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25/02/2021 1 Afecções do aparelho digestório de ruminantes Prof. Fabio B. Schein Indigestão Simples Etiologia: Forragem de baixa qualidade associado ou não a privação de água Mofada Muito quente ou congelada Troca abrupta de dieta Apetite depravado Uso prolongado de antimicrobianos Indigestão Simples Patogenia Alterações de pH - Acidose → grãos - Alcalose → Ureia ou forrageiras leguminosas Impedimento físico, mecânico → alimento indigestível. Indigestão Simples Sinais clínicos: Redução do apetite de da produção Moderada depressão e apatia MR diminuídos (frequência e amplitude) ou ausentes Leve distensão da fossa paralombar esq. Rúmen firme de consistência pastosa Fezes diminuídas 1º dia com diarréia 24 a 48 horas após, malcheirosas. FC, FR e TR normais Indigestão Simples Tratamento A maioria tem recuperação espontânea Parasimpatomiméticos: Neostigmina 2,4 mg/45 kg Agentes alcalinizantes e acidificantes Reposição da microbiota ruminal (?) Indigestão Simples • Prevenção 25/02/2021 2 Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal Etiologia Ingestão de grades quantidades (tóxicas) de alimentos ricos em cabroidratos (grãos). Milho Farelo de arroz Farelo de trigo Cevada úmida Pão... Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal Epidemiologia: Todos os ruminantes (domésticos e silvestres) são sensíveis Bovinos leiteiros Bovinos de corte em confinamento Pequenos ruminantes em confinamento Excesso de concentrado x forragem insuficiente ...ou acesso acidental Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal • Morbidade: 10% a 50% • Mortalidade: 30% a 40% - tratados 90% não tratados Quantidades ingeridas: 1. Adaptados – 15 a 20 kg – quadro leve 2. Não adaptados – 10 kg – quadro agudo grave Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal • Patogenia: Acidose ruminal • ↑ ingestão de carboidratos → alteração na microbiota (S. bovis) → ↑ ác lático e AGVs → ↓ pH ruminal → ↓ microbiota celulolítica → ↑ lactobacilos → ↑ ác lático = acidose lática ruminal. • ↑ osmolaridade ruminal (280 mOsm/l → 400mOsm/l) → desidratação. Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal • Patogenia: Acidose sistêmica • Absorção de ác. lático → compensação ou... ↓ pH sistêmico → ↓ pressão sanguínea → ↓ perfusão tecidual → ↑ ác lático (resp. celular) = acidose metabólica + desidratação + desequilíbrio eletrolítico. Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal • Patogenia: rumenite micótica: ↓ pH ruminal → rumenite química → lesão de mucosa → Mucor sp., Rhizopus sp. e Absidia sp. → invadem os vasos → trombose e infarto. Rumenite bacteriana Necrose e gangrena → peritonite aguda → toxemia → morte. 25/02/2021 3 Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal • Patogenia: Abscesso hepático Acidose ruminal → lesão de mucosa → invasão de vasos (F. necrophorum e Arcanobacter pyogenes) → fígado → abscesso hepático. Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal Sinais clínicos: Grãos moídos x inteiros Abdome distendido – escoiceamento do ventre Anorexia MR diminuídos ou ausentes Fezes amolecidas (azedas) Animais isolados do rebanho, deitados Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal Sinais clínicos: Cambaleantes Anorexia, apatia depressão Não bebem água (exceto logo após a ingestão dos grãos secos) FC ↑ (acidose e deficiência circulatória) TR ↓ (exceto expostos ao sol) FR ↓ amplitude e ↑ frequência Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal MR diminuídos ou ausentes Desidratação - anúria Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal Rumenite micótica: 3 a 4 dias após Anorexia Rúmen atônico, c/ muito líquido Desidratação Fraqueza, decúbito e morte. Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal Laminite crônica - patogenia ↓ pH sistêmico → ↑ do pulso e fluxo sangüíneo total → liberação de endotoxinas e histamina pode ser liberado → ↑ vasoconstrição → desenvolvem-se várias junções arteriovenosas → ↑ a pressão arterial ↑ permeabilidade vascular → exsudam soro → edema, hemorragia interna do cório solar de trombose → expansão do cório → causando dor severa e hipóxia... 25/02/2021 4 Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal Laminite crônica - patogenia... continuação ... hipóxia → ↓ nutrientes e ↓ oxigênio → ↑ pressão arterial ↑ permeabilidade vascular, edema e isquemia na parte inferior do dedo, ocorrendo um ciclo vicioso enquanto o insulto inicial permanecer. Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal Patologia clínica Exame do líquido ruminal Hematócrito elevado pH sanguíneo cai ↓ do bicarbonato no soro ↑ do lactato e e fosfato inorgânico ↓ no pH da urina Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal Na necropsia Conteúdo ruminal fino e pastoso Rumenite química com lesão de tecidos Espessamento da parede na área acometida Parede friável com aparência gelatinosa ao corte Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal Diagnóstico diferencial: Paresia puerperal Mastite aguda Peritonite difusa aguda Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal Tratamento: 1. Impedir o consumo de grãos 2. Evitar a ingestão de água por 12 a 24 horas 3. Corrigir a acidose (ruminal e sistêmica) 4. Restaurar o volume circulatório, correção hidroeletrolítica 5. Restaurar a microbiota ruminal e a motilidade gastrintestinal Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal Casos graves: rumenotomia – custo x benefício 3 - Corrigir a acidose (ruminal e sistêmica) Bicarbonato de sódio 5% - 30 a 60 min Bicarbonato de sódio 1,3% (isotônico) 6 a 12 horas Lavagem ruminal – água morna Alcalinizantes intra-ruminais: hidróxido de magnésio ou óxido de magnésio 500 g em 10 litros de água morna. 25/02/2021 5 Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal Tratamento auxiliar: Parassimpaticomiméticos Ingestão forçada de feno de boa qualidade Indigestão aguda por carboidratos Acidose láctea ruminal Prevenção: Período de adaptação Ração total misturada (60% forragem e 40% de concentrado) com redução gradual de forragem 2% de bicarbonato de sódio na dieta Dieta pré-parto – gado leiteiro Ionóforos – monensina sódica G- x G+ Timpanismo ruminal É a distensão anormal do rúmen e do retículo causada pela retenção de gases da frementação. É classificado como: 1. Timpanismo primário ou espumoso 2. Timpanismo secundário ou gasoso Timpanismo ruminal • Timpanismo espumoso 1. Das pastagens 2. Do confinamento Timpanismo espumoso das pastagens Etiologia: • Ingestão de pastagens ricas em leguminosas – rapidamente digeridas - cloroplasto – falha na coalescência das bolhas de gás – acúmulo de espuma Timpanismo espumoso do confinamento Etiologia: • Dieta rica em grãos finamente triturados - ↑ na viscosidade do líquido ruminal - falha na coalescência das bolhas de gás – acúmulo de espuma 25/02/2021 6 Timpanismo gasoso ou secundário Etiologia: • Obstrução física 1. Corpos estranhos 2. Compressão – tumores (leucose, tuberculose,...) 