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SISTEMA DE ENSINO DIREITO PENAL – PARTE GERAL Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade Livro Eletrônico 2 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias Sumário Apresentação ................................................................................................................................... 3 Concurso de Crimes ........................................................................................................................ 4 1. Concurso de Crimes .................................................................................................................... 4 1.1. Concurso de Crimes .................................................................................................................. 4 1.2. Sistemas de Aplicação da Pena no Concurso de Crimes ................................................. 5 1.3. Concurso Material .................................................................................................................... 6 1.4. Concurso Formal de Crimes ................................................................................................... 9 1.5. Concurso Crimes Denominado de Crime Continuado ou de Continuidade Delitiva ..15 1.6. Concorrência de Concurso de Crimes ................................................................................ 26 2. Punibilidade ............................................................................................................................... 27 2.1. Conceito e Características da Punibilidade ...................................................................... 27 2.2. Escusas Absolutórias ...........................................................................................................28 2.3. Causas Extintivas da Punibilidade ..................................................................................... 29 Questões de Concurso ................................................................................................................. 55 Gabarito ........................................................................................................................................... 81 Referências .....................................................................................................................................82 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias ApresentAção Olá! Sou o professor Dermeval Farias. É com prazer que iniciamos mais um capítulo do material em PDF do Gran Cursos Online. Apresentamos desta vez o estudo sobre concurso e crimes e punibilidade, com as causas de exclusão da punibilidade. Dentre os temas citados neste respectivo material em PDF, concurso de crimes e prescri- ção são os mais cobrados em concursos. É preciso alertar que, em razão das dúvidas que sempre são manifestadas pelos alunos quanto à forma de estudo, nenhum material, por si só, é 100% completo para todos os con- cursos jurídicos e não jurídicos. O estudo correto e organizado para concursos envolve: exce- lentes videoaulas; bons livros; excelentes PDFs; leitura e releitura da lei seca; estudo da juris- prudência; resolução de questões; realização de provas. Tudo isso deve ser feito de maneira cíclica, com repetição, com anotações, com administração do tempo de estudo, bem como acompanhado de uma correta divisão das matérias diárias que devem ser estudadas. Busquei desenvolver no presente capítulo a análise da lei, doutrina e jurisprudência. Ao final, comentei questões que possuem correlação com o conteúdo abordado. Como sempre fazemos na preparação das aulas de magistério, faço sempre uma prévia pesquisa dos manu- ais de Direito Penal e, principalmente, de artigos e livros específicos indicados nas referências bibliográficas, acompanhados de jurisprudência e de questões de concursos, comentadas nos seus itens de marcação. É certo que seguimos a direção de nossas aulas, uma vez que, há mais de 16 anos, temos preparado candidatos para os mais diversos concursos jurídicos do país: Juiz Estadual, Juiz Federal, Procurador da República, Promotor de Justiça, Defensor Público, Delegado de Polícia (Civil e Federal), Analista Jurídico, Advogado da União e outros. Tenho muito prazer em trabalhar hoje com colegas que são promotores de justiça, junta- mente comigo, que outrora eram alunos; bem como magistrados; delegados de polícia; defen- sores públicos, ex alunos que encontramos em audiências, nos júris etc. O tema que ora se apresenta foi dividido nas seguintes partes: concurso de crimes (ma- terial ou real; formal ou ideal; crime continuado); punibilidade, com as causas de exclusão da punibilidade; questões comentadas. Ressalto que serão apresentados, quando necessários, resumos, quadros sinópticos, dicas e destaques sobre pontos específicos de cada instituto jurídico de direito penal, de modo a facilitar a compreensão e, por consequência, o acerto em provas de concursos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias CONCURSO DE CRIMES 1. ConCurso de Crimes Quanto ao concurso de crimes, serão tratados os concursos de crimes previstos no CP brasileiro, quais sejam: material ou real; formal ou ideal (formal próprio e formal impróprio); continuado (simples e especial); material benéfico. 1.1. ConCurso de Crimes No concurso de crimes, há uma pluralidade delitiva, ou seja, vários crimes. Desse modo, o tema não pode ser confundido com o concurso de leis no tempo (quando uma lei sucede outra, de forma que deve ser analisada as hipóteses de: abolicio criminis; lex mitior; lex tertia; novatio legis; extratividade da lei penal etc.) e nem com o conflito aparente de normas (um fato abrangido, aparentemente, por mais de uma norma, quando se deve escolher uma norma, fa- zendo-se uso dos princípios da especialidade. O CP brasileiro cuida do concurso de crimes nos artigos 69 a 71. A matéria é analisada pelo julgador no momento da sentença ou do acórdão penal condenatórios, logo depois da terceira fase da dosimetria. Sobre as etapas da dosimetria da pena, remetemos o leito ao PDF de Teorias e Aplicação da Pena. O concurso de crimes, no modelo jurídico brasileiro, pode ser material, formal (próprio e impróprio) ou, ainda, o denominado de crime continuado (simples e específico). Dessa forma, considerando que nem sempre as penas serão somadas no concurso de crimes, pode-se dizer que o CP brasileiro adota uma concepção normativa no que concerne ao concurso de crimes. É necessário destacar que, como regra, não há concurso de crimes em crime habitual e em crime permanente. No primeiro, há necessidade de repetição de atos para a consumação do crime, de modo que a repetição ininterrupta configura um único crime (exemplo: exercício ile- gal da medicina); no segundo, a consumação se protrai no tempo, de forma que se trata de um único crime (exemplos: extorsão mediante sequestro; associação criminosa etc.). Todavia, é importante ressalvar que: se houver um ponto final da consumação e, depois de certo tempo, o agente retornar a praticar ocrime, poderá existir um concurso de crimes (exemplo: depois de terem sido presos e condenados por associação criminosa, os condenados fugiram e inicia- ram nova associação criminosa. Diante da interrupção, há dois crimes de associação crimino- sa, o que foi objeto da condenação e o novo iniciado após a fuga da prisão). Para efeito de competência do juizado especial criminal, no que diz respeito aos crimes de menor potencial ofensivo, o intérprete deve considerar o concurso de crimes, seja a soma do O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 5 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias concurso material ou do formal impróprio, seja a exasperação do formal próprio ou do continu- ado. Nesse sentido, tem decidido o STJ: [...] I – Na linha da jurisprudência desta Corte de Justiça, tratando-se de concurso de crimes, a pena considerada para fins de fixação da competência do Juizado Especial Criminal será o resultado da soma, em concurso material, ou a exasperação, na hipótese de concurso formal ou crime continuado, das penas máximas cominadas aos delitos, caso em que, ultrapassado o patamar de 2 (dois) anos, afasta-se a competência do Jui- zado Especial. Precedentes. [...] (RHC 102.381/BA, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 09/10/2018, DJe 17/10/2018). 