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1 Lorena Leahy Edema é o intumescimento de tecidos moles decorrente do aumento de líquido intersticial. O líquido predominante é água, mas pode haver acúmulo de líquido rico em células e proteínas, se houver infecção ou obstrução linfática. O edema pode ser generalizado ou local (p. ex., limitado a um único membro ou a parte deste). Às vezes, surge abruptamente, provocando nos pacientes a queixa de que o membro inchou repentinamente. Com maior frequência, o edema desenvolve-se insidiosamente, iniciando-se por ganho de peso, olhos inchados ao despertar pela manhã e sapatos apertados no final do dia. Fisiopatologia O edema resulta do aumento do movimento de líquido do meio intravascular ao intersticial ou da diminuição do movimento de água do interstício aos capilares ou vasos linfáticos. O mecanismo compreende um ou mais dos seguintes fatores: Aumento da pressão hidrostática capilar Diminuição da pressão oncótica plasmática Aumento da permeabilidade capilar Obstrução do sistema linfático À medida que o líquido se desloca para o espaço intersticial, ocorre depleção do volume intravascular. Depleção do volume intravascular ativa o sistema renina-angiotensina- aldosterona- vasopressina (ADH), resultando em retenção renal de sódio. Aumentando a osmolaridade, a retenção renal de sódio deflagra a retenção de água pelos rins e ajuda a manter o volume plasmático, bem como o aumento da pressão hidrostática capilar. O aumento da retenção renal de sódio também pode ser a causa primária de sobrecarga hídrica e, portanto, de edema. A ingestão excessiva de sódio exógeno também pode contribuir. Com menor frequência, o edema resulta de diminuição do movimento de líquido do meio intersticial para os capilares, pela ausência de pressão oncótica plasmática adequada, como na síndrome nefrótica, na enteropatia com perda de proteínas, insuficiência hepática ou inanição. Ocorre aumento da permeabilidade capilar em infecções ou por lesão tóxica ou inflamatória das paredes capilares. No angioedema, mediadores, incluindo mediadores derivados de mastócitos (p. ex., histamina, leucotrienos, prostaglandinas) e bradicinina e mediadores derivados do complemento, causam edema focal. O sistema linfático é responsável pela remoção de proteína e leucócitos (junto com um pouco de água) do interstício. A obstrução linfática permite que essas substâncias se acumulem no interstício. Conceitos: Pressão hidrostática (força exercida pelo sangue contra a parede do vaso) que empurra o liquido para fora do vaso. Pressão oncótica ou colodoidosmótica (força exercida pelas proteínas plasmáticas, principalmente a albumina, que não atravessam a parede vascular) puxa o liquido pra o vaso. Logo, a pressão hidrostática capilar favorece o movimento do fluido transcapilar para o interstício, a pressão oncótica através do capilar favorece a retenção de fluido dentro do vaso. Etiologia Fisiopatologia do edema https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/metabolismo-de-l%C3%ADquidos/sobrecarga-de-volume https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/imunologia-dist%C3%BArbios-al%C3%A9rgicos/dist%C3%BArbios-al%C3%A9rgicos,-autoimunes-e-outras-rea%C3%A7%C3%B5es-de-hipersensibilidade/angioedema 2 Lorena Leahy Aumento da pressão hidrostática de retenção de sódio e água Insuficiência cardíaca: pode se manifestar com edema devido ao aumento da pressão venosa devido à retenção de sódio e água. Isso produz um aumento paralelo na pressão hidráulica capilar com aumento do movimento transcapilar de fluido para o espaço intersticial. O local de acúmulo de edema é variável e depende da natureza da doença cardíaca.Os sinais clínicos de insuficiência cardíaca em crianças mais velhas incluem taquicardia, taquipnéia, estertores ou sibilos, ritmo de galope, hepatomegalia e edema. Os bebês com insuficiência cardíaca apresentam mais frequentemente taquipneia e diaforese durante a alimentação, alimentação inadequada, ganho de peso reduzido, letargia e irritabilidade. Embora o edema facial possa ser observado com a insuficiência do VD , o edema periférico é geralmente menos observado em crianças com insuficiência cardíaca do que em adultos. O edema periférico é incomum em bebês com insuficiência cardíaca Glomerulonefrite: O edema resultante de glomerulonefrite aguda (AGN) pode ser generalizado ou localizado. O edema é principalmente devido à retenção renal de sódio e água. Além do edema, os achados clínicos incluem hipertensão, hematúria e proteinúria, urina cor de cola e / ou azotemia. Nem todos esses recursos estão presentes em cada paciente. O achado de cilindros eritrocitários, mesmo que apenas um seja visto, é virtualmente diagnóstico de glomerulonefrite. A causa mais comum de AGN é a glomerulonefrite pós- infecciosa, geralmente causada por uma infecção estreptocócica recente. Outras causas de AGN primário incluem nefropatia por imunoglobulina A (IgA), nefrite hereditária (também conhecida como síndrome