Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE CEUMA PRÁTICA SIMULADA CONSTITUCIONAL AÇÃO POPULAR (AP) Prof. Me. Edson Barbosa de Miranda Netto Ação Popular O que é? Remédio / Ação Constitucional. Visa proteger determinados direitos difusos e coletivos patrimônio público, moralidade administrativa, meio ambiente e patrimônio histórico e cultural. Pode ser proposta por qualquer cidadão brasileiro. Ação Popular Art. 5º da CF: “LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência”. Lei n. 4.717/1965. Cabimento/objeto e objetivo A Ação Popular pode ser manuseada para proteger os seguintes bens jurídicos: Patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe. Moralidade administrativa. Meio ambiente. Patrimônio histórico e cultural. O objetivo da Ação Popular será, em tutela de urgência, suspender os atos lesivos a esses bens e, no mérito, pedir a sua anulação definitiva e o ressarcimento ao Erário. Legitimidade Ativa Qualquer cidadão brasileiro possui legitimidade ativa para propor uma AP. Conceito de cidadão brasileiro: Brasileiro nato ou naturalizado devidamente alistado na Justiça Eleitoral e em gozo de seus direitos políticos. Concepção mais estrita de cidadão (eleitoral): no Brasil, há a obrigatoriedade de voto de 18 a 70 anos de idade. A prova da cidadania é feita mediante apresentação do título de eleitor (art. 1º, §3º, da Lei n. 4.717/65). Legitimidade Ativa Também podem propor ação popular, desde que devidamente alistados: Maiores de 70 anos. Menores entre 16 e 18 anos (se necessitam de assistência ou não, há divergência doutrinária). Analfabetos. Portugueses equiparados: art. 12 da CF: “§1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.” Legitimidade Ativa Quem fica fora do conceito de cidadão brasileiro para fins de propositura de AP? Inalistáveis (Estrangeiros e Conscritos): não podem se alistar na Justiça Eleitoral. Inalistados: podem, mas ainda não se alistaram na Justiça Eleitoral. Pessoas jurídicas. Menores de 16 anos. Brasileiros com direitos políticos suspensos ou perdidos. Ministério Público: atuará apenas como fiscal da ordem jurídica. Legitimidade Passiva Lei n. 4.717/1965, art. 6º: “A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.” Legitimidade Passiva Há um litisconsórcio passivo necessário. Portanto, a Ação Popular deve ser proposta em face de TODOS os envolvidos: Pessoas físicas: agentes públicos responsáveis pelo ato, beneficiários do ato lesivo, agentes públicos que se omitiram etc. Pessoas jurídicas: pessoas jurídicas públicas e privadas e entidades mencionadas no art. 1º da Lei n. 4.717/65. É comum, em uma Ação Popular, haver 5 ou 6 réus por exemplo. Honorários advocatícios e gratuidade Art. 12, da Lei 4717/65: Pede-se a condenação em honorários advocatícios e em custas processuais. A Ação Popular geralmente envolve a isenção de custas judiciais e do ônus da sucumbência, mas isso se aplica apenas ao AUTOR, não aos RÉUS. Não há pedido de Justiça Gratuita. Produção de provas e Participação do MP Realiza-se normalmente o pedido de produção de provas. Deve-se observar o rito ordinário da ação popular, previsto no art. 7° da Lei 4.717/65. O MP deverá ser chamado a atuar como fiscal da ordem jurídica. Caso o autor desista da Ação Popular ou não promova a execução da decisão condenatória transitada em julgado, o MP deverá dar prosseguimento ao feito (arts. 9º e 16 da Lei n. 4.717/65). Tutela de Urgência A tutela de urgência é admitida nos termos do art. 5°, §4°, da Lei 4717/1965 e do art. 300 do CPC/2015. Pode possuir natureza de tutela cautelar ou de tutela antecipada a depender do caso. Deve-se sempre comprovar os dois requisitos para sua concessão: Probabilidade do direito ou fumus boni iuris: argumentar em torno das provas do caso (geralmente documentais). Perigo de dano, risco ao resultado útil do processo ou periculum in mora. Competência e Endereçamento Art. 5°, caput, da Lei 4717/1965. Leva-se em consideração o local de origem do ato ou omissão a serem impugnados. Regra geral: se o patrimônio lesado for da União, a competência será da 1ª instância da Justiça Federal, se estadual ou municipal, será da 1ª instância da Justiça Estadual. Não há foro por prerrogativa de função na Ação Popular. Valor da causa Será o valor do prejuízo total causado ou valor do ato impugnado por meio da AP. Por exemplo: se a AP for proposta para anular dois contratos administrativos de R$500.000,00 (meio milhão de reais) cada um, o valor da causa será de R$1.000.000,00 (um milhão de reais). Se não houver prejuízo material calculável, como no caso de lesão apenas à moralidade administrativa? O valor da causa será de R$1.000,00 (mil reais) para meros efeitos fiscais. Peça Profissional do XXXI Exame de Ordem Unificado Enunciado: Como parte das iniciativas de modernização que vêm sendo adotadas no plano urbanístico do Município Beta, bem sintetizadas no slogan “Beta rumo ao século XXII”, o prefeito municipal João determinou que sua assessoria realizasse estudos para a promoção de uma ampla reforma dos prédios em que estão instaladas as repartições públicas municipais. Esses prédios, localizados na