1.2. sistemAs de ApliCAção dA penA no ConCurso de Crimes Os sistemas de aplicação da pena no concurso de crimes, comumente utilizados nos orde- namentos jurídicos, são os seguintes: • Acumulação material: as penas dos crimes são somadas no sistema da cumulação material. Esse é um dos modelos contemplados no CP brasileiro, não somente no con- curso material de crimes. Exemplos: art. 69 (concurso material); segunda parte do art. 70 caput (concurso formal impróprio); parágrafo único do art. 70; arts. 329 § 2º, 161 § 2º, 344; • Acumulação jurídica: nesse sistema, não presente no CP brasileiro, a terá limites máxi- mos de exasperação, dependendo da quantidade e da gravidade dos crimes cometidos. Esse modelo está presente, a título de ilustração no CP Espanhol, conforme trecho a seguir: CP espanhol de 1995 Art. 76. No obstante lo dispuesto en el artículo anterior, el máximo de cumplimiento efectivo de la condena del culpable no podrá exceder del triple del tiempo por el que se le imponga la más grave de las penas en que haya incurrido, declarando extinguidas las que procedan desde que las ya im- puestas cubran dicho máximo, que no podrá exceder de veinte años. Excepcionalmente, este límite máximo será: a) De veinticinco años, cuando el sujeto haya sido condenado por dos o más delitos y alguno de ellos esté castigado por la Ley con pena de prisión de hasta veinte años. b) De treinta años, cuando el sujeto haya sido condenado por dos o más delitos y alguno de ellos esté castigado por la Ley con pena de prisión superior a veinte años. 2. La limitación se aplicará aunque las penas se hayan impuesto en distintos procesos si los hechos, por su conexión, pudieran haberse enjuiciado en uno solo. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias • Absorção: o crime mais grave absorve o crime menos grave. Esse modelo não foi ado- tado em matéria de concurso de crimes no CP brasileiro. Não há de se confundir com o princípio da consunção, adotado como um instrumento na solução do conflito aparente de normas (tema tratado no PDF sobre Teoria da Norma). O CP de Portugal adota a so- lução da absorção em matéria de continuidade delitiva: “Art. 79. O crime continuado é punível com a pena aplicável à conduta mais grave que integra a continuação”; • Exasperação: aplica se a pena de um dos crimes, se iguais, ou a mais grave, de diferen- tes, e exaspera com um percentual. O CP brasileiro adota o referido modelo no concurso formal próprio (primeira parte do 70 caput) e no crime continuado (caput e parágrafo único do art. 71). 1.3. ConCurso mAteriAl O concurso material– também denominado de concurso real– de crimes constitui a regra no concurso de crimes e é regulado pelo art. 69 do CP. Haverá concurso material quando o agente, em contextos fáticos distintos, praticar dois ou mais crimes mediante mais de uma ação ou omissão. Nos termos do Código penal: Art. 69. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incor- rido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. § 1º Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código. § 2º Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais. Sobre o concurso material, importa ressaltar que a jurisprudência dos tribunais superiores costuma associar as situações de ofensas a bens jurídicos distintos como hipótese de concur- so material. Mas essa frase argumentativa não constitui fundamentação absoluta. Em muitos dos casos de concurso de crimes, a solução jurisprudencial não guarda correspondência com a letra do Código Penal ou mesmo com os argumentos doutrinários. 1.3.1. Jurisprudência e Concurso Material É importante conhecer a linha jurisprudencial no que concerne ao concurso de crimes. O tema se faz muito presente no bojo das decisões penais do STJ e do STF: • Concurso material de crimes entre roubo e resistência, cometidos em contextos fáticos distintos: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 7 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias CRIMINAL. RECURSO ESPECIAL. ROUBO QUALIFICADO E RESISTÊNCIA. CONCURSO MATERIAL. POSSIBILIDADE. AMEAÇAS PLENAMENTE CINDÍVEIS. CONSUMAÇÃO DO CRIME DE ROUBO. CONFIRMAÇÃO. RESISTÊNCIA. RESTABELECIMENTO DO ÉDITO CON- DENATÓRIO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. O delito de roubo consuma-se com a simples posse, ainda que breve, da coisa alheia móvel, subtraída mediante violência ou grave ameaça, sendo desnecessário que o bem saia da esfera de vigilância da vítima. Havendo a cisão temporal das ameaças, uma dirigida à vítima do roubo e a outra aos fun- cionários públicos responsáveis pela prisão do réu, tem-se como caracterizado o concurso material entre os delitos de roubo e resistência. Restabelecida a pena imposta ao réu pelo crime de resistência em 1º grau jurisdicional, considerando a quantidade da reprimenda (04 meses de detenção), deve ser decretada a extinção da punibilidade pela prescrição intercorrente, eis que, desde a data da publicação do édito condenatório, consumou-se o lapso prescricional necessário (02 anos), nos termos doart. 109, VI, c/c os arts. 110, § 1º, e 119, todos do Estatuto Repressivo. Recurso conhecido e provido, decretando-se a extinção da punibilidade do recorrido pela ocorrência da prescrição, quanto ao delito de resistência, nos termos do voto do Relator. (REsp 674.166/RS, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 02/12/2004, DJ 09/02/2005, p. 220). • Concurso material de crimes entre receptação e porte de arma de fogo: PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PORTE ILEGAL DE ARMA E RECEPTAÇÃO. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. AUTONOMIA DE CONDU- TAS. CONCURSO MATERIAL. REGIMENTAL PROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte está consolidada nos sentido da inaplicabilidade da con- sunção, pois “a receptação e o porte ilegal de arma de fogo configuram crimes de natureza autônoma, com objetividade jurídica e momento consumativo diversos” (HC 284.503/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, DJe 27/04/2016) 2. Agravo regimental pro- vido para determinar a devolução do autos ao Tribunal a quo para que dê continuidade ao exame da apelação criminal afastada aplicação do princípio da consunção. (AgRg no REsp 1623534/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 10/04/2018, DJe 23/04/2018). PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO E RECEPTAÇÃO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O TIPO DO ART. 16 DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. CARÁTER INTERNACIONAL DA AÇÃO. TRANSPOSIÇÃO DE FRONTEIRA. INTRODUÇÃO DE ARTEFATO BÉLICO NO TERRITÓRIO NACIONAL. CONCURSO MATERIAL. RECONHECIMENTO. BENS JURÍDICOS TUTELADOS O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias DIVERSOS. DELITO CONTRA A PAZ PÚBLICA E DELITO PATRIMONIAL. AGRAVO REGI- MENTAL DESPROVIDO. I – O tipo de tráfico internacional de arma de fogo de uso restrito, dos arts. 18 c.c. 19 da Lei n.º 10.826/2003, configura-se com o mero favorecimento da entrada ou saída, a qual- quer título, do artefato bélico do território nacional, sem autorização da autoridade com- petente. Isto é, aplica-se ao simples porte de arma para além das fronteiras nacionais. Precedentes. II – Assim, para a configuração do tipo dos arts. 18 c.c. 19 da Lei n.º 10.826/2003, não é necessário que tenha ocorrido ato de importação propriamente dito, mas sim o favoreci- mento da introdução do artefato bélico no território nacional. III – A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que o delito de receptação e os do Estatuto do Desarmamento seriam, de regra, crimes autô- nomos, com naturezas jurídicas e bens tutelados distintos, devendo o agente responder pela sua prática em concurso material. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 368.990/PR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 07/08/2018, DJe 15/08/2018). • Concurso material de crimes entre associação criminosa e roubo: [...] II – Como destacado na decisão agravada, não há que falar em bis in idem, ante a imputação concomitante das majorantes do emprego de arma e concurso de pessoas do crime de roubo com as majorantes da quadrilha armada – prevista no parágrafo único do art. 288 do Código Penal (antiga redação) –, na medida em que se tratam – os crimes de roubo circunstanciado pelo emprego de arma e concurso de pessoas e de formação de quadrilha armada – de delitos autônomos e independentes, cujos objetos jurídicos são distintos – quanto ao crime de roubo: o patrimônio, a integridade jurídica e a liber- dade do indivíduo e, quanto ao de formação de quadrilha (atual associação criminosa): a paz pública –, bem como diferentes as naturezas jurídicas, sendo o primeiro material, de perigo concreto, e o segundo formal, de perigo abstrato. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 470.629/MS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 19/03/2019, DJe 26/03/2019). • Concurso material de crimes entre roubo e extorsão: [...] 3. Estão configurados os crimes de roubo e extorsão, em concurso material, se o agente, após subtrair bens da vítima, mediante emprego de violência ou grave ameaça, a obriga a realizar saques em caixa eletrônico. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 9 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias 4. Ordem denegada. (HC 476.558/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 11/12/2018, DJe 01/02/2019). O concurso material ou real de crimes é a regra. Nele, as penas são somadas, ou seja, adota-se o sistema do cúmulo material. Vale ressaltar que no caso de condenação por crimes apenados com reclusão e com detenção, primeiro cumpre-se a reclusão e, somente depois, a detenção. Além disso, vale ressaltar o teor das súmulas 243 do STJ e 723 do STF: STJ, Súmula n. 243 O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapas- sar o limite de um (01) ano. STF, Súmula n. 723 Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano. O concurso material entre crimes iguais (mesmo tipo penal) é chamado de homogêneo; enquanto o concurso material entre crimes diferentes é denominado de heterogêneo. 1.4. ConCurso FormAl de Crimes O concurso formal de crimes é regulado pelo caput do art. 70 do CP brasileiro. Nele, o agente, mediante uma única ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes. Na primeira parte do caput do art. 70 do CP, o legislador contemplou o concurso formal próprio ou perfeito, ou seja, quando o agente, sem desígnios autônomos, realiza dois ou mais crimes, mediante uma única ação ou omissão. Nesse caso, o julgador usará a pena concreta de um dos crimes, se iguais, ou a maior pena, se os crimes forem diferentes, e fará incidir sobre ela o aumento de 1/6 a 1/2, de acordo com o número de crimes. Exemplo de concurso formal próprio: no erro na execução com mais de um resultado– aberra- tio ictus complexa– regulado no art. 73, caput, segunda parte. Na segunda parte do caput do art. 70 do CP, o legislador contemplou o concurso formal impróprio ou imperfeito, ou seja, quando o agente, com desígnios autônomos, realiza dois ou O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 10 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias mais crimes, mediante uma única ação omissão. Nesse caso, o julgador somará as penas dos crimes, ou seja, usará o critério do cúmulo material. Pode-se dizer que, conquanto sejam dife- rentes, o concurso formal impróprio e o concurso material são iguais nas consequências, uma vez que em ambos os casos haverá a soma das penas. Exemplo de concurso formalimpróprio: João, com vontade de matar Carlos e Pedro, amarra ambos em fila, depois escolhe um fuzil potente e efetua um disparo que fere e transpassa ambas as vítimas, matando-as. Nesse caso, João responderá por dois crimes de homicídio na forma do concurso formal impróprio, com penas somadas. O sentido da expressão desígnios autônomos no concurso formal impróprio abrange dolo direto + dolo direto ou dolo direto + dolo eventual. Essa é a posição atual da jurisprudência do STJ e do STF. No passado, havia setor da doutrina penal nacional que defendida apenas o dolo direto + dolo direto (opinião do Fragoso). No sentido que sustentamos tem decidido o STJ: [...] 1. O concurso formal perfeito caracteriza-se quando o agente pratica duas ou mais infra- ções penais mediante uma única ação ou omissão; já o concurso formal imperfeito evi- dencia-se quando a conduta única (ação ou omissão) é dolosa e os delitos concorrentes resultam de desígnios autônomos. Ou seja, a distinção fundamental entre os dois tipos de concurso formal varia de acordo com o elemento subjetivo que animou o agente ao iniciar a sua conduta. 2. A expressão “desígnios autônomos” refere-se a qualquer forma de dolo, seja ele direto ou eventual. Vale dizer, o dolo eventual também representa o endereçamento da vontade do agente, pois ele, embora vislumbrando a possibilidade de ocorrência de um segundo resultado, não o desejando diretamente, mas admitindo-o, aceita-o. 3. No caso dos autos, os delitos concorrentes – falecimento da mãe e da criança que estava em seu ventre –, oriundos de uma só conduta – facadas na nuca da mãe –, resul- taram de desígnios autônomos. Em consequência dessa caracterização, vale dizer, do reconhecimento da independência das intenções do paciente, as penas devem ser apli- cadas cumulativamente, conforme a regra do concurso material, exatamente como reali- zado pelo Tribunal de origem. 4. Constatando-se que não houve efetiva colaboração do paciente com a investigação policial e o processo criminal, tampouco fornecimento de informações eficazes para a descoberta da trama delituosa, não há como reconhecer o benefício da delação pre- miada. 5. Ordem denegada. (HC 191.490/RJ, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 27/09/2012, DJe 09/10/2012). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 11 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias O concurso formal entre crimes iguais (mesmo tipo penal) é chamado de homogêneo; enquan- to o concurso formal entre crimes diferentes é denominado de heterogêneo. Toda vez que a exasperação do concurso formal próprio ou da continuidade delitiva ficar maior do que a soma, o julgador deverá usar o critério da soma, conforme regra do parágrafo único do art. 70, remetida ainda no fim do parágrafo único do art. 71. Isso é denominado de concurso material benéfico. Sobre o tema, segue esclarecedor julgado do STJ: [...] 8. O concurso formal próprio ou perfeito (CP, art. 70, primeira parte), cuja regra para a aplicação da pena é a da exasperação, foi criado com intuito de favorecer o réu nas hipóteses de pluralidade de resultados não derivados de desígnios autônomos, afas- tando-se, pois, os rigores do concurso material (CP, art. 69). Por esse motivo, o pará- grafo único do art. 70 do Código Penal impõe o afastamento da regra da exasperação, se esta se mostrar prejudicial ao réu, em comparação com o cúmulo material. Trata-se, portanto, da regra do concurso material benéfico, como teto do produto da exasperação da pena. 9. No caso, o Tribunal de origem condenou o paciente pela prática de três crimes de cor- rupção de menores, em concurso formal, à pena de 1 ano de reclusão e de três crimes de roubo majorado, igualmente em concurso formal, à pena de 7 anos e 1 mês de reclusão. As instâncias ordinárias aplicaram a exasperação da pena de 1/6 por outro concurso formal entre os crimes de corrupção de menores e os de roubo, o que revelaria a pena final de 8 anos e 3 meses de reclusão. Há, pois, manifesta violação da regra do con- curso material benéfico, porquanto a pena final resultante do concurso material entre os crimes de roubo, em concurso formal, e corrupção de menores, igualmente em concurso formal, seria de 8 anos e 1 mês. Por conseguinte, de rigor a redução da pena final do paciente para 8 anos e 1 mês de reclusão. 10. O regime de cumprimento inicial da pena fechado mostra-se adequado. O paciente foi condenado à penal final de 8 anos e 1 meses de reclusão, é primário e a sua pena-base foi fixada acima do mínimo legal, portanto, nos termos do art. 33, § 2º, “a”, e § 3º, do Código Penal, de rigor a fixação do regime inicial de cumprimento de pena fechado. 11. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para reduzir a pena final do paciente para 8 anos e 1 mês de reclusão, mantendo-se o regime de cumprimento de pena fechado. (HC 401.764/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 07/12/2017, DJe 14/12/2017). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 12 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias 1.4.1. Jurisprudência e Concurso Formal A jurisprudência do STJ tem decidido pela existência de concurso formal impróprio (soma das penas) entre os crimes entre roubo e roubo com resultado morte (latrocínio) cometidos no mesmo contexto fático, uma vez que seriam crimes do mesmo gênero, mas não da mesma espécie. Isso é, nessa hipótese, há impossibilidade de continuidade delitiva. Concurso formal impróprio entre o 157 e o 157 § 3º II do CP: [...] 