de Alport) e glomerulonefrite membranoproliferativa. As doenças sistêmicas associadas à glomerulonefrite incluem lúpus eritematoso sistêmico (LES), vasculite por imunoglobulina A (vasculite IgA; púrpura de HenochSchönlein [HSP]), autoanticorpo citoplasmático antineutrófilo (ANCA) associado a doenças como poliangiite e poliangiite doença da membrana basal glomerular (anti GBM) Insuficiência renal - Crianças com insuficiência renal aguda ou crônica podem apresentar edema devido à retenção renal de sódio e água. Medicamentos: Os agentes anti - hipertensivos que são potentes vasodilatadores causam retenção renal de sódio e água, levando ao aumento da pressão hidrostática. Esses medicamentos incluem o minoxidil e os bloqueadores dos canais de cálcio diidropiridina (CCBs; por exemplo, nifedipina , amlodipina , felodipina ou nicardipina ) Aumento da pressão hidrostática capilar devido à obstrução Trombose venosa profunda , outra doença venosa ou obstrução venosa (p. ex., por tumor): o edema que se desenvolve ocorre distalmente ao local da obstrução. Como exemplo, a trombose sintomática na veia cava inferior (VCI) geralmente se apresenta como inchaço dos membros inferiores e parte inferior do corpo. Em comparação, a trombose da veia cava superior (VCS) geralmente se apresenta como inchaço do braço, pescoço e cabeça. A gravidade do edema depende do tamanho do trombo e do grau das vias venosas colaterais alternativas. Freqüentemente, a tromboflebite se apresenta com sensibilidade, edema e, ocasionalmente, um cordão palpável. Cirrose:definida como lesão irreversível do parênquima hepático com fibrose do fígado. Crianças com cirrose podem desenvolver hipertensão portal com aumento da pressão venosa abaixo do fígado doente, resultando em ascite e https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca-ic https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/doen%C3%A7as-venosas-perif%C3%A9ricas/trombose-venosa-profunda-tvp 3 Lorena Leahy edema dos membros inferiores. Embora a cirrose seja relativamente incomum em crianças, o distúrbio pode ser causado por distúrbios genéticos (deficiência de alfa-1 antitripsina, fibrose cística, doença de Wilson), etiologias infecciosas (hepatite viral) e problemas estruturais da árvore biliar (atresia biliar, síndrome de Alagille ). Diminuição da pressão oncótica capilar - A hipoalbuminemia resulta em uma diminuição da pressão oncótica capilar que favorece o movimento do fluido do compartimento vascular para o intersticial. A hipoalbuminemia é observada na síndrome nefrótica, insuficiência hepática, desnutriçãoprotéica e enteropatia perdedora de proteínas, e contribui para a formação de edema em todas essas doenças. Desnutrição protéica - A desnutrição protéica grave ou kwashiorkor pode causar síntese insuficiente de albumina, resultando em hipoalbuminemia. Isso raramente ocorre em países desenvolvidos. Deve ser considerada em uma criança com edema generalizado, erupção cutânea no couro cabeludo e extremidades e hipopigmentação do cabelo (por exemplo, cabelo ruivo em uma criança que deveria ter cabelo escuro) Enteropatia perdedora de proteína - Crianças com enteropatia perdedora de proteína têm perda severa de proteína através do intestino, resultando em baixos níveis de proteína plasmática (hipoalbuminemia). As causas incluem gastrite hipertrófica (doença de Ménétrier), alergia à proteína do leite, doença celíaca, doença inflamatória intestinal, giardíase, linfangiectasia intestinal e disfunção cardíaca direita (procedimento pós-Fontan). Permeabilidade capilar aumentada - Mudanças na permeabilidade da parede capilar são mediadas por fatores intrínsecos, incluindo citocinas (como fator de necrose tumoral e interleucinas) e outros vasodilatadores incluindo histamina, bradicinina, prostaglandinas e fatores de complemento (por exemplo, C2a); e fatores extrínsecos (por exemplo, veneno de jararaca). O edema generalizado de aumento da permeabilidade capilar ocorre mais frequentemente em pacientes com queimaduras ou sepse. Uma causa rara é a síndrome idiopática de vazamento capilar sistêmico. Além do edema generalizado, uma variedade de configurações clínicas (por exemplo, reações alérgicas e infecções) resultam na liberação local desses fatores inflamatórios levando a um aumento localizado da permeabilidade capilar e movimento de fluido do espaço vascular para o interstício. Essa condição é conhecida como angioedema. Angioedema: está associado ao edema das camadas profundas dos tecidos cutâneos ou submucosos devido ao aumento da permeabilidade capilar. As regiões afetadas geralmente são face, lábios, língua ou laringe. O angioedema pode ser distinguido clinicamente do edema generalizado pelas seguintes características: Início de apresentação mais rápido (minutos a horas), Distribuição assimétrica, Distribuição fora das áreas dependentes, Envolvimento dos lábios, laringe e intestino, Associação de algumas formas de angioedema com anafilaxia. O angioedema, quando envolve as vias