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1 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii → Vesicula biliar: órgão piriforme com função de armazenamento da bile que é produzida pelo fígado, e eliminar em um momento oportuno (funciona como uma bomba) • É dividida em fundo, corpo e infundíbulo, onde sai o ducto cístico. → Canalículos biliares: estão dentro do fígado e drenam a bile. • Esses canalículos se fundem e formam os ductos hepáticos (os ductos são formados pela confluência dos canalículos) → Ductos hepáticos: fora do fígado, se fundem e formam o ducto hepático comum • O Ducto hepático comum se funde com o cístico e forma o colédoco → Colédoco: na porção distal do colédoco, há fusão com o ducto pancreático ou de Wirsung (drena a porção exócrina do pâncreas), que formam a ampola de Vater. • A ampola de Vater drena a nível da 2ª porção duodenal, controlada pelo esfíncter de Oddi através da Papila duodenal. • O esfíncter controla o fluxo do conteúdo, impedindo o refluxo Classicamente, a via biliar principal é a árvore biliar sem a vesícula. → Triângulo de Calot: área triangular formada pelo ducto cístico, ducto hepático comum e borda hepática. • Dentro do triângulo de Calot passa a artéria cística, e antes de seccionar a vesícula é necessária a hemostasia dessa artéria (ramo da hepática), durante as colecistectomias. !!! Não há veia cística. A drenagem da vesícula é feita por difusão para o fígado. → Secreção biliar- composição da bile: • A bile é uma solução, que possui um solvente (água) e vários solutos diluídos nela. É uma solução estável, produzida no fígado, armazenada na vesícula e liberada no duodeno no período pós-prandial. • Solutos (15%): − Sais biliares − Eletrólitos − Lecitina − Bilirrubina conjugada e não-conjugada − Colesterol • Solvente: água (85% da bile é água) ATENÇÃO !!! Tanto o colesterol quando a BI são insolúveis em água. Os sais biliares tem a importante função de solubilizar o colesterol e a BI, mantendo a solução estável N2 2 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii → O fígado produz 500-600ml de bile por dia, a vesícula armazena 30 a 50ml dessa bile. • A vesícula tem a capacidade de concentrar a bile. O esfíncter de Oddi mantém seu tônus basal fechado, que aumenta a pressão da via biliar principal e, assim, a bile entra na vesícula. A vesícula desidrata a bile para elimina-la mais concentrada. • Em um momento oportuno (pós-prandial) a via biliar é estimulada pela CCK, que faz com q vesícula contraia e o esfíncter relaxe, e a bile é drenada para o duodeno. Os alimentos gordurosos estimulam de forma mais abrupta a contração da vesícula e relaxamento do esfíncter. Ou seja: Fígado produz 500-600ml de bile > bile cai na vesícula pela pressão aumentada na via biliar > vesícula concentra bile por desidratação > chegada do alimento no intestino estimula a secreção de CCK > CCK estimula contração da vesícula e relaxamento do esfíncter de Oddi > bile escoa para o duodeno. → A bile, uma vez q cai na 2ª porção do duodeno, que é rica em sais biliares, tem importante papel na emulsificação do conteúdo gorduroso alimentar, formando micelas, e ajudam na ação da secreção pancreática. • As secreções pancreática e intestinal necessitam da formação das micelas para continuar a digestão. → A bile também é importante na formação do estercobilinogênio que, ao cair no duodeno, a bile que não foi utilizada para a emulsificação desce para o ID e é metabolizada pelas bactérias da microbiota intestinal, e a bilirrubina é transformada em estercolinogênio, que confere a cor escura às fezes. → A outra parte da bile, que não virou estercobilinogênio ou foi gasta na emulsificação de gordura é reabsorvida pela circulação entero-hepática e volta para o fígado. Funções básicas da bile: • Armazenar e secretar os sais biliares (que solubilizam os solutos insolúveis e formam micelas) • Emulsificação de gorduras e formação de micelas • Excretar excesso de bilirrubina e íons inorgânicos • Excreção de colesterol • Manutenção da homeostase • Formação do estercobilinogênio (função secundária) Colelitíase → Presença dos cálculos na vesícula biliar → Acomete cerca de 10-20% da população → É a patologia das vias biliares mais comum do ocidente → A maioria dos pacientes são assintomáticos → Fisiopatologia: 1. Supersaturação da bile: presença da bile litogênica (superssaturada – não é mais estável) • Aumento da concentração de colesterol ou da BI: esses solutos são dependentes dos sais biliares, se aumentarem em excesso a ponto que os sais não conseguem solubilizar, há superssaturação. • Diminuição dos sais biliares !!! O cálculo nada mais é que a precipitação dos solutos insolúveis, que ocorre quando estes estão em excesso ou quando os sais biliares estão diminuídos, então precipita pequenos cristais de colesterol ou BI. 2. Nucleação: formação de cristais de solutos não solubilizados 3. Crescimento: por aposição de mais cristais → Etiopatogenia: 1. Cálculos de colesterol (75%) • Puros: cálculos mais claros, multifacetados, poliédricos, múltiplos. • Mistos de colesterol: mais frequentes, além do colesterol precipitou outro soluto (com predomínio do colesterol), são mais escuros. !!! Os cálculos mistos de colesterol são os mais frequentes da colelitíase 2. Cálculos pigmentados (25%) • Pretos: decorrentes da precipitação da BI + cálcio = bilirrubinato de cálcio. São cálculos radiopacos pelo cálcio, e podem ser vistos numa tomografia. Puros Mistos 3 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii • Marrons ou acastanhados: não são frequentes na vesícula, mais frequentes na via biliar principal, por infecção da bile (estase – a bile parada vira meio de cultura). São vários os solutos que podem ser precipitados → Fatores de risco: • Sexo feminino (a via biliar da mulher é mais lenta) • Obesidade (metabolismo do colesterol) • Multiparidade (2 ou mais gestações, na gestante a via biliar é mais lenta, assim como todo o aparelho digestivo) • Predisposição familiar • Idade (a partir da 4ª década de vida) !!! 5F: Female, Fat, Fertile, Forty and Family. • Dieta (fator pouco relevante) • Anemia hemolítica (favorece os cálculos de bilirrubinato de cálcio) • Doenças do íleo terminal (dificultam o círculo de reaproveitamento entero-hepático) • Infecções biliares (cálculos marrons) • Outras causas menos frequentes. → Quadro clínico: • Paciente clássico: mulher > 30 anos, com sobrepeso, com 2 ou mais gestações prévias e histórico familiar positivo. • A maioria são assintomáticos e são diagnosticados ao acaso por US (em exames ginecológicos, urológicos, pélvicos...) - Sintomáticos (40-50%): • Dor abdominal intermitente, imprecisa em andar superior, geralmente pós-prandial, mais intensa na ingestão de alimentos gordurosos (colecinéticos): dor visceral (a vesícula ao contrair encontra uma obstrução pelo cálculo e se contrai com mais força, distendendo o peritônio visceral). • Náuseas e vômitos • Sensação de plenitude pós-prandial prolongada • Outros sintomas dispépticos. !!! Não há abdome agudo pois não acomete o peritônio parietal → Complicações: • Colecistite aguda: quando há impedimento da drenagem da bile, esta vira um meio de cultura para bactérias levando a uma inflamação da vesícula, secundária a uma obstrução pelo cálculo (mais comum) • Coledocolitíase: presença dos cálculos originados da vesícula na via biliar principal (há sintomas de icterícia obstrutiva) • Colangite aguda: infecção da via biliar principal por uma obstrução de cálculo vesicular que caiu nessa via. • Pancreatite aguda: quando o cálculo obstrui a saída da via pancreática (mais grave das complicações) → Diagnóstico: • Quadro clínico sintomático: síndrome dolorosa em topografia de andar superior ou síndrome dispéptica • US deabdome: identifica a presença dos cálculos dentro da vesícula, com a bile (conteúdo anecoico – sem eco), com imagem hiperecóicas (cálculos) que geram uma sombra acústica posterior, com vesícula não inflamada – EXAME PADRÃO OURO !!! A característica da sombra é quase patognomônica de cálculos. • Radiografia: para cálculos radiopacos de bilirrubinato de cálcio (não pede de rotina) • TC de abdome: sensibilidade inferior ao USG, utilizada em suspeitas de complicações. !!! Devido a síndrome dispéptica, muitas vezes é pedido a EDA junto com o US → Tratamento: • Clínico: controle da dor (analgésico) e melhora da dispepsia (principalmente para os alimentos gordurosos) • Tratamento definitivo: colecistectomia (por laparoscopia ou laparotomia) → Tratamento cirúrgico: • Videolaparoscopia: cirurgia minimamente invasiva, onde se usa pequenos furos e a cirurgia é feita por Pretos Marrons 4 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii vídeo. É uma cirurgia com REMIT menos intenso, a dor é menor, menos danos estéticos, recuperação e alta hospitalar mais rápidas, portanto, é a cirurgia de escolha na maioria das vezes. • Laparotomia: cirurgia aberta, com maiores danos pós-operatórios. É indicado a laparotomia em casos que o paciente apresente muita aderência, má formação anatômica e outras complicações que impossibilitam a realização de uma cirurgia por vídeo (laparoscopia). A cirurgia por laparoscopia pode ser convertida em uma laparotomia quando se acredita que está colocando a integridade do paciente em risco. !!! Quando não há material adequado, profissional e equipe qualificados, acesso dificultoso é melhor fazer a laparotomia - Técnica: • Deve-se tracionar a vesícula e expor bem ela e seu hilo. Há um peritônio revestindo a vesícula, e dentro dele há o ducto cístico e o hepático comum, com a artéria cística passando entra essas estruturas e a borda hepática, no triângulo de Calot. Identifica-se o ducto cístico e a artéria e fecha as pontas de ambos, através de um clip ou um nó (o ducto cístico deve ser fechado na ponta proximal e distal, já a artéria apenas na ponta proximal, pois ela envia o sangue). Após comprimir essas estruturas, deve realizar a hemostasia da artéria e ressecção da vesícula. !!! O ducto deve ser fechado para não extravasar a bile. !!! Baixas taxas de complicação por colecistectomia por colelitíase → Colecistectomia em assintomáticos (diagnóstico por acaso): • Tema controverso: avaliar sempre o risco benefício. Algumas faculdades defendem que deve operar todos pelo risco de complicação, e outros defendem que poucas colelitíases complicam e que a cirurgia pode complicar mais que a própria colelitíase. • Recomendações fortes em pacientes assintomáticos: − Cálculos gigantes (>2cm): o cálculo gigante aumenta o risco de CA de vesícula − Microcálculos (< 5mm): podem passar com facilidade para a via biliar principal e gerar uma pancreatite − Vesícula calcificada em aspecto de porcelana: por inflamações recorrentes (crônica), que se calcifica e gera um aspecto em porcelana. Mesmo que sem cálculo, é indicativo cirúrgico − Pólipos > 1 cm (elevação da mucosa > 1cm): há risco de CA de vesícula. Pólipos < 1cm faz acompanhamento. − Pacientes diabéticos: não aumenta os riscos de complicação, mas se complicar são mais graves − Doença hemolítica: formador crônico de cálculos Colecistite aguda → É a mais frequente das complicações da colelitíase → Processo inflamatório causado pelo impedimento à saída da bila da vesícula (obstrução importante, quase que total da vesícula, gerando um processo inflamatório agudo). → Geralmente é causado por cálculos vesiculares Tração da vesícula Identificação do triângulo de Calot Clipagem do ducto cístico Ducto e artéria cística clipados Dissecção da vesícula Ressecção total da vesícula 5 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii → Na maioria das vezes, involui (80-85%), porém pode evoluir com complicações em 10-15% das vezes, com perfurações, abscessos, choque séptico. → Fisiopatologia: 1. Obstrução do ducto cístico ou infundíbulo vesicular (na saída da vesícula para o ducto cístico). 2. Bile parada é um meio de cultura para bactérias 3. O processo inflamatório na parede vesicular gera distensão e edema, e por contiguidade, o processo inflamatório pode atingir o peritônio parietal e gerar uma dor parietal. 4. Pode evoluir com necrose, isquemia, bacteremia e sepse. → Etiologia: • Cálculos vesiculares (causa mais frequente) • Bile espessa (colecistite alitiásica): em situações que o paciente possui desidratação, hipovolemia, normalmente em pacientes internados a muito tempo, em regime de internação intensiva, com doenças de base graves, estes geram uma bile muito espessa que obstrui a própria drenagem, formando um meio de cultura. (é a 2ª causa mais frequente, em pacientes graves, desidratados, hipovolêmicos, em regime de internação prolongada) • Parasitoses • Pólipos na vesícula • Neoplasia de vias biliares • Compressões extrínsecas !!! Na colecistite alitiásica nem sempre é necessária cirúrgica → Quadro clínico: • Dor abdominal parietal, por peritonite, localizada no hipocôndrio direito, contínua e precisa, secundária a um processo inflamatório. • Percussão, palpação superficial e profunda e descompressão brusca dolorosa em topografia de hipocôndrio direito • Paciente procura o pronto socorro com mais de 6h de dor = síndrome de abdome agudo inflamatório • Náuseas e vômitos • Manifestações infeciosas: febre, hiporexia, adinamia • Sinais de peritonite focal • Sinal de Murphy: parada súbita da inspiração à palpação do ponto cístico (sinal de peritonite) • Palpação de um plastrão inflamatório: em alguns casos o plastrão pode ser palpado, pois a vesícula está inflamada com risco de perfuração, e as estruturas próximas à vesícula migram e bloqueiam uma eventual perfuração (migra peritônio, ometo, estômago, duodeno, IG...), formando uma massa inflamatória formada pelas estruturas adjacentes. → Diagnóstico: • Quadro clínico de abdome agudo inflamatório em topografia de hipocôndrio direito. Ao exame físico observa sinais de peritonite (Blumberg, Murphy e plastrão) • Exames laboratoriais para abdome agudo: − Hemograma: apresenta leucocitose com desvio a esquerda − PCR ou VHS: altos − Urina 1 − Amilase e lipase: normais − BhCG: em mulheres em idade fértil para diagnóstico diferencial de abdome agudo hemorrágico, e para verificar se é possível fazer uma tomografia • Exames de imagem: radiografia de abdome em 2 incidências (ortostático e decúbito) e de tórax ATENÇÃO É comum que as radiografias venham normais, mas pode achar o sinal da alça sentinela, com distensão gasosa do ID no hipocôndrio e níveis hidroaéreos, ou se os cálculos forem de bilirrubinato de cálcio, é possível vê-los na radiografia pois são radiopacos. !!! Rotinas de abdome agudo: exame laboratorial + radiografia de tórax e abdome em 2 incidências − US de abdome: observa um espessamento da parede da vesícula, geralmente acima de 4cm, com líquido perivesicular. Se a colecistite for litiásica, há a presenta de um cálculo fixo no infundíbulo ou no ducto cístico. É o exame padrão ouro na colecistite não complicada. !!! Isso permite que o radiologista diferencie colelitíase de colecistite. − TC ou RNM de abdome: melhores indicados em suspeitas de colecistites complicadas, com risco de perfuração ou abscesso. − Laparoscopia diagnóstica: quando não encontrou nenhum achado nos exames anteriores, faz a laparoscopia diagnóstica e pode fazer a colecistectomia se for colecistite litiásica. → Tratamento: • Sempre é cirúrgico, porém o momento mais oportuno é discutível. 6 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii • Cirurgia precoce: diagnóstico em até 3 dias do início dos sintomas– cirurgia é recomendada imediatamente • Cirurgia tardia: diagnóstico após 3 dias do início dos sintomas – é recomendado esperar − Consiste em “esfriar” o processo inflamatório: acima de 3 dias de sintomas há grandes chances de o processo inflamatório estar disseminado, com risco de aderência, sangramento, perfuração, além de o plastrão atrapalhar a cirurgia. − Esse tratamento é feito com antibioticoterapia, e usa-se cefalosporina de 2º, 3ª geração, quinolonas, aminoglicosídeos, que dimunuem a formação do plastrão e facilita a cirurgia. → Cirurgia indicada: colecistectomia • Nesse caso, a cirurgia é mais complicada pela aderência, plastrão, risco de sangramentos e perfurações. Coledocolitíase → É a presença de cálculos na via biliar principal, geralmente estes oriundos da vesícula. → Etiologia • Cálculos secundários (95%): são provenientes da vesícula • Cálculos primários (5%): formados no próprio ducto colédoco (na via biliar principal), são cálculos acastanhados relacionados com a estase e a infecção da bile → Quadro clínico • A via biliar é um sistema de tubulação que drena a bile da vesícula em direção a duodeno, e os sintomas são