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1 Obs.: Quando falamos “terapia renal substitutiva” quer dizer que está substituindo a função renal, como a diálise ou transplante. Nefropatia Diabética Nefropatia diabética é algo muito comum do consultório do nefrologista, quase o dia-a dia. É muito importante que entendamos a importância desse assunto. BIBLIOGRAFIA Veremos que a professora escreveu novamente bastante no slide para que funcione como uma fonte de estudo para nós. (Tudo o que esta nos slides esta nessa aula!) EPIDEMIOLOGIA A nefropatia diabética é, no mundo, a principal causa de doença renal crônica com necessidade de substituição da função renal, que é o que chamamos de doença renal crônica instável ou de categoria 5. No gráfico ao lado, podemos observar que a prevalência de nefropatia diabética em relação as outras doenças crônicas que levam a dialise está aumentando período após período (2009 – 2018). No Brasil é a segunda causa que leva o paciente a fazer diálise ou transplante, com tendência a subir. Em alguns centros a nefropatia diabética chega a ser a primeira causa de D. renal crônica, provavelmente porque não tratamos tão bem os nossos diabéticos e eles acabam sucumbindo ao longo do caminho, morrendo antes de chegar a diálise, especialmente por complicações cardiovasculares. 45% dos pacientes que estão em terapia renal substitutiva nos Estados Unidos estão ali por causa de nefropatia diabética. 2 Temos presenciado o crescimento mundial da obesidade, e com ele o aumento do risco cardiovascular. Temos a Sd. Metabólica que é quando o paciente tem mais de um fator de risco cardiovascular, como aumento da circunferência abdominal, HDL baixo, LDL alto, triglicerídio e acido úrico elevado, glicemia elevada etc. Devemos, entretanto, relacionar mais a obesidade ao diabetes tipo 2 e Sd. Metabólica. Se temos muitos pacientes obesos, a tendência é que aumente o numero de pacientes com nefropatia diabética, pois vai aumentar o numero de pacientes com diabetes tipo 2 e sabemos que mais ou menos de 25 a 30% desses pacientes vão ter uma complicação renal. Nos últimos 20 anos a prevalência de diabetes nos estado unidos aumentou de 6 para 10% da população. Apesar de no Brasil termos uma estabilidade na porcentagem de pacientes diabéticos que evoluem com nefropatia, como aumentou o numero de pacientes diabéticos, também aumentaram os nefropatas. Temos muito mais pacientes nefropatas com diabetes tipo 2(90%) do que com tipo 1(10%). FATORES DE RISCO Existe uma base genética fortemente implicada no desenvolvimento da nefropatia diabética, e existem também fatores de risco ambientais, alguns modificáveis e outros não. Os que são modificáveis nos dão a possibilidade de atuar e evitar a progressão do quadro. • Idade: Quanto mais velho o paciente, maior a probabilidade de ter uma complicação renal quando ele é diabético. • Obesidade: Relacionada ao diabetes tipo 2. A própria obesidade é uma situação que leva o paciente a hiperfiltrar, assim, vai associando duas situações que levam o rim à exaustão, otimizando a patogênese da nenfropatia diabética. • Hiperglicemia: Veremos que um dos pilares no tratamento é o controle glicêmico, assim como o controle da pressão arterial. • Hipertensão; • Dislipidemia; • Tabagismo; Devemos pensar assim: “tudo que machuca o coração também machuca os rins.” Os rins estão dentro do sistema cardiovascular, esses são os órgãos mais vascularizados por grama de tecido 3 do corpo humano. É basicamente um enovelado de capilares, assim, tudo o que compromete o endotélio, em ultima análise pode comprometer também a função renal. • Historia familiar nefropatica diabética; Relato: Um pai de família era o meu paciente na dialise, um dos filhos começou a acompanhar comigo no ambulatório, depois também entrou em diálise peritoneal e por fim o filho mais novo também começou a fazer acompanhamento. O pai faleceu e o irmão mais velho também alguns anos depois. Essa doença se mostrou muito agressiva nessa família. A historia familiar é um fator muito importante que deve ser levado em conta. PATOGÊNESE A hiperglicemia é o começo de tudo. A hiperglicemia leva a produção dos “AGEs”. Os AGEs são os