aéreas, é uma emergência médica e requer intervenção emergencial. Síndrome nefrótica - a síndrome nefrótica é uma das causas mais comuns de edema generalizado na infância. Os achados clássicos desse distúrbio incluem proteinúria acentuada, hipoalbuminemia e hiperlipidemia, juntamente com edema generalizado. Disfunção / obstrução linfática - Disfunção e obstrução dos vasos linfáticos resultam em edema localizado à medida que a carga linfática excede a capacidade de transporte do sistema linfático, resultando no acúmulo de líquido intersticial rico em 4 Lorena Leahy proteínas. Uma criança com linfedema pode ter um defeito primário dos vasos linfáticos ou um defeito secundário (adquirido). Avaliação História A história da doença atual deve incluir a localização e a duração do edema, além de existência e grau de dor ou desconforto. Devem-se questionar os pacientes do sexo feminino se estão grávidas e se o edema parece estar relacionado com os períodos menstruais. Para os pacientes com edema crônico, é aconselhável a manutenção de registro de perda ou ganho de peso. A revisão os sistemas deve incluir sintomas das doenças causadoras, tais como dispneia aos esforços, ortopneia e dispneia paroxística noturna (insuficiência cardíaca); álcool ou exposição a toxinas hepáticas, icterícia e contusão fácil (hepatopatia); mal-estar e anorexia (câncer ou hepatopatia ou nefropatia); imobilização, lesão de membro ou cirurgia recente. - A história clínica deve abranger a investigação sobre qualquer enfermidade estabelecida que desencadeie edema, incluindo as doenças cardíacas, hepáticas e renais, além de câncer (compreendendo qualquer cirurgia ou radioterapia relacionada). A história também deve abranger as condições predisponentes para essas causas, incluindo infecção estreptocócica, infecção viral recente (p. ex., hepatite), abuso crônico de álcool e estados de hipercoagulabilidade. A história de fármacos deve incluir questões específicas sobre o uso de fármacos (minoxidil, AINES, estrógenos, fludrocortisona, diltiazem, bloqueadores de canis de cálcio) que provocam edema compressivo, indolor, simétrico e geralmente leve. Pergunta-se aos pacientes sobre a quantidade de sódio utilizada no preparo dos alimentos e à mesa. Exame físico Identifica-se a área edemaciada, examinando-a para definir extensão, temperatura, eritema e sensibilidade, além da existência ou não de simetria. Além disso, observam-se a existência e o grau de depressão. No exame físico geral, inspeciona-se a pele à procura de icterícia, equimose e angiomas aracnoides (sugestivos de hepatopatia). Examinam-se os pulmões para verificar a existência de macicez à percussão, atenuação ou exacerbação dos ruídos respiratórios, estertores, roncos e um atrito pleural. Observam-se a altura da veia jugular, a configuração das ondas e a existência de refluxo. Palpa-se o precórdio à procura de frêmitos, pulsações, impulso paraesternal e impulsão sistólica anormal e assíncrona. Ausculta para componente pulmonar alto da 2ª (P2), 3ª (B3) ou 4ª (B4) bulha cardíacas, sopros, e atrito ou batimento pericárdico; todos sugerem origem cardíaca. O abdome é inspecionado, percutido e palpado para identificar ascite, hepatomegalia e esplenomegalia, permitindo o diagnóstico de hepatopatia ou insuficiência cardíaca. Os rins são palpados e a bexiga é percutida. Uma massa abdominal anormal, se presente, deve ser palpada. Sinais de alerta Certos achados levantam a suspeita de etiologia mais séria de edema: Início súbito Dor significativa Falta de ar Febre História de cardiopatia ou exame cardíaco anormal Hemoptise, dispneia ou atrito pleural Hepatomegalia, icterícia, ascite, esplenomegalia ou hematêmese Edema unilateral do membro inferior com aumento de sensibilidade 5 Lorena Leahy Exames Hemograma completo, eletrólitos séricos, ureia, creatinina, testes hepáticos , proteínas séricas e análise da urina (especialmente se for observada a presença de proteína e hematúria microscópica). Deve-se realizar outros exames com base na causa suspeita por exemplo BNP para presunção de insuficiência cardíaca ou dímero D para suspeita de embolia pulmonar. Os portadores de edema isolado de membro inferior devem ser habitualmente submetidos à ultrassonografia para excluir obstrução venosa. Tratamento Pacientes com retenção de sódio geralmente obtêm benefício com a restrição dietética de sódio. Os portadores de insuficiência cardíaca devem eliminar o sal do preparo dos alimentos e à mesa, além de evitar alimentos com acréscimo de sal. Os pacientes com cirrose ou síndrome nefrótica avançada, com frequência, exigem restrição mais intensa de sódio (≤ 1 g/dia). Os sais de sódio costuma ser substituídos por sais de potássio para tornar a restrição de sódio tolerável; mas deve-se ter cuidado, especialmente com os pacientes que estão tomando diuréticos poupadores de potássio, inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) ou bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRAs) e com os portadores de