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AULA 4 DIFICULDADES E TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM Prof. Alisson Rogério Caetano de Siqueira 2 INTRODUÇÃO As nossas aulas estão, diretamente, relacionadas à aprendizagem. Nosso foco é apresentar os processos que podem ser agente de interferência na aprendizagem. Com isso, já chegamos a um ponto comum que é a definição do que vêm a ser as dificuldades de aprendizagem. Sendo assim, o nosso desafio, hoje, é discutir em torno de como o processo do aprender ocorre no processo cerebral. Definimos que aprender é uma ação, ato de esforço. Agora, procuraremos apresentar como esse esforço ocorre no cérebro, pois, afinal de contas, o cérebro é o agente de comando e controle. Assim, esta aula tem como objetivo apresentar a plasticidade cerebral e o processo de aprendizagem, por isso abordaremos o assunto com a seguinte distribuição: 1- O funcionamento do cérebro 2- Conceituando a plasticidade cerebral 3- A plasticidade no desenvolvimento 4- A plasticidade na aprendizagem 5- A plasticidade nos transtornos de aprendizagem O conteúdo a ser abordado nos direcionará para os esclarecimentos necessários, propostos pela disciplina. CONTEXTUALIZANDO Somos desafiados, continuamente, a apresentar resultados. O mundo moderno é o mundo voltado a resultados. Se existe algo frustrante na vida do indivíduo, é a frustração de estar muito próximo do objetivo e não o ter alcançado. No processo de aprendizagem, as condições são muito parecidas. Há um objetivo a ser alcançado e trabalha-se na ideia de êxito, alcançando-o. Vamos fazer uma comparação. Imaginemos que você tenha comprado um aparelho de jogos eletrônicos, um PS 4. Esses jogos vêm com um controle padronizado. Um dia, você encontra um jogo de PS 4 muito bom, com muitos recursos e de grande jogabilidade. Todavia há um recurso no jogo que não pode ser acessado pelo seu controle padrão, pois esse não tem espaço para ele. Porém você sabe que, no controle do ps4, tem uma saída de áudio para fone de ouvido. 3 Sua habilidade levará a produzir um acessório para o jogo ligado na saída de áudio e comandada pelos seus pés, visto que as mãos já estão ocupadas com o controle. Agora, você tem acesso com os pés, por uma ligação na saída de áudio de uma habilidade do jogo que você não teria. Talvez você pergunte: o que foi que eu fiz? Como ninguém pensou nisso antes? Será que o que fiz pode ser usado para outras coisas? Pois bem, são essas perguntas que vamos tentar responder agora, mostrando para você que essa capacidade de achar novos caminhos e soluções é uma função cerebral. TEMA 1 – O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO Começamos esta aula falando da capacidade de resolver problemas. Isso só é possível pelo fato de nosso cérebro ter uma condição única de se desenvolver e uma nova estrutura, ou novo caminho, para determinadas ações. Essa ação é realizada pelas células nervosas. Lembrando um pouco sobre o tecido nervoso que compõe o sistema nervoso, temos os neurônios e as células da glia. Os neurônios são responsáveis pelas sinapses. As células da glia, sendo a maioria no tecido nervoso, trabalham em função do neurônio e das sinapses. Sabemos que o processo de neurogênese ocorre por toda vida. Significa que os neurônios e as células da glia têm podem se regenerar e gerar outras células. Isso amplia a nossa condição conceitual de saber que o cérebro está em constante manutenção. Significa que ele sofre uma ação de manutenção e controle de sua estrutura. O desenvolvimento humano é, para nós, uma representação perfeita do desenvolvimento complexo. Sabemos que, após a fecundação e a implantação do embrião no útero, ocorre seu processo de desenvolvimento e a formação do indivíduo. A primeira e fundamental etapa, nesse processo, é a formação do tubo neural, que é responsável pela formação do corpo humano e o primeiro sistema a ter sua estrutura montada é o sistema nervoso. Passado o processo da gravidez e a formação do sistema nervoso, após o nascimento, o sistema nervoso ainda está em desenvolvimento. Todavia esse processo é o de maturação e ligação de conexões por processos sinápticos. O que ocorre no cérebro é que as estruturas montadas precisam de conexões que serão feitas à medida que houver estimulações. 