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É essencial que os sujeitos das diversas relações sejam individualizados, perfeitamente identificados como titulares de direitos e deveres na ordem civil. Essa identificação interessa não só a eles, mas também ao Estado e a terceiros, para maior segurança dos negócios e da convivência familiar e social. Os principais elementos individualizadores da pessoa natural são: • Nome: designação que a distingue das demais e a identifica no seio da sociedade. • Estado: indicador da sua posição na família e na sociedade política. • Domicílio: é a sua sede jurídica. O vocábulo nome, como elemento individualizador da pessoa natural, é empregado em sentido amplo, indicando o nome completo. Integra a personalidade, individualiza a pessoa, não só durante a sua vida como também após a sua morte, e indica procedência familiar. Conceito Nome é a designação ou sinal exterior pelo qual a pessoa se identifica no seio da família e da sociedade. O nome é expressão mais característica da personalidade, o elemento inalienável e imprescritível da individualidade da pessoa, não se concebendo, na vida social, ser humano que não traga um nome. É ainda, a designação pela qual se identificam e distinguem as pessoas naturais, nas relações concernentes ao aspecto civil da sua vida jurídica. Destacam-se, no estudo do nome, um aspecto público e um aspecto individual: • O aspecto público decorre do fato de o Estado ter interesse em que as pessoas sejam perfeita e corretamente identificadas na sociedade pelo nome e, por essa razão, disciplina o seu uso na Lei dos Registros Públicos (Lei n. 6.015/73). • O aspecto individual consiste no direito ao nome, no poder reconhecido ao seu possuidor de por ele designar-se e de reprimir abusos cometidos por terceiros. Preceitua, com efeito, o Código Civil: CC, Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. Esse direito abrange o de usá-lo e defendê-lo contra usurpação, como no caso de direito autoral, e contra exposição ao ridículo. O uso desses direitos é protegido mediante ações, que podem ser propostas independentemente da ocorrência de dano material, bastando que haja interesse moral. Ações relativas ao uso do nome Tem dupla finalidade as ações relativas ao uso do nome: • Retificação: para que seja preservado o nome verdadeiro. • Contestação: para que terceiro não use o nome ou não o exponha ao desprezo público. Dispõe, com efeito, o Código Civil: CC, Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. CC, Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial. Mesmo aqueles que negam a natureza jurídica do nome civil admitem a concepção do nome comercial como um direito autônomo, exclusivo do comerciante, que pode impedir que outro o utilize no exercício da profissão mercantil, e suscetível de alienação com a transferência do fundo de comércio. Diversamente do nome civil, que é inalienável, como direito da personalidade, o nome comercial integra-se no “fundo” como propriedade incorpórea e é cessível juntamente com este. O Uso de pseudônimo Pseudônimo ou codinome: é um nome fictício adotado, diferente do seu nome civil verdadeiro (p.ex. Fernanda Montenegro, José Sarney, etc.). Dispõe, com efeito, o Código Civil: CC, Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome. Individualização da Pessoa Natural Individualização da Pessoa Natural O dispositivo “tem a vantagem de proteger pseudônimos sempre que adotados para atividades lícitas, ainda que não tenham alcançado notoriedade, ou a importância do nome”. A tutela do nome alcança o pseudônimo (art. 19), propiciando direito à indenização em caso de má utilização, inclusive em propaganda comercial, ou com o intuito de obter proveito político, artístico, eleitoral ou religioso. Natureza Jurídica Divergem os autores sobre a natureza jurídica do nome. Dentre as várias teorias existentes, sobressaem-se as: • Da propriedade: o nome seria uma espécie de propriedade, tendo como titular a família ou o seu portador. Essa corrente é inaceitável pois a propriedade é alienável e prescritível, o que não se compatibiliza com o nome. • Da propriedade sui generis: o nome seria uma espécie de propriedade única ou peculiar. Essa corrente é inaceitável pois não explica a natureza jurídica do nome. • A negativista: o nome não apresenta os caracteres de um direito, não merecendo proteção jurídica. Essa corrente é inaceitável pois se o nome serve como designação da personalidade, capaz de diferenciar as pessoas, não há como lhe negar a natureza de um direito. • A do sinal distintivo revelador da personalidade: também chamada de teoria do estado. O nome não passa de um simples sinal distintivo e exterior do estado da pessoa. Essa corrente é inaceitável pois “não satisfaz porque, em síntese, a possibilidade de mudança do nome a infirma, atestando a sua artificiosidade”. • A do direito da personalidade: A teoria aqui aceita. A teoria mais aceita e que melhor define a natureza jurídica do nome é a que o considera um “direito da personalidade”, ao lado de outros, como o direito à vida, à honra, à liberdade, etc. O nome representa um direito inerente à pessoa humana e constitui, portanto, um direito da personalidade. Desse modo, é tratado no Código Civil de 2002, que inovou dedicando um capítulo próprio aos direitos da personalidade, nele disciplinando o direito e a proteção ao nome e ao pseudônimo, assegurados nos arts. 16 a 19 do referido diploma. Elementos do nome Proclama o Código Civil: CC, Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. O nome completo compõe-se, pois, de dois elementos: prenome (antigamente denominado nome de batismo); e sobrenome ou apelido familiar (também denominado patronímico, nome de família ou simplesmente nome). Em alguns casos, usa-se também o agnome, sinal que distingue pessoas pertencentes a uma mesma família que têm o mesmo nome (Júnior, Neto, Filho etc.) A Lei dos Registros Públicos (Lei n. 6.015/73) diz apenas que os gêmeos e irmãos que tiverem o mesmo pronome deverão ser registrados com prenome duplo ou com nome completo diverso, “de modo que possam distinguir-se” (art. 63 e parágrafo único). Axiônimo: designação que se dá à forma cortês de tratamento ou à expressão de reverência, como Exmo. Sr., Vossa Santidade etc. Hipocorístico: diminutivo do nome, muitas vezes, mediante o emprego dos sufixos “inho” e “inha”, que denota intimidade familiar, como Zezinho (José), Gabi (Gabriela), Tião (Sebastião) etc. Alcunha: apelido, por vezes, depreciativo, que