1. Não obstante configurado concurso formal impróprio, e não concurso material, quando praticado os crimes de roubo e latrocínio tentado em um mesmo contexto fático, mediante uma só ação, contra vítimas diferentes, inexiste reflexo na dosimetria da pena, por ser idêntica à regra do concurso material, nos termos do art. 70, segunda parte, do CP. 2. Aplica-se o princípio da consunção ao crime de porte ilegal de arma de fogo e aos delitos contra o patrimônio ocorridos no mesmo contexto fático, quando presente nexo de dependência entre as condutas, considerando-se o porte crime-meio para a execu- ção do roubo e do latrocínio tentado. 3. Não incide a Súmula 7/STJ quando os fatos se encontram delimitados pelo acórdão recorrido, sendo necessária nova valoração jurídica da prova, e não reexame fático-probatório, uma vez que a conduta do réu se apresenta incontroversa. 4. Agravo regimental provido para redimensionar a pena. (AgRg no AREsp 1395908/MG, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 05/09/2019, DJe 12/09/2019). É certo ainda que a jurisprudência atual do STJ entende que o cometimento de mais de um latrocínio no mesmo contexto fático configura hipótese de concurso formal impróprio, com penas somadas. Não se trata, portanto, de continuidade delitiva. [...] 3. Prevalece, no Superior Tribunal de Justiça, o entendimento no sentido de que, nos delitos de latrocínio – crime complexo, cujos bens jurídicos protegidos são o patrimônio e a vida –, havendo uma subtração, porém mais de uma morte, resta configurada hipó- tese de concurso formal impróprio de crimes e não crime único. Precedentes. 4. Habeas corpus não conhecido. (HC 185.101/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA,julgado em 07/04/2015, DJe 16/04/2015). Além disso, a jurisprudência tem decidido que o cometimento de vários roubos em um mesmo contexto fático configura concurso formal próprio. Essa posição, segundo pensamos, O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 13 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias não está em sintonia com a dogmática penal do concurso de crimes disposta na Parte Geral do Código Penal, uma vez que o agente tem ciência do cometimento dos roubos contra vítimas distintas e com subtração de patrimônios distintos, como ocorre, por exemplo, na situação cor- riqueira no Brasil, na qual o agente, com o emprego de arma, ingressa em ônibus de transporte coletivo e rouba celulares de várias vítimas, mediante o emprego de arma de fogo. A jurispru- dência pacífica do STJ sustenta o concurso formal próprio na referida hipótese de concurso de crimes, quando na verdade as penas deveriam ser somadas. [...] 9. É assente nesta Corte Superior que o roubo perpetrado contra diversas vítimas, ainda que ocorra em um único evento, configura o concurso formal e não o crime único, ante a pluralidade de bens jurídicos tutelados ofendidos” (HC 430.716/SP, Rel. Minis- tro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 19/6/2018, DJe 29/6/2018). 10. Caso tenha sido estabelecida a pena-base acima do mínimo legal, por ter sido desfa- voravelmente valorada circunstância do art. 59 do Estatuto Repressor, admite-se a fixa- ção de regime prisional mais gravoso do que o indicado pelo quantum de reprimenda imposta ao réu. 11. Writ não conhecido. Ordem concedida, de ofício, tão somente para reduzir a 1/3 o aumento pela incidência de três majorantes do crime de roubo, determinando ao Juízo das Execuções que promova à nova dosagem da pena. (HC 508.924/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 11/06/2019, DJe 18/06/2019). A jurisprudência tem decidido, ainda, que a corrupção de menores prevista no art. 244 B do ECA convive com o roubo, majorado pelo concurso de pessoas (art. 157, § 2º, II), na forma do concurso formal próprio, não havendo bis in idem. Seguem julgados do STJ sobre o tema: [...] 4. Esta Corte Superior firmou sua compreensão no sentido de que “deve ser reconhe- cido o concurso formal entre os delitos de roubo e corrupção de menores (art. 70, pri- meira parte, do CP) na hipótese em que, mediante uma única ação, o réu praticou ambos os delitos, tendo a corrupção de menores se dado em razão da prática do delito patri- monial” (REsp 1.719.489/GO, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, jul- gado em 23/08/2018, DJe 04/09/2018). 5. Agravo regimental desprovido. Habeas corpus concedido, de ofício. (AgInt no AREsp 1595833/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 04/02/2020, DJe 17/02/2020). 1. A Terceira Seção deste Superior Tribunal, no julgamento do Recurso Especial Repre- sentativo da Controvérsia n. 1.127.954/DF, uniformizou o entendimento de que, para a configuração do crime de corrupção de menores, basta que haja evidências da participação O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 14 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias de menor de 18 anos no delito e na companhia de agente imputável, sendo irrelevante o fato de o adolescente já estar corrompido, porquanto se trata de delito de natureza formal. Incidência da Súmula n. 500 do STJ. 2. Não configura bis in idem a aplicação da majorante relativa ao concurso de pessoas no roubo e a condenação do agente por corrupção de menores, tendo em vista serem condutas autônomas que atingem bens jurídicos distintos. Precedentes. 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1806593/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, jul- gado em 26/05/2020, DJe 04/06/2020). [...] 2. Atos infracionais pretéritos não constituem fundamentação idônea para a avalia- ção negativa dos antecedentes criminais nem se prestam a configurar reincidência. 3. Deve ser reconhecido o concurso formal de crimes quando a corrupção de menores ocorre em razão da prática de delito de roubo majorado na companhia do adolescente. 4. Agravo regimental desprovido. Ordem de habeas corpus concedida, de ofício, para afastar os maus antecedentes e a reincidência, reconhecer o concurso formal entre os delitos e redimensionar a pena imposta. (AgRg no AREsp 1665758/RO, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 19/05/2020, DJe 05/06/2020). O aumento da pena do concurso formal próprio leva em conta o número de crimes. Desse modo: 2 crimes= 1/6; 3 crimes= 1/5; 4 crimes= 1/4: cinco crimes= 1/3; seis ou mais crimes= 1/2. Essa é posição pacífica da jurisprudência atual: STJ [...] 5. Nos termos da jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, o aumento decorrente do concurso formal tem como parâmetro o número de delitos perpetrados, devendo ser a pena de um dos crimes exasperada de 1/6 até 1/2. Por certo, o acréscimo correspondente ao número de três infrações é a fração de 1/5. Nesse contexto, deve a reprimenda ser definida em 6 anos, 4 meses e 24 dias de reclusão pelos crimes de roubo e corrupção de menores praticados em concurso formal, quantum mais benefício do que o cabível se considerado o concurso material de delitos. 6. In casu, reconhecida a presença de circunstância judicial desfavorável, deve ser man- tido o meio prisional fechado, conforme a dicção do art. 33, §§ 2º e 3º, do CP, levando- -se em conta a reprimenda imposta ao paciente, superior a 4 anos e inferior a 8 anos de reclusão. 7. Writ não conhecido. Ordem concedida, de ofício, a fim de definir a reprimenda em 6 anos, 4 meses e 24 dias de reclusão, ficando mantido o regime prisional fechado. (HC 544.961/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 04/02/2020, DJe 12/02/2020). 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O STJ tem jurisprudência consolidada acerca do crime continuado: sobre a sua natureza (ficção jurídica): sobre a necessidade de conjugar os requisitos objetivos com o requisito sub- jetivo da unidade de desígnios (teoria objetivo-subjetiva ou mista): quanto à inaplicabilidade do instituto no caso de criminoso habitual; no que concerne ao intervalo temporal de 30 dias entre os crimes, além de outros esclarecimentos. [...] 2. O crime continuado é benefício penal, modalidade de concurso de crimes, que, por ficção legal, consagra unidade incindível entre os crimes parcelares que o formam, para fins específicos de aplicação dapena. Para a sua aplicação, a norma extraída do art. 71, caput, do Código Penal exige, concomitantemente, três requisitos objetivos: I) plu- ralidade de condutas; II) pluralidade de crime da mesma espécie; III) condições seme- lhantes de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes (conexão tempo- ral, espacial, modal e ocasional); IV) e, por fim, adotando a teoria objetivo-subjetiva ou mista, a doutrina e jurisprudência inferiram implicitamente da norma um requisito da unidade de desígnios na prática dos crimes em continuidade delitiva, exigindo-se, pois, que haja um liame entre os crimes, apto a evidenciar de imediato terem sido esses deli- tos subsequentes continuação do primeiro, isto é, os crimes parcelares devem resultar de um plano previamente elaborado pelo agente. 