nefropatias, levando-se em consideração a possibilidade de hiperpotassemia fatal. Pessoas com doenças que envolvem retenção de sódio também podem se beneficiar dos diuréticos de alça ou tiazídicos. Entretanto,não se deve administrar diuréticos apenas para melhorar o aspecto do edema. Quando diuréticos são utilizados, a perda de potássio pode ser perigosa em alguns pacientes; diuréticos poupadores de potássio (p. ex., amilorida, triantereno, espironolactona e eplerenona) inibem a reabsorção de sódio no néfron distal e no ducto coletor. Quando usados isoladamente, aumentam modestamente a excreção de sódio. Triantereno e amilorida são combinados com um tiazídico para prevenir a espoliação de potássio. A combinação de tiazídico com inibidor da ECA também previne a espoliação de potássio. É um processo inflamatório de origem imunológica que acomete todos os glomérulos de ambos os rins. A GNDA pode incidir de forma endêmica ou epidêmica. É rara em menores de 2 anos, sendo mais frequente no período pré-escolar e escolar, com pico de incidência ao redor dos 7 anos. A incidência no sexo masculino em relação ao feminino é de 2:1, nos casos associados a infecção de vias aéreas superiores, enquanto nos casos de piodermite, observa-se equivalência entre os sexos. Etiologia Em geral, a doença manifesta-se após infecção por EBHGA e, ocasionalmente, pelo grupo C ou G7. Somente algumas cepas, denominadas nefritogênicas, são capazes de causar a glomerulonefrite. Essas cepas são identificadas pela presença de uma proteína localizada na parede de suas células, chamada proteína M. Entre as mais frequentes pós-faringites, destacam-se os sorotipos M 1, 3, 4, 12, 18, 25 e 49, e pós-impetigo, M 2, 49, 55, 57 e 60. Fisiopatogenia e fisiopatologia A GNDA é uma doença imunologicamente mediada e sua relação com infecção estreptocócica. O EBHGA é constituído por três partes: cápsula, parede celular e citoplasma. A parede celular é formada por uma camada proteica, e a proteína M, constituinte dessa parede, permite que os estreptococos sejam tipados por técnica de precipitação de 1 a 61. Essa proteína representa também o antígeno responsável pela indução da imunidade na infecção estreptocócica. Portanto, no soro de indivíduos adultos, comumente encontram-se anticorpos contra vários M tipos de estreptococos. Glomerulonefrite difusa aguda pós- estreptocócica (GNDA) https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/exames-para-dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/exames-laboratoriais-para-f%C3%ADgado-e-da-ves%C3%ADcula-biliar https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-eletrol%C3%ADticos/hiperpotassemia 6 Lorena Leahy É interessante observar que, além da imunidade antibacteriana, existe também a imunidade antitóxica, que é transplacentária e protege a criança no 1º ano de vida. Essa mesma imunidade relaciona-se com a toxina eritrogênica e, quando adquirida por infecção, provavelmente persiste por toda a vida. No entanto, a fisiopatogenia da GNDA não está totalmente definida e há, na literatura, várias teorias que objetivam explicá-la. É provável a existência de um antígeno estreptocócico capaz de desencadear um processo imunológico que levaria à produção de anticorpos e, consequentemente, à formação de imunocomplexos nos glomérulos, isto é, formação de imunocomplexos in situ. Quadro clínico Os sintomas clínicos clássicos – edema, hipertensão e hematúria – manifestam-se 10 a 20 dias (no máximo 6 semanas) após a infecção estreptocócica de vias aéreas superiores ou de pele. Na maior parte dos casos, o estado geral da criança está pouco comprometido e as queixas são vagas, como indisposição, inapetência, cefaleia e edema periorbital. O edema ocorre em 85% dos casos, com intensidade variável. Muitas vezes, é evidenciado apenas por queixas indiretas, como aumento brusco de peso e/ou observação de roupas ou calçados apertados. Menos frequentemente, pode ser generalizado e influenciado pela postura. Habitualmente, o edema antecede o aparecimento da hematúria que, em dois terços dos casos, é macroscópica. No restante dos casos, pode haver apenas micro-hematúria diagnosticada laboratorialmente. A hipertensão arterial que está presente em 60 a 90% dos casos é, em geral, moderada, depende da intensidade da hipervolemia e pode ser agravada pela ingestão de alimentos com elevado teor de sódio. Sintomas menos frequentes, como cólicas abdominais, hipertermia e vômitos alimentares, podem acompanhar o quadro. Na evolução natural dos casos não complicados, observa- -se, em média de 7 a 15 dias após o início da doença, desaparecimento do edema, acompanhado por aumento da diurese e, 2 a 3 dias após, normalização dos níveis tensionais. Ao redor da 3ª ou 4ª semana após o início da sintomatologia, ocorre o restabelecimento clínico geral da criança. Deve-se salientar que alguns doentes podem desenvolver quadros subclínicos de GNDA caracterizados apenas por edema subclínico, hipertensão e diminuição do complemento. Complicações