frutas, apresentam atividade enzimática, principalmente, as envolvidas no metabolismode carboidratos, como pectina, enzimas pectinolíticas, celulases, amilases, fosforilases, sacarases, enzimas do ciclo da pentose fosfato, aldolases, ou no metabolismo dos lipídios, como lipases e lipoxigenases. As enzimas peroxidase e polifenoloxidase são as comumente conhecidas e envolvidas em alterações tanto no teor nutricional (degradação de vitaminas e compostos fenólicos) como em fatores sensoriais como cor. Essas enzimas participam do processo de escurecimento enzimático, e a reação que é influenciada pela presença de oxigênio, substâncias redutoras, íons metálicos, pH, temperatura e atividade de enzimas oxidativas forma ao final pigmentos escuros chamados de melaninas (LÓPEZ-NICOLÁS et al., 2007). Além disso, elas também apresentam em sua composição aminoácidos e aminas livres. EXEMPLO A maçã apresenta quantidades das aminas metilamina, etilamina, propilamina, butilamina, hexilamina, octilamina, dimetilamina, espermina, espermidina. 3) LIPÍDIOS Normalmente, o teor de lipídios é baixo, de aproximadamente, 0,1 a 0,5% do peso úmido, aumentando significativamente nas sementes (BELITZ; GROSCH; SCHIEBERLE, 2009). EXEMPLO O abacate é a fruta que se destaca na quantidade de lipídios, apresentando, aproximadamente, 16% da polpa (em média) de lipídios que incluem, principalmente, ácido oleico, palmítico, linoleico, palmitoleico e esteárico. Devido ao alto teor de lipídios, essa fruta tem sido usada para extração de óleo ou azeite, tanto para consumo, como para uso em demais setores, como farmacêuticos (TANGO; CARVALHO; SOARES, 2004). 4) PIGMENTOS E COMPOSTOS BIOATIVOS Os pigmentos são aqueles que, em sua maioria, além de conferirem cor e características às frutas, também apresentam influência em suas propriedades funcionais e aroma. Alguns deles são compostos bioativos, que são nutrientes capazes de atuar no corpo prevenindo doenças. Um dos pigmentos mais comuns em frutas são os carotenoides. Existem diversos carotenoides em frutas, como: Fitoeno; Fitoflueno; ζ-Caroteno; Licopeno; α e β- Caroteno; β-Zeacaroteno; Lycoxantina; α; criptoxantina; Dentre outros. Frutas que contêm betacaroteno: O betacaroteno além de apresentar um grupamento cromóforo, que dá a coloração alaranjada às frutas como abacaxi, carambola, banana, laranja, pêssego, dentre outras, apresenta algumas propriedades antioxidantes. SAIBA MAIS Outro carotenoide importante é o licopeno. Muito encontrado em tomates, ele promove a coloração vermelha, possui propriedades antioxidantes, reduz a oxidação do colesterol LDL e previne arteriosclerose e doenças coronárias. Outro pigmento muito encontrado é a antocianina, que é hidrossolúvel e instável a fatores como pH, luz, temperatura e oxigênio, além disso, pode ser degradado devido à ação das enzimas peroxidase e polifenoloxidase. Esse pigmento possui atividade antioxidante e é responsável pela coloração de frutas nas tonalidades azul, roxo e vermelho. Entre as frutas que apresentam antocianinas, estão: açaí, jussara, jambo e acerola. 5) VITAMINAS E MINERAIS As frutas são fontes importantes de vitaminas e minerais. As quantidades e composições desses micronutrientes variam de acordo com a fruta e a espécie. VOCÊ SABIA A vitamina C é a encontrada em maior quantidade, segundo a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO, 2011). Frutas, como abacaxi, ameixa, acerola, banana, jaca, laranja apresentam quantidades significativas de ácido ascórbico (vitamina C). Além disso, damasco, cereja, melão e pêssego possuem altas quantidades de β- caroteno, que é a provitamina A. Algumas frutas cítricas, figos e groselhas apresentam vitaminas do complexo B, como ácido pantotênico e biotina. Entre as vitaminas do complexo B, podemos citar a: TIAMINA RIBOFLAVINA PIRIDOXINA NIACINA COMENTÁRIO As variedades de bananas, muito consumidas pela população brasileira segundo os dados da POF 2017- 2018, apresentam