3. Nos termos da jurisprudência desta Corte, “inexistindo previsão legal expressa a res- peito do intervalo temporal necessário ao reconhecimento da continuidade delitiva, pre- sentes os demais requisitos da ficção jurídica, não se mostra razoável afastá-la, apenas pelo fato de o intervalo ter ultrapassado 30 dias” (AgRg no AREsp 531.930/SC, Rel. Minis- tro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 3/2/2015, DJe 13/2/2015). 4. No caso, deve ser reconhecida a configuração da continuidade delitiva entre os crimes, por restar demonstrado o liame subjetivo entre as condutas, assim como preenchimento dos elementos de ordem objetiva necessários para a concessão do benefício. Perpetra- dos crimes da mesma espécie em comarca limítrofes, com o mesmo modus operandi, o simples fato de ter decorrido prazo um pouco superior a 30 dias entre a terceira conduta e a última conduta não afasta a viabilidade da concessão do referido benefício. 5. Pedido de extensão deferido a fim de estabelecer a pena do requerente em 6 anos, 2 meses e 20 dias de reclusão, mais 20 dias-multa, a ser cumprida em regime fechado. (PExt no HC 490.707/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 01/09/2020, DJe 08/09/2020). 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O parâmetro, para exas- perar a pena na continuidade delitiva simples (caput do art. 71), é o número de crimes. Os requisitos apontados no caput do art. 71 são cumulativos. Isso significa dizer que, na falta de um dos requisitos, o agente responderá por concurso material de crimes e não recebe- rá os benefícios da continuidade delitiva. Crimes da mesma espécie são, em regra, os que estão previstos no mesmo tipo penal e que ofendem o mesmo jurídico, ou seja, são os que possuem a mesma estrutura típica. Cons- titui um requisito objetivo. Exemplos: arts. 155 + 155, 171 + 171 etc. Todavia, vale ressaltar que o STJ não admite continuidade delitiva entre o 157 (roubo) e o 157 §3º, inciso II (latrocínio), conforme visto anteriormente no item sobre concurso formal de crimes. [...] 8. No caso dos crimes de roubo majorado e latrocínio, sequer é necessário avaliar o requisito subjetivo supracitado ou o lapso temporal entre os crimes, porquanto não há adimplemento do requisito objetivo da pluralidade de crimes da mesma espécie. São assim considerados aqueles crimes tipificados no mesmo dispositivo legal, consuma- dos ou tentada, na forma simples, privilegiada ou tentada, e além disso, devem tutelar os mesmos bens jurídicos, tendo, pois, a mesma estrutura jurídica. Perceba que o roubo tutela o patrimônio e a integridade física (violência) ou o patrimônio e a liberdade indivi- dual (grave ameaça); por outro lado, o latrocínio, o patrimônio e a vida. 9. Habeas corpus não conhecido. (HC 449.110/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 02/06/2020, DJe 10/06/2020). [...] 1. Na hipótese, o réu foi condenado pela prática do crime previsto no art. 218-B, § 2º, inciso I, do CP contra duas vítimas. Assim, é possível reconhecer a continuidade delitiva na presente hipótese, uma vez que os crimes são da mesma espécie e foram cometidos nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução. 2. Agravo regimental desprovido. (AgRg nos EDcl no REsp 1741843/PR, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 27/08/2019, DJe 04/09/2019). Conquanto o ponto de partida para a análise do sentido da expressão crimes da mesma seja a ideia de mesmo tipos penal, e não a solução que contempla os crimes que ferem o mes- mo bem jurídico, há decisões casuísticas, em situações singulares, que fogem dessa premissa. Já O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 17 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias decidiu o STJ que o estupro do 213 é crime da mesma espécie em relação ao art. 217-A. Tais decisões, nesses casos, têm feito uso do fundamento, outro minoritário, de que crimes da mesma espécie são os que ofendem o mesmo bem jurídico. [...] 2. Para fins da aplicação do instituto do crime continuado, art. 71 do Código Penal, pode-se afirmar que os delitos de estupro de vulnerável e estupro, descritos nos arts. 217-A e 213 do CP, respectivamente, são crimes da mesma espécie. 3. Em relação ao critério temporal, a jurisprudência deste Tribunal Superior utiliza como parâmetro o interregno de 30 dias. Importante salientar que esse intervalo de tempo serve tão somente como parâmetro, devendo ser tomado por base pelo magistrado sen- tenciante diante das peculiaridades do caso concreto. [...] (REsp 1767902/RJ, Rel. Minis- tro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 13/12/2018, DJe 04/02/2019). [...] II – Os crimes da mesma espécie, para fins de reconhecimento da figura da continui- dade delitiva, não são necessariamente os que estejam previstos no mesmo tipo penal, mas os que possuem, essencialmente, o mesmo modo de execução e tutelam o mesmo bem jurídico. III – Verifica-se que, entre os delitos do art. 213 (‘Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso’) e do art. 217-A (‘Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos’) do Código Penal, há semelhança quanto aos elementos objetivos do tipo e identidade do bem jurídico tutelado. Assim, não há impedimento à apli- cação da regra da continuidade delitiva. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1562088/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 16/10/2018, DJe 22/10/2018). Vale enfatizar ainda que há julgado casuístico da 6ª Turma do STJ que admitiu a continui- dade delitiva entre os crimes de apropriação indébita previdenciária e sonegação previdenci- ária, previstos em tipos penais distintos. RECURSO ESPECIAL. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA – ART. 168-A DO CÓDIGO PENAL. SONEGAÇÃO PREVIDENCIÁRIA – ART. 337-A DO CÓDIGO PENAL.CON- TINUIDADE DELITIVA. POSSIBILIDADE. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA PRA- TICADA EM EMPRESAS DIVERSAS PERTENCENTES AO MESMO GRUPO EMPRESARIAL. CRIME CONTINUADO. POSSIBILIDADE. 1. É possível o reconhecimento de crime continuado em relação aos delitos tipificados nos artigos 168-A e 337-A do Código Penal, porque se assemelham quanto aos elemen- tos objetivos e subjetivos e ofendem o mesmo bem jurídico tutelado, qual seja, a arre- cadação previdenciária. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 18 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias 2. A prática de crimes de apropriação indébita previdenciária em que o agente estiver à frente de empresas distintas, mas pertencentes ao mesmo grupo empresarial, não afasta o reconhecimento da continuidade delitiva. 3. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 859.050/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 03/12/2013, DJe 13/12/2013). De outro lado, há julgado mais recente do STJ da 5ª Turma do STJ que afirmou a impos- sibilidade de continuidade delitiva entre os crimes de apropriação indébita previdenciária e sonegação previdenciária, previstos em tipos penais distintos. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. APROPRIAÇÃO INDÉ- BITA PREVIDENCIÁRIA E SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. DELITOS DE ESPÉCIES DIVERSAS. DESCRIÇÃO DE CONDUTAS DISTINTAS. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DE CRIME CONTINUADO. I – Os delitos de apropriação indébita pre- videnciária e de sonegação de contribuição previdenciária, previsto nos arts. 168-A e 337-A, ambos do Código Penal, embora sejam do mesmo gênero, são de espécies diver- sas, porquanto os tipos penais descrevem condutas absolutamente distintas. II – Esta Corte Superior tem entendimento consolidado no sentido de que é impossível o reco- nhecimento da continuidade delitiva entre crimes de espécies distintas. Precedentes. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp 1172428/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 12/06/2018, DJe 20/06/2018). No que concerne às condições de tempo, o CP não especificou um intervalo temporal. No entanto, a jurisprudência entende que os crimes devem ser cometidos em até 30 dias de inter- valo entre eles. É certo que esse critério não absoluto. Dessa forma, preenchendo os demais requisitos, se ultrapassar um pouco os 30 dias, conforme a valoração do julgador, poderá ser concedido benefício da continuidade de delitiva como espécie de concurso de crimes. Ademais, os crimes devem acontecer em localidades próximas, que será objeto de valo- ração do julgador. O agente deve utilizar o mesmo modo de execução no cometimento dos crimes, de forma que não poderá alterar a forma de execução dos crimes (exemplo: usou um comparsa para cometer um estupro, enquanto no outro estupro, agiu sozinho. Nesse caso, não haverá continuidade delitiva). [...] 