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1 
 
 
 
INSTITUTO SUPERIOR DE TEOLOGIA APLICADA – INTA 
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA DO BRASIL 
 
 
 
 
ELIVELTON RODRIGUES LIMA 
 
 
 
 
POLÍTICA ADMINISTRATIVA NO BRASIL COLONIAL: 
DA CONSTRUÇÃO DA IGREJA A CRIAÇÃO DA FREGUESIA DE SÃO 
GONÇALO DA SERRA DOS COCOS EM IPUEIRAS/CE. 
(1724-1757) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SOBRAL – CE 
2015 
2 
 
ELIVELTON RODRIGUES LIMA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
POLÍTICA ADMINISTRATIVA NO BRASIL COLONIAL: 
DA CONSTRUÇÃO DA IGREJA A CRIAÇÃO DA FREGUESIA DE SÃO 
GONÇALO DA SERRA DOS COCOS EM IPUEIRAS/CE. 
(1724-1757) 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Instituto Superior de Teologia Aplicada 
(INTA) como requisito parcial para obtenção do título de Especialista 
em História do Brasil sob a orientação do Prof. Ms. Antonio Iramar 
Miranda Barros. 
 
 
 
 
SOBRAL – CE 
2015 
3 
 
Monografia apresentada como requisito necessário para obtenção do título de 
Especialista do Curso de Especialização em História do Brasil. 
 
 
 
_______________________________________________________ 
ELIVELTON RODRIGUES LIMA 
 
 
 
 Monografia apresentada em ___/___/______ 
 
 
 
_______________________________________________________ 
Orientador Prof. Ms. Antonio Iramar Miranda Barros 
 
_______________________________________________________ 
1º Examinador 
 
_______________________________________________________ 
2º Examinador 
 
______________________________________________________ 
Coordenador do Curso 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta pesquisa à minha esposa, meus pais e minha irmã. 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço à Deus pela oportunidade e pelas portas que me abriu para a construção 
desta. A Ele toda honra e toda glória! 
À Elvelany, minha esposa, pela paciência. 
Ao autor Airton de Farias pelo contato prestado e referências oferecidas. 
Ao Ms. Iramar pelas fontes e conselhos prestados não só nesta orientação, mas em 
toda nossa formação acadêmica e profissional. 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Nesse sentido, o historiador é comparável ao médico, que utiliza os quadros 
nosográficos para analisar o mal específico de cada doente. E, como o do médico, o 
conhecimento histórico é indireto, indiciário, conjetural.” 
Carlo Ginzburg 
7 
 
RESUMO 
 
Para a afirmação do Estado e da Igreja Católica como instituições detentoras da 
ordem social e moral na colônia brasileira, foram estabelecidas diversas formas de 
organização e administração dos interesses e objetivos a serem alcançados. Para 
isso os agentes colonizadores (entre eles colonos fazendeiros, sacerdotes seculares 
e regulares) foram os responsáveis para conduzir a construção destes nos mais 
longínquos rincões de toda a extensão territorial da colônia. E dentro da atuação 
destes houveram várias e diversificadas ambições privadas de um. Desta maneira 
não é difícil imaginar que tais interesses internos uma hora ou outra se chocariam. É 
em tal realidade que nasce a dominação da Serra dos Cocos, com os sacerdotes da 
Companhia de Jesus (igreja regular) jurisdicionando em na região e os padres do 
Curato do Acaraú (igreja secular) juntamente com o sesmeiro José de Araujo 
Chaves reivindicando esse domínio. Com o triunfo do Curato fez-se a divisão da 
Ibiapaba e os respectivos responsáveis por cada região, ao norte do Inhuçu os 
jesuítas e ao sul do mesmo os sacerdotes da Ribeira do Acaraú. Assim a construção 
de uma igreja na Serra dos Cocos seria o símbolo que marcaria o domínio da igreja 
secular na região. Tal igreja anos mais tarde seria não só esse símbolo e passaria a 
condição de matriz da Freguesia de São Gonçalo e seria uma das agentes que 
pregariam essa ideologia na região. 
 
 
Palavras-chave: Colonização. Serra dos Cocos. Freguesia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
ABSTRACT 
 
For the affirmation of the State and the Catholic Church as institutional owners of social and 
moral order in the Brazilian colony, it was established various forms of organization and 
administration of the interests and objectives to be achieved. For this the settler’s agents 
(including farmer’s settlers, secular and regular priests) were responsible for conducting the 
construction of these in the most remote corners of the entire land area of the colony. And 
within the action of these various and diverse there were private ambitions of one. Thus it is 
not difficult to imagine that such internal interests sooner or later would be shocked. In such 
a reality born domination of Sierra Coco, with the Company's priests of Jesus (regular 
church) ruling in your area and priests of Curato's Acaraú (secular church) along with 
sesmeiro José de Araujo Chaves claiming that domain . With the triumph of Curato became 
the division of Ibiapaba and those responsible for each region, north of Inhuçu the Jesuits 
and south of it the priests of Acaraú the Ribeira. Thus the construction of a church in Sierra 
Coco would be the symbol mark the field of secular church in the region. Such church later 
years would not only this symbol and would condition matrix of Saint Mary Parish and would 
be one of the agents who preach this ideology in the region. 
 
 
Keywords: Colonization. Serra dos Cocos. Parish. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10 
1. ESPAÇOS E ALMAS: O DOMÍNIO E A CONSTRUÇÃO DO PODER .......... 12 
1.1. Controle de novos espaços ...................................................................... 13 
1.1.1. A política ........................................................................................ 14 
1.1.2. A Igreja .......................................................................................... 16 
1.1.3. Os nativos ...................................................................................... 18 
1.2. Domínios e jurisdições: a expansão para o interior .................................. 20 
1.3. Modos de operação do governo na Colônia: A Igreja ............................... 23 
1.4. Modos de operação do governo na Colônia: A família e o poder local. .... 25 
1.5. As freguesias e as legitimações de poder. ............................................... 27 
2. DA CONSTRUÇÃO DA IGREJA A CRIAÇÃO DA FREGUESIA .................. 31 
2.1. Os primórdios da ocupação: Os jesuítas .................................................. 33 
2.2. Araújo Chaves, o precursor de um clã ..................................................... 36 
2.3. A simbologia do poder e da dominação na construção da Igreja ............. 40 
2.4. A construção do poder eclesial: Freguesia da Serra dos Cocos .............. 45 
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 52 
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 54 
4.1. Livros/ Artigos/ Publicações ...................................................................... 54 
4.2. Sítios consultados .................................................................................... 56 
5. ANEXOS ......................................................................................................... 57 
5.1. Tabela de Concessão de Sesmaria de Ipueiras ....................................... 57 
5.2. Registros fotográficos da Capela de São Gonçalo ................................... 59 
5.3. Fotografias da ruína da edificação jesuítica ............................................. 61 
5.4. Fotografias da geografia local da construção jesuítica ............................. 64 
5.5. Pinga de São Gonçalo .............................................................................. 67 
 
 
10INTRODUÇÃO 
 
O processo de colonização do Brasil foi a culminância da situação política e 
econômica europeia dos séculos VXI e XVII incorporada a ganância do governo 
lusitano em manter-se imperante entre as potencias regionais do período. Aliada a 
tais questões a Igreja Católica aparece com seus empenhos e preocupações com os 
olhos voltados para os novos paradigmas eclesiais (e porque não dizer políticos) no 
Velho Continente. 
Caio Prado Júnior (e sua visão marxista de ver o mundo) em sua obra 
―História Econômica do Brasil‖ vai nos dizer que o processo que vai desde as 
navegações até a colonização propriamente dita, ―não é senão um capítulo da 
história do comércio europeu‖1 o que de fato foi uma realidade, já que, por tais 
objetivos é que se iniciaram os financiamentos da ocupação do território que viria a 
se chamar Brasil. 
Envolvidos pelo poder do Estado e resguardados pela autoridade do Papa, os 
agentes colonizadores que vieram para as novas terras representar tais objetivos 
também traziam consigo seus próprios anseios e interesses, o que ao longo do 
tempo foi moldando as formas de gerenciar e administrar os métodos de conquistas 
de espaços e almas dentro da própria colônia. 
É partindo dessa conjuntura estrutural que discutiremos o contexto histórico 
da construção do Estado e da Igreja no território que um dia foi sede da matriz da 
Freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos. Assim nossa ideia central de 
pesquisa é a discussão dos moldes de colonização implantados e construídos 
dentro da região supracitada, procurando desta forma, compreender os motivos e os 
objetivos buscados pelo governo, através da Igreja Católica, para a edificação de 
uma capela e sua consequente elevação a categoria de freguesia na região. 
Dentro de tal pressuposto buscaremos fazer nossa análise encima dos 
conceitos estudados por Carlo Ginzburg em “Sinais: Raízes de um paradigma 
indiciário” em que o autor trabalha a observação focalizada dos objetos a serem 
examinados, levando em considerações não somente os pontos ―que saltam aos 
olhos‖ do examinador, mas também (e de forma fundamental) para as minúcias e 
indícios deixados a mercê por estarem implícitos na forma geral do objeto. 
 