Congestão circulatória: É a complicação mais frequente. Caracteriza-se por sinais clínicos de hipervolemia, como taquicardia, dispneia, tosse, estertores subcrepitantes em bases pulmonares e hepatomegalia. Pode ser agravada por hipertensão e levar a insuficiência cardíaca congestiva e edema agudo de pulmão. Encefalopatia hipertensiva: Deve-se essencialmente à hipertensão e apresenta quadro clínico variável, podendo ocorrer cefaleia, vômitos, alterações visuais (diplopia ou amaurose transitória), irritabilidade, agitação, sonolência, crise convulsiva ou coma. Ao exame de fundo de olho, não se observam habitualmente as alterações características de hipertensão arterial, embora alguns pacientes possam apresentar vasoespasmo na retina. Insuficiência renal aguda (IRA): É a menos comum das complicações da GNDA. Estabelece-se oligoanúria intensa, retenção de escórias proteicas no plasma e distúrbios hidreletrolíticos graves, com tendência à hiperpotassemia. Exames complementares Dentre as principais alterações urinárias, destacam-se: • densidade urinária conservada, em torno de 1015 a 1020, na fase aguda da doença, pela preservação da capacidade de concentração urinária relacionada à integridade tubular; 7 Lorena Leahy • hematúria macroscópica ou microscópica acompanhando cerca de 95% dos casos; • cilindros hemáticos, hialinos, granulosos e leucocitários, sendo os hemáticos sugestivos de hematúria glomerular; • proteinúria, raramente em níveis nefróticos (> 50 mg/kg/ dia), e que, na fase aguda, não se correlaciona com gravidade da nefropatia. A maioria das alterações urinárias regride em 4 a 8 semanas, embora 10% dos casos possam persistir com hematúria residual por vários meses. A dosagem do complemento sérico é obrigatória para o diagnóstico de GNDA. Seus valores encontram-se diminuídos em 95 a 98% dos casos. A normalização de seus níveis ocorre em 4 a 8 semanas e é um marcador importante de prognóstico e diagnóstico diferencial. Os níveis de ureia e creatinina podem estar elevados em grau discreto ou moderado. Se a elevação for significativa, podem traduzir doença renal prévia ou glomerulonefrite rapidamente progressiva. As alterações no sódio, potássio e bicarbonato dependem do grau de déficit da função renal. Geralmente, observa-se discreta anemia dilucional, decorrente da hipervolemia. O título de antiestreptolisina O (ASO) pode estar elevado, dependendo do local da infecção e do sorotipo infectante. Nas amidalites, os níveis são elevados, o que habitualmente não acontece nas piodermites. Além disso, quanto mais precoce a antibioticoterapia, menor a elevação; quanto maior o tempo entre o início da doença e a coleta do sangue, maior será a cifra da ASO. Em relação à bacteriologia, as culturas de secreção de orofaringe e da pele têmpouca importância, porque a infecção antecede em 1 a 3 semanas o aparecimento do quadro clínico da GNDA. Diagnóstico diferencial Embora o diagnóstico habitualmente não ofereça dificuldade, algumas glomerulopatias podem apresentar-se, no início, com quadro semelhante. Dentre elas, destacam-se: • glomerulonefrite membranoproliferativa, que acomete sobretudo o sexo feminino e ocorre geralmente em maiores de 7 anos de idade; na infância, costuma apresentar-se com complemento sérico baixo por meses; • glomerulonefrite rapidamente progressiva, caracterizada por manifestações clínicas importantes e aumento progressivo dos níveis de creatinina; • doença de Berger, que apresenta, em geral, hematúria recorrente, sem os demais sinais clínicos que caracterizam a GNDA, com complemento sérico normal e cujo diagnóstico é confirmado por biópsia, com imunofluorescência positiva para IgA em deposição mesangial. Tratamento A dieta hiposódica é importante para o restabelecimento clínico (diminuição do edema e dos níveis tensionais) e a prevenção e/ou a atenuação das complicações da insuficiência renal transitória (hipervolemia e azotemia). Inicialmente, recomenda-se dieta de arroz e frutas, a qual contém 300 mg de NaCl. A ingestão de sódio deve ser diminuída (menos que 2 g de NaCl/m2 /dia) também durante a fase de edema, hipertensão e oligúria. A restrição proteica é necessária quando houver IRA. A restrição de potássio está indicada apenas nos casos de oligúria importante (diurese < 240 mL/m2 SC/dia) A cota hídrica deve ser restrita a 20 mL/kg/dia ou 300 a 400 mL/m2 / dia. Quando houver regressão do edema, devem-se acrescentar as perdas do dia anterior (diurese e/ou vômitos). Tratamento medicamentoso Infecção estreptocócica: O tratamento da GNDA requer erradicação da infecção com administração de penicilina V na dose de 25.000 a 50.000 UI/ kg/dia, por via oral (VO), a cada 6 horas, durante 8 a 10 dias, 8 Lorena Leahy ou penicilina benzatina em dose única de 600.000 U para crianças com menos de 25 kg e 1.200.000 U para crianças com mais de 25 kg. Nos casos de alérgicos a penicilina, deve-se prescrever eritromicina na dose de 30 mg/kg/dia durante 10 dias. Diuréticos: A furosemida, na dose de 1 a 5 