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PEB Governo Dutra e Jango_Trabalho

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
CURSO DE BACHARELADO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
DISCIPLINA DE POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA I
PROFª SANDRA APARECIDA CARDOZO
ALVES, Fernando (11521RIT032)
CARVALHO, Beatriz (11711RIT006)
CRUVINEL, Victória (11711RIT036)
SANTOS, Anna Clara (11711RIT007)
DO ALINHAMENTO AUTOMÁTICO À POLÍTICA EXTERNA INDEPENDENTE: UMA COMPARAÇÃO ENTRE OS GOVERNOS DUTRA E JANGO
UBERLÂNDIA
NOVEMBRO, 2019
INTRODUÇÃO
	A história da diplomacia brasileira foi marcada por diferentes visões de mundo, as quais culminaram em diferentes estratégias frente ao contexto internacional. No entanto, um traço comum para a análise de política externa ao longo do tempo, é a relação do Brasil com os Estados Unidos. Esta nem sempre se deu de maneira linear, havendo períodos de divergência e convergência dos interesses das duas nações. Mas, por outro lado, isso nem sempre se converteu em benefícios mútuos. Diante disso, o objetivo deste trabalho é analisar e compreender as vantagens e as desvantagens do posicionamento brasileiro em dois momentos extremos: o alinhamento automático do governo Dutra e a política externa independente do 
governo Jânio/Jango.
	Embora os dois governos em destaque sejam o aspecto central na proposta deste trabalho, faz-se importante avaliar a política externa do período entre eles, o qual compreende as gestões de Getúlio Vargas (seu segundo governo) e de Juscelino Kubitschek. Dessa forma, é possível refletir acerca das tendências (criadas ou rompidas) ao longo deste intervalo, no qual se escalou uma inversão da estratégia: de alinhamento automático para política externa independente.		
A POLÍTICA EXTERNA NO GOVERNO DUTRA
	Eurico Gaspar Dutra assumiu a presidência do Brasil em 31 de Janeiro de 1946, sucedendo José Linhares, um presidente provisório após o fim do Estado Novo de Getúlio Vargas. Liderando o país em um período de Guerra Fria, seu governo foi marcado por aproximação a setores conservadores e perseguição aos comunistas, que receberam votos consideráveis durante as eleições de 1945 e 1947. (CPDOC, 2017).
	No que tange sua política externa, o período ficou conceituado como “alinhamento sem recompensas”, um termo cunhado por Gerson Moura. Ao passo que, buscando obter mais ganhos, o Brasil se alinhou automaticamente aos Estados Unidos ao final da Segunda Guerra Mundial, a estratégia fracassou, daí a expressão “alinhamento sem recompensas”. (GOMES, 2019).
	Por sua vez, os EUA, além de divergirem da opinião brasileira em alguns aspectos, por exemplo a cooperação para o desenvolvimento, estavam muito mais interessados em construir relações mais fortes com a África, o Oriente e a Europa, visando um “sistema planetário de segurança”. O Brasil esperava receber tratamento especial do país por tê-lo apoiado e auxiliado durante a Guerra, mas, mediante o desinteresse estadunidense, só restou a frustração. Em compensação, em termos políticos e militares, Dutra e Truman, presidente dos EUA à época, possuíam pensamentos bastante próximos e coerentes, e a relação ficou marcada pela troca de visitas oficiais realizadas pelos líderes de Estado em 1947 e 1949. (CERVO; BUENO, 2002).
	Em 1947, no Rio de Janeiro, foi assinado o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), que visava inserir o sistema interamericano ao mundial e garantir a paz no hemisfério. Além disso, o Brasil rompeu oficialmente suas relações com a União Soviética, transferindo para a embaixada norte-americana seus interesses em Moscou. A embaixada da China e o consulado de Xangai também foram fechados, e Osvaldo Aranha, representante do Brasil na ONU durante a discussão sobre a admissão da China Popular à organização, apesar de pessoalmente preferir dar o voto à favor, seguiu o voto estadunidense: contra. (CERVO; BUENO, 2002).