se põe em alguém, geralmente tirado de alguma particularidade física ou moral, como, p.ex., Aleijadinho, Tiradentes etc. Cognome: palavra que qualifica pessoa ou coisa, em regra usada como sinônima de alcunha. Epíteto: pode ser aposto ao nome como designação qualificativa, como D. Pedro, “o justiceiro”, p. ex. Títulos de nobreza: conde, comendador e outros, usados em alguns países, completam o nome da pessoa, servindo para sua identificação. Por essa razão, integram-no para todos os efeitos. Títulos acadêmicos, eclesiásticos ou qualificações de dignidade oficial, como professor, doutor, monsenhor, desembargador etc. são, algumas vezes, acrescentados ao nome. Nome vocatório: abreviação do nome, pela qual a pessoa é conhecida. Por exemplo: PC (Paulo César Farias), Olavo Bilac (Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac) etc. As partículas de, do, da, di (De Santi, Di Cavalcanti, v.g.) e seus correspondentes em idiomas estrangeiros: integram tambémo nome e são consideradas sinal de nobreza em certos países. Prenome é o nome próprio de cada pessoa e serve para distinguir membros da mesma família. Pode ser simples ou composto. Irmãos não podem ter o mesmo prenome, a não ser que seja duplo, estabelecendo a distinção (LRP, art. 63, parágrafo único). O prenome pode ser livremente escolhido pelos pais, desde que não exponha o filho ao ridículo. Prescreve, com efeito a Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973 que: LRP, Art. 55. Parágrafo único. Os oficiais do registro civil não registrarão prenomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores. Quando os pais não se conformarem com a recusa do oficial, este submeterá por escrito o caso, independente da cobrança de quaisquer emolumentos, à decisão do Juiz competente. Essa regra aplica-se também aos apelidos populares, que o art. 58 da LRP, com a redação determinada pela Lei n. 9.708, de 18 de novembro de 1998, denomina apelidos públicos notórios e que pode substituir o prenome oficial. A recusa do oficial em proceder ao registro, por dever de ofício, não deve limitar-se ao pronome, mas, sim, estender-se às combinações de todo o nome quando esdruxulas e ridículas, pois outra não pode ter sido a intenção do legislador, que deve ser sempre perquirida pelo interprete. Sobrenome é o sinal que identifica a procedência da pessoa, indicando a sua filiação ou estirpe. Enquanto o prenome é a designação do indivíduo, o sobrenome é o característico de sua família, transmissível por sucessão. O sobrenome é conhecido como patronímico, sendo ainda chamado de apelido familiar (art. 56, LRP). Via de regra é impossível sua alteração, porém há exceções. As pessoas já nascem com o sobrenome herdado dos pais, não sendo, pois, escolhido por estes, como ocorre com o prenome. Adquirem-no, assim, com o nascimento. Dispõe, com efeito, a Lei n. 6.015/73: LRP, Art. 55. Quando o declarante não indicar o nome completo, o oficial lançará adiante do prenome escolhido o nome do pai, e na falta, o da mãe, se forem conhecidos e não o impedir a condição de ilegitimidade, salvo reconhecimento no ato. Não mais se justifica, ante o principio da isonomia constitucional, que o oficial lance, de ofício, somente o sobrenome do pai no registro de nascimento do filho. Deve o aludido dispositivo ser interpretado à luz da Constituição Federal, lançando-se o nome de ambos, genitor e genitora. Ainda de acordo com o art. 55 da LRP, mesmo na hipótese de a criança ser registrada somente com prenome, o sobrenome faz parte, por lei, de seu nome completo, podendo o escrivão lançá-lo de ofício adiante do prenome escolhido pelos pais. O registro com indicação do sobrenome, tem caráter puramente declaratório. Pode ser o do pai, o da mãe ou de ambos. Podendo ser simples ou composto. O registro de filhos havidos fora do matrimônio é regido pelos arts. 59 e 60 da Lei n. 6.015/73 (LRP): não será lançado o nome do pai sem que este expressamente autorize. A Lei n. 8.560, de 29 de dezembro de 1992, obriga os oficiais do Registro Civil a remeter ao juiz os dados sobre o suposto pai, que será convocado para reconhecer voluntariamente o filho. Não o fazendo, os dados serão encaminhados ao MP, que poderá promover a ação de investigação de paternidade. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito pelos modos previstos no Código Civil: CC, Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: I – no registro do nascimento; II – por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório; III – por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; IV – por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicou, no dia 17 de fevereiro de 2012, o Provimento 16, que permite às mães, mesmo sem a presença do homem, registrar seus filhos. Ainda de acordo com o Provimento, pessoas maiores de 18 anos, que não tem o nome do pai no registro civil, poderão procurar os cartórios e indicar o nome do genitor. Após a indicação, o juiz escutará a mãe e notificará o pai. Se o reconhecimento não for espontâneo, o MP ou a DP irá propor a ação de investigação de paternidade. No mesmo sentido a Lei n. 13.112, de 30 de março de 2015, que autoriza a mulher a registrar o nascimento do filho em igualdade de condições com o homem. A referida lei alterou a LRP, que garantia ao pai a iniciativa de registrar o filho nos primeiros 15 dias de vida. Atualmente, portanto, o pai ou a mãe, isoladamente ou em conjunto, devem proceder ao registro no prazo de 15 dias. Se um dos dois não cumprir a exigência dentro desse período, o outro terá até 45 dias para realizar a declaração. Imutabilidade do Nome A imutabilidade do prenome é essencial, devendo ser afastada somente em caso de necessidade comprovada, e não simplesmente porque ele não agrada ao seu portador. A facilitação da mudança pode ser realmente nociva aos interesses sociais. A Lei n. 9.708, de 18 de novembro de 1998, deu ao art. 58 da Lei dos Registros Públicos a seguinte redação: LRP, Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios. O critério adotado é, portanto, o da inalterabilidade relativa do prenome. Os apelidos públicos notórios somente eram acrescentados entre o prenome, que era imutável, e o sobrenome, como aconteceu com Luiz Inácio “Lula” da Silva. Agora, no entanto, podem eles substituir o prenome se quiserem. Por sua vez, a Lei n. 9.807, de 13 de julho de 1999, deu nova redação ao parágrafo único do referido artigo, prescrevendo que: LRP, Art. 58. Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime, por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Público. Desse modo, as testemunhas de crimes que se encontram sob coação ou ameaça e necessitam, pois, de proteção, podem pleitear não só a alteração de seu prenome como ainda a alteração do nome completo (Lei n. 9.807/99, arts. 7° e 9°). Apesar da nova redação dada ao art. 58 da LRP, é possível obter-se ainda, a retificação do prenome em caso de evidente erro gráfico, como prevê o art. 110 da LRP, bem como em caso de exposição de seu portador ao ridículo, com base no parágrafo único do art. 55 da mesma lei, que proíbe o registro de nomes extravagantes. A retificação do prenome em caso de evidente erro gráfico e de outros “erros que não exijam qualquer tipo de indagação para a constatação imediata de necessidade de sua correção” se processa com suporte no art. 110 e parágrafos da LRP., com a redação dada pela Lei n. 12.100, de 27 de novembro de 2009, que preveem para a hipótese um procedimento sumário, no próprio cartório, com manifestação “conclusiva” do MP e correção “de ofício pelo oficial de registro no próprio cartório onde se encontrar o assentamento” A mudança de prenome, no caso do parágrafo único do art. 55, se o oficial não o houver impugnado por expor ao ridículo o seu portador, bem como outras alterações, dependem da distribuição, perante o juiz, de procedimento de retificação de nome, na forma do art. 109 da LRP. Tem a jurisprudência admitido a retificação não só do prenome como também de outras partes esdrúxulas do nome. A jurisprudência já vinha admitindo a substituição de prenome oficial pelo prenome de uso. Se a pessoa é conhecida por todos por prenome diversodo que consta de seu registro, a alteração pode ser requerida em juízo, pois prenome imutável, segundo os tribunais, é aquele que foi posto em uso, e não o que consta do registro (p. ex. STJ, REsp1.217,166-MA; RT 777/377). Atualmente, portanto, o prenome oficial tanto pode ser substituído, conforme o caso, por apelido popular, na forma dos exemplos citados e de acordo com a lei, como por outro prenome pelo qual a pessoa é conhecida no meio social em que vive, com base no permissivo criado pela jurisprudência. Pode haver mudança do prenome também em caso de adoção, pois o art. 47, §5°, do Estatuto da Criança e Adolescente, com a redação que lhe foi dada pela Lei n. 12.010/2009, dispõe que a sentença concessiva da adoção “conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação de prenome”. A alteração, nesse caso, poderá ser total, abrangendo o prenome e o sobrenome. Além das hipóteses permitidas por lei para a alteração de prenome a jurisprudência ampliou as possibilidades de mudança. Tem os tribunais, com efeito, autorizado a tradução de nomes estrangeiros para facilitar a integração daqueles que vêm se fixar no Brasil. Tem sido admitida a inclusão de alcunha ou apelidos notórios, como já referido, para melhor identificação de pessoas bem como o acréscimo de mais um prenome ou sobrenome materno para solucionar problemas de homonímia. É possível alterar o nome completo sem prejudicar o prenome (que em princípio é definitivo e imutável, salvo as exceções mencionadas) e o sobrenome. Permite o art. 56 da LRP que o interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil (dezoito anos, ou antes, se houve emancipação), altere o nome, pela via administrativa e por decisão judicial (LRP, art. 110), desde que “não prejudique os apelidos de família”. Justifica-se a inclusão de alcunha ou apelido como consequência do entendimento de que o nome de uso deve prevalecer sobre o do registro. Em vez de substituir o prenome, pode assim o interessado requerer a adição do apelido, como no caso do Presidente Luiz Inácio “Lula” da Silva. Decorrido o prazo decadencial de um ano após a maioridade, essas alterações ainda poderão ser feitas, não mais administrativamente, mas, “por exceção e motivadamente”, em ação de retificação de nome, conforme preceitua o art. 57 da LRP, que permite também, no §1°, a inclusão de nome abreviado, usado como firma comercial. A homonímia tem sido uma justificativa utilizada e aceita para a referida alteração do nome, pois é causadora de confusões e prejuízos. Outrossim, alguns autores entendem que o pedido de inclusão do sobrenome materno, sem prejuízo do paterno, deve ser deferido sem maiores indagações, por encontrar amparo no princípio da isonomia constitucional (STJ, Resp1.069.864/DF). Tem sido admitida, inclusive, a inversão dos apelidos de família, colocando-se o nome do pai antes do da mãe, por inexistir norma escrita regulando expressamente a ordem de colocação dos nomes de família, mas arcaico costume que não se compatibiliza com a nova ordem constitucional (STJ, REsp 1.323.677/MA). O sobrenome ou patronímico, contudo, em razão do princípio, que é de ordem pública, da estabilidade do nome (LRP, art. 57), só deve ser alterado em casos excepcionais. “A lei limitou a mutabilidade de modo não absoluto”. Desse modo, decidiu o STJ que “o nome pode ser modificado desde que motivadamente justificado”; “a jurisprudência tem sido sensível ao entendimento de que o que se pretende com o nome civil é a real individualização da pessoa perante a família e a sociedade” (STJ, REsp 6664/SP). A Lei n. 11.924, de 17 de abril de 2009, acrescentou ao art. 57 da LRP o §8°, dispondo que: LRP, Art. 58. §8° O enteado ou a enteada, havendo motivo ponderável e na forma dos §§ 2o e 7o deste artigo, poderá requerer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja averbado o nome de família de seu padrasto ou de sua madrasta, desde que haja expressa concordância destes, sem prejuízo de seus apelidos de família. A propósito o TJRJ, ao deferir a substituição de sobrenome paterno pelo patronímico do padrasto, com a ausência de laços afetivos com o pai biológico e família paterna, frisou que as circunstâncias do caso demonstram que a modificação se faz necessária para a preservação da dignidade da pessoa humana (TJRJ, Ap. 0000969- 16.2013.8.19.0079, J. 12-3-2014.) Registre-se que a Lei n. 13.484, de 26 de setembro de 2017, deu nova redação ao art. 97 da LRP, dispensando a manifestação do MP para a lavratura das averbações, salvo se o “oficial suspeitar de fraude, falsidade ou má fé nas declarações ou na documentação apresentada para fins de averbação”. Neste caso, ele “não praticará o ato pretendido e submeterá o caso ao representante do Ministério Público para manifestação, com a indicação, por escrito, dos motivos da suspeita”. A referida lei alterou