4 Sabemos que, no cérebro, existem redes de conexões. Essas redes são estruturas pré-definidas na formação que interliga todas as áreas do corpo. Uma comparação interessante é a rede de energia elétrica de uma casa. Sabemos que a energia que circula em nossa casa é a mesma que circula nos cabos elétricos da rua, todavia não estão na mesma intensidade. Por isso que existe um sistema de cálculo de potência que apresenta, para o usuário, que ele não pode, simplesmente, pegar um cabo de uma turbina de Itaipu e colocar direto em sua casa. Há um processo de redução. De forma prática, isso nos permite montar em nossa casa, conforme a necessidade, circuitos de energia dentro de uma rede doméstica. Então, temos um circuito de tomadas, um circuito de lâmpadas, um circuito para o chuveiro elétrico, um circuito para os aparelhos domésticos etc. Quando observamos os circuitos, verificaremos que cada circuito tem um fio diferente e esse fio tem o diâmetro necessário para suportar a potência de energia que vai passar por ele. Isso significa que se eu ligar um micro-ondas em uma tomada normal, com um fio de espessura menor do que a necessária, com alguns minutos de uso, duas coisas podem acontecer: o disjuntor de segurança desligará ou o fio queimará. Se o fio queimar é pelo fato de não ter capacidade de suportar a potência usada pelo micro-ondas. Assim é o nosso cérebro. Há circuitos para tudo. Circuitos preestabelecidos, circuitos que serão ativados com estímulos e circuitos que serão montados à medida que houver necessidade. Todavia todos esses circuitos são finalísticos. Quando falamos das células nervosas, as definimos em três grupos: aferentes, eferentes e associativas. De forma resumida, temos circuitos de recepção formados por neurônios aferentes, que são neurônios sensitivos. Temos os circuitos de respostas formados pelos neurônios eferentes, que são os neurônios motores. E temos os circuitos mistos, que realizam ambas funções com os neurônios associativos. Observamos que o cérebro trabalho de forma organizada e organiza o corpo humano, o que possibilita movimentos, ações, reações com precisão e complexidade. Essa é razão pela qual, no processo do desenvolvimento, o processo maturacional é determinante para que se alcancem determinados objetivos. Isso representa que o cérebro trabalha, sempre, em função do 5 organismo. Suas ações objetivam a capacidade que o organismo já adquiriu, ou o prepara para uma nova experiência. TEMA 2 – CONCEITUANDO A PLASTICIDADE CEREBRAL O desenvolvimento humano é uma construção de estruturas que se solidificam com o tempo. Isso significa que, antes de estarem consolidadas, elas são movimentadas a se organizar para um fim que foi designado pela experiencia a que o sujeito está se submetendo. Há um conceito muito importante nesse processo de desenvolvimento humano relacionado, diretamente, ao cérebro. É o processo da plasticidade cerebral. A plasticidade cerebral é entendida como as capacidades adaptativas do sistema nervoso central (SNC). Isso significa que ela tem uma condição de modificar sua própria organização estrutural e, também, a forma como funciona. De uma forma designativa, o sistema nervoso tem uma condição que lhe permite montar alterações estruturais que são resultantes da experiência do organismo. É uma forma adaptativa de se apresentar diante de situações que manifestam repetições ou mutações. Quando falamos de plasticidade cerebral, nossa tendência é abordarmos, sempre, uma perspectiva de recuperação.Vamos, então, esclarecer essa condição da plasticidade cerebral. Quando ocorre uma lesão cerebral, há perdas de funções cerebrais. O ato de recuperar essas funções perdidas se dá por partes adjacentes de tecido nervoso que não foram lesadas. Esse recria um novo caminho para a função. Há outra condição que é alteração qualitativa da função. Nesse caso, há a construção de um caminho para a função por uma estrutura que não é sua. Em síntese: o ato da plasticidade cerebral é fazer um novo caminho para o que foi perdido. Vamos entender com o circuito da casa quando