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AULA 07 - PENAL II

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AULA 07 – CONCAUSAS E TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA 
· Concausas:
Mais de um evento causal relacionado a um mesmo resultado. A grande questão é compreender até onde vai a imputação do resultado final. 
A doutrina divide as concausas em duas espécies: 
	ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES
	RELATIVAMENTE INDEPENDENTES
	São concausas que independem uma da outra, não possuindo, desse modo, um vínculo de origem;
É necessário identificar a concausa responsável pelo resultado, imputando-se a ela a consumação;
As demais concausas respondem, no máximo, à tentativa, ou seja, será imputada às demais concausas, no máximo, a tentativa;
	Concausas relacionadas entre si, possuindo um vínculo desde a origem, de modo que o resultado deriva de uma soma de esforços (conjunto);
Soma-se as concausas para imputar a todas, conjuntamente, a consumação; 
Quanto ao momento, as concausas, sejam as absolutamente independentes, sejam as relativamente independentes, podem ser: 
	
	ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES
	RELATIVAMENTE INDEPENDENTES
	PREEXISTENTES
	A atira em B com a intenção de matar. B morre, mas não em razão do tiro, e sim por envenenamento pois, coincidentemente, havia ingerido veneno minutos antes.
O veneno é uma concausa absolutamente independente, preexistente ao tiro e foi a efetiva causa mortis (o evento efetivo para a consumação);
A não pode ser considerado causador da morte de B. A responde pelo crime de tentativa de homicídio. 
	A planeja matar B. Sabendo que B é hemofílico, A desfere uma facada na perna da vítima, que morre em decorrência da hemorragia. A perícia, ao constatar a morte, afirma que o golpe não mataria uma pessoa não hemofílica. 
A, desde o começo, já sabia da hemofilia. O fato de A saber da hemofilia é crucial para essa questão. Existe uma fusão entre o tiro e o fato da vítima ser hemofílica. A responde por homicídio doloso consumado.
	CONCOMITANTES
	A e B atiram em C, sem combinar previamente entre si, com a intenção de matar. O tiro de B atinge a vítima na cabeça, causando-lhe a morte. O tiro de A lesiona, de raspão, o dedo do pé da vítima. 
O tiro de B é uma concausa absolutamente independente e concominante em relação ao tiro de A e foi a efetiva causa mortis. B responde por homicídio doloso consumado.
A atirou em C com a intenção de matá-lo e o resultado foi a morte, entretanto, o tiro de A não foi a causa da morte de C. A responde por tentativa de homicídio.
	A e B, combinam entre si, matar C, ministrando, cada um, 2mg de veneno. A perícia constata morte por envenenamento com dose mínima letal de 3mg. 
Ambos respondem por homicídio doloso consumado.
	SUPERVENIENTES
	A atira em B com o objetivo de matar. Logo em seguida, repentinamente, e com B ainda em vida, ocorre um terremoto que leva ao desabamento do prédio, causando a morte de B por traumatismo craniano. 
O terremoto foi uma mera coincidência. Ademais, foi uma concausa absolutamente independente, superveniente (posterior) e foi a efetiva causa mortis. A responde por tentativa de homicídio.
	Única hipótese na qual o legislador fez questão de expressar (art. 13, § 1º - CP*). A forma (“por si só”) pela qual é enunciada ascende um debate doutrinário. 
	