4. No caso, deve ser reconhecida a configuração da continuidade delitiva entre os crimes, por restar demonstrado o liame subjetivo entre as condutas, assim como preen- chimento dos elementos de ordem objetiva necessários para a concessão do benefício. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 19 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias Perpetrados crimes da mesma espécie em comarca limítrofes, com o mesmo modus operandi, o simples fato de ter decorrido prazo um pouco superior a 30 dias entre a terceira conduta e a última conduta não afasta a viabilidade da concessão do referido benefício. 5. Pedido de extensão deferido a fim de estabelecer a pena do requerente em 6 anos, 2 meses e 20 dias de reclusão, mais 20 dias-multa, a ser cumprida em regime fechado. (PExt no HC 490.707/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 01/09/2020, DJe 08/09/2020). [...]– O instituto da continuidade delitiva, previsto no art. 71 do Código Penal, prescreve que há crime continuado quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pra- tica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, de forma que os delitos subsequentes devem ser havidos como continuação do primeiro. – A jurisprudência desta Corte Superior firmou entendimento no sentido de que a carac- terização da continuidade delitiva pressupõe a existência de ações praticadas em idên- ticas condições de tempo, lugar e modo de execução (requisitos objetivos), além de um liame a indicar a unidade de desígnios (requisito subjetivo). – Na espécie, em que pese os crimes da mesma espécie (três roubos majorados) hajam sido cometidos nas mesmas condições de tempo (lapso inferior a 30 dias) e com alguma semelhança de modo de execução, foram praticados em locais distintos e contra vítimas diversas, bem como ausente o requisito subjetivo, isto é, uma ligação concreta, por meio da qual, necessariamente, ficasse demonstrado que os crimes tenham sido praticados um em continuidade do outro. Afinal, a Corte estadual consignou expressamente que os crimes foram cometidos em datas distintas, contra vítimas distintas, e com modus ope- randi distintos, o que, inclusive, reverberou nas penas-bases e nas majorantes de cada um dos roubos, caracterizando, portanto, reiteração delitiva (e-STJ, fl. 52). Assim, o caso é de reiteração e não de continuidade delitiva, inexistindo, portanto, ilegalidade a ser sanada. [...] (AgRg no HC 616.743/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 20/10/2020, DJe 26/10/2020). Apesar de o CP nada mencionar quanto à habitualidade criminosa, tanto o STJ quanto o STF negam a continuidade delitiva para o criminoso habitual, que faz do crime o meio de vida, como uma “atividade profissional” voltada ao cometimento de ilícito. [...] 1. A pretensão de reconhecimento da continuidade delitiva não merece acolhimento, pois, no caso, os delitos foram praticados de formas distintas, em tempo e locais diver- sos, o que resultou em concurso material, não havendo liame subjetivo entre eles, já que O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 20 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias a ação posterior independeu da anterior, além de o réu praticar habitualmente o delito em apreço. 2. Para o reconhecimento de crime continuado, na forma do art. 71 do Código Penal, a sequência criminosa deveria ser considerada como uma só infração penal, assim, não haveria o que se falar em concurso de crimes já que na verdade seria um crime somente, porém continuado. 3. Segundo a jurisprudência desta Corte Superior, a reiteração criminosa e a habituali- dade delitiva afastam a possibilidade de reconhecimento do crime continuado [...] (REsp n. 1.501.855/PR, relator Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 16/5/2017, DJe 30/5/2017, grifei). 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no HC 556.968/SC, Rel. Ministro ANTONIOSALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 18/08/2020, DJe 26/08/2020). Para o STJ, vigora a teoria objetivo-subjetiva ou mista, ou seja, há necessidade de conju- gar os requisitos objetivos da continuidade delitiva com a unidade de desígnios (proposta úni- ca, objetivo inicial de praticar diversos crimes, um liame entre os crimes). A jurisprudência do STJ não se satisfaz, na continuidade delitiva, apenas com a presença dos requisitos objetivos, não adota, portanto, a teoria objetiva. STJ [...] 3. O Superior Tribunal de Justiça, ao interpretar o art. 71 do Código Penal, adotou a teoria mista, pela qual a ficção jurídica do crime continuado exige, além da comprova- ção dos requisitos de ordem subjetiva, a unidade de desígnios, ou seja, o liame volitivo entre os delitos, a demonstrar que os atos criminosos se apresentam entrelaçados, isto é, que a conduta posterior constitui um desdobramento da anterior. Precedentes. [...] (REsp 1449981/AL, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 12/11/2019, DJe 16/12/2019). [...] 6. O crime continuado é benefício penal, modalidade de concurso de crimes, que, por ficção legal, consagra unidade incindível entre os crimes parcelares que o formam, para fins específicos de aplicação da pena. Para a sua aplicação, a norma extraída do art. 71, caput, do Código Penal exige, concomitantemente, três requisitos objetivos: I) pluralidade de condutas; II) pluralidade de crime da mesma espécie; III) e condições semelhantes de tempo lugar, maneira de execução e outras semelhantes (conexão temporal, espacial, modal e ocasional). 7. Adotando a teoria objetivo-subjetiva ou mista, a doutrina e jurisprudência inferiram implicitamente da norma um requisito outro de ordem subjetiva, que é a unidade de desígnios na prática dos crimes em continuidade delitiva, exigindo-se, pois, que haja um liame entre os crimes, apto a evidenciar de imediato terem sido os crimes subsequentes O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 21 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias continuação do primeiro, isto é, os crimes parcelares devem resultar de um plano pre- viamente elaborado pelo agente. 8. No caso dos crimes de roubo majorado e latrocínio, sequer é necessário avaliar o requisito subjetivo supracitado ou o lapso temporal entre os crimes, porquanto não há adimplemento do requisito objetivo da pluralidade de crimes da mesma espécie. São assim considerados aqueles crimes tipificados no mesmo dispositivo legal, consuma- dos ou tentada, na forma simples, privilegiada ou tentada, e além disso, devem tutelar os mesmos bens jurídicos, tendo, pois, a mesma estrutura jurídica. Perceba que o roubo tutela o patrimônio e a integridade física (violência) ou o patrimônio e a liberdade indivi- dual (grave ameaça); por outro lado, o latrocínio, o patrimônio e a vida. 9. Habeas corpus não conhecido. (HC 449.110/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 02/06/2020, DJe 10/06/2020). [...] Nos termos do entendimento firmado por esta Corte, caracteriza-se a ficção jurí- dica do crime continuado quando preenchidos tanto os requisitos de ordem objetiva – mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução do delito – quanto os de ordem subjetiva – a denominada unidade de desígnios ou vínculo subjetivo entre os eventos criminosos. 5. Não verificada a presença do requisito subjetivo pela instância ordinária, impróprio o seu reconhecimento na via do especial, por demandar revolvimento do con- junto fático-probatório, o que encontra óbice pela Súmula 7/STJ. 6. Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp 1469632/PR, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 03/10/2019, DJe 08/10/2019). 