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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 2 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ..................................................... 3 3 PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ............... 11 4 INSTRUMENTOS PARA A ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 12 5 VALORIZAÇÃO DO EDUCANDO NO PROCESSO DE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO ..................................................................................................... 17 6 A IMPORTÂNCIA DA DIDÁTICA PARA JOVENS E ADULTOS ............... 18 7 A PROPOSTA FREIRIANA DE AÇÃO/REFLEXÃO/AÇÃO ...................... 22 8 ORGANIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO: ESCOLHAS METODOLÓGICAS IMPORTANTES ........................................................................................................ 25 9 PROPOSTA METODOLÓGICA: ADAPTAÇÃO À DIVERSIDADE ENCONTRADA EM SALA DE AULA ........................................................................ 30 10 AÇÕES METODOLÓGICAS A PARTIR DE UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR E INTERCULTURAL PARA A EJA ......................................... 33 11 ADEQUAÇÃO DAS PRÁTICAS METODOLÓGICAS COM A REALIDADE DO ALUNO 40 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 46 2 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 2 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS A preocupação com a educação de jovens e adultos no Brasil não é recente, remontando ao início do século XX, quando o seu foco era a erradicação de um grande contingente de adultos analfabetos que compunham a sociedade brasileira e apresentavam, assim, entraves para o desenvolvimento econômico do País, uma vez que, até mesmo para ocupar os postos de trabalho mais rudimentares, não apresentavam a qualificação necessária. Com o passar das décadas, essa visão sobre a educação de jovens e adultos foi se reconfigurando, acompanhando as próprias mudanças sociais, assim, seu conceito se ampliou em busca de outros objetivos que hoje vão muito além da simples reparação da escolarização ou preparação para o trabalho, envolvendo inclusão social, preparo profissional e aprendizagem ao longo da vida. Histórico da educação de jovens e adultos no Brasil Ao começarmos nosso percurso histórico sobre a EJA no Brasil, vamos nos reportar à Constituição Federal de 1988, que propunha a obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário a todos (BRASIL, 1988). Esse foi o primeiro impulso para as primeiras ações de escolarização da grande massa de adultos analfabetos existentes na época, ao menos com o ensino primário, ou seja, alfabetização. Essa ideia se firmou a partir do início da década de 1940 como uma política nacional para a EJA. Destacamos que “[...] na década de 1940, quando começaram as primeiras iniciativas governamentais para lidar com o analfabetismo entre adultos, entendia-se que o seu fim seria fundamental para o crescimento econômico do país. O analfabetismo era visto como um mal social e o analfabeto como um sujeito incapaz” (BRASIL, 2006a, p. 26). Na década de 1940, mais da metade da população com 15 anos ou mais era analfabeta e, como o País estava passando por um processo tardio de industrialização e urbanização na época, era importante a alfabetização de jovens e adultos trabalhadores, uma vez que a educação era vista como o caminho em direção ao desenvolvimento do País. Com o objetivo de erradicar o analfabetismo entre os jovens Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar 4 e adultos, foram propostas as primeiras ações e programas do governo federal (DI PIERRO; JOIA; RIBEIRO, 2001): Fundo Nacional do Ensino Primário (1942); Serviço de Educação de Adultos (1947); Campanha de Educação Rural (1952); Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (1958); Programa Nacional de Alfabetização de Adultos (1964). Essas ações, além de buscar a erradicação do analfabetismo entre os adultos, a partir da escolarização, também visavam atingir e melhorar a participação das crianças na escola, a partir do exemplo e da iniciativa de seus pais. Além disso, na década de 1950, somente tinham direito a votar os alfabetizados, o que também contribuiu para que os adultos tivessem interesse em se alfabetizar. Segundo Ceratti (2007, documento on-line), na década de 1950, “[...] a alfabetização de adultos teve o propósito de transformar o analfabeto em um eleitor em potencial”. Ao se referirem a esse período do início da década de 1960, Di Pierro, Joia e Ribeiro (2001, documento on-line) comentam que: Embaladas pela efervescência política e cultural do período, essas experiências evoluíam no sentido da organização de grupos populares articulados a sindicatos e outros movimentos sociais. Professavam a necessidade de realizar uma educação de adultos crítica, voltada à transformação social e não apenas à adaptação da população a processos de modernização conduzidos por forças exógenas. O paradigma pedagógico que então se gestava preconizava com centralidade o diálogo como princípio educativo e a assunção, por parte dos educandos adultos, de seu papel de sujeitos de aprendizagem, de produção de cultura e de transformação do mundo. As ideias compunham a essência do pensamento de Paulo Freire sobre a busca de uma pedagogia que dialogasse com os educandos, procurando, por meio da educação, conectar-se com sua cultura, seu jeito de ser, viver e pensar o mundo e, por fim, emancipá-los. Entendia-se que, a partir dessa mudança, poderia ser modificada também a nação brasileira. Com base nas ideias de Paulo Freire, o Ministério da Educação criou, em 1964, o Programa Nacional de Alfabetização de Adultos. Porém, com a assunção dos governos militares em 1964, Paulo Freire foi exilado. Durante o seu período de exílio, o educador continuou a desenvolver suas estratégias voltadas para a alfabetização de adultos, entre elas, o uso das palavras Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar 5 geradoras. Bes (2017, p. 43) explica como funcionava a técnica das palavras geradoras: [...] partindo do conhecimento da experiência do educando em sua vida social cotidiana, selecionavam-sepalavras que cercassem esse campo de vida bem particular e, a partir daí, além de buscar uma alfabetização em si, eram problematizadas de forma crítica a própria vida dos alunos, visando modificar/ acrescentar outras possíveis ideias às visões de mundo deles Fonte: sinsepjs.org.br As ideias educacionais freireanas continuaram vivas na época a partir de iniciativas de educação não formal, ocupando associações comunitárias, igrejas e outros espaços, sendo que, até os dias atuais, apresentam seguidores no universo acadêmico. A segunda Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional — Lei Federal nº. 5.692, de 11 de agosto de 1971 — ampliou a obrigatoriedade do ensino da educação básica de quatro para oito anos e trouxe também avanços para a EJA, pois instituiu a educação supletiva possível para esse primeiro grau de escolarização (BRASIL, 1971). Ou seja, aqueles que não puderam concluir o ensino obrigatório na idade apropriada poderiam concluir a partir de “[...] cursos supletivos, centros de estudo e ensino a distância, entre outras” (DI PIERRO; JOIA; RIBEIRO, 2001, documento on-line). Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar 6 Os estudos supletivos que inicialmente eram voltados aos adultos em busca da conclusão de seu processo de alfabetização e dos anos de ensino obrigatórios, porém, começaram a receber inúmeros jovens que, em virtude de sua inserção e exigências do mercado de trabalho, buscavam uma aceleração em seus estudos. Sobre esse aspecto da inserção de jovens no ensino supletivo, Di Pierro, Joia e Ribeiro (2001, documento on-line) destacam que a entrada precoce no mercado de trabalho e o aumento das exigências de instrução e domínio de habilidades no mundo do trabalho constituem os fatores principais a direcionar os adolescentes e jovens para os cursos de suplência, que aí chegam com mais expectativas que os adultos mais velhos de prolongar a escolaridade pelo menos até o ensino médio para inserir-se ou ganhar mobilidade no mercado de trabalho. Essa questão iniciada na década de 1970 perpetua-se até os dias atuais, uma vez que a EJA absorve uma quantidade significativa de jovens que visam conciliar seus trabalhos com a sua escolarização, que, aliás, é cada vez mais exigida pelo mercado de trabalho. A visão que ainda hoje recai sobre a EJA foi discutida a partir de 1990, principalmente após a realização da Conferência Mundial de Jomtien, proposta por: Organização das Nações Unidas (ONU); Educação de jovens e adultos Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco); Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef); Banco Mundial. Essa conferência resultou na Declaração Mundial sobre a Educação para Todos, que propôs o aumento global dos níveis de educação básica. Objetivos e organização da educação de jovens e adultos A LDB de 1996 foi alterada em 2018, por meio da Lei nº. 13.632, de 6 de março de 2018, defi nindo em seu art. 37 que: Art. 37 A EJA será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos nos ensinos fundamental e médio na idade própria Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar 7 e constituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao longo da vida (BRASIL, 2018a, documento on-line). Esse conceito é importante para a EJA, pois permite o entendimento de que essa modalidade educacional da educação básica vai além de simples reparação ou compensação daqueles que não tiveram oportunidade de estudar na época mais apropriada, mas também deve proporcionar que esses jovens e adultos possam continuar seus estudos ao longo da vida. Para isso, cabe aos sistemas de ensino assegurarem “[...] gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames” (BRASIL, 1996, documento on-line). Além disso, a LDB de 1996 também impõe que a EJA deverá articular-se com a educação profissional desses jovens e adultos. O art. 38 define formas de organização para a EJA: Art. 38 Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: I — no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos; II — no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames (BRASIL, 1996, documento on-line). A partir do art. 38, fica estabelecido que as instituições de ensino devem ofertar turmas no ensino regular relativas ao ensino fundamental para jovens maiores de 15 anos e no ensino médio para aqueles maiores de 18 anos de idade. Também faz menção ao uso dos exames supletivos, que atualmente ocorrem a partir do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (BRASIL, [2018b]). Para que possamos conhecer melhor os objetivos da EJA, precisamos analisar o Parecer do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar 8 (CNE/CEB) nº. 11/2000, que versa sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para a EJA. Esse parecer esclarece que a EJA deve ser vista a partir das seguintes funções (BRASIL, 2000): reparadora; equalizadora; qualificadora. A partir da análise dessas funções, podemos entender os objetivos que a EJA possui. A função reparadora diz respeito à busca pela escolarização não realizada na época mais apropriada pelos adolescentes, jovens ou adultos, entendida como essencial na atualidade para que se cumpram os papéis sociais exigidos na contemporaneidade. Nesse sentido, “[...] a Educação de Jovens e Adultos (EJA) representa uma dívida social não reparada para com os que não tiveram acesso a e nem domínio da escrita e leitura como bens sociais, na escola ou fora dela, e tenham sido a força de trabalho empregada na constituição de riquezas e na elevação de obras públicas” (BRASIL, 2000, documento on-line). Isso não significa que esse público seja inculto ou destinado a funções desqualificadas no mercado de trabalho, pois muitos podem ter adquirido outras experiências educativas informais próprias da cultura da qual participam, como é o caso, por exemplo, da “[...] literatura de cordel, o teatro popular, o cancioneiro regional, os repentistas, as festas populares, as festas religiosas e os registros de memória das culturas afro-brasileira e indígena” (BRASIL, 2000, documento on-line). A função reparadora busca reparar o direito à educação escolar a todos, que, por inúmeros fatores histórico-sociais, favoreceu alguns grupos elitizados durante o percurso moderno de expansão da dimensão escolar. Pensar dessa forma é endossar as palavras da V Confintea sobre a educação de adultos, da qual o Brasil fez parte e que afirma que “[...] a alfabetização, concebida como o conhecimento básico, necessário a todos, num mundo em transformação, é um direito humano fundamental. Em toda a sociedade,a alfabetização é uma habilidade primordial em si mesma e um dos pilares para o desenvolvimento de outras habilidades” (BRASIL, 2007, documento on-line). Para que consigamos viver em uma sociedade em que a base da organização se dá pela escrita, precisamos ser capazes de codificar e decodificar esses códigos Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar 9 escritos com eficiência. Essa habilidade também é essencial para que prossigamos aprendendo ao longo da vida. A função equalizadora da EJA visa possibilitar a reentrada de jovens e adultos que tiveram a interrupção de seus estudos forçada por algum motivo, “[...] seja pela repetência ou pela evasão, seja pelas desiguais oportunidades de permanência ou outras condições adversas, deve ser saudada como uma reparação corretiva [...]” (BRASIL, 2000, documento on-line). Nesse cenário, podemos considerar donas de casa, migrantes, aposentados, encarcerados e outros sujeitos que, por motivos contingenciais, não tenham tido condições de prosseguir com seus estudos, situação que deve ser corrigida pela EJA. O Parecer CNE/CEB nº. 15/98 refere-se a esse perfil de alunos como adultos ou jovens adultos, via de regra mais pobres e com vida escolar mais acidentada. Estudantes que aspiram a trabalhar, trabalhadores que precisam estudar, a clientela do ensino médio tende a tornar-se mais heterogênea, tanto etária quanto socioeconomicamente, pela incorporação crescente de jovens adultos originários de grupos sociais, até o presente, sub-representados nessa etapa da escolaridade (BRASIL, 1998, documento on-line). A função equalizadora parte da ideia de incompletude do ser humano em relação aos conhecimentos, sendo que sempre temos novos saberes a adquirir. Entra também em sintonia com o proposto no Relatório da Unesco, Educação: um tesouro a descobrir (UNESCO, 2010, documento on-line), que cita uma educação permanente, realmente dirigida às necessidades das sociedades modernas não pode continuar a definir-se em relação a um período particular da vida — educação de adultos, por oposição à dos jovens, por exemplo — ou a uma finalidade demasiado circunscrita — a formação profissional, distinta da formação geral. Doravante, temos de aprender durante toda a vida e uns saberes penetram e enriquecem os outros. Essa visão atual de que devemos estudar de forma permanente ao longo de nossas vidas — que vai ao encontro das necessidades humanas de se manter em busca de qualificação e de aprimoramento de conhecimentos — permite que na EJA também se encontrem alunos em busca desse aperfeiçoamento, dessa realização pessoal em sua fase adulta. Essa função vai muito além da simples reparação ou equalização, pois permite a todos que possam exercer a busca de sua formação profissional ou pessoal para aliar-se com as exigências tanto do mercado de trabalho quanto da própria vida em Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar Notebook Destacar 10 sociedade. A