de obstrução • Icterícia: bile reflui para o fígado, é absorvida e gera icterícia (síndrome ictérica) • Colúria: BD é absorvida, filtrada e eliminada na urina • Hipocolia ou acolia fecal: não há formação adequada de estercobilinogênio • Dor abdominal: se apresentar uma colelitíase com coledocolitíase secundária (a dor é da colelitíase) !!! Síndrome ictérica obstrutiva: icterícia, colúria e hipocolia fecal ATENÇÃO As síndromes ictéricas ou colestáticas possuem causas pré- hepáticas, hepáticas ou pós-hepáticas. • Pré-hepáticas: hemólises – aumenta oferta da BI • Hepáticas: hepatites – dificulta conjugação da bilirrubina eleva BI e BD • Pós-hepáticas: obstruções – aumenta a BD → Iicterícia na coledocolitíase: • Flutuante: piora, melhora... • Mais leve ao exame físico (++++/++++++, aproximadamente). • BB < 10 !!! Nas neoplasias a icterícia é progressiva, associada com consumpção, com icterícia grave (++++++/++++++), com BB > 10 com predomínio de BD. → Complicações: • Colangite: infecção da via biliar principal, decorrente da estase da bile nessa via. − Tríade de Charcot: icterícia, febre com calafrios e dor abdominal (sugere colangite bacteriana) − Tratamento na urgência, com desobstrução da via biliar e tratamento do quadro infeccioso − Pêntade de Reynolds: tríade + rebaixamento neurológico e hipotensão (sugere complicação da colangite) • Abscesso hepático: a infecção pode ascender em direção ao fígado • Pancreatite aguda → Diagnóstico: • Quadro clínico: síndrome ictérica obstrutiva, podendo referir colúria e hipocolia (se houver apenas icterícia, deve-se analisar outros fatores que sugerem causas pré, hepáticas e pós) • Exames laboratoriais: − BB total e frações: BI e BD − Hemograma: verifica anemia, infeções... − FAL e GGT: marcadores obstrutivos − TGO e TGP (transaminases): pode haver uma breve elevação − Amilase !!! Se a BB estiver > 10 com predomínio da direta, sugere neoplasias, se tiver < 10, sugere causas benignas. !!! FAL e GGT são marcadores de obstrução. A GGT é pouco específica, já a FAL se eleva em obstrução de via biliar e em lesão óssea. !!! Na icterícia pós-hepática pode ter breve elevação de transaminases • US de abdome (1º exame de imagem) − O US não é um bom exame para visualizar o colédoco (visualiza em 65% dos casos), então nem sempre identifica com precisão. É um bom exame para avaliar vesícula, sua parede, se há cálculos dentro dela, e os diâmetros da via biliar, se está normal ou dilatada, mas para avaliar o colédoco em si, não é bom. !!! O cálculo pode obstruir e dilatar a via biliar proximal, e o US consegue avaliar essa dilatação. Os cálculos obstruem parcialmente, portanto não é muito frequente a dilatação, porém os tumores costumam gerar uma dilatação importante (sem cálculos na vesícula). Presença de cálculos vesiculares Via biliar principal dilatada 7 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii • Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPER): radiografia contrastada da via biliar − Identifica obstruções diversas, pela dificuldade da passagem do contraste − Possui boa sensibilidade, boa especificidade, e pode ser terapêutica pois é possível remover o cálculo por esse exame, através da endoscopia. − É endoscópico: pela boca, até a 2ª porção do duodeno, e introduz um cateter até a ampola de Vater, para injetar o contraste de forma retrógrada (da ampola até os ductos hepáticos) !!! Não pode ser realizado em indivíduos com IR, gestantes ou com hipersensibilidade ao contraste − O cálculo produz essa imagem de dificuldade de passagem do contraste, com uma imagem circular na ponta. O tumor gera uma imagem de afilamento de vias biliares. − Nesse exame pode-se introduzir uma pinça guiada por endoscópio e remover o cálculo. • RNM das vias biliares (CPRM – colangiopancreatografia por ressonância magnética) − Boa sensibilidade, boa especificidade, o método não é terapêutico. − Exame padrão ouro − Hoje é o mais usado, pois não usa contraste, não apresenta complicações pelo contraste (pode ser usada em pacientes com IR, gestantes e pacientes com hipersensibilidade ao contraste). − Observa um padrão de falha de enchimento com obstrução por cálculo ovalado. !!! Hoje em dia é feito o diagnóstico pela ressonância e o tratamento pela endoscopia → Tratamento 1. Papilotomia com coledocolitotomia endoscópica pelo CPRE + colecistectomia laparoscópica • É a mais usada, padrão ouro, menos traumática, melhores resultados. • É mais usada para cálculos distais. • Colecistectomia laparoscópica: trata a causa do problema, mesmo se não observar cálculos na vesícula, serve para complementar a CPRE e sempre é feita. 2. Coledocotomia com colecodolitotomia + colecistectomia laparoscópica • Abre o colédoco e tira o cálculo pela pinça tudo por laparoscopia • É uma técnica mais traumática pois é necessário abrir o colédoco (mais riscos de complicações, como fístulas, estenoses, vazamento da bile) • Melhores resultados com cálculos proximais 8 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii 3. Derivações bileo-digestivas (anastomoses do duodeno ou do jejuno com o colédoco) + colecistectomia • Hepatocolédoco dilatado > 2cm (normalmente é até 0,6 a 0,8cm): o esvaziamento da bile fica muito lenta e predispõe aos cálculos • Estenoses do colédoco: o esvaziamento da bile fica lentificado • A derivação acelera o esvaziamento da bile e previne a formação de cálculos primários do colédoco !!! Esses dois fatores anteriores propiciam uma maior incidência a coledocolitíase, devido a estase da bile, então ele possui chances de formar cálculos primários. !!! Às vezes a via biliar está tão dilatada que ela não tem pressão para vencer o esfíncter. • Anastomose colédoco-duodenal latero-lateral (mais difícil pois o duodeno é fixo) − Dessa forma, a bile em vez de passar por todo colédoco, ir para o esfíncter e depois sair no duodeno, com essa anastomose ela vai direto para o duodeno. Torna mais rápido e ele não precisa vencer a pressão, é semelhante ao Bypass. Após esse procedimento a bile pode seguir os dois caminhos, mas ela prefere ir pelo duodeno pois a pressão é menor. • Derivação colédoco-jejunal em Y de Roux (quando não é possível realizar a colédoco-duodenal) − Para isso, primeiro se localiza o ângulo de Treitz, conta de 30 a 40 cm e secciona, a ponta proximal é anastomosada com o colédoco e, a partir dessa anastomose conta 40 a 50 cm e anastomosa a ponta distal com o jejuno. A comida vem pelo estômago e duodeno (normalmente), e a secreção biliar vem pela anastomose colédoco-jejunal (essa anastomose é latero-lateral) !!! São complementares ao tratamento da coledocolitíase,feito por CPRE ou laparoscopia e, se sabidamente há dilatação > 2cm ou estenose do colédoco, faz a derivação. Normalmente faz a CPRE para remover o cálculo, e faz a colecistectomia e derivação por videolaparoscopia. Se no serviço não possuir CPRE faz tudo por vídeo ATENÇÃO Em TODAS as cirurgias se remove a vesícula. Quando se tem a síndrome ictérica pré-hepática quem conduz é o hematologista, a hepática o gastroenterologista e a pós-hepática o cirurgião. Sintomas como um quadro viral prévio, etilismo, anemia hemolítica, emagrecimento, icterícia, colúria, hipocolia fecal são importantes para identificar qual síndrome é. NEOPLASIAS DA VESÍCULA BILIAR → Suspeitas: icterícia ascendente/progressiva e importante (> ++++), emagrecimento (consumpção), anemia, BD > 10. → Solicitar: CPRM ou CPRE (A CPRM é mais indicada, na ausência desta, faz CPRE) → É a neoplasia mais comum das vias biliares • Adenocarcinoma da vesícula !!! 