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2 Pneumonias adquiridas na comunidade 1. Definição de pneumonia · A pneumonia é um processo inflamatório infeccioso – vírus, bactérias e até fungos que vai acometer as vias aéreas terminais e o parênquima pulmonar. · O alvéolo com pneumonia vai ter exsudato inflamatório dentro, dificultando a ventilação. A perfusão continua adequada, mas a ventilação não – distúrbio entre ventilação/perfusão = distúrbio V/Q que leva aos sintomas, inclusive a hipoxia. · É um quadro agudo que acontece de horas até alguns dias, sendo que quanto mais precoce, mais grave é o caso. · A pneumonia da comunidade aparece antes das 48h DIH, se aparecer depois disso será a pneumonia hospitalar. 2. Epidemiologia · Acomete mais os extremos de idade – menores de 5 anos e maiores de 65 anos; · Homens; · Período de outono e inverno; · Principal causa de morte no mundo; · Terceira causa de morte no Brasil; 3. Etiologia · Ambulatório: pneumococo (S. pneumoniae), Mycoplasma, Chlamydophila, H. influenzae e vírus · Enfermaria: pneumococo (S. pneumoniae), Mycoplasma, Chlamydophila, H. influenzae e Legionella · UTI: pneumococo (S. pneumoniae), Legionella, Staphylococo, H. influenzae, bacilos Gram-negativos e vírus Atenção: se precisar chutar, chuta no pneumococo. 3.1 Particularidades 3.1.1 Atípicos · Mycoplasma: pega extremos de idade (criança e idoso). Paciente tem tosse seca, na otoscopia pode ter miringite bolhosa, pode ter anemia hemolítica, eritema multiforme (lesões em alvo) e pode fazer pneumonias em surtos (escolas, quarteis). · Legionella: pneumonia mais grave, que pode gerar hiponatremia pela SIADH, dor abdominal com alteração de transaminases, cefaleia e confusão mental. 4. Fisiopatologia · Microbioma pulmonar – o pulmão não é estéril, existem microrganismos das vias aéreas superiores nas vias aéreas inferiores, mas a defesa pulmonar mantem tudo em níveis baixos e controlados. · A pneumonia reflete a uma injuria na defesa do hospedeiro, exposição a microrganismos muito virulentos ou alta carga patogênica do microrganismo. · Mecanismo de contaminação: · O principal é a microaspiração de patógenos da orofaringe (da VA superior para a VA inferior, gerando o desequilíbrio). · Aspiração de conteúdo gástrico – após anestesia geral ou pessoa alcoolizada que vomita e faz broncoaspiração – Síndrome de Mendelson – faz uma pneumonite química e posteriormente pode ter uma pneumonia bacteriana. · Inação direta de gotículas – não é o principal · Via hematogênica – pacientes usuários de drogas ilícitas ou infecção a distância 5. Fatores de risco · AVC, convulsão, etilismo, imunodeficiência, acidemia, uremia, IC, neoplasia, pneumopatia estrutural, tabagismo e hipoxemia. 6. Quadro clínico · Tosse com expectoração (80%); · Dor torácica – principalmente com acometimento pleural; · Dispneia; · Sintomas constitucionais – febre, sudorese, prostração, mialgia e Delirium · No idoso: não tem febre e não tem tosse – mas se apresenta confuso, com quedas, sem comer e descompensação da doença de base. O principal sinal é a taquipneia e redução da expansão torácica. · Exame físico: · Taquipneia e diminuição da expansão · Aumento do frêmito toracovocal · Macicez ou submacicez a percussão · Estertores, roncos, MV reduzido e pectoriloquia (quando fala 33 bem baixo e ausculta de forma alta, mostrando que a propagação do som está alta). · Buscar os focos de infecção, sinais neurológicos. 7. Diagnóstico · Alteração respiratória – dispneia, dor torácica, expectoração. · Achado sistêmico; · Exame físico – alterações típicas · + exame de imagem alterado, principalmente RX. Encontra a opacidade típica com aerobroncograma compatível com PNM. 7.1 No idoso · Idoso prostrado, sem comer, desidratado – o raio x vai ter uma alteração pequena. · Fazer hidratação no paciente com soro e repetir o raio x – aparecimento das opacidades pulmonares. 7.2 Diagnóstico etiológico · Paciente ambulatorial: causada por pneumococo e agentes atípicos, não precisa fazer a busca ativa. · Enfermaria: pesquisar escarro, hemocultura e antígeno urinário (legionella e pneumococo). · UTI: escarro, hemocultura, antígeno urinário (L e P), aspirado e painel viral (co-infecção de vírus com bactéria). 