Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ana Júlia Cardoso – T69 DEFINIÇÃO Anemia é a diminuição do número de eritrócitos e/ou hemoglobina em que os valores de Hb e/ou Ht encontram-se abaixo do percentil 5 ou inferior a -2DP. Na infância, as mais comuns são: • Anemia ferropriva (principal causa) • Anemia megaloblástica • Talassemias • Anemia falciforme Causa mais comum na faixa pediátrica: carência de ferro e/ou outros micronutrientes, que pode se dar pela dificuldade de acesso a uma alimentação balanceada, parasitoses e o próprio crescimento. As três principais deficiências são: ferropenia, deficiências de B12 e folato. O ferro é importante para habilidades cognitivas, comportamentais, linguagem, capacidades psicomotoras e emocionais das crianças. EPIDEMIOLOGIA A anemia se apresenta como o problema nutricional de maior importância no mundo, onde no Brasil, uma em três crianças sofre de anemia, mas tendo uma prevalência de 53% no norte e nordeste. Os mais acometidos são os menores de 3 anos e as gestantes. Apresentou discreta melhora devido ao aleitamento materno, fórmulas enriquecidas, melhoria do acesso a fontes alimentares, fortalecimento/enriquecimento de alimentos, campanhas educativas e modificações ambientais. FATORES PREDISPONENTES • Aporte inadequado de ferro na dieta o Desmame precoce, uso prolongado de leite como única fonte de alimento, uso de alimentos pobres em ferro. • Crescimento: acelerado nos dois primeiros anos de vida e na puberdade, mais acentuado nos prematuros e PIG (< 2000g). No crescimento existe aumento na produção de glóbulos vermelhos e uso de ferro para composição da massa muscular. • Perdas sanguíneas: parasitoses, má absorção intestinal, alergia a proteína do leite. FATORES DE RISCO Baixa reserva materna: gestações múltiplas com pouco intervalo entre elas, dieta materna deficiente em ferro, perdas sanguíneas, não suplementação de ferro na gravidez, lactação. METABOLISMO DO FERRO O ferro é o metal mais presente no corpo humano. As principais fontes de ferro são o heme (origem animal) e o não-heme (vegetal ou inorgânico). Ana Júlia Cardoso – T69 • 70% do ferro tem papel funcional: presente na hemoglobina, mioglobina e enzimas intracelulares. • 30% do ferro se apresenta na forma de reserva: ferritina (reserva intracelular) e hemossiderina (reserva hepática). Quem faz o transporte de um local de reserva para um local de função é a transferrina. • A hepicidina é o principal regulador da absorção de ferro e regula a expressão da ferroportina. Essa regulação ocorre através do mecanismo de turnover ou feedback negativo. • A ferroportina regula a transferência de ferro para o plasma. A ligação hepcidina + ferroportina induz endocitose e proteólise de ferroportina, reduzindo sua presença e a exportação do ferro das células, preservando os depósitos de ferro. O ferro heme tem digestão/absorção facilitada através da enzima digestiva. Enquanto o ferro não heme tem sua absorção mais trabalhosa, precisando contar com uma proteína carreadora. Por isso dar preferência ao ferro heme. QUADRO CLÍNICO Na maioria das vezes o diagnóstico é difícil ou acontece tardiamente, pois a anemia tem um quadro muito pobre e se apresenta assintomática ou com poucos sintomas (oligoassintomática). Sintomas mais sugestivos: • Palidez, apatia, adinamia, dispneia, fraqueza, fadiga crônica, inapetência, perversão do apetite, geofagia, infecções de repetição, sopro cardíaco, esplenomegalia. • Déficit no desenvolvimento psicomotor e função cognitiva desde o pré-natal são indicativos de anemia ferropriva. • Queda dos percentis de peso e estatura • Maior suscetibilidade às infecções (imunidade celular ruim e capacidade bactericida dos neutrófilos diminuída). • Maior predisposição a cáries dentárias DIAGNÓSTICO Ana Júlia Cardoso – T69 1ºEstágio Depleção das reservas: • Menores de 5 anos: ferritina sérica < 12 mcg/dl • Entre 5 e 12 anos: ferritina sérica < 15 mcg/dl (o ideal é acima de 30) 2 Estágio Deficiência de ferro: • Diminuição de ferro sérico (< 30 mg/dl) • Aumento da capacidade total de ligação da transferrina • Diminuição da saturação de transferrina. 