5º tipo mais comum do TGI (1º é estomago e 2º intestino grosso) → Incidência: acomete preferencialmente idosos e do sexo feminino • Geralmente o prognóstico é ruim, com diagnóstico difícil, dados inespecíficos, sem muitas manifestações e não responde bem a radioterapia e quimioterapia → Fatores de risco: • Cálculos gigantes (> 2cm): principal fator de risco e presente em 70% dos pacientes com tumor • Pólipos vesicais (> 1cm): elevações de mucosa que podem evoluir com adenocarcinoma. Os <1cm não predispõe. • Fístulas colecisto-estéricas: fístulas entre vesículas e intestino que ocorrem por processos inflamatório. Nesse cenário, a secreção intestinal penetra a vesícula cronicamente, fato que pode irritar (a própria vesícula) e aumentando o risco para tumor. • Vesícula em porcelana: calcificação → Quadro clínico: • Assintomático nas fases iniciais • Sintomas dispépticos inespecíficos: náuseas, vômitos, sensação de plenitude prolongada • Perda ponderal considerável Tomografia axial mostrando uma vesícula em porcelana 9 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii • Icterícia obstrutiva progressiva e importante • Massa palpável no HD: se o tumor for volumoso ou o paciente for magro. Se for palpável é grande a ponto de ser paliativo, ou o paciente é muito magro, ou as duas coisas. → Diagnóstico: • US de abdome: pólipos >1cm (pode ser um fator de risco ou o próprio tumor), lesão heterogênea ou tumoral na vesícula, vesícula em porcelana (aumenta o risco ou o paciente já pode ter a própria ter a neoplasia). − Em qualquer um desses 3 achados deve fazer: TC de abdome para estadiamento (melhor avaliação locorregional da lesão) !!! A partir da tomografia faz a programação cirúrgica, se este possuir indicação. • Se a tomografia mostrar neoplasia: cirurgia paliativa em lesões disseminadas, e cirurgia curativa ou preventiva em lesões localizadas. → Tratamento com fins curativos: • Tomografia não mostra disseminação a distância • Depende do estadiamento 1. Neoplasia não invasiva (in situ – restrita à mucosa) Colecistectomia simples (sem linfadenectomia ou quimioterapia) 2. Neoplasia invasiva (já invadiu a submucosa – risco de disseminação) Colecistectomia estendida + ressecção em cunha do leito hepático + linfadenectomia regional ATENÇÃO Como saber se a neoplasia é invasiva ou não? Biópsia por congelação (remove a vesícula manda para o patologista e espera o laudo, se for invasivo continua a cirurgia). A radioterapia e a quimioterapia não são indicadas pois não há resposta nesse tumor. → Tratamento com fins paliativos: • TC mostrou sinais de disseminação a distâncias • Depende da ressecabilidade (se invadiu ou não estruturas nobres ou se aderiu a planos profundos) 1. Vesícula ressecável: colecistectomia simples (diminui dor, chances de perfuração, sangramento...) 2. Não ressecável: • Com icterícia: derivação bileo-digestiva (para drenar a bile e melhorar a icterícia) • Sem icterícia: cuidados gerais COLANGIOCARCINOMA → Neoplasia das vias biliares intra e extra- hepáticas principais • Tumores raros e em sua maioria adenocarcinomas → Pevalência: idade predominante entre 50-70 anos, com discreto predomínio no sexo masculino. → Topografia • Intra-hepático: ductos hepáticos D e E dentro do fígado. É tratado como um tumor hepático (é um tumor hepático de via biliar) • Peri-hilar: no ducto hepático D e E fora do fígado, na confluência entre os ductos hepáticos direito e esquerdo e hepático comum proximal. Quando acomete a confluência dos hepáticos chama de Tumor de Klatskin (mais frequente dos colangiocarcinomas) • Pós-hepático: hepático comum distal e restante da via biliar principal. !!! Sinal de Courvosier: vesícula palpável túrgida indolor, no paciente ictérico. • Você palpa a vesícula túrgida e cheia de bile, que não está esvaziando por uma obstrução na drenagem da bile abaixo da vesícula (pós- hepático), e geralmente por obstrução neoplásica, pois a neoplasia tem capacidade de obstruir a via biliar de forma importante (CA de cabeça de pâncreas, via biliar distal, papila duodenal). • O colangiocarcinoma pós-hepático pode evoluir com Sinal de Courvosier → Fatores de risco: • Colangite esclerosante primária: doença autoimune que leva a inflamações e estenose da via biliar. • Cistos de colédoco: alteração congênita • Litíase intra-hepática: cálculos dentro do fígado (os cálculos fora do fígado, coledocolitíase, não são fatores de risco) • Hepatite B e C • Retocoliteulcerativa idiopática: doença autoimune que acomete o reto e os cólons !!! Se a retocolite vier associada a colangite esclerosante aumenta ainda mais o fator de risco → Quadro clínico: • Icterícia • Colúria • Hipocolia ou acolia fecal !!! Síndrome ictérica obstrutiva !!! Icterícia progressiva, importante (> 4+), BB > 10, associada a consumpção • Pode apresentar Sinal de Courvosier: colangiocarcinoma distal (pós-hepático abaixo da vesícula) 10 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii → Exames laboratoriais: • Hemograma: tendência a anemia de doença crônica, podendo apresentar uma leucocitose (colangite pode aparecer) • BB total e frações: BD > 10 • Fal e GGT • AST e ALT • Amilase → Exame de imagem: • US abdominal: avaliar vesícula e fígado − O US não é bom para avaliar a via biliar, mas é bom para avaliar víscera maciça (fígado e vesícula), podendo observar massa no fígado (colangiocarcinoma intra- hepático) e, ainda, descartar a neoplasia. − Avalia dilatação da via biliar: pode sugerir a topografia do colangiocarcinoma. Dilatação intra e extra hepática peri-hilar: Tumor de Klatskin Dilatação intra e extra hepática distal Dilatação intra-hepática • Tomografia de abdome: detecção de lesões intra- hepáticas • CPRM ou CPRE (na ausência da colangioressonância): detecções de lesões extra- hepaticas !!! Se o US mostra uma lesão dentro do fígado, solicita TC ou RNM de abdome (se não puder usar contraste), se mostrou que é fora, CPRM ou CPRE (tanto para Klatskin quanto para os outros distais) → Próximo passo: estadiamento (avaliar tórax, abdome e pelve) • TC de tórax, abdome e pelve → Tratamento com fins curativos: • É sempre cirúrgico e depende da topografia 1. Intra-hepático Hepatectomia no segmento tumoral + linfadenectomia peri-hepática 2. Peri-hilar Ressecar via biliar + anastomose hepato-jejunal em Y de roux + linfadenectomia hilar • Nesses casos se resseca a via biliar (a porção doente), e refaz a construção em Y de Roux (acha o Treitz conta de 30 a 40 cm, reconstrói a ponta proximal na via biliar que sobrou, e conta 40-50 cm e reconstrói a ponta distal no jejuno), faz a anastomose hepático-jejunal e jejuno-jejunal com uma linfadenectomia hilar da região. • Caso o tumor seja mais alto, tem que anastomosar o hepático direito e hepático esquerdo no jejuno. A ampola de Vater fica preservada(o colédoco distal e o ducto pancreático estão normais, não foram retirados). 3. Distal (pós-hepático) Gastroduodenopancreatectomia + linfadenectomia regional (cirurgia de Whipple): resseca antro, todo o duodeno, cabeça do pâncreas e a via biliar principal. • Anastomose hepato-jejunal com os ductos hepáticos, pancreato-jejunal com o corpo do pâncreas, e gastro-jejunal com o corpo do estômago (Não é Y de Roux) • Pode ser uma duodenopancreatectomia: não remove o antro, e a anastomose é pós-pilórica (Cirurgia de Watson) + linfadenectomia !!! A Whipple pode dar dumping, gastrite alcalina. A Watson não da dupping nem gastrite alcalina, pois preserva o piloro, porém é mais complicada. Cirurgia de Watson Cirurgia de Whipple 11 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii !!! Whipple e Watson necessitam de boas condições clínicas → Tratamento com fins paliativos: • Derivações bileo-digestivas: aliviar a icterícia • Quimioterapia • Hoje há uma opção melhor, menos agressiva, menos invasiva, mas nem sempre disponível: próteses para recanalizar o tumor via endoscópica (feitas pelo CPRE) !!! No paliativo se realiza uma derivação bileo-digestiva visando somente a passagem da bile, não se resseca o tumor. Em uma das possibilidades, pega o jejuno e o leva acima da via biliar, acima do tumor, e anastomosa, assim a bile passa em uma área fora da tumoral. NEOPLASIAS PERIAMPULARES → São neoplasias que obstruem a ampola de Vater (por exemplo, o colangiocarcinoma distal) → O termo periampular é um diagnostico topográfico → Subtipos • Neoplasia de cabeça de pâncreas (60%) • Colangiocarcinoma distal (20%) • Neoplasia de papila duodenal (20%) → Tipo histológico mais comum: adenocarcinoma !!! Mais frequente em homens, geralmente acima de 50 anos → Quadro clínico • Síndrome ictérica obstrutiva: icterícia obstrutiva progressiva, colúria, hipocolia ou acolia fecal, perda ponderal significativa, sangramento digestivo alto (quando o tumor é de papila, pode refluir o conteúdo necrótico para o duodeno e estômago e gerar hematêmese por necrose da papila, e sinal de Courvosier quando o tumor é distal) →Diagnóstico laboratorial: • Hemograma • BB e frações • FAL e GGT • Transaminases • Amilase e/ou lipase → Diagnóstico de imagem: • US de abdome: dilatação de vias biliares intra e extra-hepática até a