quantidades muito baixas (traços) a 0,13mg por 100g de tiamina, e de 0,03 a 0,14 mg por 100g de piridoxina (vitamina B6) (TACO, 2011). Quanto aos minerais, é encontrada uma variedade grande desses micronutrientes em quantidades que podem ir de traços até 500mg por 100g. Entre os minerais mais observados, têm-se o potássio, fósforo, magnésio, manganês, sódio, cálcio, ferro e outros. A banana pode conter 508mg por 100g de potássio Enquanto o abacaxi contém, em média, 206mg (TACO, 2011). HORTALIÇAS DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO As hortaliças, consideradas plantas herbáceas, são utilizadas como alimentos sem que haja algum processamento, ou seja, em sua forma in natura. A parte verde consumida é chamada de verdura. Os frutos ou sementes de diferentes espécies de plantas, incluindo leguminosas, são chamados de legumes. Por fim, as partes subterrâneas são as raízes, tubérculos e rizomas (BRASIL, 1978). Na tabela abaixo, são apresentados alguns exemplos: Exemplos dos tipos de hortaliças. Tipos de Hortaliças Verduras Legumes Raízes, turbérculos e rizomas Alface Beringela Batata Chicória Chuchu Cenoura Almeirão Abobrinha Aipim Agrião Abóbora Beterraba Brócolis Palmito Cebola Couve Ervilha Alho javascript:void(0) javascript:void(0) COMPOSIÇÃO QUÍMICA Segundo Belitz, Grosch e Schieberle (2009), os vegetais apresentam de 1 a 5% de compostos nitrogenados, de 3 a 20% de carboidratos, 0,1–0,3% de lipídios, aproximadamente 1% de fibra bruta e minerais, além de vitaminas, minerais, substâncias aromatizantes e fibras dietéticas em menores quantidades. 1. COMPOSTOS NITROGENADOS: PROTEÍNAS Da quantidade de compostos nitrogenados, 35 a 80% são de proteínas, e o restante de aminoácidos, peptídeos e demais moléculas. Entre as proteínas, as principais possuem atividade enzimática, atuando em reações de escurecimento, modificação de pigmentos, sobre vitaminas, celuloses, taninos e inclusive quebrando outras proteínas. Entre as enzimas presentes, estão: as oxidorredutases, como lipoxigenases, fenoloxidases, peroxidases, hidrolases, como glicosidases, esterases, proteinases, transferases como transaminases, Liases, como descarboxilase do ácido glutâmico, aliinase, hidroperóxido liase, e ligases como a glutamina sintetase (BELITZ; GROSCH; SCHIEBERLE, 2009). 2. CARBOIDRATOS Assim como nas frutas, os açúcares predominantemente encontrados nas hortaliças são a glicose e a frutose, que representam de 0,3 a 4% da composição, enquanto a sacarose possui de 0,1 a 12 %. Demais monossacarídeos também compõem esses alimentos, como rafinose, estaquiose, verbascose e manitol. Quanto aos polissacarídeos, temos o amido, presente em grande quantidade em algumas raízes e tubérculos, a pectina, a celulose e a hemicelulose, normalmente, apresentando função estrutural a esses grupos de alimentos. As hortaliças podem ser classificadas quanto ao teor desse nutriente. Entre os alimentos que contêm menores quantidades de carboidratos (5 a 10 %), estão abobrinha, agrião, acelga, alface, beringela, brócolis etc. Entre os alimentos que apresentam teores intermediários, de 10% a 20%, estão abóbora, bardana, beterraba, cenoura, chuchu, ervilha-verde etc. Entre os alimentos que apresentam mais de 20% de carboidratos, estão aipim, araruta, mandioquinha, batata-doce, batata-baroa, inhame, dentre outros. 3. ÁCIDOS ORGÂNICOS São os principais componentes responsáveis pelo sabor e aroma, variando com o estágio de maturação, forma de cultivo e com alterações inclusive entre os mesmos vegetais. Entre os ácidos mais encontrados, estão: O ácido málico (Ex: cenoura) O ácido cítrico (Ex: batata) O ácido tartárico e o ácido oxálico (Ex: espinafre) ATENÇÃO A quantidade desses componentes normalmente é reduzida com o processo de maturação (ORNELLAS, 2006). 4. LIPÍDIOS Além de triacilgliceróis, glicolipídios e fosfolipídios, os lipídios se destacam pela presença de diferentes tipos dos pigmentos lipossolúveis carotenoides comoα e β- carotenoides, Licopeno, Luteína, Zeaxantina, Capsantina, Neoxantina, dentre outros. 