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1 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Suporte Avançado de Vida (SAV) Introdução Anualmente, milhares de pessoas são vítimas de parada cardiorrespiratória (PCR) no mundo. De modo que cerca de 70% dos casos são extra-hospitalares e 80% se apresentam como uma fibrilação ventricular (FV) ou taquicardia ventricular sem pulso (TVsp). Definição: A PCR é a ausência de atividade mecânica cardíaca, que é confirmada pela ausência de pulso detectável, paciente não reativo e apneia ou respiração agônica e ofegante. O Suporte avançado de vida (ACLS) constitui uma abordagem ordenada para prestar cuidados de emergência avançada a um paciente que apresenta um problema cardíaco e envolve: - Ressuscitação cardiopulmonar (RCP) de alta qualidade e precocemente; - Desfibrilação; - Dispositivos de via aérea avançados e oxigênio; - Acesso venoso e drogas; - Dispositivos de compressão mecânica; - Dispositivos de oxigenação por membrana corpórea. Objetivos do Suporto avançado de vida (SAV): Os principais objetivos são: - Direcionar ou realizar avaliação inicial do paciente; - Identificar barreiras comuns a RCP eficaz; - Identificar as ações que podem ser tomada para superá-las. Importância da equipe no SAV Para prestar um atendimento de qualidade e eficaz a vitima em PCR a equipe precisa ter funções bem estabelecidas e habilidades que vão além do conhecimento técnico. Toda equipe tem um líder, cujo papel é: - Organizar o atendimento e coordenar o grupo; - Monitorizar a atuação de cada membro em cada função e dá suporte; - Ter postura adequada, fala clara e objetiva. Já os membros devem: - Ter clareza de suas atribuições; - Estar preparados para cumprir com êxito suas responsabilidades; - Conhecer os algoritmos do atendimento; - Ter compromisso com o êxito. Elementos importantes em equipe: - Respeito mútuo; - Comunicação em alça fechada: confirmar a orientação, repetindo-a em voz alta; - Uso de mensagens claras; - Funções e responsabilidades bem definidas; - Reconhecer limitações; - Resumir a situação e reavaliar o atendimento; - Debrifing. Fisiologia da PCR A PCR pode ser dividida em 3 fases: elétrica, hemodinâmica e metabólica ou ainda em 4 fases: pré- parada, sem fluxo, fluxo lento e pós-ressuscitação. Essas fases se referem à progressão do paciente quanto aos cuidados que devem ser instituídos. - Fase elétrica: período inicial da PCR, correspondendo aos 4-5 minutos iniciais; Manejo: uso de desfibrilação imediata e RCP de alta qualidade. - Fase hemodinâmica: período de 4-10 minutos após PCR. Representa a fase de depleção dos substratos para um adequado metabolismo. Manejo: desfibrilação e RCP de alta qualidade. - Fase metabólica: período após 10 minutos de PCR, e é representada pela acidose e disfunção celular grave. Manejo: o tratamento é primariamente baseado em cuidados pós-parada cardíaca. Já na outra classificação temos: - Fase pré-parada: é o período prévio à parada. Manejo: focar em identificar, antecipar e manejar os fatores que podem levar a PCR. - Fase sem fluxo: é o momento de parada cardíaca não tratada. 2 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Manejo: início imediato do SBV após reconhecimento de PCR. - Fase de fluxo lento: início da ressuscitação cardiopulmonar. Manejo: realização de compressões torácicas de elevada qualidade para otimizar a perfusão cardíaca e cerebral. - Fase pós-ressuscitação: representa a recuperação de circulação espontânea. Manejo: identificar e tratar a causa da parada, preservando as funções neurológicas, perfusão e função dos órgãos-alvos. Ritmos Com a chegada da equipe de SAV e início do protocolo, torna-se imprescindível determinar o ritmo de parada, podendo estes ser chocáveis ou não chocáveis. - Chocável: FV: no ECG ausência de onda P, de complexo QRS; TV: No ECG ausência de onda P e vários QRS. - Não chocáveis: Assistolia: no ECG linha reta; AESP: no ECG há um ritmo organizado sem pulso. OBS: Assistolia: é o ritmo de pior prognóstico. Quando identificada, o socorrista deve lembrar do mnemônico CAGADA: checar os cabos, aumentar o ganho (é