1
PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 26 Ed. Editora Brasiliense. 1981. p. 07. 
Arquivo PDF. Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/2319479/historia-economica-do-
brasil---caio-prado-junior-> Acesso em 07/09/2012. 
https://www.passeidireto.com/arquivo/2319479/historia-economica-do-brasil---caio-prado-junior-
https://www.passeidireto.com/arquivo/2319479/historia-economica-do-brasil---caio-prado-junior-
11 
 
Providos dessa forma de enxergar as análises a serem examinadas, 
estaremos discutindo os discursos históricos proferidos por pesquisadores e 
memorialistas que já retrataram algumas passagens sobre os ocorridos da Serra dos 
Cocos, buscando subsídios norteadores para que possamos compreender os 
motores que impulsionaram a invasão de tal território e sua consequente dominação. 
Assim partiremos de uma contextualização dos objetivos buscados pelos 
dominadores externos a esfera local, como o Estado português e a Igreja Católica, 
que em suas sedes na Europa planejavam os objetivos e as ações a serem 
executadas nas novas terras, com os olhos voltados para a construção de uma 
sociedade submissa e aderente aos modos de vida social do capitalismo nascente 
implantado aos nativos como único e correto. 
Partindo da investigação histórica proposta por Ginzburg, faremos a análise 
da construção da história local procurando enxergar detalhes deixados por autores 
que já trabalharam a temática. E para a introdução dessa história local em tais 
objetivos estaremos dispondo discussões a cerca das influências dos diferentes 
agentes colonizadores que dispuseram seus serviços a Coroa para a invasão e 
dominação da Serra dos Cocos. 
Iniciaremos esta etapa com a análise da presença dos sacerdotes da 
Companhia de Jesus por estas terras e as consequências de sua atuação nessa 
área, passando pela construção da igreja de São Gonçalo como marco simbólico da 
dominação até a elevação dessa capela a categoria de Freguesia como 
representante ativa e responsável pela catequização da sociedade regional aos 
preceitos ditos como corretos da sociedade europeia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
1. ESPAÇOS E ALMAS: O DOMÍNIO E A CONSTRUÇÃO DO PODER. 
 
A colonização do território que Pero Vaz de Caminha denominou como Terra 
de Vera Cruz fora fruto de complexos modos de administração. Da invasão, até a 
independência (e o ―desligamento‖ de Portugal), diversificadas foram as formas de 
atuação dos agentes colonizadores e mais diversificadas ainda foram suas 
finalidades no processo de pleno domínio da colônia brasileira. 
Na primeira fase da colonização do território que um dia viria a se chamar 
Brasil, pouco foi o interesse do governo lusitano em efetivar uma comissão para uma 
real ocupação dos espaços da nova colônia, ―[...] De início pareceu ser episódio 
secundário. E na verdade o foi para os portugueses durante todo um meio século 
[...].‖2. No período era bem mais proveitoso continuar com todos os esforços voltados 
para o comércio e suas respectivas margens de lucros com as especiarias do 
oriente do que ir além mar somente para uma exploração predatória e nômade do 
pau-brasil, já que, até aquele momento, não havia registros de riquezas minerais ao 
longo da costa brasileira. 
O trabalho na colônia em seus primeiros anos ficaria mais voltado para um 
mapeamento territorial e geográfico do que a própria busca de alavancar subsídios 
lucrativos para a metrópole. Somente passados trintas anos da chegada dos 
portugueses à costa baiana é que a Coroa portuguesa buscou executar um plano de 
conquista, colonização e legitimação de seu poder na nova colônia. 
Neste capítulo buscaremos realizar um contexto histórico das condições 
sociais e econômicas em que viviam os envolvidos no processo de colonização do 
Brasil. Discutiremos os objetivos e anseios dos agentes colonizadores nas novas 
terras e suas formas de atuação no território lusitano ultramar. 
Iniciaremos a discussão procurando compreender como se deu o inicio da 
colonização do Brasil e como a união entre os reinos de Portugal e Espanha foram 
preponderantes para os modos, interesses e objetivos da ocupação da colônia; logo 
após discutiremos a colonização do interior; em seguida a atuação da Igreja 
Católica, a cultura e resistência nativa e papel das famílias dominantes nos cenários 
de colonização; findando este capítulo com o debate sobre como eram e com que 
 
2
 FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil.32 ed. São Paulo: Editora. Nacional, 2003. 
p. 11. 
13 
 
objetivos era instituída a presença do Estado com a criação das freguesias e vilas e 
suas relações de poder. 
Ao longo do texto faremos a leitura, o estudo e discussão de autores como 
Celso Furtado, Fernando Novais, Caio Prado Junior, Boris Fausto, Raimundo Girão, 
Airton de Farias, Raimundo Alves de Araujo, entre outros que trabalharam em suas 
obras a atuação da Coroa, da Igreja e da família dominante local na formação 
econômica e cultural da identidade colonial brasileira. 
 
1.1 Controle de novos espaços 
 
Questões políticas estão dentre os motivos que impulsionaram os 
dominadores lusitanos à elaboração e consequente execução de um plano de 
legítimo domínio na colônia ultramarina. Motivados pelo auge da ―[...] expansão 
comercial e colonial européia na época moderna. [...]‖3, e com o receio de perder o 
controle do território americano em que acabara de se declarar como dono, a Coroa 
procurou meios para que fossem freadas as investidas estrangeiras em seus 
domínios. 
Ressalta-nos Celso Furtado: 
 
Contudo tornava-se cada dia mais claroque se perderiam as terras 
americanas a menos que fosse realizado um esforço de monta para 
ocupá-las permanentemente. Esse esforço significava desviar 
recursos de empresas muito mais produtivas no Oriente. A miragem 
do ouro que existia no interior das terras do Brasil- à qual não era 
estranha a pressão crescente dos franceses – pesou seguramente 
na decisão tomada de realizar um esforço relativamente grande para 
conservar as terras americanas.4 
 
A esperança de encontrar ouro e as visíveis pressões advindas das investidas 
francesas para a ocupação da colônia portuguesa na América fez com que o 
governo lusitano pesasse suas teorias sobre o Brasil e logo montassem projetos de 
ocupação e pleno domínio da colônia. 
Para evitar que outras nações se apoderassem do território, seria necessário 
primeiramente firmar meios de constituir lucro nas novas terras. Desta forma os 
 
3
 NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos quadros do Antigo Sistema Colonial. IN: Brasil em 
Perspectiva. SP: DIFEL, 1969. p. 47. 
4
 FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil.32 ed. São Paulo: Editora. Nacional, 2003. p. 
12. 
14 
 
agentes colonizadores instalaram na colônia métodos que não necessitassem da 
vida nômade em que viviam anteriormente com a extração do pau-brasil. Para isso 
foram implantadas, entre outras, uma das culturas mais lucrativas do período 
colonial brasileiro: o cultivo da cana-de-açúcar, como nos diz Airton de Farias: 
 
Foi somente a partir de 1530 que Portugal decidiu, definitivamente, 
colonizar a terra – almejava assim não só evitar perder a posse do 
Brasil para outros povos (principalmente franceses), que com 
frequência invadiam a colônia, mas também tornar esta 
economicamente viável, uma vez que o comercio com o Oriente 
perdia sua lucratividade. Acontece que o Brasil do século XVI, estava 
praticamente restrito ao litoral de Pernambuco e Bahia, no qual se 
encontrava a principal atividade econômica desenvolvida pelos 
lusitanos para fundamentar a colonização: o cultivo da cana-de-
açúcar.5 
 
Não cabe e nem é propósito de nossa pesquisa a análise a seguir, mas é 
importante destacar que percebemos no trecho do discurso de Airton de Farias ele 
entra em um breve conflito com o discurso de Celso Furtado. Ambos dizem que 
havia um temor em Portugal em perder o controle da colônia para os franceses, 
porém diferem quanto a lucratividade lusitana com o comercio oriental. Farias diz 
que a lucratividade com o Oriente vinha se enfraquecendo e esse seria um dos 
motores que impulsionariam a colonização do Brasil, ao contrario de Furtado que 
nos relata que o comercio asiático estava com os lucros fluindo normalmente, e que, 
o governo português fizera desvios de recursos destinados a tal comercio para dar 
inicio a uma ocupação efetiva da colônia. 
O que vai nos interessar dessa discussão é que o governo português via 
como necessário a ocupação de forma consistente e plena o território que tinha por 
seu domínio na América. A partir de então, com esforços voltados para o controle da 
colônia, a metrópole foi necessitando gradativamente dos resultados advindos do 
processo de colonização do Brasil. 
 
1.1.1 A política 
 
Entre o período de 1580 a 1640 a Coroa portuguesa esteve sob a governança 
do reinado espanhol na chamada União Ibérica. Embora o Rei da Espanha tivesse o 
 
5
 FARIAS, Airton de. História do Ceará. – 1ª reimp. – 6. ed. rev. e ampl. Fortaleza: Armazém da 
Cultura, 2012. p. 19. 
15 
 
poder, não havia uma anexação do território português ao espanhol, era mantida a 
autonomia lusitana, muito embora que devido a essa união Portugal acabara saindo 
de seus próprios propósitos e servindo aos da Espanha como nos retrata Caio Prado 
Júnior: 
 
DE 1580 A 1640 a coroa portuguesa esteve reunida à da Espanha. O 
reino de Portugal não foi englobado na monarquia espanhola; 
embora sob a dominação do mesmo monarca, conservou sua 
autonomia, sendo governado por um Vice-Rei em nome do soberano 
espanhol. Foi um período sombrio da história portuguesa. 
Descuraram-se por completo seus interesses; e o reino teve de 
participar da desastrosa política guerreira dos Habsburgos na 
Europa, contribuindo para ela com gente e avultados recursos. 
Portugal sairia arruinado da dominação espanhola, a sua marinha 
destruída, o seu império colonial esfacelado.6 
 
O autor vai ainda discutir que durante a união Ibérica os responsáveis pela 
governança de Portugal se viram submetidos aos interesses da Coroa espanhola, 
para isso enviando homens e investindo seus recursos para as guerras de motivos e 
objetivos internos do governo espanhol, saindo desse período com economia 
escassa, sua população vivendo com receios e vendo seus territórios que outrora 
estavam sob seu domínio sendo tomados pelas nações em que fora rival quando 
unido à Espanha, como podemos observar: 
 
Os Países-Baixos e a Inglaterra, com que a Espanha estivera em luta 
quase permanente, ocuparão, para não mais a devolver, boa parte 
das possessões portuguesas. Estava definitivamente perdido para 
Portugal o comércio asiático; as pequenas colônias que ainda 
conservará no Oriente não têm expressão apreciável. Efetivamente 
só lhe sobrariam do antigo império ultramarino o Brasil e algumas 
posses na África.7 
 
Dentro desse cenário percebemos quão importante a colônia ficara para a 
metrópole. Passados os anos da União com a Espanha, Portugal sairia com muitas 
de suas relações abaladas, praticamente perdendo toda a rota de comércio com a 
Ásia e vendo seus territórios sendo anexados a outras nações. 
 