queima um fio de uma tomada. Para aquela tomada voltar a funcionar, eu a conecto a um outro circuito que não estava sendo usado. Isso mostra que, uma vez que o tecido é danificado, ele é inutilizado e o seu funcionamento passa a ser decorrente da ação de outro tecido. Esse processo ocorre por uma ação denominada brotamento. A teoria do brotamento é definida como um novo crescimento a partir de axônios que ocorre porque há resposta do corpo celular e a formação de novos brotos. Esses brotos 6 são alongados. Quando eles param de se alongar, ocorre o processo de formação de sinapses, denominada sinaptogênese. Os brotos, normalmente, têm sua origem em dois processos do SNC. O primeiro é a regeneração. Na regeneração, temo um neurônio lesionado que tem, na sua estrutura colateral, o surgimento do broto. Isso significa que haverá um novo crescimento em neurônios ilesos adjacentes ao tecido neural destruído. É um desvio, em que as funções sinápticas serão reaprendidas. Isso levará a condição do organismo poder reaprender, ou providenciar, um processo compensatório. Esse novo brotamento tende a ocorrer entre quatro e cinco dias após a lesão. É um fenômeno que acontece de forma seletiva, deixando evidente a localização e as fibras que serão restauradas. O segundo processo é a ativação de sinapses latentes. É importante verificar que, em todo grupo de células, há aquelas que têm características de liderança e atuação primária. As outras agregadas têm valor, mas a sua atuação é secundária. Essa mesma condição acontece na célula. Existe a área da sinapse principal e as áreas secundárias de sinapses. Quando essa principal é danificada, as áreas adjacentes, chamadas de sinapses residuais ou dormentes, passam a assumir o papel principal e, por isso, serem eficazes. O terceiro processo é o da supersensibilidade de desnervação. Estamos nos referindo a sinapses químicas, isso significa que há um processo de transmissão e neurotransmissores. A desnervação é compreendida como uma condição de que o neurônio pré-sináptico perdeu sua capacidade de transmissão e, dessa forma, ficou desorganizado. A célula pós-sináptica, em uma reação de defesa, em virtude de ter uma célula que iria lhe manter suprida, passa a ter uma condição de supersensibilidade química. Nesse caso, a forma adaptativa que o SNC usa é, primeiramente, realizar um desvio na supersensitividade (pré-sináptica) causando acúmulo de acetilcolina na fenda sináptica. Essa ação produzirá uma reorganização na sinapse. Feito isso, há alterações na atividade elétrica das membranas, para que haja um cadenciamento e direcionamento de neurotransmissores por meio dela. Essas formas de regeneração têm como ponto central a capacidade de crescimento do axônio. Há situações em que isso não é possível. Ou seja, onde não é possível o desenvolvimento do axônio também não é possível haver regeneração. Quando isso, de fato, ocorre, temos uma perda de atividade de tecido neuronal. 7 O cérebro tem uma capacidade muito grande de regeneração. Depois da compreensão da neurogênese, podemos trabalhar com hipótese de que o cérebro não desiste de trabalhar em prol de si mesmo. Uma dessas ações é a plasticidade cerebral. Nessa condição, temos um neurônio em processo de ampliação de contatos, para, simplesmente, realizar a transmissão da informação que é necessária. Quando falamos de uma lesão cerebral, estamos falando de danos. Podemos mensurar esses danos em massa, área, amplitude e consequência. A pior delas é a consequência, pois a questão é aquilo que foi perdido ou deixará de ser feito. Por isso superar uma lesão e criar uma nova circuitaria cerebral para produzir o mesmo movimento, o mesmo conhecimento, ou outro comportamento, é um exemplo da plasticidade cerebral. O cérebro não é limitado. Ele é dinâmico e está sempre em processo de ativação e mudança. Sua capacidade está além do que é perceptível ou mensurável. O cérebro trabalha sempre em manutenção e equilíbrio. Por isso que a atividade de homeostase no organismo é uma atividade de comando e controle realizada pelo cérebro. Para manter o organismo sempre em uma condição de ser capaz de realizar e executar. Para Skinner (2003) e os analistas