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AULA 5 DIFICULDADES E TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM Prof. Alisson Rogério Caetano de Siqueira 2 INTRODUÇÃO Nossas aulas estão diretamente relacionadas à aprendizagem. Nosso foco principal é apresentar os processos que podem ser agentes de interferência na aprendizagem. De saída, já podemos dizer que há dificuldades de aprendizagem e que elas têm seu diagnóstico de causa no desenvolvimento humano. Essas dificuldades são nomeadas pelo manual DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2015) como transtornos do neurodesenvolvimento. Os transtornos do neurodesenvolvimento são aqueles identificados no transcurso do desenvolvimento do sujeito, tendo como principais características o prejuízo ao desenvolvimento nas áreas afetivas, cognitivas, sociais e outras. Os transtornos do neurodesenvolvimento são um grupo de condições com início no período do desenvolvimento. Os transtornos tipicamente se manifestam cedo no desenvolvimento, em geral antes de a criança ingressar na escola, sendo caracterizados por déficits no desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. Os déficits de desenvolvimento variam desde limitações muito específicas na aprendizagem ou no controle de funções executivas até prejuízos globais em habilidades sociais ou inteligência (DSM-5, 2015). Os transtornos do neurodesenvolvimento são identificados normalmente na infância. Há um grupo de transtornos do desenvolvimento que apresenta uma condição específica relacionada à aprendizagem. São denominados de transtornos específicos da aprendizagem. Um transtorno específico da aprendizagem, como o nome implica, é diagnosticado diante de déficits específicos na capacidade individual para perceber ou processar informações com eficiência e precisão. Esse transtorno do neurodesenvolvimento manifesta-se, inicialmente, durante os anos de escolaridade formal, caracterizando-se por dificuldades persistentes e prejudiciais nas habilidades básicas acadêmicas de leitura, escrita e/ou matemática. O desempenho individual nas habilidades acadêmicas afetadas está bastante abaixo da média para a idade, ou níveis de desempenho aceitáveis são atingidos somente com esforço extraordinário. O transtorno específico da aprendizagem pode ocorrer em pessoas identificadas como apresentando altas habilidades intelectuais e manifestar-se apenas quando as demandas de aprendizagem ou procedimentos de avaliação (p. ex., testes cronometrados) impõem barreiras que não podem ser vencidas pela inteligência inata ou por estratégias compensatórias. Para todas as pessoas, o transtorno específico da aprendizagem pode acarretar prejuízos duradouros em atividades que dependam das habilidades, inclusive no desempenho profissional (DSM-5, 2015). 3 Os transtornos de aprendizagem são identificados normalmente quando a criança está em seu período escolar. Eles são reconhecidos pelo tipo de prejuízo causado ao sujeito ou pela área afetada pelas dificuldades. Esta aula tem como objetivo apresentar transtornos funcionais específicos, como dislexia, disgrafia, disortografia, discalculia e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Assim, abordaremos o assunto na seguinte ordem: • Tema 1: dislexia; • Tema 2: disgrafia; • Tema 3: disortografia; • Tema 4: discalculia; • Tema 5: TDAH. O conteúdo a ser abordado nos direcionará aos esclarecimentos necessários, propostos pela disciplina. CONTEXTUALIZANDO O ser humano é muito complexo, e, às vezes, usamos modelos simples para explicar algo tão complexo. É o que tentaremos fazer a partir de agora. Um dia desses nos deparamos com uma situação interessante envolvendo uma máquina de lavar roupas; embora já “fosse de idade” (dez anos de funcionamento), continuava em bom estado. Vamos à descrição da máquina: capacidade para 12 Kg; várias operações de lavagem; várias opções de trabalhos; função de reuso de água; painel com botões analógicos; tambor vertical. Pela descrição, talvez você ainda não saiba o que ela faz, mas seu produto é uma roupa lavada e quase seca por causa de sua supercentrífuga. Para quem não sabe, a centrifugação é uma operação que a máquina realiza fazendo giros em alta rotação, espremendo a roupa e retirando dela o excesso de água. O evento foi o seguinte: a máquina foi preparada para lavar uma quantidade X de roupa. Nesses casos, o primeiro passo da máquina é encher de água e começar a “bater” a roupa com movimentos para a esquerda e para a direita. Em um segundo momento, a água da pré-lavagem é escoada e a máquina faz uma minicentrífuga. Para o espanto geral, a centrífuga não foi executada. Consequentemente, a máquina simplesmente parou. 