produtos finais da glicosilação avançada. Leva também a formação de “ROS” que são as espécies reativas de oxigênio. Na verdade, esses são produtos metabólicos aberrantes do metabolismo glicêmico. Isso leva a expressão de genes pro fibróticos e pró inflamatórios. Assim, a hiperglicemia em última análise vai contribuir para a fibrose e para inflamação do parênquima renal. Temos também alterações na dinâmica glomerular, na inflamação e na fibrose, que são mediadores primários dos danos nos tecidos renais, embora a contribuição relativa desses mecanismos varie de individuo para individuo ao longo da historia da doença renal diabética. Vemos muito no dia a dia que tem paciente que tem uma evolução muito mais tranquila da nefropatia diabética, já outros perdem a função renal mais rapidamente. Mas de qualquer forma, um dos pilares no tratamento é o controle da glicemia. Um ambiente hiperglicêmico vai aumentar a hiperfiltração glomerular. Vai haver um desequilíbrio entre moléculas que relaxam, ou seja, a hiperglicemia motrifica o equilíbrio na hemodinâmica do glomérulo. Vai haver um desbalanço entre moléculas que vão diminuir a resistência da arteríola eferente, como oxido nítrico, prostaglandina, fator natriurético atrial e a própria resistência a insulina. A arteríola aferente terá seu calibre aumentado, diminuindo a resistência e aumentando o fluxo. Quando chega mais sangue aumenta a pressão hidrostática, fazendo com que o rim hiperfiltre. Há moléculas também que atuam na arteríola eferente, aumentando a sua resistência, como o tromboxano e angitensina 2. Essas moléculas fazem com que seja mais difícil de o sangue sair, aumentando ainda mais a pressão dentro dos capilares glomerulares e consequentemente aumentando a taxa de filtração glomerular. Aumentar a taxa de filtração pode parecer bom, mas a logo prazo leva a um processo de agressão ao glomérulo. Uma outra questão que acontece na nefropatia diabética é a perda da capacidade do rim de se adaptar as mudanças da pressão arterial sistêmica. É muito comum o paciente diabético ter também hipertensão arterial. Se ele não tem ainda, certamente, com a piora da sua função renal, ele irá desenvolver. Existem outros fatores de risco para hipertensão, normalmente o paciente é obeso, tem Sd. Metabólica etc. Pela própria fisiopatologia, essas doenças costumam caminhar juntas, principalmente quando estamos relacionando ao diabetes tipo 2. Fisiologicamente, possuimos um mecanismo de adaptação ao aumento da pressão arterial. O paciente diabético perde essa capacidade de se adaptar as mudanças. O paciente fica hipertenso e a PA se eleva, ao invés de haver uma proteção do rim com a mudança do tônus vascular, a pressão elevada acaba sendo integralmente transferida ao glomérulo renal, “a arteríola aferente não toma nenhuma atitude para proteger o rim”. 4 A taxa de filtração glomerular acaba se elevando dentro de cada glomérulo que não tem o mecanismo de proteção/ajuste. O glomérulo então vai se fibrosando, prejudicando também o glomérulo do lado que ainda estava “bom”, pois esse tem que trabalhar o dobro para compensar. Os demais néfrons, que estão inicialmente preservados, vão hiperfiltrar para compensar a inoperância daqueles que foram lesados e ficarão também comprometidos. • Obs.: Macula densa: Vamos lembrar da macula densa que vimos em histologia. Na micro estrutura renal temos arteríola aferente, eferente, glomérulo, formação do ultrafiltrados que vai passar pelos túbulos renais. La no túbulo contornado distal, há algumas células especializadas que formam a macula densa, que é como se fosse um sensorque consegue perceber se está chegando mais ou menos sódio do que deveria. Quando está chegando menos sódio, o organismo entende que está filtrando menos, assim, a macula densa manda uma mensagem estimulando a liberação de renina, que dilata a arteríola aferente e de angiotensina 2 que contrai a eferente. Chamamos esse mecanismo de feed-back túbulo glomerular. Guilherme: A identificação da chegada de sal na macula densa é o mecanismo de preservação da nossa vida, pois nós, como animais terrestres, perdemos muita água. Na evolução, ter um mecanismo de preservação de água foi