como se fosse um zoom no traçado do eletro) e mudar derivação do ECG (colocar a pá do ápice e colocar em D1 abaixo da clavícula, se continuar uma linha reta significa que é assistolia realmente). Medicações Adrenalina: Deve ser administrada em qualquer PCR, sendo feita após o segundo choque. - Dose: 1 mg, IV em bolus; - Repetir a cada 3-5 minutos, não tendo limite de dose. - Fazer flushing de 20 mL de soro fisiológico + elevar o membro do paciente. Amiodarona: Administrada apenas nos ritmos chocáveis, ou seja, FV e TV, sendo feito após o terceiro choque. - Primeira dose: 300 mg, IV em bolus; - Segunda dose: 150 mg, IV, em bolus; - Repetir a cada 3-5 minutos, tendo dose máxima de 450 mg; - Fazer flushing de 20 mL de soro fisiológico + elevar o membro do paciente. Uma alternativa à amiodarona é Lidocaína. - Primeira dose: 1-1,5 mg/kg; - Segunda dose: 0,5-0,75 mg/kg. Causas da PCR Se forem identificadas causas reversíveis durante o manejo da PCR, deve-se fazer o possível para reverte- las, principalmente se o ritmo não for chocável. 5 H’s Tratame nto 5 T’s Tratamento Hipóxia IOT Tórax hipertensivo Descompressão/Dr enagem Hipovolemia Ringer ou Soro Tamponame nto cardiaco* Pericardiocentese Hidrogênio (acidose) Bicarbo nato de sódio Tromboemb olismo pulmonar (TEP) Trombólise Hipotermia Aquece r o pacient e Tóxico Antídoto Hipo/hiperca lemia Repor K/ Glucon ato de cálcio (estabiliz ar a membra na) Trombo em coronária (IAM) Fazer RCP e mandar para hemodinâmica *OBS: Único sinal será a estase de jugular, uma vez que que o paciente está parado e não tem hipotensão e nem bulhas abafadas. Manejo da PCR 3 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Inicialmente, quando se identifica ou suspeita-se de uma PCR, o manejo inicia com o suporte básico de vida (SBV), assim deve-se: Passo a passo: - Verificar se o local é seguro; - Avaliar a responsividade da vítima, se local seguro; Se o paciente irresponsivo, sem pulso e sem respiração: CABD. - Acionar o SAMU ou carrinho de parada; - Checar pulso e respiração: pulso central e ipsilateral e respiração pela elevação do tórax; - Iniciar RCP de qualidade em local rígido (existem pranchas para deixar a superfície mais rígida) e a ventilação deve estar ligada a uma fonte de oxigênio (30x2); - Desfibrilação precoce com identificação do ritmo e MOVE; Se FV ou TV sem pulso: chocar, primeiramente pedindo para todos se afastarem; Continuar as compressões nos próximos 2 minutos e garantir que as funções tenham sido cumpridas; Após 2 minutos do 1º choque: analisar o ritmo novamente. Se o ritmo chocável: chocar novamente, pedindo para todos se afastarem e continuar as compressões torácicas nos próximos 2 minutos; Se ritmo não chocável: realizar o protocolo CAGADA e compressões. Além disso, já pode administrar 1 mg de epinefrina a cada 3-5 minutos ou seja, ciclo sim, ciclo não + Soro + elevar o membro e identificar a causa reversível; Após 2 minutos do 2º choque: analisar ritmo novamente. Se o ritmo chocável: chocar novamente pedindo para todos se afastarem e iniciando as drogas vasoativas (1 mg de epinefrina a cada 3-5 minutos ou seja, ciclo sim, ciclo não) + soro + elevar o membro e considerar VA avançada; Se ritmo não chocável: realizar o protocolo CAGADA, compressões e começar a pensar nas causas reversíveis e se não fez Epinefrina no 1º choque, fazer agora + soro + elevar o membro. Continuar as compressões torácicas nos próximos 2 minutos; Após 2 minutos do 3º choque: analisar o ritmo novamente; Se ritmo chocável: chocar pedindo para todos se afastarem e optar pela próxima droga vasoativa (300 mg de Amiodarona ou Lidocaína 1-1,5 mg/kg em bolus) + soro + elevar o membro; Se ritmo não chocável: realizar o protocolo CAGADA, compressões e começar a pensar nas causas reversíveis; Continuar as compressões nos próximos 2 minutos; 2 minutos após o 4º choque: analisar ritmo novamente: Se ritmo chocável: chocar pedindo para todos se afastarem e administrar 1 mg de epinefrina + soro + elevar o membro; Se ritmo não chocável: realizar o protocolo CAGADA, compressões e começar a pensar nas causas reversíveis. Continuar as compressões torácicas nos próximos 2 minutos, administrar 150 mg de Amiodarona em bolus + soro + elevar o membro (se FV/TV). OBS: A partir daqui, as manobras serão repetidas, de modo que apenas a epinefrina continua sendo administrada ciclo sim, ciclo não (após 4º choque) e não dá mais Amiodarona, pois chegou a dose máxima. Paciente voltar: seguir para os cuidados pós- PCR. OBS: Dica: o paciente PArado ganha PÁ no peito (uma no lado direito do esterno e outra no ápice cardiaco), posterior aos SBV e o paciente que se move ganha MOV (monitor, oxigênio e acesso venoso). 