4 Horas depois, verificou-se que a máquina não tinha terminado o trabalho. Assim, foi realizado um procedimento simples: adiantou-se o processo da máquina. Ela simplesmente recomeçou a funcionar, mas, quando chegou na operação de centrífuga, parou de novo. A situação causou surpresa, pois a centrifugação nada mais é do que a aceleração do eixo em que gira a máquina. Se o eixo estava funcionando, o que poderia estar causando o problema somente na função centrífuga? Obrigatoriamente, um técnico teve que ser chamado. Ele analisou a máquina e informou que havia uma conexão que interferia apenas na centrífuga, e que a peça inteira teria que ser trocada (uma peça que valia quase o valor da máquina!). Veja, acabamos de usar uma comparação muito comum para lhe informar que algumas áreas do cérebro podem não trabalhar direito, e que só perceberemos isso quando fizermos operações especificas. Isso deve levantar muitas dúvidas, como: O que são funções específicas? Como podemos identificar problemas em uma função específica? Como lidar com esses problemas? Como resolvê-los? Pois bem, essas são as perguntas que tentaremos responder nesta aula, assim como mostrar a você quais são as funções específicas do cérebro ligadas à aprendizagem que são identificadas a partir de processos cotidianos. Podemos adiantar que esses problemas são identificados ao final de processos de aprendizagem, normalmente no ambiente escolar, e que persistem no transcurso da vida do sujeito. TEMA 1 – DISLEXIA A dislexia é descrita pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2015) como um transtorno do neurodesenvolvimento que implica um transtorno específico de aprendizagem. 315.00 (F81.0) Com prejuízo na leitura: Precisão na leitura de palavras. Velocidade ou fluência da leitura. Compreensão da leitura. Nota: Dislexia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades de aprendizagem caracterizado por problemas no reconhecimento preciso ou fluente de palavras, problemas de decodificação e dificuldades de ortografia. Se o termo dislexia for usado para especificar esse padrão particular de dificuldades, é importante também especificar quaisquer dificuldades adicionais que estejam presentes, tais como dificuldades na compreensão da leitura ou no raciocínio matemático (DSM-5, 2015). 5 O (Código Internacional de Doenças) CID-10 descreve a dislexia como um transtorno específico do desenvolvimento das habilidades escolares. F81.0 Transtorno específico de leitura A característica essencial é um comprometimento específico e significativo do desenvolvimento das habilidades da leitura, não atribuível exclusivamente à idade mental, a transtornos de acuidade visual ou escolarização inadequada. A capacidade de compreensão da leitura, o reconhecimento das palavras, a leitura oral, e o desempenho de tarefas que necessitam da leitura podem estar todas comprometidas. O transtorno específico da leitura se acompanha frequentemente de dificuldades de soletração, persistindo comumente na adolescência, mesmoquando a criança haja feito alguns progressos na leitura. As crianças que apresentam um transtorno específico da leitura têm frequentemente antecedentes de transtornos da fala ou de linguagem. O transtorno se acompanha comumente de transtorno emocional e de transtorno do comportamento durante a escolarização. Dislexia de desenvolvimento Leitura especular Retardo específico da leitura [...] (Organização Mundial da Saúde, 1998). A Associação Internacional de Dislexia descreve a dislexia como: [...] caracterizada por dificuldades na correção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Estas dificuldades resultam tipicamente de um déficit na componente fonológica da linguagem que é frequentemente imprevisto em relação a outras capacidades cognitivas e às condições educativas. Secundariamente podem surgir dificuldades de compreensão leitora, experiência de leitura reduzida que podem impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais (Associação Internacional de