fundamental. FUNÇÃO TUBULAR E O FEED BACK TUBULO GLOMERULAR: (ainda dentro de fisiopatologia) O diabetes se associa a redução de entrega de sódio em nível de macula densa, pois as células do túbulo contornado proximal ficam hipertrofiadas. Assim, ocorre o aumento do numero de co- transportadores de sódio e glicose (SGLT-1 e SGLT-2), que fazem reabsorção de sódio e glicose no túbulo contornado proximal de diabéticos. Então, quando o paciente convive com uma hiperglicemia contínua superior a 180, ocorre essa hipertrofia das células tubulares do túbulo contornado proximal e o aumento desses cotransportadores de sódio e glicose. Isso faz com que mais sódio e glicose passam a ser reabsorvidos em nível de túbulo contornado proximal. Se reabsorvemos muito sódio e glicose no túbulo contornado proximal, a oferta no túbulo contornado distal irá diminuir. Dessa forma, a mácula densa, interpreta que esta chegando pouco sódio, filtrando pouco. Assim é estimulada a liberação de renina e angiotensina 2. 5 Obs.: O termo microalbuminuria está relacionado a uma albuminúria entre 30 e 300mg em 24horas. Se formos fazer aquela relação albumina creatinina, é equivalente a uma relação de 30mg por grama de creatinina. Por esses motivos, é comum que o rim funcione “demais” na fase inicial do diabetes para depois sucumbir. Alem disso, outro fator fisiopatológico é que a a hiperglicemia, a resistência a insulina e a displipidemia induzem a produção de citocinas, dentre elas a TGF-beta, uma molécula pró fibrotica que vai se relacionar a hipertrofia da célula mesangial e à expansão mesangeal. FASES DA NEFROPATIA DIABÉTICA Veremos agora a evolução da nefropatia diabética tanto no diabetes tipo 1 quanto no tipo 2. Essas fases são didáticas. Até ha poucos anos atrás, era explicado só essa evolução natural da doença, mas hoje já entendemos que não necessariamente todos os pacientes vão evoluir assim. Do ponto de vista didático, teríamos num primeiro momento hiperfiltração glomerular, em 5 a 10 anos o paciente evoluiria com microalbuminuria. Depois de 5 a 10 anos do inicio da microalbuminúria, o paciente passa a ter macroalbuminuria, ou seja, a perda de albumina na urina vai ser superior a 300mg em 24 horas. A literatura coloca que pode chegar a 25 gramas em 24 horas, o que os professores nunca viram na pratica, mas já viram muito a perda de de 8-10g em 24 hrs. Lembrando da aula que falamos de síndrome nefrótica, falamos que essa pode ser primara ou secundaria. A nefropatia diabética pode ser uma das causas e síndrome nefrótica. Não necessariamente, mas pode. Em ultima análise o paciente vai ter uma redução da função renal. Têm pacientes que seguem esse padrão de evolução, mas tem outros que não: Guilherme: “As vezes quando vamos no ambulatório o pessoal fica meio na duvida quando um paciente com diabetes está no inicio da doença e o rim filtra mais. Um paciente que tem diabetes e a creatinina dele diminui um pouco, esse é provavelmente o primeiro sinal de nefropatia diabética que ele está tendo. Temos que ter atenção também nas reduções de creatinina em paciente diabéticos, pois o que seria teoricamente uma coisa boa, pode indicar o inicio da nefropatia.” 6 „morrendo‟ é o rim). Atenção: Esse gráfico ilustra o desenvolvimento mais comum da nefropatia. No início a taxa de filtração está aumentada, depois de uns 5- 10 anos o paciente tem microalbuminúria (hoje se fala albuminuria moderadamente aumentada) e com o tempo se desenvolve para macroalbuminuria (albuminúria severamente aumentada). O processo se desenvolve ate o paciente chegar a um estado de “doença renal em estagio terminal” (esse é um termo que evitamos hoje em dia, pois parece que o paciente está morrendo, mas o que está Isso é algo que causa estranhamento nos médicos mais “velhos”, pois a vida inteira aprendemos que a grande marca do paciente diabético é essa albuminúria. Agora a literatura nos fala que podemos ter paciente com nefropatia diabética, mesmo com perda significativa da função renal, e ele não ter albuminúria. (descrição da imagem na prox pag). 