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Doenças Parasitárias Resumo de Giardia spp. Curso: Medicina Veterinária - Multivix Castelo Professor:Victor Menezes Tunholi Alves Alunos: Gabriel Folli Satolo, Gustavo Louvem de Moraes, Larissa Pinto Lourencini, Laura Scarpini de Jesus Paier, Núbia Paulini de Mello, Stefane Epidemiologia A giardíase é uma zoonose de saúde pública, com baixa especificidade por hospedeiro, especificamente em países em desenvolvimento na América latina, África, Ásia e Oceania. A via de transmissão é pela via fecal-oral, ingestão de cistos, que são eliminados nas fezes de animais ou pessoas infectadas, presentes em água ou alimentos contaminados. Os cistos apresentam-se resistentes à cloração, tratamento normal da água que tem a adição de cloro e também a fatores ambientais (MERZ et. al., 2018) (SILVA et. al., 2021). A doença apresenta certa subnotificação dos casos, por se mostrar de baixa importância zoonótica, já que não é obrigatório a notificação da mesma (SÁ et al., 2021). Em estudos no Brasil e Portugal, é observado que a parcela da população que está mais suscetível a se infectar por Giardia spp são aquelas que vivem em condições precárias de saneamento e com deficiência na educação sanitária básica (MERZ et. al., 2018). Sendo a faixa etária mais acometida as crianças de 0 a 6 anos de idade que convivem em creches/escolas fundamentais, locais comuns para a transmissão, visto que há grande circulação de crianças que não possuem hábitos de higiene formados. Ambientes públicos, como praças, praias e parques, também são lugares que demonstram risco, principalmente, para crianças destas faixas etárias que brincam na terra ou manifestam geofagia, hábito de comer terra (DESTRO et. al., 2019) (COELHO et. al., 2020) Em contraponto os animais, como cães e gatos errantes e aqueles que vivem em resistência que não recebem tratamento de antiparasitário periodicamente, fazem o papel de disseminar Giardia spp. O mau hábito dos tutores de não recolherem as fezes de seus animais durante passeios favorece a disseminação do parasito em ambientes públicos, levando ao risco de infecção a outros animais e ao ser humano. Em cães mais jovens, com idade de 0 a 9 meses, a doença se mostrará tipicamente sintomática, sendo o oposto em cães com idade superior e aqueles que já tiveram contato com o protozoário (COELHO et. al., 2020) (SÁ et. al., 2021). Ciclo de Vida O ciclo de vida da Giardia lamblia, protozoário causador da giardíase, apresenta duas formas biológicas, a cística e a de trofozoíto. Os cistos são infectantes, resistentes e inativos, e os trofozoítos são ativos e móveis no hospedeiro (MONTEIRO et. al., 2017; CAVALINI et. al., 2011). A infecção é disseminada pela via oral, principalmente, através do consumo de água e/ou alimentos contaminados com os cistos da Giardia spp. No estômago, a presença de enzimas digestivas, como proteases e pH acidificado, fornece condições desfavoráveis para os cistos ingeridos. Dessa forma, fazendo com que ocorra o desencistamento, transformando-se em trofozoítos (FERNANDES, 2014). Chegando ao duodeno, porção proximal do intestino delgado, os trofozoítos aderem-se às microvilosidades intestinais por meio da estrutura presente somente nessa forma biológica, o disco suctório, que também é responsável por mediar a alimentação do parasito. Sendo assim, secreções biliares e os glicídios estimulam a multiplicação destes por fissão binária de maneira simétrica, causando o encobrimento da mucosa intestinal pelos protozoários, e por último a síndrome da má absorção (FERNANDES, 2014). Uma parcela dos trofozoítos desassociam da parede intestinal alcançando o íleo, porção distal do intestino delgado, e em condições alcalinas com indisponibilidade de água e nutrientes tem-se a dificuldade para sobrevivência desses parasitas, assim provocando o seu encistamento. Posteriormente, esses cistos resistentes contendo trofozoítos serão eliminados através das fezes do hospedeiro no meio externo (FERNANDES, 2014; MONTEIRO et. al., 2017). Sinais e sintomas clínicos Os sinais e sintomas clínicos são diarreia do intestino delgado, ocasionalmente diarreia do intestino grosso, esteatorreia, borborigmo e perda de peso (ADAM, 1991). O principal sinal clínico é a diarreia persistente que resulta em má absorção intestinal. A giardíase pode ser encontrada em duas formas, aguda e crônica. Na fase aguda as manifestações ocorrem após um curto período de incubação. Já a fase crônica ocorre pela persistência da diarréia e devido à má absorção intestinal dos nutrientes, agravando ainda mais as condições do hospedeiro (SANTANA et al., 2014). Raramente a infecção é grave, porém pode causar desidratação, letargia e anorexia. Muitos indivíduos com G. duodenalis identificados nas amostras de fezes são assintomáticos, um ponto destacado por estudos que identificaram Giardia mais prevalente nas fezes de indivíduos assintomáticos do que