Dislexia, 2003, citada por Teles, 2009). Os dois manuais concordam que a dislexia é uma condição neurobiológica ligada à habilidade de aprendizagem, mais precisamente à leitura e à escrita. Suas causas estão originariamente atreladas a alterações na formação neurológica. Entende-se que a dislexia tem causa cromossômica hereditária. Há indícios de que há relação genética entre a dislexia e a produção excessiva de testosterona pela mãe durante a gravidez. De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), a condição tem uma prevalência de 0,5% a 17% na população mundial, e pode persistir até a vida adulta. A dislexia é normalmente diagnosticada quando a criança está em seu período escolar. Isso não quer dizer que os sinais apareçam durante o seu desenvolvimento, mas que se desenvolvem na infância e são percebidos normalmente nos anos escolares. A dislexia não impede o aprendizado, mas dificulta o processo de aprendizagem em uma escala que pode variar de leve a alta. É caracterizada por 6 um baixo desempenho na precisão e na velocidade da leitura e da escrita, característica esta que não está relacionada à inteligência ou ao desenvolvimento intelectual; também não está relacionada a uma condição sensorial ou de possibilidades ou oportunidades de aprender. A dislexia, como os transtornos do neurodesenvolvimento, não tem cura. Isso significa que todos os esforços na identificação precoce e um processo de intervenção permitem alcançar um desenvolvimento adequado das habilidades escolares e da vida do sujeito. Quem tem dislexia tem uma grande dificuldade em adquirir informações, pelo simples fato de que estas são adquiridas, geralmente, por meio da leitura e da escrita. O diagnóstico é normalmente realizado por uma equipe multidisciplinar, que inclui psicólogos, neuropsicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos e um médico neuropediatra. São utilizados vários testes avaliativos e levantamentos clínicos para o fechamento do diagnóstico. Além de apresentarem problemas com a coordenação motora, os indivíduos com dislexia também têm dificuldades para (Bruna, 2018): • ler, escrever e soletrar; • entender textos escritos; • identificar fonemas, associá-los às letras e reconhecer rimas e aliterações; • decorar a tabuada, reconhecer símbolos e conceitos matemáticos (discalculia); • perceber a ortografia: trocam, invertem, omitem ou acrescentam letras e sílabas (disgrafia); • organizar tempo e espaço. No Brasil, entre as muitas instituições que trabalham em prol das pessoas com dislexia temos a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), fundada em 1983. Como parte do trabalho da associação, algumas conquistas já foram registradas, como a classificação da dislexia como transtorno específico de aprendizagem reconhecido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (Lei n. 9.394/1996). Segundo o Censo do IBGE de 2010, a dislexia ocorre em aproximadamente 4% da população brasileira, o que equivale a 7,8 milhões de pessoas. TEMA 2 – DISGRAFIA 7 A disgrafia é descrita pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2015) como um transtorno do neurodesenvolvimento que implica transtorno específico de aprendizagem. 315.2 (F81.81) Com prejuízo na expressão escrita: Precisão na ortografia Precisão na gramática e na pontuação Clareza ou organização da expressão escrita (DSM-5, 2015). O (Código Internacional de Doenças) CID-10 descreve a disgrafia como “F81.8 Outros transtornos do desenvolvimento das habilidades escolares Transtorno de desenvolvimento da expressão escrita” (Organização Mundial da Saúde, 1998). A disgrafia é um transtorno da psicomotricidade e atinge a relação entre a associação da letra com a escrita. Ela surge no indivíduo por meio de uma disfunção no sistema nervoso central (SNC). A disgrafia também pode vir a ocorrer por meio de uma lesão cerebral adquirida ao longo da vida. A disfunção resultante no SNC produz um desenvolvimento anormal na habilidade de escrever. Segundo Hamstra-Bletz e Blöte (1993), a disgrafia é uma perturbação da linguagem escrita que abrange as competências mecânicas ligadas a ela manifestando-se por uma fraca prestação na escrita em crianças com inteligência pelo menos na média e que não apresentam uma desordem neurológica distinta e/ou uma deficiência sensório-motora. Como causas da disgrafia, podemos