do comportamento, o comportamento humano existe porque o cérebro é sua base fisiológica. Quando um organismo emite uma resposta, várias sinapses são ativadas para que essa resposta ocorra, sem mencionar a percepção das características do ambiente, que envolve diversas outras sinapses. TEMA 3 – A PLASTICIDADE NO DESENVOLVIMENTO Agora, podemos entender que a plasticidade cerebral não ocorre apenas em situações de lesões cerebrais. Caracterizar a plasticidade cerebral associando-a apenas a restaurações de lesões é simplificar a plasticidade cerebral. Dessa forma, vamos verificar o processo de desenvolvimento humano. Segundo Vilanova (1998), a plasticidade cerebral é a capacidade do estabelecimento de novas conexões neurais, ou sinapses. Isso significa que, no transcurso do desenvolvimento humano, novas habilidades são desenvolvidas. A condição sensorial é amplificada. O sujeito passa a ter uma sensibilidade e codificação sensorial mais aperfeiçoadas. 8 Isso ocorre por um processo de maturação e desenvolvimento. O neurônio passa por um processo sináptico que leva informações, diretamente, ao cérebro. Esse processo é a retroprojeção. Na verdade, é o caminho que um estímulo percorre até a sua interpretação e resposta (Atinkson et al., 2002). Quantos mais estímulos e informações o sujeito receba, mais conexões neurais, ou sinapses, serão produzidas e, dessa forma, maior plasticidade cerebral. São muitas informações. Essa quantidade muito acrescida de conexões resulta em crescimento do cérebro. Essa ação também produz uma condição de elasticidade e flexibilidade ao cérebro. Como estamos falando de desenvolvimento, a plasticidade cerebral é responsável pela caracterização de comportamento diferentes entre os sexos. Isso é produzido pela vivência e pela experiência que modificam a estrutura e funcionamento cerebral. Vilanova (1998), em suas pesquisas, verificou alterações permanentes na química e no funcionamento dos genes no interior celular. Essas alterações produziram mudanças significativas no comportamento. A plasticidade no item do desenvolvimento humano conta com a modulação cerebral pela experiência. Essa modulação é um fenômeno mais amplo da plasticidade cerebral. Nele, são verificados processos básicos e complexos. Segundo Vilanova, o processo modulação básico é o de adaptação e o processo complexo de modulação é o da aprendizagem. É importante lembrarmos que, no desenvolvimento humano, há modificações no funcionamento biológico do sujeito, em razão da necessidade de ser modulado pelos estímulos externos a que está submetido. Esses estímulos também podem ser circunstanciais, o que faz com que o organismo venha a produzir maior ou menor condição de reação. Em uma análise celular, seria como se as células ganhassem uma capacidade de interação muito grande. Segundo Willrich et al. (2009), o indivíduo sofre uma ação do ambiente que altera as suas características físicas e estruturais. Isso significa que, quanto mais o indivíduo se relaciona com o meio ambiente, mais modificações ele terána estrutura. Isso é considerado plasticidade do desenvolvimento. O pensamento de Skinner (2003, p. 58) sobre o comportamento humano e suas modificações pode ser caracterizado na seguinte compreensão: Uma ciência do sistema nervoso baseada na observação direta, e não nas inferências, finalmente descreverá os estados e os evento neurais que precedem formas de comportamento. Conheceremos as exatas condições neurológicas que precedem, por exemplo, a resposta ‘Não, obrigado'. Verificar-se-á que estes eventos são precedidos por outros eventos neurológicos, e estes, por sua vez, de outros. Esta sequência 9 levar-nos-á de volta a eventos fora do sistema nervoso e, finalmente, para fora do organismo. TEMA 4 – A PLASTICIDADE NA APRENDIZAGEM Quando verificamos a aprendizagem, temos uma visão apenas da condição do resultado externo. Ou seja, a aprendizagem é entendida como a apresentação de conteúdo interno. Significa que o resultado é a apresentação da aprendizagem. A observação que temos do conceito de aprendizagem é uma ideia muito vaga de como ela ocorre. Analisando a aprendizagem pela neurociência, verificamos que aprender é a