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Módulo Benefi ciamento de frutas e hortaliças Edição Virtual 2021. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA 1ª EDIÇÃO – 2021 COORDENAÇÃO EMBRAPA Instrumentação TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei n° 9.610). FOTOS Fabiana Fumi Cerqueira Sasaki – Acervo pessoal Freepik Marcos David Ferreira – acervo pessoal Maria Auxiliadora Coêlho de Lima Rufi no Fernando F.Cantillano – Acervo pessoal Shutterstock Steven A. Sargent – acervo pessoal INFORMAÇÕES E CONTATO EMBRAPA Instrumentação Rua XV de Novembro, 1452 - São Carlos - SP E-mail: cnpdia.poscolheita@embrapa.br www.embrapa.br/instrumentacao/poscolheita Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 3 MÓDULO BENEFICIAMENTO DE FRUTAS E HORTALIÇAS Coordenador Geral • Marcos David Ferreira, pesquisador, Embrapa Instrumentação, São Carlos, SP. Coordenador Técnico • Marcos David Ferreira, pesquisador, Embrapa Instrumentação, São Carlos, SP. Conteudistas • Eliseth de Souza Viana, pesquisadora, Embrapa Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, BA. • Fabiana Fumi Cerqueira Sasaki, pesquisadora, Embrapa Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, BA. • Fabiane Mendes da Camara, engenheira de alimentos, doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Seção do Centro de Qualidade Hortigranjeira, CEAGESP, São Paulo, SP. • Gabriel Vicente Bitencourt de Almeida, engenheiro agrônomo, doutor em agronomia (Horticultura), Chefe da Seção do Centro de Qualidade Hortigranjeira, CEAGESP, São Paulo, SP. • Marcos David Ferreira, pesquisador, Embrapa Instrumentação, São Carlos, SP. • Maria Auxiliadora Coelho de Lima, pesquisadora, Embrapa Semiárido, Petrolina, PE. • Rufi no Fernando Flores Cantillano, pesquisador, Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS. • Steven A. Sargent, professor, Horticultural Sciences Department, University of Florida, Gainesville, FL. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 4 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO DO MÓDULO .........................................................................................................................................5 Objetivos do módulo ...............................................................................................................................................5 1. BENEFICIAMENTO DE FRUTAS E HORTALIÇAS: CONCEITO, TIPOS E BOAS PRÁTICAS ..............................7 1.1 O que é benefi ciamento de frutas e hortaliças .......................................................................................8 1.2 Mercado fresco vs indústria ...........................................................................................................................9 1.3 Tipos de benefi ciamento para mercado de produtos frescos ........................................................ 10 1.4 Boas práticas na pós-colheita ..................................................................................................................... 12 2. ETAPAS: RECEBIMENTO/DESCARREGAMENTO E SELEÇÃO ............................................................................ 18 2.1 Recebimento/ descarregamento .............................................................................................................. 18 2.2 Sistemas de descarregamento manuais ou automatizados ........................................................... 22 2.3 Seleção ................................................................................................................................................................ 24 3. Etapas: Higienização (limpeza e sanitização), aplicação de cera ................................................................. 28 3.1 Limpeza .............................................................................................................................................................. 29 3.2 Sanitização ........................................................................................................................................................ 34 3.1 Aplicação de ceras .......................................................................................................................................... 45 4. ETAPAS: CLASSIFICAÇÃO E EMBALAGEM ............................................................................................................. 48 4.1 Classifi cação ...................................................................................................................................................... 48 4.2 Embalagem ....................................................................................................................................................... 56 5. ETAPAS: RESFRIAMENTO, CARREGAMENTO INTERNO E TRANSPORTE ...................................................... 63 5.1 Resfriamento .................................................................................................................................................... 63 5.2 Gestão e armazenamento de produtos na unidade de benefi ciamento ................................... 79 5.3 Transporte .......................................................................................................................................................... 82 6. CONCLUSÕES E OUTROS ASSUNTOS ..................................................................................................................... 84 6.1 Danos físicos aos frutos ................................................................................................................................ 84 6.2 Cuidados relacionados aos operadores .................................................................................................. 87 6.3 Comentários fi nais .......................................................................................................................................... 90 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................................................... 93 Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 5 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO Bem-vindo (a) ao módulo Benefi ciamento de frutas e hortaliças! Este módulo está estruturado em 6 tópicos: No Tópico 1 – Benefi ciamento de frutas e hortaliças: conceito, tipos e boas práticas, você estudará tópico tratará do conceito, tipos e boas práticas no benefi ciamento de frutas e hortaliças. Você estudará sobre o que é benefi ciamento, mercado fresco e indústria, tipos de benefi ciamento para mercado de produtos frescos e boas práticas na pós-colheita. No Tópico 2 – Etapas: recebimento/ descarregamento e seleção, você verá a respeito das etapas do benefi ciamento, desde o recebimento até o descarregamento e a seleção. Além disso, você verá detalhes sobre descarregamento manuais ou automatizados. O Tópico 3 – Etapas: higienização (limpeza e sanitização), aplicação de cera tratará sobre abordará as etapas do benefi ciamento de higienização e aplicação de cera. Nele, você também estudará limpeza em água e a seco. No Tópico 4 – Etapas: classifi cação e embalagem, você estudará as etapas de classifi cação e embalagem. Você também verá classifi cação vertical de frutas, padrão de classifi cação e requisitos mínimos de qualidade, tipos de embalagens mais utilizados no mercado de produtos frescos e embalagens nas unidades de benefi ciamento. No Tópico 5 – Etapas: resfriamento, carregamento interno e transporte, você aprenderá sobre resfriamento, carregamento interno e transporte. Nele, você também estudará armazenamento refrigerado, fatores para atenção nas câmaras frias, gestão e armazenamento de produtos na unidade de benefi ciamento, logística interna e mercado direto versus armazenamento. No Tópico 6 – Conclusões e outros assuntos, você irá estudar outros assuntos relacionados ao benefi ciamento de frutas e hortaliças. Você verá também danos físicos aos frutos e cuidadosrelacionados aos operadores. Objetivos do módulo Ao fi nal deste módulo, você será capaz de: • Conceituar benefi ciamento de frutas e hortaliças; • Apontar os tipos de benefi ciamento para mercados de produtos frescos; Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 6 • Identifi car a importância de cada etapa da linha de benefi ciamento e sua efi ciência; • Defi nir uma linha de benefi ciamento adaptada às necessidades do produto e do produtor, identifi cando os cuidados básicos a ela relacionada. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 7 1. BENEFICIAMENTO DE FRUTAS E HORTALIÇAS: CONCEITO, TIPOS E BOAS PRÁTICAS O Brasil possui uma das maiores diversidades em frutas e hortaliças do mundo, tanto nativas, como originadas em outros países. Entre as nossas saborosas frutas nativas, na maioria, muito perecíveis, podemos destacar a tradicional dos quintais e infância de muitos brasileiros: a jabuticaba. Além do saboroso caju, com a sua polpa, e a castanha. Todos muito apreciados. Produzimos outras frutas tropicais e subtropicais, como a banana, laranja, mamão e manga e frutas de clima temperado, como a maçã, e todas essas frutas exportamos com competitividade. Com isso, o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas. Adiciona-se a isso um enorme universo de hortaliças, com distintos usos e origens, incluindo aí a mandioca, infi nito número de abóboras, batatas e tomates com diferentes usos na culinária. Sendo assim, é muito difícil em um módulo como esse, ser abordado individualmente esses casos. Nesse sentido, o propósito desse módulo é apresentar informações técnicas sobre benefi ciamento para que possam ser replicadas em outras situações similares. Bons estudos! Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 8 Para este módulo foram realizadas indicações de links de vídeos hospedados no Youtube. Esses vídeos são ilustrativos para uma ou algumas situações a que o assunto se refere, não contemplando algum tipo de recomendação ou relação com os autores do material. 