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GABRIEL GALEAZZI 1 Síndromes Glomerulares As glomerulopatias podem ser classificadas de acordo com: Tempo Aguda (dias-semanas) Subaguda (semanas-meses) Crônica (meses-anos) Quantidade glomerular afetada Focal (<50% dos glomérulos são acometidos) Difusa (>50% dos glomérulos são acometidos) Acometimento em cada glomérulo Segmentar (apenas parte de cada glomérulo é acometida) Global (todas as estruturas do glomérulo são acometidas Presença de necrose, esclerose, membrana e padrão de proliferação Fibrose (deposição de colágeno tipos I e III, indicando processo cicatricial) Proliferação (aumento da celularidade glomerular) Crescêntica ou Extracapilar (proliferação de células dentro da cápsula de Bowman – macrófagos e fibroblastos) Endocapilar (proliferação de células do glomérulo – células mesangiais ou células endoteliais) Denominação adicional Necrose (há presença significativa de necrose glomerular) Esclerose (há aumento homogêneo na quantidade de material extracelular) Membranosa (acometimento predominantemente da membrana basal) Independentemente do mecanismo da lesão envolvido, a lesão glomerular é acompanhada por alterações na função, estrutura e permeabilidade do glomérulo, levando à passagem anormal de proteínas e de outros elementos, redução variável na função de filtração glomerular, além de distúrbios na excreção de sódio e água A biópsia renal é o exame padrão-ouro para doenças glomerulares 1. Introdução O néfron é a unidade funcional do rim É uma estrutura microscópica formada pela associação do Corpúsculo de Malpighi (tufo glomerular + cápsula de Bowmann) com o Sistema Tubular Os glomérulos são um grupo de alças capilares enoveladas, oriundo da arteríola aferente que sai como arteríola eferente. Encobrindo as alças existe a membrana basal glomerular e entre elas o mesângio (tecido de sustentação) Ao redor do glomérulo existe a cápsula de Bowmann, que é constituída pelo folheto visceral (aderido às alças glomerulares) e o folheto parietal (delimitando externamente o espaço da cápsula). O espaço entre os dois folhetos é denominado espaço capsular O folheto visceral é formado por células especiais (podócitos) que circulam as alças capilares e a membrana basal, com seus processos podocitários O Glomérulo permite a filtração dos componentes, impedindo a passagem de hemácias e proteínas 2. Síndrome Nefrítica Também chamada de Glomerulonefrite Difusa Aguda (GNDA) Conjunto de sinais, sintomas e achados laboratoriais que surgem quando há “inflamação” dos glomérulos renais Fisiopatologia Processo inflamatório nos glomérulos → Migração de Leucócitos → Obstrução das fendas do filtrado → Redução da superfície total de filtração → Oligúria → Congestão → HAS e Edema Inflamação dos glomérulos → Distorção da microarquitetura glomerular → Viabilização da passagem de hemácias para o interior da cápsula de Bowman → Deformação irreversível das hemácias ao passarem pelas fendas de filtração → Hematúria Dismórfica Clínica Tétrade clínica Hematúria Dismórfica Microscópica (> 3-5 hemácias/campo) ou Macroscópica (Urina “cor de coca cola” acastanhada) Causas de Urina Avermelhada Hematúria; Mioglobinúria; Hemoglobinúria; Porfiria; Pigmentos (Beterraba ou Rifampicina) Edema Hipertensão Arterial Oligúria (Adulto<400mL/24h; Criança <0,5mL/kg/h) Outros Achados Cilindros hemáticos e piocitários Proteinúria subnefrótica ou nefrítica (150mg- 3,5g/24h) Aumento de Ureia e Creatinina (TFG<40%) Complemento sérico Consumido em GNPE; LES; Crioglobulinemia; GNMP; Endocardite associada a shunt Normal em Vasculites sistêmicas; Doença de Berger (Nefropatia por IgA), Púrpura de Henoch-Schönlein; Doença de