7 A ideia aqui é trazer um modelo conceitual da historia natural da nefropatia diabética. Iniciando com hiperglicemia, vai aparecer também injuria celular, expansão mesangial, glomeruloesclerose, fibrose tubulointersticial e inflamação. Essas são lesões histológicas que vão acontecendo ao longo do tempo. Do diagnostico do diabetes, ao longo dos anos. A hiperglicemia marca a doença. Hiperglicemia Do diagnostico do diabetes, ao longo dos anos. A hiperglicemia marca a doença. Injuria celular; Expansão mesangial; Formação das glomeruloescleroses. Vão se somando ao longo do tempo. Microalbuminúria Começa no período de 5 a 10 anos e depois evolui para macro albuminúria. Taxa de filtração glomerular Alta inicialmente, se normaliza e depois cai ate chegar a doença renal em estagio terminal. Hipertensão tende a ser de cada vez mais difícil controle. Obs.: Doença cardiovascular, infecção e morte: é o que mais mata o paciente com doença renal crônica, independente de ser nefropatia diabética ou não. Um paciente diabético é um paciente com alto risco cardiovascular, doença renal crônica mais ainda. Temos que ter muita atenção na parte cardiovascular desse paciente. Obs.: Complicaçoes renais: anemias, alteração do metabolismo ósseo, desenvolvimento de retinopatia e neuropatia. Quando temos uma taxa de filtração glomerular abaixo de 60, já temos anemia, já iremos tratar esse pacinente com todos os cuidados em relação a doença renal crônica. Numa fase inicial, a nossa proposta é tentar reverter a doença, mas quando essa está instalada, trataremos esse paciente como com doença renal crônica e todas as suas complicações. RASTREIO Faz-se a pesquisa de microalbuminúria. Em que momento devemos fazer essa pesquisa? No paciente que tem diabetes tipo 1, um paciente jovem, usa insulina e tem menos de 5 anos de diagnostico não cabe ainda fazer o rastreamento. 8 O rastreamento é feito 5 anos após o diagnostico do diabetes tipo 1 e a partir daí anualmente. Já no diabetes tipo 2, não conseguimos saber exatamente em que momento o paciente ficou diabético, assim, já se faz o rastreamento no momento do diagnostico, e a partir daí anualmente. • Como solicitar o rastreamento? O material biológico que o paciente tem que colher é a urina, no caso, spot urinário ou urina de 24 horas. Podemos pedir para o paciente juntar urina de 24hrs e fazer a dosagem de microalbuminuria ou pedir para ele levar para o laboratório uma amostra (mais ou menos 20ml) e no laboratório será feita a relação albumina/creatinina. Utiliza-se um método chamado de nefelometria que é muito sensível. Atenção: Não é aquela relação proteína/creatinina, é albumina creatinina, cuidado para não confundir. Hoje em dia não se pede urina 24 horas, não confiamos no paciente e também trazemos ate risco para o paciente idoso cair a noite ao acordar para colher urina. ➢ Duvida de aluno: Dosa-se creatinina? Não é a proposta para rastrear a nefropatia. Mas não estpa errado, até porque sempre que alguém vai no nefrologista dosa a creatinina. EVOLUÇÃO NATURAL DA DOENÇA -> CORRELAÇÃO HISTOPATOLOGICASegundo a literatura, após 1 a 2 anos do diabetes clínicos surgem as primeiras alterações morfológicas no rim. O espessamento da membrana basal é um indicador sensível da presença de diabetes, mas não necessariamente o paciente já vai ter sinais clínicos da nefropatia diabética. Não vamos sempre biopsiar um paciente diabético para descobrir esse tipo de coisa, mas estudos já foram feitos e mostraram que esse paciente já teria no glomérulo um espessamento da membrana basal. Há uma alteração da composição da membrana basal. Já comentamos anteriormente que a barreira de filtração glomerular, que é composta pelas células endoteliais, pela membrana basal e pelos podócitos, tem “carne”. É uma barreira para tamanho de molécula (não deixa passar molécula muito grande) mas também é uma barreira que repele carga negativa independente do tamanho. Essa alteração na composição da membrana basal vai levar, depois de um tempo, a perda de sulfato de heparana, e isso contribui para a perda de albumina. Posteriormente, vamos ver expansão da matriz mesangial que já se correlaciona com as manifestações clínicas da nefropatia diabética. Essa matriz mesangial vai se organizando, vai havendo uma expansão e forma esclerose mesangeal. Essa esclerose se organiza e há formação de nódulos eosinofilicos PAS positivos, que recebe a desiguinação de glomeroesclerose nodular ou nódulos de Kimmelstiel-Wilson. 