identificar: • causas maturacionais: maturação significa que o cérebro está pronto para determinada ação. Nesse caso, estamos falando de alterações da lateralidade de eficácia psicomotora. O cérebro não está maturado, e, por isso, as crianças não desenvolvem ações esperadas para determinada idade. Por isso são desordenadas e apresentam uma escrita irregular em termos de pressa, velocidade e traçado; • causas pessoais: nesse caso, estamos falando da personalidade da criança. Sua personalidade afeta a sua grafia. Assim, temos uma escrita identificadora da personalidade do sujeito. Fatores psicoafetivos, traumas, frustrações e outras características podem afetar a escrita da criança; • causas pedagógicas: a alteração está relacionada à alteração do tipo de letra e à qualidade ou à rapidez da escrita. 8 Hallahan, Kauffman & Lloyd (1999) classificam os problemas com a escrita dos alunos diagnosticados com disgrafia em dois tipos: • problemas com a formação das letras: em geral são as características da letra em sua apresentação que são afetadas: deformações, espaçamento irregular, inversões e rotações; • problemas com a fluência: neste item podemos citar a velocidade com que a escrita é apresentada, que, nesses casos, é muito lenta e laboriosa. A impressão que temos que há um esforço motor muito grande para que a escrita aconteça; Alguns autores levantaram algumas situações que são percebidas em alunos com disgrafia, como: formação pobre das letras; letras muito largas, demasiado pequenas ou com tamanho inconsistente; uso incorreto de letras maiúsculas e minúsculas; letras sobrepostas; espaçamento inconsistente entre as letras; alinhamento incorreto; inclinação inconsistente; falta de fluência na escrita (Addy; Dixon, 2004). Torres e Fernández (2001) observaram que crianças com disgrafia apresentam, juntamente com seu grafismo defeituoso, características globais que especificam uma condição diferenciada na escrita. Essas características são: postura gráfica incorreta; forma incorreta de segurar o lápis; deficiência na preensão do lápis e na pressão exercida sobre a folha; e falta de uniformidade na velocidade da escrita. É possível identificar alguns tipos de disgrafia com características especificas: • disgrafia disléxica: a escrita espontânea de um texto é ilegível, especialmente quando o texto é complexo. A soletração oral é pobre, mas a cópia de texto e o desenho são relativamentenormais. A velocidade de digitação com o dedo indicador (finger-tapping speed), uma medida de velocidade motora fina, é normal; • disgrafia motora: tanto a escrita espontânea quanto a cópia de um texto podem ser ilegíveis. A soletração oral é normal, e o desenho é frequentemente problemático. A velocidade de digitação com o dedo indicador é anormalmente lenta; 9 • disgrafia espacial: a escrita é ilegível, seja espontânea, seja cópia. A soletração oral e a velocidade de digitação com o dedo indicador são normais, mas o desenho é problemático. Quando a disgrafia é diagnosticada é importante que algumas ações sejam tomadas. A primeira delas está relacionada à acomodação. Nessa ação, o objetivo é reduzir o impacto que a escrita tem na aprendizagem. Isso significa usar de outras ferramentas e técnicas para alcançar o objetivo da aula. A segunda ação está relacionada à modificação. Nesse caso, é necessário procurar e criar expectativas e rotas para que o aluno possa perceber seu progresso na aprendizagem. E, por último, a remediação. Nessa ação, o professor procurará outras instruções e oportunidades para aperfeiçoar a caligrafia do aluno. TEMA 3 – DISORTOGRAFIA A disortografia segue a mesma descrição do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2015) e do (Código Internacional de Doenças) CID-10. Embora estejam no mesmo grupo e pareçam semelhantes, a disortografia é diferente da disgrafia. Os déficits de escrita incluídos como transtornos de aprendizagem específicos são descritos como dificuldades em executar os processos cognitivos subjacentes a composição de textos. Há dificuldades no processo fonológico e ortográfico e, consequentemente, uma caligrafia irregular. A prevalência é que 90% dos casos conhecidos de disortografia relacionam-se com atrasos no aprendizado da linguagem e 10% com disfunções neurológicas. A disortografia é descrita pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2015) como