função reforça a ideia de que “[...] em todas as idades e em todas as épocas da vida, é possível se formar, se desenvolver e constituir conhecimentos, habilidades, competências e valores que transcendam os espaços formais da escolaridade [...] (BRASIL, 2000, documento on-line). Fonte: www.cee.ce.gov.br A EJA propõe que a educação dos jovens e adultos deva, assim, transcender os espaços da escola, pois existem aprendizagens e desenvolvimento de competências em todos os âmbitos de experiência de nossas vidas que devem ser considerados. Para conseguir contemplar essas funções da EJA, cabe aos Estados e municípios organizarem a sua oferta, que pode ser realizada a partir da realização de cursos e exames, o que normalmente segue a seguinte distribuição: Ensino fundamental: primeiro segmento; Ensino fundamental: segundo segmento; Ensino médio; Encceja. A proposta curricular da EJA para o primeiro segmento contempla os anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º anos). Ribeiro (2001, p. 14) salienta que “[...] a educação de jovens e adultos que correspondente a esse nível de ensino caracteriza-se não só pela diversidade do público que atende e dos contextos em que Notebook Destacar Notebook Destacar 11 se realiza, como pela variedade dos modelos de organização dos programas, mais ou menos formais, mais ou menos extensivos”. Ainda no ensino fundamental, as instituições de ensino poderão oferecer turmas de EJA para o segundo segmento contemplando os anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º anos). Cabe lembrar que a organização curricular para a EJA deve ser “[...] discutida, buscando inverter a lógica que parte de uma grade disciplinar inflexível, para propor como ponto de partida a definição de capacidades que se pretende que o aluno construa ao longo do curso” (BRASIL, 2002, documento on-line). Como podemos perceber, na organização do primeiro e do segundo segmentos da EJA, devem ser buscadas a constituição de uma identidade própria para que essa modalidade da educação básica se alie com as características desses estudantes, adolescentes, jovens e adultos. As escolas de educação básica também poderão ofertar turmas de ensino médio na modalidade EJA para alunos que possuam mais de 18 anos de idade no ato da matrícula. Convém lembrar que, a partir de 15 anos de idade, os jovens podem realizar as provas do Encceja, uma avaliação aplicada pelo Inep e exclusivamente voltada para a conclusão do Ensino fundamental. Já a partir dos 18 anos de idade, os alunos podem realizar essa mesma avaliação para conclusão do ensino médio. Nessa avaliação, caso o estudante não atinja o desempenho necessário em todas as áreas do conhecimento, poderá obter o atestado parcial de conclusão e continuar cursando as disciplinas faltantes nas turmas de EJA nas escolas municipais e estaduais. Também poderão ser ofertados cursos de ensino técnico a esses jovens e adultos, visando sua formação profissional no ensino médio. 3 PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Antes de pensarmos sobre a alfabetização de jovens e adultos, é importante retomarmos os conceitos de alfabetização e letramento, pois eles constituem os fundamentos deste capítulo. A partir de suas pesquisas, Soares (2004) afirma que alfabetização se dá pelo domínio da técnica de reconhecer e grafar as letras do alfabeto, quando o aluno 12 estabelece relações entre a grafia e os sons das letras, percebendo que o sistema de escrita compreende palavras, sílabas e letras. Complementando este conceito: O termo alfabetização designa o ensino e o aprendizado de uma tecnologia de representação da linguagem humana, a escrita alfabético- -ortográfica. O domínio dessa tecnologia envolve um conjunto de conhecimentos e procedimentos relacionados tanto ao funcionamento desse sistema de representação quanto às capacidades motoras e cognitivas para manipular os instrumentos e equipamentos de escrita. (SOARES; BATISTA, 2005, p. 24). Ainda segundo Soares (2004), o conceito de letramento seria um pouco diferente, correspondendo à utilização da leitura e da escrita em práticas sociais. Desta forma, um sujeito, antes mesmo de ser alfabetizado – de utilizar o sistema convencional da escrita – pode ser considerado um sujeito letrado, a partir das suas interações entre letras, números e códigos no seu cotidiano. Portanto, é importante compreender que, em síntese, o que se propõeé, em primeiro lugar, a necessidade de reconhecimento da especificidade da alfabetização, entendida como processo de aquisição e apropriação do sistema da escrita, alfabético e ortográfico; em segundo lugar, e como decorrência, a importância de que a alfabetização se desenvolva num contexto de letramento – entendido este, no que se refere à etapa inicial da aprendizagem da escrita, como a participação em eventos variados de leitura e de escrita, e o consequente desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, e de atitudes positivas em relação a essas práticas. (SOARES, 2004, p. 16). A partir da retomada dos conceitos de alfabetização e de letramento, podemos pensar que a alfabetização e o letramento de jovens e adultos devem ser iniciados a partir dos saberes já constituídos por esses alunos. Segundo a UNESCO (2004), baseado nos ideais de Paulo Freire, os processos educativos que compreendem o processo de ensino e de aprendizagem precisam operar para transformar a realidade destas pessoas que ingressam na EJA. 4 INSTRUMENTOS PARA A ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS O professor, ao pensar na organização dos processos de alfabetização e de letramento dos seus alunos, precisa considerar como serão estruturadas as suas práticas pedagógicas. O que acontecerá desde a avaliação diagnóstica dos alunos, 13 passando pelo planejamento das aulas, até a execução das atividades, o monitoramento e a avaliação dos alunos. Mas, antes de organizar suas práticas pedagógicas, o professor precisa estar consciente de que o processo de alfabetização requer comprometimento, trabalho, paciência e envolvimento. Cabe destacar que um grande percursor sobre a alfabetização de jovens e adultos foi o brasileiro Paulo Freire. A partir de seus estudos e pesquisa, ele sempre defendeu a importância do protagonismo do aluno no processo de ensino e aprendizagem, assim como “a importância de conhecer o que sabem os alunos” (BRASIL, 2006a, p. 31). Isso significa a valorização dos conhecimentos prévios que os alunos trazem de suas experiências e vivências do cotidiano. Segundo Brasil (2006a, p. 27): Desde Freire, a Educação de Jovens e Adultos vem caminhando na direção de uma educação democrática e libertadora, comprometida com a realidade social, econômica e cultural dos mais pobres. No entanto, ainda temos muito por construir nessa direção. A partir disso, no sistema formal de ensino a escolarização de jovens e adultos deve ser marcada não só pelo direito ao acesso desses alunos à escola, mas também pelo comprometimento da escola em ofertar um ensino de qualidade visando à permanência destes alunos para permitir a continuidade dos seus estudos, promovendo, assim, a universalização da educação, ou seja, o acesso a todos a uma educação de qualidade. Neste sentido, o professor pode usar um instrumento muito importante, denominado avaliação diagnóstica. Ela serve para que, de fato, o professor reúna informações do que os alunos conhecem sobre um determinado assunto. Deixamos um alerta aqui sobre a importância deste instrumento, uma vez que ele pode ajudar o professor a ter um panorama adequado sobre a alfabetização dos alunos até chegarem na EJA, oferecendo informações que vão auxiliá-lo no planejamento das atividades. Outras atividades de destaque (BRASIL, 2006a, p. 42) e que podem ajudar o professor a conhecer o que os alunos sabem previamente, isto é, toda a bagagem de conhecimentos que eles trazem consigo, envolvem