7.3 Exames complementares 7.3.1 Radiografia de tórax PA · Ajuda no diagnóstico inicial do paciente · Indica a gravidade (focos de infecção). · Complicações (derrame pleural) · Diagnosticos diferenciais · Não é possível identificar a etiologia a partir da imagem. Imagem consolidativa atrás da silhueta cardiaca, por isso é importante pedir rx em mais de uma incidÊncia. Esse é o sinal da coluna – a coluna tem que ser branca em campos superiores e conforme vai descendo, ela vai ter menos opacidade, mas nesse caso tem uma opacidade borrando a coluna. · Imagem 1: consolidação clássica com a substituição do ar dos alvéolos – imagens opacas com apagamento dos vasos. O tamanho do pulmão permanece o mesmo e as cisuras estão na forma adequada. · Imagem 2: imagem menos típica. Opacidades acinares, algumas ficam mais confluentes mas não formam a consolidação = broncopneumonia. · Imagem 3: opacidades confluentes em campos superiores, densas, sugerindo escavação – tem que olhar pra história do paciente, isso é de tuberculose pulmonar. · Imagem 4: margens bem definidas, arredondados = neoplasias. 7.3.2 Ultrassonografia de tórax · Útil para a identificação inicial de uma consolidação. · Bom para identificar derrame pleural. · Ajuda a fazer a toracocentese. · Na imagem: broncogramas aéreos dinâmicos, que vai ajudar a procurar complicações. 7.3.3 Tomografia de tórax · Tem maior acurácia para o dx. Usado para diagnósticos diferenciais; · Bom para casos que tiverem complicações. · Importante em pacientes imunossuprimidos. 7.3.4 Proteína C reativa · Marcador inflamatório útil para avaliar a resposta ao tratamento. · Tem valor prognostico – se em 4 dias tiver uma queda de 50% quer dizer que o paciente está melhorando com o tratamento. 7.3.5 Procalcitonina · Produzida pelas células parenquimatosas em reposta as toxinas bacterianas, não eleva em pneumonias virais. · Quando estiver > 0,5 tem maior chance de ser pneumonia. · No final do tto (7 dias), se os valores < 90%, pode interromper. 7.3.6 Gasometria arterial · SpO2 < 90% - só faz nesses pacientes. 8. Estratificação de risco C – confusão mental U – ureia > 50mg/dL R – frequência respiratória ≥ 30 B – baixa pressão: PAs < 90 ou PAd ≤ 60 65 – idade ≥ 65 anos Para cada um que for positivo, dar 1 ponto e fazer a somatória. CURB 0-1 CURB 2 CURB 3-5 Baixo risco, mortalidade baixa. Tratamento ambulatorial. Risco moderado, realizar a internação. Risco grave, internação com indicação de UTI. 9. Critérios de internação 9.1 Critérios de internação na enfermaria · CURB ≥ 2; · COX – comorbidades descompensadas, SatO2 < 90% e RX alterado. · PSO – psicossocial (baixa cognição), condições socioeconômicas e via oral (impossibilidade de usar a medicação em casa. 9.2 Critérios de internação na UTI · Fatores de internação da enfermaria + · Critérios maiores: ventilação mecânica ou choque · Critérios menores: PAS < 90mmHg, FR > 30irpm, PaO2/FiO2 < 250, Ureia ≥ 50mg/dL, confusão, infiltrados multilobulares · 3 menores ou 1 maior = internação em UTI obrigatória 10. Tratamento 10.1 Tratamento ambulatorial – duração de 5 dias! · Paciente jovem, que vai conseguir usar os fármacos, sem comorbidades, sem contraindicação ou alergias: beta-lactâmico ou macrolídeo. · Paciente idoso, com comorbidades, uso de atb nos últimos 3 meses ou tem alta resistência a macrolideo = associação de beta-lactâmico + macrolídeo ou usar quinolona respiratória (levofloxacina) 10.2 Tratamento na enfermaria – duração do tratamento de 7 dias! · Associação de beta-lactâmico + macrolídeo (por causa da legionella) ou quinolona respiratória isolada. · Se excluir a legionella, pode tratar em monoterapia com beta-lactâmico. 10.3 Tratamento UTI – duração do tratamento é de 7 dias! · Beta-lactâmico + macrolídeo ou beta-lactâmico + quinolona respiratória· O tratamento precisa ser combinado, não fazer monoterapia. · Se o paciente tiver fator de risco para pseudomonas (DPOC com VEF1 baixa, bronquiectasia, fibrose cística, neutropenico, uso de corticoide recente, antibioticoterapia nos últimos 30 dias ou internação nos últimos 7 dias) precisa dar atb anti-pseudomonas: meropenem, tazosim, cefepime. 11. Prevenção · Vacinas: pneumocócica, influenza (principalmente nos extremos de idade). · Cessar tabagismo, etilismo, usuários de droga. · Em crianças com disfagia cuidar pra não broncoaspirar. Pâmela Martins Bueno – Pneumonias da comunidade
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