6
 PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. Editora Brasiliense. 1981. p. 31. 
7
 Ibidem,p. 31. 
16 
 
Restara dessa união o Brasil e algumas posses na África ―[...] Estas aliás só 
valerão como fornecedores de escravos para o Brasil [...]‖8. Nesse contexto a 
colonização, o tráfico e até o êxodo da população lusitana se tornava cada vez mais 
forte no seio da nação portuguesa. 
 
Todas estas circunstâncias determinarão profunda modificação da 
política de Portugal com relação à colônia. A prosperidade, a própria 
existência do Reino europeu passavam a depender exclusivamente 
dela. Tratava-se pois de tirar-lhe o maior proveito e partido possíveis. 
Doutro lado, o empobrecimento de Portugal, privado do comércio 
asiático que durante mais de um século lhe fornecera o melhor de 
seus recursos, força o êxodo em larga escala de sua população que 
procurará na colônia americana os meios de subsistência que já não 
encontrava na mãe pátria. A emigração para o Brasil será, a partir de 
meados do séc. XVII, considerável. Ameaçou por vezes despovoar 
regiões importantes de Portugal, como o Minho; e tomaram-se em 
conseqüência enérgicas medidas repressoras.9 
 
O êxodo da população para o Brasil torna-se um evento curioso tendo em 
vista que a Coroa observando que havia regiões importantes sendo abandonadas, 
publicou leis de repreensão que coibiam a emigração para a colônia. As leis não 
funcionaram e o êxodo continuava, tanto que, tempos depois, pelo fato da população 
portuguesa ter invadido territórios que eram de posse da Espanha, o governo 
espanhol teve que reconhecer a soberania portuguesa nas terras invadidas. ―A ruína 
de Portugal significara o desenvolvimento desmesurado do nosso país.‖10. 
Com todo o exposto, observamos que Portugal nas primeiras décadas da 
ocupação do Brasil (enquanto era soberano com o comércio asiático) preocupou-se 
em mapear e estudar as condições geográficas da região, explorar o Pau-Brasil (a 
riqueza até então encontrada) e de forma mais branda fazer o processo de 
guarnição e colonização do território. 
Somente após perceber o interesse da França em dominar a colônia 
americana recém ―descoberta‖ é que o governo lusitano vai buscar introduzirmétodos de povoamento através do plantio da cana-de-açúcar como meio de dar 
inicio a um processo de pleno domínio e controle do território brasileiro. 
 
1.1.2 A Igreja 
 
8
 Ibidem, p. 31. 
9
 Ibidem, p. 31. 
10
 Ibidem, p. 32. 
17 
 
As duas instituições básicas que, por sua natureza, estavam 
destinadas a organizar a colonização do Brasil foram o Estado e a 
Igreja Católica. Embora se trate de instituições distintas, naqueles 
tempos uma estava ligada à outra. Não existe na época, como existe 
hoje, o conceito de cidadania, de pessoa com direitos e deveres com 
relação ao Estado, independentemente da religião. A religião do 
Estado era a católica e os súditos, isto é, os membros da sociedade, 
deviam ser católicos.11 
 
 Partindo desse pressuposto fica evidente que em qualquer processo de 
colonização a Igreja Católica seria parte integrante do sistema de administração, 
desde as relações do domínio até as formas de consolidar a presença do Estado. No 
Brasil não seria diferente, os nativos que aqui viviam tinham que servir aos 
interesses do poder da Coroa lusitana e tinham que ―se salvar‖ através dos preceitos 
da igreja católica. 
No entanto, o incurso católico para as novas terras objetivava não só atender 
as finalidades do Estado português. A própria igreja tinha suas necessidades e 
metas a serem atingidas no processo de colonização. 
 
Um dos alvos políticos e práticos do incurso católico era a dominação 
de novas almas para o fortalecimento do número de seus fiéis, visto 
que, na época a Europa perpassava por grande descrença nos 
dogmas pregados pelo catolicismo, devido atos de má conduta de 
seus sacerdotes que configuraram as teses de Martins Lutero que 
culminaram na reforma protestante.12 
 
O catolicismo vinha sofrendo com muitas perdas de fieis para o 
protestantismo. A incursão para a América além de significar o arrebanhamento de 
mais almas para a fé católica significaria o símbolo de crescimento de seu poder 
perante as crescentes formas de religiosidade. Outro ponto importante é que, dessa 
forma, estariam os sacerdotes católicos fazendo o que podemos chamar de 
guarnição do território contra protestantes que viessem a fazer algum trabalho de 
catequização nas novas terras. 
Estas e outras incumbências foram ditadas pela Igreja Católica antes mesmo 
da fatídica data do ―descobrimento‖ do Brasil como podemos observar no discurso 
de Darcy Ribeiro: 
 
11
 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 2 ed. São Paulo : Editora da Universidade de São Paulo: 
Fundação do Desenvolvimento da Educação. 1995. p. 59/60. 
12
 LIMA, Elivelton Rodrigues. A presença dos padres jesuítas na Serra dos Cocos: As questões 
que levaram a construção da igreja de Matriz de São Gonçalo. (1712-1724). Sobral, 2013. p. 15. 
18 
 
Antes mesmo do achamento do Brasil, o Vaticano estabelece as 
normas básicas de ação colonizadora, ao regulamentar, com os 
olhos ainda postos na África, as novas cruzadas que não se 
lançavam contra hereges adoradores de outro Deus, mas contra 
pagãos e inocentes.13 
 
A regulamentação de leis que orientariam o serviço da igreja perante aos 
inocentes que fossem encontrados nas viagens em colonização, foram ditadas antes 
mesmos da chegada dos portugueses ao Brasil. No entanto, toda uma 
regulamentação de leis oficiais por parte de Igreja Católica viria ser, em sua maioria, 
promulgada no Concílio de Trento, que elaboraria uma resposta para a sentida 
Reforma Protestante. 
Vale ressaltar que tal concílio aconteceu anos depois do rompimento dos 
reformadores com o sistema de doutrinas pregado pelo catolicismo, terminou 
somente passadas 25 sessões com uma duração de 18 anos (1545-1663). A 
problemática discutida era a de que o protestantismo já havia ganhado muito espaço 
em todo o continente europeu, praticamente todas as nações daquele continente já 
tinham alguns adeptos e até governos (por razões mais políticas do que de crenças) 
abandonando o catolicismo para seguir o ideal reformista. 
É nessa situação é que a igreja católica se vê obrigada a rever alguns de 
seus conceitos e dogmas para melhor se adequar as necessidades contemporâneas 
daquele período. Não é difícil imaginar que todo o que foi discutido nas sessões 
foram executadas em solo nacional, como por exemplo, o culto a outra forma de fé 
além do catolicismo seria prontamente batida e a catequização para salvar as almas 
inocentes da África e América do pecado em que viviam seria dada como prioridade 
aos sacerdotes que pra cá viessem. 
Todas as formas de atuação adotadas pelos sacerdotes do Novo Mundo 
foram inspiradas nas leis advindas de Trento. Impor a autoridade sobre os nativos e 
ensiná-los a serem servos de Cristo e súditos do Rei foram algumas das 
prerrogativas aprovadas. Assim sendo, é nessa perspectiva de imposição da fé 
católica para aquisição de novos fieis para o catolicismo que estavam os sacerdotes 
no período da colonização do Brasil. 
 
1.1.3 Os nativos 
 
13
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. A formação e o sentido do Brasil. 2ª ed. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1995. p. 39. 
19 
 
A concepção de território, propriedade e nação não existia no meio da 
comunidade nativa no período da invasão. As tribos viviam de acordo com suas 
culturas e necessidades próprias, os meios de vivência eram herdados de geração 
para geração. Os conceitos de riqueza e principalmente de fé eram extremante 
distante daqueles em que o homem branco buscava empunhar no cotidiano da vida 
nativa. 
 
Havia um choque de dois mundos também aqui: para o branco, a 
terra deveria ter uma função útil, entenda-se, produzir para gerar 
lucros, conforme a lógica do capitalismo nascente; para o indígena, a 
terra era o lugar não só de sua identidade como povo (fora ali que os 
antepassados viveram), daí o esforço de mantê-la.14 
 
A chegada dos europeus na América trouxe muita desgraça na rotina dos 
indígenas. Além da violência física, as agressões psicológicas e culturais, a higiene 
(ou falta dela) e enfermidades trazidas nas caravelas foram determinantes para a 
morte de milhares de vidas indígenas. 
O imaginário da população que recebia aqueles seres que saiam de grandes 
embarcações vindas do mar, com seu corpo totalmente coberto, com armas que 
disparavam raios etc. faziam fluir fantasiosos pensamentos da presença dos Deuses 
da Natureza entre eles. Com o tempo é que se percebeu que àqueles que vinham 
do mar não traziam a bonança para a comunidade, traziam na verdade a figura da 
desgraça e da morte. 
Porém é muito arriscado taxar a existência do nativo e do europeu como o 
lado bem e do mal respectivamente. Ambas as partes uma hora ou outra se utilizou 
dos conhecimentos e artimanhas do outro para conseguirem atingir alguns objetivos 
de curto ou médio período. Muito embora que para as cabeças dominantes que 
articulavam a colonização tudo fizesse parte de um plano maior de conquista. 
O número de agentes colonizadores era bem menor do que a quantidade de 
tribos e aborígenes existentes nas novas terras. No tempo da colonização 
propriamente dita, e sabedores da não existência de unidade entre tribos, os colonos 
logo procuravam firmar parcerias com tribos inimigas para a ocupação de alguma 
região estratégica para os planos do governo. 
 