1- M: monitorização: ECG e eletrodos; 2- O: oxigênio. Ventilação com AMBU (C e E): 30 compressões x 2 ventilações; Via aérea avançada (IOT): Não é prioridade intubar ele na PCR, de modo que no momento que for intubar tentar por no máximo 30 segundos; 3- V: acesso venoso para coletar sangue e medicações. OBS1: Dica: ABC primário do intra-hospitalar: responsividade chamar ajuda checar pulso e respiração compressão ventilação determinar o ritmo após a chegada da ajuda. Manutenção da Via aérea (VA) 4 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP É de extrema importância no manejo da PCR. - Abertura da VA: Jaw thrust (tração da mandíbula): se houver uma história de trauma associado, de modo que consiste em elevar a mandíbula para frente pelo ângulo da mandíbula; Chin lift (elevação do mento): pode ser feita se não houver história de trauma, de modo que consiste na elevação do queijo e extensão da cabeça. A via aérea avançada pode ser adquirida através: - Ventilação boca-boca ou boca-mascara; - Ventilação pela traqueostomia; - Ventilação por bolsa-válvula-mascara. Após adquirir a VA avançada, a ventilação deve ser feita 1x a cada 6-8 minutos, sem precisar sincronizar com as compressões torácicas. - Intubação orotraqueal: a indicação absoluta para IOT na PCR é ventilação ineficiente da bolsa-válvula- mascara. Caso seja decidido realiza-la, é preciso realizar sem interromper as compressões; - Mascara laríngea; - Tubo esfôgago-traqueal (combitubo). Considerações sobre o Manejo É importante checar os pontos fundamentais durante o manejo da PCR, sendo eles: Qualidade da RCP: Para as compressões serem efetivas, recomenda-se uma profundidade de 5-6 cm em adultos com frequência de 100-120 por minuto, minimizando as eventuais paradas. É recomendável que os socorristas se alternem a cada 5 ciclos ou 2 minutos nas posições de compressão e ventilação. Para finalizar, recomenda-se fazer uma monitorização da vitima com a capnografia de onda, procurando manter uma PET CO2 >10 mmHg e avaliação da pressão intra-arterial, mantendo a diastólica > 20 mmHg. Possibilidade de VA avançada: Deve-se avaliar a necessidade e os benefícios da IOT ou VA avançada supraglótica. Se for instalada, deve-se manter a regularidade das ventilações, 10 ventilações por minuto, sem interromper as compressões torácicas e na hora da ausculta parar as compressões. Além disso, é importante continuar a monitorização da vítima através da capnografia de onda ou capnometria, observando a eficácia da RCP. Energia do choque: Deve-se optar corretamente entre o bifásico e monofásico: - Bifásico (120-200 J): utilizando, se houver dúvida, a carga máxima, mantendo a carga equivalente em todas as desfibrilações; - Monofásico (360 J): utilizando a mesma carga em todas as desfibrilações. Terapia farmacológica: - Adrenalina/epinefrina: aplicada a cada 3-5 minutos (ciclo sim, ciclo não) em dose de 1 mg, IV, em bolus; - Amiodarona: aplicada no máximo 2 doses, IV em bolus (1ª 300 mg e 2ª 150 mg) e apenas nos ritmos chocáveis (FT e TV). Possível retorno espontâneo da circulação (RCE)/cuidados pós-PCR: Ocorre quando checamos o pulso do paciente e ele apresenta pulso. De modo que quem tem pulso tem pressão e tendo pressão, há oxigenação do pulmão. - Checar pressão. Nos casos em que a vítima retorna a rimo cardiaco organizado e espontâneo, é preciso checar uma série de fatores que ajudem a manter a estabilidade do quadro. Assim, os cuidados pós-PCR imprescindíveis são: - Reavaliar responsividade; - Reavaliar o ABC: Necessidade de intubação