mg/kg/dia, está indicada nos casos de congestão cardiocirculatória importante, oligúria e hipertensão sintomática. Hipotensores: Devem ser utilizados somente nos casos em que a hipertensão persiste apesar do desaparecimento do edema e da oligúria, ou nos casos de hipertensão sintomática. As drogas mais utilizadas são: • hidralazina: 0,2 a 0,5 mg/kg/dose, endovenosa (EV), a cada 4 ou 6 horas, ou 1 a 4 mg/kg/dia, VO, a cada 8 horas; • nifedipina: 0,10 a 0,25 mg/kg/dose, a cada 3 a 4 horas, ou 1 a 3 mg/kg/dia, VO, a cada 6 ou 12 horas (por causa do risco de hipotensão, recomenda-se monitoração rigorosa de frequência cardíaca, pressão arterial e reflexo pupilar). Uma alternativa à nifedipina para crianças maiores de 6 anos é a anlodipina, com um tempo de eliminação mais longo, que permite sua administração 1 vez/dia, sendo adequada nas crianças com quadro mais estável (dose de 0,1 a 0,2 mg/kg/ dia; dose máxima de 10 mg/dia). Os inibidores de enzima de conversão (enalapril/captopril) e os bloqueadores de receptores de angiotensina II (losartana) podem ser utilizados com especial atenção, pelo risco de provocar aumento dos níveis de potássio e/ou creatinina.16 O nitroprussiato de sódio deve ser restrito à unidade de terapia intensiva para os casos de encefalopatia hipertensiva. Tratamento das complicações Congestão circulatória: Além das medidas já citadas, objetiva-se reduzir a hipervolemia com administração de furosemida 1 a 5 mg/kg/dia, restrição hídrica, assistência ventilatória (oxigenoterapia e/ou ventilação mecânica) e sedação. Nos casos refratários a essas medidas, recomenda-se instalação de diálise peritoneal. Encefalopatia hipertensiva:Caracterizada como urgência hipertensiva, recomenda-se nifedipina na dose de 0,2 mg/kg, sublingual, repetida, se necessário, em 4 a 6 horas, com monitoração contínua do paciente e dos seus níveis tensionais. Em situações de emergência hipertensiva, utiliza-se nitroprussiato de sódio, na dose de 0,5 a 8 mcg/kg/minuto, EV, protegido da luz e por período não superior a 72 horas, dado o risco de intoxicação por tiocianato, um de seus metabólitos. A redução dos níveis pressóricos deve ser progressiva, e não brusca, evitando-se hipofluxo cerebral. Os anticonvulsivantes podem ser utilizados nos casos de convulsões associadas a encefalopatia hipertensiva ou distúrbios metabólicos (diazepam 0,1 a 0,5 mg/kg/dose, EV, lentamente). Insuficiência renal aguda:Além da restrição hidrossalina, nos casos de hiperpotassemia, não ofertar potássio de qualquer natureza, administrar resinas de troca (Kayexalate® ou Sorcal®) na dosagem de 1 g/kg, VO ou via retal, em suspensão a 10% ou 20%, a cada 4 ou 6 horas, corrigir acidose metabólica (se presente) e fazer nebulização com beta-2-adrenérgicos. Nas situações de oligúria com hiperpotassemia e congestão circulatória refratárias, indicar precocemente diálise peritoneal. Introdução e epidemiologia Síndrome Nefrótica idiopática (SNI) 9 Lorena Leahy A síndrome nefrótica (SN) caracteriza-se essencialmente pela presença de proteinúria maciça de caráter nefrótico e hipoalbuminemia (≤ 2,5 g/dL), enquanto o quadro completo inclui edema, hiperlipidemia e lipidúria. A proteinúria nefrótica classicamente se caracteriza por valores ≥ 50 mg/kg/dia ou ≥ 40 mg/ m2 /hora. Pela dificuldade de coleta de urina na faixa pediátrica, a tendência atual é a de utilizar a relação proteína/creatinina em amostra isolada, sendo definida como proteinúria nefrótica quando essa relação é > 2 em mg/mg (U P/Cr > 2). Na infância, 80 a 90% dos casos correspondem a SN primária ou idiopática (SNI), e o restante, a causas secundárias, como associação com doenças sistêmicas, metabólicas, infecciosas, doenças autoimunes, drogas... A maioria dos casos ocorre entre 2 e 7 anos de idade, sendo 2 vezes mais frequente no sexo masculino nos primeiros anos de vida. Quadro clínico A principal manifestação clínica da SN, embora sua presença não seja essencial para o diagnóstico, é o edema, que geralmente é intenso, mole, frio, depressível, sujeito à ação da gravidade, em geral insidioso, podendo evoluir para anasarca e apresentando diversos mecanismos em sua patogênese. Existem duas grandes teorias implicadas no mecanismo de formação do edema na SN. A primeira, conhecida como teoria do “hipofluxo”, considera que a proteinúria maciça e subsequente hipoalbuminemia promovam uma diminuição da pressão oncótica plasmática. Esse fato, por sua vez, acarreta aumento da ultrafiltração capilar e passagem de fluido do espaço intravascular para o interstício (edema), desencadeando hipovolemia, hipoperfusão renal, ativação do SRAA e retenção renal secundária de sódio. A segunda teoria, do “hiperfluxo”, propõe como fator inicial na formação do edema a retenção primária intrarrenal de sódio e água. A resistência ao peptídio natriurético atrial (ANP) associada à ativação dos canais epiteliais de sódio (ENaC) por proteases (como a plasmina) nos ductos coletores promove retenção hídrica e salina que contribui na formação