14
 FARIAS, Airton de. História do Ceará. – 1ª reimp. – 6. ed. rev. e ampl. Fortaleza: Armazém da 
Cultura, 2012. p. 60. 
20 
 
A colonização da terra nativa, os modos de ocupação do território e as 
consequentes escravizações dos indígenas tornaram, tempos depois, o que seria a 
chegada dos Deuses da Natureza em o advento do medo, da insegurança e da 
morte. 
 A apresentação da resistência nativa aos anseios e desejos dos colonos foi 
demonstradadas mais diversificadas formas. Desde luta direta até a moldação das 
vontades dos dominadores em detrimento das nativas. Os tão comentados aferros, 
selvageria e bravura indígena foram discursos pregados pela elite dominadora para 
justificar as ações de aferro, selvageria e bravura dos europeus. 
É obvio que não estamos aqui querendo contestar a veracidade dos fatos, 
houve sim as emboscadas, torturas e assassinatos de colonos, no entanto, os 
indígenas sofreram ainda mais atrocidades violentas. As ações acima citadas faziam 
parte de um processo de resistência nativa, em que eles, embora em maior número, 
estavam utilizando as táticas que tinham acesso e domínio, diferente dos recursos 
dos dominadores, como as teorias e práticas de guerrilhas trazidas da Europa, o 
cavalo e os aparelhamentos bélicos. O poder de ataque e defesa nativa se 
restringiam a instrumentos manuais de curto alcance, o domínio de território e as 
emboscadas e armadilhas já citadas no inicio desde parágrafo. 
Não é difícil imaginar que tais acontecimentos foram preponderantes para os 
meios de colonização utilizados. A dominação através da fé tornou-se fundamental 
para os planos de domínio e controle das terras brasileiras. A catequização e os 
ensinamentos dos preceitos de salvação foram empregados para que fosse 
legitimada a submissão nativa ao poder da Igreja e do Rei. Depois de se perceber 
que o processo de aculturação apresentava muitas dificuldades quando adotados 
em adultos, as pregações contra a cultura nativa foram destinadas às crianças, uma 
vez que elas poderiam crescer cultivando os conceitos civilização e de fé do homem 
europeu, abandonando aos poucos suas raízes e identidades. 
 
1.2 Domínios e jurisdições: a expansão para o interior. 
 
A expansão do Brasil surge quando Portugal vai ficar dependente da colônia 
devido às consequências das relações políticas que teve enquanto unido ao Reino 
espanhol como já discutimos anteriormente. Com sua economia bastante frágil, a 
Coroa lusitana teve como efeito o êxodo de sua população que passou a buscar na 
21 
 
colônia americana as promessas de encontrar ouro e agraciar espaços para a 
criação de fortunas. 
O êxodo irá trazer para o Brasil uma leva muito grande de interessados em 
ocupar as terras, o que consequentemente, demandará um maior espaço geográfico 
para a instalação dos novos colonos, é tal acontecimento que vai dar início à 
expansão do controle lusitano nos territórios adentro da colônia. 
As principais atividades econômicas que fundamentariam a permanência dos 
colonos no Brasil seriam o cultivo da cana-de-açúcar (principal e mais lucrativa 
cultura do período) e a criação de fazendas para a criação de gado. 
Para ambas, os interessados teriam que solicitar junto ao governo a 
concessão de posse e produção pelas cartas de sesmarias. Essas que consentiam a 
posse de um determinado perímetro de terra considerado devoluto15 pela Coroa aos 
colonos que tivessem fundamentos para a criação de fazendas e que se 
comprometessem a gerar lucro para a metrópole e salvar as almas ali existentes. 
Sobre a concessão das cartas de sesmarias observemos o que nos diz 
Souza: 
 
As sesmarias solicitadas no sertão do Acaraú, foi uma estratégia de 
ocupação de território, pela coroa portuguesa, que necessitava 
garantir a posse da terra e uma das formas encontradas era 
estabelecer moradia e produção, por isso incentivava a ocupação e 
legitimação através da titulação de sesmaria. Ressalta-se que nos 
pedidos de sesmarias, além da justificativa da ocupação das terras 
para o estabelecimento de fazendas de criar, havia a motivação de 
trazer o indígena para o adro da igreja e para a devoção à Mãe de 
Deus. Com esse intuito, ―propagava-se a fé, mas colonizava 
também‖. Viam a terra como meio de produzir riquezas e almas, por 
isso afirmavam em suas cartas que não tinham terra para criar os 
gados e dos bons serviços prestados a Coroa portuguesa na luta 
contra os povos nativos, quilombolas estrangeiros.16 
 
Muitos pontos de discussão podem ser levantados neste trecho de pesquisa. 
Nele temos um vislumbre de como a concessão de posse pelas cartas de sesmarias 
foram utilizadas como um dos métodos adotados pela Coroa para a plena ocupação 
de toda a extensão territorial brasileira, por sinal um dos mais utilizados. Com essas 
permissões cada vez mais o governo estaria com os olhos, à espada e a cruz 
 
15
 Terra que não produzia, nem gerava lucros para a Coroa. 
16
 SOUZA, Raimundo Nonato Rodrigues de. Trabalhadores negros no sertão do Acaraú no 
setecentos. Sobral: Universidade Estadual Vale do Acaraú 2011. p. 03 
22 
 
influindo em todas as regiões e ocupações em que tinha posse e também nas que 
não tinham com observamos na pesquisa de Prado Junior: 
 
Quando em 1750 e posteriormente se redigem os grandes tratados 
que limitariam definitivamente as possessões portuguesas e 
espanholas neste continente, a Espanha será obrigada a reconhecer 
a soberania de Portugal sobre toda esta metade da América do Sul 
que forma o Brasil e que de direito lhe ca-bia na maior parte. E isto 
graças apenas à ocupação efetiva que, antes dos espanhóis, 
realizara o colono e povoador português.17 
 
O governo espanhol tempos depois da união com Portugal teve que aceitar a 
soberania lusitana nos territórios de sua posse pelo simples fato que o êxodo da 
população portuguesa acabou ocupando um território invadido pelos espanhóis. 
Mas voltando para a pesquisa de Souza, observamos que ele nos traz não só 
a questão do pleno domínio das posses lusitanas pela distribuição das sesmarias, 
mas também a forma em que elas eram solicitadas e posteriormente atendidas. Para 
se conseguir o título era necessário que este se dispusesse a fazer o exercício da 
política de integração de almas e espaços. A ocupação dos espaços até então sem 
serventia para o governo e as almas que se encontravam inocentes em seus 
pecados necessitavam da intervenção do Estado por intermédio dos sesmeiros para 
que de fato estivessem sob os domínios da Coroa e da Igreja. 
Fator que também foi preponderante para a interiorização do território 
brasileiro foi a ―fácil‖ constituição das fazendas de gado nestes locais. Inicialmente 
não havia a preocupação em si estabelecer complexas formas de produção, como 
nos diz Prado Júnior: 
 
A rapidez com que se alastraram as fazendas no sertão nordestino 
se explica, de uma parte, pelo consumo crescente do litoral onde se 
desenvolvia ativamente a produção açucareira e o povoamento; 
doutra, pela pequena densidade econômica e baixa produtividade da 
indústria. Mas também pela facilidade com que se estabeleciam as 
fazendas: levantada uma casa, coberta em geral de palha — são as 
folhas de uma espécie de palmeira, a carnaubeira, muito abundante, 
que se empregam —, feitos uns toscos currais e introduzido o gado 
(algumas centenas de cabeças), estão ocupadas três léguas (área 
média das fazendas) e formado um estabelecimento. Dez ou doze 
homens constituem o pessoal necessário: recrutam-se entre índios e 
mestiços, bem como entre foragidos dos centros policiados do litoral: 
 
17
 PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. Editora Brasiliense. 1981. p. 32. 
23 
 
criminosos escapos da justiça, escravos em ruga, aventureiros de 
toda ordem que logo abundam numa região onde o deserto lhes dá 
liberdade e desafogo.18 
 
Outro motivo que vai colocar o interior dentro do contexto de expansão é uma 
Carta Régia de 1701, em que limitava a criação de gado a menos de 10 léguas do 
litoral. Com esta manobra foi possível realizar de forma efetiva a ocupação dos 
espaços do interior do Brasil além de deixar livre o litoral para a plantação da cana 
de açúcar. 
Com todas as questões ora discutidas observamos que o processo de 
―interiorização‖ da colônia foium complexo modo de operação dos dominadores 
europeus. Com intuitos, objetivos e metas gerais bem estabelecidas à execução das 
atividades operacionais para que se pudesse ter de fato o domínio de toda a 
extensão territorial da colônia fora colocado em prática. Para isso o governo lusitano 
preocupou-se em manter e efetuar vínculos com instituições religiosas, 
governamentais e familiares localizadas, para que o Estado e a Coroa lusitana 
estivessem cada vez mais presentes em todo o território colonial e de forma 
consistente no subconsciente dos nativos. 
 
1.3 Modos de operação do governo na Colônia: A Igreja 
 
A Coroa portuguesa, tanto quanto a espanhola, obtinha a legitimação 
de sua expansão colonial através do apoio da Igreja. O Papa 
outorgava-lhes o dever de expandir a fé católica, dando-lhes plenos 
poderes para ocupar e explorar novas terras, pois a finalidade, 
expandir a fé católica, era considerada justa. A atividade missionária 
era imprescindível aos objetivos da Coroa portuguesa porque se 
apresentava como uma alternativa viável para a pacificação dos 
índios e dava uma finalidade de caráter elevado e espiritual ao 
processo de expansão. Formalmente, os aspectos políticos e 
mercantis deveriam estar submetidos às finalidades espirituais da 
conquista portuguesa.19 
 
A atuação da Igreja Católica no Brasil sempre esteve vinculada as 
necessidades da Coroa e da própria Igreja. Seus objetivos e interesses sempre 
forma colocados em primeiro plano no que concerne às atividades de dominação. 
 