também a redação do art. 110 da LRP, desjudicializando o procedimento ao dispor que: LRP, Art. 110. O oficial retificará o registro, a averbação ou a anotação, de ofício ou a requerimento do interessado, mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador, independentemente de prévia autorização judicial ou manifestação do Ministério Público, nos casos de: I - erros que não exijam qualquer indagação para a constatação imediata de necessidade de sua correção; II - erro na transposição dos elementos constantes em ordens e mandados judiciais, termos ou requerimentos, bem como outros títulos a serem registrados, averbados ou anotados, e o documento utilizado para a referida averbação e/ou retificação ficará arquivado no registro no cartório; III - inexatidão da ordem cronológica e sucessiva referente à numeração do livro, da folha, da página, do termo, bem como da data do registro; IV - ausência de indicação do Município relativo ao nascimento ou naturalidade do registrado, nas hipóteses em que existir descrição precisa do endereço do local do nascimento; V - elevação de Distrito a Município ou alteração de suas nomenclaturas por força de lei. (§§ 1° a 4° revogados) §5° - Nos casos em que a retificação decorra de erro imputável ao oficial, por si ou por seus prepostos, não será devido pelos interessados o pagamento de selos e taxas. Dispõe o Enunciado 82/2019, da Corregedoria do CNJ, que a modificação do nome do genitor no registro de nascimento e no de casamento dos filhos, em decorrência de casamento, separação, divórcio, pode ser requerida em cartório, mediante a apresentação da respectiva certidão, sem necessário ajuizamento de ação de retificação. O aludido provimento aduz que é “direito da personalidade ter um nome, nele compreendido o prenome e o sobrenome e que ter o patronímico familiar de um de seus genitores consiste no retrato da identidade da pessoa, em sintonia com o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana”, acrescentando que também poderá ser feito em cartório o acréscimo do patronímico do genitor ao nome do filho menor de idade, quando houver alteração de nome do genitor ou nos casos em que o filho foi registrado apenas com o patronímico de outro genitor. Todavia se o filho for maior que 16 anos, o acréscimo do patronímico exigirá seu consentimento. O nome completo pode também sofrer alterações no casamento, na separação judicial e no divórcio, na adoção, no reconhecimento de filho, na união estável e no caso de transexualidade. Casamento Dispõe com efeito o §1° do art. 1.565 do Código Civil que: CC, Art. 1.565. §1°. Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro O cônjuge, ao se casar, pode permanecer com o seu nome de solteiro, mas, se quiser adotar os apelidos doconsorte, não poderá suprimir o seu próprio sobrenome. Essa interpretação se mostra a mais apropriada em face do princípio da estabilidade do nome, que só deve ser alterado em casos excepcionais, princípio esse que é de ordem pública. “Note-se que a lei não permite que a mulher, ao casar-se, tome o patronímico do marido, abandonando os próprios. Apenas lhe faculta acrescentar ao seu nome de família o de seu esposo”. O Código Civil de 2002, aprovado na vigência da Constituição Federal, reitera o princípio da igualdade dos cônjuges no casamento (CF, arts. 5°, I, e 226, §5°), permitindo que o marido também use o sobrenome da esposa. É possível acrescentar o sobrenome do cônjuge ao nome civil durante a convivência conjugal, por intermédio de ação de retificação de registro civil, conforme os procedimentos do art. 109 da LRP, não podendo a opção dada pelo legislador estar limitada à data da celebração do casamento (STJ, REsp 910.094-SC). O cônjuge perde o direito de conservar o sobrenome do outro se o casamento for declarado nulo, pois somente o casamento válido ou putativo confere esse beneplácito. O casamento putativo, ou seja, o casamento que embora nulo ou anulável foi contraído de boa-fé por um ou ambos cônjuges assemelha-se à dissolução do matrimonio pelo divórcio, logo, o cônjuge de boa-fé poderá manter o sobrenome do consorte. Separação Judicial e Divórcio Dispõe o Código Civil: CC, Art. 1.571. §2°. Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o cônjuge poderá manter o nome de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em contrário a sentença de separação judicial. O CC perfilha o “sistema mitigado de culpa”, pois o art. 1.578 possibilita ao cônjuge vencido conservar o nome do outro cônjuge como regra, que será excepcionada se houver três requisitos cumulativos: • Ser vencido na ação de separação judicial; • Requerimento expresso do vencedor; • Não ocorrência de: o Evidente prejuízo para identificação; o Manifesta distinção entre seu nome de família e o dos filhos havidos da união dissolvida; o Dano grave reconhecido na decisão judicial Adoção Lei n. 12.010/2009. O adotado não pode conservar o sobrenome de seus pais de sangue, como consequência do desligamento dos vínculos de parentesco determinado no art. 41, caput, do ECA, sendo acrescentado ao seu, obrigatoriamente, o do adotante, como dispõe a lei: ECA, Art. 47. §5°. A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome. A multiparentalidade tem sido acolhida em casos especiais. O TJRS, p. ex., no pedido de adoção formulado pelo padrasto da autora, que perdeu o pai biológico aos dois anos de idade, reconheceu a multiparentalidade, a fim de manter os sobrenomes do pai adotante e do biológico. Frisou o relator que a pretensão dos autores deveria ser acolhida, já que inexiste vedação legal para o reconhecimento de duas paternidades quando observada a existência de dois vínculos (TJRS, 8° C. Cív. Rel. Des. Alzir Felipe Schimitz, j. 16-7- 2015). O STF, no julgamento do RE 898.060, realizado em 21-09-2016, negou o pedido de reconhecimento da preponderância da paternidade socioafetiva sobre a biológica, fixando tese de repercussão geral. A decisão admitiu a multiparentalidade, com a manutenção dos pais afetivos e biológicos, porém a existência de pai socioafetivo não tira deveres do pai biológico, como o de pagar alimentos Reconhecimento do Filho O reconhecimento da paternidade faz com que o descendente passe a pertencer ao grupo familiar do genitor ou genitora que o reconheceu, com direito de usar o apelido familiar do referido grupo. Preserva-se com isso a unidade familiar e evitam-se constrangimentos para o filho reconhecido. Também pode haver alteração do nome dos descendentes, com o mesmo objetivo, quando