Goodpasture (anticorpos anti-MBG) Complicações Encefalopatia hipertensiva; Sobrecarga de volume; Hipercalemia; Acidose Metabólica MACETE! GNDA = OLIGÚRIA (E SUAS CONSEQUÊNCIAS) + HEMATÚRIA OBS: SE HOUVER QUEDA SIGNIFICATIVA DA TFG SURGE AZOTEMIA Etiologias Doenças Primárias dos Glomérulos Doença de Berger GABRIEL GALEAZZI 2 Glomerulonefrite Membranoproliferativa Proliferativa Mesangial “Pura” Nefrite por “imunocomplexos” idiopática Doenças Infecciosas Glomerulonefrite pós-estreptocócica Glomerulonefrite não pós-estreptocócica Bacterianas: Endocardite, Sepse e Abscessos viscerais Virais: Hepatites, Caxumba, Mononucleose e Sarampo Parasitárias: Malária e Toxoplasmose Doenças Sistêmicas LES Vasculites Sd. de Goodpasture Tumores Crioglobulinemia OBS: 70% DAS GNDA SÃO POR DEPOSIÇÃO GLOMERULAR DE IMUNOCOMPLEXOS E FATORES DO COMPLEMENTO Podem ser classificadas de acordo com os mecanismos patológicos Mediada por imunocomplexo GN pós-infecciosa; Nefropatia por IgA; Nefrite lúpica Induzida por anticorpo Doença de Goodpasture (anticorpos anti- MBG) Pauci-imune Vasculites ANCA 2.1 Glomerulonefrite Pósestreptocócica (GNPE) Inflamação glomerular que ocorre como sequela de infecção estreptocócica (faringoamigdalite ou piodermite/impetigo) Frequente em crianças (3-15a com pico aos 7a) do sexo masculino (2:1) Strepto beta-hemolítico do grupo A (S. pyogenes – Cepas Nefritogênicas) Cepas relacionadas ao sorotipo da proteína M, possuem partículas que mimetizam partículas presentes nos glomérulos As estruturas mais associadas a esse processo seriam: Receptor de Plasmina associado à nefrite (NAPIr), Exotoxina B pirogênica estreptocócica (SPEB) O sistema imune combate e destrói os estreptococos, originando fragmentos (antígenos) que são depurados pelos rins. Eventualmente, estes antígenos ficam “retidos” na estrutura glomerular, que passa a ser alvo do ataque imune pela deposição de imunocomplexos e ativação do sistema complemento Período de incubação Via faríngea: 1-3 semanas Via cutânea: 2-6 semanas Quadro clínico Síndrome nefrítica “pura” Hematúria; Oligúria até 7 dias (50%); Edema; Hipertensão Arterial (50-90%) Paciente apresenta apenas os sinais e sintomas da síndrome nefrítica (não há artrite, serosite, emagrecimento, esplenomegalia nem nenhum outro achado diverso) A hematúria tem habitualmente cor acastanhada e não apresenta coágulos Mal-estar, cansaço, dor lombar bilateral (dor nos flancos) e febre Queda do Complemento (C3 e CH50) até 8 semanas Hematúria microscópica até 1-2 anos Proteinúria leve até 2-5 anos Aumento de Ureia e Creatinina leve e não progressiva Complicações Encefalopatia hipertensiva EAP Hipercalemia Diagnóstico Algoritmo de 4 perguntas sequenciais 1. Houve algum episódio recente compatível com faringite ou piodermite? 2. O período de incubação é compatível? 3. A infecção foi realmente estreptocócica? a. Anti-estreptolisina O (ASLO ou ASO em 90%) b. Anti-DNAse B (em 70%) MACETE! ANTI-“D”NASE B = “D”ERMATOLÓGICO – PIODERMITE; “A”SLO = “A”MIGDALA 4. Há queda do complemento sérico? a. Redução de C3 e CH50 (ativação da via alternada) b. C4 e C1q Normais (componentes da via clássica) Indicações de Biópsia Renal (“SOPHHHIA” – “S”istêmica; “O”ligúria; “P”roteinúria nefrótica; “H”AS; “H”ipocomplementemia; “H”ematúria macro; “I”nsuficiência renal; “A”núria) Doença Sistêmica Oligúria > 1 semana (>72h pela SBP) Proteinúria nefrótica HAS>6 semanas Hipocomplementemia > 8 semanas Hematúria macroscópica > 6 semanas Insuficiência renal acelerada Anúria Aspecto histopatológico Padrão Proliferativo Difuso: Hipercelularidade do mesângio e células endoteliais e infiltrado de polimorfonucleares Depósitos subepiteliais eletrodensos conhecidos como “corcovas” ou “gibas” na microscopia eletrônica - Patognomônico GABRIEL GALEAZZI 3 Tratamento Restrição Hidrossalina; Furosemida; Anti-hipertensivos (Antagonista de Cálcio, Hidralazina ou iECA em caso de hipertensão persistente. Nitroprussiato em caso de Encefalopatia hipertensiva) Diálise (Em oligúria prolongada e grava para o controle da retenção azotêmica) Antibióticos (penicilina ou macrolídeo) com objetivo de erradicar a cepa, interrompendo a transmissão do agente 3. Alterações Assintomáticas 3.1 Nefropatia por IgA (Doença de Berger) Comum em Asiáticos dos 15-40a logo após infecção (“sinfaringítica”) Forma mais frequente de glomerulonefrite idiopática no mundo Pode ser idiopática, componente da púrpura de Henoch-Schönlein ou Secundária a doenças como Cirrose, Doença Celíaca, HIV Fisiopatologia Estresse (esforço físico, infecção ou imunização) → Secreção e deposição de IgA no mesângio → Hematúria (pela proximidade entre mesângio e capilares) Formas Monossintomática (Restrita aos rins) Púrpura de Henoch-Schönlein (Rim + Púrpura + Artralgia + Dor Abdominal) Clínica Hematúria Macroscópica intermitente com duração de 2-6 dias após fatores precipitantes (50%) Associada a Infecção de Vias Superiores Hematúria Micro Persistente (40%) Sd. Nefrítica (10%) DDX com GNPE: O Complemento é normal e o período de incubação não é compatível GNRP Sd. Nefrótica O curso do quadro clínico é muito variável, podendo ocorrer com estabilidade da função renal a longo prazo, evolução lentamente progressiva para insuficiência, insuficiência renal em menos de 4 anos ou remissão completa. A maioria dos pacientes continua assintomática apresentando hematúria microscópica e episódios paroxísticos de hematúria macroscópica, muitas vezes acompanhados de quadros virais Fatores que indicam pior prognóstico Ausência de hematúria macroscópica HAS Proteinúria persistente e intensa (>500- 1000mg/d) Sexo masculino Creatinina séria elevada (>2,5mg/dL) Biópsia com fibrose tubulointersticial, atrofia tubular, formação de crescentes, glomeruloesclerose e proliferação intensa Diagnóstico Elevação da IgA sérica e depósitos na pele Biópsia renal indicada se: HAS, proteinúria > 1g/dia ou insuficiência renal Tratamento IECA + Estatina Retenção azotêmica: Corticoide (Prednisona); Ciclofosfamida; Plasmaférese 3.2 Hematúria Glomerular Benigna (Doença do adelgaçamento da membrana basal) Doença glomerular de origem familiar ou esporádica Defeito no gene que codifica a cadeia alfa-4 do colágeno tipo IV, presente na membrana basal glomerular: Há redução da espessura da MBG Diagnosticada por exames de rotina (hematúria dismórfica e proteinúria leve) Não há tratamento específico 3.3 Mal de Alport “Nefrite Hereditária” Causa rara de hematúria assintomática em crianças, de origem genética, com herança dominante ligada ao cromossomo X Defeito na cadeia alfa-5 do colágeno tipo IV Distúrbio genético multissistêmico, caracterizado por surdez neurossensorial, anormalidades oftalmológicas, hematúria glomerular e insuficiência renal progressiva Não há tratamento específico 3.4 Proteinúria Isolada É a presença de proteinúria com o restante do sedimento urinário normal e ausência de uma doença renal ou urológica prévia A forma persistente Pode ser determinada por distúrbios glomerulares e tubulares específicos, assim como pelo estado de hiperfluxo proteico A forma intermitente Ocorre em função de algum fator externo detectável e geralmente não nocivo Causas de proteinúria intermitente Exercício intenso Proteinúria postural ou “ortostática” Febre alta ou doença aguda Insuficiência Cardíaca Gestação Estresse grave, exposição ao frio 4. Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva (GNRP) Lesão glomerular com perda da função renal em dias a meses Clínica Sd. Nefrítica não autolimitada que progride rapidamente para insuficiência renal avançada Pode ser abrupto (como GNDA) ou, comumente, de início subagudo, tomando em seguida um curso acelerado Oligúria que pode evoluir para anúria Em muitos casos, os únicos sintomas são da Síndrome Urêmica GABRIEL GALEAZZI 4 Qualquer doença que cause um insulto inflamatório ao glomérulo, se esse insulto for intenso, pode causar uma GNRP Achado típico: “Crescentes” (depósitos fibrino- monocíticos que comprimem os capilares) em >50% dos glomérulos 4.1 Causas Primárias 4.1.1 GNRP Tipo 1 (10%): Anticorpos antimembrana basal (anti-MBG) Associada ao Anti-MBG Clínica Glomerulonefrite Anti-MBG (30-50% dos casos) Não ocorre acometimento pulmonar Frequente em mulheres entre 50-70a Doença de Goodpasture (50-70% dos casos) O Anti-MBG são específicos contra a cadeia alfa-3 do colágeno tipo IV, encontrada na membrana basal dos glomérulos e dos alvéolos pulmonares Associado com o marcador genético HLADR2 Sd. “Pulmão-rim”: Hemoptise + Glomerulonefrite Acomete homens (6:1), adultos jovens (20- 30a) Relação com história de tabagismo, infecção respiratória recente ou exposição a hidrocarbonetos voláteis (solventes) DDX com outras Sd. “Pulmão-rim” como Leptospirose e Vasculites Sistêmicas (Wegener; Poliarterite microscópica; LES) Imunofluorescência de padrão linear Não provoca queda do complemento Tratamento Corticoide Plasmaférese está indicada em casos mais agudos 4.1.2 GNRP Tipo 2 (45%): Imunocomplexos Deposição de Imunocomplexos Associado à Nefrite Lúpica classe IV; Crioglobulinemia; GNPE; Doença de Berger Imunofluorescência de padrão granular Há queda do complemento sérico com anti-MBG e ANCA negativos Tratamento Controle da causa base 4.1.3 GNRP Tipo 3 (45%): Pauci-imunes Associada a Vasculites ANCA+ Clínica Granulomatose de Wegener Vasculite granulomatosa de vasos de médio e pequeno calibre Envolve o trato respiratório superior e inferior e os rins Inflamação nasal ou oral + Sd. Nefrítica (Hematúria Dismórfica + Edema + Hipertensão) Associado ao c-ANCA ou antiproteinase 3 positivo Comum em brancos, em torno dos 40a Poliangiite microscópica Sd. “Pulmão-rim” = Hemoptise + Glomerulonefrite Podem haver lesões cutâneas por venulite leucocitoclástica (púrpura palpável, lesões hemorrágicas, úlceras, nódulos subcutâneos) e mononeurite múltipla Não há acometimento das vias aéreas superiores ANCA positivo na maioria dos casos, sendo o p-ANCA ou antimieloperoxidase mais frequentes Sd. de Churg-Strauss (Angiite alérgica ou granulomatosa) Vasculite de vasos de médio e pequeno calibre, habitualmente associada à granulomatose vascular e extravascular História prévia de asma e broncoespasmo Presença de eosinofilia em sangue periférico é um achado característico Sd. Nefrítica (Hematúria Dismórfica + Edema + Hipertensão) A função renal costuma estar preservada Imunofluorescência pouco visível. A biópsia renal mostra uma glomerulonefrite proliferativa geralmente focal e segmentar Tratamento Corticoide (Prednisona, podendo ser associado com Ciclofosfamida em formas graves) Plasmaférese está indicada em casos mais agudos 5. Síndrome Nefrótica Caracterizada por: Proteinúria Maciça >3,5g/dia em adultos e >50mg/kg/dia ou >40mg/m2/h em crianças Quantificação da Proteinúria Proteinúria de 24h PTN Total/Creatinina > 3 (Spot-urinário) EAS (É um método impreciso) + (30mg/dL); ++ (100mg/dL); +++(500mg/dL); ++++(>500mg/dL) Proteinúria Seletiva x Não Seletiva Seletiva – Comprometimento da MBG Perda de Albumina Não Seletiva – Comprometimento dos podócitos (fendas de filtração) Perda de Albumina, Antitrombina III, Proteína C e