capacidade do cérebro em realizar sinapses que permitem uma estrutura neuronal suficiente para realizar os devidos arquivamentos das informações. Esse conceito abrange as funções psíquicas. Na verdade, o cérebro trabalha em harmonia, ou seja, com conexões perfeitas e coordenadas. Sendo assim, cada sinapse feita pelos neurônios cria uma rede de transmissão que pode começar a produzir conexões diferentes ou ampliar a sua rede de conexões. Isso é plasticidade. A plasticidade também é compreendida pela visão de que é a da aprendizagem, em que as células neuronais trabalham em favor do sujeito, com a finalidade de manter a informação e o poder em tempo oportuno. As células neuronais permitem que novos caminhos sejam feitos para que novas informações sejam arquivadas ou trabalhadas. Conseguimos identificar a plasticidade observando um sujeito quando ele responde de diferentes formas em situações distintas. Outra situação é quando esse sujeito age de forma diferente dentro de uma mesma situação. Isso são conexões que passam a ser estabelecidas por necessidade de emancipação. Vamos exemplificar para compreender melhor a plasticidade. Na escola, aprendemos a resolver um problema de matemática específico. Em seguida, aprendemos a solucionar problemas semelhantes. Os problemas começam a ganhar soluções para o mesmo problema com variações de solução. À medida que essas alternâncias de caminhos de solução vão ocorrendo, acredita-se ocorra a ação de estímulos antecedentes diferentes que evocam respostas específicas. Considerando esse exemplo, podemos ter evidências de que a plasticidade no ser humano ocorre de forma muito eficiente. O organismo tem capacidade de sensibilidade alta que permite captar as alterações no ambiente. 10 TEMA 5 – A PLASTICIDADE NOS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM Já nos referimos às terminologias utilizadas para compreender as não ocorrências da aprendizagem. Dessa forma, conseguimos compreender que transtornos de aprendizagem são quadros patológicos que não permitem ao sujeito desenvolver a aprendizagem conforme a necessidade e a condição esperada. Transtornos de aprendizagem são alterações no organismo do sujeito que passam a ser impeditivos para que aprendizagem se desenvolva. Isso significa que há uma alteração cerebral. Quando nos referimos à alteração cerebral, estamos dizendo que as conexões neuronais não estão sendo executadas como deveriam. Sendo assim, podemos dizer que não ocorre a plasticidade cerebral de forma completa, o que impede que o cérebro mantenha conexões que fazem o controle completo do organismo e o mantêm de forma a responder os seus estímulos. A compreensão sobre o que é a plasticidade pode esclarecer a razão pela qual alguns comportamentos não se manifestem. Um exemplo simples é a linguagem. A ausência de conexão na área de broca pode produzir um transtorno de linguagem. Compreendemos que alguns transtornos são consequência de lesões cerebrais. No passado, quando não se tinha o conhecer da plasticidade, tinha-se como procedimento esperar por uma recuperação espontânea das funções danificadas. Todavia, hoje, o procedimento é produzir estimulação das áreas circunvizinhas da área afetada que estão relacionadas e podem assumir, em parte ou totalmente, as funções daquela área lesada. Um exemplo clássico desse evento é a busca em identificar, de forma precoce, paralisia cerebral. Um diagnóstico precoce possibilita que mecanismos neuronais possam ser estimulados. Isso cria oportunidade de ações terapêuticas estimularem a plasticidade cerebral, dando condição de conexões em áreas circunvizinhas (Vasconcelos, 2004). Todavia sabemos que alguns transtornos são oriundos de problemas genéticos. A Síndrome de Down, que é uma síndrome genética com alteração no cromossomo 21, também chamada de trissomia do 21, atinge cerca de 300 mil pessoas no Brasil, segundo o Censo 2010 do IBGE. Uma característica 11 observável nessa síndrome é um desenvolvimento cognitivo alterado. Verifica-se que há alterações produzidas por lesões genéticas. Sabendo disso, é possível, que por meio de modelos de plasticidade, produzir estimulações que permitam novas conexões e reduzam os