	Mas o que levou, ultimamente, ao alinhamento automático brasileiro em relação aos Estados Unidos da América? Primeiramente, acredita-se que, independente de quem ocupasse a liderança do Palácio do Catete no pós-1945, a mesma postura seria adotada, não sendo uma proposta sustentada somente por Dutra. As mudanças internas e externas do período geraram um contexto em que se alinhar aos EUA era a única ação lógica a ser tomada, pois não havia nenhuma outra opção viável. Dessa forma, pode-se dizer que o alinhamento impôs-se. (GOMES, 2016).
	No panorama internacional, a vitória dos aliados sugeria que seria o fim dos governos autoritários ao longo do globo, tanto que exigia-se a redemocratização do Brasil. A aversão ao comunismo, bem como a ideia de que a URSS era o inimigo a ser vencido, invadiu também a sociedade brasileira, que rejeitava o outro bloco. Internamente, já se contestava o governo de Getúlio Vargas, buscando-se o fim do autoritarismo e o alcance do liberalismo. Outros fatores que contribuíram para a adoção de tal política foram o declínio das potências europeias e a ascensão de uma nova ordem mundial liderada pelos EUA e pela URSS (como superpotências), o que exigia o posicionamento de outros países. (GOMES, 2016).
	Como balanço final do governo de Eurico, pode-se dizer que nada de muito inesperado ocorreu em relação às escolhas tomadas pelo presidente - e elas atendiam ao interesse nacional. De fato, a estratégia não teve o efeito que se esperava, o que foi, sim, um ponto negativo da política externa do período, mas ela fazia sentido e, como aponta Gomes, só mais tarde veio a se tornar uma ilusão. (2006). 
	Talvez o Brasil devesse ter ido “com menos sede ao pote”, não tendo tanta ingenuidade ao pensar que os EUA retribuiriam com tanta fidelidade as ações brasileiras durante a Segunda Guerra Mundial. Isso poderia ter permitido melhores relações com outros países, por exemplo a Argentina. Durante todo o governo e as discussões ocorridas no período, o Brasil adotou posições opostas ao país vizinho, tudo para seguir o posicionamento estadunidense, em alguns momento até de forma excessiva. (HIRST, 1996). A união entre os países vizinhos poderia ter sido muito benéfica para o desenvolvimento e os interesses da América Latina, em especial a América do Sul. Enquanto isso, os Estados Unidos garantiam mais um país para apoiá-lo incondicionalmente em momentos de decisão ou votações sem nem ter que oferecer muito em troca.
	Apesar de tudo, a política visava os interesses e o desenvolvimento nacionais através de instrumentos considerados adequados no momento. Mesmo com poucas recompensas, o governo foi capaz de atingir um crescimento econômico ainda maior que os de ambos os governos de Vargas, deixando um bom balanço final. (GOMES, 2006).
O PERÍODO ENTRE 1951 E 1961
O Segundo Governo Vargas (1951-1954)
O retorno de Vargas ao poder
Deposto em 1945, Getúlio Vargas retornou ao poder em 1951, após ter sido eleito pelo voto popular no ano anterior. Seu projeto de governo continha a mesma concepção nacionalista, com base no desenvolvimento econômico do país, associado ao capital estrangeiro. No entanto, diferentemente do seu primeiro governo, o contexto internacional não permitia a articulação de sua política externa entre duas potências, Alemanha e Estados Unidos. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, os norte-americanos se firmavam enquanto potência capitalista, fazendo frente à União Soviética socialista. (VIZENTINI, 1994)
Diante desse contexto de Guerra Fria, o projeto desenvolvimentista de Vargas, que dependia do setor externo, possuía um espaço de barganha bastante limitado. Apoiavam-se na “disposição do governo norte-americano liderado por Truman de financiar projetos de infra-estrutura em países do Terceiro Mundo.” (HONIGMAN, 2003, p. 32) No entanto, observando uma resistência de Washington em relação à América Latina, sobretudo ao Brasil, Vargas propunha “apoio aos Estados Unidos no plano político-estratégico da Guerra Fria, em troca de ajuda ao desenvolvimento econômico brasileiro.” (VIZENTINI, 1994, p. 101)
Essa política esteve associada ao tema de autonomia e ao funcionamento da ordem democrática, o que ampliouo espaço para debate das questões internacionais e de política externa, envolvendo um maior número de atores. 