1.5.2. Continuidade Delitiva do Parágrafo Único do Art. 71 O parágrafo único do art. 71 trata da continuidade delitiva especial ou qualificada, segun- do a linguagem doutrinária. Nessa modalidade, além da necessidade de presença dos requi- sitos vistos anteriormente, objetivos e subjetivo, aplicados à continuidade simples, é preciso, ainda, conjugar outros requisitos apontados pelo legislador: crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa; e contra vítimas diferentes. A regra de aplicação da pena na continuidade delitiva específica é diferente da existente no caput, válida para a continuidade simples, que indica o aumento de 1/6 a 2/3, conforme o número de crimes. Na continuidade específica do parágrafo único, o julgador poderá aumentar a pena até o triplo, levando em conta não somente o número de crimes, mas também algumas circunstancias do art. 59, exaradas pelo legislador no referido parágrafo. Na análise da exasperação da pena em razão da continuidade delitiva prevista no parágra- fo único, o julgador, conforme dito no parágrafo anterior, levará em conta o número de crimes O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 22 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias determinas circunstâncias judiciais expressas, quais sejam: a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias. Nes- se caso, o fato de referidas circunstancias já terem sido consideradas no momento da pena base não impede uma nova valoração quando da análise da continuidade delitiva. Não há se falar em bis in idem. Nesse sentido tem decidido o STJ: [...]1. No caso, a pena de um dos crimes de homicídio foi dobrada, em razão da conti- nuidade delitiva (três delitos), tendo sido considerado o fato de uma das vítimas ser criança, com apenas quatro anos de idade, e elementos próprios às circunstâncias judi- ciais, como a culpabilidade acentuada e a conduta social reprovável. 2. Não há falar em bis in idem na reavaliação das circunstâncias judiciais para o fim de estipular o quantum de aumento pela continuidade delitiva, uma vez que o procedimento decorre de expresso mandamento legal, nos termos do que previsto no art. 71, pará- grafo único, do Código Penal. 3. Em relação ao percentual de aumento em razão da continuidade delitiva, não cabe em agravo regimental a análise de matéria que não foi deduzida em recurso especial, por se tratar de inovação recursal. 4. Agravo regimental conhecido em parte e, nessa extensão, desprovido. (AgRg no AgRg no REsp 1587199/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 20/10/2020, DJe 22/10/2020). [...] VIII – O art. 71, caput e parágrafo único, do Código Penal preveem duas modalidades de crime continuado. Enquanto na continuidade qualificada o órgão julgador observará a quantidade de condutas praticadas em paralelo como a culpabilidade do autor; na con- tinuidade simples impera o chamado critério objetivo puro, ou seja, a fração de exaspe- ração é diretamente proporcional ao número de reiterações delitivas. IX – No que diz respeito à continuidade simples, “a jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que a fração referente à continuidade delitiva deve ser firmada de acordo com o número de delitos cometidos, aplicando-se o aumento de 1/6 pela prática de 2 infra- ções; 1/5 para 3 infrações; 1/4 para 4 infrações; 1/3 para 5 infrações; 1/2 para 6 infrações e 2/3 para 7 ou mais infrações (AgRg no AREsp n. 1.377.172/RS, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 24.10.2019). X – O reconhecimentoda continuidade delitiva entre os crimes de corrupção ativa e lava- gem de dinheiro afigura-se inviável, pois, mesmo que se olvide o fato de se tratarem de espécies delitivas distintas, eis que possuem elementares típicas e objetividade jurídica totalmente distintas, o exame da tese defensiva exigiria o afastamento das premissas fáticas esteares da decisão reprochada, juízo que ultrapassa os propósitos do Recurso Especial. [...] Agravo Regimental conhecido e parcialmente provido. (AgRg no REsp 1792710/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 15/09/2020, DJe 23/09/2020). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 23 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias O julgador ainda deverá respeitar o limite do concurso material benéfico, de modo que a exasperação não poderá superar a soma das penas. Outro limite narrado é o de 30 anos, o qual tem sido entendido (STJ) como limite de cumprimento da pena e não limite para figurar na sentença. De todo modo, esse limite de cumprimento foi aumentado pela Lei 13964/2019, que alterou o art. 75 do CP, explicitando o limite de 40 anos para o cumprimento da pena. [...] 2. Tendo o órgão colegiado fundado o aumento de 1/2 na culpabilidade acentuada do paciente e nas graves consequências dos homicídios, não se pode acoimar de ilegal ou injustificada a escolha do quantum de elevação, já que é o próprio legislador que permite que o aumento, em casos de crime continuado específico, se dê até o triplo, e não na forma do caput do artigo 71 do Código Penal, observados apenas os limites que seriam alcançados em caso de concurso material, e o de 30 anos, estabelecido no artigo 75 do Estatuto Repressivo. 3. Habeas corpus não conhecido. (HC 250.088/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 18/12/2012, DJe 01/02/2013). Vale ressaltar ainda o sentido da expressão violência contida no parágrafo único do art. 71. Para o STJ, a palavra violência se refere à violência real, de modo que não alcançará as condutas perpetradas contra vulnerável, em casos de estupros, quando não houver violência real, ou seja, quando não houver violência física ou grave ameaça. Desse modo, se o agente comete vários estupros contra adolescentes de 13 anos, sem violência real e sem grave ame- aça, a solução, se preenchidos os requisitos, será a continuidade delitiva do caput, não a do parágrafo único. STJ [...] – O crime continuado é benefício penal, modalidade de concurso de crimes, que, por ficção legal, consagra unidade incindível entre os crimes que o formam, para fins especí- ficos de aplicação da pena. Para a sua aplicação, o art. 71, caput, do Código Penal exige, concomitantemente, três requisitos objetivos: I) pluralidade de condutas; II) pluralidade de crimes da mesma espé- cie; e III) condições semelhantes de tempo, lugar, maneira de execução e outras seme- lhantes. – A continuidade delitiva específica, descrita no art. 71, parágrafo único, do Código Penal, além daqueles exigidos para a aplicação do benefício penal da continuidade delitiva sim- ples, exige que os crimes praticados: I) sejam dolosos; II) realizados contra vítimas dife- rentes; e III) cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 24 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias – No caso em tela, os atos libidinosos praticados contra as vítimas vulneráveis foram desprovidos de qualquer violência real, contando apenas com a presunção absoluta e legal de violência do próprio tipo delitivo. – ‘A violência de que trata a continuidade delitiva especial (art. 71, parágrafo único, do Código Penal) é real, sendo inviável aplicar limites mais gravosos do benefício penal da continuidade delitiva com base, exclusivamente, na ficção jurídica de violência do legis- lador utilizada para criar o tipo penal de estupro de vulnerável, se efetivamente a con- junção carnal ou ato libidinoso executado contra vulnerável foi desprovido de qualquer violência real [...]’ (HC 232.709/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, Quinta Turma, julgado em 25/10/2016, DJe 09/11/2016). – Esta Corte Superior firmou a compreensão de que o aumento no crime continuado comum é determinado em função da quantidade de delitos cometidos. – Assim, no caso, tendo sido cometidos crimes de estupro de vulnerável, com violência presumida, contra 8 vítimas diferentes, incide a continuidade delitiva simples, devendo ser aplicado o aumento de 2/3, que resulta na reprimenda definitiva de 13 anos e 4 meses de reclusão. – Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para reduzir a pena do paciente ao novo patamar de 13 anos e 4 meses de reclusão, mantidos os demais termos da condenação. (HC 483.468/GO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, jul- gado em 05/02/2019, DJe 14/02/2019). É certo que a continuidade delitiva do caput é mais benéfica do que a do parágrafo único. Desse modo, considerando que o estupro é um crime hediondo, considerando que o estupro de vulnerável foi valorado pelo legislador como uma conduta mais grave do que o estupro de vítima não vulnerável, a interpretação do STJ, exarada no julgado anterior, segundo pensa- mos, revela desproporcionalidade e, portanto, ofensa ao princípio da proibição da tutela penal deficiente. Importa destacar ainda a possibilidade de continuidade delitiva em crimes dolosos contra a vida, ou seja, a súmula 605 do STF, conquanto não tenha sido ainda cancelada, está prejudi- cada. Isso porque a Reforma da Parte Geral do CP, ocorrida em 1984, por meio da Lei 9.709/84, permitiu, com a redação do parágrafo único do art. 71, a possibilidade de continuidade delitiva em crimes dolosos contra a vida cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, dentre os quais, a título de ilustração, homicídio, estupro e outros. [...] 