	
	ROMPEU O NEXO (“sim”)
A atira em B com a intenção de matar. B sobrevive ao tiro e é levado, em ambulância, e, a caminho do hospital, se envolve em um acidente, ocasionando a morte de todos que estavam no veículo, inclusive de B. 
B só foi parar naquela ambulância em decorrência do tiro disparado por A (existe um vínculo inegável). Ademais, é necessário saber se o acidente da ambulância rompe ou não rompe o nexo da causalidade. 
Esse caso é algo inusitado e, rompendo o nexo de causalidade, A responde pela tentativa. 
	NÃO ROMPEU (“não”)
A, com o objetivo de matar, dispara um tiro contra B. B é levado ao hospital e na tentativa de retirada do projétil, alojado em região cerebral, acaba tendo área vital atingida e morre. 
A responde por homicídio doloso consumado (responde pela regra geral). Infecções hospitalares e erros de procedimentos (a não ser que sejam grosseiros – como a não esterilização de equipamentos), consoante a jurisprudência, não rompem o nexo de causalidade.
*Art. 13 – CP: O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.  
Superveniência de causa independente  
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
Portanto, uma concausa superveniente relativamente independente poderá romper o nexo de causalidade (“quando, por si só, produziu o resultado”). 
O momento (quando rompe o nexo de causalidade) deve ser analisado a luz do caso concreto. Primeiramente, é necessário o questionamento “essa concausa rompe ou não rompe o nexo de causalidade?”. 
· Rompe o nexo: Quando se estiver diante de situações incomuns, completamente fora de um desdobramento causal normal. A concausa pré-existente imputa-se, no máximo, a tentativa, já que a superveniente rompeu o nexo. 
· Não rompe o nexo: Quando se estiver diante de desdobramentos comuns, realmente possíveis. Já que não houve ruptura, imputa-se a todas as concausas a consumação.
Essa expressão “por si só” deve ser abandonada na interpretação do Direito, a não ser em questões objetivas de vestibulares e concursos, uma vez que a compreensão de tal dispositivo normativo é distinta do que se encontra expresso. 
2. Teoria da imputação objetiva: 
A teoria da equivalência dos antecedentes causais gera um regresso ao infinito que não é resolvido no âmbito do nexo de causalidade, mas somente quando se analisa dolo e culpa. 
A teoria da imputação objetiva tem como objetivo restringir o âmbito da imputação objetiva, corrigindo os erros da teoria anteriormente citada. 
A teoria da imputação objetiva trata-se da sistematização de uma série de teorias relacionadas à imputação, normalmente se atribuindo autoria a Claus Roxin. 
Na verdade, o seu objetivo é excluir a imputação. 
O Direito Penal trabalha com o princípio da responsabilidade subjetiva, demandando a análise do elemento subjetivo na ocorrência do delito. 
Dentro dos aspectos objetivos, analisa-se o que o indivíduo causou; no plano subjetivo, analisa-se o que o indivíduo quis causar e se quis causar (dolo/culpa). A teoria da imputação objetiva não contradiz o princípio da responsabilidade subjetiva. 
Sociedade do risco: todos, ao mesmo tempo, estão criando riscos. Passa-se a compreender quais riscos são passíveis de responsabilização criminal e quais não são. Destarte, identifica-se os riscos permitidos e os riscos proibidos. Se compararmos os riscos experimentados pela sociedade pós-Revolução Industrial com os riscos experimentados pela nossa sociedade contemporânea, infere-se que a dinâmica dos riscos nos séculos passados é totalmente diferente. Quando foram criadas as indústrias, houve um grande boom de empreendedorismo de risco (o desempenho das atividades passa a ser muito mais arriscado). Era possível traçar uma linha direta e muito precisa entre causa e consequência (ex: um instrumento industrial, em um manuseio desatento, causou a morte de um operário). A nossa sociedade é uma sociedade que convive com riscos (como o uso constante do celular), daí a necessidade de criminalmente se analisar até que ponto se pode responsabilizar um indivíduo (na hipótese de um celular utilizado ininterruptamente gerou um tumor em certo indivíduo – até que ponto o criador pode responder?). 
Fala-se, nessa perspectiva, em: 
· Risco permitido;
· Risco proibido;
Trabalha-se com uma prognose póstuma objetiva, a qual analisa, a luz de um caso do presente, se no passado já se conseguia antever os riscos do uso prolongado de determinado bem (os riscos do futuro). 
3. Filtros de imputação:
De acordo com Claus Roxin, existem 30 filtros de imputação, sendo os mais importantes:
· Diminuição de risco: Não sofrerá imputação delitiva,aquele que agiu para diminuir risco maior. Supondo que uma equipe médica cortou o membro de uma vítima de um acidente de trânsito em prol de evitar que a vítima permanecesse no local com um risco iminente de explosão. Tem-se, portanto, uma ação em prol da diminuição de um risco e não há responsabilização penal. Uma pessoa que tenta evitar que outra se suicide e, neste ato, acaba provocando lesões corporais, não responderá por crime algum. 
· Risco juridicamente irrelevante: Não sofrerá imputação delitiva aquele cujo “risco” criado tenha sido juridicamente irrelevante. Esse filtro se refere às situações cujo resultado não era passível de domínio pela vontade do agente. Por exemplo, uma pessoa que compra a passagem para outra e torce para que o avião caia e este de fato vem a cair. O ato de comprar uma passagem é um risco juridicamente irrelevante (completamente fora do domínio da vontade do agente). O ato de um indivíduo preparar um “trabalho religioso” para prejudicar outro seria outra hipótese de risco juridicamente irrelevante; 
· Aumento do risco permitido: Não sofrerá imputação delitiva aquele cuja ação apenas aumentou o risco que já era, na época, permitido. Este filtro refere-se às situações em que se demonstra a inevitabilidade do resultado. Uma empresa de pincéis na Alemanha fabricava tais produtos com pelos de animais – admitindo-se uma possibilidade de infecção (risco), mas este risco é autorizado em determinadas circunstâncias. O pelo do animal tinha que passar por um processo de esterilização (colocar o pelo em uma temperatura T para depois ele seguir para a linha de montagem). Esse protocolo, entretanto, não é uma blindagem infalível, o que há, é um gerenciamento de risco. Alguns funcionários da fábrica morreram ao tocar nos produtos antes da esterilização do pelo, comprovando-se que a bactéria que matou os funcionários era proveniente dos pelos. Após perícia, foi constada a existência de uma hiperbactéria resistente à esterilização. O fabricante, destarte, conseguiu se livrar da responsabilidade penal pelo fato deste apenas aumentar o risco permitido, uma vez que a bactéria resistiria ao protocolo de segurança caso este fosse realizado (esterilização). O resultado, desse modo, seria inevitável, independentemente de se adotar ou não medida de segurança;
· Âmbito de proteção da norma: Não sofrerá imputação delitiva a situação que estiver fora do âmbito de proteção da norma. O tipo incriminador gera a incidência normativa do suporte fático. Se a situação da vida não caracteriza suporte fático de uma norma, trata-se de um indiferente penal. O debate em questão é bastante polêmico. Uma mulher queria que o marido fosse responsabilizado por furto pelo fato deste ter saído de casa com um álbum do filho (valor puramente sentimental e fora do tipo incriminador de furto). Ainda hoje, algumas pessoas defendem que prostituta não podem sofrer estupro (visto que a legislação antiga protegia somente as “mulheres honestas”). 
Pessoas com doença mental podem ou não sofrer crime contra a honra? (parece ter uma resposta óbvia, contudo, é outro debate ainda vivo na atualidade pelo fato de alguns argumentarem que o indivíduo não tem consciência de estar sofrendo tal injúria). 
Se uma vítima de delitos, como furto, se comporta de forma arriscada (como, por exemplo, esquecer uma chave dentro do veículo) também ascende debates interessantes. 
Referências:
O preço da verdade – filme

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