“Este processo transformou o relacionamento internacional do país num tema de preocupação que extrapolava a ação de Vargas, o Itamaraty, o gabinete da presidência e mesmo o Estado em seu sentido mais amplo. A manifestação de setores políticos, de intelectuais e da imprensa levou, em algumas ocasiões, que problemas passíveis de serem resolvidos no aparelho estatal se transformassem em temas de mobilização nacional.” (HIRST, 1996, p.297)
Embora essa realidade interna servisse aos interesses do governo, em alguns momentos, “como um recurso político para a negociação de interesses divergentes” (HIRST, 1996, p.297), em outros, ela acirrava os conflitos internos e a oposição a Vargas. Em comparação com o seu primeiro governo, o qual se caracterizou por um “Estado de equilíbrio”, no qual o presidente soubera equacionar as divergências, desta vez, o anti-varguismo surgia com força e ocasionou a desarticulação de seu poder. (HIRST, 1996)
A relação Brasil-Estados Unidos
Os discursos durante a candidatura de Vargas incluía a temática da reversão da marginalidade internacional do Brasil, por meio da recuperação do poder de barganha perdido desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Acerca disso, o Ministro das Relações Exteriores apontado pelo governo, João Neves da Fontoura, acreditava que o Brasil merecia maior reconhecimento dos Estados Unidos. Dentre as expectativas, estavam: i) “a liberalização de empréstimos do Eximbank e do Banco Internacional para a implantação de indústrias básicas e obras públicas” (HIRST, 1996, p. 298); ii) “a suspensão das restrições norte-americanas ao preço do café” (HIRST, 1996, p. 298); iii) e “a inauguração imediata de uma Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, que servisse de instrumento de apoio do governo norte-americano ao desenvolvimento industrial brasileiro.” (HIRST, 1996, p. 298)
Em contrapartida, o Brasil ofereceria seu apoio político-estratégico, dado o panorama bipolar da Guerra Fria. No entanto, os efeitos dessa negociação foram distintos daquela no primeiro governo de Vargas. Os Estados Unidos pressionavam o Brasil pelo envolvimento na Guerra da Coreia, o que mobilizava internamente “um jogo de pressões difícil de ministrar: o governo norte-americano, os militares brasileiros, sua base de apoio político-partidária, e a opinião pública no país.” (HIRST, 1996, p. 300) Essa tensão interna repercutiu sobre a negociação do Acordo Militar entre as duas nações, o que dificultava a obtenção de concessões econômicas, por parte da administração Truman. (HIRST, 1996)
A relação com os Estados Unidos, em termos de pragmatismo para o projeto nacional de desenvolvimento econômico, piorou quando da eleição do presidente Eisenhower. Sua chegada ao poder em Washington “marcou a ruptura da cooperação bilateral, interrompendo os financiamentos já aprovados e em estudo” (SANTOS FILHO, 2016, p. 191)
A relação Brasil-América Latina
	O contexto de descolonização e surgimento de novos Estados na África e na Ásia foi propício à ampliação da pauta de política externa brasileira. O país passou a valorizar o multilateralismo, “por meio de uma política mais ativa junto ao mundo subdesenvolvido” (HIRST, 1996, p. 307), em busca de uma maior projeção internacional. Entretanto, essas propostas eram obstaculizadas pela conjuntura bipolar da Guerra Fria. 
