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ABORDAGEM HISTÓRICO CULTURAL DE VYGOTSKY E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL Lev Semenovich Vygotsky, nasceu na Rússia em 1896 e morreu em 1934 O ponto de partida para o início da pesquisa de Vygotsky dentro da psicologia, aconteceu no ano de 1917 em meio à Revolução Russa, suas análises consistiam no desenvolvimento humano tendo como base o Materialismo Dialético de Karl Marx, no qual buscava compreender a relação que cada sujeito estabelecia com o mundo em que vivia. ATENÇÃO Em suas considerações, sob a influência da obra de Marx/Engels e do materialismo histórico dialético, assinala que as origens das formas superiores do comportamento (lembrar, comparar, falar, pensar, memorizar, etc.) deveriam ser estudadas a partir das relações sociais que os indivíduos estabelecem com o meio social em que vivem. ATENÇÃO A compreensão do desenvolvimento humano psicológico acontece dentro da dimensão histórica e cultural, na qual a essência humana está inserida nas interações sociais estabelecidas. Tal perspectiva fica evidente, quando ele estabelece a Lei Genética Geral do Desenvolvimento Cultural, onde afirma que no desenvolvimento infantil toda função psicológica aparece duas vezes: primeiro em nível social, e, depois, em nível individual. Para VYGOTSKY, o meio social é fonte de desenvolvimento e, essencialmente, social. Ele oferece os momentos de experiências e aprendizagens resultantes da interação da criança com a cultura, com os adultos e da apropriação dos signos e símbolos. Esta relação se amplia e se modifica em um processo de construção e reconstrução do pensar mais elementar ao mais complexo, estabelecendo-se assim modificações no desenvolvimento tanto no sentido quantitativo quanto no qualitativo. Cabe ressaltar que a base dos estudos de Vygotsky foram crianças e jovens abandonados, órfãos ou pessoas que se perderam da família, que apresentavam doenças derivadas da desnutrição, deficientes, com distúrbios emocionais, transtornos de conduta, envolvidas em delinquência, dentre uma série de características decorrentes de um período intenso de instabilidade econômica, política, cultural e social pelo qual passou a Rússia na década de 1920 e que está associada tanto ao período que abrangeu a Primeira Guerra Mundial quanto a Revolução Russa e a Guerra Civil Russa, o que tem muito a ver com a realidade de grande parte das escolas públicas brasileiras. Para VYGOTSKY, o indivíduo nasce com as aptidões e capacidades já preestabelecidas, o teórico nos mostra a construção de sua essência a partir das relações sociais. Com isso, pode-se afirmar que na abordagem sócio histórica “o desenvolvimento do sujeito acontece de fora para dentro”, o que difere significativamente da proposta de Piaget, no qual este compreende “o desenvolvimento humano de dentro para fora”. : ASSIM: se o indivíduo não nasce predeterminado, logo a educação que cada sujeito receber contribuirá para a sua formação humana, o que nos permite afirmar que, para Vygotsky, a educação é um processo de humanização do sujeito e contribui para o desenvolvimento. Quando as condições de educação e de vida dos sujeitos são adequadas: (...) as crianças se desenvolvem intensamente, e desde os primeiros anos de vida, praticam diferentes atividades práticas, intelectuais e artísticas. E iniciam a formação de ideias, sentimentos e hábitos morais e traços de personalidade que até pouco tempo atrás jamais julgávamos possível. Se o desenvolvimento acontece de fora para dentro compreende-se que é preciso que o sujeito aprenda isso em suas relações externas, para então internalizar e desenvolver-se. Isto significa que nesta linha, “não é o desenvolvimento que antecede e possibilita a aprendizagem, mas, ao contrário, é a aprendizagem que antecede, possibilita e impulsiona o desenvolvimento”. ATENÇÃO Sobre o processo de desenvolvimento e aprendizado na abordagem de Vygotsky, temos o conceito de zona de desenvolvimento, em que há o DESENVOLVIMENTO REAL – DESENVOLVIMENTO POTENCIAL e a ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL Desenvolvimento Real Diz respeito às etapas já alcançadas, já conquistadas pela criança. São