região distal (geralmente sem cálculo na vesícula) • CPRE ou CPRM: sinal de obstrução • TC e RNM: se a suspeita que o tumor seja de pâncreas, não é visível pelo US, e na tomografia ou ressonância é visível (cabeça de pâncreas) !!! A CPRM sugere que a obstrução é no nível da cabeça do pâncreas !!! A tomografia e RNM não identificam lesões pequenas, então usa-se o US endoscópico • US endoscópico: aparelho de endoscopia com US na ponta. Excelente sensibilidade e especificidade, encostando o US na parede estomacal onde faz contato com o pâncreas, local onde não há interposição gasosa e é possível visualizar a lesão. • EDA: quando a suspeita é de tumor papilar, a EDA permite a visualização e a retirada de fragmentos para biópsia. • Laparoscopia diagnóstica: quando não é encontrado nada nos outros exames, faz a laparoscopia diagnóstica. → Ou seja • Observa dilatação das vias biliares intra e extra- hepáticas que sugere neoplasias periampulares: faz CPRM. − Se a CPRM sugere uma neoplasia de pâncreas: faz TC ou RNM de abdome − Se a CPRM sugere neoplasia de papila de Vater: faz EDA • Dilatação das vias biliares intra e extra-hepáticas proximais que sugere um colangiocarcinoma peri- hilar: faz CPRM e observa um padrão de obstrução peri-hilar • Dilatação das vias biliares intra-hepáticas que sugere neoplasia hepática: faz TC ou RNM de abdome para observar a formação e massa dentro do fígado. 12 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii • Em lesões pequenas de cabeça de pâncreas, não observadas pela TC ou RNM: pede um US endoscópido. • Quando não consegue observar nada em nenhum exame anterior, mas ainda suspeita de neoplasia: laparoscopia diagnóstica → Tratamento: igual ao dos colangiocarcinomas distais • Curtativo: cirurgia de Whipple ou Watson + linfadenectomia • Paliativo: derivação bile-digestiva, quimioterapia ou próteses. → Anatomia e fisiologia pancreática • O pâncreas é um órgão retroperitoneal originado do intestino anterior, ou seja, a dor visceral predomina no andar superior. Diferentemente do estomago e da via biliar, é um órgão retroperitoneal, todo recoberto por peritônio, e esse fato dificulta sua avaliação por alguns exames, como o US (há interposição gasosa das vísceras anteriores, e dificulta sua avaliação). • Outra característica é que a dor parietal não é tão evidente, devido a sua topografia retroperitoneal (sua peritonite não é tão importante). • A cabeça do pâncreas tem intima relação com o duodeno e com a via biliar principal. O corpo e a cauda são independentes. • A irrigação arterial vem do tronco celíaco, e há ramos da mesentérica superior que comunicam com o tronco celíaco. • A drenagem é para a veia porta, de forma com que os tumores do pâncreas podem se disseminar de via hematogênica para o fígado. • O pâncreas é uma glândula mista, com uma porção endócrina e uma exócrina (produtora de enzimas digestivas) • A parte exócrina é drenada pelo ducto pancreático principal (Ducto de Virsung), que se funde com o colédoco e drena a secreção para a Ampola de Vater, onde existe o esfíncter de Oddi que impede o refluxo da secreção e controla sua saída. → Secretagogos pancreáticos: • Acetilcolina: fase cefálica • Gastrina: fase gástrica • Secretina: fase intestinal • CCK: fase intestinal → Enzimas pancreáticas: • Amilase • Lipase • Tripsina • Outras !!! Os secretagogos controlam a secreção das enzimas pancreáticas. pancreatite aguda → Processo inflamatório agudo (abdome agudo) secundário a um processo de autodigestão pancreático (o pâncreas se auto digere) !!! É uma patologia antiga, do século passado, e é discutida em vários simpósios internacionais. O simpósio de Atlanta de 1992 se definiu bem as bases fisiopatológicas, investigações e terapêuticas da pancreatite aguda. → Evento inicial: a principal causa da pancreatite é a coledocolitíase, e a segunda principal causa é o etilismo. • O evento inicial estimula a catepsina B a estimular o tripsinogênio a ativar e virar tripsina dentro do pâncreas, que estimula a liberação adicional de enzimas pancreáticas (+tripsina, fosfolipase, quimiotripsina, elastase), e isso leva a autodigestão pancreática. • Além disso a tripsina estima a liberação de citocinas inflamatórias e fatores de coagulação, que gera lesões microcirculatórias. !!! Tudo ocorre pela ativação precoce do tripsinogênio em tripsina dentro do pâncreas → Etiologia: • Litíase biliar (principal) • Etilismo (a litíase e o etilismo formam 80% das causas) • Hipertrigliceridemia • Infecções virais (exemplo a hepatite B) • Trauma • Isquemia prolongada • CPRE • Fármacos • Tumores periampulares • Outros 13 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii !!! Quando não é por cálculo nem por etilismo, normalmente é difícil identificar a causa O ducto pancreático é muito sensível, e a obstrução da sua drenagem causa um aumento da pressão em seu interior (hiperpressão ductal), que ativa o tripsinogênio em tripsina. A simples passagem do cálculo pela via biliar principal gera um edema, que gera hiperpressão ductal (não é necessário ter o cálculo na via) O etilismo tem dupla via de ação, que podem se somar: o álcool é tóxico ao pâncreas, que ativa tripsinogênio em tripsina, além de poder gerar um espasmo reflexo do esfíncter de Oddi, que aumenta a pressão do ducto pancreático (hiperpressão ductal secundária a um espasmo do esfíncter). → Classificação de Atlanta modificada: 1. Pancreatiteaguda leve ou edematosa: alteração principal é o edema pancreático (é a mais frequente - 80-90% dos casos). • Não há necrose significativa, com curso autolimitado em até 5-7 dias, com baixa mortalidade (<2%), sem nenhuma sequela visceral, sem necessidade de cirurgia. 2. Pancreatite aguda necrosante: há necrose pancreática com repercussão sistêmica variável. • 10-20% dos casos • Evolução prolongada (pode ficar meses recuperando) e mortalidade alta (>40%). - Necrosante pode ser classificada em moderada ou grave: • Moderada: com necrose, mas sem falência orgânica (IR, insuficiência respiratória, choque, hemorragia digestiva), ou apresenta falência transitória (com recuperação em <48h) • Grave: falência orgânica (>48h) por disfunções sistêmicas. → Quadro clínico: • Dor abdominal contínua em andar superior do abdome (parietal), em faixa, podendo irradiar para o dorso (clássica). − Geralmente >6h de duração, que leva o paciente ao PA: síndrome do abdome agudo inflamatório em topografia de andar superior, porém a peritonite não é muito evidente. • Pode apresentar também náuseas e vômitos: o processo inflamatório pode gerar um íleo paralítico importante do ID em volta do pâncreas, e essa paralisação funciona como uma obstrução e o conteúdo volta, levando a vômitos incoercíveis em grande quantidade e número !!! Às vezes os vômitos são mais importantes que a dor. • Manifestações de um quadro sistêmico inflamatório: febre, adinamia, taquicardia (no máximo por 7 a 10 dias) • Icterícia: o próprio cálculo que gerou a pancreatite pode dar origem a essa ictérica (compressão intrínseca). Outra origem pode ser o pâncreas inflamado, edemacia e comprime a via biliar principal (compressão extrínseca). • Sinais de peritonite em andar superior do abdome: quadro de abdome agudo inflamatório, com ruídos hidroaéreos diminuídos, palpação superficial, profunda e percussão dolorosas. A peritonite pode não ser tão evidente, pois o pâncreas é um órgão retroperitoneal. • Casos moderados ou graves: choque hipovolêmico ou séptico, insuficiência respiratória (pode ser necessário intubar), IR (pode necessitar hemodiálise), hemorragia digestiva, rebaixamento neurológico. → Exame físico: • Sinal de Gray Turner: equimose em flancos, como sinal de sangramento retroperitoneal • Sinal de Cullen: equimose periumbilical • Retinopatia de Purtscher: lesões algodonosas na retina, visiveis à oftalmoscopia devido a alterações microcirculatórias ao fundo de olho (mais comum nas formas graves e moderadas) • Paniculite: pústulas com periferia eritematosa que acometem mais membros secundárias a lesões microcirculatorias. !!! Todos os sinais são comuns nas formas moderadas e graves !!! Diagnóstico no Pronto Socorro → Diagnóstico: • Quadro clínico de abdome agudo inflamatório em topografia em andar superior • Exames laboratoriais específicos de abdome agudo: − Hemograma − PCR ou VHS − Amilase e/ou lipase − Rotina