1. Os crimes praticados constituem infrações penais da mesma espécie (dois homi- cídios qualificados), praticados sob as mesmas condições de tempo e lugar, agindo com idêntico modus operandi, e em concurso de agentes. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 25 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias 2. Aliada às conexões de caráter espacial e de ordem temporal, o comportamento infra- cional do agravante ficou caracterizado pela existência de uma pluralidade de vítimas, o que atrai a normatividade do parágrafo único do artigo 71 do Código Penal. 3. Configurado o chamado crime continuado específico, viabiliza-se a apenação mais gravosa. 4. O patamar de metade foi devidamente justificado pelo Juízo sentenciante, levando em consideração um critério de suficiência e necessidade, em vista da negati- vidade das circunstâncias avaliadas no artigo 59 do Código Penal, da periculosidade do agente, e da quantidade de vítimas. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no HC 309.823/SP, Rel. Ministro ANTONIOSALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 16/05/2017, REPDJe 14/08/2017, DJe 30/05/2017). 1. 5.3. Nova Redação do Estupro do Art. 213 do CP após as Alterações da Lei n. 12.015/2009 Após a Lei n. 12.015/2009, grandes divergências surgiram na interpretação do art. 213 do Código penal. Com o interesse de sanar algumas visões deturpadas e contribuir para o debate, busca-se apontar três situações possíveis na análise da nova redação do artigo, que foram confirmadas pela jurisprudência do STJ e do STF: • crime único • crime continuado • concurso material Crime único: a prática de diversos núcleos no mesmo contexto fático constitui um só crime (conflito aparente de normas-princípio da alternatividade). Exemplo: a foi condenado por estupro e atentado violento ao pudor na vigência da lei antiga. Provavelmente, teve as penas somadas (concurso material) com suporte no entendimento jurisprudencial da época, segundo o qual os crimes do 213 e do antigo 214 não eram da mesma espécie, não admitiam continuidade delitiva. Após a Lei n. 12.015/2009, incide, no caso de A (exemplo do parágrafo anterior), a retro- atividade benéfica. As duas ações (conjunção carnal e sexo anal por exemplo) são um único crime. Todavia, como A praticou dois verbos, o juiz deverá majorar a pena base (art. 59 do CP) de um único crime de estupro. Crime continuado: em contextos fáticos diversos, A incorreu, na vigência da lei antiga, nos arts. 213 e 214 do CP. As penas foram somadas. Com a Lei n. 12.015/2009, caso preenchidos os requisitos do parágrafo único do art. 71, mais a unidade de desígnio (teoria mista – STJ), A O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 26 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias terá direito à continuidade delitiva do parágrafo único (chamada de continuidade qualificada para diferenciá-la da continuidade simples que está no caput). Concurso material: em contextos fáticos diversos, A incorreu, na vigência da lei antiga, nos arts. 213 e 214 do CP. As penas foram somadas. Após a Lei n. 12.015/2009, caso não preenchi- dos os requisitos do parágrafo único do art. 71– basta faltar um dos requisitos da continuidade delitiva– as penas permaneceram somadas, uma vez que é possível o concurso material entre 213 e 213. Ora, por exemplo, se A é um criminoso habitual, profissional na prática desse crime ou de outros, ele não merece o benefício da continuidade delitiva. O STJ nega a continuidade delitiva para o criminoso habitual. Além disso, se não demonstrar a proposta única (unidade de desígnio), não haverá a continuidade delitiva. 1.6. ConCorrênCiA de ConCurso de Crimes Quando houver uma concorrência de concurso de crimes, o julgador deverá realizar todas as operações, seja de soma e/ou de exasperação. A título de ilustração, em caso de vários concursos formais próprios de crimes em concorrência com um concurso material, deverá o julgador exasperar as penas de cada concurso formal e depois somar as penas na forma do concurso material. Exemplo: Caio, mediante emprego de arma de fogo, no dia 25/03/2020, praticou vários roubos contra várias vítimas, dentro de um ônibus. Depois disso, em 25/06/2020, Caio, mediante con- curso de pessoas, restrição da liberdade das vítimas, emprego de arma de fogo, com ajuda do comparsa José, praticou vários roubos contra moradores que se encontravam em uma casa no Lago Norte (bairro, setor) no Distrito Federal. Nesse caso, em relação aos crimes de Caio, há um concurso formal próprio no primeiro episódio de crimes (dentro do ônibus) e outro concur- so formal próprio no segundo episódio (roubo contra várias vítimas dentro de uma residência). Entre os dois concursos formais de crimes, há um concurso material, ou seja, os resultados de penas dos concursos formais serão somados. Não há se falar em continuidade delitiva entre os dois concursos formais, uma vez que os episódios ultrapassaram o requisito tempo- ral (intervalo bem maior do que trinta dias) e, além disso, a forma de execução dos crimes foi diferente, com variação de comparsas. Portanto, faltaram, no mínimo, dois requisitos da con- tinuidade delitiva. Todavia, é importante alertar que, nos casos de concursos formais próprios em concorrên- cia de concursos com a continuidade delitiva, a jurisprudência do STJ despreza o aumento dos concursos formais e faz incidir apenas o aumento da continuidade delitiva. Dessa forma, se o julgador fizer incidir ambos os aumentos (o do formal e o do continuado), na visão do STJ, haverá bis in idem. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 27 de 86www.grancursosonline.com.br Concurso de Crimes, Punibilidade e Causas Extintivas da Punibilidade DIREITO PENAL – PARTE GERAL Dermeval Farias [...] AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO. DOSIMETRIA. CRIME FORMAL E CRIME CONTINUADO. BIS IN IDEM. OCORRÊNCIA. AGRAVO DESPROVIDO. 1. O Superior Tribunal de Justiça firmou orientação de que “a majoração da pena, inicial- mente pelo concurso formal e posteriormente pelo crime continuado, configura bis in idem (AgInt no HC n. 385.006/RJ, rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 28/3/2017, DJe 6/4/2017). 2. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 352.853/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 25/09/2018, DJe 03/10/2018). Informações complementares do Julgado AgRg no AREsp 1721171/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 15/09/2020, DJe 22/09/2020. Nos termos da jurisprudência desta Corte, em sintonia com a do STF, havendo con- curso formal entre dois delitos cometidos em continuidade delitiva, somente incidirá um aumento de pena, qual seja, a relativa ao crime continuado. Todavia, tal regra não tem aplicabilidade nas hipóteses em que um dos crimes não faça parte do nexo da continui- dade delitiva do outro delito, embora cometidos em concurso formal. 2. punibilidAde O crime é um fato típico, ilícito e culpável (conceito tripartido majoritário), há um conceito bipartido, minoritário, em alguns setores da doutrina nacional, ou seja, a ideia de que o crime é um fato típico e antijurídico, figurando a culpabilidade como pressuposto de aplicação de pena. 2.1. ConCeito e CArACterístiCAs dA punibilidAde Fazendo uso do conceito majoritário, tripartido, de crime ou mesmo do conceito minori- tário, a punibilidade não faz parte do conceito de crime, não são abrigadas pelo dolo e pela culpa. A punibilidade pode ser conceituada como o direito que possui o Estado de aplicar a pena descrita na norma penal incriminadora. Em sentido semelhante, o conceito é apontado da seguinte forma na doutrina nacional: [...] consequência natural da prática de uma conduta típica, ilícita e culpável levada a efeito pelo agente. Toda vez que o agente pratica uma infração penal, isto é, toda vez que infringe o nosso di- reito penal objetivo, abre-se a possibilidade para o Estado de fazer valer o seu ius puniendi. (GRECO, 2017, p.833). Possibilidade jurídica de impor sanção penal é mera condicionante ou pressuposto da consequên- cia jurídica do delito, não integrando o conceito analítico do mesmo. (PRADO, 2012, p.815). A punibilidade pode significar merecimento de pena (certeza) ou possibilidade de aplicar a pena (Zaffaroni e Pierangeli). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272,
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