Mais especificamente acerca das relações do Brasil com as nações latino-americanas, a presença forte e a estratégia bilateral dos Estados Unidos no continente dificultavam a aproximação entre elas. Por outro lado, a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) e a OEA (Organização dos Estados Americanos) constituíam os dois organismos de multilateralidade na América Latina, sobretudo o primeiro que era o principal espaço para o debate de desenvolvimento econômico do continente latino-americano. (HIRST, 1996)
Contudo, do ponto de vista dos Estados Unidos, uma aliança com o Brasil era imprescindível para angariar apoio no resto do continente. E, partindo do ponto de vista de alguns países da América Latina, o Brasil servia para alavancar questões pertinentes às demandas regionais. Dessa forma, tinha-se uma política latino-americana intrinsecamente associada aos interesses norte-americanos, o que era muito estimulado pela visão de mundo da elite brasileira, a qual negava sua identidade latino-americana em termos históricos e culturais. (HIRST, 1996)
A relação Brasil-Argentina
	É importante ressaltar a relação entre Brasil e Argentina, dada a relevância do tópico ao longo da história da política externa brasileira. Sobretudo, nesse período, a interação entre os dois países se dava também em um plano mais micro, em razão da proximidade entre Vargas e Perón, percebida desde a campanha eleitoral, em 1950. Ambos os presidentes enxergavam sua convergência ideológica como uma oportunidade para promover uma aproximação. Diante disso, 
“Já no início de 1950 Vargas mandou emissários pessoais a Perón para discutir as perspectivas de um futuro relacionamento. O envio do jovem trabalhista João Goulart a Buenos Aires criou certa expectativa para Perón quanto à possibilidade da adesão do Brasil a um esforço comum de unificação latino-americana.” (HIRST, 1996, p.311)
	Contudo, do outro lado, estava o chanceler João Neves da Fontoura, que justificava um afastamento em relação à Argentina, a fim de priorizar as relações com os Estados Unidos, de modo a assegurar uma função de intermediário na América Latina. “Ao mesmo tempo, o Itamaraty tratava de se opor a qualquer mobilização regional que visasse à formação de blocos ou novas organizações.” (HIRST, 1996, p. 314) Logo, apesar da atribuição do governo argentino (particularmente, de Perón) às pressões internas de grupos de interesse brasileiros, no que tange as concessões aos norte-americanos, as negociações do Acordo Militar de 1952 serviu para tensionar também a relação entre Brasil e Argentina. (HIRST, 1996)
“Para os Estados Unidos o novo estilo de liderança inaugurado por Perón e Vargas era identificado como uma ameaça a seus interesses políticos e econômicos na América Latina. A atuação do governo norte-americano, nos dois casos, mostrou claramente sua aversão político-ideológica ao populismo, que, por seu conteúdo nacionalista, passaram a ser confundidos com movimentos de esquerda.” (HIRST, 1996, p. 309)
As pressões, a crise e o fim do governo Vargas
	Além de não contar com muito espaço para barganha em prol dos interesses e do desenvolvimento nacional no âmbito internacional, Vargas, em seu segundo governo, ainda tinha que lidar com as divergências e as pressões internas, sobretudo da oposição. Esta que se manifestava acerca da possibilidade do envio de tropas brasileiras para a Coreia e da assinatura de uma acordo militar com os Estados Unidos. Além disso, rivalizavam o projeto petrolífero de proposto por Getúlio, como forma de desestabilizá-lo diante do Congresso e do cenário externo. Em linhas gerais, sua desarticulação se deu em diversos círculos de poder interno, abrindo um “importante flanco de vulnerabilidade para o governo Vargas.” (HIRST, 1996, p. 301)
	Diante disso, Vargas se suicidou em 1954, despertando apreensões internas, bem como externas. 