de urina − BhCG em mulheres em idade fértil (diferencial) • Exames de imagem: radiografia de abdome em 2 incidências (ortostático e decúbito dorsal) e tórax !!! A amilase e lipase são os marcadores relevantes: elevação da amilase ou lipase em pelo menos 3x seu valor de referência (3-5x o VR) !!! Uma úlcera perfurada, isquemia intestinal, caxumba, parotidite podem elevar amilase, mas com aumento não tão importante da amilase. - Deve haver ao menor 2 dos 3 critérios positivos: 14 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii • Quadro clínico • Elevação acima de 3X do valor referência de amilase e/ou lipase • Exame de imagem que comprove (sendo os melhores TC ou RNM de abdômen). ATENÇÃO Amilase é mais barata e disponível, porém menos específica (normaliza em 48h). A lipase é mais específica, mais difícil de dosar e nem sempre disponível (pode durar até semanas elevada – mais específica e douradoura) No hemograma pode ter leucocitose com desvio a esquerda, e o PCR ou VHS mostra inflamação. A radiografia pode sugerir a doença, e excluir outras causas. O mais importante á a amilase e a lipase e, em dúvidas no exame de sangue ou suspeita de uma pancreatite moderada ou grave, pede os outros exames de imagem: → Exames de imagem complementares: • TC de abdome (melhor) • RNM de abdome (mesma especificidade da tomografia, mas não usa contraste) • US de abdome: não é usado devido a interposição gasosa !!! Quadro clínico típico + rotina de abdome agudo + exame de imagem radiográfico = fecha diagnóstico !!! As radiografias podem não fechar o diagnóstico, mas podem excluir outros diagnósticos, como pneumoperitônios. → Radiografia de tórax ou abdome: • Derrame pleural ou atelectasia: secundário a pancreatite. A inflamação pancreática por contiguidade pode levar a uma transudação com derrame pleural, exsudação ou até mesmo atelectasias, principalmente no lado esquerdo. Isso não significa grau de gravidade • Sinal do íleo paralítico: distensão gasosa com nível hidroaéreo, fica na região pancreática, mais próximo do local da inflamação. O nível hidroaéreo é presente em radiografias ortostáticas e é o achado mais frequente na pancreatite. (É o mais presente em casos de abdome agudo, mas sua localização é variável, depende do que foi acometido). • Sinal do cólon cutt off: distensão do cólon transverso com início e fim bem marcados (distensão gasosa) • Calcificação pancreática: comum na pancreatite crônica, pelo processo cicatricial • Cálculos radiopacos (colelitíase): cálculos de bilirrubinato de cálcio que podem sugerir uma pancreatite secundária a uma colelitíase Derrame pleural à esquerda secundário a inflamação pancreática Sinal do íleo adinâmico: nível hidroaéreo (em topografias ortostáticas) e distensões de alças gasosas Sinal do cólon cutt off Calciificação pancreática Cálculos radiopacos em vesícula !!! O sinal do íleo adinâmico é o mais frequente deles → US de abdome • Baixa sensibilidade pancreática (interposição gasosa) • Diagnóstico de colelitíase: o US, na pancreatite é usado para definir a etiologia pancreatite. Como a principal causa são os cálculos da vesícula que migram para o colédoco, o US é o diagnóstico para observar a vesícula, portanto é o 1º exame a se pedir. → Tomografia de abdome • Melhor exame para avaliar o pâncreas, avalia adequadamente o grau do acometimento, avalia se o pâncreas está edematoso, com necrose, o grau da necrose... • Bem indicado na forma grave e moderada (por avaliar a necrose) • Faz avaliação de complicações !!! Sempre é indicada na dúvida diagnóstica e na forma suspeita moderada ou grave (necrosante) !!! Quando não pedir TC: quando o diagnóstico foi feito pelo quadro clínico e exames laboratoriais e na suspeita da forma leve. - Ou seja: • Quadro clínico de abdome agudo inflamatório em andar superior: se o quadro clínico for incerto, e os exames de rotina também, pedir US e TC ou RNM. Ainda, se o quadro sugerir acometimento sistêmico, deve pedir TC ou RNM. • Exames de rotina de abdome agudo (laboratorial + radiografia de abdome em 2 incidências e de tórax): a radiografia pode excluir ou sugerir a pancreatite • US: pedir sempre para confirmar etiologia de cálculo na vesícula • TC ou RNM: pedir se houver inconclusão com os exames anteriores (quadro atípico ou amilase e 15 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii lipase não elevaram suficientemente) ou suspeita de pancreatite moderada ou grave. → Ressonância magnética de abdome: • Equivalente a tomografia • Pedir em pacientes com hipersensibilidade ao contraste, insuficiência renal, gestantes. • CPRM: usada quando há suspeita de cálculos impactados no colédoco, que impedem a melhora do paciente. → Pancreatite edematosa X necrosante • Edematosa (leve): quadros clínicos típicos ou atípicos transitórios • Necrosante (moderada e grave):quando há quadros sistêmicos associados temporárias ou persistentes, suspeita de pancreatite necrosante (complicações como choque, rebaixamento de consciência, insuficiência respiratória, IR...). Há indicação de tomografia - Escore de Renson: critérios utilizados na admissão do paciente e nas primeiras 48h, com 1 ponto para cada alteração (11 pontos no total). • Com 3 ou mais pontos é suspeito da forma necrosante e pede TC. ADMISSÃO HOSPITALAR DURANTE AS 48H INCIAIS Idade > 55 anos Queda do Ht > 10% Leucocitose > 16.000/mm3 ↑ ureia > 10mg/dl Glicemia > 200 mg/dl Calcemia < 8mg/dl DHL > 350 U/l PO2 < 60 mmHg TGO > 250 U/l BE < -4 Sequestro hídrico > 6000ml - Escore de Apache II: 8 ou mais critérios sugerem pancreatite necrosante • Pode ser avaliada a qualquer momento, melhor correlação prognóstica, porém mais complexa e mais usada - Ou seja: • Disfunção orgânica • Escore de Ranson 3 pontos ou mais • Apache II 8 pontos ou mais • Outras complicações - Classificação de Balthazar: GRAU MORFOLOGIA EVOLUÇÃO A Normal Excelente B Aumento difuso ou focal Excelente C Inflamação peripancreática Raramente fatal D Coleção líquida única Mortalidade >15% E Coleção líquida múltipla Mortalidade >15¨% • Pancreatite leve (Balthazar): A, B, C • Pancreatite moderada ou grave (Balthazar): D e E • Hoje em dia essa tabela ajuda no prognóstico, mas não classifica. Balthazar não avalia o % de necrose, então hoje se usa mais o IGET - IGET (índice de gravidade e estadiamento tomográfico) • Usa a classificação de Balthazar como um escore + escore da necrose (observada na tomografia) • O IGET dá uma ideia de morbimortalidade, e pode ser observado que a necrose é um fator mais importante pois pontua mais no escore. → Tratamento clínico: 1. Forma edematosa ou leve: • Repouso glandular: o pâncreas precisa ficar em repouso para que seja menos estimulado e evite a sua autodigestão, então o paciente deve ficar em jejum por 24-48h (a secreção pancreática se baseia nas fases cefálica, gástrica e intestinal da digestão). − Se após esse tempo houver melhora, é necessário liberar dieta, seja ela oral (em quadros clínicos melhores), parenteral ou EV (piores quadros clínicos) • Hidratação vigorosa EV: repor de 4-6l nas primeiras 24h, pois a perda hídrica é importante. É necessário avaliar sempre o paciente para verificar melhora. • Analgesia: aliviar a dor • Antieméticos: melhora dos vômitos incoercíveis − Em pacientes refratários ao uso desses medicamentos, pode se passar uma sonda nasogástrica para drenar o conteúdo gástrico e evitar a distensão estomacal pelo alimento, reduzindo a estimulação do vômito. • Gastroproteção: a hipovolemia aumenta o risco de úlcera, então se prescreve um IBP (preferencialmente) ou anti-H2 para evitar úlcera de estresse. Pede TC ou RNM 16 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii • Reposição eletrolítica: deve se fazer exames de rotina para verificar eletrólitos, Na+, K+, pois a perda eletrolítica piora o quadro do íleo paralítico !!! Normalmente há reposição plena em 7 dias 2. Forma moderada ou grave: • Medidas da forma leve: porém o jejum é de 48h (não menos), a hidratação é ainda mais abundante. • Suporte nutricional mais precoce: necessita de uma dieta EV ou parenteral, necessitando de um profissional qualificado para repor calorias, proteínas... • Antibioticoterapia: casos selecionados • Drogas vasopressoras: se o paciente evoluir com choque séptico necessita de noradrenalina, se for choque cardiogênico necessita de