uma perturbação da expressão escrita, tendo origem neurobiológica. O principal prejuízo da disortografia está na interferência nas capacidades da expressão escrita, pois ocorrem falhas na precisão ortográfica e na organização, na estruturação e na composição de textos escritos. O conteúdo das frases elaboradas é pobre, e os textos, curtos, apresentam muitos erros ortográficos. Caracterizar a disortografia é apresentar suas principais ocorrências, que são (Rosado, 2018): 10 • erros linguístico-perceptivos: omissões de letras, sílabas e palavras; adições de fonemas, sílabas e palavras; inversões de caracteres, sílabas e palavras; e trocas de símbolos linguísticos ao nível do traço de nasalidade; • erros viso-espaciais: substituições de letras que são diferentes pela sua forma escrita; substituições de letras semelhantes visualmente; confusão com fonemas que tenham dupla grafia; escrita de palavras em espelho; • erros viso-analíticos: trocas de letras sem motivo; • erros de conteúdo: junção de duas palavras ou separação incorreta de palavras; • erros de ortografia: falta de pontuação; início das frases com letra minúscula; e uma deficiente separação de palavras. A disortografia pode ser caracterizada por tipos em suas áreas de prejuízo: • disortografia perceptiva: há uma deficiência na percepção, na memória visual e auditiva, e na orientação espaço-temporal. Nesse caso, temos uma dificuldade pontual em que ocorrem erros de interpretação; com isso, as letras e os fonemas são confundidos; • disortografia intelectual: há uma relação direta com a inteligência. Pode ser resultante de déficit, imaturidade intelectual ou baixo nível de inteligência. Nesse caso há escrita incorreta por falta de conteúdo de produção; • disortografia afetivo-emocional: as ações cerebrais gerenciadoras de emoções não contribuem para a escrita. O sujeito apresenta características como falta de motivação e atenção. Atribui-se a essa condição os erros ortográficos cometidos. A consequência imediata da disortografia no sujeito é a desmotivação. O sujeito perde a vontade de escrever. Seus textos são muitos curtos, desorganizados e sem pontuação. Essa condição se agrava quando o sujeito apresenta problemas na fala. TEMA 4 – DISCALCULIA A discalculia é descrita pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2015) como um transtorno do neurodesenvolvimento que implica um transtorno específico de aprendizagem. 315.1 (F81.2) Com prejuízo na matemática: Senso numérico 11 Memorização de fatos aritméticos Precisão ou fluência de cálculo Precisão no raciocínio matemático Nota: Discalculia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades caracterizado por problemas no processamento de informações numéricas, aprendizagem de fatos aritméticos e realização de cálculos precisos ou fluentes. Se o termo discalculia for usado para especificar esse padrão particular de dificuldades matemáticas, é importante também especificar quaisquer dificuldades adicionais que estejam presentes, tais como dificuldades no raciocínio matemático ou na precisão na leitura de palavras (DSM-5, 2015). O (Código Internacional de Doenças) CID-10 descreve a discalculia como um transtorno específico do desenvolvimento das habilidades escolares. F81.2 Transtorno específico da habilidade em aritmética Transtorno que implica uma alteração específica da habilidade em aritmética, não atribuível exclusivamente a um retardo mental global ou à escolarização inadequada. O déficit concerne ao domínio de habilidades computacionais básicas de adição, subtração, multiplicação e divisão mais do que as habilidades matemáticas abstratas envolvidas na álgebra, trigonometria, geometria ou cálculo. Acalculia de desenvolvimento Discalculia Síndrome de Gerstmann de desenvolvimento Transtorno de desenvolvimento do tipo acalculia (Organização Mundial da Saúde, 1998). A discalculia é descrita nos manuais como um transtorno de aprendizagem. Sua principal característica é a dificuldade em desempenhar tarefas ligadas a toda e qualquer operação matemática. A discalculia também implica uma barreira à compreensão de conceitos numéricos, utilização de fórmulas ou símbolos que se refiram ao desenvolvimento matemático. A prevalência da discalculia é de 3% a 6% da população mundial, segundo a Associação Britânica de Dislexia. A discalculia é um problema