“Diante das reações antiamericanas, incentivadas pelo próprio teor nacionalista da Carta Testamento, temia-se pelo quadro excessivamente emocional da situação política brasileira. Existia a preocupação de que a Carta de Getúlio tivesse fornecido aos comunistas uma ‘munição valiosa para sua propaganda antiamericana’.” (HIRST, 1996, p. 321)
Este fim trágico do segundo governo Vargas marcou o fim de uma fase na política externa brasileira: do alinhamento negociado com claros benefícios econômicos. A gestão de seu vice, Café-Filho, caracterizou-se pelo abandono ao projeto desenvolvimentista, e pelo retorno à política (tal qual no governo de Dutra) de abertura econômica ao capital estrangeiro e alinhamento automático com os Estados Unidos. (VIZENTINI,1994)
O Governo de JK (1956-1961)
Barganha nacionalista e novos horizontes 
	Juscelino Kubitscheck ascende ao poder no Brasil de 1956 pautado no retomar do desenvolvimento industrial no país, principalmente no setor de bens de consumo duráveis. Por se tratar de um objetivo que harmonizava com a proposta anterior, JK prosseguiu a política de alinhamento automático com os EUA, além de optar por uma aproximação com a Europa Ocidental. Esses pontos foram de extrema importância tanto para o modo com o qual se deu a execução desse projeto de industrialização no Brasil quanto para seus desdobramentos. (VIZENTINI, 1994)
	Com o objetivo de atrair a atenção dos EUA para a América Latina, JK opera uma política de barganha semelhante à de Vargas. Isso se dá através da Operação Pan Americana, um programa lançado para que os EUA atuassem como promotor da democracia no hemisfério sul por meio do fornecimento de meios para o desenvolvimento econômico da região. O objetivo era comprometer a hegemonia a auxiliar o desenvolvimento de países latino americanos através, principalmente, do fornecimento de crédito, que viriam a compensar a escassez de capitais internos da qual o Brasil também era vítima por seu sistema de financiamentos pouco desenvolvido. Ademais, o programa também previa assistência técnica para incrementações em produtividade e proteção dos preços dos exportados, por fim, gerando a multilateralização das relações interamericanas. (VIZENTINI, 1994)
	Além da manutenção do alinhamento com os EUA, JK também iniciou uma aproximação tímida dos países socialistas e terceiromundistas. Seu objetivo era ampliar suas fontes de capital e auxílios para o desenvolvimento, além de firmar parcerias comerciais para o escoamento da produção brasileira. No entanto, a bipolaridade que configurava o sistema internacional à época não permitia que nenhum compromisso extensivo fosse criado sem que as relações do outro lado fossem deterioradas. Isso impediu que JK realizasse uma aproximação intensa com o lado socialista, tendo ele se mantido neutro e postergando decisões diplomáticas aos seus sucessores. (VIZENTINI, 1994)
A POLÍTICA EXTERNA NO GOVERNO JÂNIO/JANGO
	Em 3 de outubro de 1960 Jânio Quadros foi eleito presidente do Brasil para o mandato de 1961 a 1965. Sucedendo JK, um governo o qual focou mais do que ninguém (até aquele momento) no desenvolvimento econômico do país, Jânio não poderia trilhar planos diferentes. A Política Externa Independente (PEI) inicia-se nesse contexto e pode ser sintetizada em 5 princípios: 
1. Ampliação de mercados externos dos produtos manufaturados (inclusive socialistas);
2. Defendia a formulação autônoma dos planos de desenvolvimento econômico;
3. Princípio de manutenção da paz, por meio da coexistência pacífica. Os recursos deveriam financiar o desenvolvimento do Terceiro Mundo;
4. Não intervenção nos assuntos internos de outros países e a autodeterminação dos povos;
5. A emancipação dos territórios não-autônomos (descolonização)¹
	
	Assim como, exposto por Vizentini: 
“A Política Externa Independente constitui um projeto coerente, articulado e sistemático visando transformar a atuação internacional do Brasil. Até então a diplomacia brasileira havia sido basicamente o reflexo da posição que o país ocupava no cenário mundial.” (VIZENTINI, 1994, p. 30)
A PEI pode ser analisada por meio de três interpretações distintas, sendo elas: diplomáticas, econômicas e sociais. O viés diplomático dizia respeito às mudanças internacionais e a adaptação frente à isso, além de usá-la enquanto instrumento para uma maior inserção do país e uma reação nacionalista ao hegemonismo norte-americano. Já a abordagem econômica, como elemento de suporte ao desenvolvimento industrial brasileiro e uma forma de garantir sua própria área de influência. Por último, o lado social está ligado às transformações internas do país, por exemplo o surgimento de novos segmentos sociais por conta da rápida urbanização e industrialização (VIZENTINI, 1994).