a escrita (integrando a avaliação diagnóstica). Por exemplo, relacionado com a forma como a escrita se organiza, um exercício interessante seria propor situações em que o aluno mostre sua concepção ou impressão de escrita por meio do que ele de fato consegue ler Segundo Brasil 14 (2006), com alunos analfabetos, o professor pode fazer entrevistas em pequenos grupos, com o objetivo de deixar o aluno à vontade, sem constrangimentos. Fonte: educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br Outra vantagem dessa abordagem é que o trabalho em grupos auxilia na quebra da inibição. A entrevista pode ser organizada desta forma para conhecer os novos alunos a professora escolheu algumas questões ligadas a importância da alfabetização. Depois da costumeira apresentação: nome, onde mora, como soube do curso, o que espera, era escolhido um dos vários cartões feitos pela professora com questões ligadas ao saber ler e escrever. Naturalmente, a questão sorteada era lida pela professora e analisada pelo grupo. (BRASIL, 2006a, p. 41). As atividades – que servem como uma avaliação diagnóstica – precisam ser registradas, para que o professor consiga, a partir de seus registros e anotações, perceber questões relacionadas à alfabetização, desde a familiaridade dos alunos com as letras, as relações estabelecidas pelos alunos quanto ao número de letras de uma determinada palavra, até os sons das letras, entre outros tópicos. Destacamos a seguir (com um passo a passo), outras atividades (BRASIL, 2006ª, 42-44) para que você aproveite ao máximo sua experiência em sala de aula: Cartões para leitura: prepare, no mínimo, 10 cartões contendo “palavras reais com número variado de letras (2, 3, 4, mais de 5), escritas com letras repetidas, 15 com letras não convencionais ou de outros alfabetos, símbolos ou sinais não verbais”. A missão dos alunos será encontrar o que é possível ler e o que não pode ser lido. O reconhecimento das marcas, dos rótulos: para tornar essa atividade mais produtiva e significativa, monte um quadro com palavras que estão no lugar onde os alunos estão: “[...] nas ruas por onde andam, nos mercados, nas farmácias, nas lojas onde compram, nas revistas, jornais que folheiam, ou ainda objetos ou produtos que têm em casa [...]”. Os alunos apontarão os rótulos que conhecem e vão dizer o que está escrito. Imagem com frase: essa atividade auxilia a entender o percurso mental feito por alguém que não possui domínio da alfabetização quando a escrita está inserida em um contexto que lhe é familiar. Segundo Brasil (2006a), faça essa atividade em clima de conversa, deixando claro como é uma atividade cuja finalidade é saber o que os alunos pensam acerca da imagem e da frase. Chame a atenção para o fato de não haver resposta certa ou errada, “[...] porque se trata da forma como o escrito está sendo visto”. Estas são algumas situações e atividades que nos ajudam a saber com maior precisão o que e como pensam os alunos sobre a escrita, mesmo quando ainda não dominam esse conhecimento na forma convencional. Outros textos, outras palavras, novas imagens, sempre próximos do cotidiano de seus alunos e alunas, poderão ser utilizados. Importante é manter o princípio de que cada aluno e cada aluna constrói suas hipóteses e explicações acerca das funções da língua escrita e da forma como as letras se organizam para que possamos ler e escrever. (BRASIL, 2006a, p. 47) Depois de ter realizado a avaliação diagnóstica, as entrevistas individuais e/ou em grupo poderão ajudar ainda mais o processo de compreensão sobre os seus alunos: saberes já adquiridos, dificuldades, vontades e necessidades quanto ao processo de alfabetização. E assim, o professor poderá ter mais dados para elaborar seu planejamento de acordo com a turma, para que, de fato, ele consiga fazer os alunos progredirem no processo de alfabetização, já que “[...] conhecendo o que pensam os alunos e alunas, os professores podem atuar de forma mais eficiente para ajudá-los a avançar como quem lê e escreve” (BRASIL, 2006a, p. 47). Diante desta perspectiva, o planejamento das aulas para a alfabetização desses jovens e adultos tem de considerar os registros das avaliações diagnósticas, 16 assim como os interesses e as vontades manifestados pelos alunos observados durante as aulas e o contexto socioculturalem que a escola e os alunos estão inseridos. O planejamento precisa ser construído de forma flexível, proporcionando ao professor fazer adaptações sempre que necessário. Segundo Brasil (2006c, p. 32, grifo nosso) o planejamento faz parte do processo de tomada de decisão sobre a sua forma de agir, no dia-a-dia da sua prática pedagógica. Nele estão envolvidas ações e situações que se dão de forma continuada entre professor(a) e alunos e alunos entre si. Para fazer um bom planejamento, segundo Brasil (2006c, p. 33), as seguintes perguntas devem nortear o professor: Para apurar seus objetivos: Para que ensinar? Para selecionar o conteúdo a ser trabalhado: O que ensinar? Para escolher os métodos e as técnicas que serão utilizados: Como ensinar? Para planejar as aulas, você precisa ter clareza de que a observação do professor é uma ação docente que “[...] vai além desse ver espontâneo: quer saber mais para interferir melhor [...]” (BRASIL, 2006b, p. 8). Como professor, você deve registrar essas observações, salientando tanto questões referentes aos alunos como também o seu próprio fazer pedagógico. As observações fazem parte também do monitoramento e da avaliação do professor quanto ao envolvimento dos alunos nas atividades propostas no processo de alfabetização, auxiliando na construção de aulas planejadas para que sejam executadas de forma significativa para a aprendizagem dos alunos. Ainda sobre o planejamento das atividades (dos conteúdos que serão abordados), Durante (2007, p. 58) reforça que “[...] a seleção dos conteúdos deve considerar o conhecimento que o educando traz (conhecimento de mundo, cultura, ideologia, práticas discursivas) para que a aprendizagem seja significativa.” A autora ainda destaca: Não se pode limitar a seleção de conteúdos, mas selecionar conteúdos da cultura letrada significativos para o processo de desenvolvimento e aprendizagem, não impondo padrões e conceitos da cultura letrada, mas propiciando que os educandos possam participar da cultura letrada [...]. (DURANTE, 2007, p. 58). Por sua vez, sobre a avaliação dos alunos no processo de alfabetização, é essencial destacar que a avaliação diagnóstica, já mencionada neste texto, pode ser considerada como uma avaliação inicial, ou seja, “[...] aquela que se dá no começo do 17 trabalho escolar, quando começamos a saber quem são as alunas e alunos, os colegas professores e a realidade que envolve a todos nós”. (BRASIL, 2006c, p. 8). Dando continuidade ao processo avaliativo, o professor faz uso da avaliação continuada. Como o próprio nome indica, este tipo de avaliação ocorre ao longo do processo de alfabetização e pode ser considerada formativa (HOFFMANN, 2009). A partir da percepção de que o professor deve ser um orientador, por meio de interações e mediações para que a aprendizagem dos alunos aconteça e seja significativa, a avaliação é compreendida como sugere Brasil (2006c, p. 17) não acaba quando todos já são conhecidos o suficiente para o trabalho andar. O processo de aprender demanda um acompanhar atento sobre o que vai acontecendo com alunos e professores. Assim, a avaliação continuada vai indicando as dificuldades e facilidades que estão sendo encontradas pelos alunos e professores. Portanto, o processo de alfabetização é envolto por um trabalho exaustivo e complexo entre o professor e os alunos, mas nem por isso pode deixar de ser prazeroso e motivador. 