9 Esses nódulos estão muito relacionados a nefropatia diabética. Graus variáveis de glomeruloesclerose e alterações no interstício. Na imunofluorescencia veremos depósitos inespecíficos de IGG e IGM, e C3. A microscopia não nos traz muita informação. Alterações vasculares são frequentes, com a aterosclerose hialina e hipertensiva. A biopsia renal de pacientes com diabetes tipo 1 e tipo 2 são indiferenciaveis. Não consigo ver a diferença pela biopsia se é um paciente com nefropatia diabética secundaria. A primeira imagem é de um glomérulo normal. Tem um espaço de filtração glomerular, a capsula de bowman. Vemos também as alças capilares glomerulares, formando como se fosse um enchimento. Vemos o mesangio e a matriz mesangeal. Na imagem B já vemos uma expansão do mesangeo, parece que está mais “rosinha”. Vemos uma expansão difusa mesangeal, já com proliferação das células mesageais. Na C já percebemos alguns nódulos, e na D vemos muito bem esses nódulos, esses são os nódulos de Kimmelstiel-Wilson. 10 Aqui já temos esclerose global do glomérulo. O glomérulo já não tem espaço de filtração glomerular, não funciona mais. Essa imagem mostra muito bem a correlação funcional e morfológica da nefropatia diabética: Primeiro: Tem hiperfiltração. Quando tem hiperfiltração ainda não tem nefropatia diabética clinicamente manifestada, apenas um espessamento da membrana basal. Depois o paciente evolui com microalbuminúria e já temos expansão mesageal. Proteinúria – desenvolvimento de glomeruloesclerose e formação dos nódulos de Kimmelstiel-Wilson. E no momento mais tardio a evolução para doença renal para o estagio terminal. NEFROPATIA DIABETICA x RETINOPATIA DIABETICA A relação dessas patologias no diabetes tipo 1 é muito grande, 90% dos casos. Devemos pensar assim: “Se o paciente teve tempo suficiente para machucar o rim, também deu tempo de machucar a retina”. Veremos então retinopatia diabética no exame de fundo de olho. Já no diabetes tipo 2, essa correlação é menor, mas ainda grande, cerca de 60%. Nesse caso pode haver um paciente com fundo de olho normal e ainda assim com nefropatia diabética. Não sabemos exatamente quando o paciente com diabetes tipo 2 ficou diabético, mas se ele tiver, no fundo de olho, retinopatia, quer dizer que provavelmente teve tempo suficiente para machucar os rins também. Assim conseguimos fechar com muita facilidade o diagnostico. 11 Guilherme: Na pratica, se chega um paciente diabético com proteinúria e Sd. Nefrótica, temos que sempre pedir um exame de fundo de olho para esse paciente. Se o fundo de olho vem com retinopatia, a causa mais provável passa a ser o diabetes. Quando não vem retinopatia no pacinete com proteinuria importante/nefropatia, ficamos com a pulga atrás da orelha. Será que é alguma outra coisa que esta causando essa nefropatia que não o diabetes? É o pacinete que da mais trabalho, que o diagnostico não fica tão claro. Se no fundo de olho tem retinopatia, nos deixa mais “tranquilos” do ponto de vista diagnostico, porque já temos certeza ser por conta do diabetes. O DIAGNOSTICO DE NEFROPATIA DIABETICA É CLINICO!!! Vamos conseguir fazer o diagnostico ouvindo o paciente, com anamnese e exame físico. Vamos precisar sim de exame laboratoriais, mas devemos nos lembrar que somos reféns do que pedimos de exame laboratorial, então temos que pedir com coerência. Temos que fazer uma boa anamnese, um bom exame físico, para já termos a nossa hipótese diagnostica e a partir dali pedir os exames que são pertinentes para que possamos fazer o diagnostico. CRITERIOS DIAGNOSTICOS Esses critérios são do Up2Date. A literatura considera diagnostico clínico de nefropatia diabética quando os seguintes critérios estiverem presentes: Algumas observações: • É necessário que façamos pelo menos 3 amostras de albumina/creatinina para afirmarmos que é uma microalbuminuria persistente. • Pacientes com diabetes tipo 2 já podem ter nefropatia diabética ao diagnostico, pois este pode ser tardio. • Além desses critério/evidencias, como falamos, temos o exame de fundo de olho