5. VITAMINAS E MINERAIS Fontes de diferentes vitaminas e minerais que variam em cada tipo de alimento. Algumas fontes e a composição de alguns desses micronutrientes são apresentadas na tabela a seguir. Quantidade em mg /100g de matéria fresca de algumas vitaminas e minerais em algumas hortaliças. COMENTÁRIO Além dos nutrientes citados, que, normalmente, desempenham funções básicas no organismo, as hortaliças também possuem importantes quantidades de compostos bioativos. Essas substâncias presentes em alimentos fornecem benefícios para saúde, principalmente, na prevenção de doenças, protegendo o organismo contra danos oxidativos causados por radicais livres. Entre os compostos bioativos, podemos citar os compostos fenólicos, componentes que apresentam alta atividade antioxidante e que podem ser não flavonoides e flavonoides. Dentro dos flavonoides, estão as antocianinas, substâncias encontradas em frutas. ANTOCIANINAS São moléculas polares que apresentam em sua estrutura grupos de hidroxilas, carboxilas, metoxilas e glicosilas residuais ligados a um núcleo de anéis aromáticos (XAVIER, 2004); seu consumo pode auxiliar na redução do estresse oxidativo no organismo, prevenindo certos tipos de câncer e doenças cardiovasculares. Além disso, atuam sobre o sistema imune, devido à sua ação antioxidante. Outro composto bioativo muito encontrado e que também apresenta função antioxidante é a clorofila. É importante ainda citar os carotenoides e as vitaminas, como o ácido ascórbico e vitamina E, que também apresentam estas funções e auxiliam na prevenção de doenças. CEREAIS Os cereais são produzidos pelas gramíneas, em espigas ou não. Eles podem ser consumidos devido a processos simples de cozimento ou por seus derivados, como farinhas e produtos produzidos com elas, como massas alimentícias, biscoitos, pães. Entre os principais cereais consumidos estão trigo, centeio, arroz, cevada, milho e aveia. VOCÊ SABIA Estima-se que o consumo desses e de seus produtos, principalmente, pães, supra 50% das necessidades diárias de carboidratos, um terço das proteínas e 50- javascript:void(0) 60% de vitamina B (BELITZ; GROSCH; SCHIEBERLE, 2009). ESTRUTURA DOS GRÃOS E COMPOSIÇÃO QUÍMICA Os grãos são compostos por pericarpo (casca e película), endosperma e germe. Cada parte possui uma composição química diferente. O pericarpo é rico em fibras, principalmente, celulose, minerais e vitaminas, enquanto o endosperma possui grande quantidade de amido e proteínas, e o germe é fonte de gorduras insaturadas. Durante o processamento dos grãos nas indústrias, ocorre o beneficiamento, no qual a casca, a película e o germe são removidos, mantendo, principalmente, amido e proteínas de alto valor biológico, para processos de moagem que resultarão na farinha. Esse produto secundário deve ser enriquecido com vitaminas do complexo B (B1 e B2) e minerais como o ferro. COMENTÁRIO Em geral, os cereais são excelentes fontes de carboidratos, além de possuírem diferentes vitaminas e minerais, sendo as vitaminas mais comuns tiamina, riboflavina, niacina e ácido pantotênico. O teor de proteínas nos cereais é variável, porém, aminoácidos como lisina, treonina, triptofano e metionina são pouco encontrados em todos os tipos. Por isso, é indicado o consumo de leguminosas associado aos cereais para suprir essa deficiência. Na tabela abaixo é exposta a composição química de alguns cereais. Composição de alguns cereais. Valores de proteínas, lipídios, carboidratos, fibras e minerais são dados em % do peso, e vitaminas são em mg por kg. Composição Trigo Centeio Milho Aveia Arroz Proteínas 11,7 9,5 9,2 12,6 7,4 Lipídios 2,2 1,7 3,8 7,1 2,4 Carboidratos 59,2 60,7 64,2 55,7 74,1 Fibras 13,3 13,1 9,7 9,7 2,2 Minerais 1,5 1,9 1,3 2,85 1,2 Tiamina 5,5 4,6 5,7 7,0 3,4 Niacina 63,6 15 26,6 17,8 54,1 Riboflavina 1,3 1,8 1,3 1,8 0,55 Ác. Pantotênico 13,6 7,7 59 