1.1 O que é benefi ciamento de frutas e hortaliças Quando você vê uma maçã ou uma laranja na gôndola você imagina por tudo que ela passou para chegar até lá? Quando compramos uma fruta ou hortaliça em um ponto de venda, na maioria das vezes, não imaginamos como ela chegou até ali, como foi colhida ou benefi ciada (tema principal desse curso). Mas enfi m, o que signifi ca isso? Para grãos, pode ser mais intuitivo, mas para frutas e hortaliças, em um universo de diversidade, benefi ciamento signifi ca: Fonte: Freepik Preparar aquela fruta ou hortaliça para ser comercializado dentro dos padrões, normas e requisitos mínimos exigidos. Assim, após colhido, o produto passa por diversas etapas, as quais podem ocorrer em campo, ou em uma unidade de benefi ciamento. Em algumas regiões, esta unidade também é conhecida como casa de embalagem, packing-house, barracão do produtor e outros nomes afi ns. Cabe ressaltar que as frutas e hortaliças que serão benefi ciadas ainda estarão vivas, por isso, sujeitas as alterações fi siológicas, e também a contaminações, sendo assim a aplicação de boas práticas é fundamental. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 9 O benefi ciamento é uma etapa fundamental do sistema de produção. Mas antes de chegar lá, você estudará sobre frutas e hortaliças que serão destinadas à indústria para processamento: minimamente processados, sucos, doces, molhos, geleias, etc. Você acha que elas recebem o mesmo benefi ciamento que os produtos que serão destinados a comercialização para mercado fresco nos atacadistas, supermercados e feiras livres? Veja a seguir. 1.2 Mercado fresco vs indústria Em geral, frutas e hortaliças que serão destinadas à indústria para processamento, não recebem o mesmo benefi ciamento dos produtos que serão comercializados in natura, pois o aspecto externo não é tão importante, veja alguns exemplos abaixo. Fonte: Marcos David Ferreira Laranja: para o mercado fresco ela, geralmente, recebe durante o benefi ciamento aplicação de cera, fungicida e polimento, necessários para melhor conservação e aparência. Já a laranja destinada à indústria de sucos, não precisa receber, necessariamente, este tratamento, pois será processada, tendo a casca descartada. Sendo assim, a aparência da casca não é um requisito essencial. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 10 Fonte: Freepik Abóbora: se for destinada para a indústria de processamento mínimo não precisa, necessariamente, passar pelo processo de escovação da casca, responsável por polir e dar brilho a casca. As preferências de compra do consumidor por produtos limpos, sem resquícios de terra, com casca brilhante, bem embalada e classifi cada, muitas vezes, não são as mesmas da indústria que recebe o produto e irá processar. O consumidor “compra com os olhos”! 1.3 Tipos de benefi ciamento para mercado de produtos frescos O benefi ciamento de frutas e hortaliças frescas pode ser dividido em dois tipos de acordo com o local de realização: diretamente em campo e em unidades de benefi ciamento. Para alguns produtos, o benefi ciamento pode ocorrer em uma ou outra situação, dependente de distintas circunstâncias, como custos, mercado consumidor, etc. Veja mais sobre os tipos de benefi ciamento a seguir. Em campo: nesse caso, os frutos são colhidos e classifi cados diretamente em campo. Um exemplo clássico é o morango que tem o benefi ciamento e a classifi cação realizados simultaneamente. Como o morango é um fruto sensível, etapas são poupadas, mas a classifi cação fi ca de total responsabilidade Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 11 do colhedor. Outros exemplos são as folhosas, em geral, como a alface. No exterior, evita-se a lavagem destes produtos, mas no Brasil, os pequenos produtores, geralmente, fazem uso deste procedimento. Assim, temos a vantagem de reduzir etapas, mas a classifi cação, muitas vezes, é realizada de forma subjetiva. No tópico 3, você terá mais informações sobre a importância da qualidade da água e da sanitização na lavagem. Em unidades de benefi ciamento (UB): predomina no país, podendo ser desde uma estrutura mais simples, sem mesmo a presença de maquinários ou com equipamentos manuais, até instalações mais sofi sticadas com classifi cação eletrônica, por exemplo. O importante é que cumpram com o objetivo de benefi ciar e preparar o produto colhido em campo para comercialização dentro dos padrões e normas existentes, com o uso de boas práticas. O fl uxograma (fi g. 1), a seguir, demonstra as etapas de um galpão de benefi ciamento de frutas e hortaliças. (*) A etapa seleção pode ocorrer depois da limpeza. (**) Higienização: limpeza e sanitização. Alguns produtos não são passíveis de sanitização como a cebola e o caqui. Assim, considera-se somente limpeza para essa etapa. (***) A etapa de resfriamento pode ocorrer antes ou depois da embalagem. Figura 1: Fluxograma de funcionamento de um galpão de funcionamento. Fonte: FERREIRA, M. D., 2008. (adaptação). Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 12 Algumas etapas são comuns a muitas frutas e hortaliças e serão abordadas nesse módulo nos próximos tópicos Observe que dentro de uma unidade de benefi ciamento está inserida a linha de benefi ciamento, na qual o produto será selecionado, higienizado, classifi cado e embalado. Como funciona esse fl uxo? Quem comanda? O fl uxo é comandado pela entrada de produtos, ou seja, quanto mais caixas forem colocadas no início da linha, mais frutas ou hortaliças serão impulsionadas e maior será a rapidez do sistema. Mas, cuidado, muita rapidez, pode causar etapas incompletas como da limpeza. Por sua vez, a lentidão, pode gerar danos aos frutos. Durante o fl uxo na unidade de benefi ciamento, as boas práticas na pós-colheita devem ser observadas, visando melhorar e otimizar o processo de benefi ciamento. A seguir, você verá dicas sobreisso. 1.4 Boas práticas na pós-colheita A partir da colheita, as frutas e hortaliças sofrem várias alterações que induzem à perda gradual de qualidade. A adoção de Boas Práticas Agrícolas (BPA) na fase pós-colheita promove relevante contribuição para reduzir o ritmo destas perdas e permitir maior período de armazenamento e ou comercialização. A preservação da integridade e sanidade do produto, bem como dos requisitos de qualidade demandados pelo mercado, constituem a base para a defi nição e implementação das BPAs após a colheita. A partir desses preceitos, a execução de procedimentos e de técnicas condizentes com as características e logística comercial do produto; a disponibilidade de estruturas funcionais e em bom estado de conservação; a capacitação dos trabalhadores e a orientação/supervisão de profi ssionais habilitados, favorecem a inserção do produto em mercados mais exigentes e valorizados monetariamente. Veja a seguir, as BPAs recomendadas. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 13 Limpeza e sanitização das instalações A limpeza e a sanitização das instalações do local de embalagem, incluindo câmaras frias, túneis de resfriamento rápido, máquinas e equipamentos de manipulação das frutas e hortaliças, são procedimentos obrigatórios em programas de qualidade, particularmente, o que são auditáveis. Devem ser realizadas conforme cronograma estabelecido em procedimentos operacionais, que são defi nidos pela equipe técnica responsável. É recomendado que esses procedimentos sigam práticas previstas pelo sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), garantindo a inocuidade das frutas e hortaliças (ASSIS; LIMA, 2008). Os cuidados recomendados para essas instalações também se estendem aos veículos usados no transporte de frutas e hortaliças. Estes precisam estar limpos para o recebimento da fruta/hortaliça embalada e assim serem mantidos durante o trajeto e até o desembarque. À semelhança de normativas vigentes no mercado exterior, as bases dos sistemas agropecuários de produção integrada do Brasil registram a importância de prevenir o acúmulo de material, especialmente lixo, que atraem animais nas instalações onde a fruta ou hortaliça é embalada, Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 14 armazenada ou transportada ou nas proximidades destes espaços (MAPA, 2001). Prevenir que pássaros se instalem nas vigas e outras partes da estrutura também faz parte das estratégias de redução ou prevenção a contaminações (COLEMAN; MAYNARD, 2021). Além disso, é importante não permitir a presença e trânsito de animais domésticos nessas instalações. Higiene Pessoal Cuidados com a higiene pessoal também são previstos no conjunto de boas práticas na etapa de pós-colheita. Para tanto, além de instruções regulares aos trabalhadores e orientações escritas dispostas em locais acessíveis, a disponibilidade de instalações sanitárias em condições adequadas de uso e dos itens necessários para higienização (FAO, 2016) são fundamentais para assegurar que trabalhadores não sejam agentes de contaminação para o alimento. Também está previsto como boa prática na cadeia de pós-colheita a proibição de fumar, beber e comer nos espaços de trabalho e durante sua execução. Instalações As construções e estruturas onde as frutas e hortaliças são embaladas, manejadas e armazenadas devem ser planejadas de forma a minimizar o risco de contaminação. Em documento orientador, FAO (2016) menciona a importância de um layout bem planejado, destinando espaços para: • separação de produtos e materiais que são usados no processo; • realização de práticas de manejo e aplicação de cada uma das técnicas pós-colheita recomendadas para a fruta ou hortaliça; • acondicionamento temporário do material de descarte e rejeitos, até destinação externa e em local apropriado; • isolamento de equipamentos e ferramentas que possam representar perigos físicos; • separação de qualquer tipo de material que não esteja sendo utilizado no processo. Observando-se os princípios do sistema APPCC, também é importante dispor de condições adequadas de ventilação e iluminação do ambiente, assim como de facilidade de higienização. No que se refere à iluminação, recomenda-se que as lâmpadas dos espaços de manuseio, embalagem, armazenamento e transporte da fruta não gerem risco de estilhaços, quando quebradas, ou tenham proteção com tampa inquebrável. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 15 Área suja x área limpa O que chamamos de área suja e área limpa é uma divisão simples. Área suja é aquela onde se recebe o produto do campo, concentrando o produto, as caixas de colheita e tudo que se refere ao campo. A partir do momento que se inicia o benefi ciamento, considera-se como área limpa. Importante esse critério e essa distinção entre as duas, para que não ocorram misturas e contaminações. O fl uxo deve ser unidirecional, ou seja, num único sentido, para evitar contaminações cruzadas. Manejo e aplicação de tecnologias pós-colheita Maria Auxiliadora As práticas e técnicas adotadas em pós-colheita devem ser amparadas por recomendações específi cas para cada fruta ou hortaliça. Portanto, várias possibilidades tecnológicas estão disponíveis e é preciso considerar para que produto são aplicáveis, com que vantagens e em que condições seus benefícios são potencializados. A execução dessas práticas parte de cuidados que previnam danos físicos, infecções ou contaminações químicas. Acrescenta-se a preocupação em assegurar a rastreabilidade e de optar por tratamentos físicos (ex: térmico) ou biológicos. Os produtos químicos registrados para a cultura e a fi nalidade pretendida somente devem ser utilizados sob justifi cativa técnica e assegurando-se que os níveis de resíduos estejam dentro dos limites máximos permitidos pela legislação do mercado de destino. Outros cuidados na condução das operações pós-colheita incluem (FAO, 2016): • adotar paletização da carga, minimizando os riscos de contato com o solo ou piso, onde as oportunidades de contaminação são altas; • transportar e armazenar a carga em local isenta de fontes de contaminação química, biológica ou física, observando-se a capacidade do ambiente. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 16 Para frutas ou hortaliças que podem ser lavadas e, em seguida, secas, sem que haja prejuízos à qualidade, cuidados especiais e práticas de monitoramento e controle da qualidade da água devem ser instituídos. Estes procedimentos devem ser seguidos nos espaços onde a lavagem é realizada, seja em tanques ou em aspersores em linhas de processo. Quando é possível a operação de lavagem, parte-se da condição mínima de que a água que entra em contato com a fruta ou hortaliça deve ser potável. Rastreabilidade Todas as atividades, técnicas e procedimentos adotados a partir da colheita e até a disponibilização do produto ao consumidor, bem como as datas de execução, devem ser registrados, em continuidade ao que é feito no campo, visando atender aos requisitos mínimos de rastreabilidade. Estes registros podem ser apresentados ou disponibilizados a partir de vários sistemas. Independente do sistema de rastreabilidade adotado, há elementos documentais detalhados mantidos pelo produtor e outros que podem ser diretamente consultados por agentes de distribuição e pelo próprio consumidor. Neste caso, sistemas de etiquetagem/rotulagem presentes no produto até o momento da venda permitem a identifi cação da origem, modelos de produção e características de qualidade. Maiores informações disponíveis no curso sobre rastreabilidade. Capacitação A capacitação dos trabalhadores é fundamental para que as boas práticas sejam adotadas adequadamente. A equipe executora deve ter ciência da necessidade das ações que serão conduzidas e das implicações de não as realizar ou de realizá-las de forma incorreta ou insufi ciente. Também, a capacitação deve incluir higiene pessoal e coletiva, quesão conhecimentos essenciais para trabalhadores envolvidos na cadeia de alimentos. Os registros destas capacitações devem ser mantidos atualizados como forma de comprovar o compromisso com a qualifi cação da mão de obra, como agente que infl uencia diretamente a qualidade do produto. Esta é exigência comum para atendimento a normativas de qualidade em vigor em diferentes mercados. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 17 Responsabilidade técnica Somente profi ssionais habilitados podem exercer funções de responsabilidade técnica para os processos e práticas adotados em quaisquer etapas da cadeia de produção, inclusive a de benefi ciamento. Cabe destacar que para cada fruta ou hortaliça devem ser consideradas recomendações específi cas, tendo em vista as características próprias de cada uma, as etapas e técnicas adotadas na fase pós-colheita e a dinâmica comercial existente, pois a cadeia produtiva é distinta para cada tipo de produto. Para saber mais sobre esse assunto acesse os livros e os capítulos indicados a seguir: • Tecnologias pós-colheita em frutas e hortaliças – Capítulo 5 – Colheita, benefi ciamento e classifi cação de frutas e hortaliças (https://bit.ly/3C0HCwM). • Instrumentação pós-colheita em frutas e hortaliças – Parte 1, Capítulo 2 -Colheita e benefi ciamento (https://bit.ly/3mUHVVL). • Boas práticas de fabricação e manejo na colheita e pós- colheita de uvas fi nas de mesa – Circular Técnica 77 (https://bit. ly/3bXvrX2). Você estudou que o benefi ciamento de frutas e hortaliças pode ser dividido em dois tipos de acordo com o local de realização: diretamente em campo e em unidades de benefi ciamento, também conhecidas como casa de embalagens e aprendeu sobre boas práticas e a importância delas. Nos próximos tópicos, você estudará as etapas realizadas nas unidades de benefi ciamento, na ordem em que foram apresentadas no fl uxograma. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 18 2. ETAPAS: RECEBIMENTO/DESCARREGAMENTO E SELEÇÃO Figura 2: Seleção manual de mangas no galpão de embalagem. Foto: Maria Auxiliadora Coêlho de Lima 2.1 Recebimento/ descarregamento O recebimento das frutas e hortaliças é realizado na unidade de benefi ciamento da propriedade agrícola ou da empresa processadora de frutas. Em alguns casos, o produtor envia o fruto a locais de acumulação, no próprio campo de produção, provido de coberturas com tela sombrite no campo. Exemplos: uva de mesa e morangos. Figura 3: Recebimento, seleção e embalagem de uvas de mesa no campo. Fonte: Rufi no Fernando F.Cantillano – Acervo pessoal Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 19 Normalmente a fruta é transportada do campo para a unidade de benefi ciamento em carroções puxado por trator ou em caminhões. De modo geral as frutas (e algumas hortaliças) podem vir do campo acomodadas em bins, como no caso da maçã, laranja, pera e outros ou em caixas de 18-20 kg. Bins Os bins são grandes contentores com capacidade de 350-400 kg. Esses grandes contentores podem ser de plástico ou de madeira (fi gs. 4 e 5). Figura 4: Bins de madeira Fonte: Rufi no Fernando F.Cantillano – Acervo pessoal Figura 5: Bins de plástico Fonte: <https://www.saur.com.br/pt/industrial/ equipamentos-para-empilhadeiras-e-carregadeiras/m- basculador-lateral-de-bins> Em alguns casos o descarregamento é manual (no caso de utilizar caixas) ou pode ser realizado com empilhadeiras (no caso dos bins). Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 20 Figura 6: Mamões acondicionados em caixas plásticas aguardando descarregamento em água. Fonte: Fabiana Fumi Cerqueira Sasaki – Acervo pessoal O espaço físico para o recebimento na unidade benefi ciamento deve ser amplo, limpo, ventilado e construído de tal forma que favoreça tanto o descarregamento das frutas e hortaliças que chegam do campo quanto a movimentação das mesmas até o início da linha de benefi ciamento. Todo lote que chega do campo deve ser identifi cado, com código contendo informações como: data de colheita, nome da propriedade e talhão, sendo recomendável o uso de código de barras para facilitar e agilizar as etapas de registro e manutenção da rastreabilidade. Algumas frutas e hortaliças como a lima ácida ‘Tahiti’, por exemplo, podem permanecer na área de recebimento por um determinado período (de descanso) para que manifestem os sintomas de danos provocados na colheita e os frutos danifi cados possam ser retirados na etapa de seleção. Observe que no local de recebimento as frutas podem ser inspecionadas para controlar a qualidade. O descarregamento das frutas ou hortaliças na entrada da máquina classifi cadora pode ser pelos seguintes sistemas: em seco ou em água. Isso depende do: • tipo benefi ciamento adotado pelo produtor; • produto; e • tipo de embalagem que vem do campo. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 21 Cada um desses sistemas tem vantagens e desvantagens. Entre as vantagens do descarregamento em água, está a menor incidência de danos mecânicos (golpes, batidas, amassamento). Mas, por outro lado, caso a água não seja tratada a incidência de podridões aumentará consideravelmente. No tópico 3 você estudará mais sobre o tratamento de água. Por exemplo, as maçãs, que normalmente chegam a bins, são descarregadas em um tanque com água (com cloro) localizado no início da linha de classifi cação. O mesmo pode ocorrer com mangas (fi g. 7). Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 22 Figura 7: Descarregamento na água de bins com maçãs e de caixas plásticas com mangas (sentido horário). Fonte: Rufi no Fernando F.Cantillano – Acervo pessoal (Fotos recebimento maçã) e Maria Auxiliadora Coelho de Lima (Foto recebimento manga) No descarregamento à seco pode ocorrer maior incidência de danos mecânicos porque algumas frutas e hortaliças, que são muitos delicadas, não toleram o descarregamento abrupto delas sobre uma superfície rígida realizado por alguns produtores. Caso essa operação não seja realizada com cuidado os danos aumentarão consideravelmente. O descarregamento em água, pode reduzir essa incidência em danos físicos, mas algumas frutas e hortaliças são muito sensíveis a água e não devem ser molhadas como a cebola, caqui, uva de mesa, framboesa e outras. Tomates, frutas cítricas e frutas tropicais na sua maioria, são descarregadas a seco na linha de benefi ciamento e em fl uxo movimentadas. Outros como uvas de mesa e framboesas ou até mesmo em alguns casos morangos, são também descarregadas em seco numa mesa no início da linha. Isso ocorre porque essas últimas frutas são muito delicadas e suscetíveis à incidência de podridões, e seu contato com a água deve ser evitado. Nesse caso, procedimentos específi cos podem ser necessários, como no caso da uva de mesa que, após a recepção em seco, é retirada de uma amostra das bagas para realizar os testes de maturação. Em seguida é realizada a 1ª toalete do cacho, retirando bagas muito verdes, defeituosas, rachadas, podres, etc. Saiba mais sobre o benefi ciamento de frutas, lendo: • Produção integrada de manga: manejo pós-colheita e rastreabilidade (https://bit.ly/3BZAalC). • Produção integrada de pêssegos: manuseio pós-colheita e logística (https://bit.ly/3bXzWRq). • Para maiores informações sobre a colheita de uva de mesa, leia o texto Cultivo da videira: colheita e pós-colheita (https://bit. ly/3BZAalC). 2.2 Sistemas de descarregamento manuais ou automatizados No início desse módulo, você estudou a importância do fl uxo de movimentação em uma linha de benefi ciamento, o qual poderá infl uenciar na efi ciência do benefi ciamento que tem início no recebimento, como verá a seguir. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 23 O descarregamento pode ser realizado de forma manual ou automatizado. No modelo manual (fi g. 8), em geral, utilizado em unidades de benefi ciamento menores, toda a responsabilidade para transpor o conteúdo da caixa na linha de benefi ciamentoé do operador. Dependendo da forma como é realizada, por exemplo, mais ou menos brusca, afeta a incidência de danos físicos. Figura 8: Etapa de descarregamento com abastecimento manual Fonte: Marcos David Ferreira – Acervo Pessoal No modelo automatizado, esse transbordo da caixa ou bin para a linha de benefi ciamento é em geral realizada por meio de uma esteira automática (fi g. 9 e 10). Figuras 9 – 10: Etapa de descarregamento com abastecimento automatizado. Fonte: Marcos David Ferreira – Acervo pessoal Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 24 Uma alternativa para pequenos produtores para auxiliar a manter um fl uxo contínuo e reduzir a infl uência do operador, são os “viradores” de caixa, como esse mostrado na fi gura 11. Observe que é um sistema simples, onde a caixa é fi xada e os frutos contidos e transferidos com menor risco de danos físicos a eles. Figuras 11 – 12: Viradores de caixa Fonte: Marcos David Ferreira – Acervo pessoal Após o recebimento, as frutas e hortaliças entram na linha de benefi ciamento propriamente dita e a primeira etapa é a seleção. Mas o que é seleção? Veja a seguir. 2.3 Seleção A seleção é a etapa que, em geral, precede a classifi cação das frutas e hortaliças. Consiste na identifi cação daquelas que atendem plenamente aos padrões de qualidade de um mercado (LIMA, 2019), separando das que não atendem que, por sua vez, são direcionadas para uma linha fora do processo principal. A etapa de seleção se baseia em critérios defi nidos pelos mercados, considerando-se o mínimo possível de defeitos e as tolerâncias estabelecidas comercialmente. Na maioria dos casos, a operação de seleção é realizada manualmente. Para que seja efi ciente, é preciso que toda a equipe envolvida conheça os padrões de qualidade do mercado pretendido. Portanto, quando a seleção Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 25 depende exclusivamente da ação humana, os trabalhadores que a executam precisam ser treinados e o ambiente deve ter iluminação adequada e conforto térmico, bem como condições que previnam o cansaço físico e favoreçam a efi ciência da operação (fi g. 13). Figura 13: Etapa de seleção de maçã realizada por equipe de trabalhadores durante o benefi ciamento da fruta. Fonte: Maria Auxiliadora Coêlho de Lima – Acervo pessoal Os limites mínimos requeridos para a comercialização e a tolerância a defeitos variam conforme os perfi s de consumidores. De maneira geral, para a embalagem e a distribuição, são selecionadas as frutas e hortaliças que estejam: • em estádio de maturação compatível como as etapas de pós-colheita às quais serão submetidas e adequadas à comercialização; • íntegras; • sadias e sem deteriorações fi siológicas; • limpas; • com aparência fresca; • com coloração uniforme; com formato característico; • com tamanho em conformidade com as faixas admitidas para, pelo menos, uma das classifi cações comerciais vigentes; • com aparência coerente com a requerida pelo mercado; Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 26 • isentos de poeira e outras sujidades; • praticamente livres de pragas e danos causados por elas, de danos físicos acentuados, de danos causados por temperaturas, de umidade externa anormal e de qualquer cheiro ou gosto estranhos (LIMA; GUERRA, 2018; LIMA, 2019; UNITED..., 2010). A presença de resíduos de produtos químicos, contaminantes biológicos ou perigos físicos (fragmentos, pequenos objetos, entre outros) nas frutas e hortaliças é problema grave e precisa ser prevenida ao longo de toda a cadeia de produção e comercialização. Porém, se chegar à fase de benefi ciamento, frutas e hortaliças com esses problemas precisam ser invariavelmente descartadas até a etapa de seleção. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento instituiu o Regulamento Técnico de Identidade e de Qualidade para a classifi cação para o mercado brasileiro. Uma lista importante de frutas e hortaliças têm seus regulamentos técnicos de identidade e de qualidade para a classifi cação específi cos e vigentes. Entre as informações defi nidas estão o peso mínimo para a comercialização da fruta ou hortaliça de cada espécie, ou, em alguns casos, de suas cultivares e os limites de tolerância para defeitos categorizados como leves e graves. Quando a produção é destinada à exportação, os critérios de comercialização e os limites de tolerância são aqueles em vigor no mercado de destino. Para as etapas seguintes de benefi ciamento, devem ser mantidas apenas as frutas e hortaliças que atendem aos padrões de qualidade. Os frutos descartados do processo, por não atenderem aos critérios de benefi ciamento e distribuição para o mercado, devem ser destinados em local apropriado, à distância adequada do ambiente de embalagem. Caso a motivação do descarte seja o não-atendimento a padrões de qualidade para um mercado específi co e mais exigente, os frutos podem ser direcionados para outro mercado, desde que atendidos os requerimentos deste (LIMA, 2019). Para as cadeias que benefi ciam grandes quantidades diárias de produto, durante a safra, o processo de seleção pode ser auxiliado por máquinas ou acessórios que asseguram maior agilidade ao processo. Algumas cadeias, como a de tomate e maçã, possuem estruturas que permitem a seleção automatizada. Esta automatização ou semi-automatização do processo, conforme a estrutura adotada consiste, geralmente, em componentes que são acoplados à esteira de seleção. Os dois principais mecanismos adotados na automatização da seleção envolvem a identifi cação de padrões de coloração ou tamanho inadequados para a embalagem ou fora dos limites previstos nos Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 27 regulamentos técnicos ou normas de qualidade praticadas nos mercados. Há exemplos em uso no Brasil, mas ressalta-se que o maior investimento em automatização tem sido observado na etapa de classifi cação das frutas e hortaliças, a qual veremos no próximo tópico. Como mencionado, muitas frutas são descartadas nessa etapa, veja no link a seguir, uma pesquisa em unidades de benefi ciamento no Nordeste, que detectou as principais causas em manga (https:// bit.ly/3wrZU9i). Veja os vídeos indicados a seguir, referentes à separação das frutas pelo critério de coloração. • Separação mecânica de tomate pela cor do fruto, impressionante (https://bit.ly/3bTpNVR). • Máquina pré-classifi cação de maçã (https://bit.ly/307gqPI). Após a seleção as frutas e hortaliças podem passar pelas etapas de higienização - aplicação de cera - classifi cação e embalagem. Você estudará sobre elas a seguir. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 28 3. ETAPAS: HIGIENIZAÇÃO (LIMPEZA E SANITIZAÇÃO), APLICAÇÃO DE CERA O que você faz antes de consumir ou preparar as frutas e hortaliça? Provavelmente sua resposta será “lavo e deixo numa solução com cloro ou vinagre (sanitizantes)”. Veja mais! As frutas e as hortaliças também devem ser higienizadas durante o seu benefi ciamento. A higienização é composta por duas etapas bem defi nidas: a limpeza e a sanitização. Durante a limpeza os resíduos orgânicos e os minerais aderidos à superfície são removidos e na etapa da sanitização os microrganismos patogênicos são eliminados e os deterioradores são reduzidos a níveis considerados seguros. As operações de lavagem e sanitização de frutas e hortaliças são etapas do benefi ciamento nas quais ocorre a redução no número de microrganismos, contribuindo assim, para a segurança das mesmas (COSSU et al., 2017), dados serem considerados veículos de transmissão de patógenos causadores de doenças veiculadas pelos alimentos. Portanto, a não efi ciência das etapas de lavagem e sanitização infl uenciam diretamente a qualidade microbiológica do produto fi nal (OLAIMAT e HOLLEY, 2012). Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 29 Veja, a seguir, a descrição de cada uma das etapas que compõem a higienização. 