prejuízos produzidos pela síndrome (Silva; Kleinhans, 2006). As conexões neuronais na síndrome de Down são consideradas ineficientes, ou seja, na área cerebral, há um dano que proporciona a condição de não desenvolvimento o indivíduo. Silvia e Kleinhans (2006) afirmam que a reabilitação neuronal pode promover a reconexão dos circuitos que estão lesionados. Dentre as muitas teorias de reabilitação, precisamos considerar que, quando falamos plasticidade cerebral, estamos nos referindo a uma condição de conexão. Isso abre a possibilidade de que, quando há uma lesão ou mal funcionamento de área cerebral, o processo de plasticidade natural, que depende só do organismo, pode ser eficiente quando essa área é pequena. Quando falamos de áreas menores, a condição autônoma do organismo se recompor passa a ser muito pequena. Entretanto um processo de estimulação pode produzir êxito em aumento dessa possibilidade. Considerando o fator do desenvolvimento humano, quanto mais jovem o sujeito maior a condição de plasticidade cerebral. Isso significa que uma criança tem uma resposta maior do que um adulto. Essa é a razão pela qual deve-se buscar a estimulação em crianças com síndrome de Down, para proporcionar maior capacidade de plasticidade. Há também outros transtornos da aprendizagem que, necessariamente, não são genéticos. Pelo menos não apresentam uma condição definida claramente como genética. Esses são descritos, no DSM-5, como transtornos específicos da aprendizagem, entre eles, o mais debatido é a dislexia. A Associação Brasileira de Dislexia (ABD) trabalha com a estatística de que de 10 a 15% da população mundial é dislexa. Segundo a ABD, 40% desse número é diagnosticado com grau leve. Isso significa que pode ser uma condição diagnostica difícil. Muitas pessoas podem ter dislexia e acreditar que é um simples travamento linguístico com erros de português. Engano quem pensa assim. A dislexia é entendida como um distúrbio na aprendizagem na área da leitura, da escrita e da soletração, diagnosticada no início do processo de alfabetização. Isso nos leva à questão do desenvolvimento. Segundo Salles et al 12 (2014), é importante verificar alterações cognitivas e os mecanismos cognitivos das crianças: uma análise mais refinada de suas dificuldades e competências (fatores intrínsecos às dislexias). Isso nos leva a uma condição de que a dislexia é um problema neuronal. É condição de circuitos neuronais que não estão funcionando. Compreender como essescircuitos funcionam abre a possibilidade de um remanejo neuronal, feito pelo processo da plasticidade cerebral. Na verdade, a condição de plasticidade do cérebro nos permite, pelo processo de estimulação, ampliar as conexões neuronais, que aumentará a área de atuação cerebral e reduzirá o prejuízo do sujeito. O DSM-5 (American Psychiatry Association, 2014) apresenta, em seu capítulo sobre os Transtornos do Neurodesenvolvimento, o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Segundo a edição n. 170, da revista Espaço Aberto da USP, há, no Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas diagnosticas com TEA. Isso mostra a importância de entendermos e nos qualificarmos para trabalhar com pessoas com TEA. O diagnóstico do TEA é feito de forma clínica por meio de alguns requisitos diagnósticos. Quando procuramos entender o efeito neuronal no TEA, entramos em um dos quesitos do diagnóstico, que é a condição social em que o sujeito tem dificuldade de conversar. Essa condição tende a afetar o desenvolvimento do sistema interativo pré- linguístico inato. O sujeito não consegue articular a fala não por problema no aparelho vocal, mas na transmissão da informação. Isso é um impeditivo para manter um relacionamento com as pessoas e, como consequência, afeta o desenvolvimento da linguagem. Semelhante aos outros transtornos, a estimulação pode produzir um efeito de plasticidade. Consideremos que os circuitos responsáveis pela construção não estão trabalhando. Dessa forma, é necessário fazê-los funcionar. A estimulação permitirá o acionamento desses circuitos ou a sua ampliação por outros ramos. FINALIZANDO Retomando a nossa questão inicial, voltamos a considerar a função do cérebro no nosso complexo existir. São muitos circuitos trabalhando juntos e todos com uma função específica. E, ao mesmo tempo, todos trabalhando em conjunto. 