caso esteja irresponsivo; Ventilação: caso esteja irresponsivo. - Tratar hipotensão, caso esteja hipotenso: deve manter a PAs > 90 e PAM >65 mmHg. 5 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Com soro fisiológico a 0,9% ou Ringer lactato Se a ausculta estiver limpa; Drogas vasoativas: noradrenalina ou dopamina quando há creptos pulmonares. - Manter a temperatura entre 32-36º C por pelo menos 24 horas, evitando febre após este controle; - Otimização da hemodinâmica e ventilação: Saturação de O2: 92-98%; PACO2: 40-45 mmHg; PAM >65 mmHg e PAs>90 mmHg; HGT: 145-165 mg/dL. - Considerar administração de betabloqueadores e Lidocaína; - Exames: ECG: com 12 derivações; Exames laboratoriais: enzimas, eletrólitos; Radiografia de tórax; Capnografia; Hemogasometria; Exame físico direcionado. - Intervenção coronária percutânea se suspeita de IAM; - Tratamento e prognóstico neurológico. TC de crânio nas primeiras 24 horas; RM de crânio: 48-72 horas; Eletroencefalograma; Avaliação neurológica detalhada; - Providenciar UTI; - Para o tratamento, deve ser feita uma consulta com especialista para checar e tratar especificamente a causa da PCR, assim como eventuais sequelas e déficits. Além disso, é preciso verificar acessos, sondas, drenos e outros procedimentos realizados para em seguida encaminhar para UTI, se for necessário, em vista de promover uma melhor estabilização hemodinâmica. Pontos importantes do ABCD Via aérea (A): - A VA está patente? - É indicado VA avançada? Na presença de FV e TV sem pulso, realizar a tentativa após 2º choque e na presença de assistolia/AESP, realizando VA avançada precocemente; Materiais: EPI; Aspirador; Laringoscópio testado; Lâmina 4 ou 5 adultos testadas; Tubo testado e o tamanho; Fio guia metálico colocar no tubo; Estetoscópio: após a intubação, deve- se fazer ausculta em 5 pontos e acoplar o capnógrafo se possível; OBS: Intubação completa: Iremos insuflar o Cuff (com seringa de 20 mL) tira o fio-guia conecta AMBU checar a intubação com estetoscópio (ausculta região epigástrica, se tiver negativo, está no local adequado, ausculto base esquerda, e não ouço nada, significa que está seletivo, então puxo um pouco tubo e depois ausculto a base direita, ápice esquerdo, ápice direito) compressão caso esteja no local adequado fixar o tubo e instalar o capnógrafo. 6 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Ventilação: AMBU com mascara e reservatório de O2 a 15 L/min. A RCP não para e deve-se fazer a VA após a desfibrilação; Após acesso aéreo avançado: 100-120 compressões por minutos. A ventilação no SAV é realizada de forma que seja feita 1 ventilação a cada 6 segundos, totalizando 10 ventilações por minuto. Respiração (B): - Ventilação adequada: há expansão torácica; - Saturação não precisa ser monitorada, uma vez que opaciente não tem pulso. Circulação (C): - O foco é resolver os 5 H’s e 5T’s; - Compressões eficazes: O capnógrago é uma boa forma de avaliação; Além disso, se PAD < 20 mmHg (monitorização invasiva da PA se possível) e melhorar a RCP; - Desfibrilação ou cardioversão: Se o paciente estiver morto, iremos realizar a desfibrilação; Se o paciente estiver vivo: cardioversão. - Avaliar o ritmo; - Acesso Venoso para infusão de drogas: Primeira opção: acesso venoso periférico (antecubital com jelco 16 ou acesso venoso central). Deve-se fazer em bolus de 20 mL de fluido e elevar a extremidade 10-20 segundos. Se não der certo, partir para veia jugular externa; Segunda opção: intraósseo: tíbia (2 cm abaixo da tuberosidade da tíbia) ou esterno; Terceira opção: veia central; Quarta opção: via endotraqueal. - Drogas: VANEL Vasopressiva: vasoconstrictor periférico que aumenta a PA; Atropina: antiarrítmico para aumentar FC: o ACLS não recomenda mais; Narcan ou Naloxona: opiáceo antagonista; Epinefrina: vasopressor adrenérgico: aumenta PA e FC; Lidocaína: antiarrítmico para arritmias ventriculares. Diagnósticos diferenciais (D): - Avaliar o porquê o paciente desenvolveu sintomas de parada; -Avaliar se há uma causa reversível que possa ser tratada. 7 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP RESUMINDO