Proteína S, Imunoglobulinas (IgG), Transferrina OBS: A ÚNICA PROTEÍNA SÉRICA QUE AUMENTA É A ALFA2-GLOBULINA Hipoalbuminemia É consequência da proteinúria Edema Periorbital e matutino É consequência da hipoalbuminemia, que levaa redução da pressão oncótica provocando o extravasamento de líquido para o espaço extracelular – Tendência à hipovolemia Lipidúria (cilindros graxos) e Hiperlipidemia GABRIEL GALEAZZI 5 É consequência da diminuição da pressão oncótica do plasma, que estimula a síntese de lipoproteínas hepáticas, resultando em hipercolesterolemia OBS: PODE TER HEMATÚRIA MICROSCÓPICA, DISMÓRFICA E CILINDROS HEMÁTICOS. A FUNÇÃO RENAL COSTUMA ESTAR PRESERVADA E GERALMENTE NÃO HÁ OLIGÚRIA Complicações Fenômenos Tromboembólicos Trombose da Veia Renal Pode ser assintomática ou com Dor no flanco, Hematúria, Aumento importante da Proteinúria, Aumento da Creatinina e Varicocele Súbita à Esquerda Associado, principalmente, com Nefropatia Membranosa, GN Mesangiocapilar e Amiloidose (“MMA” – Nefropatia “M”embranosa; Glomerulonefrite “M”embranoproliferativa; “A”miloidose) Conduta: Doppler e anticoagular Infecções Peritonite Bacteriana Espontânea Devido à redução de IgG ocorre a propensão de infecção por germes encapsulados (Pneumococo) Aterogênese acelerada Devido ao estado de hipercolesterolemia Indicado o uso de Estatinas para evitar Perda progressiva da Função Renal Indicado o uso de iECA ou BRA-II para evitar Fisiopatologia Lesão da MBG com perda de cargas negativas A Biópsia renal está indicada na quase totalidade das Sd. Nefróticas. Exceto em crianças <8a (doença de lesão mínima por presunção) e Diabéticos (nefropatia diabética por presunção) 5.1 Sd. Nefróticas Primárias 5.1.1 Lesão Mínima Causa mais comum de SN em Crianças (85% dos casos) Predomínio no sexo masculino (2:1) Ocorre entre 2-8a com pico de incidência aos 4a É uma glomerulopatia primária na criança. Em adultos é importante investigar doença de Hodgkin, Uso de AINEs (derivados do ácido propriônico – terminação “eno”), Atopia e Infecções Virais Quadro Clínico Sd. Nefrótica (Proteinúria Seletiva; Hipoalbuminemia; Edema; Hiperlipidemia; Lipidúria) Complicações Choque hipovolêmico; Peritonite por Pneumococo; TVP Diagnóstico Clínico na Criança Biópsia Indicação Pacientes não responsivos; Recidivas frequentes; Fora da faixa etária típica (<1a e >8a); Hematúria Macroscópica; Queda do Complemento; Hipertensão Achado histológico: Glomérulos de aspecto normal ou com expansão mesangial leve em Microscopia Óptica e Fusão e Retração podocitária em Microscopia Eletrônica Tratamento Corticoide (Prednisona) Apresenta resposta dramática ao uso de corticoides Imunossupressores (Ciclofosfamida) Indicação Recaídas frequentes > 4/ano Dependência de Corticosteroide Sem resposta por > 8 semanas de Tto 5.1.2 Glomeruloesclerose focal e segmentar (GEFS) É a principal causa de Sd. Nefrótica em Adultos Corresponde a um padrão de lesão glomerular que se caracteriza pelo surgimento de esclerose e colapso capilar em parte dos seus glomérulos (lesão focal) e das alças capilares de cada glomérulo (lesão segmentar) Mais comum em adultos (principalmente negros) É considerada como via final comum de vários processos patogênicos, sendo que doenças que promovem hipertrofia glomerular ou causam perda de néfrons predispõem à GEFS, induzida pela hipertensão glomerular Fatores de risco para o surgimento são: Nefrectomia subtotal, Doença Cardíaca Cianótica Congênita, Disgenesia Renal Unilateral, Obesidade Mórbida, Refluxo Vesicoureteral e Anemia Falciforme Outras causas incluem: Intoxicação por lítio, heroína e padromidronato e Infecção por parvovírus B19 Fisiopatologia GEFS Primária (Idiopática) Ocorre um distúrbio