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PERDAS AUDITIVAS Presbiacusia A presbiacusia, ou deficiência auditiva do idoso, pode ser caracterizada como sendo a perda da capacidade de perceber ou definir sons como parte do processo de envelhecimento fisiológico. É a causa mais comum de deficiência auditiva em adultos, afetando aproximadamente 30% dos indivíduos entre 60 a 69 anos de idade. Definição e diagnóstico. A presbiacusia pode ser definida como uma perda auditiva do tipo neurossensorial, bilateral, simétrica, entre as orelhas e de progressão lenta, conforme o avançar da idade. O diagnóstico deve ser suspeitado quando pacientes por volta dos 60 anos de idade apresentam queixa de dificuldade auditiva. O relato de “ouço, mas não entendo” é bastante recorrente, além de dificuldades em localizar a fonte sonora. Em muitos casos, inicialmente, a perda auditiva se restringe às frequências agudas e, com a progressão do problema, eventualmente, as frequências médias e graves também são acometidas. Ao atingir as frequências 2 e 4 kHz, acentua-se a dificuldade para a compreensão da fala, uma vez que a maior parte dos sons das letras correspondem a essas frequências, principalmente consoantes. A confirmação diagnóstica se dará após a avaliação clínica e audiológica. Na otoscopia, a membrana timpânica pode estar opaca e sem brilho, demonstrando um aspecto de tímpano senil, mas que não tem nenhuma correlação clínica e não representa associação com a perda auditiva. A avaliação audiológica básica, constituída de imitanciometria, audiometria tonal e vocal, confirma o diagnóstico. No teste da imitanciometria, a timpanometria esperada é a do tipo A de Jerger, e os reflexos estapedianos podem estar presentes ou não, dependendo do grau de comprometimento auditivo. A audiometria tonal costuma ter aspecto descendente em direção as frequências agudas. Existem seis tipos de presbiacusia: m Sensorial – há perda de células sensoriais localizadas na extremidade basal da cóclea, provocando rebaixamento auditivo nas frequências correspondentes a essa região, ou seja, sons agudos. m Neural – Caracterizada pela perda de neurônios ao longo de toda a cóclea. Essa perda de neurônios ocorre progressivamente ao longo dos anos e também é verificada em vias auditivas centrais. Clinicamente, há baixo índice de reconhecimento de fala. m Estrial – há atrofia da estria vascular da cóclea, sendo essa atrofia distribuída de maneira irregular, principalmente nos giros médios e apical do órgão. A configuração do audiograma é de forma plana ou com queda suave em frequências agudas e com reconhecimento de fala preservado. m Condutivo-coclear – diagnostico de exclusão nos casos em que não foram percebidas alterações estruturais cocleares. m Mista – combinação de dois ou mais tipos histológicos. m Inderterminada – traçados que não puderam ser correlacionados, de forma consistente, com nenhum achado histológico. Outros fatores também podem contribuir para o prejuízo auditivo. Suscetibilidade genética, doenças metabólicas, doenças otológicas, exposição a ruídos e agentes ototóxicos ao longo da vida contribuem, de maneira conjunta, para o declínio auditivo. Muitas vezes há negação da deficiência pelo individuo acometido. Pela dificuldade de comunicação que se estabelece de maneira insidiosa e progressiva, muitas vezes ocorre prejuízo na interação social e nos relacionamentos familiares. Quadros de isolamento social e de depressão podem ter como origem essa dificuldade em se manter uma comunicação adequada. tratamento. Não há forma de tratamento que estabeleça a audição. m Reabilitação auditiva com uso de aparelhos de amplificação sonora individual AASI ou aparelhos auditivos. Perda auditiva induzida por ruído. A PAIR é uma diminuição progressiva da acuidade auditiva em função da exposição continuada a elevados níveis de pressão sonora. Enquanto no trauma acústico a perda auditiva é causada por um som abrupto de grande intensidade, na PAIR, a exposição é prolongada e de menor intensidade. Ela está fortemente relacionada à atividade ocupacional, mas também pode ocorrer em atividades recreativas (discotecas, shows de música). A PAIR representa a doença profissional irreversível mais prevalente em todo o mundo. Fisiopatologia. Suspeita-se que a PAIR seja resultado do comprometimento metabólico do epitélio sensorial da cóclea, especialmente das células ciliadas externas e estrutura neural, associado ao início na região da cóclea responsável pelas frequências de 3 a 6 kHz. A lesão auditiva decorrente de ruído pode se manifestar de forma temporária (TTS) ou permanente (PTS). A TTS ocorre após exposições sonoras intensas de curta duração, porém nesses casos, a perda auditiva costuma ser reversível após poucos dias. Episódios recorrentes de TTS podem resultar em PTS a longo prazo, ou