biológico e de neurodesenvolvimento. Pode ser caracterizado também por aspectos ambientais que afetam a capacidade da criança em aprender matemática. A atividade de cálculo ocorre na região interparietal e na região inferior frontal, e por isso nos referimos a condições neurológicas. Essa é, possivelmente, a área afetada que a produz a discalculia. Kosc (1974) descreveu seis tipos de discalculia: 1. léxica: dificuldade na leitura de símbolos matemáticos; 2. verbal: dificuldades em nomear quantidades matemáticas, números, termos e símbolos; 3. gráfica: dificuldade na escrita de símbolos matemáticos; 4. operacional: dificuldade na execução de operações e cálculos numéricos; 12 5. practognóstica: dificuldade na enumeração, na manipulação e na comparação de objetos reais ou imagens; 6. ideognóstica: dificuldades nas operações mentais e no entendimento de conceitos matemáticos. A discalculia ocorre ao longo do desenvolvimento humano. Isso significa que, muitas vezes, o diagnostico não é realizado na infância, passando despercebido; às vezes as dificuldades são interpretadas como preguiça ou desinteresse. Na verdade, quanto mais cedo a discalculia for diagnosticada mais eficaz poderá ser o seu tratamento. A seguir, listamos algumas características identificáveis em indivíduos que apresentam discalculia no transcurso da vida escolar e acadêmica (Ansari, S.d.) • pré-escola ✓ tem dificuldade em aprender a contar; diferentementedas outras crianças, ignora números e sua ordem correta; ✓ tem dificuldades para reconhecer padrões, como menor e maior, mais alto e mais baixo; ✓ não problemas para reconhecer símbolos numéricos (por exemplo, é difícil compreender que 7 significa sete); ✓ não parece entender o significado da contagem. • ensino fundamental ✓ tem dificuldade em aprender e lembrar fatos matemáticos básicos, como 2 + 4 = 6; ✓ sofre para identificar os sinais de mais, menos, entre outros, e usá-los corretamente; ✓ pode ainda usar os dedos para contar em vez de usar estratégias mais sofisticadas, como cálculos mentais; ✓ tem que se esforçar muito para entender palavras relacionadas a matemática, como maior que e menor que; ✓ tem problemas com representações visuais e espaciais de números, como linhas numéricas. • ensino médio ✓ tem dificuldade em entender valores; ✓ apresenta problemas para escrever números claramente ou colocá-los na ordem correta; 13 ✓ tem problemas com frações e medidas; ✓ encontra dificuldade em acompanhar a pontuação de jogos esportivos. • universidade e vida adulta ✓ sofre para aplicar conceitos de matemática ao dinheiro, o que inclui fazer estimativas de custo total de uma compra, fazer mudanças exatas e descobrir uma dica; ✓ apresenta dificuldades em entender as informações mostradas em gráficos ou planilhas; ✓ não consegue facilmente fazer medições simples, como de ingredientes de uma receita ou de líquidos em uma garrafa; ✓ tem problemas para encontrar abordagens diferentes para o mesmo problema de matemática; ✓ demonstra ter dificuldade em compreender tamanhos, medir distâncias ou quantidades de uma determinada substância (Ansari, 2018). A discalculia pode criar desafios em mais áreas que vão além do aprendizado. Ela pode afetar também as habilidades diárias do indivíduo em termos de interações sociais e gerenciamento de tempo. TEMA 5 – TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) Começamos este tema com um esclarecimento importante: o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento específico, e não um transtorno de aprendizagem. Isso significa que ele pode afetar a aprendizagem, mas não causa o transtorno de aprendizagem. O TDAH é descrito pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2015) como: A. Um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade- impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento, conforme caracterizado por (1) e/ou (2): 1. Desatenção: Seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais: Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade para compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos ou mais), pelo menos cinco sintomas são necessários. 