3.1 Limpeza A limpezaé uma das principais etapas em uma linha de benefi ciamento e pode ser em água ou a seco, dependendo do tipo de produto. Para ambos, escovas são utilizadas e variam de acordo com o tipo de limpeza a ser realizada. Algumas hortaliças não podem ser lavadas, como por exemplo o alho e a cebola, e certas frutas como o caqui. Outras hortaliças, como a batata, podem ser lavadas ou somente escovadas. Veja, a seguir, as características de cada tipo de limpeza. 3.1.1 Limpeza em água A limpeza com água baseia-se no contato e na ação da água no produto, para tanto, na maioria dos casos é necessário fricção e pressão ou associação dos dois. Nesse tipo de limpeza devem ser considerados os seguintes fatores: • Superfície do produto: superfícies lisas em frutos como o tomate, são distintas de rugosas como a batata ou a cenoura. • Tipo de sujeira: em superfícies lisas e também em partes aéreas, em geral ocorrem poeiras, resíduos de pulverização, etc. Diferente no caso de raízes e tubérculos, onde se encontra mais o solo agregado, e com diferenciais como o solo argiloso (mais difícil de ser removido) e arenoso. Portanto, são necessárias ações com maior pressão e fricção. • Qualidade da água: a água disponível tem que estar dentro dos padrões recomendados e disponíveis em quantidade e custo compatível (veja mais no item 3.2). • Tipo de lavagem: a lavagem pode ser realizada em imersão em tanques e por jatos de água. Em geral, nessa ordem referente aos jatos de água encontra-se comercialmente em spray, com diferentes tipos de bico e canos perfurados. É importante lembrar que a limpeza ocorre Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 30 pela ação da água na superfície do produto, ou seja, não é a relação da quantidade da água e sim da área molhada do produto. Sendo assim, os jatos em spray podem favorecer uma maior efi ciência de aplicação em superfície de cobertura em relação aos canos perfurados. • Manutenção da etapa de limpeza: a manutenção periódica dos equipamentos é necessária. Bicos e canos estão sujeitos a acúmulos de sujeiras e depósitos de partículas e assim, ao entupimento. Sendo assim, a verifi cação periódica de canos e bicos é fundamental para o bom funcionamento. Spray x canos furados Observe as fi guras a seguir e identifi que as diferenças entre uma aplicação por spray e canos perfurados. Note, na fi gura 14, que os bicos nos jatos de spray não estão alinhados e sim com sobreposição de jatos aumentando assim a efi ciência. Na fi gura 15, a lavagem é realizada por canos perfurados, nesse caso, existe a aplicação de pressão para auxiliar na retirada de resíduos de terra aderidos a raiz. Veja que o gasto de água é bem superior! Figuras 14 – 15: Diferentes tipos de bicos spray e furados, mas com pressão. Fonte: Marcos David Ferreira – Acervo pessoal Não é a quantidade de água aplicada que dará o diferencial de uma limpeza e sim a forma de aplicação e interação com a superfície do produto. 3.1.2 Limpeza a seco É realizada por meio da fricção das escovas com o produto, levando em consideração que esses produtos não podem ser molhados como, por exemplo, caqui e cebola lembra? Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 31 É fundamental os tipos de escovas e cerdas a serem utilizados, bem como a rotação do equipamento. Veja cada um desses detalhes a seguir. • Tipos de escovas e cerdas, materiais e aplicações Existem diversos tipos de escovas e cerdas, utilizadas tanto para limpeza como também para polimento de frutos após aplicação de revestimentos comestíveis (ceras). A fi nalidade das escovas e a etapa da limpeza a qual serão utilizadas dependerá do tipo de produto. As escovas podem ser retas ou onduladas (no sentido longitudinal ou transversal) (fi g. 16). Figura 16: Diferentes tipos de escovas: retas e onduladas Fonte: Marcos David Ferreira – acervo pessoal Em geral, as escovas são constituídas por cerdas, mas também podem ser alguns tipos de plásticos, borrachas ou espumas (essas utilizadas na secagem para retirada excessiva de água). As cerdas podem ser de origem sintética, vegetal ou animal. As sintéticas em geral de náilon, em diâmetros de 0,15 a 0,30 mm. As cerdas de origem vegetal mais comuns são a fi bra de coco e sisal. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 32 Cerdas sintéticas e de origem vegetal são mais utilizadas para a lavagem. Cerdas de origem animal, principalmente crina de cavalo, são mais utilizadas para aplicação de ceras e polimento. É importante observar as especifi cações do fabricante relativas ao tipo de cerda, pois as recomendações variam conforme: a superfície do produto, o estádio de maturação, a sujeira a ser removida, etc. Como é a manutenção das escovas? Independentemente do tipo, as cerdas apresentam maior resistência quando novas. À medida que são utilizadas e passam pelo desgaste natural de uso, a resposta a fl exibilidade é reduzida, assim como a sua efi ciência na limpeza e no polimento. Um exemplo nosso de todos os dias é a escova de dente, na qual, as cerdas se desgastam, e tornam inefi cientes para a sua fi nalidade. O controle diário de limpeza das linhas com remoção dos frutos – para que não deformem as cerdas – e a remoção de sujeiras auxiliam no aumento da vida útil das cerdas. Um detalhe importante: as escovas com cerdas animais não devem ser molhadas, com risco de apodrecimento precoce. Figura 17: Escovas com cerdas distintas. A da esquerda de náilon e as outras são de origem animal. Fonte: Marcos David Ferreira – acervo pessoal Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 33 • Rotação do equipamento As escovas movimentam no próprio eixo. Assim, considerando um fl uxo de produto constante, a rotação desse eixo irá infl uenciar essa condução. Por exemplo, considerando um fl uxo padrão, quanto maior a rotação, maior a velocidade do produto na linha de benefi ciamento e o contrário é verdade. Velocidades muito altas podem danifi car o produto e não alcançarem uma limpeza efi ciente e ao contrário, velocidades menores, além da morosidade, podem também não serem efi cazes, por exemplo, para limpeza, pois há baixa pressão para retirada de sujeiras. Rotações altas com escovas altas podem danifi car os produtos, o que, muitas vezes, não é visível no momento da limpeza, mas posteriormente na comercialização. Estudos com unidades de benefi ciamento nos anos 2000, na região de Campinas, indicam a rotação de 150 a 200 rpm (rotações por minutos) como adequadas para um bom funcionamento e efi cácia do sistema. A imagem, a seguir, ilustra a velocidade da movimentação em escovas na linha de benefi ciamento. Vale conferir! Figura 18: Movimentação em escovas em linha de benefi ciamento. Fonte: Elaborada para o curso É importante ter em mente que vários fatores contribuem para a efi ciência de uma limpeza, não somente as rotações, mas também, tipo de produto, quantidade de água, cerdas, etc. Sendo assim, é fundamental uma avaliação conjunta. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 34 Para saber mais acesse o livro e o capítulo indicado a seguir: • Colheita e benefi ciamento de frutas e hortaliças - Capítulo 3 – Benefi ciamento de frutas e hortaliças (https://bit.ly/3bSl4nD). 3.2 Sanitização A lavagem com água potável permite a remoção de componentes do solo e parte do número de patógenos, mas não é sufi ciente para reduzir signifi cativamente a carga microbiana (JOSHI et al., 2013). Assim a sanitização constitui um ponto chave do processo (GIL et al., 2009; SÃO JOSÉ et al., 2014). O termo sanitizante foi defi nido pela Administração de Medicamentos e Drogas dos Estados Unidos (FDA) como: Uma substância adequada para tratar superfícies limpas por um processo que seja efi caz na destruição de células vegetativas de patógenos, e na redução substancial do número de microrganismos indesejáveis, sem afetar adversamente o produto ou sua segurança para o consumidor. As frutas e as hortaliças podem ser carregadoresde microrganismos causadores de surtos de doenças transmitidas por alimentos e de problemas de saúde pública, portanto, durante o benefi ciamento, a etapa de sanitização faz-se necessária para remover ou reduzir a carga microbiológica que permaneceu após a etapa de lavagem. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 35 Os sanitizantes empregados não podem ser nocivos ao meio ambiente e à saúde dos consumidores e devem ser altamente efi cazes como agentes antimicrobianos, sem comprometer as propriedades sensoriais dos produtos (JOSHI et al, 2013). De acordo com a RDC n° 14/2007, que aprova o Regulamento Técnico para Produtos Saneantes com Ação Antimicrobiana harmonizado no âmbito do Mercosul através da Resolução GMC nº 50/06:5.2, somente serão permitidas como princípios ativos de produtos com ação antimicrobiana, substâncias comprovadamente aceitas pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), Administração de Drogas e Alimentos dos Estados Unidos (FDA) ou Comunidade Europeia (BRASIL, 2007). Cabe ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) a inspeção dos vegetais in natura. Entretanto, é importante lembrar que cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e demais entes do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária - estados e municípios a fi scalização dos produtos no mercado. Então, mesmo que um alimento seja de competência do MAPA, a sua fi scalização, quando estiver no mercado, é da Vigilância Sanitária, cabendo a ela tomar as medidas cabíveis quando houver não conformidades. A seguir, você vai aprender mais detalhes sobre cada tipo de sanitizante. O produtor deve utilizar somente água potável para a higienização das frutas e hortaliças, conforme preconizado na Portaria GM/ MS 888, de 04/05/2021( https://bit.ly/31MRSfZ) (procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade). Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 36 Água potável Defi ne-se água potável como a água para consumo humano cujos parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam ao padrão de potabilidade e que não ofereça riscos à saúde. Veja, a seguir, os tipos de sanitizantes, entre eles: o cloro, o peróxido de hidrogênio, ozônio e o UV-C. 3.2 1 Tipos de sanitizantes • Cloro O cloro é muito utilizado nos processos de sanitização de frutas e hortaliças por ser relativamente fácil de aplicar e monitorar, por apresentar um custo relativamente baixo e por possuir amplo espectro de ação microbicida (FREITAS-SILVA et al., 2013). O cloro está disponível para uso em quatro formas: • hipoclorito de cálcio (CaCl2O2), disponível em pó ou comprimido; • hipoclorito de sódio (NaOCl), em líquido comumente chamado de alvejante; • cloro gasoso (Cl2). • dióxido de cloro (ClO2) O hipoclorito de cálcio e o hipoclorito de sódio são mais comumente usados por pequenos e médios produtores. Por isso, maiores detalhes sobre a aplicação dos mesmos serão fornecidos. Quando esses compostos são dissolvidos na água, formam ácido hipocloroso, responsável pela ação microbicida. No entanto, conforme mostrado na fi gura 19, quando o pH aumenta acima 7,0, o íon hipoclorito, carregado negativamente, predomina e não mata os microrganismos rapidamente. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 37 Figura 19: Transição de ácido hipocloroso para íon hipoclorito em diferentes condições de pH. Fonte: Elaborada para o curso Todavia, desde 1975, compostos clorados vêm sofrendo restrições quanto à sua utilização, devido à formação de subprodutos altamente tóxicos e cancerígenos, como os compostos organoclorados, trihalometanos (THMs) e ácidos haloacéticos, quando aplicados em materiais orgânicos (CHIATTONE et al., 2008; WHO, 2009). Outras características mostram as desvantagens da utilização do cloro, como o aumento da temperatura da água de lavagem que possibilita a liberação do cloro gasoso (Cl2), que é tóxico. Também a efetividade do cloro pode ser reduzida rapidamente se houver contato com matéria orgânica, metais, altas temperaturas e luz, assim como uma elevada dependência ao pH do meio. Além disso, é considerado corrosivo para alguns materiais constituintes dos equipamentos, e observa-se que os esporos bacterianos e oocistos de protozoários demonstram alguma resistência à ação do cloro (SILVA et al., 2011, COELHO et al., 2015). Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 38 Existem alguns termos associados ao uso de cloro que o produtor deve estar familiarizado. São eles: • Cloro livre ou disponível: é usado para descrever a quantidade de cloro na forma de gás cloro, íon hipoclorito ou ácido hipocloroso, que apresenta amplo espectro de ação, contudo não garante a eliminação total dos microrganismos (PARISH et al., 2003; ANDRADE, 2008). A taxa de inativação das bactérias é proporcional à concentração do cloro livre. • Cloro combinado: é a quantidade de cloro que reagiu com compostos contendo nitrogênio em água como a amônia para formar cloraminas que não são efi cientes para sanitização. • Cloro total: é a soma do cloro livre (disponível) com o cloro combinado. Existem alguns termos associados ao uso de cloro que o produtor deve estar familiarizado. São eles: • Cloro livre ou disponível: é usado para descrever a quantidade de cloro na forma de gás cloro, íon hipoclorito ou ácido hipocloroso, que apresenta amplo espectro de ação, contudo não garante a eliminação total dos microrganismos (PARISH et al., 2003; ANDRADE, 2008). A taxa de inativação das bactérias é proporcional à concentração do cloro livre. • Cloro combinado: é a quantidade de cloro que reagiu com compostos contendo nitrogênio em água como a amônia para formar cloraminas que não são efi cientes para sanitização. • Cloro total: é a soma do cloro livre (disponível) com o cloro combinado. Alguns fatores impactam na atividade do hipoclorito de sódio e hipoclorito de cálcio. São eles: • pH: recomenda-se manter o pH da solução sanitizante entre 6-7, portanto, verifi car o pH da água regularmente, para garantir a obtenção da máxima efi cácia do sanitizante. Se o pH não Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 39 estiver dentro da faixa recomendada, pode se tornar altamente corrosivo para o equipamentos (pH <6) e formar gás cloro (pH <5) que libera vapores irritantes para a pele, além de perder a efi cácia como sanitizante (pH> 8) (ANDRADE, 2008). • Temperatura: em geral, a rápida remoção do calor de campo das frutas e hortaliças pode reduzir a perda da qualidade e prevenir a deterioração. Lembrar que os produtos quentes podem criar um vácuo e absorver a água para dentro da fruta junto com contaminantes presentes na água, a exemplo dos patógenos de origem alimentar. A queda da temperatura da água também pode afetar o tempo de contato necessário com o sanitizante. A temperatura deve ser mantida abaixo de 43ºC. • Tempo de contato: o período de tempo que o vegetal deverá permanecer em contato com o água clorada afeta a capacidade do cloro ativo (ácido hipocloroso) inativar patógenos. Certifi que-se sobre as recomendações do fabricante para cada sanitizante específi co. Além disso, cada vegetal requer uma concentração apropriada para sanitização. • Presença de matéria orgânica: a matéria orgânica proveniente do solo, folhas e outros detritos podem rapidamente reagir com o cloro. A presença de matéria orgânica causa nebulosidade ou turbidez e indica má qualidade da água, o que requer atenção. A lavagem prévia de produtos com água potável pode reduzir a entrada de matéria orgânica na água de lavagem. A frequência com que você troca a água deve ser medida pela aparência da água, bem como pelo uso de tiras medidoras do cloro livre, disponíveis para compra. A concentração recomendada de cloro residual livre para a desinfeção de frutas e hortaliças varia de 50 a 200 mg/L (ppm) com um tempo de contato de 1 a 3 minutos (JOSH et al.2013). Lembrar que a efi ciência do cloro é limitada, alcançando redução de um a dois ciclos logarítmicos da população microbiana (PARK et al., 2009). Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 40 Preparo da solução clorada Como exemplo, será utilizada uma solução de hipoclorito de sódio na concentração de 12%. Lembrar que a solução de hipoclorito de sódio deve ter registro no Ministério da Saúde para utilização em alimentos. Exemplo: preparo de 100 litros de solução com 200 mg de cloro ativo/ L (200 ppm) a partir de uma solução de hipoclorito de sódio com concentração de 12%. Cinicial x Vinicial = Cfi nal x Vfi nal Cinicial= concentração de cloro ativo da solução concentrada = 12% Vinicial= volume de cloro ativo da solução concentrada que será utilizado Cfi nal= concentração da solução que se deseja preparar = 200 mg/L Vfi nal = volume da solução sanitizante que se pretende preparar = 100 Litros Considerações: 12% = 12 g/100 mL=120 g/L= 120.000 mg/L Cálculo: 20.000 (mg/L) x Vinicial (L) = 200 (mg/L) x 100 (L) Vinicial (L) = 0,167 L ou 167 mL de hipoclorito de sódio. • Peróxido de hidrogênio O peróxido de hidrogênio (H2O2) é um forte oxidante devido à liberação do oxigênio, sendo usado como agente bactericida e esporicida. A Food and Drug Administration (FDA) aprova o H2O2 para uso em alimentos. Pode ser utilizado na esterilização de embalagens e na sanitização de equipamentos e utensílios (SAPERS & SIMMONS, 1998). Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 41 Trata-se de um gás incolor à temperatura ambiente e, devido ao seu alto potencial de oxidação, apresenta propriedades bacteriostáticas e bactericidas efi cientes. Não reage com os compostos orgânicos, portanto, não produz compostos cancerígenos e decompõe-se em água e oxigênio (2H2O22 → H2O+O2). Recebeu o status de Geralmente Considerado como Seguro (GRAS) (https://bit. ly/3mWypS8) em 1986 para algumas das commodities alimentares. O peróxido de hidrogênio é um sanitizante efi caz em uma ampla faixa de pH (6 - 10). No entanto, decompõe-se em valores de pH superiores a 10 (LEE et al. 2000). Soluções diluídas de peróxido de hidrogênio reduzem a carga microbiana de cogumelos, maçãs e melões, controlando a decomposição pós-colheita desses vegetais. O uso de 5% de peróxido de hidrogênio em água, sob agitação vigorosa, ocasionou a redução de 3 ciclos logaríticos em maçãs, nas temperaturas de 70 e 80ºC (SAPERS; SIMMONS, 1998) e em melões, nas temperaturas de 50 e 60ºC (SAPERS et al., 2001). A desinfecção com peróxido de hidrogênio reduz também o número de microrganismos patogênicos em uvas, ameixas, laranjas, cogumelos, melões, tomates, pimentões vermelhos, alface, pepinos, abobrinha e pimentão (RICO et al., 2007). Seu uso não é adequado para o processamento de vegetais folhosos verdes por causar escurecimento (PARISH et al., 2009). • Ozônio O uso do ozônio é permitido e recomendando pela Administração de Drogas e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, 2001). Seu uso ocorre em todas as etapas da cadeia de alimentos, incluindo a limpeza das instalações, o processamento, o tratamento do ar, das águas de abastecimento e dos efl uentes (GUZEL-SEYDIM et al., 2004). A ozonização começou a ser usada no Brasil em 1983 para tratar água, mas não há legislação vigente para orientar a aplicação na área de alimentos (FREITAS- SILVA et al., 2013). O uso do ozônio (O3, O2 + O) como alternativa ao cloro e outros sanitizantes é baseado na sua maior efi cácia biocida, amplo espectro antimicrobiano e ausência de subprodutos prejudiciais à saúde. Atua sobre bactérias, vírus, fungos fi lamentosos e leveduras, e sobre formas esporuladas, portanto, é empregado como agente fumigante, fungicida e bactericida (CULLEN et al., 2010; SILVA et al., 2011). Decompõe-se em oxigênio sem gerar resíduos, o que o torna promissor para a aplicação na área de Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 42 alimentos (PASCUAL et al., 