processos de desenvolvimento já consolidados. Aquilo que a criança faz sem ajuda de outras pessoas. Desenvolvimento Potencial É determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. Isso indica que existe a possibilidade de alterar o desempenho de uma pessoa a partir da interferência de outra, mostrando a importância da interação para o desenvolvimento humano. IMPORTANTE ZDP= Zona de desenvolvimento proximal = É a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. Podemos afirmar que o que ensinamos às crianças precisa ter por base a ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL da mesma, para os estágios ainda não alcançados. Na organização dos períodos de desenvolvimento na abordagem histórico cultural de Vygotsky, encontramos três épocas de desenvolvimento: primeira infância, infância e adolescência. Cada uma destas épocas é caracterizada por atividades denominadas de dominantes, que permeiam a forma como este indivíduo apropria-se do mundo social. Primeira infância Este período que inicia no nascimento até aproximadamente os 3 anos, a criança tem como atividade dominante: A comunicação emocional direta No primeiro ano de vida da criança, o adulto é a peça central, pois ele permitirá esta relação social bebê – adulto. Ele não somente irá satisfazer as necessidades desta criança, como terá que apresentar o mundo a ela. Neste período o adulto é quem utilizará de ferramentas culturais para proporcionar e intensificar o desenvolvimento desta criança. ASSIM, o responsável/ cuidador deverá desenvolver um vínculo emocional positivo com o bebê. AÇÕES EDUCATIVAS Estabelecer relações de comunicação: responder ao choro, gestos, expressões faciais; • Estabelecer um contato visual e tátil; • Explorar o desenvolvimento da linguagem; • conversar com a criança dando espaço para que ela possa responder; • Repetir os sons que o bebê produz; • Cantar para o bebê; AÇÕES EDUCATIVAS • Contar histórias; • Ler livros; • Apresentar objetos para o bebê: estimula a coordenação viso-motora, a concentração visual; • Nomear os objetos que estão ao redor da criança, mostrando seus usos sociais e suas características físicas (formação dos sistemas sensoriais); • Auxiliar a criança a explorar o objeto: manipular, apalpar, movimentar; • Introduzir objetos cada vez mais complexos; • Organizar o AMBIENTE para favorecer a iniciativa da criança e permitir avanços em sua autonomia de explorar os objetos. ATIVIDADE OBJETAL MANIPULATÓRIA A partir dos dois anos, a atividade dominante passa a ser a atividade objetal manipulatória. A teoria de Vygotsky indica que a criança passa a assimilar o mundo das coisas, quais os significados e usos sociais dos objetos. No primeiro momento ela realiza ações que já conhece com o objeto: chacoalha, bate, coloca na boca. ATIVIDADE OBJETAL MANIPULATÓRIA • empilhar, • enrolar, • experimentar, • colocar objetos próximos, • relacionar dois objetos diferentes, • cor, • forma, • textura, • todos os movimentos possíveis. Atividades com ações psicomotoras Rasgar papeis, fazer bolinhas de papel, manipular massa de modelar, tampar e destampar potes. Os adultos que, em atividade conjunta com a criança ensinarão seu uso correto, conscientes de que não basta disponibilizar à criança objetos para livre exploração. Faz-se necessário mediar o processo de apropriação. Neste período também temos início a ampliação do vocabulário da criança: ela passa a buscar no adulto as informações necessárias para descobrir a função dos objetos. INFÂNCIA Este período vai aproximadamente dos 3 anos aos 10 anos de idade. Para Vygotsky, a transiçãoda 1ª infância para a infância é marcada por mudanças significativas no modo de ser e agir da criança, o que corresponde a um de período de crise. INFÂNCIA A criança está em busca de motivações, a crise representa mudanças. A criança mostra-se resistente aos adultos, quer tudo na hora, não sabe esperar, não aceita os limites impostos. Estas características são indícios de um momento de passagem. Atividade dominante: jogo de papeis/ faz de conta A brincadeira vem para satisfazer as necessidades da criança de agir no mundo. E ela passa a reproduzir as ações do adulto por meio do lúdico, em suas brincadeiras. As