entre indivíduos com diarréia aguda (ALKMIN et.al, 2021). Os sinais clínicos são mais evidentes em cães jovens do que em cães adultos, pois geralmente, nesta faixa etária os animais manifestam a doença de forma assintomática, aumentando a contaminação do ambiente (LENZI, 2013). Quando há sinais, estes podem ser persistentes, intermitentes ou auto-limitantes (Cavalini et. al., 2011). No exame físico os animais podem apresentar-se normais ou revelar evidência de diarreia, desidratação e perda de peso (KIRKPATRICK, 1987). De acordo com Alkmin et. al (2021, p.103) “Sintomas de Giardíase aguda são: diarreia, mal-estar, esteatorréia, cólicas abdominais, flatulência, náusea, vômito, febre, constipação e urticária”. Idem (2021), os sintomas geralmente se desenvolvem após o período de incubação de 7 a 14 dias. O início de sintomas gastrointestinais agudos dentro de uma semana após a exposição não é provavelmente atribuível à infecção por Giardia. Na giardíase aguda os sintomas surgem após um período de incubação, geralmente de uma a três semanas. Na crônica os sintomas podem ser contínuos ou episódicos, persistindo por anos, e o paciente não necessariamente desenvolve manifestações agudas (SANTANA et al., 2014). Os sintomas podem durar de duas a quatro semanas, dentre eles destaca-se a diarréia (90%) e mal-estar (86%) .Giardíase crônica pode seguir a fase aguda da infecção ou pode se desenvolver na ausência. Os sintomas podem incluir: fezes soltas, geralmente sem diarréia, esteatorréia, perda de peso, má absorção, mal estar, fadiga, cólicas abdominais, flatulência e depressão (ALKMIN et. al, 2021). Fisiopatologia A fisiopatologia é definida por Carvalho et. al. (2012, p.57) sendo um “processo complexo, multifatorial que envolve uma combinação de perturbações estruturais e funcionais na mucosa do intestino delgado”. Os trofozoítos expressam enzimas proteolíticas e moléculas de superfície que auxiliam na adesão transitória dos discos adesivos no epitélio intestinal (BURET et. al., 2015). As características fisiopatológicas dominantes, consistem nas anormalidades em atrofia parcial ou moderada das vilosidades ou atrofia subtotal vilositária em casos graves (ALKMIN et al., 2021). A ação de aderir e desprender-se do endotélio deixam depravações nas microvilosidades intestinais, acarreta uma resposta inflamatória, amplia a propagação de enterócitos e atrofia das vilosidades, além de expandir a permeabilidade intestinal, limitar as enzimas entéricas, sendo um fator chave para a formação da diarréia esteatorréia e da má absorção dos nutrientes (HALLIEZ et al., 2013; ADAM, 1991). Relação com Sistema de Defesa No decorrer da infecção intestinal, subconjuntos diferentes de leucócitos podem migrar, através do epitélio, para o lúmen intestinal e atuar prontamente sobre o invasor. Os macrófagos que se encontram presentes no epitélio intestinal e são citotóxicos, podem fagocitar os trofozoítos que aderem e ultrapassam a mucosa, extinguindo por mecanismo oxidativos (ROXSTRÖM et al., 2006). A atuação dos macrófagos há a possibilidade de acentuar-se pela ação de citocinas, sendo suficiente para destruir osparasitos. Infecções prolongadas onde os parasitos escapam da resposta imune inata, células como granulócitos interagem com os trofozoítos (GUIMARÃES et al., 1999). A mobilização da resposta imune do hospedeiro a uma infecção por patógenos entéricos induz a expressão de citocinas no epitélio intestinal, porém, no caso de Giardia há poucos relatos sobre estes aspectos imunológicos. É conhecido que, in vitro, após 5 horas de infecção por Giardia lamblia, não ocorre a indução da expressão de citocinas (ROXSTRÖM et al., 2006). A interleucina 8 (IL-8) que é considerada uma citocina importante, presente durante as infecções intestinais bacterianas, não apresenta níveis elevados de infecções por Giardia lamblia (BERTRAND et al, 2005). O mecanismo mais eficiente para afastamento de trofozoítos das células epiteliais intestinais é a estimulação de linfócitos TCD4 para produção de IFN-g no momento da infecção (LLOYD et al., 2000). Diagnóstico Para um diagnóstico bem sucedido, preconiza- se a avaliação sintomatológica, sendo elas, diarréia, dor abdominal. Além da anamnese, na qual será coletado informações do paciente em relação a viagens e locais frequentados (ALCKMIN, 2021). Deve-se levar em consideração, que ao analisar as amostras possuem elementos que podem interferir no resultado final, entre eles pode-se destacar o padrão de eliminação dos cistos, a consistência fecal e a utilização de conservantes nas fezes. De modo geral, sabe- se que os cistos estão presentes normalmente em fezes formadas e os trofozoítos é comum encontrá-los em fezes de consistência pastosa ou líquida. Com isso, é recomendável algumas técnicas laboratoriais para obter-se um resultado mais complexo (MERZ, 2018). A técnica de Faust, também chamada de Centrífugo-Flutuação no sulfato de zinco, consiste em um