dobutamina. • Suporte ventilatório: pode haver rebaixamento neurológico com dificuldade respiratória • Diálise: se houver insuficiência renal, é necessária a diálise • Seguimento em unidade de terapia intensiva: os cuidados devem ser feitos na UTI. → Conduta nas complicações: - Coleções peripancreáticas agudas: • Aparecimento após as 48h do inicio dos sintomas • Geralmente as coleções são reabsorvidas em 1 a 2 semanas !!! Essas coleções são líquidos inflamatórios ao redor do pâncreas, é mais um achado do que uma complicação propriamente dita. Apesar de ser mais frequente nas formas moderadas e grave, podem estar presentes na forma leve. Não necessita de intervenção médica. - Pseudocisto pancreático: • Coleção intra ou peripancreática, não revestida por epitélio pancreático • Presente de 4 a 6 semanas após o início dos sintomas • Na inflamação pancreática, há risco de perfuração, então as estruturas adjacentes migram para tentar bloquear a possível perfuração (omento, estômago, duodeno...), formando um plastrão. Se houver perfuração, forma-se um espaço pseudocístico, revestido pelas estruturas que migraram e com o interior da secreção pancreática extravasada. Isso leva de 4 a 6 semanas pós inicio dos sintomas, pois é o tempo que leva para a maturação e migração das vísceras. 1. Pseudocisto assintomático: seguimento clínico, apenas acompanha (há chances de ser reabsorvido) 2. Pseudocisto sintomático: sintomas compressivos ou rotura. Recomenda-se tratamento cirúrgico ou endoscópico - drenagem externa (punção guiada por USG ou TC) 1ª indicação cirurgia: pseudocisto sintomático • Cistogastrostomia – em pseudocistos pancreáticos retrogástricos − A parede posterior do estomago é a parede anterior do cisto. Então se realiza uma comunicação do cisto com o estomago. − Pode ser realizado por cirurgia e por endoscopia (uma pinça fura e se coloca uma prótese que promove essa drenagem). − Pode também ser feito por cirurgia, porém é mais traumática, sendo deixada na impossibilidade ou impossibilidade da forma endoscópica. − Ou seja, cistogastrostomia endoscópica ou cirúrgica. • Cistoduodenostomia – em pseudocistos pancreáticos paraduodenais − Os cistos estão ao lado do duodeno − Pode ser feito por endoscopia (preferencialmente) ou cirúrgica • Cistojejunostomia – pseudocistos pancreáticos − Na impossibilidade de drenagem para o estômago ou para o duodeno, como pseudocistos localizados no mesentério do IG, faz drenagem pro jejuno em Y de Roux − Secciona 30-40cm do Treitz, anastomosa a boca proximal no cisto, após anastomosa 40-50cm abaixo, com reconstrução jejuno- jejunal com a boca distal. 17 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii − Sempre cirúrgica (não pode fazer endoscópica) - Necrose pancreática • Renson 3 pontos ou mais; Apache II 8 pontos ou mais; disfunção sistêmica; TC ou RNM mostrando necrose; IGET avaliando grau da necrose. • Se há necrose é moderada ou grave • Conduta: se a evolução clínica e tomografia mostrar sinais de infecção, é necessário desbridar a necrose e iniciar com antibioticoterapia. − Evolução clínica: são pacientes que apresentam manifestações sistêmicas infecciosas persistentes por + de 10-14 dias. • Se a TC mostrar gás no pâncreas, em permeio à necrose, significa que há infecção por anaeróbicos, então é necessário um antibiótico que atinja esses microrganismos. • Os antibióticos mais usados são os carbapenêmicos (imipenem – melhor penetração pancreática) !!! Ou seja, se há sinais sistêmicos de infecção e/ou presença de gases na tomografia, entra com antibiótico e debrida necrose. • Se a tomografia mostrar que a necrose for asséptica, faz acompanhamento (não faz mais antibiótico profilático) • Em casos selecionados, onde suspeita-se que a febre pode ser de outras causas (mais de um foco de infecção, como pessoas com pancreatite e pneumonia), pode se fazer uma punção guiada por USG ou TC, onde se aspira o líquido e faz bacterioscopia, cultura e antibiograma. Se a bacterioscopia mostrar que está infectada, faz necrosectomia e antibioticoterapia (o antibiograma ajuda a selecionar o melhor antibiótico). Se for asséptica faz acompanhamento. IMPORTANTE: Por mais que o desbridamento seja mais realizado na pancreatite aguda, é na crônica que existe mais insuficiênciapancreática. Isso se deve ao fato de que, na pancreatite cônica existe uma perda da funcionalidade do pâncreas devido a fibrose, já na aguda perdeu-se uma parte do pâncreas, mas o restante ainda é funcional, não tem fibrose, raramente esse paciente terá insuficiência. !!! Existem situações em que o edema pancreático é tão grande que não se consegue fechar a parede abdominal do paciente, impossibilitando se aproximar as aponeuroses musculares. Então se realiza um procedimento em que se fixa um plástico esterilizado próprio dos dois lados chamado peritoneostomia (paciente fica com a pele e o subcutâneo aberto, somente o peritônio suturado nesse plástico, a barriga está parcialmente aberta). Assim se protege as vísceras. Após que o edema regredir e melhorar, fecha-se a barriga. É conhecida como técnica de Bogotá 2ª indicação cirúrgica: necrose pancreática infectada 1ª indicação de antibiótico - Abscesso pancreático • Deve-se drenar o abscesso, por punção guiada por US ou TC (melhor) ou drenagem laparoscópica (na impossibilidade de puncionar) • Associa-se à antibioticoterapia 3ª indicação cirúrgica: abscesso pancreático 2ª indicação de antibiótico - Pancreatite aguda biliar (quando os cálculos da vesícula causaram a doença) • Colecistectomia semi-eletiva laparoscópicas após melhora clínica da pancreatite na forma biliar • Por laparoscopia é preferencial, mas pode ser feito por laparotomia na impossibilidade de fazer na videolaparoscopia 4ª indicação cirúrgica: colecistectomia na pancreatite biliar (após melhora clínica) PANCREATITE CRÔNICA → Doença crônica inflamatória que apresenta fibrose progressiva e irreversível do pâncreas (todo tratamento é com o intuito de lentificar a fibrose) → A fibrose possui um caráter heterogêneo: tanto na porção endócrina quanto na exócrina, porém a lesão exócrina predomina. • Pode haver insuficiência pancreática nas fases mais avançadas, principalmente exócrina. → Etiologia: • Alcóolica: principal causa, por uso crônico e em doses relativamente altas de álcool • Idiopática: sem causa muito bem definida, mas pacientes jovens com hipersensibilidade ao etanol • Autoimune: relacionada a doenças autoimunes • Tropical: rara, acomete países mais pobres, acomete crianças, relacionada a desnutrição • Obstrutiva: mais raro • Outras menos comum ATENÇÃO Na pancreatite aguda, uma única libação alcóolica pode levar a pancreatite, já a crônica está mais relacionada ao alcoolismo crônico, mas há as causas idiopáticas, com pacientes jovens com hipersensibilidade ao álcool, que bebem relativamente pouco e adquirem a pancreatite crônica. → Quadro clínico: • Dor abdominal em andar superior, crônica e recorrente (não é abdome agudo): dor de longa data, recorrente, com relação a ingesta alcóolica. A 18 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii dor é desproporcional/intensa ao exame físico (pobre) !!! O paciente pode ser viciado em morfina • Náuseas e vômitos: relacionadas a dor • Emagrecimento, desnutrição e fácies de alcoolismo • Esteatorreia: insuficiência exócrina • Diabetes Mellitus: insuficiência endócrina • Exame físico pobre: sem sinais de peritonite, sem alterações, podendo gerar dúvidas !!! Pode ser acompanhada de cirrose, e os achados da cirrose podem sobrepor os achados da pancreatite crônica, com estigmas de cirrose hepática → Diagnóstico: • Quadro clínico: história de etilismo crônico que procura ajuda com quadro de dor abdominal intensa, crônica e recorrente • Exames de imagem: − Radiografia de abdome − USG de abdome − TC de abdome (melhor) − RNM de abdome (sem contraste) − USG endoscópico !!! Normalmente faz o diagnóstico pelo quadro clínico e exames de imagem • Exames laboratoriais: − Amilase e/ou lipase (normalmente estão normais) − Teste de função pancreática. !!! Os exames laboratoriais são inespecíficos, são mais usados em acompanhamento, para avaliação da função da insuficiência pancreática do que no diagnóstico. → Exames de imagem: - Radiografia • Quadro clínico típico + exame físico pobre + calcificação pancreática na radiografia = pancreatite