de linfócito T, que é responsável pela lesão dos podócitos com fusão dos processos podocitários, de uma forma mais acentuada que na Lesão Mínima, alterando a barreira de carga e arquitetura das fendas de filtração ocasionando uma proteinúria não seletiva. Há também um acúmulo hialino, derivado das proteínas plasmáticas, levando ao colapso de capilares glomerulares, provocando uma Hipertrofia Glomerular GEFS Secundária As alterações histológicas são semelhantes às da idiopática, no entanto, na secundária a doenças autoimunes, pode haver extenso depósito de anticorpos Mecanismos de lesão glomerular na GEFS Secundária GABRIEL GALEAZZI 6 Sequela de uma Doença Necrosante Focal (Nefrite Lúpica Classe III; Vasculites Sistêmicas; Nefropatia por IgA) Hiperfluxo (Diabetes, Anemia falciforme) Sobrecarga por perda de Tecido Renal (Nefropatia por Refluxo; Glomeruloesclerose Hipertensiva; Cirurgia) Mecanismos de lesão não conhecido (Nefropatia pelo HIV; Uso de Heroína; Neoplasias) Quadro Clínico Síndrome nefrótica em 2/3 dos casos (Proteinúria; Hipoalbuminemia; Edema; Hiperlipidemia; Lipidúria) Hipertensão Hematúria Microscópica Redução da função renal Complemento normal Diagnóstico Biópsia Achado histológico: Esclerose focal em <50% dos glomérulos Tratamento GEFS Primária Corticosteroides (Prednisona) iECA e Estatinas GEFS Secundária Correção da causa base 5.1.3 Glomerulonefrite Proliferativa Mesangial Caracteriza-se por proliferação celular no mesângio Há muita discordância literária na existência ou não dessa glomerulopatia primária Formas Idiopática Associada a depósitos esparsos de IgM e C3 Secundárias (Nefrite Lúpica Classe III, Endocardite, Esquistossomose) Associadas a depósitos de IgG e C3 Clínica Síndrome nefrótica insidiosa (Proteinúria acentuada, Hipoalbuminemia, Edema, Hiperlipidemia e Lipidúria) Hematúria (Macro ou Micro) Complemento normal na forma Idiopática Tratamento Corticoide (Prednisona, podendo ser associado com Ciclofosfamida em formas graves) 5.1.4 Nefropatia Membranosa Homens, brancos de 30-50a (Principalcausa de SN em idosos) 2ª forma mais comum em adultos Formas Primária (idiopática) Secundária (Neoplasias; Nefrite Lúpica Classe V; Hepatite B; Malária; IECA; Sais de Ouro; Penicilamina) Quadro Clínico Sindrome nefrótica insidiosa (Proteinúria, Edema Hipoalbuminemia, Hiperlipidemia, Lipidúria) Hematúria Microscópica (30% dos casos) Complemento normal Complicações Trombose da Veia Renal GNRP Na evolução da nefropatia membranosa, 1/3 tem doença renal terminal (10 a 15 anos), 1/3 remissão espontânea e 1/3 proteinúria e função renal estável ou declínio lento Fatores de risco para progressão: Nível elevado de creatinina (>1,4mg/dL); Hipertensão; Fibrose tubulointersticial extensa na biópsia; Proteinúria grave (>8g/d); Sexo masculino Diagnóstico Biópsia Achado histológico: Espessamento da alça capilar em microscopia óptica e Apagamento dos processos podocitários em microscopia eletrônica Tratamento Conduta Expectante em Casos Leves Corticosteroides (Prednisona) + Imunossupressores (Ciclofosfamida) 5.1.5 Glomerulonefrite Membranoproliferativa Mais comum em crianças e adultos jovens Constitui uma descrição patológica e não é uma doença específica Formas Primária (Idiopática) GNRM Tipo I (mais comum) Depósitos imunes subendoteliais e mesangiais Consumo de Complemento C3 e C4 e Imunoglobulinas GNRM Tipo II Associado ao fator nefrítico, sem deposição de imunoglobulinas, apenas de C3 GNRM Tipo III Achados da GNMP tipo I e da nefropatia membranosa Hipocomplementenemia infrequente (quando presente, C4 normal) Secundária (Nefrite Lúpica Classe IV; Crioglobulinemia; HCV) Quadro Clínico Sd. Nefrótica Pura; Sd. Nefrítica