Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária I UFRGS Bioquímica hormonal FUNÇÃO DOS HORMÔNIOS • Crescimento celular e tissular → somatotropina (GH), hormônios tireoidianos • Regulação do metabolismo → GH, glucagon, insulina, glicocorticoides, hormônios tireoidianos (T3, T4) • Regulação da frequência cardíaca e da pressão sanguínea → adrenalina • Equilíbrio hidroeletrolítico → aldosterona, vasopressina (ADH) • Eritropoiese → eritropoietina • Funcionalidade do trato gastrointestinal → secretina, colecistoquinina (CCK), gastrina • Lactação → prolactina, GH • Atividade do sistema reprodutivo → gonadotropinas, esteroides sexuais, prostaglandinas. CLASSIFICAÇÃO • Hipotálamo → GnRH, CRH, TRH • Hipófise → LH, FSH, GH, ACTH • Pâncreas → insulina, glucagon • Paratireoide → PTH • Tireoide → calcitonina • Trato gastrointestinal → secretina, CCK, gastrina • Placenta (órgão endócrino temporário) → somatomamotropina ESTERÓIDES • Hormônios derivados do colesterol • Córtex adrenal→ glicocorticoides, mineralocorticoides • Gónadas → progesterona, estradiol, testosterona • Placenta (órgão endócrino temporário) → progesterona AMINAS • Hormônios derivados da tirosina • Catecolaminas: produzidas na medula adrenal e em alguns neurônios → adrenalina • Iodotironinas: contêm iodo na sua estrutura; produzidas na tireoide (T3 e T4 ) EICOSANÓIDES • Hormônios derivados do ácido araquidônico (C20:4) • Prostaglandinas • Leucotrienos • Tromboxanos • Produzidos por muitos tecidos • Diferem dos hormônios clássicos: não tem órgão específico de produção, atuam em células vizinhas MECANISMO • Todos os hormônios atuam com receptores nas células-alvo • Todos os receptores são proteínas • Número de receptores varia conforme o tipo de célula • União hormônio-receptor é reversível (não covalente) • Receptores na membrana plasmática → hormônios que não atravessam a membrana e atuam mediante “segundos mensageiros”: proteínas, catecolaminas • Receptores intracelulares → hormônios que podem atravessar a membrana e atuam mediante regulação da transcrição (síntese de mRNA): esteroides, eicosanoides 2 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária I UFRGS TRANSTORNOS • Diabetes mellitus (falta de insulina) • Insulinoma (excesso de insulina) • Diabetes insípida (falta de ADH) • Hipoparatireoidismo (falta de PTH) • Hiperparatireoidismo (excesso de PTH) • Hipotireoidismo (falta de hormônios tireoidianos) • Hipertireoidismo (excesso de hormônios tireoidianos) • Hipoadrenocorticismo (falta de hormônios adrenais) • Hiperadrenocorticismo (excesso de hormônios adrenais) • Nanismo (falta de GH) • Acromegalia (excesso de GH) • Tumor de células de Sertoli (excesso de estrógenos) • Feocromocitoma (excesso de adrenalina) TIREÓIDE • Aumento do metabolismo basal → aumento do consumo de oxigênio nos tecidos • Melhora absorção intestinal de glicose → efeito hiperglicemiante • Estímulo da síntese proteica (concentração fisiológica) • No hipertireoidismo: efeito oposto → aumento do catabolismo proteico, aumenta excreção de nitrogênio (↑ ureia sanguínea) • Aumento da utilização de triglicerídeos → diminuem os depósitos de gordura e os níveis plasmáticos de triglicerídeos, fosfolipídios e colesterol • Estimula crescimento e desenvolvimento (com somatotropina e insulina) • Desenvolve os tegumentos: pelo, pele e plumagem 3 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária I UFRGS • Estimula crescimento fetal (fonte materna de HT) • Em neonatos: termogênese • Aumenta filtração glomerular • Regula sistema nervoso central • Falta de HT → incoordenação, letargia • Excesso de HT → hiperatividade, irritabilidade HIPOTIREOIDISMO • Mais comum em caninos • Prevalência de até 0,6% em cães • Rara em gatos (secundária a tratamento de hipertireoidismo) • Acomete animais velhos (idade média de 7 anos) • Grandes animais: deficiência de iodo, substâncias bociogênicas PRIMÁRIO • Forma mais comum (95% dos casos) • Tireoidite linfocítica (similar a doença de Hashimoto de humanos): ataque autoimune, grande infiltração de linfócitos • Atrofia folicular idiopática: tecido glandular substituído por tecido adiposo, sem infiltrado • Tumores destrutivos • Deficiência de iodo (bócio) • Iatrogênico em gatos, após tratamento de hipertireoidismo SECUNDÁRIO • Raro (5% dos casos) • Falta de TSH • Lesões hipotálamo-hipofisárias: folículos distendidos, células foliculares planas • Tumores • Secundário ao uso de glicocorticoides ou a hiperadrenocorticismo (feedback negativo de cortisol afeta TSH) • Deficiência congênita de TSH (morte precoce, cretinismo, nanismo, malformações ósseas) SINAIS • Aparecem quando 75% do parênquima está afuncional • Depende do grau de atrofia e tempo de evolução • Transtorno lento e insidioso • Obesidade • Diminuição da taxa metabólica • Incoordenação • Letargia • Problemas para suportar o frio • Diminuição da frequência cardíaca • Anemia • Em neonatos: cretinismo (desenvolvimento físico e mental lento) • Sinais dermatológicos → 85% dos casos o Alopecia simétrica bilateral não pruriginosa o Pele e pelo secos: seborreia (40% dos casos) o Hiperpigmentação o Hiperqueratose o “Cauda-de-rato” • Mixedema: acúmulo de mucina na epiderme e engrossamento da pele de rosto e cabeça (“face trágica”) • Falha na reprodução o Manifestação mais comum em animais de produção o Machos: diminui libido, cai concentração espermática o Fêmeas: anestro, diminui taxa de concepção, abortos, morte prematura de neonatos 4 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária I UFRGS ACHADOS LABORATORIAIS • Hipercolesterolemia: acima de 500 mg/dL (VR= 135-270) • Hiperlipidemia → risco de aterosclerose • Diminuição de T3 e T4 • T4 < 8 ng/mL (VR cão = 15-30) • Aumento de TSH (primário) • Diminuição de TSH (secundário) • Anemia normocítica-normocrómica (50% dos casos): por menor consumo de O2 • Aumentos de FA e ALT (lipidose hepática) PROVAS HORMONAIS • T4 total / TSH o Alta sensibilidade (diminui em todos os cães hipotireoideos) o Baixa especificidade (várias doenças causam baixa T4) o T4 baixo, TSH aumentado → hipotireoidismo o T4 baixo, TSH baixo → hipotireoidismo secundário ou doença não tireoidiana ou drogas o Doença não tireoidiana: “eutireoideo doente” → hiperadrenocorticismo, diabetes mellitus, falha renal, doença hepática o Drogas: glicocorticoides, sulfonamidas, fenobarbital, AINEs • T4 livre por diálise: mais específico (não afetado por doenças não tireoidianas). o Útil quando T4 total e TSH estão baixos: ▪ T4 livre normal → doença não tireoidiana (“eutireoideo doente”) ▪ T4 livre baixo → hipotireoidismo secundário TRATAMENTO • Tiroxina oral (levotiroxina sódica sintética) • Monitorar com base em sinais clínicos e valores de T4 • Pode ser usada para fazer diagnóstico terapêutico: aplicar e observar desaparecimento de sinais clínicos HIPERTIREOIDISMO • Mais comum em gatos, raro em cães • Descrita por 1ª vez em 1979 (gatos) • De 1,5 a 11,4% de gatos velhos (idade média de apresentação: 12 anos) • Transtorno endócrino mais importante em gatos • Associado com hiperplasia multinodular e adenocarcinomas das células foliculares • Apenas 2% dos casos têm malignidade • Fator de risco: uso de ração em lata (alta concentração de iodo, selênio, isoflavonas, genisteína) SINAIS • Aumento de volumem da tireoide (95% dos casos): palpável • Geralmente bilateral • Perda de peso • Hiperatividade • Agressividade • Apetite voraz (polifagia) 5 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária I UFRGS • Aumento de defecação e volumedas fezes • Polidipsia, poliúria • Hipertensão • Intolerância ao calor • Taquicardia • Taquipneia INDICADORES • Aumento de hematócrito e hemoglobina (50% dos casos): aumento de eritropoietina causado pelos hormônios tireoidianos • Leucograma de estresse: neutrofilia, linfopenia, eosinopenia • Aumento de ALT (70% dos casos): relação com efeitos tóxicos de hormônios tireoidianos sobre o fígado • Aumento de FA (63% dos casos): isoenzimas óssea e hepática (aumento do metabolismo) • Hiperglicemia • Aumento de ureia (maior catabolismo de proteínas) • Diminuição de creatinina (perda de massa • muscular, aumenta TFG) • Densidade urinaria baixa (poliúria: aumenta TFG) TESTES • T3 e/ou T4 no sangue o T4 → aumento até 500 ng/mL (VR= 36-60) o T3 → aumento até 10 ng/mL (VR= 0,8-1,3) • TSH → diminuído (kit canino pode ser usado) • Teste de supressão com T3 o Administrar T3 por 3 dias (8 em 8 h) o Medir T4 antes e depois (4 h após última administração) o Gato normal → T4 diminui em 50% o Gato hipertireoideo → T4 não varia TRATAMENTO • Tireoidectomia com posterior tratamento com tiroxina oral • Iodo radioativo (131I): radiação gama destrói tecido hiperplásico • Drogas antitireoidianas (metimazol, propiltiouracila) → bloqueiam síntese de HT por impedir incorporação de iodo na tireoglobulina (inibem enzima peroxidase) • Dieta baixa em iodo • Objetivo: eliminar sinais clínicos, evitar hipotireoidismo ADRENAL 6 