relações humanas são a essência da brincadeira, por isso elas brincam de pai, mãe, filho, professor, motorista… tudo que há em seu entorno. AÇÕES QUE EDUCAM Organizar e proporcionar espaços para as brincadeiras infantis; Cabe ao responsável organizar este momento do jogo de papeis; Disponibilizar brinquedos temáticos, que incentivem a representação de papeis sociais: panelinhas, utensílios de cozinha, móveis de casa, carrinhos, ferramentas, bolsas, giz, quadros, fantasias; pentes/escovas de cabelo. AÇÕES QUE EDUCAM Ensine a criança a brincar, nomeando suas ações e o papel que a ação representa (você está cozinhando, está brincando de cozinheira?); Explorar atividades que exijam a produção da criança como: colagem, modelagem, pinturas. Com intuito de desenvolver a capacidade de planejamento da ação. Ao planejar o seu agir passa a superar sua impulsividade. IMPORTANTE A linguagem, para Vygotsky desempenha um papel fundamental no processo de desenvolvimento, no entanto, tal papel não se esgota no desenvolvimento posterior, mas na promoção de mudanças de conexões entre as funções psicológicas. Linguagem: concepção de Vygotsky e Piaget É o pensamento verbal que nos ajuda a organizar a realidade em que vivemos . Um dos grandes saltos evolutivos do homem em relação aos outros animais se deu quando ele adquiriu a linguagem, ou seja, quando aprendeu a verbalizar seus pensamentos. É por meio das palavras que o ser humano pensa. A generalização e a abstração só se dão pela linguagem e com base nelas melhor compreendemos e organizamos o mundo à nossa volta. Linguagem: concepção de Vygotsky e Piaget Os estudos sobre a linguagem e pensamento buscavam dissecar os dois conceitos isoladamente. Vygotsky reconhecia a independência dos elementos, mas afirmava que o caminho era compreender como um se comporta em relação ao outro, como eles interagem em suas fases iniciais. Linguagem: concepção de Vygotsky e Piaget Mesmo antes de dominar a linguagem, a criança demonstra capacidade de resolver problemas práticos, de utilizar instrumentos e meios para atingir objetivos. É o que VYGOTSKY chamou de fase pré-verbal do pensamento. FASE PRÉ-VERBAL DO PENSAMENTO A criança é capaz, por exemplo, de dar a volta no sofá para pegar um brinquedo que caiu atrás dele e que não está à vista. Esse conhecimento prático independe da linguagem e é considerado uma inteligência primária, também encontrada em primatas como o macaco-prego, que usa varetas para cutucar árvores à procura de mel e larvas de insetos. NESTA FASE DA VIDA Embora não domine a linguagem como um sistema simbólico, os pequenos também utilizam manifestações verbais. O choro e o riso têm a função de alívio emocional, mas também servem como meio de contato social e de comunicação. É o que Vygotsky chamou de fase pré-intelectual da linguagem. Essas fases podem ser associadas ao período sensório-motor descrito pelo psicólogo suíço Jean Piaget no qual a ação da criança no mundo é feita por meio de sensações e movimentos, sem a mediação de representações simbólicas. É a fase na qual a criança depende de sentidos como a visão para atuar no mundo e se manifesta exclusivamente por meio de sons e gestos, ligados à inteligência prática. Aproximadamente aos 2 anos de idade o percurso do pensamento encontra-se com o da linguagem e o cérebro começa a funcionar de uma nova forma. A fala torna-se intelectual, com função simbólica, generalizante, e o pensamento torna-se verbal, mediado por conceitos relacionados à linguagem. O significado das palavras une pensamento e linguagem PENSAMENTO VERBAL Capacidade humana de unir a linguagem ao pensamento para organizar a realidade. Para Vygotsky, o pensamento deixa de ser biológico, como o dos primatas, para se tornar histórico-social, diferenciando o homem dos outros animais. Sua principal marca é a construção dos significados das palavras. Ele surge por volta dos 2 anos de idade, quando a criança passa a dominar a fala e construir seus conceitos sobre os objetos. Significado das palavras A acepção da palavra propriamente dita, capaz de fornecer os conceitos e as formas de organização básicas. Por exemplo, a palavra cachorro: denomina um tipo específico de animal do mundo