18
 Ibidem. p. 29. 
19
 SOUSA, Mônica Hellen Mesquita de. Missão na Ibiapaba. Estratégias e táticas na Colônia nos 
séculos XVII e XVIII. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2003. p. 16. 
24 
 
Pela fé, o plano de colonização foi executado pelo catolicismo na colônia tanto pela 
Igreja secular20 quanto pela regular21. 
No entanto não podemos dizer que esses dois braços do catolicismo foram 
totalmente unânimes no processo de colonização. Por vezes houve grandes 
disputas entre si, desde questões de religiosidade e convivência até contestações de 
poder jurisdicionais. Como podemos observar em Melo (2010): 
 
Caso exemplar dessa intriga foi o conturbado relacionamento entre o 
primeiro bispo, D. Pedro Fernandes Sardinha, que possuía uma 
mentalidade típica da Renascença, nutrida pelos ensinamentos 
clássicos, e os jesuítas, inspirados na Contra-Reforma, e ainda com 
o governador D. Duarte da Costa. Tais conflitos foram responsáveis 
pela chamada do bispo a Portugal.22 
 
Embora houvesse tais divergências, ambos buscavam utilizar seus discursos 
de fé e serviços de colonização para suprir a necessidade de apaziguamento dos 
aferros e ensinamentos de submissão aos nativos e tirá-los das áreas de interesse 
dos colonos fazendeiros. É a partir da apresentação dessa resistência nativa que os 
dominadores irão taxar e denominar os indígenas de selvagens e usar de pretexto 
para a prática das mais diversas formas de violência. 
Os jesuítas foram os sacerdotes da igreja regular que mais se destacaram 
nas atividades de colonização no Brasil. Através de seus discursos e com suas 
missões religiosas, foram responsáveis pela catequização de milhares de nativos. 
Além da força bruta, utilizaram a psicológica para conseguirem atrair muitos a 
sobreviverem nos aldeamentos e deixarem suas terras e a violência cotidiana dos 
colonos fazendeiros. 
Em seu plano de atuação, o sacerdócio inaciano (e o secular também) pregou 
a abominação das crenças e culturas nativas, colocando-as como maldições e 
estendendo a cruz do catolicismo como a salvação de suas almas. A catequese 
católica pregou o medo do inferno caso fizesse algum ato de culto a sua antiga 
religião e se houvesse alguma desobediência das ordens de Deus ditas pela boca 
dos religiosos europeus. 
 
20
 Padres seculares baseavam seu cotidiano em contato direto com os fiéis e a vida mundana. 
21
 Padres regulares fundamentavam-se em Ordens Religiosas, em que no exercício do sacerdócio 
seguiam regras e viviam de forma independente. 
22
 MELO, Suzana Leandro de. A religiosidade no Brasil colonial: o caso da Bahia. (Séculos XVI e 
XVII). João Pessoa: 2010. p. 24. 
25 
 
Nos aldeamentos, os nativos com sua nova rotina de vida, estavam no meio 
de um processo de etnocídio de sua cultura. A prática da aculturação era uma 
espécie de ―sepultamento da memória social dos grupos nativos‖23. Praticamente 
todas suas tradições, culturas e crenças foram aos poucos, gradativamente, sendo 
suavizadas na convivência entre eles e entre os sacerdotes dentro da missão. 
Para que essa convivência ao estilo europeu capitalista fosse uma realidade 
todo o cotidiano dos indígenas foi afetado. Uma disciplina rígida foi colocada em 
prática aos que antigamente mantinham um trabalho praticamente de subsistência. 
O acúmulo de capital era informalmente ensinado pelas regras implantadas dentro 
das missões. O badalar do sino da igreja e seus significados eram novidades nada 
agradáveis aos ouvidos nativos. O catolicismo desta maneira impunha aos indígenas 
o controle do tempo, trabalho, acúmulo e a submissão que antes não havia em sua 
cultura rotineira. 
 
1.4 Modos de operação do governo na Colônia: A família e o poder local. 
 
No período em que estamos estudando, a presença (e principalmente a 
influência) do que se tinha por Estado era transfigurada na imagem e no símbolo do 
catolicismo com seus sacerdotes e na figura da família da elite local. Famílias essas 
que, com seus títulos e suas posses, acabavam se tornando donos da lei dentro das 
jurisdições de suas posses. 
A própria noção de região, província e até de nação era, na grande maioria 
dos territórios, desconhecida no período colonial. O autor Raimundo Alves em sua 
tese de mestrado procura nos explicar tais episódios: 
 
O Ceará enquanto um lugar no espaço, com um sentido de 
identidade e com fronteiras geográficas definidas ainda precisaria ser 
construído e firmado sobre o senso comum das populações 
sertanejas de então. Provavelmente, chamar os moradores dos 
sertões percorridos por Pompeu de ―cearenses‖ seria um 
anacronismo tremendo. Assim como o próprio Brasil – e a noção de 
brasileiro – o Ceará – e a noção de cearense – não existiam ali e 
estavam ainda em franco processo de construção. O centro, o norte, 
o sul e a Ibiapaba eram regiões desconectadas umas das outras; 
fora da capital o sertão era uma incógnita para a ―civilização urbana‖, 
era composto por regiões ―bárbaras‖ e desconhecidas, ocupado por 
 
23
 SOUSA, Mônica Hellen Mesquita de. Missão na Ibiapaba. Estratégias e táticas na Colônia nos 
séculos XVII e XVIII. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2003. p. 63. 
26 
 
―matutos violentos‖ e ―vadios‖, que demorariam ainda meio século 
para serem ―domesticados‖ e submetidos pelo processo civilizador 
da capital.24 
 
Como podemos observar o sentimento de pertença (ou sentimento de pátria) 
ainda estava sendo implantado no subconsciente da ―população brasileira‖. 
Raimundo Alves fazendo seu estudo em cima do território que conhecemos hoje 
com Ceará nos evidencia que como a unificação jurisdicional era falha no período 
colonial. As regiões eram sociamente dispersas uma das outras. A cultura e a 
resistência nativa ainda eram características fortes se comparada aos meios sociais 
da capital. 
Mas, geograficamente falando, como se designavam os moradores de tais 
regiões? Raimundo Alves ainda vai nos demonstrar como era construída a formação 
da identidade da população local: 
 
É possível mesmo que, neste ambiente interiorano prevalecesse a 
―identidade de família‖, ou uma identidade de grupo parental, ao 
invés da identidade cívica ou nacional/provincial. Dizer-se “-Eu sou 
dos Paula Pessoa de Sobral‖, ou ―dos PompeuBrasil de Santa 
Quitéria‖, dos ―Alencar do Cariri‖, ou ainda “gente dos Araújo Salles 
do Tamboril‖ etc., teria muito mais força identitária do que se dizer 
brasileiro ou cearense naqueles sertões de então.25 
 
As formações das identidades geográficas e sociais das populações locais 
foram moldadas para atenderem as necessidades gerais da Coroa e da Igreja. No 
entanto, tais concepções cresceram com a essência e a base do nome da família 
patriarcal, em que o senhor da fazenda, dono do poder no local, tinha como parte de 
suas posses a própria identidade daquele povo. 
Os sobrenomes das famílias se perpetuavam, como ainda hoje se perpetua 
no meio social, político e administrativo. Fazer parte de um clã era (é) saber que não 
seria deixado de lado na hora da necessidade, em troca, deveriam fidelidade nos 
serviços e nas necessidades da família patriarca. E como a presença sólida do 
governo era a própria família, todo o sistema de administração dentro do lócus 
jurisdicional pertencente a tal seria legislada, judiciada e executada pela parentela 
dominante. 
 
24
 ARAÚJO, Raimundo Alves de. FAMÍLIA E PODER: A construção do Estado no noroeste 
cearense do século XIX. (1830-1900). Fortaleza, 2011. Página 25. 
25
 Ibidem. p. 25. 
27 
 
Não é difícil imaginar que tais poderes não seriam utilizados em prol do bem 
comum de toda a sociedade. A lei servia para a família dominante e seus parentes e 
agregados. Que ninguém ousasse confrontar tal poder, caso contrário, fora estar a 
margem dos preceitos religiosos ensinados, estaria entrando em um grande conflito 
com todo o aparato militar pertencente a tal família. 
Com todo o exposto, percebemos que o governo da Coroa se fazia construir e 
estar presente por meio de tais formações familiares e pela atuação da igreja, o que 
nos coloca num contexto de formação de identidade a partir da elite, com conceitos 
que visavam a formação de uma estrutura favorável a perpetuação do nome das 
famílias dominadoras, oriunda de preceitos europeus católicos capitalistas. 
 