5 VALORIZAÇÃO DO EDUCANDO NO PROCESSO DE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO Quando pensamos na valorização do aluno nos processos de letramento e de alfabetização, temos que refl etir sobre uma situação real relatada por Kleiman (2001, p. 273), sobre a desistência de aprender dos alunos na EJA antes mesmo que eles efetivem seu processo de alfabetização, ocasionando muitas vezes a evasão escolar. Não se pode negar que, antes de alcançarem seus objetivos, os alunos abandonam os cursos. Se tal desistência não decorre de uma decisão que diz respeito apenas à motivação individual do aluno, mas também aos incentivos externos, devemos procurar a explicação na área social no próprio processo de aculturação por meio da escrita e que, como tal, envolve conflito e perda. Se, por um lado, a cultura local deve ter seu lugar de expressão garantido, é papel da escola trazer para seus alunos outras formas de agir e pensar: outras festas, outras histórias, outros modos de explicar o mundo. Mas, certamente, tendo vivido a experiência de reconhecer e valorizar sua própria cultura, a qualidade de sua relação com culturas diferentes será muito maior. (BRASIL, 2006a, p. 35). 18 Corroborando essa ideia, Durante (2007, p. 58) considera que os indivíduos constroem seus conhecimentos prévios quando interagem com o mundo por meio “[...] de processos sensoriais e perceptivos espontaneos, para dar sentido à s situaçõ es cotidianas, indutivos, atravé s de transmissã o social da cultura (crenças, valores, etc.), e por analogias”. Desta forma, essa ideia da valorização do vivido pelo educando vai ao encontro da proposta de alfabetização idealizada por Paulo Freire (1994), que reconhece a importância da valorização do educando enquanto um ser capaz de produzir conhecimento, a partir dos seus saberes já vivenciados e experienciados na sua prática social. Bezerra, Faria e Machado ([201-?], p. 2) destacam a importância de que aprendemos ao longo da vida. Assim, jovens e adultos, mesmo que analfabetos, aprenderam fora da escola, e esse fato nunca pode ser desconsiderado. Para os autores, vivemos em uma época em que nunca foi tão importante ter conhecimento: ao longo da vida, longe de aulas formais, aprendemos muito mais ao viver a vida, ao fazer coisas, ou ao interagir com as demais pessoas, o que nos leva a concluir que “[...] as pessoas também têm capacidade de ensinar, transmitindo valores que a sociedade tem acumulado.” Bezerra, Faria e Machado ([201-?]) complementam que, ao compreender a importância de ter e adquirir conhecimento ao longo da vida, a escola passa a ter um compromisso de ensinar os alunos a “aprender a aprender”, corroborando a ideia do desenvolvimento da autonomia. 6 A IMPORTÂNCIA DA DIDÁTICA PARA JOVENS E ADULTOS A didática faz parte da prática pedagógica do professor. Elaborar uma aula pautada em objetivos educacionais claros, aprimorando o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social do aluno. Em se tratando do aluno da EJA, além dos conteúdos a serem abordados é preciso promover um ambiente de confiança, cidadania e de astúcia. A importância de uma didática flexível e dinâmica A pedagogia é o estudo sistemático da educação. É a refl exão sobre as doutrinas e os sistemas de educação. A didática é uma seção ou um ramo específi co 19 da Pedagogia que se refere aos conteúdos do ensino e aos processos próprios para a construção do conhecimento. Enquanto a Pedagogia pode ser conceituada como a ciência e a arte da educação, a didática pode ser defi nida como a ciência e a arte do ensino. Fonte: pt.depositphotos.com Para Haydt (2006), ensinar e aprender são como as duas faces de uma mesma moeda. A didática não pode tratar do ensino, por parte do professor, sem considerar simultaneamente a aprendizagem por parte do aluno. Com relação à didática, é importante, ainda, considerar que os aspectos socioeconômicos e políticos são pano de fundo nos quais se constituem as diferentes tendências pedagógicas que marcam períodos históricos específicos. No Brasil, essas tendências pedagógicas são classificadas por Libâneo (1990) em dois tipos, a saber: Tendências pedagógicas liberais: sustentam a ideia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais. Tendências pedagógicas progressistas: partindo de uma análise crítica das realidades sociais, sustentam implicitamenteas finalidades sociopolíticas da educação. 20 Para os professores, é fundamental compreender quais são os limites e as possibilidades pedagógicas que essas diferentes tendências expressam como meio de fundamentar sua atividade docente. A dinâmica da aprendizagem é essencial para uma didática que tem como princípio básico não a passividade, mas sim a atividade do aluno. A construção do conhecimento se dá por meio de processos interativos e, portanto, sociais, nos quais os agentes que deles participam estabelecem relações entre si. Por intermédio desse relacionamento e dessa troca de ideias, opiniões e experiências, os alunos vão adquirindo conhecimento e diferentes formas de observar o mundo. Destaca-se a importância da relação professor- -aluno, na construção do conhecimento, pois o professor estimula e ativa o interesse do aluno, conduzindo-o em seu processo de aprendizagem. Segundo Haydt (2006), o professor é fundamental no processo de ensino- - aprendizagem e, basicamente, possui duas funções na sua relação com o aluno. A primeira delas é a função incentivadora e energizante, que aproveita a curiosidade do estudante para despertar o seu interesse e mobilizar seus esquemas cognitivos. A segunda é a função orientadora, que deve direcionar o esforço do aluno para aprender, ajudando-o a construir seu próprio conhecimento. O docente ajuda o aluno a transformar sua curiosidade em esforço cognitivo e a passar de um conhecimento confuso e fragmentado a um saber organizado e preciso. Mas é importante que o professor seja consciente de que ele é um educador que serve de exemplo para seus alunos – sua personalidade, seus valores e seus princípios de vida são veículos que transmitem não apenas conhecimentos em forma de informações, mas também que facilitam a veiculação de ideias, valores e princípios de vida em sala de aula. Dessa forma, a interação professor-aluno é primordial e deve ser considerada em dois aspectos. O primeiro se refere à sua contribuição para a formação da personalidade dos alunos e o segundo destaca-se em função de seu papel de garantir que os estudantes sintam-se valorizados e instigados a aprender. O diálogo em sala deverá representar uma troca de ideias e informações tanto para o professor quanto para o aluno, momento em que o conhecimento será construído em conjunto, chegando-se a uma síntese do saber de cada um. 21 A aprendizagem ocorrerá naturalmente quando o aluno participar ativamente do processo de reconstrução do conhecimento, utilizando seus esquemas operatórios de pensamento; já que ela é uma atividade mental, na qual é preciso pensar e refletir. Com relação aos métodos didáticos mais adequados de ensino, devemos pensar sempre que o melhor procedimento didático é aquele em que o aluno vai incorporar os novos conhecimentos de forma ativa, compreensiva e construtiva, estimulando o pensamento operatório. Assim sendo, cabe ao professor apresentar situações desafiadoras, para acionar os esquemas operatórios de pensamento, dialogar e explicar com clareza, criar condições para a pesquisa, podendo se utilizar de diferentes procedimentos ou métodos de ensino, oferecendo ao seu aluno as mais diversas experiências de aprendizagem, mas com a certeza de que ela será mais eficiente, significativa e duradoura, se o estudante construir o objeto de ensino por meio de sua atividade mental e se suas experiências, vivências e conhecimentos anteriores forem respeitados. Segundo Candau (2002), a escola é concebida como um centro cultural, em que diversas linguagens e expressões culturais estão presentes e são produzidas. O que o professor precisa respeitar e ter como objetivo principal é a