14 2. Hiperatividade e impulsividade: Seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais: Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade para compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos ou mais), pelo menos cinco sintomas são necessários. Determinar o subtipo: 314.01 (F90.2) Apresentação combinada: Se tanto o Critério A1 (desatenção) quanto o Critério A2 (hiperatividade-impulsividade) são preenchidos nos últimos 6 meses. 314.00 (F90.0) Apresentação predominantemente desatenta: Se o Critério A1 (desatenção) é preenchido, mas o Critério A2 (hiperatividade- impulsividade) não é preenchido nos últimos 6 meses. 314.01 (F90.1) Apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva: Se o Critério A2 (hiperatividade-impulsividade) é preenchido, e o Critério A1 (desatenção) não é preenchido nos últimos 6 meses. (DSM-5, 2015) O (Código Internacional de Doenças) CID-10 descreve o TDAH como: F90 Transtornos hipercinéticos Grupo de transtornos caracterizados por início precoce (habitualmente durante os cinco primeiros anos de vida), falta de perseverança nas atividades que exigem um envolvimento cognitivo, e uma tendência a passar de uma atividade a outra sem acabar nenhuma, associadas a uma atividade global desorganizada, incoordenada e excessiva. Os transtornos podem se acompanhar de outras anomalias. As crianças hipercinéticas são frequentemente imprudentes e impulsivas, sujeitas a acidentes e incorrem em problemas disciplinares mais por infrações não premeditadas de regras que por desafio deliberado. Suas relações com os adultos são frequentemente marcadas por uma ausência de inibição social, com falta de cautela e reserva normais. São impopulares com as outras crianças e podem se tornar isoladas socialmente. Estes transtornos se acompanham frequentemente de um déficit cognitivo e de um retardo específico do desenvolvimento da motricidade e da linguagem. As complicações secundárias incluem um comportamento dissocial e uma perda de autoestima. [...] F90.0 Distúrbios da atividade e da atenção Síndrome de déficit da atenção com hiperatividade Transtorno de déficit da atenção com hiperatividade Transtorno de hiperatividade e déficit da atenção (Organização Mundial da Saúde, 1998). O TDAH é descrito pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2015) como um transtorno do neurodenvolvimento com um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento ou no desenvolvimento. Entende-se a desatenção no TDAH como parte de um grupo comportamental com características de divagação em tarefas, falta de persistência, dificuldade de manter o foco e desorganização (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2015). A hiperatividade é compreendida como uma atividade motora excessiva (por exemplo, uma criança que corre o tempo todo, mesmo quando isso não é 15 apropriado, ou remexe, batuca ou conversa em excesso). Nos adultos, a hiperatividade pode se manifestar como inquietude extrema ou esgotamento dos outros com sua atividade (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2015). A impulsividade, uma outra característica do TDAH, refere-se a ações precipitadas que ocorrem em um determinado momento, sem premeditação e com elevado potencial para dano à pessoa. A impulsividade pode ser reflexo de um desejo de recompensas imediatas ou de incapacidade de postergar a gratificação. Comportamentos impulsivos podem se manifestar em forma de intromissão e/ou tomada de decisões importantes sem considerações acerca das consequências no longo prazo (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2015). O diagnóstico do TDAH deve ser feito na infância. Caso não o seja, a avaliação deve ser feita considerando que a sintomática tenha ocorrido antes dos 12 anos. Deve-se evitar um diagnóstico precoce demais, considerando sempre que os sinais do TDAH devem estar presentes em mais de um ambiente frequentado pelo sujeito, como escola, casa, clubes etc. Há situações em que os sintomas sofrem variações pelo fato de o contexto, em um determinado ambiente, reforçar com recompensas um comportamento apropriado do sujeito. Pode ser também que o sujeito esteja sob supervisão, ou em uma situação nova, envolvido em atividades especialmente interessantes, recebendo estímulos externos consistentes ou interagindo em situações individualizadas. Isso pode minimizar a apresentação circunstancial dos sintomas. Na maioria das culturas, o TDAH ocorre em cerca de 5% das crianças e 2,5% dos adultos (Manual Diagnóstico eEstatístico de Transtornos Mentais, 2015). As causas do TDAH