Pura; Sd.Nefrótica+Sd.Nefrítica Complemento baixo (por mais de 8 semanas) “MesangioCAIpilar” – “CAI o complemento” “POH” – “P”roteinúria; “O”ligúria; “H”ematúria Complicação Trombose da Veia Renal Diagnóstico Biópsia GABRIEL GALEAZZI 7 Achado histológico: Expansão mesangial/Duplocontorno (Proliferação mesangial – Aumento da celularidade) Tratamento Corticoide (Prednisona) iECA e Estatina Antiviral (caso for secundária à HCV) 5.2 Sd. Nefróticas Secundárias 5.2.1 Nefropatia Diabética 1ª ou 2ª Causa de IRC no Mundo O risco individual de cada tipo de diabetes é idêntico (40%) Fatores de Risco Afrodescendentes Grau de Hiperglicemia Hipertensão Dislipidemia Tabagismo História Familiar Fases Evolutivas Fase I – Hiperfiltração Achado histológico: Espessamento da MBG; Hipertrofia glomerular e tubular; Rins aumentados Fase II – Microalbuminúria (Nefropatia Diabética Insipiente) – Associação com dç Cardiovascular Urina de 24h com Albuminúria de 30- 300mg/d Razão Albumina/Creatinina > 30mg/g Achado histológico: Expansão acelular da matriz mesangial Fase III – Proteinúria (Lesão Renal Diabética Declarada) Urina de 24h com Macroalbuminúria > 300mg/d HAS; Edema; Retinopatia Achado histológico: Expansão do mesângio com colapso e esclerose. Padrão Focal (Glomeruloesclerose Nodular – Kimmelstiel- Wilson) e Padrão Difuso (Glomeruloesclerose Difusa) Tratamento Controle Rigoroso da Glicemia (Hb1ac < 7%) iECA ou BRA-II Controle Rigoroso da PA 5.2.2 Nefroesclerose Hipertensiva Nefroesclerose Benigna Tem um padrão de GEFS Quadro Clínico Hipertrofia Ventricular Esquerda Retinopatia graus I ou II Proteinúria (média 500mg/24h) Leve redução do tamanho renal Diagnóstico Biópsia Achado histológico: Hipertrofia da Camada Média, Arterioloesclerose Hialina Tratamento Controle dos níveis pressóricos Nefroesclerose Maligna Sd. de Hipertensão Acelerada-Maligna Quadro Clínico PAD>120-130mmHg/PAS>200-220mmHg Retinopatia graus III ou IV EAP Hipertensivo Encefalopatia Hipertensiva Hematúria, Cilindros Hemáticos Proteinúria IRA Achado histológico: Necrose fibrinoide e Arterioloesclerose hiperplásica 5.2.3 Nefropatia pelo HIV Ocorre principalmente em Homens e Afrodescentens, Usuários de Drogas e Baixo CD4 Quadro Clínico Apresenta um padrão de GEFS e GEF Colapsante Rins em estágio terminal em 1-4 meses IRC com rins aumentados de tamanho 5.2.4 Amiloidose Renal Amiloidose primária (AL) ou Inflamação Crônica (AA) Quadro clínico Sd. Nefrótica com Proteinúria Intensa Trombose de Veia renal IRC com rins de tamanho aumentado Diagnóstico Biópsia com Método de Coloração Vermelho Congo Achados histológicos: Depósitos das “fibrilas amiloides” 6. Doenças Glomerulares Trombóticas Caracterizam-se pelo acúmulo de fibrina no interior dos capilares glomerulares. A obstrução resultante do fluxo glomerular pode levar à perda aguda da função renal, havendo oligúria e retenção azotêmica 6.1. Síndrome Hemolítico Urêmica (SHU) Predomina na faixa etária <2a Quadro se inicia em cerca de 3 dias após um episódio de gastroenterite invasiva, com diarreia sanguinolenta, sendo o agente etiológico mais comum o Escherichia coli entero-hemorrágico cepa 0157:H7 (produz verotoxina) e também a Shigella Algum fator desencadeado pela verotoxina provoca uma hiperativação plaquetária e do sistema de coagulação, culminando em acúmulo de plaquetas e fibrina no interior das alças capilares glomerulares, obstruindo o fluxo glomerular O consumo excessivo de plaquetas leva à trombocitopenia e a destruição mecânica das hemácias leva à anemia hemolítica microangiopática Tríade Clínica IRA oligúrica Trombocitopenia Anemia hemolítica microangiopática Tratamento Suporte/Diálise
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