do edema. A criança não tratada ou que não responde bem à terapia apresenta-se adinâmica, evoluindo com ascite e hepatomegalia. Pode decorrer taquipneia pela compressão torácica. Há derrame pleural e aumento de volume dos genitais, principalmente no sexo masculino. Os cabelos são escassos, finos e quebradiços por causa da desnutrição. A pele é seca e friável com tendência de formaçãode estrias. A pressão arterial na LHM geralmente é normal, mas, em alguns casos, ocorre hipertensão transitória. A presença de distúrbios eletrolíticos (hipocalcemia, hipopotassemia, hiponatremia, etc.) pode se manifestar por alterações clínicas como cãibras, parestesias, síndrome convulsiva, etc. Na GESF e nas outras glomerulopatias que não a LHM, manifestações clínicas, como náuseas, vômitos, cefaleia, alteração do sensório, etc., podem estar relacionadas com uremia. A dor abdominal também se manifesta nas grandes descompensações e em situações de hipovolemia ou associadas à peritonite primária ou celulites de 10 Lorena Leahy parede abdominal, algumas vezes podendo confundir-se com apendicite aguda. É possível observar sinais de descalcificação óssea relacionada às alterações do metabolismo de vitamina D, cálcio e fósforo, particularmente naqueles casos de longa duração e/ou resistência à terapia imunossupressora. Os pacientes nefróticos apresentam risco elevado de deficiência de vitamina D. A atopia é frequente, com prevalência de processos alérgicos das vias aéreas ou de pele. Essas crianças são propensas à aquisição de processos infecciosos, geralmente infecções de vias aéreas superiores (rinofaringites, sinusites e broncopneumonias), infecções de pele (celulite), peritonites, gastroenterites, infecção do trato urinário e sepse. Os agentes virais frequentemente estão associados às descompensações, podendo favorecer infecções bacterianas secundárias. Os principais agentes bacterianos são o Streptococcus pneumoniae e as bactérias Gram-negativas (Escherichia coli, Klebsiella sp, Proteus sp e Haemophilus influenzae). Os Staphylococcus aureus e coagulase negativos, assim como os fungos, também devem ser lembrados, em virtude da imunossupressão. Exames laboratoriais Sedimento urinário: Além de proteinúria, em 25% dos pacientes com LHM, há hematúria, geralmente microscópica. Observa-se cilindrúria relacionada às perdas proteicas e lipidúria. Proteinúria: Considera-se a proteinúria nefrótica acima de 50 mg/kg/dia ou 40 mg/m²/hora. Em amostra isolada de urina, valores > 2 são compatíveis com proteinúria nefrótica.O teste com ácido sulfossalicílico a 10% é um método alternativo e útil, principalmente no acompanhamento ambulatorial. Eletroforese de proteínas plasmáticas: São observados hipoalbuminemia e aumento da fração alfa-2. A IgG, especialmente IgG- 1 e IgG-2, apresenta-se muito baixa, e a IgA e a IgM, elevadas. A IgE também pode estar aumentada e observa-se hipogamaglobulinemia na SNI. A presença de hipergamaglobulinemia pode ser indicativa de patologia secundária subjacente. Colesterol: Os níveis séricos do colesterol total, triglicérides e lipoproteínas acham- se elevados. A hiperlipidemia é consequência do aumento da síntese hepática de colesterol, triglicérides e lipoproteínas; da redução no catabolismo das lipoproteínas decorrente do aumento da atividade das lipases lipoproteicas; da perda urinária de HDL; e da redução da atividade do receptor de LDL. Complemento: Apresenta-se normal na LHM e na GESF; a constatação de hipocomplementemia é indicação formal para biópsia renal, podendo estar presente, por exemplo, no lúpus eritematoso, na glomerulonefrite membranoproliferativa, na glomerulonefrite crescêntica e na nefrite do shunt Ureia e creatinina: Podem estar elevadas na instalação do edema ou em situações de hipovolemia. Em outras glomerulopatias (p.ex., GESF ou nefrotoxicidade), pode-se encontrar aumento persistente. Devem ser pesquisadas causas secundárias com solicitação de reações sorológicas para HIV, hepatite A, B e C, toxoplasmose, citomegalovírus, sífilis e mononucleose. Conforme a história e a epidemiologia, avaliações específicas devem ser realizadas (p.ex., esquistossomose, malária, etc.). Indicações de biópsia renal (BR): Atualmente, as crianças entre 1 e 10 anos com sintomatologia exuberante e complemento sérico normal devem ser consideradas e tratadas como portadoras de LHM. Nesse grupo, classicamente, aquelas que não obtiverem remissão clínica e laboratorial após 8 semanas de corticoterapia seguidas ou não de 3 doses de pulsoterapia com metilprednisolona, 11 Lorena Leahy desde que não estejam infectadas, devem ser biopsiadas, pois provavelmente apresentam outros padrões histológicos. Tratamento Tratamento inespecífico Durante as fases de edema ou quando houver hipertensão, deve ser recomendada uma dieta hipossódica ou assódica. Na ausência de hipervolemia, a ingestão hídrica é livre.. As atividades escolares e esportivas podem ser retomadas após os períodos de descompensação. Na presença de edema, a