seja, PAIR.. Na PTS, as alterações são irreversíveis e incluem perda de células ciliadas externas, degeneração de fibras nervosas cocleares e formação de tecido cicatricial (zona morta) no órgão de Corti. Pode ocorrer degeneração neural irreversível induzida pelo ruído, mesmo na ausência de alterações nos limiares auditivos e com preservação de células ciliadas externas. Existe um risco significativo de desenvolver PAIR após uma história de exposição crônica de um ruído acima de 85 dB por pelo menos 8 horas por dia. Quanto maior a intensidade do ruído, menor é o período suficiente para desenvolver PAIR. Já no caso do trauma acústico, o ruído pode gerar dano físico imediato à orelha interna, proporcional à intensidade sonora. Impulsos sonoros de alta intensidade podem fisicamente comprometer a membrana timpânica, cadeia ossicular, membranas da orelha interna e o órgão de Corti. A ruptura da membrana timpânica pode absorver parte da energia que seria transferida completamente à orelha interna. Quadro clínico. Perda auditiva acompanhada de zumbido. Esses sintomas podem variar em função do período de exposição, nível de pressão sonora e suscetibilidade individual. A perda auditiva é do tipo neurossensorial, de evolução lenta e caracter progressivo. A hipoacusia costuma ser bilateral e simétrica. O zumbido tem intensidade variável, frequentemente é bilateral e pode estar presente em pelo menos metade dos pacientes com PAIR. Em uma fase de exposição inicial ao ruído, antes mesmo da hipoacusia, podem ocorrer sintomas temporários, como zumbido, cefaleia e tontura. Posteriormente, após os meses ou anos de exposição, há uma intensificação do zumbido e uma leve redução da discriminação auditiva, especialmente no ruído. Pode também ocorrer queixas de algiacusia e plenitude aural associados. A progressão da perda auditiva é interrompida à medida que o indivíduo se afasta da exposição ao ruído. Além do comprometimento do sistema auditivo, podem ocorrer repercussões extra-auditivas, como: comportamentais (isolamento social, irritabilidade, dificuldade de concentração), neurológicas (sono, tremores, cefaleia e náusea), digestivas (dor abdominal e gastrites) e alterações vestibulares. Investigação diagnóstica. Questionar o período de evolução dos sintomas, histórica de intercorrências neonatais, infecções, uso de drogas ototóxicas, otites, trauma, doenças metabólicas, história familiar de perda auditiva e hábitos de vida. Além disso, deve questionar sobre o uso de arma de fogo, instrumentos musicais e exposição ao ruído em atividades recreativas. Na anamnese ocupacional, as atividades profissionais realizadas, tipos de máquinas, exposição a produtos químicos, histórico de acidentes e sobre a utilização de proteção auditiva individual. O exame físico otorrinolaringológico completo deverá ser realizado na investigação da PAIR com especial atenção à otoscopia e/ou otomicroscopia e à acumetria com pesquisa de Rinne e Weber. O exame complementar principal é a audiometriatonal aéreo-óssea. Além da audiometria tonal, é importante investigar o limiar do reconhecimento de fala (LRF/SRT), índice de reconhecimento de fala (IRF) e a pesquisa de recrutamento auditivo. Na suspeita de simulação, PEATEs e OEAs. A audiometria ocupacional pode ser utilizada no acompanhamento e controle da perda auditiva, porém não fornece diagnóstico da PAIR, pois a falta da via óssea não permite identificação de lesão neurossensorial. É importante o repouso auditivo de pelo menos 14 horas antes da realização do exame para afastar a possibilidade de se tratar de TTS. O primeiro sinal audiométrico da PAIR é o aparecimento da “gota acústica”, com comprometimento dos limiares nas frequências de 3.000, 4.000 ou 6.000 Hz, sendo restaurado em 8.000 Hz. O PAIR, isoladamente, dificilmente produz uma perda auditiva superior a 75 dB nas altas frequências e 40 dB nas baixas frequências. Entretanto, quando combinada a outros tipos de perda auditiva (presbiacusia), pode causar um agravamento desses limiares. A velocidade de perda auditiva em função da PAIR é maior nos primeiros 10 a 15 anos de exposição, reduzindo essa velocidade à medida que há um agravamento da perda auditiva. Diagnóstico diferencial. Doenças otológicas infecciosas (sarampo, meningite, sífilis, toxoplasmose, rubéola), ototoxicidade (medicamentos ou exposição a produtos químicos), traumas sonoros (ruídos explosivos, arma de fogo), barotrauma (áereo ou aquático), trauma craniano, metabólicas (diabetes, hipotireoidismo, dislipidemia), autoimunidade e presbiacusia. tratamento. Já que a PAIR é uma doença com característica irreversível, o único caminho é a reabilitação sonora individual, quando indicado. Não existe tratamento clínico ou cirúrgico para PAIR, por isso, a chave é a prevenção.
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