13 Essa complexidade nos leva à busca de resultados perfeitos. Trabalhamos, sempre, com a ideia de rendimento. Por isso buscamos aperfeiçoar nossos próprios processos, o que é importante para o nosso desenvolvimento, mas, nem sempre, o resultado esperado é alcançado. Em nossa comparação inicial, verificamos que somos capazes de resolver problemas simples, complexos, fáceis ou difíceis. O nosso cérebro consegue criar caminhos que ainda não foram percorridos. Basta apenas que seja estimulado para isso. Essa ação é a plasticidade cerebral. Nosso cérebro pode fazer movimentos para nos levar a um resultado esperado. Isso acontece de várias maneiras. Uma delas é tentando superar uma lesão e a outra é desenvolvendo caminhos que não foram percorridos. Como essa construção é um realinhamento de processos, estamos falando de aprendizagem. Isso nos leva, então, a concluir que a aprendizagem é uma ação de plasticidade cerebral. Diante disso, podemos nos engajar em conhecer, de forma mais efetiva, os mecanismos que são agentes da plasticidade cerebral. Saiba mais Texto de abordagem teórica Conhecendo a plasticidade cerebral NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógicos. Curitiba: InterSaberes, 2012. Disponível na biblioteca virtual. Esse texto apresenta uma descrição sobre o olhar da psicopedagogia sobre a plasticidade cerebral. A leitura desse texto esclarecerá dúvidas da exposição das teorias da aprendizagem. Texto: Capítulo 4 – Plasticidade Cerebral e o processo de Aprendizagem: novos desafios. p. 90-114. Texto de abordagem prática Criatividade em indivíduos com transtornos e dificuldades de aprendizagem SILVA, M. F. M. C. KLEINHANS, A. C. S. Processos cognitivos e plasticidade cerebral na síndrome de Down. Revista Brasileira Educação Especial, Marília, jan-abr. 2006, v. 12, n. 1, p. 123-138. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbee/v12n1/31988.pdf> 14 O texto apresenta um estudo de revisão de literatura sobre a plasticidade cerebral na síndrome de Down. Isso nos abre a possibilidade de observarmos a plasticidade sendo trabalhada em ocorrências de transtornos de aprendizagem. Saiba mais Entendendo a plasticidade cerebral Esse vídeo é uma aula em desenho que mostra como ocorre a plasticidade cerebral. Título: Plasticidade cerebral Tipo: Vídeo – desenho Disponível: <https://youtu.be/DcjqJ6GJWGg>. REFERÊNCIAS 15 AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtorno mentais: DSM- 5. Trad. Maria Inês Corrêa Nascimento et al. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. ATKINSON, R. L. et al. Processos sensoriais. In:_____. Introdução a Psicologia de Hilgard. 13. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002, p. 132-172. SILVA, M. de F. M. C.; KLEINHANS, A. C. dos S. Processos cognitivos e plasticidade cerebral na Síndrome de Down. Revista Brasileira Educação Especial, Marília, v. 12, n. 1, p. 123-138, jan.-abr. 2006. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-65382006000 100009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 02 jul. 2018. SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. Tradução de João Carlos Todorov e Rodolfo Azzi. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. VASCONCELOS, M. M. Retardo mental. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, RJ. v. 80, n. 2, Supl, p. 71-82, 2004. VILANOVA, L. C. P. Aspectos Neurológicos do Desenvolvimento do Comportamento da Criança. Neurociências, v. 6, n. 3, p. 106-110, set-dez. 1998. Disponível em:<http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2009/RN%2020 09%201/226%20.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2018. WILLRICH, A.; AZEVEDO, C. C. F. de; FERNANDES, J. O. Desenvolvimento motor na infância: influência dos fatores de risco e programas de intervenção. Neurociência, v. 17. n. 1. p. 51-56. 2009. Disponível em:<http://www.revistaneuro ciencias.com.br/edicoes/2009/RN%202009%201/226%20.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2018.
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