real. Mesmo que as experiências e a compreensão das pessoas sobre determinado elemento sejam distintos, de imediato o conceito de cachorro será adequadamente entendido por qualquer pessoa de um grupo que fale o mesmo idioma. Significado das palavras O sentido da palavra. Mais complexo, é o que a palavra representa para cada pessoa e é composto da vivência individual. Vygotsky pretendeu ir além da dimensão cognitiva e inscreve a criança em seu universo social, relacionando afetividade ao processo de construção dos significados. Exemplo do sentido da palavra: CACHORRO Uma pessoa traumatizada com algum episódio em que foi atacada por um cachorro, por exemplo, dará à palavra uma acepção diferente e absolutamente particular - agressão, medo, dor, raiva ou violência, por exemplo. O sentido também está relacionado ao intercâmbio social Quando vários membros de um mesmo grupo se relacionam, eles atribuem, com base nessas relações, interpretações diferentes às palavras. É isso o que ocorre na escola. Ao começar a frequentá-la, a criança recebe a intervenção do educador, o que fará com que a transformação do significado se dê não mais apenas pela experiência vivida, mas por definições, ordenações e referências já consolidadas em sua cultura. Discursos na concepção de Piaget EGOCÊNTRICO (4 a 6 anos) que divide-se em: Repetição – discurso não dirigido para as pessoas, o ditado de palavras pelo simples prazer. Monólogo – comentários que seguem ações ou jogos da criança. Monólogo coletivo – quando as crianças estão falando aparentemente juntas, mas não estão realmente levando em conta o que os outros estão dizendo. PIAGET OBSERVOU QUE ATÉ SETE ANOS, UMA CRIANÇA NÃO TEM ‘CONTINÊNCIA VERBAL’, POIS VAI DIZER QUALQUER COISA QUE VEM EM SUA CABEÇA A partir de 6/7 anos: discurso socializado. Para Piaget a LINGUAGEM leva uma pessoa além de si mesma, razão pela qual a cultura humana coloca tanta ênfase em ensinar isso às crianças – que lhes permite, eventualmente, sair do pensamento egocêntrico. Assim, pensamento diferente, diferentes mundos DOIS TIPOS DE PENSAMENTO Pensamento dirigido ou pensamento inteligente é aquele que tem um objetivo, adapta-se ao objetivo da realidade, e pode se comunicar em linguagem. Este pensamento é baseado na experiência e da lógica. Pensamento sem direção ou autista (ou pensamento autístico) envolve objetivos que não são conscientes e não adaptados à realidade, baseado na satisfação dos desejos, em vez de estabelecer a verdade. A linguagem deste tipo de pensamento consiste em imagens, mitos e símbolos. IMPORTANTE Aos 7- 8 anos a criança sabe o que significa dar uma interpretação correta da verdade – isto é, a diferença entre invenção e realidade. Quando ouvem algo que elas não entendem, as crianças não tentam analisar a estrutura da frase ou palavras, mas tentam compreender ou criar um significado geral. NA INFÂNCIA: a tendência no desenvolvimento mental é sempre do sincrético ao analítico do “ver tudo” primeiro, antes de ganhar a capacidade de quebrar as coisas em partes ou categorizar. Antes das idades de 7 ou 8 anos, a mente da criança é em grande parte sincrética, mas maistarde se desenvolve o poder de análise que marca a mudança do juvenil para a mente adulta. LÓGICA DA CRIANÇA Piaget se perguntou: Por que as crianças, particularmente aquelas com menos de 7 anos, fantasiam, sonham e usam tanto a sua imaginação? Ele observou que, porque elas não se envolvem em pensamento dedutivo ou analítico, não há nenhuma razão para fazer uma demarcação clara entre ‘o real’ e ‘o não real’. Como mente das mesmas não funciona em termos de causalidade e provas, tudo parece possível. No ‘mundo do faz de conta’ tudo faz sentido de acordo com suas próprias intenções e motivações Muitas crianças incessantemente perguntam ‘Por quê?’ POIS elas querem saber a intenção de todos e de tudo, mesmo que seja inanimado, não percebendo que apenas algumas coisas têm intenções. O tempo de vida de uma criança antes que ela entenda causa e efeito – pré-causalidade – coincide com o tempo de egocentrismo. REFERÊNCIAS RABELLO, E; PASSOS, J. S. Vygotsky e o desenvolvimento humano. Rio de Janeiro, 2016. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1998