3. Lesão nervosa Timpanismo ruminal Patogenia: • Timpanismo espumoso das pastagens • Timpanismo espumoso do confinamento • Timpanismo gasoso ou secundário Timpanismo ruminal Sinais clínicos • Morte súbita – primário • ↑ de volume da fossa paralombar esquerda - empanzinamento • Desconforto – escoiceia o abdome • Deita com frequência, pode rolar • Defecação e micção frequentes • Dispnéia com boca aberta, pescoço estendido e protusão da língua. Timpanismo ruminal Sinais clínicos • Vômito em jato • FC 100 a 120 bpm (casos graves) Timpanismo ruminal Achados de necrópsia • Protusão e congestão da língua • Congestão e hemorragia dos linfonodos da cabeça, pescoço, epicárdio e trato respiratório superior • Rins friáveis • Mucosa hiperêmica no intestino delgado • Pulmões comprimidos Timpanismo ruminal Achados de necrópsia • Esôfago com hemorragia na porção cervical e pálido na porção torácica. • Rúmen distendido com esfoliação do epitélio • Eritema na submucosa dos sacos ventrais com acentuada congestão • Fígado pálido 25/02/2021 7 Timpanismo ruminal Tratamento: • Medidas emergenciais – trocaterização sondagem rumenotomia Timpanismo ruminal Tratamento específico: • Timpanismo primário (espumoso) – antiespumantes: • Óleos não tóxicos - ↓ a tensão superficial do líquido ruminal – óleo mineral • Surfactantes: poloxaleno, acetilbutileno • Emulsificantes: dioctil sulfossuccinato de sódio Timpanismo ruminal Prevenção • Adaptação ao confinamento • Ração total misturada • Controle no tempo de pastejo • Consórcio gramínea x leguminosa • Beberagem individual (60 a 120 ml de óleo 2x ao dia) • Técnicas de liberação contínua – cápsula de monensina (300 mg/d/100 dias) Reticuloperitonite traumática Etiologia • Penetração de corpos estranhos metálicos na parede do retíclulo. Tais corpos estranhos geralmente são ingeridos com o alimento. • Pedaços de arame e pregos - 95% Reticuloperitonite traumática Epidemiologia • Gado leiteiro adulto • Animais confinados – elite • Bovinos de engorda confinados • Ovinos e caprinos Reticuloperitonite traumática Importância econômica • Queda na produção de leite • Custo com o tratamento • Período de convalescência • Óbitos 25/02/2021 8 Reticuloperitonite traumática Patogenia • Falta de seletividade • Modo de apreensão e deglutição Reticuloperitonite traumática Patogenia • Penetração na parede cranial, porção ventral ou lateral (baço ou fígado) • Reticulite traumática • Reticuloperitonite traumática • Peritonite aguda local • Peritonite generalizada • Reticulopericardite traumática Reticuloperitonite traumática Sinais clínicos • Peritonite aguda local: Aparecimento abrupto Anorexia Queda na produção leiteira Dor abdominal Relutam em andar ou fazem vagarosamente Reticuloperitonite traumática Sinais clínicos • Peritonite local aguda Deitam com cuidado Arqueamento do dorso Rigidez dos músculos abdominais Defecação e micção dolorosas TR 39,5 a 40 oC FC 80 bpm (90 bpm) FR 30 mov/ min Reticuloperitonite traumática Sinais clínicos • Peritonite local aguda MR ausentes ou muito reduzidos Gás livre no rúmen Provas de dor positivas 1. Bastão 2. Rampa 3. Cernelha 4. Palpação dolorosa Reticuloperitonite traumática Sinais clínicos • Peritonite local crônica O apetite e produção não retornam Volume de fezes ↓ com partículas não digeridas TR levemente aumentada ou normal Provas de dor duvidosas (+ ou -) 25/02/2021 9 Reticuloperitonite traumática Sinais clínicos • Peritonite local crônica ECC permanece ruim* MR ausentes ou diminuídos com timpanismo crônico moderado* Arqueamento da cernelha com abdome tenso* * = Abscessos reticulares Reticuloperitonite traumática Peritonite aguda difusa Toxemia 2 a 3 dias após peritonite local MR diminuído ou ausente Depressão TR aumentada ou reduzida (grave) FC 100 a 120 bpm Gemidos pela palpação abdominal ventral Choque e óbito Reticuloperitonite traumática Exame retal Gemidos durante o procedimento Fezes secas, firmes e com muco (retenção) Rúmen aumentado de volume (gás) Aderências de fibrina na cavidade