já que a retinopatia se correlaciona. • Lembrando que se o pacinete tem um controle glicêmico e da pressão arterial inadequados, aumenta a probabilidade de nefropatia diabética. Mais uma vez falando do fundo de olho: Em pacientes com evidencia de doença renal, a presença de retinopatia diabética proliferativa se correlaciona com características patológicas da doença renal diabética. Assim, o diagnostico clinico da 12 doença renal diabética pode ser feito em pacientes com retinopatia diabética mesmo que a duração do diabetes seja curta. BIOPSIA? Tem que biopsiar para fazer diagnostico? Não! Só indicamos biopsia renal quando há uma forte suspeita de um diagnostico alternativo, quando o fundo de olho por exemplo é normal, ou o paciente chega em anasarca e proteinúria nefrótica, mas com apenas 1 ano de diagnostico de DM1, esse paciente não tem tempo suficiente de doença para tamanho estrago, assim pedimos a biopsia. Hematúria não é uma marca da nefropatia diabética, isso nos leva a pensar em outro diagnostico. Guilherme: Só para exemplificar, recentemente tivemos uma doente no hospital de 40 e poucos anos com um Sd. de artrite que parecia muito um quadro reumatológico para esclarecer que ainda não tinha diagnostico. A paciente tinha uma proteinuria importante e alteração de função renal e eu fui ver. Fizemos biopsia renal e veio nefropatia diabética com muita esclerose nodular. A paciente tinha uma historia de diabetes que não tinha muito tempo de diagnostico, tratava relativamente bem. As vezes nos surpreendemos, nenhum paciente é receita de bolo. ALTERAÇÃO NA USG Na fase de hiperfiltração e ao longo da nefropatia diabética os rins estão normais na USG. Mesmo na nefropatia avançada o rim não muda muito de tamanho, ao contrario de outras doenças glomerulares em que ele diminui. A USG vai ser útil para avaliar se não tem alguma outra coisa acontecendo, como fatores obstrutivos ou hidronefrose. Na nefropatia diabética os rins vão estar assim na USG, normais. 13 ALVOS DO TERAPEUTICOS E TRATAMENTO Os pilares são controlar a glicemia e a PA. • Se esse paciente tem dislipidemia, sendo de alto risco cardiovascular, temos que procurar deixar o LDL colesterol abaixo de 100mg por decilitro. Podemosusar estatina. Tem um consenso entre a sociedade brasileira de nefrologia e de endocrinologia que sugerem usar atorvastatina. Parece ser a droga mais segura no paciente diabético. • IECA e BRA: Devemos lembrar que o IECA e BRA atuam justamente fazendo com que diminua o efeito da angotensina 2, que contrai a arteríola eferente. Quando utilizamos IACA ou BRA, essa contração da arteríola eferente é minimizada. Assim se diminui a pressão no glomérulo e evita a hiperfiltração. • Espironolactona: Assim como o IECa e BRA, tem um efeito antiproteinúrico. É muito bom para controlar a pressão isoladamente, mas devemos ter muito cuidado ao associar com IECA ou BRA, pois pode aumentar o potássio. A espironolactona tem um efeito antagônico a aldosterona, tendo uma tendência a aumentar o potássio. Apesar disso, é uma associação interessante quando o paciente tem uma proteinúria significativa, pois tem efeito sinérgico em relação ao efeito antiproteinúrico. • Diltiazem: Usar em associação com IECA ou BRA, pois sozinho aumenta a fribose intersticial. O bloqueio do receptor SGLT2. Também tem efeito antiproteinurico em associação com IECA ou BRA, mas não usar sozinho pois aumenta a fibrose intersticial. Obs.: Estudo Creadanse, que utilizou a canagliflozina: As gliflozinas, que são os bloqueadores do SGLT2 faz reabsorver menos sódio e glicose, fazendo chegar menos sódio na macula densa e em ultima análise abre a aferente e fecha a eferente aumentando a filtração. A recomendação baseada nesse estudo é que utilizemos para todo pacinete com diabetes tipo 2 que tenha nefropatia e uma albuminuria superior a 300mg por dia e uma taxa de filtração glomerular maior que 30ml/min, pois o medicamento precisa de uma taxa boa para fazer efeito. 