aprendizagem do aluno. Por isso, durante suas aulas, o professor deve sempre aproveitar as experiências anteriores dos alunos, incentivando a sua participação e oferecendo a oportunidade de transferir e aplicar o conhecimento aprendido para que mantenham uma atitude reflexiva. Além disso, o docente deve adequar o conteúdo e a linguagem de acordo com o perfil dos alunose verificar constantemente se o estudante assimilou e compreendeu o conteúdo. As práticas didáticas do ensino regular não podem ser aplicadas na EJA, fazendo com que a educação não faça sentido para o estudante. Trabalhar com jovens e adultos requer que se estabeleça um diálogo com cidadãos que possuem uma trajetória marcada pela realidade social em que vivem e com capacidade de estabelecer um diálogo qualificado com o professor. A EJA recebe alunos cada vez mais jovens, trazendo a marca das transformações sociais e do mundo do trabalho; as necessidades econômicas de muitas famílias, fazem com que os jovens abandonem seus estudos. Os procedimentos didáticos utilizados em sala de aula deverão contemplar as demandas desses jovens, ajudando-os no processo de reconstrução do conhecimento e na eficácia de sua ação didática, expressa nos resultados da avaliação do 22 aproveitamento do aluno e, principalmente, na possibilidade de transformar sua condição social. O professor poderá utilizar-se de diversos recursos para atingir o seu objetivo. O uso de jogos ajuda a criar na sala de aula uma atmosfera de motivação que permite ao aluno de qualquer faixa etária participar ativamente do processo de ensino- aprendizagem. O professor também poderá utilizar-se de situação-problema, técnica e dramatização que facilita a aprendizagem quanto à assimilação de conhecimentos e à aquisição de conceitos. Outra opção é o trabalho em grupo que, além de promover a aquisição de conhecimentos e troca de ideias, é um recurso que ajuda a formar hábitos de estudos. Enfim, existem diversas formas e diversos métodos e procedimentos que o professor poderá fazer uso a fim de obter êxito no seu trabalho e tornar a aula mais atrativa. No entanto, o docente deve estar ciente de que a prática pedagógica precisa ser analisada e repensada continuamente, e que seu método de trabalho deve ser adequado de acordo com o perfil de seus alunos. 7 A PROPOSTA FREIRIANA DE AÇÃO/REFLEXÃO/AÇÃO A metodologia, os procedimentos de ensino ou as práticas pedagógicas adotadas pelo professor estão vinculadas ao planejamento construído para desenvolver um processo educativo de excelência, atingir determinadas fi nalidades educativas; alcançar certos objetivos de ensino; possibilitar a aprendizagem de determinados conteúdos e uma realidade educacional distinta expressa na turma que ele ensina. A atitude do professor, na sua interação com a classe e nas suas relações com cada aluno, depende da postura por ele adotada diante da vida e perante seu fazer pedagógico. Essa postura é o refl exo de suas concepções sobre o homem, o mundo e a educação. Não adianta conhecer novos métodos de ensino e utilizar diversos recursos pedagógicos se encararmos os alunos como seres passivos e receptivos. Além disso, é preciso considerar que a melhor aprendizagem não resulta apenas do tempo de permanência na escola, mas do modo adequado da sua utilização. As atividades não devem ter caráter utilitário, nem fi nalístico. O aluno precisa conhecer; logo, não lhe interessa visar a uma fi nalidade prática, o importante é que o objetivo não seja o de desenvolver objetos, e sim o de desenvolver a si próprio. Aprender não implica percorrer caminhos seguros em busca de verdades estáveis, e 23 sim suportar dúvidas e desconfi anças, conviver com as diferenças, investigar os sentidos e as representações, refl etindo os interesses, as visões de mundo e ideologias. Fonte: flaviochaves.com.br Um aprendizado significativo ocorre quando o aluno constrói seu próprio conhecimento; quando há o envolvimento de um sujeito em um processo pessoal de aprendizagem e a conquista progressiva de sua autonomia. Para Haydt (2006, p. 150), o “[...] professor deve variar os procedimentos didáticos, usandoos mais adequados aos objetivos propostos e à natureza do conteúdo estudado. Ele deve favorecer a compreensão, a assimilação e a construção do conhecimento por parte do aluno.” O professor precisa, portanto, rever suas práticas pedagógicas, como exercício para a melhoria da condição profissional. A prática reflexiva proporciona embasamento para construir sua conduta, garantindo mais conhecimento dos seus recursos pedagógicos e mais segurança para realizar suas atividades. Ao trocar informações com seus colegas e outros profissionais, o docente constrói novas estratégias para o desenvolvimento do seu trabalho, fortalecendo os processos de ação/reflexão/ação no espaço educativo. Ele precisa dialogar com as situações do cotidiano, indagando o que parece óbvio e desconfiando do que se 24 apresenta como estável e verdadeiro. É nesta perspectiva que se projeta observar a experiência formativa com lentes problematizadoras. Problematizar é tomar a realidade como ponto de partida e chegada, comprometendo-se com mudanças qualitativas no percurso de levantar problemas, teorizar e propor intervenções (BERBEL, 2001; FREIRE, 1996). É preciso superar um certo senso comum em relação à sua formação profissional, construindo aproximações teóricas mais consistentes. É a relação de um professor com o saber que lhe permite aplicar nos seus afazeres diários a finalidade da instrução escolar. A ação reflexiva proporciona ao professor identificar a importância e os novos desafios que se encontram no seu dia a dia, superando seus limites e despertando todo o potencial dos seus alunos. O docente não é o detentor do saber e precisa estar em constante busca de aperfeiçoamento e especialização, refletindo sobre sua prática na sala de aula. O professor é, assim, um sujeito em constante construção, transformando seu conhecimento, suas práticas pedagógicas e sua concepção de mundo. Ele é um formador de opiniões, que não se contenta em ser o detentor do saber, mas sim busca possuir a capacidade de compartilhá-lo com os alunos, conduzindo-os a uma formação mais integral do sujeito. O grande desafio é repensar a prática docente e sua importância na vida dos alunos. Tomando como referência as reflexões de Freire (1986), o professor precisa possuir alguns saberes e determinadas atitudes essenciais à prática do educador da EJA: assumir-se como profissional libertador que tem postura crítica diante da realidade vivida, valorizando o sujeito com que trabalha, respeitando-o e tendo a intenção de propiciar novos aprendizados; ter papel diretivo no processo educativo, não como quem ocupa uma posição de comando, mas como articulador de um estudo sério sobre algum objeto de investigação; colocar-se na posição de quem busca superar-se constantemente em uma atitude práxica; fazer do ato educativo um ato de conhecimento; colocar-se em constante processo de formação ( o que é central no desenvolvimento de uma prática criadora); trabalhar com indissociabilidade entre teoria e prática mediante reflexão crítica sobre a prática; respeitar o educando e a si próprio como sujeito do conhecimento, ou seja, adotar a postura de um sujeito pensante criativo. São inúmeros os saberes e as atitudes que levam a uma concepção dialógica de educação na EJA. Cabe a cada professor fazer uma opção correta para que a 25 sociedade possa caminhar para a emancipação, superando as diferentes formas de opressão que ainda marcam as relações sociais. Sem compreender o que se faz, a prática pedagógica é uma mera reprodução de hábitos existentes ou respostas a demandas externas. Se um projeto se concretiza em educação é porque os docentes o fazem seu de alguma maneira interpretando-o e adaptando-o (SACRISTÁN, 1997). Para Schwartz (2012), o saber é condição para o fazer, porém não é suficiente. O saber do professor demanda conhecimento teórico, mas inclui, além disso, habilidades e recursos que transcendem a ele. É preciso saber e saber fazer nas situações reais. É necessário que o professor reflita que sem pensar criticamente, ele encaminha-se para a alienação, para o não profissionalismo, para a incompreensão dos fenômenos sociais e educativos. Quando o professor constrói saberes sobre como os sujeitos aprendem e como é possível ensinar a todos, ele compreende as reações do aluno, planeja e desenvolve suas ações direcionadas a esses sujeitos reais, ensinando e aprendendo com todos eles. O trabalho do professor deve estar voltado para a construção e reconstrução diárias, em um movimento constante de ação/reflexão/ação da prática docente e da busca de significados dos conteúdos para a vida dos educandos. 