região central do Município, formam um belo e importante conjunto arquitetônico do século XVIII, tendo sua importância no processo evolutivo da humanidade reconhecida por diversas organizações nacionais e internacionais, tanto que tombados. A partir desses estudos, foi escolhido o projeto apresentado por um renomado arquiteto modernista, que substituiria as fachadas originais de todos os prédios, as quais passariam a ser compostas por estruturas mesclando vidro e alumínio. Concluída a licitação, o Município Beta, representado pelo prefeito municipal, celebrou contrato administrativo com a sociedade empresária WW, que seria responsável pela realização das obras de reforma, o que foi divulgado em concorrida cerimônia. Peça Profissional do XXXI Exame de Ordem Unificado Enunciado: No dia seguinte à referida divulgação, Joana, cidadã brasileira, atuante líder comunitária e com seus direitos políticos em dia, formulou requerimento administrativo solicitando a anulação do contrato, o qual foi indeferido pelo prefeito municipal João, no mesmo dia em que apresentado, sob o argumento de que a modernização dos prédios indicados fora expressamente prevista na Lei municipal nº XX/2019, que determinara o rompimento com uma tradição que, ao ver da maioria dos munícipes, era responsável pelo atraso civilizatório do Município Beta. Muito preocupada com o início das obras, já que a primeira fase consistiria na demolição parcial das fachadas, de modo que pudessem receber os novos revestimentos, Joana procurou você, como advogado(a), para que elabore a petição inicial da medida judicial cabível, com o objetivo de preservar o patrimônio histórico e cultural descrito acima, evitando-se lesão a este importante conjunto arquitetônico.(5,0) Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere pontuação. Peça Profissional do XXXI Exame de Ordem Unificado Gabarito da OAB: A peça adequada nesta situação é a petição inicial de ação popular. A petição deve ser endereçada ao Juízo Cível da Comarca X ou ao Juízo de Fazenda Pública da Comarca X, que abranja a esfera territorial do Município Beta, já que os dados constantes do enunciado não permitem identificar a organização judiciária do local. O examinando deve indicar, na qualificação das partes, a autora Joana e, como demandados, João, prefeito do Município Beta, a sociedade empresária WW e o Município Beta. A legitimidade ativa de Joana decorre do fato de ser cidadã, conforme dispõe o Art. 5º, inciso LXXIII, da CRFB ou o Art. 1º, caput, da Lei nº 4.717/65. A legitimidade passiva do prefeito municipal João decorre do fato de ter firmado o contrato administrativo (Art. 6º, caput, da Lei nº 4.717/65); da sociedade empresária WW pelo fato de ter celebrado e ser beneficiária do contrato administrativo (Art. 6º, caput, da Lei nº 4.717/65) e a do Município Beta, por se almejar anular o contrato administrativo celebrado (Art. 6º, § 3º, da Lei nº 4.717/65). Peça Profissional do XXXI Exame de Ordem Unificado Gabarito da OAB: Como o ato é lesivo ao patrimônio histórico, é possível a declaração de sua nulidade via ação popular (Art. 5º, inciso LXXIII, da CRFB). O examinando deve indicar, no mérito, que a Lei Municipal nº XX/2019 é materialmente inconstitucional por afrontar o dever do Município de proteger os bens de valor histórico (Art. 23, inciso III, da CRFB OU o Art. 30, inciso IX, da CRFB), de impedir a sua descaracterização (Art. 23, inciso IV, da CRFB), sendo que o conjunto urbano de valor histórico, alcançado pelo contrato administrativo, integra o patrimônio cultural brasileiro (Art. 216, inciso V, da CRFB). A inconstitucionalidade da Lei Municipal nº XX/2019 deve ser reconhecida incidentalmente. Em consequência, o contrato administrativo celebrado é nulo, em razão da inobservância das normas constitucionais vigentes (Art. 2º, alínea c, e parágrafo único, alínea c, da Lei nº 4.717/65). Peça Profissional do XXXI Exame de Ordem Unificado Gabarito da OAB: O examinando deve requerer a concessão de provimento liminar, para impedir o início de execução do contrato administrativo, com a demolição parcial das fachadas, segundo o Art. 5º, § 4º, da Lei nº 4.717/65. O fumus boni iuris decorre da flagrante ofensa à ordem constitucional, o que acarreta a nulidade do ato, e o periculum in mora da iminência de serem causados danos ao patrimônio-histórico. O examinando deve formular o pedido de declaração de nulidade do contrato administrativo. O examinando ainda deve juntar aos autos o título de eleitor de Joana; atribuir valor à causa e datar e qualificar-se como advogado. Modelo genérico de AP AO JUÍZO DA __ VARA DA FAZENDA PÚBLICA ou CIVIL DA COMARCA... [ou] AO JUÍZO DA __ VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO... FULANO, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., inscrito no CPF sob n..., título de eleitor n..., com endereço eletrônico..., domiciliado e residente em ..., vem, por seu advogado (instrumento de mandato anexo), endereço... para fins do art. 77, V, do CPC, com fulcro no artigo 5°, LXXII, da Constituição Federal e na lei 4.717/65, impetrar a presente AÇÃO POPULAR COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA em face do ato praticado pelo agente público..., empresário..., empresa..., pessoa jurídica de direito público... [colocar as qualificações de todos os envolvidos], pelos fatos e fundamentos a seguir exposto: Modelo genérico de AP OBS: COLOCAR TODAS AS PESSOAS ENVOLVIDAS NO POLO PASSIVO: AGENTES PÚBLICOS, PARENTES, EMPRESÁRIOS, EMPRESAS, PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO ETC. I – DOS FATOS Narrar os fatos descritos no caso trabalhado, indicando os principais pontos. Não repita o enunciado do caso (se isso for feito, todo o tópico DOS FATOS será desconsiderado). Modelo genérico de AP II – DO CABIMENTO DA AÇAO POPULAR O art. 5º, LXXIII, da Constituição Federal, admite a impetração da ação popular, por qualquer cidadão, visando anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LXXIII. Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.” Dessa forma, no presente caso... [explicar como os dispositivos acima se enquadram no caso trabalhado]. Modelo genérico de AP III – DA LEGITIMIDADE ATIVA A presente ação popular foi proposta pelo cidadão..., que está em pleno gozo de seus direitos políticos. Conforme artigo 1º, §3º, da Lei n. 4.717/65 está legitimado para pleitear... [objeto da ação], vejamos: “Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos. [...] § 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda.” Desta forma, a autora é parte legítima para propor a presente demanda, uma vez que trata-se de cidadão que visa ...[objeto da ação]. Modelo genérico de AP IV – DA LEGITIMIDADE PASSIVA O art. 6º da Lei 4.717/1965 afirma o seguinte sobre os legitimados passivos da ação popular: Art. 6º A ação popular será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissão, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo. O que se entende é que os legitimados passivos são as pessoas que dão causa ao dano, a ilegalidade ou ilicitude dos atos praticados, os funcionários ou administradores que autorizaram, aprovaram, ratificaram, ou praticaram os atos acima aludidos e os beneficiários de tal ato, formando um litisconsórcio passivo necessário. Sendo assim, resta claro que... [explicar quem são os réus da demanda e como eles estão envolvidos]. Modelo genérico de AP V – DO MÉRITO A presente demanda se funda... OBS: Comentar as normas constitucionais e legais envolvidas no caso em questão, que podem falar sobre patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, moralidade administrativa, meio ambiente ou patrimônio histórico e cultural. Principaisartigos: art. 5º, LXXIII, e 37 da CF, Lei 4.717/65, Lei 8.666/93. Buscar outros. OBS: Argumentar como os fatos e as condutas descritas e atribuídas aos réus ferem as normas citadas, gerando a necessidade de responsabilização dos envolvidos. Modelo genérico de AP VI – DA TUTELA DE URGÊNCIA A concessão da medida liminar está prevista no art. 5°, §4º, da Lei n.º 4.717/65: Art. 5º Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer da ação, processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo com a organização judiciária de cada Estado, o for para as causas que interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município; §4º Na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato lesivo impugnado. A relevância do fundamento invocado ou fumus boni iuris reside nos argumentos fáticos e jurídicos acima expostos... [explicar como tal requisito está presente no caso trabalhado]. O periculum in mora, por sua vez, está consubstanciado uma vez que a demora do processo causará... [explicar como tal requisito está presente no caso trabalhado]. Portanto, requer-se a concessão da tutela de urgência para a suspensão do... [ato lesivo impugnado na petição]. Modelo genérico de AP VII – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS Pelo exposto, requer ao presente juízo: a) Que seja deferida a liminar, para suspender o ato lesivo..., conforme art. 5º, § 4º, da Lei 4.717/65, em face de estarem demonstrados os requisitos do periculum in mora e do fumus boni iuris. b) a citação dos réus nos endereços indicados, para, querendo, contestarem a presente ação, no prazo de 20 dias, sob pena de aplicação dos efeitos da revelia, nos termos do art. 7º, §2º, IV, da Lei 4.717/65. c) a intimação do representante do Ministério Público, conforme o art. 6º, §4º, da lei 4717/65. d) a procedência do pedido para... [colocar aqui o objeto almejado com a ação popular, como a anulação do ato lesivo], bem como o ressarcimento ao Erário dos danos causados. Modelo genérico de AP VII – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS e) a condenação dos Réus no pagamento das custas e demais despesas judiciais e extrajudiciais, bem como nos honorários advocatícios. f) a produção de todas as provas em direito admitidas, especialmente a documental. Dá-se à causa o valor de R$... (valor do prejuízo total causado ou valor do ato impugnado). [ou] Dá-se à causa o valor de R$1.000,00 para meros efeitos fiscais (quando não houver prejuízo material calculável). Nestes Termos, pede Deferimento. Local..., data... Advogado... OAB... OBRIGADO!