2007; TJAHJANTO et al., 2012; GALDEANO et al, 2018) para a sanitização de vegetais e de superfícies. O ozônio pode ser usado como gás ou dissolvido em água, sendo sua efetividade aumentada na presença de água (EL-DESOUKY et al., 2012). Por outro lado, sua baixa estabilidade em meio aquoso (meia-vida entre 20 a 30 minutos) impõe uma limitação ao seu uso (KHADRE et al., 2001; DI BERNARDO; DANTAS, 2005). A decomposição do ozônio é afetada pela temperatura e pelo pH do meio, sendo que baixos valores de pH e de temperatura aumentam sua meia-vida e levam a uma sanitização mais efi ciente. É recomendável trabalhar com temperatura de 8ºC e pH igual a 3 (GALDEANO et al., 2018) As principais formas de aplicação do ozônio são: • a exposição do produto a uma atmosfera com adição de gás ozônio; • a imersão ou lavagem do produto em água ozonizada (MILLER et al., 2013). A aplicação da água ozonizada se justifi ca para produtos que necessitam de uma etapa de lavagem durante o benefi ciamento, visto que o ozônio cumpre a dupla função de limpeza e sanitização fi tossanitária. Tratamentos com ozônio em concentrações variando de 0,15 a 5 mg L-1 inibe o crescimento de microrganismos em alface (TRINETTA et al., 2011), aspargo (QIANG et al., 2005), cenoura (SHARPE et al., 2009), laranja (PATIL et al., 2009), maçã (SHARPE et al., 2009), mamão (ALI et al, 2014), melão (TRINETTA et al., 2011); morango (ADAY; CANER, 2014), tangerina (BOONKORN et al., 2012) e uva de mesa (MIKOTA GLABER et al., 2010). Para o uso efi caz e seguro no benefi ciamento das frutas e hortaliças, a concentração de ozônio ideal, tempo de contato e outras condições de tratamento devem ser defi nidos para cada produto (COELHO et al. 2015). Em geral, não há impacto negativo na qualidade das frutas e hortaliças quando tratados com ozônio na faixa entre 1 e 5 mg L-1 (1 e 5 ppm) (JOSH et al., 2013). • UV-C A radiação UV-C é uma tecnologia de intervenção não térmica / não química que emprega a energia da luz física de um comprimento de onda específi co para inativar microrganismos e tem sido proposta para a descontaminação de vegetais. O efeito germicida da luz UV-C (UV entre 200 e 290 nm) deve- se a sua capacidade de danifi car o DNA ou RNA dos microrganismos (ESCALONA et al., 2010; HARM, 1980; Hijnen et al. 2006). Portanto, a luz UV-C pode matar efetivamente os microrganismos, incluindo bactérias e vírus patogênicos. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 43 O tratamento com a tecnologia UV-C oferece diversas vantagens para os processadores de alimentos, pois não deixa resíduos químicos, não tem restrições legais ou exige extensos equipamentos de proteção ao trabalhador (YOUSEF & MARTH, 1988). No entanto, a luz UV-C, sendo uma forma de radiação eletromagnética relativamente não penetrante (KOUTCHMA, 2009), limita sua aplicação apenas para descontaminação superfi cial de produtos alimentícios. Além disso, em alguns casos, como no mamão, doses muitos altas podem causar danos na casca. A efi cácia da UV-C contra microrganismos nas frutas e hortaliças depende de muitos fatores, como a localização dos microrganismos nesses alimentos, características da superfície dos alimentos, dose da radiação UV-C, intensidade, espécie e sorotipo do microrganismo, estado da bactéria, associação de biofi lme, tempo desde a inoculação até o tratamento com UV-C e o nível de inoculação. Sabe-se também que as células vegetativas são mais sensíveis à radiação UV-C do que os esporos (LEVY et al., 2012). A rugosidade da superfície do alimento está correlacionada com a efi cácia de inativação de UV-C. As taxas de inativação dos microrganismos pela UV-C são maiores para frutas menos hidrofóbicas e com superfícies mais lisas (maçãs e peras) em comparação com frutas com superfícies mais ásperas (melão, morango e framboesa) (ADHIKARI et al., 2015). O UV-C pode penetrar facilmente em líquidos claros ou transparentes. Por exemplo, a luz UV-C perde 30% de sua intensidade em 40 cm de água destilada, em10 cm de água do mar e em 5 cm de solução de sacarose a 10% (BINTSIS et al., 2000). No entanto, sua capacidade de penetração em alimentos sólidos é muito limitada, uma vez que a luz UV-C é facilmente absorvida em materiais sólidos opacos. É improvável que a radiação UV-C possa inativar completamente todas as bactérias na superfície dos alimentos, devido à sua baixa capacidade de penetração, efeito de sombreamento e residência das bactérias em locais de proteção, como fendas, feridas e cicatrizes no caule. Por isso, a UV-C pode ser combinada com outras tecnologias de intervenção e tratamentos para alcançar efeitos aditivos e / ou sinérgicos. Faz-se necessária a realização de pesquisas para estudar a aplicabilidade comercial da tecnologia para descontaminação de superfícies de alimentos com esforços para reduzir a variação da dose e o efeito de sombreamento (FAN et al., 2017). • Outros sanitizantes Outros sanitizantes que podem ser empregados incluem o ácido acético/ ácido peroxiacético e água eletrolisada oxidante, além da combinação de agentes químicos com o uso da água eletrolizada oxidante associada ao ácido acético ou óleo essencial de timol ou capim limão (Joshi et al, 2013). Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 44 Tabela 1 – Alguns exemplos do efeito dos sanitizantes na inativação microbiana Dióxido de cloro Ácido peracético Ozônio Peróxido de hidrogênio Água eletrolizada oxidante Bactérias Sim Sim Sim Sim Sim Fungos Não Não Sim Não Moderado Vírus Sim Sim Sim Sim Sim Esporos Sim Sim Sim Sim Sim Resíduo de pesticida Não Não Sim Não Não Fonte: JOSH et al., 2013 (adaptação) 3.2.2 Limpeza e sanitização de equipamentos Os equipamentos e os utensílios utilizados na colheita e no manuseio das frutas e hortaliças devem estar em bom estado de conservação para facilitar as etapas de limpeza e desinfecção. Os contentores utilizados e reutilizados na colheita, transporte e estocagem de produtos frescos devem ser limpos sanitizados. Para a limpeza utiliza-se água com a adição de detergentes, que podem ser de diferentes tipos: • Tensoativos: contribuem para umectar as superfícies; • Alcalinos: dissolvem resíduos sólidos e fornecem boa capacidade emulsionante; • Ácidos: retiram incrustações e removem depósitos de sais; • Sequestrantes: evitam depósitos de sais nas superfícies; • Fosfatos: dispersam os resíduos proteicos. Existem diversos produtos sanitizantes adequados para uso nos equipamentos e utensílios como os exemplos apresentados na tabela a seguir: Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 45 Tabela 2 – Principais agentes sanitizantes utilizados em equipamentos e utensílios: Produto Concentração mg.kg-1 Faixa de pH efetivo Tempo de contato (min) TºC Efi ciência Bactérias Vírus Fungos Amônia Quaternária >300 9,5-10,5 10-15 Ambiente *** * *** Compostos inorgânicos de cloro 100-400 6-8 10-15 Ambiente (<40ºC) *** * * Iodóforo 25-100 4-5 10-15 Ambiente (<40ºC) *** * ** Ácido peracético 75-100 <8 10-15 8-30ºC *** *** *** Peróxido de hidrogênio 3000-60000 6-10 5-20 >40ºC *** ** ** (*) moderadamente efi caz; (**) efi caz; (***) altamente efi caz Fonte: MORETTI, 2002. 3.1 Aplicação de ceras Você sabia que a maioria das frutas (ex: manga e ameixa) tem uma camada natural de cera, mas que é removida durante as etapas do benefi ciamento? Assim, para uma maior barreira e proteção aos frutos, pode ser inserida uma proteção artifi cial, também com propriedades adicionais, como: reduzir a perda de água e alterar as trocas gasosas, permitindo uma maior conservação e diminuindo perdas. Troca gasosas: O que é isso? Frutas e hortaliças são organismos vivos – com 80-90% de água –, com metabolismo e respiração ativos, sujeitos a modifi cações, de acordo com o ambiente e manuseio. O revestimento comestível, forma uma película invisível que altera o ambiente externo (https:// bit.ly/2YyW2H4) – que em geral possui mais oxigênio – O2 e teores bem baixos de gás carbônico - CO2 e também é claro nitrogênio. Com a película invisível essa atmosfera é modifi cada e assim, ocorre alterações como aumento no CO2 e redução no O2, e assim reduzindo o metabolismo da fruta ou hortaliça. O princípio é esse! Mas o que são ceras? Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 46 Ceras ou também conhecidas pelo nome técnico – revestimentos comestíveis – são emulsões as quais podem conter distintos componentes, de origens diversas, e classifi cadas como hidrofílicas e hidrofóbicas. O seu uso mais comum é em frutas cítricas. Revestimentos comestíveis, aditivos, glaceantes são regulados pela Resolução RDC nº 8/2013 (https://bit.ly/3073Vni).Todo novo aditivo, incluindo ceras, deve ser previamente avaliado e aprovado pela Anvisa para uso nas diferentes categorias de alimentos. Como aplicar a cera Para aplicação de ceras existem no mercado equipamentos apropriados para isso, em geral, por spray, e alguns com técnicas mais avançadas às quais conseguem reduzir o tamanho da gota, proporcionando um melhor espalhamento. Algumas unidades de benefi ciamento utilizam por imersão. Em aplicações com jatos fi xos, importante verifi car que os jatos estejam uniformes e sobrepostos e também se os bicos estejam em pleno funcionamento, sem danos. No caso da aplicação em jatos dinâmicos, a recomendação é semelhante, ou seja, a velocidade dele adequada para um molhamento apropriado. A função das escovas é espalhar o revestimento, e para isso utiliza- se escovas de origem animal, em geral onduladas. Na sequência a secagem, a qual é estática, em geral, realizada em túneis, com recomendação de temperatura de 45 ºC, ajustável com o tipo de produto, velocidade de ventiladores, etc. Veja um exemplo (https://bit.ly/3D2xp4m) para aplicação em manga, o qual por analogia pode ser utilizado para outras frutas e hortaliças. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 47 Caso queira entender mais sobre esse assunto, acesse os livros e os capítulos indicados a seguir: • Colheita e benefi ciamento de frutas e hortaliças – Capítulo 6 – Aplicação de ceras em frutas e hortaliças (https://bit.ly/3bSl4nD). • Tecnologias pós-colheita em frutas e hortaliças – Capítulo 12 – Revestimentos comestíveis protetores em frutas e hortaliças (https://bit.ly/3C0HCwM). • Instrumentação pós-colheita em frutas e hortaliças – Parte 3, Capítulo 2 – Coberturas comestíveis sobre frutas e hortaliças: fundamentos e práticas (https://bit.ly/3mUHVVL). Acesse também o curso de nanotecnologia, aqui oferecido no curso pós-colheita, onde pode entender como novas tecnologias estão alterando o mercado de ceras no Brasil e no mundo. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 48 4. ETAPAS: CLASSIFICAÇÃO E EMBALAGEM 4.1 Classifi cação Você deve estar pensando, mas por que tenho que classifi car as frutas e hortaliças? Veja o vídeo a seguir e descubra. A classifi cação permite caracterizar o produto, de forma a ser utilizada uma só linguagem por todos os elos da cadeia de produção, estabelecendo confi abilidade e transparência nas negociações. Essa linguagem de qualidade é importante instrumento na comercialização, principalmente quando o produto não está presente. Normalmente os produtos com melhor padrão de classifi cação tem melhores preços. A classifi cação pode ser realizada em unidades de benefi ciamento ou diretamente no campo. A classifi cação ocorre no campo em frutas muito delicadas e que não suportam o contato com a água, por causa do aumento das podridões. Por isso, alguns produtores classifi cam esses produtos diretamente no campo. No processo de classifi cação, as frutas e hortaliças previamente selecionadas são classifi cadas em categorias conforme padrões e normas vigentes. Quando a classifi cação é realizada na unidade de benefi ciamento, a fruta ou hortaliça pode ir para as linhas de classifi cação ou pode ir para uma pré-classifi cação e após ser pré-classifi cado, irá para as câmaras friaspara armazenamento temporário onde fi cará até o momento de ser classifi cado defi nitivamente, embalado e comercializado. Alguns exemplos, são a lima ácida “Tahiti” e a maçã. No Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 49 caso das maçãs a etapa de armazenamento temporário pode durar vários meses, por sua vez, para a lima ácida o tempo é bem mais curto. A classifi cação, na unidade de benefi ciamento, é realizada com o auxílio de instalações, podendo ser realizada de forma manual, mecânica e eletrônica. Em máquinas classifi cadoras mais simples as frutas e hortaliças são colocadas a seco no início da esteira para iniciar o processo que consiste em separar de forma manual em categorias esses produtos, na maioria das vezes naqueles que por suas características não suportam o uso de água nas instalações, como no caso de uva de mesa e outros (fi g. 20). Este processo é geralmente realizado em pequenas propriedades. Figura 20: Classifi cação manual de mirtilos no campo. Fonte: Rufi no Fernando F.Cantillano – Acervo pessoal Em outros casos, a classifi cação mecânica é realizada por máquinas mais complexas, quando as frutas são colocadas em tanques com água ou diretamente na linha de benefi ciamento. Mas como isso acontece? Na classifi cação mecânica as máquinas conseguem separar os produtos por peso ou diâmetro, em frutas ou hortaliças que suportam a movimentação nesse processo (fi g. 21). Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 50 Figura 21: Máquina tipo mecânica classifi cadora de frutas por peso. Fonte: Rufi no Fernando F.Cantillano – Acervo pessoal As máquinas de classifi cação eletrônica são mais recentes. São realizadas em máquinas mais complexas e conectadas a um software que controlam as operações. Mas como esse processo se dá? No caso da maçã, por exemplo, os frutos são conduzidos por meio de esteiras a diferentes calhas, quando inicia o processo de seleção e classifi cação, sob o controle de programas computadorizados, separando-as em diferentes calibres (tamanhos), por cor e por intensidade de defeitos. Recentemente também podem ser separados por estádio de maturação (fi g. 22). Figura 22: Máquina eletrônica para classifi car maçãs. Fonte: Rufi no Fernando F.Cantillano – Acervo Pessoal Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 51 Cada um desses sistemas tem vantagens e desvantagens. Veja a tabela a seguir. Tabela 3: Vantagens e desvantagens de máquinas classifi cadoras manual, mecânica e eletrônica. Vantagens Desvantagens Manual • Menor custo • Manutenção pouco especializada • Operação simples • Menor precisão • Maior incidência de danos mecânicos Mecânica • Custo intermediário • Manutenção regularmente especializada • Operação com grau de difi culdade regular • Precisão regular • Moderada incidência de danos mecânicos Eletrônica • Alta precisão • Baixa incidência de danos mecânicos • Manutenção especializada • Multiplicidade de operações (separação por cor, defeitos e maturação) • Alto custo • Operação muito especializada e com pessoal técnico treinado Fonte: CANTILLANO, 2013. Existem vários tipos de máquinas no mercado, mas algumas características devem ser consideradas: • bater o menos possível o produto; • separar com precisão a fruta ou hortaliça em distintos tamanhos; • exigir um mínimo de mão de obra para sua operação; Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 52 • ocupar o menor espaço possível no galpão de classifi cação; • ser versátil, isto é, ser capaz de realizar a classifi cação de diferentes espécies de frutas e hortaliças, conforme a necessidade; • ser de fácil limpeza e ajuste; • ser de baixo custo e contar com assistência técnica efi ciente; • possuir protetores de contrabatidas (espuma de plástico) em áreas salientes e de saltos da linha, para evitar danos físicos; • dispor as esteiras em linha reta, evitando as mudanças de direção; • possuir mecanismo efi ciente para aplicação de cera ou de outro produto similar, se for necessário. Para saber mais acesse o livro e o capítulo indicado a seguir: • Colheita e benefi ciamento de frutas e hortaliças - Capítulo 5 – Classifi cação de frutas e hortaliças (https://bit.ly/3bSl4nD). • Aprenda um pouco mais sobre esse assunto com exemplos para a cultura do mamão, acessando o artigo Manejo pós- colheita e desenvolvimento de tecnologias para aplicação pós- colheita para redução do uso de agrotóxicos em mamão (https:// bit.ly/3D4h6Eq). 4.1.1 Classifi cadora vertical de frutas Você sabia que é possível classifi car frutas em pequenos volumes sem usar água? Grande parte dos equipamentos hoje no mercado são direcionados a grandes volumes, assim existe uma falta de equipamentos para classifi cação de frutas e hortaliças destinados a pequenos e médios produtores. A classifi cadora móvel vertical compacta para limpeza e classifi cação de frutas foi desenvolvida pela Embrapa Instrumentação e atualmente por meio de convênio de cooperação técnica com a empresa Geometric Automação (https://bit.ly/3bVH3Ks), está em fase de teste para aplicação em frutas como o maracujá. O princípio da classifi cação do equipamento se dá por meio de escovas e roletes de classifi cação posicionados na vertical e é possível a realização do benefi ciamento e classifi cação sem o uso de água. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 53 Figura 23: Classifi cadora vertical de frutas e hortaliças Fonte: Marcos David Ferreira (acervo pessoal) Para saber mais sobre essa tecnologia acesse: • Classifi cadora vertical compacta (https://bit.ly/3bVH8he). • Classifi cadora compacta para benefi ciamento e classifi cação de frutas e hortaliças (https://bit.ly/3bVtSZL). 4.1.2 Padrão de classifi cação Como estudou anteriormente, no tópico 3.4, um produto classifi cado é aquele que é separado por classe ou divisões pré-estabelecidas, que contemplam características internas ou externas baseadas em padrões previamente defi nidos, tornando possível uma interpretação única. Estabelecer padrões de classifi cação para frutas e hortaliças permite melhorar a apresentação, uniformizar características de tamanho, coloração e aumentar a atratividade agregando valor. Módulo | Benefi ciamento de frutas e hortaliças 54 A atividade de classifi cação de produtos vegetais no Brasil é regida pela Lei 9.972, de 25/05/2000 (https://bit.ly/3n0Q1MO) e regulamentada pelo Decreto 6.268, de 22/11/2007 (https://bit.ly/3wvJi0m). Essa legislação obriga que os produtos vegetais e seus subprodutos sejam classifi cados, nas seguintes situações: • quando destinados diretamente à alimentação humana; • nas compras do poder público; • nos portos, aeroportos; e • nos postos de fronteira. A classifi cação é obrigatória para os produtos de origem vegetal que disponham de padrão ofi cial de classifi cação, e assegura as melhores práticas sendo realizada por todo o lote de produto comercializado nacionalmente com base nos Padrões Ofi ciais de Classifi cação (https://bit.ly/3klr258) estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, onde estão defi nidas as especifi cações e critérios de identidade, qualidade, apresentação, modo de amostragem e rotulagem. Os produtos destinados à exportação obedecem aos acordos estabelecidos em comum entre países, através da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD). Veja a seguir as normas em vigência (https://bit.ly/3ogKFfy). É importante você saber também que no mercado atacadista brasileiro de frutas e hortaliças in natura existe uma grande diferenciação de valor por tamanho e qualidade, e isto está relacionado à classifi cação dos produtos. Produtores e atacadistas utilizam denominações específi cas para compra e venda, e com estas denominações conseguimos identifi car o produto que realmente estamos nos referindo. Embora a classifi cação do mercado atacadista não possua o objetivo de determinar o valor do produto, mas sim
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