8 ORGANIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO: ESCOLHAS METODOLÓGICAS IMPORTANTES O termo didática ainda carrega signifi cados de suas defi nições originárias – essa é uma palavra grega que signifi cava ensinar ou fazer aprender. Ela foi utilizada no século XVII pelo educador Comenius (1997), que defi niu a didática como a arte de ensinar. A didática está diretamente associada ao trabalho docente e seus efeitos sociais no conjunto das tarefas educativas (LIBÂNEO, 1990). Ao se proporem a ensinar, o professor e a escola assumem a responsabilidade social, já que o processo educacional tem como finalidade preparar cidadãos e garantir que os conhecimentos e as competências necessárias à sua atuação sejam compreendidas. A didática emprega seus esforços, primeiramente para sistematizar os conhecimentos já adquiridos nas diversas áreas do conhecimento, direcionando- - os para as práticas pedagógicas; depois, para produzir novos conhecimentos sobre 26 as práticas de ensino e cunhar novos métodos e formas de ensinar. A didática vai além da reflexão teórica e dedica-se a compreender os procedimentos cotidianos. Para Maseto (1997), a didática sugere ao educador como planejar um curso com a participação dos alunos. Isso significa dividir as responsabilidades do processo, tornando os alunos e os professores conscientes de que o trabalho e o esforço são mútuos. A didática permite, por exemplo, selecionar assuntos relevantes e técnicas que facilitem a participação dos alunos e, consequentemente, a aprendizagem. Segundo o autor, a didática possibilita, ainda, organizar formas de relacionar teoria e prática, associando os conhecimentos científicos ao cotidiano do aluno. Outro ponto que merece destaque é que a didática também atua como instrumento para transformar a avaliação em algo que incentive o aluno e não seja meramente um objeto de punição ou ameaça. O professor apoia na didática não só as práticas para aprendizagem dos alunos, mas também para sua própria aprendizagem, incentivando-o à pesquisa e a buscar por novas informações e novos conhecimentos que auxiliem sua atuação profissional, permitindo que ele compartilhe experiências com outros docentes. A escola é um espaço de aprendizado para o homem desenvolver habilidades específicas, julgadas necessárias para as sociedades humanas. Sempre que nos referimos à escola, teremos em mente um lugar de aprendizagem permanente (MASETO, 1997). Nesse cenário, o aluno é o principal responsável por esse processo, que envolve procurar informações, experimentar e rever suas experiências, adaptar- se a mudanças, desenvolver e descobrir sentidos e significados para as coisas e os fatos e aprender comportamentos e condutas sociais. E se o aluno é o protagonista da aprendizagem, o professor é a personagem principal no ato de ensinar, é dele a responsabilidade de comunicar os conhecimentos, trazer as informações, mediar os saberes, ser um guia, conduzindo às habilidades. Ensinar e aprender são parte de um único processo, contínuo e indissociável. Um bom professor deve ser capaz de articular o que ensina com os contextos nos quais e para quais ensina. Não é provável construir conhecimentos sem métodos de ensino, sem planejamento didático.Assim, o docente da EJA deve se preocupar com a didática, em saber como ensinar, além de dominar os conhecimentos de sua formação. Os saberes sobre educação precisam compor o aprendizado do professor. Ao trabalhar com a EJA, precisamos ter em mente que o adulto não é um sujeito em 27 formação, ele já passou por diversas experiências e aprendeu diversas habilidades. O adulto é o principal responsável por sua aprendizagem, ele escolhe e determina os caminhos que quer seguir. As escolhas do adulto são pautadas por suas necessidades e por reconhecer que é importante conhecer e entender sua necessidade de conhecimento. O adulto já possui uma motivação em aprender, sua determinação e as escolhas são pautadas por esse princípio. Fonte: viagemeturismo.abril.com.br O professor atua de forma consciente, suas práticas devem compor um conjunto de ações sistematizadas e organizadas para garantir a aprendizagem dos alunos. Para organizar tais práticas, o docente precisa dispor de instrumentos que coordenem seu trabalho, orientem sua atuação e articulem as atividades desenvolvidas com a realidade escolar. Tais instrumentos são fornecidos pelo planejamento. Planejar é escolher, definir metas, conhecer a realidade da escola, definir as principais necessidades dos alunos frente ao currículo, preparar as atividades a serem desenvolvidas. O planejamento pressupõe a análise criteriosa de sua função social. Como afirma Freire (1986), exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo que pressupõe a tomada consciente de decisões. 28 No processo de construção de currículo, é preciso considerar que as realidades escolares são diversas, pois os alunos pertencem a diferentes grupos culturais, étnicos e religiosos e possuem saberes em diferentes níveis sobre o conteúdo a ser ensinado. Os conteúdos devem apresentar uma sequência, que não se relaciona apenas à simples aquisição de informação. É por meio dos conteúdos que transmitimos e assimilamos conhecimentos. Ao selecionar os conteúdos a serem ensinados, o professor deve basear-se nos seguintes critérios: validade, utilidade, significação, adequação ao nível de desenvolvimento do aluno e flexibilidade. É a partir dos objetivos propostos para o ensino, da natureza do conteúdo a ser desenvolvido, das características dos alunos das condições físicas e do tempo disponível, que se escolhem os procedimentos de ensino e se organizam as experiências de aprendizagem mais adequadas. Um dos maiores desafios enfrentados pela educação brasileira na atualidade diante da ampliação do acesso à Educação Básica é oferecer um ensino de qualidade, ou seja, que possibilite aos estudantes a apropriação dos conhecimentos vistos na escola. Na tentativa de superar esses desafios, é preciso destacar que a educação é uma forma de intervenção no mundo e que pressupõe a tomada de decisões coerentes com o perfil de cidadão que se pretende formar. Assim, as práticas pedagógicas poderão estar a serviço da dominação e da manutenção da ordem social vigente ou estar empenhadas em emancipar os sujeitos, contribuindo para as transformações das relações sociais mais amplas. Com base nessa constatação, ao analisar as formas de utilização da avaliação escolar nas práticas pedagógicas dos professores, você poderá concluir que a atividade avaliativa poderá ser utilizada como um mecanismo de controle social, perpetuando o medo de ser avaliado expresso pelos alunos e o poder de avaliar concedido ao professor. Ou, em uma outra perspectiva, entender que a avaliação educacional poderá ser considerada um meio pelo qual os alunos expressam seu nível de conhecimento sobre as temáticas estudadas, sendo um elemento que possibilita ao professor repensar sua prática pedagógica. Evidencia-se dessa forma que a avaliação