Reticuloperitonite traumática Patologia clínica: Peritonite aguda local Neutrofilia com desvio a esquerda regenerativo, com a cronicidade o leucograma volta ao normal. Peritonite aguda difusa Leucopenia com desvio a esquerda degenerativo (prog. desfavorável) Reticuloperitonite traumática Patologia clínica: Proteína plasmática: X = 77 g/litro Fibrinogênio: X = 10 a 20 g/litro Exame do líquido peritoneal 1. Contagem total e diferencial de leucócitos 2. Quantificação da proteína total 3. Cultura de patógenos Reticuloperitonite traumática Outros métodos diagnósticos Detector de metais Laparoscopia Radiografia Ultra-sonografia 25/02/2021 10 Reticuloperitonite traumática Achados de necrópsia • Presença de aderêcias de graus e extensões variadas. • Abscessos • Líquido abdominal turvo e mal cheiroso e com coágulos de fibrina • Peritonite aguda difusa Inflamação supurativa ou fibrinosa com graus variados de aderência Reticuloperitonite traumática Tratamento: • Conservador 1. Imobilização 2. Antimicrobianos 3. Imã • Rumenotomia Relação custo x benefício Reticuloperitonite traumática Prevenção: Capricho, cuidado,... Uso de magnetos para passar o alimento oferecido no cocho Imãs intraruminais Indigestão vagal, Síndromes parassimpáticas ou estenoses funcionais (síndrome de Hoflund) Etiologia: Lesão (compressão) total ou parcial de ramos do nervo vago. Histórico de ingestão de corpos estranhos Abscessos reticulares e hepáticos Rumenite tóxica severa Neoplasias Aderências do retículo Indigestão vagal Inervação do aparelho gastrintestinal Rúmen – vago dorsal Retículo e omaso – vago ventral Abomaso – vago ventral e dorsal Indigestão vagal Patogenia: Estenose funcional anterior –Válvula reticulo-omasal Estenose funcional posterior –Piloro - distensão abomaso (cessa estímulo alimentação) 25/02/2021 11 Indigestão vagal Sinais clínicos (intermitentes e variados): Inapetência / Anorexia Fezes escassas Abdomen aumentado Abomaso distendido e compactado (palpação retal) Rúmen dilatado, timpanismo Sinais vitais e respostas aos estímulos normais Sem resposta ao tratamento Episódios recorrentes de distensão abdominal gasosa Indigestão vagal Sinais clínicos: Indigestão crônica Períodos anorexia Perda peso Queda produção Constipação Meteorismo intermitente Distensão abdominal mesmo com diminuição apetite Fezes escassas e pegajosas Indigestão vagal Sinais clínicos: TR e FR normais MR diminuídos ou aumentados FC em geral diminuída Desidratação Excesso líquido com ou sem gás no rúmen Forma de “L” (dilatação esq do abdômen sup. e inferior e do lado direito na porção inferior Dispnéia Cianose Indigestão vagal Diagnóstico: Anamnese, distensão abdominal e ausência de resposta ao tratamento Sinais clínicos + cicatrizes ou lesões (necrópsia) Indigestão vagal Diagnóstico – Prova da atropina • Aferir várias vezes a FC • Aplicar 30 a 40mg de sulfato de atropina SC • Controle da FC em 5, 10 e 15 minutos após a administração • Após 15 min, o aumento da FC em mais que 16% da FC inicial indical provavel lesão. Indigestão vagal Patologia clínica – nada específico Leucograma – inflamação crônica ou aguda (aumento de fibrinogênio e leucócitos) Linfossarcoma (Leucose enzootica bovina) – persistente linfocitose Tuberculose – teste da tuberculina intradérmica, (nódulos pelo corpo que podem comprimir o nervo vago) 25/02/2021 12 Indigestão vagal Tratamento: Adequada hidratação Tratar causas primárias – traumas faringe (antibióticos, antiinflamatórios e analgésicos) Falhas na eructação – rumenotomia permanente Dietas laxativas – alfafa Drenagem abscessos – salvo se leucose ou tuberculose
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