primeira medida a ser tomada é a restrição sódica. É importante avaliar a presença de evidências de hipovolemia como taquicardia, pulsos fracos, extremidades frias, hipotensão e outros fatores adicionais, como hemoconcentração, elevação desproporcional da ureia e baixa fração de excreção de sódio (< 0,5%). Nessa situação, realizar infusão de solução salina 15 a 20 mL/kg por 20 a 30 minutos e repetir conforme necessário. A infusão de albumina 20% (0,5 a 1 g/kg) é útil para aqueles pacientes que não respondem à expansão inicial. Os diuréticos devem ser evitados, de forma geral, pelo risco de precipitação de piora da função renal, pois muitos nefróticos apresentam redução do volume sanguíneo efetivo de base. Quando necessário, nos quadros de anasarca e sem evidências de hipovolemia, introduzir diuréticos tiazídicos como a hidroclorotiazida (2 a 5 mg/kg/dia em 2 tomadas). Evita-se a depleção de potássio usando reposição com cloreto de potássio (2 a 4 mEq/kg/dia) ou espironolactona (1 a 5 mg/kg/dia). Naqueles casos resistentes a essa terapia ou com anasarca e hipervolêmicos, podem ser associados diuréticos de alça, como a furosemida (1 a 5 mg/kg/dia). Nos edemas volumosos e persistentes, utiliza-se infusão endovenosa de albumina a 20% (0,5 a 1 g/kg/dia) associada à furosemida (infusão lenta parenteral para redução do potencial de ototoxicidade), que, proporcionando aumento transitório da pressão oncótica plasmática e do ritmo de filtração glomerular, facilita a liberação do diurético nos locais onde ocorre a reabsorção de sódio, melhorando a resposta natriurética. Em edemas refratários, associa-se albumina e furosemida parenteral em infusão contínua (0,1 a 0,2 mg/kg/hora ou 1 a 5 mg/ kg/dia). A coadministração de amilorida (associada a hidroclorotiazida ou clortalidona) pode ser estabelecida. Devem ser monitorados os efeitos colaterais potenciais e graves dos diuréticos. Por causa das disfunções imunológicas citadas, da desnutrição, do edema e do uso de medicações imunossupressoras, o nefrótico apresenta grande suscetibilidade às infecções. O tratamento antimicrobiano deve ser instituído rapidamente, levando em consideração o foco infeccioso, o estado clínico do paciente e o agente bacteriano. Tratamento específico A resposta à corticoterapia é um marco importante na resposta terapêutica, estratificando-se didaticamente a SN em corticossensível e corticorresistente. Classicamente, para induzir remissão, utiliza-se prednisona diária (60 mg/m2 ou 2 mg/kg/dia; máximo de 60 mg/dia, 3 vezes/dia ou dose única) durante 4 a 6 semanas (o KDIGO sugere dose única). Caso tenha ocorrido remissão, introduz-se 40 mg/m2 ou 1,5 mg/kg em dias alternados em dose única pela manhã (máximo de 40 mg/dia) por 4 a 6 semanas.Esse esquema é mantido por 6 meses, com diminuição lenta e progressiva da dose, caso a remissão se mantenha. Em casos com recidivas dentro dos 6 meses iniciais, volta-se para o esquema diário, mantido até 3 dias consecutivos após a remissão e, a seguir, reintroduz-se o corticosteroideem dias alternados. Se houver resistência ao tratamento inicial, pode- se utilizar pulsoterapia adicional com metilprednisolona (MP) 30 mg/kg/dose (máximo de 1 g) em dias alternados, 3 a 6 doses. Caso ocorra remissão completa, prosseguir a corticoterapia em esquema alternado por 1 ano, diminuindo a dose progressiva e lentamente. É importante a vigilância no controle da pressão arterial e o tratamento precoce das infecções. 12 Lorena Leahy As infecções funcionam como gatilho para a descompensação da SN, dessa forma, durante os processos infecciosos, deve ser utilizado corticosteroide diário na mesma dose de manutenção por 5 a 7 dias para reduzir o risco de recaídas em crianças com recidivas frequentes ou corticodependentes. Em caso de pacientes corticossensíveis, recidivantes frequentes, uma opção válida é a ciclofosfamida (CYC) na dose de 2 mg/kg/dia (máximo de 100 mg/dose e 168 mg/kg de dose cumulativa) em tomada única pela manhã por 60 a 90 dias, associada à corticoterapia em esquema alternado, com doses decrescentes de prednisona.Os principais efeitos adversos são depressão de medula óssea, risco de infecções e neoplasia, cistite hemorrágica, alopecia e disfunção gonadal. Em recidivantes frequentes e com objetivo de redução ou retirada do corticosteroide, uma alternativa é o emprego de levamizol, que é um imunomodulador. Caso as recidivas persistam, recomenda-se a biópsia renal e a introdução de outros esquemas terapêuticos. Os inibidores da calcineurina (IC), ciclosporina (CsA) e tacrolimo (TCM) são considerados terapia de primeira linha no manuseio dos SNCR e uma alternativa para corticodependentes e recidivantes frequentes. A maioria dos regimes terapêuticos nos casos de SNCR utiliza uma combinação de imunossupressor + corticoterapia (p.ex., baixas doses e em dias alternados) + estratégia antiproteinúrica com inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA). 13 Lorena Leahy
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