Em alguns momentos, a implementação da PEI colidiu com os interesses da potência capitalista, os EUA. O reatamento com o bloco soviético foi uma clara expressão da PEI, em que o Brasil expressou seu interesse em estabelecer, principalmente, relações econômicas, com a URSS. Ou seja, colocou os interesses nacionais acima da disputa ideológica daquele momento. A não expulsão de Cuba da OEA também foi uma expressão mais independente da potência capitalista, já que os EUA votaram a favor da expulsão de Cuba. Além disso, pode-se dizer que a própria implementação do projeto de desenvolvimento industrial colidia com os interesses da potência hegemônica. (VIZENTINI, 1994). 
“Desde o início, o Brasil se posicionou pelo direito de autodeterminação e não-intervenção nos assuntos internos, defendendo coerentemente o conceito de ‘finlandização’ de Cuba” (ARCHER, 1985, p. 37)
Os posicionamentos tomados pela PEI também respondiam, de certa forma, à atitude dos Estados Unidos frente à América Latina, tendo o descaso a Revolução Cubana como exemplo. Este tornou-se uma forte pressão política e econômica quando as nações latino-americanas decidiram, mesmo que pouco, suas relações de dependência em prol de seus desenvolvimentos nacionais (VIZENTINI, 1994).
Surgia naquele momento um novo contexto internacional o qual afetaria o Brasil, o que permitiu o país ampliar sua diplomacia, inicialmente regional, para um âmbito mundial. Essa busca por um papel no sistema internacional representava um “estágio mais elevado na barganha com os Estados Unidos” (VIZENTINI, 1994).
Os EUA não viam muito bem os rumos que a diplomacia brasileira estava tomando, em um momento em que sua hegemonia mundial estava posta em questão. A PEI manteve-se firme em relação à Revolução Cubana e avançou em outros princípios. Isso levou a uma reação estadunidense, o que os levou a uma maior aproximação aos grupos no Brasil mais pró-americanos (VIZENTINI, 1994).
Com a renúncia de Jânio Quadros, em um contexto de crise política no país, o que limitou a margem de implementação da PEI por João Goulart (Jango), quem assumiu o posto com poderes limitados. Uma figura importante nesse período foi San Tiago Dantas, quem levou a frente a PEI iniciada por Jânio. Assim como posto por ele mesmo:
“a consideração exclusiva do interesse do Brasil, visto como um país que aspira ao desenvolvimento e à emancipação econômica e à conciliação histórica entre o regime democrático representativo e uma reforma social capaz de suprimir a opressão da classe trabalhadora pela classe proprietária” (VIZENTINI, 1994, P. 33)
O governo de João Goulart, imerso na crise econômica e política, não se ateve aos golpistas que se preparavam para tomar o país. Sem um mínimo de consenso interno, o país encontrava-se sem apoio e a política externa perdia coesão. Assim que o novo governo assume o poder, há um redirecionamento da política externa brasileira. Apesar disso, pode-se analisar que a PEI não foi de tudo equivocada, já que os militares, alguns anos depois, implementaram o que ficou conhecido como “Pragmatismo Responsável” (VIZENTINI, 1994).
Principais posicionamentos da PEI: A diplomacia brasileira restabelece relações com a URSS, apoia a descolonização da África Portuguesa, aproximou-se de alguns países latino-americanos (Argentina importante parceiro - Tratado de Uruguaiana) e não acompanhou os EUA na expulsão de Cuba da OEA (VIZENTINI, 1994).