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária I UFRGS EFEITOS DO GLICOCORTICÓIDES HIPOADRENOCORTICISMO • Doença de Addison: Thomas Addison (1855) • Rara em caninos (fêmeas) e mais rara em gatos • Um caso para cada 3.000 cães • Insuficiência adrenocortical por degeneração do córtex adrenal • Falha produção de glicocorticoides e mineralocorticoides • Potencialmente fatal se não for tratada • Origem primária (95% dos casos) o Atrofia idiopática bilateral ligada a reação autoimune em 75% dos casos • Origem secundária Infecções • Origem iatrogênica • Tratamentos prolongados com glicocorticoides com supressão súbita • Tratamento com drogas para hiperadrenocorticismo (mitotano, trilostano) SINAIS INDICADORES • Anemia macrocítica normocrómica: 20-30% dos casos • Eosinofilia • Linfocitose • Hipercalemia (alteração em ECG): 90% dos casos • Hiponatremia: 83% dos casos • Relação Na:K < 27 (VR > 30) • Hipocloremia (acompanha o sódio): 46% dos casos • Hipoglicemia: 20% dos casos • Acidose metabólica (falha na excreção de H+ ) 7 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária I UFRGS TESTES Teste de estimulação com ACTH • Administrar ACTH (5 µg/kg) • Medir cortisol basal e uma hora depois • Cortisol basal (VR= 0,5-5,0 µg/dL) Em hipoadrenocorticismo < 0,5 µg/dL • Cortisol pós-ACTH (VR= 6-17 µg/dL) • Consistente com hipoadrenocorticismo 2 g/dL TRATAMENTO • Emergência (forma aguda): tratamento imediato o Fluidoterapia com NaCl 0,9% o Hidrocortisona: efeito glicocorticoide o Fludrocortisona: efeito mineralocorticoide o Glicose 2,5% IVInsulina (controla hipercalemia) • A longo prazo (forma crônica): de forma ininterrupta o Fludrocortisona: 0,1 mg/kg BID o Prednisona: 2,5 – 10 mg/dia (em dias alternados) o Aumentar em situação de estresse (visita ao veterinário, passeios, ausência dos donos) HIPERADRENOCORTICISMO • Síndrome de Cushing: Harvey Cushing (1932) descrito como transtorno hipofisário • Hipertrofia do córtex adrenal → comum em canino, ocasional em cavalo e gato • Origem primária: dependente da adrenal → tumores adrenais que causam hipersecreção de glicocorticoides (20% dos casos) • Origem secundária: dependente da hipófise → excesso de ACTH, geralmente tumores da adenohipófise (80% dos casos em cães, 100% dos casos em cavalos) • Origem iatrogênica → administração prolongada de corticoides sintéticos SINAIS • Confunde com envelhecimento (acomete animais de média idade a velhos) • Transtorno lento e insidioso • Poliúria por inibição da secreção e da ação de ADH • Polidipsia compensatória • Polifagia por aumento de neuropéptido Y (orexígeno) • Abdome pendular (potbellied) → 80% dos casos, por: Hepatomegalia (excesso de glicogênio) • Acúmulo de gordura abdominal • Excesso de urina: bexiga distendida • Atrofia de musculatura abdominal • Hepatomegalia (aumento de glicogênio por cortisol) • Sonolência • Debilidade muscular • Intolerância ao exercício • Respiração ofegante • Anestro: feedback negativo do cortisol sobre gonadotropinas • Atrofia testicular • Intolerância ao calor • Alopecia bilateral • Hiperpigmentação da pele DIAGNÓSTICO • Diferenciar de diabetes mellitus • Ferramentas • Exame clínico • Hematologia • Bioquímica sanguínea • Urinálise • Imagens 8 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária I UFRGS INDICADORES • Neutrofilia, eosinopenia, linfopenia (leucograma de estresse) • Trombocitose • Hiperglicemia • Glicosúria • Densidade urinária diminuída • Proteinúria (hipertensão sistêmica provocada por cortisol) • Retenção de sódio e água: hipervolemia • Alcalose • Aumento de ALT (acúmulo de glicogênio hepático) • Aumento de FA (induzido por cortisol): 85% dos casos • Aumento de colesterol: 75% dos casos • Aumento de triglicerídeos (plasma lipêmico) • Ureia aumentada (proteólise) • Creatinina diminuída (menor massa muscular) Imagens • Hepatomegalia • Distensão vesical • Possíveis metástases • Massa adrenal unilateral aumentada: evidência de tumor adrenocortical • Ambas adrenais grandes: evidência de hiperplasia adrenal dependente da hipófise TRATAMENTO • Cirúrgico: adrenalectomia → aplica a HAC; cirurgia de risco • Clínico: deve monitorar cortisol (prova de estimulação com ACTH) e sinais clínicos • Trilostano (Vetoryl): inibidor da 3βhidroxi- esteroide desidrogenase • Mitotano (Lisodren): causa necrose nas zonas fasciculada e reticular • Seleginina (Anipryl): inibidor da monoamino oxidase → inibe ACTH • Cetoconazol: inibe síntese de esteroides
Compartilhar