1.5 As freguesias, vilas e as legitimações de poder. 
 
A capitania forma pois a maior unidade administrativa da colônia. 
Divide-se seu território em comarcas, sempre em pequeno número. A 
comarca compõe-se de termos, com sede nas vilas ou cidades 
respectivas. Os termos, por sua vez dividem-se em freguesias, 
circunscrição eclesiástica que forma a paróquia, sede de uma igreja 
paroquial, e que servia também para a administração civil. 
Finalmente as freguesias ainda se dividem em bairros, circunscrição 
mais imprecisa, e cujo principal papel aparece na organização das 
ordenanças, [...].26 
 
As freguesias27 foram por muito tempo instituições da igreja católica que 
tiveram imensa importância para a administração governamental do período colonial. 
Como podemos observar nas palavras de Prado Junior, as freguesias eram a ultima 
instância organizada sob os domínios do governo português e obviamente da Igreja 
Católica, tendo em vista que era através de sua atuação que era instituído e 
legitimado os poderes da Igreja dentro dos domínios coloniais. Suas atuações eram 
desde controlar os aferros e catequizar os nativos aos bons costumes europeus, até 
transfigurar a estrutura eclesial e política da Igreja Católica e indiretamente da Coroa 
portuguesa para toda a extensão que compreendia o território sob sua jurisdição. 
No período da colonização do Brasil, as freguesias eram constituídas de 
vastas léguas de terras com suas respectivas capelas. Sendo assim não é difícil 
imaginar como eram extremamente necessárias para o governo lusitano e seus 
 
26
 PRADO JUNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. p. 295. 
27
 Palavra que se tornou obsoleta aos passar dos anos e teve parte de suas atribuições eclesiais 
transplantadas para o que conhecemos hoje como paróquia. 
28 
 
planos de pleno domínio e controle de território da colônia brasileira, visto que eram 
os responsáveis pela freguesia que teriam a incumbência de tornar a terra em um 
legítimo território português. 
Vale mais uma vez ressaltar que no período em discussão a Igreja o Estado 
eram instituições ligadas uma a outra, o que vai tornar as freguesias e suas 
respectivas vilas não só o centro da Igreja Católica, mas também o um dos centros 
administrativos do governo naquele território e/ou região como podemos perceber no 
seguinte trecho retirado da dissertação de mestrado de Chistiane Finizola Sarmento: 
 
Enquanto ponto de polarização de vasto território, para onde acorrem 
fiéis dos mais longínquos rincões, a freguesia constitui-se em 
significativo aliado do Governo português no processo de conquista 
efetiva do território através do povoamento. Primeiramente, porque a 
freguesia era uma forma de organização do território no âmbito 
eclesiástico e que tinha efeito civil, sendo diretamente instituída pela 
Coroa portuguesa. Assim como as ribeiras, as freguesias também 
serviam de divisão territorial para os objetivos de colonização do 
próprio Governo português, numa época em que a união da Igreja e 
do Estado impedia uma separação muito nítida de competências 
entre os dois poderes. Em segundo lugar, a paróquia servia, entre 
outras funções, como registro de cartório.28 
 
Todo o sistema burocrático que atualmente é realizado por cartórios civis foi 
um dia papel destinado aos vigários das freguesias. Eles tinham a responsabilidade 
e o poder de fazer todo o trabalho de registros de nascimentos (através dos 
batismos), casamentos, óbitos, dentre outros que hoje são ofícios dos Cartórios de 
Registro Civil. 
Com a criação das freguesias era possível fazer a ponte entre os órgãos de 
governo da Coroa com toda a extensão territorial que estava sob seu domínio. Para 
que isso fosse possível, além da presença dos sacerdotes da Igreja Católica, eram 
realizadas espécies de alianças com elites locais, dando-lhes aparatos políticos e 
administrativos e concedendo privilégios junto ao governo. Com tal medida foi 
possível a colonização dos interiores considerados pelos dominadores como 
selvagens e devolutos e ―integrar a capitania e a elite local às relações de poder da 
Coroa‖ 29. 
 
28
 SARMENTO, Chistiane Finizola. Povoações, Freguesias e Vilas na Paraíba Colonial: Pombal e 
Sousa, 1697 – 1800. Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN. 2007. p. 
85. 
29
 FARIAS, Airton de. História do Ceará. – 1ª reimp. – 6. ed. rev. e ampl. Fortaleza: Armazém da 
Cultura, 2012. p. 91. 
29 
 
Neste momento faremos uma pausa para um breve comentário sobre as 
relações de poder entre os dominadores e os dominados, entre as autoridades e 
seus submissos. Houve sim a superioridade do poder da Coroa dominante sobre a 
cultura e interesses das ―classes‖ inferiores, caso contrário obviamente não seriamos 
uma América portuguesa. Porém é equivocado que digamos que uma hora ou outra 
não houve casos contrários a tal superioridade. 
Exemplo dessa manipulação das vontades e/ou interesses do dominado em 
detrimento dos objetivos do dominador foram as alianças realizadas entre os 
nativos com franceses e holandeses no combate aos portugueses e posteriormente 
a aliança com os próprios lusitanos para a expulsão dos estrangeiros das terras 
portuguesas no período entre 1603 à 1649 (FARIAS, 2012). Tais uniões foram 
realizadas de acordo com objetivos e necessidades dos indígenas naquele 
momento. Imaginemos tais situações com alianças formadas a partir da própria 
Coroa, concedendo poderes às elites locais, como elas puderam realizar suas 
próprias vontades e reivindicações com poderes legais cedidos pelo governo 
lusitano... 
A freguesia era responsável eclesiasticamente do nascimento até a morte de 
seus fregueses. A lei social, por assim dizer, era ―legislada e executada‖pela elite 
local, o que dava extrema autonomia para a família dominante e geravam muitos 
excessos e arbitrariedades, como já discutimos anteriormente. O que vai nos 
interessar neste momento é que o Estado português institui a criação das freguesias 
para administrar as almas de um determinado perímetro de sua região. E para 
cuidar dos interesses ―civis‖30, o governo lusitano institui as vilas para melhor gerir os 
interesses e as leis do próprio Estado naquela região. Com tal medida a Coroa cria 
aparatos políticos e máquina pública para integrar legalmente os interesses das 
elites locais com a administração colonial. 
Uma das medidas adotadas para tal objetivo era a criação das Câmaras de 
vereadores, que eram instituições que tinham poderes legais para administração civil 
das vilas. A Coroa sedia parte de suas responsabilidades e poderes para os 
considerados ―homens bons‖31 da região, para que o Estado estivesse sempre 
presente na vida cotidiana de todos os indivíduos do território colonial, desde o 
 
30
 Família dominante. 
31
 Grandes proprietários 
30 
 
nascimento com o batismo da Igreja Católica até as relações cotidianas mediadas 
pelos interesses dos governantes em geral. 
As atribuições dos ―homens bons‖ eram legislar as necessidades locais e 
colocar em vigência as leis da Coroa, fazer a administração local e o controle da 
ordem policial e judicial, como podemos perceber em Girão: 
 
[...] regulamentar as feiras, os mercados e o trânsito, fiscalizar a 
construção de estradas, pontes e calçadas, fiscalizar a construção 
dos edifícios e o exercício do comércio e arborização das ruas e 
praças, e muita coisa mais relacionada com o bem comum, inclusive, 
representar em beneficio deste às autoridades superiores e mesmo 
ao rei.32 
 
Com a concessão de tais poderes a Coroa se fez ainda mais presente na 
rotina local. Os que não se fizessem entender, ou resistissem ao modo de vida e a 
cultura em construção, seriam punidos tanto em vida, com as penalidades previstas 
em lei (extremamente abusadas pelas autoridades locais) e após a morte pelas 
pregações da igreja. 
Nessa perspectiva os vereadores tinham dentro da Câmara o espaço ideal 
para a defesa de seus anseios e necessidades. Em que tinham na Coroa um 
suporte para conseguirem subsídios para a execução de atividades exploratórias em 
nome da Coroa e da igreja. É dentro dessa realidade que se forma a identidade 
cultural dos habitantes da colônia portuguesa ultramar. Embora que a resistência 
ainda esteja viva nos dias atuais, o plano de colonização lusitana afinal conseguiu 
atingir seus objetivos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32
 GIRÃO, Raimundo. Geografia Estética de Fortaleza. Fortaleza, BNB. 1979. Página 48. IN: 
FARIAS, Airton de. História do Ceará. Fortaleza. Página 90. 
31 
 
2. DA CONSTRUÇÃO DA IGREJA A CRIAÇÃO DA FREGUESIA 
 
A colonização do território cearense, como um todo, ficara a margem dos 
interesses e investimentos da Coroa por muito tempo. Até o século XVI a ausência 
de maiores atrativos econômicos colocava as terras conhecidas hoje como Ceará 
um passo atrás de outras capitanias que já geravam lucros como Pernambuco e 
Bahia. Somente em 1603 que houve um principio de colonização do Ceará com 
Pero Coelho de Sousa que marchava com um grupo de homens para buscarem 
domínio das terras até o Maranhão que estavam sendo invadidas por piratas 
estrangeiros. Embora tenha obtido algumas vitórias em sua missão, Pero Coelho 
acabou retirando-se da região pela falta de condições devido a seca que assolou o 
território entre os anos de 1605 a 1607 (FARIAS, 2012). 
Ainda em 1607 a tentativa de colonização foi passada para as mãos dos 
sacerdotes da Companhia de Jesus Francisco Pinto e Luiz Figueiras, para que fosse 
realizado um trabalho de controle e mansidão com a catequização nativa. No 
entanto, tempos mais tarde Luiz Figueiras teve que sair em fuga do território em 
vista da morte de Francisco Pinto por consequência da resistência nativa. 
O que vai nos interessar neste contexto é que em ambas (e outras demais) 
tentativas de colonização cearense, a Serra da Ibiapaba sempre foi um ponto de 
referência para os planos da plena colonização do território cearense e 
consequentemente nacional, tendo em vista a essencialidade de sua localização 
geográfica, extremamente importante para a propagação da fé católica e o 
consequente sucesso do domínio lusitano ―Sua localização era estratégica e 
garantia um percurso livre para os colonizadores portugueses entre o Maranhão e 
Pernambuco‖33. 
A problemática encontrada pelos colonizadores para tal sucesso foi o amplo 
contingente nativo do território ibiapabano, que acabara abrangendo grande 
quantidade de indígenas resistentes da própria e de outras regiões vindas das 
capitanias vizinhas, o que elevou seu número de habitantes, esses que, vez ou outra 
e dependendo de seus objetivos, buscavam negociações pontais com povos 
estrangeiros para interesses diversos, desde embates contra tribos rivais, até a 
 