CONCLUSÃO
	A partir da análise feita, pode-se concluir que, na história da diplomacia brasileira, existem dois extremos do espectro de alinhamento aos Estados Unidos da América, sendo um automático e outro mais independente. Estes posicionamentos foram expressos durante o governo Dutra (1946-1950) e o governo Jânio/Jango (1961-1964).
	O alinhamento automático claramente visualizado durante o governo do primeiro trouxe, assim como todos os outros, certas vantagens e desvantagens (em maior ou menor grau). Neste caso, a maior perda apresentada foi o distanciamento que o Brasil teve em relação a alguns de seusmaiores parceiros, como a Argentina, que durante o período estava mais alinhada à União Soviética (com quem o governo brasileiro havia rompido). Por mais que o alinhamento fosse acontecer independente de quem fosse o presidente, talvez fosse melhor ter um pouco mais de cautela em relação às expectativas de recompensas, que foram poucas.
	Assim como no governo de Dutra, durante o governo de Jânio/Jango também apresentou vantagens e desvantagens ao país com sua Política Externa Independente. Esta buscou uma maior independência frente ao poder hegemônico dos Estados Unidos, em um contexto de Guerra Fria. Uma vantagem econômica dessa PEI foi a ampliação de mercados e a diminuição da dependência. Com isso, o Brasil não só ampliou seus mercados, mas também atraiu investimentos. Tendo a oportunidade de analisar a história agora, pode-se afirmar que a PEI não foi errada, mas talvez tenha sido implementada em um contexto e período o qual não era propício à ela. Afirma-se isso pensando na Política Externa implementada pelos militares, a qual ao longo da Ditadura sofreu modificações, mas que aproximou-se da PEI com o que ficou conhecido como “Pragmatismo Responsável”.
	Com o estudo realizado neste trabalho, pode-se analisar a política externa brasileira atual na tentativa de identificar “onde” se encontraria no espectro. Os acontecimentos dos últimos 12 meses mostra a aproximação e alinhamento automático aos Estados Unidos, o que nos remete à Dutra. Entretanto, diferente daquele período, em que o fim da guerra levou os EUA à status de hegemonia e iniciou-se o sistema bipolar, hoje o mundo encontra-se em um sistema multipolar, o que leva ao questionamento: Quais serão os ganhos desse alinhamento? 
REFERÊNCIAS
CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. História da política exterior do Brasil. 4. ed. Brasília: Unb, 2002. 595 p.
CPDOC (Rio de Janeiro). FGV. Eurico Gaspar Dutra. 2017. Disponível em: <https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/eurico_gaspar_dutra>. Acesso em: 26 nov. 2019.
GOMES, Daniel Costa. A imposição do alinhamento: a política externa dos governos Dutra e Vargas (1946-1954). 2016. 147 f. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais)—Universidade de Brasília, Brasília, 2016.
HIRST, Mônica. A política externa do segundo governo Vargas. In: J. A. Guilhon de
Albuquerque (org.), Sessenta anos de política externa brasileira 1930-1990. Crescimento,
modernização e política externa. São Paulo, Cultura Editores Associados/Núcleo de
Pesquisa em Relações Internacionais da USP, 1996. p. 211-230.
HONIGMAN, Gil. A Dinâmica da Intervenção do Estado no Brasil: de Vargas a Jango. 2003. 62 f. TCC (Graduação) - Curso de Economia, Departamento de Economia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. Disponível em: <http://www.econ.puc-rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/Gil_Honigman.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2019.
SANTOS FILHO, Adriano Neves dos. Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek: análise de dois projetos desenvolvimentistas e as limitações do Estado brasileiro. Rebap: Revista Brasileira de Administração Política, Salvador, v. 9, n. 11, p.179-201, out. 2016. Disponível em: <https://portalseer.ufba.br/index.php/rebap/article/view/24554>. Acesso em: 27 nov. 2019.
VIZENTINI, Paulo Fagundes. O Nacionalismo Desenvolvimentista e a Política Externa
Independente. Revista Brasileira de Política Internacional, ano 37, n.1, Brasília, Ibri,
jan./jun. 1994.

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