teste coprológico eficiente para a comprovação de cistos de Giardia spp em uma amostra fecal. Essa técnica é bastante utilizada em clínicas veterinárias, pelo fato de apresentar maior eficácia e possuir baixo custo financeiro. Desse modo, para a realização da mesma, é necessário coletar três amostras fecais consecutivas ou em dias alternados, pelo fato dos cistos serem eliminados de forma intermitente (DESTRO, 2019). O passo a passo para um bom resultado utilizando o método de Faust, consiste inicialmente na diluição da amostra fecal com água destilada, a amostra será homogeneizada e em seguida filtrada, e logo após centrifugada, esse processo se repete até a solução apresentar uma coloração mais clara. A seguir, é adicionado a solução de sulfato de zinco, que novamente é centrifugado. Devido a densidade, ocorreu a separação de ovos e cistos nas fezes. Assim, formará uma película superficial que com o auxílio da alça de platina será coletada e introduzida na lâmina. Por fim, será adicionado uma gota de lugol, e em seguida é colocado uma lamínula para análise microscópica (MERZ, 2018) (FERREIRA, 2021). Exame direto de esfregaços fecais, é utilizado para avaliação da presença de trofozoítos de Giardia . Preconiza-se que as amostras fecais estejam frescas, para melhor o diagnóstico. Vale ressaltar, que os trofozoítos normalmente encontram-se presentes na camada superficial das fezes ou no muco fecal, por isso, é de grande importância coletar essas áreas como amostras a serem visualizadas. Nessa perspectiva, a utilização de solução de lugol ou azul-de-metileno auxilia na visualização de estruturas no interior de trofozoítos (MERZ, 2018). Outro teste para diagnóstico, é o teste sorológico de ELISA, que consiste em um exame laboratorial bem preciso, porém, de alto custo, o que dificulta a utilização do mesmo. Esse teste busca por anticorpos e antígenos de Giardia lamblia, sendo ele bem eficiente específico com apenas uma amostra (SÁ, 2021). Tratamento Por se tratar de uma zoonose, é crucial que logo após o diagnóstico seja iniciado o tratamento. De início, preconiza- se a interrupção dos sinais clínicos, principalmente com a diarréia. Animais que testam positivos para Giardia, utilizam-se como tratamento fármacos à base de nitroimidazol que apresentam atividade antiprotozoária e antibacteriana. Neste grupo, destaca-se o metronidazol e o tinidazol que apresentam grande eficácia na medicina veterinária. (SÁ, 2021).O metronidazol é a droga mais utilizada no combate à Giardia. Desse modo, ela forma um complexo que impede a replicação e paralisa o DNA. Acredita- se que esse fármaco, atua diretamente na topoisomerase do DNA bacteriano e na produção de ácidos nucleicos. Sua posologia consiste em 15- 25 mg/kg sendo administrado por via oral, de 12 em 12 horas, durante 7 dias. Contudo, vale ressaltar, que não é recomendável a prescrição desse medicamento para gestantes ou lactantes, pelo fato de ser excretado no leite. (MERZ, 2018) Utiliza-se também fármacos à base de benzimidazólicos. Entre eles, destaca-se o albendazol e o fenbendazol. O fenbendazol é amplamente utilizado no controle de nematódeos e Giardia spp. Consiste em um fármaco extremamente seguro, podendo ser prescrito para gestantes e gatos. Deve ser prescrito na dosagem de 50mg/kg, uma vez ao dia, durante três dias. Vale ressaltar, que ao utilizar o albendazol aconselha- se que seja com cautela, pois é uma droga potencialmente tóxica para a medula óssea. Sua prescrição deve ser de 25 mg/kg, por via oral, de 12 em 12 horas durante três dias. (MERZ, 2018). Por fim, recomenda-se a furazolidona, que apresenta ação antibacteriana e anti parasitária, sendo um fármaco de grande eficácia para o tratamento da Giardia. Nessa perspectiva, vale ressaltar que é recomendável o uso com cautela em gestantes e lactantes. O mesmo, deve ser administrado por via oral, sendo 4 mg/kg de 12 em 12 horas, durante cinco a dez dias. (SÁ, 2021) (MERZ, 2018). Controle e Profilaxia Giardia spp. sendo um protozoário com característica de zoonose, a principal abordagem para seu controle e profilaxia é o saneamento básico adequado, seguido de higienização correta das mãos e alimentos (SANTANA et. al., 2014). Desinfecção de canis, com o intuito de deixar aquele ambiente livre das fezes de animais que podem estar contaminados, manter sempre os bebedouros e comedouros limpos e higienizá-los diariamente, além de higienização correta das patas e dos sapatos (LENZI, 2013). A vacina é indicada para cães sadios a partir dos 8 semanas de vida e gatos a partir de 7 semanas, com reforço anual (BULA GiardiaVax). Referências ADAM, R.D. The biology of Giardia spp. Microbiol. Rev., v.55, p.706-732, 1991. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC372844/>. Acesso em: 30 março de 2022. ALKIMIN et. al. GIARDÍASE: EPIDEMIOLOGIA, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research. 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