14 ESTUDO 1KPDS: Estudo britânico que avaliou 1642 pacientes com DM2. Avaliaram a importância de controlar a PA desses pacientes. A cada redução de 10mmhg na pressão sistólica desses pacientes, houve uma redução do risco de complicações da diabetes, incluindo a falência renal, em 12%. Eles avaliaram não só desfecho renal, mas também infarto, morte súbita, angina, AVC, amputação de membro inferior e morte por doença vascuar periférica. Quando controlamos a pressão arterial desse paciente, vamos reduzindo os riscos de complicações. Na próxima aula falaremos exclusivamente disso. Devemos tomar muito cuidado, especialmente em cardiopatas, pois se fizermos um controle muito estrito da pressão arterial sistólica, podemos aumentar riscos de outras complicações por baixo fluxo arterial para órgãos alvo. O Bloqueio da SGLT2 tem um efeito muito importante na hemodinâmica glomerular, utilizamos sempre que possível, principalmente em pacientes com DM2, com albuminúuria maior que 300mg e taxa de filtração superior a 30 ml minuto. • Em relação a proteinúria, qual o nosso alvo terapêutico? Se o paciente tiver microalbuminuria a inteção é reverter, deixar abaixo de 30. Mas se o pacinete tem macroalbuminuria temos que tentar deixar pelo menos abaixo de meio grama por dia. • Temos que orientar o paciente a reduzir o sal. Sempre com atenção, pois quando diminuímos a ingesta de sal, potencializamos o efeito do IECA ou BRA, assim, medimos o sódio urinário para poder acompanhar. Entretanto, a professora não faz isso na pratica, apenas em pacientes com nefrolitíase, mas essa é uma alternativa. Faz uma urina de 24hrs, mede o sódio urinário e avalia. O ideal é que o sódio urinário fique abaixo de 100mEqs por litro, lembrando que se ele usar diurético isso muda muito. • Duplo bloqueio do SRAA: Associar IECA com BRA, associar alisquireno que é um inibidor direto da renina... não fazemos isso! Já se fez muito no passado, chegava a ser errado não fazer, mas desde a chegada de um estudo canadense com pacientes de alto risco cardiovascular mostrou um desfecho muito pior para esses pacientes. A associação diminui a proteinúria, mas não tem nenhum efeito positivo em relação a função renal, pelo contrario, o paciente pode evoluir com injuria renal aguda. 15 • Controle glicêmico: O alvo é manter a hemoglobina glicosilada abaixo de 7g/decilitro. Quando fazemos um controle glicêmico bem estrito, podemos reverter parcialmente a hipertrofia e a hieperfiltração glomerular, pode atrasar o desenvolvimento de microalbuminuria. Vemos aqui um estudo que comparou o controle intensivo da glicemia contra o controle convencional ao longo de quase 10 anos. Foi percebido que a chance de progressão para albuminuria e microalbuminuria em pacientes com DM1 era bem menor no grupo que tinha controle glicêmico estrito. Temos que buscar sempre um excelente controle glicêmico. A mensagem que fica é: CONTROLE A GLICEMIA. O alvo terapeutico é manter menor que 7. Entretanto, em pacientes idosos, pacientes com expectativa de vida muito baixa, com muitas comorbidades, temos que tomar cuidado, pois as vezes um controle muito rígido da glicemia não vai trazer beneficio. Temos que individualizar a terapêutica, mantento a glicemia o mais controlada possível, sem causar risco para o paciente. USO DE IECA OU BRA- caso curioso Esses medicamentos reduzem a pressão intraglomerular e a hiperfiltração glomerular. Um paciente diabético tinha estenose de artéria renal direita. No rim direito chegava menos sangue e ele hiperfiltrava menos. O rim esquerdo e era normal, que não tinha a “proteção” dessa estenose, hiperfiltrou e desenvolveu todo o quadro típico de nefropatia diabética. Isso nos mostra muito bem o efeito hemodinâmico e como o IECA e BRA agem. Na próxima pagina podemos ver na imagem a diferença dos dois rins, juntamente com alguns efeitos do IECA e BRA. 16 O QUE HÁ DE NOVO: Inibidores SGLT-2 Temos muitos estudos em andamento. Guilherme: A gente tinha basicamente para usao para o diabético com evidencia de beneficio o IECA e BRA, que tem 30 – 40 anos de existência. Passamos esse tempo todo sem ter nada novo muito eficiente, mas agora esses estudos mostraram que esses inibidores ds SGLT2 tem muito beneficio e isso da até uma animada na gente, até porque ajuda demais no controle glicêmico, é so um comprimido por dia etc, é uma pena que é caro. 17
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