ocorre alteração do próprio nome dos ascendentes. União Estável O CC não disciplina o uso do nome do companheiro na união estável ou companheirismo. Deveria, porém, o CC tê-lo feito, porque a hipótese é tratada no art. 57, §2° da LRP de forma insatisfatória. O texto encontra-se ultrapassado, porque refere-se a desquite (rectius: separação judicial), que não constitui mais a óbice à celebração do casamento após a instituição do divórcio no país. Parece acertado, portanto, considerar ter perdido a eficácia normativa o art. 57, §2° da LRP com o advento do art. 226, §3° da CF. Sendo a união estável reconhecida como entidade familiar, qualquer dos companheiros tem o direito de usar o sobrenome do outro. Nessa linha decidiu o STJ que é possível a alteração de registro de nascimento para a inclusão do sobrenome de companheiro, mesmo quando ausente comprovação de impedimento legal para o casamento, conforme exigia o art. 57, §2°, da LRP (STJ, 3° T., REsp 1.206.656/GO, j.16-10-2012). Abandono Afetivo O STJ permitiu a exclusão do sobrenome paterno nos casos de abandono afetivo do genitor. Afirmou o Tribunal que “o direito da pessoa de portar um nome que não lhe remeta às angústias decorrentes do abandono paterno e, especialmente, corresponda à sua realidade familiar, sobrepõe-se ao interesse público de imutabilidade do nome, já excepcionado pela própria Lei de Registros Públicos. Sendo assim, nos moldes preconizados pelo STJ, considerando que o nome é elemento da personalidade, identificador e individualizador da pessoa na sociedade e no âmbito familiar, conclui- se que o abandono pelo genitor caracteriza o justo motivo de o interessado requerer a alteração de seu nome civil, com a respectiva exclusão completa dos sobrenomes paternos. Precedentes citados: REsp 66.643-SP, 4ª T., DJe 21-10-1997, e REsp 401.138- MG, 3ª T., DJe 26-6-2003” (REsp 1.304.718-SP, 3°T, DJe 5-2-2015). Transexualidade A transexualidade tem sido invocada, também, em pedidos de retificação de nome e de sexo no registro civil. “Ainda que não se admita a existência de erro no registro civil, não se pode negar que a utilização de nome masculino por transexual que se submeta a cirurgia de mudança de sexo o expõe ao ridículo, razão pela qual admite-se a modificação para o prenome feminino que o autor da pretensão vem se utilizando para se identificar, nos moldes do art. 55, parágrafo único, c/c o art. 109 da Lei 6.015/73. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, X, inclui, entre os direitos individuais, a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, fundamento legal autorizador da mudança do sexo jurídico de transexual que se submeteu a cirurgia de mudança de sexo, pois patente seu constrangimento cada vez que se identifica como pessoa de sexo diferente daquela que aparenta ser” (RT, 790/115) Na IV Jornada de Direito Civil, realizada pelo CJF/STJ, foi aprovado o Enunciado 276, do seguinte teor: “O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a consequente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil”. O TJRS autorizou a mudança de nome no registro civil de transexual, antes mesmo de mudança de sexo. “exigir-se que se aguarde a realização da cirurgia é, com a devida vênia, atentar contra a dignidade da pessoa humana, prevista no art. 1°, III, da CF” (TJSP, Ap. 0007491-04.2013.8.26.0196- Franca). Correta a decisão, visto que a transexualidade deve ser constatada em avaliação psiquiátrica, e não em exame físico. Esse entendimento foi consagrado pelo STJ em 09 de maio de 2017, ao proclamar que, à luz do principio fundamental da dignidade da pessoa humana, o direito dos transexuais à retificação do sexo no registro civil não pode ficarcondicionado à exigência de realização da operação de transgenitalização. Acrescentou a referida Corte que a averbação no registro civil deve ser feita no assentamento de nascimento original, com a indicação da determinação judicial, proibida a inclusão da expressão “transexual”, do sexo biológico e dos motivos das modificações efetuadas. No dia 15 de agosto de 2018, o STF reafirmou a jurisprudência da Corte, permitindo que o transgênero mude seu nome e gênero no registro civil, mesmo sem procedimento cirúrgico de redesignação de sexo. A alteração poderá ser feita por meio de decisão judicial ou diretamente no cartório. A tese definida, sob o regime de repercussão geral, foi a seguinte: “O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de gênero no registro civil, não se exigindo, para tanto, nada além da manifestação da vontade do indivíduo, o qual poderá exercer tal faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa”. Anote-se que o art. 13 do Código Civil proíbe a ablação de órgãos do corpo humano realizado em transexuais, malgrado a legitimidade para reclamar do ato e de suas consequências, em juízo, seja exclusivamente do paciente, que dispõe do próprio corpo e poderá dar-se satisfeito com o resultado. O estado constitui a soma das qualificações da pessoa na sociedade, hábeis a produzir efeitos jurídicos. Segundo Beviláqua, é o modo particular de existir. É uma situação jurídica resultante de certas qualidades inerentes à pessoa. Aspectos A doutrina em geral distingue três ordens de estado: o individual ou físico, o familiar e o político. É o modo de ser da pessoa quanto à idade, sexo, cor, altura, saúde (são ou insano), etc. Diz respeito a aspectos ou particularidades de sua constituição orgânica que exercem influência sobre a capacidade civil (maioridade, menoridade, etc.). É o que indica a sua situação na família, em relação ao matrimônio (solteiro, casado, viúvo, divorciado) e ao parentesco, por consanguinidade ou afinidade (pai, filho, irmão sogro, cunhado, etc.). Malgrado os autores em geral não considerem o estado de companheiro, a união estável é reconhecida como entidade familiar pela CF. Trata- se de situação que produz efeitos jurídicos, conferindo a quem nela se encontra direito a alimentos, a meação, a benefícios previdenciários etc. Trata-se, pois, de qualidade jurídica a que não se pode negar a condição de estado familiar. É a qualidade que advém da posição do indivíduo na sociedade política, podendo ser nacional (nato ou naturalizado) ou estrangeiro, como explicita o art. 12 da CF. Foi publicada, no dia 25 de maio de 2017, a Lei de Migração – Lei n. 13.445/2017, que revogou expressamente o Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815/80) e a Lei n. 818/49. Cumpre distinguir nacionalidade de cidadania. Em nosso