14,5 7,0 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS DE FRUTAS, HORTALIÇAS E CEREAIS Sabe-se que o consumo em quantidades adequadas de frutas e hortaliças é um fator que auxilia potencialmente na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, como câncer, diabetes e obesidade, devido à quantidade de macro e micronutrientes presentes nesses alimentos. Além disso, o consumo adequado de frutas, hortaliças e cereais mantém as atividades fisiológicas do corpo em ideal funcionamento, visto que esses alimentos possuem uma alta diversidade de vitaminas e minerais, que participam de diferentes reações do organismo. Por essa razão, o consumo desses grupos alimentares é altamente indicado no Guia Alimentar para população brasileira. O consumo ainda não é o adequado apesar de o Brasil produzir uma alta quantidade e diversidade desses grupos alimentares devido ao seu clima e solo. VOCÊ SABIA Apenas 24,1% dos brasileiros ingerem a quantidade mínima ideal de frutas e hortaliças determinada pela Organização Mundial de Saúde, que é de 400 g diários. Segundo a Pesquisa Mundial de Saúde de 2002, 78% pessoas com idade superior a 18 anos não consumiam a quantidade recomendada de frutas, legumes e verduras (WHO, 2003). Segundo a última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF, 2017-2018), os homens apresentam os menores consumos de verduras, legumes e frutas, assim como os adolescentes ingerem menores quantidades de que adultos e idosos. Constatou-se ainda que somente 3,1% do consumo diário de calorias totais era de frutas, sendo: 1,6% de sucos naturais Apenas 1,9% de consumo era verduras e legumes 1,8% de raízes e turbérculos FRUTAS, HORTALIÇAS E CEREAIS: A IMPORTÂNCIA DO CONSUMO E SEUS BENEFÍCIOS A SAÚDE A especialista Carolina Beres fala sobre as características químicas, tipos, recomendações e benefícios deste grupo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. AS FRUTAS SÃO PRODUTOS DA FRUTIFICAÇÃO DE PLANTAS QUE APRESENTAM DIVERSOS NUTRIENTES, VITAMINAS E MINERAIS E, NORMALMENTE, SÃO CONSUMIDAS IN NATURA. AVALIE AS SENTENÇAS E MARQUE A OPÇÃO CORRETA. I. FRUTAS CLIMATÉRICAS APRESENTAM BAIXA TAXA DE RESPIRAÇÃO APÓS SEREM COLHIDAS. II. A COMPOSIÇÃO DAS FRUTAS DEPENDE DE FATORES COMO ESPÉCIE, VARIEDADE E LOCAL ONDE SÃO PRODUZIDAS. III. DENTRE OS CARBOIDRATOS PRESENTES, A FRUTOSE É O MAIS COMUM. Apenas I é correta. Apenas II é correta. II e III são corretas I e III são corretas. Apenas III é correta. 2. CEREAIS SÃO PRODUTOS DAS GRAMÍNEAS, QUE PODEM ESTAR EM ESPIGAS OU NÃO. SÃO MUITO CONSUMIDOS COZIDOS E COM PREPAROS SIMPLES. SABENDO DISSO, QUAIS DAS ALTERNATIVAS ABAIXO APRESENTA ERRO: Cereais são utilizados para produção de farinhas usadas no processamento de produtos panificados. Beneficiamento de cereais é a etapa de limpeza e remoção da casca quando necessário. O pericarpo é a parte dos grãos rica em amidos. São excelentes fontes de carboidratos e, quando consumido com casca, são fontes de fibras. A associação de cereais e leguminosas apresenta benefícios no consumo de nutrientes. GABARITO 1 I. Frutas climatéricas apresentam baixa taxa de respiração após serem colhidas. II. A composição das frutas depende de fatores como espécie, variedade e local onde são produzidas. III. Dentre os carboidratos presentes, a frutose é o mais comum. A alternativa "C " está correta. As frutas climatéricas continuam a respiração após serem colhidas, tendo um máximo nessa taxa, e continuando o amadurecimento. Por isso, a I é incorreta. A composição de frutas e hortaliças varia de acordo com espécie, variedade da planta temperatura, solo e altitude, o que torna a II verdadeira. Apesar de haver diferentes carboidratos variando de fruta para fruta, a frutose é o mais encontrado. Por isso, a III é verdadeira. 2-A alternativa "C " está correta. O pericarpo é parte que contém maior teor de fibras, sendo o endosperma a maior fonte de amido
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