33
 SOUSA, Mônica Hellen Mesquita de. Missão na Ibiapaba. Estratégias e táticas na Colônia nos 
séculos XVII e XVIII. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2003. p.104. 
32 
 
aliança com piratas para o combate contra os portugueses e união com colonos 
lusitanos para a expulsão de outras nações do território. 
A Serra da Ibiapaba (ou parte dela) somente seria ―dominada‖ com a 
fundação do Aldeamento da Ibiapaba no ano de 1700 pelos sacerdotes da 
Companhia de Jesus. 
Todos esses acontecimentos acabaram adiando o processo de colonização 
cearense, tanto que o território somente irá conseguir alcançar a condição e 
autonomia de capitania no ano de 1799 (FARIAS, 2012). Antes disso, sua 
governabilidade foi responsabilidade das capitanias de Pernambuco e Maranhão, o 
que, ao longo dos anos gerou diversos problemas de gerência e jurisdição. 
Pensando nessas peculiaridades e especialidades de todo o processo de 
colonização discutido até aqui, buscaremos estudar neste capítulo os procedimentos 
de colonização do Ceará com os olhos voltados para as Serras da Ibiapaba e dos 
Cocos, procurando logo no próximo tópico de discussão ―Os primórdios da 
ocupação: Os jesuítas‖ entender a presença dos sacerdotes inacianos e como sua 
atuação foi preponderante para a construção da identidade histórica na região. 
Explanaremos alguns de seus métodos de atuação no aldeamento da Ibiapaba e 
como sua influência foi indiretamente necessária para a criação da futura Freguesia 
de São Gonçalo. 
Em seguida postularemos o seguinte subitem: ―Araújo Chaves, o precursor de 
um clã‖ com o intuito de compreender como se formou o conjunto familiar que 
colonizou e deu inicio a uma dominação na região, destacando o pedido de 
sesmaria do território e os matrimônios que possibilitaram a formação do poder 
familiar da região. 
Dando sequência à discussão com ―A simbologia do poder e da dominação 
na construção da Igreja‖ tendo como intuito demonstrar que a construção da Capela 
de São Gonçalo foi um imponente e importante símbolo que o Curato do Acaraú 
usou para atingir seus planos e objetivos de dominação territorial, buscando desta 
maneira compreender o conflito existente entre os sacerdotes da Companhia de 
Jesus e os padres seculares do Curato do Acaraú. 
Nosso último tópico de discussão ―A construção do poder eclesial: Freguesia 
da Serra dos Cocos‖ será o ápice de nossa pesquisa. Buscaremos destacar os 
motivos da criação da freguesia, com o olhar voltado para questões políticas de 
posse e pertencimento. A presença de um sacerdote vivendo na região seria o 
33 
 
passo da consolidação da fé Católica secular no território. Discutindo ainda como a 
sede da matriz da freguesia ficara a margem das autoridadese a consequente 
criação da Vila Nova Del Rei. 
 
2.1 Os primórdios da ocupação: Os jesuítas 
 
A consolidação da presença dos sacerdotes da Companhia de Jesus em solo 
ibiapabano somente ocorreu passados dois séculos da presença lusitana no 
território nacional como já pudemos constatar anteriormente. Seus métodos de 
trabalho tinham como intuito a ―salvação‖ das almas inocentes que vivam em pecado 
e doutriná-los a viverem em ―uma concepção de mundo européia e cristã‖34. 
Um dos objetivos práticos da missão era tirar os indígenas que já ocupavam 
áreas propicias e de interesses dos colonos. Além do mais, colocando-os em uma 
única área, era possível catequizar e educá-los a fé cristã, além de forçá-los a serem 
submissos a Coroa e prestarem obediência aos senhores ―superiores‖. 
Abre-se um parêntese neste momento para ponderarmos que se faz 
necessário e importante para o decorrer da pesquisa salientarmos que ―Portugal 
enviou jesuítas a partir do Maranhão com a pretensão de pacificar os nativos‖35. 
 Após alguns anos da criação da Missão, alguns nativos nem faziam 
resistência para serem levados aos aldeamentos artificiais, tendo em vista os 
frequentes abusos físicos e mortes dos seus em detrimento da escravidão e 
violência dos colonos fazendeiros, mesmo que, dentro dessa nova rotina sua cultura 
fosse colocada em xeque com as práticas de catequese ensinadas nos 
aldeamentos. 
Muito das culturas hereditárias nativas foram rejeitas e abominadas do 
convívio social ao estilo capitalista europeu que estava sendo implantado na Missão. 
O etnocídio nativo foi um dos pontos mais trabalhados pelos inacianos para 
conseguirem pleno controle sobre a resistência apresentada pelos indígenas. 
Uma das ―novidades‖ implantadas pelos inacianos à rotina indígena foi o 
controle do tempo com o badalar do sino da igreja como podemos observar no 
estudo de Airton de Farias: 
 
34
 Ibidem. p. 53. 
35
 FARIAS, Airton de. História do Ceará. – 1ª reimp. – 6. ed. rev. e ampl. Fortaleza: Armazém da 
Cultura, 2012. p. 69. Grifo nosso. 
34 
 
Bem cedo, de madrugada, o badalar dos sinos acordava todos os 
indígenas, os quais deveriam se ocupar dos serviços domésticos 
(dobrar as redes, armazenar água nos potes, preparar a 1ª refeição 
do dia, etc.). Após as orações e a missa, enquanto os nativos mais 
habilidosos eram encaminhados para a escola (onde se ensinava a 
ler, escrever, cantar e tocar instrumentos, afora o catecismo 
completo), a maioria ia para o trabalho nos campos, nos currais e 
nas oficinas (como no caso das mulheres dedicadas à tecelagem, 
para a produção de roupas, bordados e adornos para a igreja). 
Servia-se o almoço e, ao pôr do sol, o sino anunciava o fim do 
trabalho, reunindo-se a comunidade para a oração diária do rosário e 
novas orientações catequéticas. Era um catecismo repetitivo, 
mecânico, com perguntas e respostas prontas, sem espaços para 
questionamentos.36 
 
Tais atividades traziam diversas mudanças conceituais no que se refere a 
trabalho, cultura e religião. Os nativos não tinham como propósito o acúmulo de 
matérias em sua rotina de vida, praticavam um serviço de subsistência e tinham um 
conceito de trabalho diferenciado do que foram sujeitados a exercer. Nos 
aldeamentos artificiais eram feitos muitos trabalhos de pregação contra a cultura e 
as divindades nativas, fazendo com que antes, durante e depois de todas as 
atividades existissem ritos católicos para a absorção dos conceitos morais da Igreja 
e do Estado. 
A execução dos planos inacianos aqui apresentados eram realizadas dentro 
das missões, mas nada impedia que os sacerdotes inacianos saíssem portões afora 
para o arrebanhamento de mais ―inocentes‖ para àquele rebanho. 
A saída dos jesuítas do aldeamento artificial para a busca de mais indígenas 
para a missão teria chegado ao lado sul da Ibiapaba e lá teriam encontrado 
condições e/ou sentindo a necessidade da construção de um hospício37 para melhor 
promover o serviço de arrebanhamento naquela região.É dentro de tal finalidade que 
acreditamos que é principiado o processo de ocupação religiosa do território que 
viria a se chamar Serra dos Cocos. 
Em nossa pesquisa de graduação estudamos a influência dos sacerdotes 
inacianos na Serra dos Cocos, e para melhor compreendermos o princípio dessa 
presença destaco o seguinte trecho: 
 
 
36
 Ibidem. p. 74. 
37
 A expressão era utilizada até o século XVIII como termo para designar hospedagem; ponto de 
apoio e descanso; parada. 
35 
 
Entre o distrito de Matriz de São Gonçalo (antiga sede da Serra dos 
Cocos) e a localidade de Arraial (situada no pé da serra, como é 
popularmente chamada) está localizada a ruína de uma edificação 
que seria a evidência física da passagem dos sacerdotes inacianos 
pelo lado sul da Serra da Ibiapaba.38 
 
Como podemos perceber, no local onde um dia foi sede da Freguesia de São 
Gonçalo da Serra dos Cocos, há o que acreditamos ser uma proeminência física da 
presença dos jesuítas pela dita serra. As ruínas destacadas teriam sido a tentativa 
de elevação de um ponto de apoio inaciano na Serra dos Cocos para que fossem 
realizadas as sondagens e capturas dos nativos da região para serem levados à 
Missão da Ibiapaba. 
Os pretextos que causaram a destruição do hospício serão mais bem 
discutidos nos próximos subitens deste capítulo, no momento nos preocuparemos 
em analisar alguns pontos da presença jesuítica na região em que estamos neste 
momento discutindo. 
A presença de vida nativa certamente foi um dos motores que impulsionaram 
a elevação de um hospício na Serra dos Cocos, no entanto não fora o único. Em 
observação às ruínas acima citadas constatamos que se trata de um local com 
planície consideravelmente nivelada pelas condições geográficas da região e com 
abundância de meios para captação de água39, que além de possuir formações de 
pequenos riachos em todo o perímetro da região, existem locais com bicas e 
reservatórios naturais que acumulam água em todos os períodos do ano. 
Com condições geográficas e populacionais necessárias para a construção 
de um ponto de referência na região, os inacianos iniciaram seus trabalhos sem a 
preocupação de informar suas ações a outras autoridades senão as que estavam 
subordinados. Acontecimento que não agradou a todos. Para melhor 
compreendermos a disputa que se iniciou pela ação jesuítica na Serra dos Cocos, 
faremos uma pausa na explanação sobre o serviço dos sacerdotes da Companhia 
de Jesus e discutirmos o outro poder colonizador da região no período analisado: o 
poder da família local. Logo após retomaremos a discussão fazendo o paralelo entre 
as ações de tais agentes colonizadores e suas respectivas consequências. 
 