podem ser ambientais, genéticas e fisiológicas. O grande problema do TDAH está nos prejuízos a que ele pode. A seguir, listamos algumas consequências do TDAH descritas pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2015): • na infância: ✓ baixo desempenho escolar e baixo sucesso acadêmico; ✓ rejeição social. • na vida adulta: ✓ mau desempenho profissional, que pode levar ao insucesso e à falta de assiduidade no campo profissional; ✓ maior probabilidade de desemprego; 16 ✓ altos níveis de conflito interpessoal. • o indivíduo ainda pode: ✓ desenvolver transtornos de conduta na adolescência; ✓ desenvolver transtornos de personalidade antissocial na idade adulta; ✓ desenvolver transtornos por uso de substâncias e ser preso; ✓ ter maior propensão a sofrer lesões do que seus colegas na escola; ✓ sofrer acidentes e violar regras de trânsito com mais frequências que o indivíduo médio. O TDAH leva a condição diferenciada no sujeito. O indivíduo pode ter, frequentemente, autodeterminação variável ou inadequada para cumprir tarefas que exijam esforço prolongado. Isso gera um certo preconceito por parte de outros, que podem classificar o comportamento como preguiça. Dessa forma, o indivíduo poderá ter que enfrentar rejeição ou negligência social até mesmo por parte de sua família, além de colegas de escola e trabalho. O tratamento para o TDAH envolve ações medicamentosas, quando necessário, e terapias com profissionais de diferentes áreas do desenvolvimento humano. FINALIZANDO Chegamos ao fim de mais uma aula. Fomos muito específicos em nossa abordagem: nosso foco esteve nos transtornos específicos de aprendizagem e no TDAH. Deixar esses elementos claros em seus conceitos nos abre a possibilidade de uma melhor investigação sobre os temas abordados. Voltando ao nosso exemplo inicial, é possível que tenhamos algum impeditivo de aprendizagem sem que necessariamente tenhamos problemas de inteligência, ou que ele seja um impeditivo global. Deixamos uma porta aberta para um maior aprofundamento de cada tema. Consideremos que a nossa direção passa a ser tomada com base nos manuais de diagnósticos. Temos, no entanto, que esclarecer que há impeditivos específicos no processo de aprendizagem. 17 Saiba mais Texto de abordagem teórica NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: InterSaberes, 2012. Disponível na biblioteca virtual. Esse livro apresenta uma descrição do olhar da psicopedagogia sobre os transtornos específicos da aprendizagem e o TDAH. A leitura do texto esclarecerá dúvidas sobre a exposição das teorias da aprendizagem. Leia: • Capítulo 3 – Transtornos funcionais específicos da aprendizagem: disgrafia, disortografia, dislexia e discalculia, p. 67-70; • Capítulo 5 – Transtornos do comportamento: o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade e da aprendizagem, p. 115-134. Texto de abordagem prática Instituto ABCD. Dificuldades e transtornos de aprendizagem: por que o aluno não aprende? Disponível em: <https://www.institutoabcd.org.br/todos-aprendem/>. Acesso em: 25 jul. 2020. O texto do Instituto ABCD é técnico e ao mesmo tempo prático, escrito com a finalidade de esclarecer dúvidas especificas sobre os transtornos específicos de aprendizagem. Saiba mais VEJA as características específicas de cada transtorno de aprendizagem. Amazon Sat, 25 jun. 2013. Disponível em: <https://youtu.be/Zi8nJ0Jg7HI>. Acesso em: 25 jul. 2018. 18 REFERÊNCIAS ADDY, L. M.; DIXON, G. Handwriting and dyspraxia. In: DIXON, G.; ADDY, L. M. Making inclusion work for children with dyspraxia: practical strategies for teachers. London: Routledge-Falmer, 2004. p. 66-80. ANSARI, D. Understanding dyscalculia. Understood, [S.d]. Disponível em: <https://www.understood.org/en/learning-attention-issues/child-learning- disabilities/dyscalculia/understanding-dyscalculia>. Acesso em: 25 jul. 2018. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 25 jul. 2018. BRUNA, M. H. V. Dislexia. Portal Drauzio Varella, 20 abr. 2011. Disponível em: <https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/dislexia/>. Acesso em: 25 jul. 2018. DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. HALLAHAN, D. P.; KAUFFMAN, J. M.; LLOYD, J. W. Introduction to learning disabilities. 2. ed. Virginia: Pearson, 1999. HAMSTRA-BLETZ, L.; BLÖTE, A. W. 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