3 Estágio Anemia carencial ferropriva: • Diminuição de Hb e Ht • Diminuição do volume celular médio (VCM) • Diminuição da concentração celular de Hb (CHCM) • Aumento do RDW (mede diferença de tamanho da hemácia) (>14) Hemoglobina • 6 meses a 5 anos: Hb < 11 g/dl e Ht < 33% • 5 a 11 anos: Hb < 11,5 g/dl e Ht < 34% Ferritina • 30 mcg/dl – adequado • 15 a 30 mcg/dl – suplementação com ferro e reavaliação • < 15 mcg/dl – deficiência grave Obs: a ferritina também é um marcador inflamatório, então caso se o PCR estiver alto e a ferritina normal não significa que a criança não tenha anemia, pois ela pode ter atingido valores normais justamente por conta da inflamação. ADULTO X CRIANÇA Momentos que a anemia pode ocorrer dentro da fisiologia e sem repercussões clínicas: Ana Júlia Cardoso – T69 • Após o nascimento: RN tem estoque de ferro aumentado pois eles precisam de uma reserva de ferro maior no início da vida para garantir seu metabolismo e um boa oxigenação de O2 após o campleamento do cordão. Por isso Hb e Ht pode estar aumentado no nascimento. • De 6 a 8 semanas (4 meses): os estoques de ferro vão diminuindo com o passar dos meses e, portanto, há uma queda no Hb e Ht durante os 4 primeiros meses de vida porque a eritropoiese vai sofrer amadurecimento com produção normal dessas células. Além disso, através da nutrição, ele também começa a receber ferro e não precisa estocar e já pode ter os valores normais de Hb e Ht. Então essa queda de Ht e Hb alto do RN para Hb e Ht compatível com a idade dentro dos 4 primeiros meses de vida é chamada de ANEMIA FISIOLÓGICA. • Entre 4 meses e 1 ano de vida: passa a ter fator aumentado para anemias. Nessa faixa etária eles triplicam o peso, portanto, contam com necessidade maior de ferro para o crescimento, e assim apresentam uma eritropoiese aumentada, podendo observar um quadro de anemia. Dessa forma, em momentos em que o crescimento se dá de forma acelerada, podemos observar essa anemia. TRIAGEM DIAGNÓSTICA • Recomenda-se a triagem diagnóstica a partir dos 12 meses por meio de hemograma completo, contagem de reticulócitos e ferritina, repetindo-se essa dosagem após seis meses, e anualmente entre 2 e 5 anos. • Recomenda-se antes dos 6 meses de idade para recém-nascidos prematuros e de baixo peso ao nascer. PROFILAXIA • Aconselhamento nutricional: aleitamento materno exclusivo até 6 meses de vida e complementado até 2 anos ou mais; contraindicação do uso do leite de vaca integral na alimentação de crianças menores de 1 ano e consumo de no máx 700 ml/dia para os maiores de 1 ano; fórmulas lácteas fortificadas com ferro até 1 ano em vez de leite de vaca quando não possível o aleitamento materno; utilização de carne na alimentação complementar desde o início (70 a 100g/dia) por ser excelente fonte de ferro de elevada biodisponibilidade; cereais/farinhas enriquecidas com ferro e ácido fólico entre 6 meses e 1 ano; incluir facilitadores da absorção de Fe na dieta entre 6 meses e 1 ano (suco de laranja por exemplo). • Suplementação de ferro: o Entre 6 e 24 meses de vida: 1mg/kg/dia de ferro elementar; Iniciar no 3 mês nos pacientes do grupo de risco. o Gestantes a partir da 20 semana em associação com 5 mg/dia de ácido fólico; o Lactentes até 3 meses pós-parto PROFILAXIA PARA RÉCEM-NASCIDOS Adultos: 95% do ferro se mantém através do mecanismo de turnover enquanto na criança 30% do ferro vem da dieta Ana Júlia Cardoso – T69 TRATAMENTO • Dose diária preconizada: o 3 a 5 mg/kg/dia (máximo 200 mg/dia), 2 a 3 vezes ao dia, 30 min antes das refeições, por 3 a 6 meses (2 a 3 meses após o desaparecimento da anemia). • Primeira reavaliaçãocom dosagem de hemoglobina após 4 semanas. • Essa dosagem é distribuída pois o ferro não é palatável, então é preciso que a criança tolere a medicação O ferro elementar é encontrado nas seguintes apresentações: 1. Sulfato ferroso: a. 1 gota = 1 mg de ferro elementar b. 1 comprimido = 40mg de ferro elementar 2. Hidróxido de ferro polimaltosado (melhor sabor, porém maior custo): a. 1 gota = 2,5 mg de ferro elementar b. Forma injetável – indicada para pacientes com má absorção severa, intolerância e pacientes que não cooperam. 3. Transfusão DIFICULDADES • Principais causas de falha: má adesão ao tratamento devido ao sabor ou efeitos adversos do TGI, outras anemias associadas, diagnóstico errado, dose inadequada de ferro elementar, perdas sanguíneas persistentes. • Efeitos adversos: cor preta das fezes, manchas escuras nos dentes e distúrbios gastrintestinais. Ana Júlia Cardoso – T69
Compartilhar