 
38
 LIMA, Elivelton Rodrigues. A presença dos padres jesuítas na Serra dos Cocos: As questões 
que levaram a construção da igreja de Matriz de São Gonçalo. (1712-1724). Sobral, 2013. p. 34. 
39
 Motivo pelo qual acreditamos ter sido fundamental para a escolha do local da edificação jesuítica. 
36 
 
2.2 Araújo Chaves, o precursor de um clã 
 
Antes de adentramos diretamente nas discussões as quais este tópico 
objetiva, é interessante que se faça um estudo sobre os significados que carregam a 
palavra Clã. Em uma rápida pesquisa no Google40 encontramos a seguinte 
definição: 
 
clã 
substantivo masculino 
1. ant. na Escócia, na Irlanda e na Gália, tribo formada por pessoas 
de origem comum. 
2. antrpol conjunto de famílias que se presumem ou são 
descendentes de ancestrais comuns. 
3. p.ext. agrupamento familiar comum. 
4. infrm. a família. 
5. casta. 
6. fig. partido, facção, lado. 
7. mat família de subconjuntos de um conjunto tal que a união e a 
diferença de dois conjuntos da família são também conjuntos da 
família. 
Origem 
⊙ ETIMing. clan 'id.', do gaél. clann 'família, raça' e, este, do lat. 
planta,ae 'planta, rebento, renovo'41 
 
Partindo desta definição fica evidente que o termo Clã remete a formação 
familiar. Assim podemos entender que todo grupo que se ligue através da parentela 
da família se constitui um Clã. E é partindo de tal conceito que trabalharemos como 
se deu a constituição da família dominante da Serra dos Cocos. Para isso nos 
remeteremos a estudar como se deu o primórdio da invasão branca na região, com 
os olhos voltados para José de Araújo Chaves que foi o precursor do 
empreendimento europeu no território e como se deram as ligações familiares que 
abriram caminho para a dominação da família que ditaria a lei tempos mais tarde. 
Para dar inicio a um processo de colonização, a criação de gado seria a 
principal atividade que fundamentaria e justificaria a ocupação do território que 
compreende o interior cearense. Foi nesse intuito e com o emprego de tal atividade 
que José de Araújo Chaves fez seu pedido de colonização de parte do território que 
 
40
 Domínio: https://www.google.com.br. 
41
 Clã definição. Disponível em: 
 <https://www.google.com.br/search?q=o+que+%C3%A9+um+cl%C3%A3+.pdf&ie=utf-8&oe=utf-
8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-BR:official&client=firefox-
a&channel=fflb&gfe_rd=cr&ei=YQZGVsfNOuup8wfEhbfwDg#channel=fflb&q=cl%C3%A3+defini%C3
%A7%C3%A3o> acesso em 13/11/2015. 
https://www.google.com.br/
https://www.google.com.br/search?q=o+que+%C3%A9+um+cl%C3%A3+.pdf&ie=utf-8&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-BR:official&client=firefox-a&channel=fflb&gfe_rd=cr&ei=YQZGVsfNOuup8wfEhbfwDg#channel=fflb&q=cl%C3%A3+defini%C3%A7%C3%A3o
https://www.google.com.br/search?q=o+que+%C3%A9+um+cl%C3%A3+.pdf&ie=utf-8&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-BR:official&client=firefox-a&channel=fflb&gfe_rd=cr&ei=YQZGVsfNOuup8wfEhbfwDg#channel=fflb&q=cl%C3%A3+defini%C3%A7%C3%A3o
https://www.google.com.br/search?q=o+que+%C3%A9+um+cl%C3%A3+.pdf&ie=utf-8&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-BR:official&client=firefox-a&channel=fflb&gfe_rd=cr&ei=YQZGVsfNOuup8wfEhbfwDg#channel=fflb&q=cl%C3%A3+defini%C3%A7%C3%A3o
https://www.google.com.br/search?q=o+que+%C3%A9+um+cl%C3%A3+.pdf&ie=utf-8&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-BR:official&client=firefox-a&channel=fflb&gfe_rd=cr&ei=YQZGVsfNOuup8wfEhbfwDg#channel=fflb&q=cl%C3%A3+defini%C3%A7%C3%A3o
37 
 
um dia compreenderia a Freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos. Um 
montante de terra que até então era devoluto à Coroa e que mais tarde acabaria 
sendo a representação do poder europeu sobre a região. 
O pedido oficial de sesmaria aconteceu no ano de 1722, sendo a ―concessão 
de uma das maiores sesmarias do período colonial do Ceará‖ 42. Vale lembrar que o 
pedido foi a união de um grupo de oito colonos, cada um com o intuito de ser 
sesmeiro de uma porção de terra de três léguas, perímetro máximo de terra 
permitido por lei na época por colono. 
Para melhor nos situarmos, vejamos um trecho do pedido: 
 
N° 39. Registro da data e sesmaria do Coronel Francisco Alves 
Feitosa e mais companheiros, de uma sorte de terras de tres léguas, 
para cada um, nas cabeceiras do rio Acarahú, concedida pelo 
Capitão Mor Manoel Francez, em 17 de julho de 1722, das páginas 
28 a 29 do livro n° 10 das Sesmarias. [...] 
[...] Dizem o Coronel Francisco Alves Feitosa, e o Comissário geral 
Lourenço Alves Feitosa, o Capitão Mór Joseph de Araújo Chaves, o 
Capitão Luiz Viera de Sousa, o Capitão Antonio Roiz Vidal, e o 
thenente João da Maya de Cordoa, o Coronel Lourenço Alves 
Penedo e Rocha, o Capitão Manoel Gomes Leitão, que elles tem 
seus gados vacuns e Cavallares, e não tem terras bastantes para os 
criar, e como agora tem descuberto, terras devoluto e 
desaproveitadas, nas cabesseiras da Ribeira do Caracú da barra do 
Riacho pera sima, pretendem elles suplicantes pera cada hum, 
treslegoas de comprido, húa de largo, meya légua para cada banda, 
pegando dos últimos providos pera sima, donde acharem mais 
capacidades pera se poderem encher, em agoas vertentes, e 
Riachos e Lagoas, que se acharem pertencer a Capitania do Siará 
Grande athe Serem cheios os ditos crêos pelo que; pedem a vossa 
merce que lhe faça merce mandar passar carta de datta e Sismaria 
das terras que pedem, em nome de Sua Majestade que Deos 
guarde, pera Sy, e seus erdeiros, e recebera merce// Despacho// 
Informe o escrivão das dattas, dezassete de julho de mil, e 
setecentos, e vinte, e dous annos// Rubrica// Informaçam// Senhor 
Capitão Mayor, como as terras que os suplicantes pedem as 
descubriram e estão devoluto, e desaproveitadas, vossa merce lhe 
deve deferir como for servido, Icó dezassete de julho de mil, e 
setecentos e vinte, e dous annos// Simão gonçalves de Souza// [...]43 
 
Partindo dessa citação observamos que o processo se deu no ano de 1722 e 
que os solicitantes estavam almejando terras para a criação de gado e tendo eles 
―descoberto‖ uma terra em que era devoluta para os interesses da Coroa estavam 
 
42
 FARIAS, F. Araújo. Araújos e Feitosas: Colonizadores do Alto e Médio Acaraú. Fortaleza: 
Gráfica Ramos, 1995. p. 15. 
43
 Ibidem. p. 15/16. 
38 
 
eles interessados em ocupar e colonizar o território e instalar os preceitos da fé e da 
civilização naquela região. 
No entanto, é necessário que destaquemos que não era difícil que os colonos 
já conhecessem o território, casos como esse eram até comuns. Observemos: 
 
No entanto, nada impede que estes senhores já estivessem 
produzindo nessas terras informalmente, sem a devida legalização, 
tendo em vista o interesse em conferir a logística local, além do mais 
que a própria fiscalização nesse período era praticamente nula para 
tais casos.44 
 
O período abordado ficou conhecido como absenteísmo, que foi uma forma 
do colono ter controle sobre a terra sem estar presente nela. Um encarregado, 
homem de confiança do fazendeiro, tomaria conta da fazenda enquanto seu superior 
não estivesse presente. O intuito seria principalmente observar a logística local, e 
para isso às fazendas eram simples (pra não dizer precárias) sem a necessidade de 
grandes investimentos, como salienta Airton de Farias: 
 
Nesta faze do absenteísmo, para montar a fazenda, bastava a terra, 
algumas reses, currais com cerca de pau a pique e a construção de 
uma casa simples – geralmente de taipa e coberta com palha de 
carnaubeira. Era constante o deslocamento em busca de novos 
pastos e fontes d’água para sustentar os crescentes rebanhos, 
fundando-se novos currais.45 
 
Com todo o exposto, embora a solicitação de ocupação oficial do território que 
um dia se tornaria parte da Freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos tenha 
ocorrido no ano de 1722, acreditamos que a região já era conhecida e já estava 
sendo ocupada períodos antes pelo Capitão José de Araújo Chaves para 
averiguação das condições locais para sua instalação (e de sua família) e elevação 
de sua fazenda para a criação de gado. 
Tal fazenda foi construída no local em que hoje é a sede do município de 
Ipueiras. Nos registros encontrados até agora, não encontramos nenhum indício que 
possa afirmar que ele tenha instalado alguma fazenda na serra neste período. No 
entanto fica evidente que ele tinha a serra como parte, anexo de seu território, tendo 
erigido sua fazenda e residência oficial no sertão. 
 
44
 LIMA, Elivelton Rodrigues. A presença dos padres jesuítas na Serra dos Cocos: As questões 
que levaram a construção da igreja de Matriz de São Gonçalo. (1712-1724). Sobral, 2013. p. 31. 
45
 FARIAS, Airton de. História do Ceará. p. 30/31. 
39 
 
Sobre a localização da fazenda, observemos: 
 
Os motivos que levaram sua fixação no sertão ainda são um tanto 
quando sem explicação documentalmente até o momento, dessa 
forma temos que nos basear em indícios existenciais dos ocorridos

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