sistema legislativo o conceito de cidadania está reservado à qualidade de possuir e exercer direitos políticos. Cidadão e eleitor são, pois, palavras sinônimas em nossa Constituição. Caracteres O estado liga-se intimamente à pessoa e, por isso, constitui a sua imagem jurídica. As principais características ou atributos são: Assim como não podemos ter mais de uma personalidade, do mesmo modo não é possível possuir mais de um estado. Por isso, diz-se, que o estado é uno e indivisível, não obstante composto de elementos plúrimos. Ninguém pode ser casado e solteiro, ou maior e menor p.ex. A obtenção de dupla nacionalidade constitui exceção à regra. O estado civil, como visto, é um reflexo de nossa personalidade e, por essa razão, constitui relação fora de comércio: é inalienável e irrenunciável, em consequência. Isso não impede a sua mutação, diante de determinados fatos estranhos à vontade humana ou como emanação dela, preenchidos os requisitos legais. Assim, menor pode tornar-se maior, solteiro pode passar a casado, etc. Modificam-se, nesses casos, os elementos que o integram, sem prejuízo da unidade substancial, que é inalterável. Não se perde nem se adquire o estado pela prescrição. O estado ´elemento integrante da personalidade e, assim, nasce com a pessoa e com ela desaparece. Se, por um lado, não se perde um estado pela prescrição, por outro, não se pode obtê-lo por usucapião. O estado civil “recebe proteção jurídica de ações de estado, que têm por escopo criar, modificar ou extinguir um estado, constituindo um novo, sendo, por isso, personalíssimas, intransmissíveis e imprescritíveis, requerendo, sempre, a intervenção estatal. É o que se dá com a interdição, separação judicial, divórcio, anulação de casamento, etc., que resultam de sentença judicial” A noção de domicílio é de grande importância no direito. Como as relações jurídicas se formam entre pessoas, é necessário que estas tenham um local, livremente escolhido ou determinado pela lei, onde possam ser encontradas para responder por suas obrigações. Todos os sujeitos de direito devem ter, pois, um lugar certo no espaço, de onde irradiem sua atividade jurídica. Esse ponto de referência é o seu domicílio. O vocábulo “domicílio” tem significado jurídico relevante em todos os ramos do direito, especialmente no direito processual civil. Domicílio da pessoa natural O código atual trata conjuntamente do domicílio da pessoa natural e da pessoa jurídica no Titulo III do Livro I da Parte Geral. Pode-se dizer que domicílio é o local onde o individuo responde por suas obrigações ou o local em que estabelece a sede principal de sua residência e de seus negócios. É em ultima análise, a sede jurídica da pessoa, onde ela se presume presente para efeitos de direito e onde pratica habitualmente seus atos e negócios jurídicos. O Código Civil define domicílio no art. 70: CC, Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo. Dispõe, ainda: CC, Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida. O conceito de domicílio civil é composto, pois, de dois elementos: Residência A residência é apenas um elemento componente do conceito de domicílio, que é mais amplo e com ela não se confunde. Residência é simples estado de fato, sendo o domicílio uma situação jurídica. A residência é a radicação do indivíduo em determinado lugar. Morada ou habitação, não devem ser confundidas com a residência, é o local que a pessoa ocupa esporadicamente, como a casa de praia ou o hotel que passa uma temporada p. ex. É uma mera relação de fato, de menor expressão que a residência. Uma pessoa pode ter um só domicílio e mais de uma residência. Pode ter também mais de um domicílio, pois o CC admite a pluralidade domiciliar. Para tanto, basta que tenha diversas residências onde “alternadamente, viva”, como dispõe o art. 71, ou além do domicílio familiar, tenha também domicílio profissional, como prescreve o Código Civil: CC, Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida. Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem. Admite-se também que uma pessoa possa ter domicílio sem possuir residência determinada ou em que seja de difícil identificação. Preleciona Gomes que, nesses casos, para resguardar o interesse de terceiros, vem-se adotando a teoria do domicílio aparente. A propósito, preceitua o CC: CC, Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada. É o caso, p. ex., dos ciganos e andarilhos ou de caixeiros viajantes, que passam a vida em viagens e hotéis e, por isso,não têm residência habitual, considera-se domicílio o lugar onde forem encontrados. Alguns autores preferem a expressão “domicílio ocasional”, ou ainda “domicílio presumido”. Ânimo Definitivo É o segundo elemento componente do conceito de domicílio. Consiste na intenção de se fixar em determinado local, de forma permanente. As pessoas podem mudar de domicílio, para que a mudança se caracterize, não basta trocar de enderenço, é necessário que estejam imbuídas da “intenção manifesta de o mudar”, como exige o art. 74 do CC. Essa intenção de mudar é aferida por sua conduta e, segundo dispõe o Código Civil: CC, Art. 72. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar. Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem. Essas circunstâncias podem ser, p. ex.: a matrícula dos filhos em escola da nova localidade, a transferência de linha telefônica, posse em cargos públicos, abertura de contas bancárias, etc. Perde-se o domicílio, porém, não só pela sua mudança, mas também por determinação de lei (quando venha a ocorrer uma hipótese de domicílio legal que prejudique o anterior) e pela vontade ou eleição das partes, nos contratos, no que respeita à execução das obrigações deles resultantes (art. 78). O primeiro domicílio da pessoa, que se prende ao seu nascimento, é denominado domicílio de origem e corresponde ao de seus pais, à época. O domicílio pode ser: Domicílio Único e Domicílio Plúrimo Uma pessoa pode ter um só domicílio denominado domicílio único ou familiar, ou mais de um, pois nosso Código admite a pluralidade domiciliar. Configura-se o domicílio plúrimo quando a pessoa natural tem diversas residências, onde alternadamente vive (CC, art. 71). Configura domicílio plúrimo quando além do domicílio familiar a pessoa tem também domicílio profissional. Se a exercitar em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que a corresponderem (CC, art. 72). Domicílio Real e Domicílio Presumido As pessoas tem, em geral, residência fixa, considerada domicílio real. Algumas