crônica • Define o diagnóstico, mas para melhor avaliar o pâncreas pode pedir a TC - USG de abdome • Não é ideal para observar o pâncreas • Ducto dilatado e irregular: na pancreatite crônica, o pâncreas fibrosa, calcifica e atrofia, e essa atrofia obstrui o ducto pancreático, além de a fibrose poder levar a uma estenose do ducto, que tende a dilatar proximal a obstrução, então o achado clássico da pancreatite crônica é o ducto dilatado e irregular • O achado de um ducto dilatado e irregular diagnostica a pancreatite crônica - TC de abdome • Pâncreas fibrótico, calcificado, irregular, atrófico • Pode observar o ducto pancreático dilatado, com pâncreas com perda de sua arquitetura normal. • Há 2 variações da pancreatite crônica que pode ser observada: − Atrofia e calcificação sem dilatação − Atrofia com dilatação do ducto, mostrando que há obstrução abaixo da dilatação - RNM das vias biliares (CPRM) • Indicada para avaliar o ducto pancreático, se há dilatação, estenose ou irregularidade !!! Se a radiografia ou a tomografia não definirem o diagnóstico, pedem a CPRM para avaliar o ducto - US endoscópico • Observa o pâncreas pelo duodeno, evitando a interposição gasosa que limita o US da parede abdominal, avalia dilatação e irregularidade do ducto, avalia o parênquima pancreático, atrofia e calcificação, coleções peripancreáticas e permite a realização de biópsias (caso haja dúvida em exames que sugiram tumorações). - Laparoscopia ou laparotomia • Último recurso, para dúvidas diagnósticas, realização de biópsias e caso seja necessário cirurgia, pode ser realizada após o procedimento. → Tratamento clínico • Dor abdominal: − Abstinência alcóolica − Baixa ingesta lipídica (diminui a estimulação pancreática) − Fracionamento de refeições − Suplementos enzimáticos para ajudar na digestão de alimentos gordurosos − Uso escalonado de analgésicos (deixar morfina como último recurso, pois a dor é crônica) • Insuficiência endócrina: − Insulinoterapia • Esteatorreia (insuficiência exócrina): − Fracionamento das refeições − Abstinência alcoólica − Enzimas pancreáticas pós-refeições → Tratamento cirúrgico: 1. Dor abdominal intratável clinicamente 2. Pseudocisto pancreático sintomático 3. Icterícia obstrutiva pela fibrose da pancreatite crônica 4. Impossibilidade de distinção de neoplasia Calcificações pancreática Ducto pancreático dilatado 19 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii Dor abdominal intratável clinicamente - Se na TC ou na CPRM mostra que o ducto está dilatado: • Pancreatojejunostomia em Y de Roux (cirurgia de Puestow): secciona o pâncreas e o ducto pancrático e anastomosa o jejuno em Y de Roux com o ducto, para o alívio da secreção pancreática. O ducto precisa estar dilatado para que a anastomose ocorra. − secciona a 30-40cm do Treitz, anastomosa a boca proximal no ducto pancreático, em uma anastomose pancreatojejunal latero-lateral, com reconstrução da boca distal jejunojejunal a 40-50cm da nova anastomose. - Sem dilatação ductal significativa: • Se a pancreatite for de cabeça de Pâncreas: cirurgia de Whipple − Anastomose hepato- jejunal com os ductos hepáticos, pancreato-jejunal com o corpo do pâncreas, e gastro-jejunal com o corpo do estômago (Não é Y de Roux). − Remoção em bloco do antro, duodeno, cabeça do pâncreas e via biliar principal. • Se a pancreatite for de corpo e cauda: pancreatectomia distal (parcial) − Caso a pancreatite esteja no corpo, faz a remoção do corpo e cauda, porém caso esteja na cauda, resseca a cauda apenas. − O baço é removido junto Pseudocistos pancreáticos sintomáticos • O tratamento cirúrgico é igual na pancreatite aguda, normalmente drenando endoscopicamenteo conteúdo para dentro da víscera que faz parede com o pseudocisto (estômago ou duodeno), ou com uma cirurgia na impossibilidade da endoscopia. • Cistogastrostomia, cistoduodenostomia, cistojejunostimia Icterícia obstrutiva de causa pancreática • Derivação bileo-digestiva acima da obstrução: derivação colédoco-jejunal em Y de Roux Impossibilidade de distinção de neoplasias • Laparotomia ou laparoscopia com biópsias 1. Qual a composição da bile? _______________________ 2. Quais os fatores de risco da colelitíase? _____________ 3. Qual o exame padrão ouro da colelitíase e quais os achados? _____________________________________ 4. Quais as recomendações da colecistectomia em pacientes assintomáticos na colelitíase? ____________ 5. Quais as etiologias da colecistite? __________________ 6. Qual o diagnóstico sindrômico da coleciste, quadro clínico relevante e quais exames solicitar de acordo com esse diagnóstico? ______________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 7. Quais os achados no US da colecistite? _____________ 8. Qual o diagnóstico sindrômico da coledocolitíase e o quadro clínico? ________________________________ 9. Quais exames laboratoriais e de imagem pedir na coledocolitíase? _______________________________ 10. Quais os tratamentos cirúrgicos da coledocolitíase e suas indicações? _______________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 11. Quais os fatores de risco da neoplasia de vesícula biliar? ________________________________________________ ________________________________________________ 12. Qual o diagnóstico sindrômico da neoplasia de vesícula biliar e o quadro clínico? _________________________ 13. Quais são os tratamentos com fins curativos e paliativos na neoplasia de vesícula biliar? ____________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 14. Quais são os fatores de risco do colagiocarcionoma? ________________________________________________ ________________________________________________ 15. Quais são as topografias e como é a dilatação ductal vista em cada uma dessas topografias? _____________ ________________________________________________ ________________________________________________ 16. Qual o diagnóstico sindrômico do colangiocarcinoma? Quais os exames laboratoriais? Quais exames de imagem e pedir e em quais situações devem ser pedidos? _____________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 20 Gabriela Oliveira Franco - xxxviii ________________________________________________ ________________________________________________ 17. Quais os tratamentos com uns curativos e paliativos do colangiocarcinoma? ___________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 18. Quais exames de imagem solicitar nas neoplasias periampulares? _______________________________ ________________________________________________ 19. Como ocorre o evento inicial da pancreatite aguda? ________________________________________________ ________________________________________________ 20. Qual o diagnóstico sindrômico da pancreatite aguda e quadro clínico típico? Quais os achados importantes nos exames laboratoriais e de imagem? ________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 21. Quando é possível diagnosticar a pancreatite aguda? Quando suspeitar de uma pancreatite moderada ou grave e como é feito o diagnóstico? ________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 22. Qual o tratamento clínico da pancreatite aguda? ________________________________________________ ________________________________________________ 23. Quais as indicações cirúrgicas da pancreatite aguda? ________________________________________________ ________________________________________________ 24. Quais as indicações de antibioticoterapia da pancreatite aguda? _______________________________________ ________________________________________________ 25. Qual a etiologia da pancreatite crônica comum em jovens sem histórico de etilismo? __________________ ________________________________________________ 26. Quais os achados de imagem da pancreatite crônica? ________________________________________________ ________________________________________________ 27. Quais as indicações cirúrgicas da pancreatite crônica? ________________________________________________ ________________________________________________ 28. Na pancreatite crônica com indicação cirúrgica por dor intratável clinicamente, quais são as cirurgias que podem ser realizadas e suas indicações? ____________ ________________________________________________ ________________________________________________
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