pessoas passam a vida em viagens e hotéis, sem terem residência habitual. Neste caso, ter-se-á por domicílio o lugar onde forem encontradas (CC, art. 73), presumindo-se ser este o seu domicílio (domicílio presumido) Domicílio Necessário ou Legal e Domicílio Voluntário O domicílio necessário ou legal é o determinado pela lei, em razão da condição ou situação de certas pessoas. Nesses casos, deixa de existir liberdade de escolha. O art. 76 do CC relaciona tais pessoas, enquanto o parágrafo único indica os respectivos domicílios, conforme o quadro a seguir: Observa-se, no tocante ao incapaz menor, tutelado ou curatelado, que o domicílio obrigatório lhe é imposto em razão do estado de dependência em que se encontra e, no caso do preso, em decorrência de sua situação especial. Nos demais casos, a atribuição provém da profissão ou atividade exercida. Há outras hipóteses de domicílio necessário na lei civil: • O de cada cônjuge será o do casal (art. 1.569). • O agente diplomático do Brasil que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, o seu domicílio poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve (art. 77). • O viúvo sobrevivente conserva o domicílio conjugal enquanto, voluntariamente, não adquirir outro (RF, 159/81). No sistema de pluralidade domiciliar acolhido pelo nosso direito, as pessoas não perdem automaticamente o domicílio que antes possuíam ao receber, por imposição legal, o novo. Tal poderá ocorrer se porventura se estabelecerem com residência definitiva no local do domicílio legal. P. ex. uma pessoa mora em Rio Grande e passa em um concurso público na mesma cidade, essa pessoa terá na realidade dois domicílios, podendo ser procurado em qualquer um deles. O domicílio voluntário pode ser geral (escolhido livremente) e especial (fixado com base no contrato, sendo denominado, conforme o caso, foro contratual ou de eleição). • Domicílio voluntário geral ou comum: é aquele que depende da vontade exclusiva do interessado. Qualquer pessoa, não sujeita a domicílio necessário, tem a liberdade de estabelecer o local em que pretende instalar a sua residência com ânimo definitivo, bem como de muda-lo quando lhe convier (CC, art. 74). • Domicílio voluntário especial: pode ser o do contrato, a que alude o art. 78 do CC, e o de eleição, disciplinado no art. 63 do CPC. • Foro de contrato: é a sede jurídica ou o local especificado no contrato para o cumprimento das obrigações dele resultantes. Se refere ao lugar da celebração do negócio jurídico. • Foro de eleição: é o escolhido pelas parte para a propositura de ações relativas às referidas obrigações e direitos recíprocos. Prescreve o art. 63 do CPC que as partes “podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações”. Se refere a base territorial-judiciária, escolhida pelas partes, onde deverão ser distribuídas futuras ações decorrentes do negócio jurídico celebrado. Concernente ao foro de eleição, há possibilidade de a parte por este favorecida abrir mão do benefício e ajuizar a ação no foro do domicílio do réu. A jurisprudência tem proclamado, com efeito, que a eleição de foro não inibe que o credor prefira o for do domicílio do devedor quando diverso no credor (STJ, REsp 10.998/DF; TJRJ AgI 001.124.505.262.011.881.190.000). Outra questão acerca do foro de eleição é a que versa sobre a não admissão do for de eleição nos contratos de adesão, salvo demonstrando-se a inexistência de prejuízo para o aderente. Com efeito, a sua validade pressupõe a observância do princípio da igualdade dos contratantes, não respeitado nos contratos dessa espécie. O STJ tem considerado ineficaz a clausula de eleição de foro em contratos de adesão: • “Quando constitui um obstáculo à parte aderente, dificultando-lhe o comparecimento em juízo” (REsp 41.540/RS). • Se é “abusiva, resultando especial dificuldade para a outra parte” (REsp, 40.998-8/RJ). • Se o outro contratante “presumivelmente não pôde discutir cláusula microscopicamente impressa de eleição de foro” (REsp 34.186/RS). O STJ, considerando o art. 51, IV, do Código de Defesa do Consumidor declara nula de pleno direito a cláusula abusiva, que coloque o consumidor em desvantagem exagerada ou seja incompatível com a boa-fé e a equidade, tem proclamado: “A cláusula de eleição de foro inserida em contrato de adesão não prevalece se ‘abusiva’, o que se verifica quando constatado que da prevalência de tal estipulação resulta inviabilidade ou especial dificuldade de acesso ao Judiciário. Pode o juiz, de ofício, declinar de sua competência em ação instaurada contra consumidor quando a aplicação daquela cláusula dificultar gravemente a defesa do réu em juízo” (RSTJ, 140/330 e 129/212. No mesmo sentido: RT, 774/319, 780/380, 794/331). O Código de Processo Civil dispõe: CPC, Art. 63. § 3° Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu. A declaração de ineficácia não deve, todavia, ser proclamada de forma indiscriminada, mas à luz das circunstâncias do caso concreto. Assim, quando não há prejuízo para o aderente, que é, p. ex. empresa de considerável porte, tem sido admitido o foro de eleição em contrato de adesão, não cabendo ao juiz suscitar o ofício a sua incompetência (STJ, 2°S., CComp.13.632-6/MG). Domicílio da pessoa Jurídica A rigor, a pessoa jurídica de direito privado não tem residência, mas sede ou estabelecimento, que se prende a determinado lugar. Trata-se de domicílio especial, que pode ser livremente escolhido “no seu estatuto ou atos constitutivos”. Não o sendo, o seu domicílio será “o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações” (CC, art. 75, IV). Proclama o STF: STF, Súmula 363. A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato. O Código Civil admite a pluralidade de domicílio dessas entidades prescrevendo: CC, art. 75, §1°. Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados. Desse modo, se a pessoa jurídica tiver filiais, agências, departamentos ou escritórios situados em comarcas diferentes, poderá ser demandada no foro em que tiver praticado o ato. Assim também dispõe o art. 53, III, a e b, do CPP. As pessoas jurídicas de direito público interno, têm por domicílio a sede de seu governo. Assim o domicílio da União é o Distrito Federal; dos Estados, as respectivas capitais; e do Município, o lugar onde funcione a administração municipal. Dispõe o Código de Processo Civil, em consonância com o art. 109, §§ 1° e 2° da Constituição Federal: CPC, Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União. Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal. CPC, Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito Federal. Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado. Registro civil é a perpetuação, mediante anotação por agente autorizado, dos dados pessoais dos membros da coletividade e dos fatos jurídicos de maior relevância em suas vidas, para fins de autenticidade, segurança e eficácia. Tem por base a publicidade, cuja função específica é provar a situação jurídica do registrado e torna-la conhecida de terceiros. No registro civil, efetivamente, pode-se encontrar a história civil da pessoa, a biografia jurídica de cada cidadão. A matéria é regida pelo Código Civil, que se limitou a determinar o registro dos fatos essenciais ligados ao estado das pessoas, e pela Lei n. 6.015 de 31 de dezembro de 1973 – Lei dos Registros Públicos. O CC, efetivamente, apenas indica os atos sujeitos a registro público: CC, Art. 9°. Serão registrados em registro público: I - os nascimentos, casamentos e óbitos; II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz; III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa; IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presumida. O registro civil, por sua importância na vida das pessoas, interessa a todos: ao próprio registrado, a terceiros que com ele mantenham relações e ao Estado. Os principais fatos da vida humana, como o nascimento, o casamento, o óbito, a separação judicial e o divórcio, são ali retratados e fixados de forma perene. São averbados em registro público: • As sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabelecimento da sociedade conjugal. • Os atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação (CC, art. 10). Averbação é qualquer anotação feita à margem do registro para indicar as alterações ocorridas no estado jurídico do registrado. São obrigados a fazer a declaração de nascimentos, pela ordem: os pais; o parente mais próximo; os administradores de hospitais ou os médicos e parteiras; pessoa idônea da casa em que ocorrer o parto; e as pessoas encarregadas da guarda do menor (LRP, art. 52). O Registro Civil está a cargo de pessoas que recebam delegação do poder público e são denominados Oficiais do Registro Civil das pessoas naturais. Outras pessoas têm, também, competência para exercer essas funções, como o comandante de aeronaves, que pode lavrar certidão de nascimento e dos óbitos que ocorrerem a bordo (Código Brasileiro de Aeronáutico, art. 173), bem como as autoridades consulares (LINDB, art. 18). A Constituição Federal de 1988 dispõe que são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nascimento; b) a certidão de óbito (art. 5º, LXXVI). Por sua vez, o Código Civil proclama, no art. 1.512: “O casamento é civil e gratuita a sua celebração”. O Provimento n. 52, de 14 de março de 2016, da Corregedoria Nacional de Justiça autoriza o registro automático, sem necessidade de permissão judicial, de nascimento dos filhos de casais heterossexuais e homoafetivos nascidos por meio de técnicas de reprodução assistida, como fertilização in vitro e gestação por substituição (“barriga de aluguel”). Neste último caso, não constará no registro civil da criança o nome da gestante. Se os pais forem casados ou viverem em união estável, basta que um deles vá ao Cartório fazer registro munido com os documentos exigidos. Se a reprodução assistida for realizada após a morte de um dos doadores, deverá ser apresentado, ainda, termo de autorização prévia específica do falecido para o uso do material biológico preservado, lavrado por instrumento público. A Lei n. 6.015/73 sofreu várias alterações produzidas pela Lei n. 13.484, de 26 de setembro de 2017. Destacam-se: • As certidões deverão conter a data do assento e, por extenso, a do nascimento, bem como mencionar expressamente a naturalidade (LRP, art. 19, §4°) • Os ofícios de Registro Civil das Pessoas ganharam o qualificativo de “ofícios da cidadania” e receberam autorização legal para “prestar outros serviços remunerados, na forma prevista em convênio, em credenciamento ou em matrícula com órgãos públicos e entidades interessadas” (art. 29, §3°). • O assento de nascimento deverá conter a naturalidade do registrando, a qual “poderá ser do Município em que ocorreu o nascimento ou do Município de residência da mãe do registrando na data do nascimento, desde que localizado em território nacional, e a opção caberá ao declarante no ato do registro do nascimento” (art. 54). • O elemento da naturalidade também deverá figurar agora das certidões de casamento (art. 70). • A certidão de óbito poderá ser lavrada pelo oficial registrador do “lugar do falecimento ou do lugar de residência do de cujus quando o falecimento ocorrer em local diverso do seu domicílio” extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado médico, se houver no lugar, ou, em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte (art. 77). • É dispensada a manifestação do MP para a lavratura das averbações, salvo se “o oficial suspeitar de fraude, falsidade ou má-fé nas declarações ou na documentação apresentada para fins de averbação”. Nesse caso, ele “não praticará o ato pretendido e submeterá o caso ao representante do MP para manifestação, com a indicação, por escrito, dos motivos da suspeita” (art. 97) • A retificação do registro, da averbação ou da anotação será feita pelo oficial “de ofício ou a requerimento do interessado, mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador, independentemente de prévia autorização ou manifestação do Ministério Público”. Essa última alteração, como se observa, desjudicializou o procedimento e terá cabimento nas hipótesesde: • “Erros que não exijam qualquer indagação para a constatação imediata de necessidade de sua correção”. • “Erro na transposição dos elementos constantes em ordens e mandados judiciais, termos ou requerimentos, bem como outros títulos a serem registrados, averbados ou anotados, e o documento utilizado para a referida averbação e/ou retificação ficará arquivado no registro no cartório”. • “Inexatidão da ordem cronológica e sucessiva referente à numeração do livro, da folha, da página, do termo, bem como da data do registro”. • “ausência de indicação do Município relativo ao nascimento ou naturalidade do registrado, nas hipóteses em que existir descrição precisa do endereço do local do nascimento”. • “elevação do Distrito a Município ou alteração de suas nomenclaturas por força de lei”.
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