do processo de ensino e aprendizagem não é neutra. Como afirmam Andre e Passos (2002), é preciso analisar 29 a avaliação a partir de múltiplas perspectivas: a epistemológica, a histórica, a filosófica, a psicológica, sociológicas e a pedagógica. Na perspectiva epistemológica, consideram-se três grandes correntes a cerca da gênese do conhecimento: a empirista, a inatista, e a interacionista. No enfoque empirista, avaliar significa identificar o alcance dos objetivos de ensino preestabelecidos; na inatista, avaliar significa autoavaliar para identificar quanto cada um cresceu e se desenvolveu; e na interacionista, avaliar significa identificar o nível de desenvolvimento e aprendizagem atingidos pelo sujeito até aquele momento. Na perspectiva psicopedagógica, a avaliação é considerada como instrumento de aprendizagem para os alunos, pois evidencia seus sucessos e suas dificuldades; e de investigação didática para o educador, pois auxilia o professor na tomada de decisões e na organização do processo de ensino. Na perspectiva sociológica, evidencia-se o caráter de instrumento de controle atribuído à avaliação, bem como o seu papel como fortalecedora das desigualdades sociais, na medida em que pode contribuir para a produção do fracasso escolar. É preciso alertar que a escola possui um grande poder na construção das representações da realidade como se ela fosse a verdade absoluta e imutável. Essas constatações permitem a você identificar que a avaliação é um processo complexo, que não se resume à adoção de determinados procedimentos como provas ou trabalhos, mas que envolve uma gama de elementos condicionantes, que precisam ser explicitados e discutidos pelos envolvidos nas relações de ensino e aprendizagem na escola. Para tanto, é urgente a construção de propostas formativas que permitam ao professor questionar seu papel social na formação de cidadãos e os reflexos da avaliação do ensino e da aprendizagem nesse processo. É preciso construir respostas para a pergunta: que cidadão eu pretendo formar? Aquele passivo e acomodado diante de sua realidade? Ou um cidadão que será capaz de se apropriar dos conhecimentos escolares e a partir deles traçar análises críticas de suas realidades? Na tentativa de responder essas questões, é preciso que o professor tome consciência de que as formas de organizar o processo de ensino e aprendizagem e, consequentemente, a avaliação, não são neutras, e que suas escolhas devem ser conscientes e coerentes com o perfil dos cidadãos que ele pretende formar. 30 9 PROPOSTA METODOLÓGICA: ADAPTAÇÃO À DIVERSIDADE ENCONTRADA EM SALA DE AULA As representações sociais sobre o analfabeto jovem e adulto no Brasil têm sido assumidas em uma perspectiva bastante negativa expressando, às vezes, veladamente preconceitos que permeiam o senso comum. Nesse sentido, considerando a sociedade letrada que existe nos dias de hoje, coloca-se a necessidade de inclusão dos não alfabetizados no universo da cultura escrita e nos contextos de uso da linguagem, o que exige a elaboração de meios eficazes para implementar ações que efetivem essa inclusão, atendendo a interesses políticos, sociais e educacionais. A necessidade de somar esforços no âmbito político e acadêmico para continuar lutando pela eliminação do fracasso escolar justifica os estudos no campo da alfabetização e do letramento, contribuindo para que todos os alunos, jovens ou adultos, possam usufruir o direito de aprender e de utilizar a língua em diferentes situações, combatendo, assim, as desigualdades sociais. A concepção simplificadora do processo de educação de adultos tende a ver o alfabetizando como alguém que não se desenvolveu culturalmente. Por isso, nesse contexto, a prática pedagógica é orientada apenas para a lógica do ensino, utilizando, muitas vezes, os mesmos procedimentos didáticos inadequados empregados também para ensinar as crianças. Essa forma de ver a questão parece menosprezar o conhecimento do sujeito analfabeto, porque percebe a alfabetização de adultoscomo uma “[...] retomada de crescimento mental de um ser humano que estacionou na fase infantil” (PINTO, 1994). Ela não considera o conhecimento prévio do alfabetizando, os saberes adquiridos por meio de sua história de vida e ignora que o desenvolvimento e a aprendizagem acontecem na interação social, que não cessa pelo fato de o indivíduo permanecer analfabeto. A Educação de Jovens e Adultos é caracterizada pela participação dos alunos, pela flexibilidade, pelo foco no processo, atendendo às especificidades de cada educando sem estar preocupada com ênfase no conteúdo, com metodologia e organização voltadas para um currículo rígido. A ativa participação dos alunos deverá ocorrer nas diversas fases do processo de ensino-aprendizagem como diagnóstico das necessidades educativas, elaboração de plano e estabelecimento de objetivos, a 31 partir do diagnóstico e de formas adequadas de avaliação. Ela deve ser embasada no conforto, na informalidade e no respeito, garantindo que o aluno da EJA se sinta seguro e confiante. Fonte: curitiba.pr.gov.br Considerando que a atividade docente, diante da diversidade cultural e social, das características individuais dos alunos e da complexidade e variedade de situações cotidianas que existem em sala de aula, se encontra em constante mudança, é preciso utilizar diferentes tipos de conhecimentos para decidir e agir de forma mais sensata, produtiva e estimulante no planejamento do trabalho pedagógico e na efetivação desse planejamento. Frequentemente, o mundo escolar apresenta imprevistos, desafios, obstáculos e surpresas. Para lidar com esse dinamismo é preciso estar suficientemente preparado para atuar criativamente no desenvolvimento dos conteúdos. Quando algo nesse planejamento não se concretizar de acordo com as expectativas, embora a decepção e o sentimento de frustração sejam inevitáveis, o importante é não desanimar e analisar os erros, procurando verificar a natureza deles e o porquê de o planejado não ter ocorrido conforme o previsto. Toda educação verdadeiramente comprometida com o exercício da cidadania precisa criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da 32 linguagem que satisfaça necessidades pessoais. Essas necessidades podem estar relacionadas às ações efetivas do cotidiano, à transmissão e busca de informação e ao exercício da reflexão. Desse modo, a escola tem como responsabilidade promover o acesso dos estudantes ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinando-os a interpretá-los e a produzi-los. No contato com textos de diversas naturezas e que tragam informações sobre diferentes áreas do conhecimento, os alunos devem ser levados a compreender um conceito, descrever um problema, identificar uma nova informação, comparar pontos de vista e argumentar a favor ou contra determinada teoria ou hipótese (BRASIL, 1997). O professor precisa conhecer previamente os alunos para a eficiência dos processos de ensino e de aprendizagem. Em relação aos alfabetizandos jovens e adultos, além desse diagnóstico, também é importante pensar e responder questionamentos como: Quem são esses aprendizes? Como vivem, o que pensam, o que fazem, por que resolveram voltar a estudar, ou, quem sabe, iniciar seus estudos? (SCHWARTZ, 2012). É fundamental renunciar a visão de que os analfabetos são ignorantes, ingênuos e incompetentes, devemos, sim, enxergá-los como sujeitos inteligentes, que desenvolveram estratégias de sobrevivência em uma cultura escrita sem estar adequadamente instrumentalizados para isso, resolvendo problemas, vivendo trabalhando e amando. Para muitos alunos da EJA, aprender a ler e a escrever era sinônimo de uma atividade cansativa, já que consideravam as aulas muito chatas. É necessário fazer com que os estudantes acreditem que o entendimento a respeito de como se ensina e como se aprende avançou, fazendo com que as aulas se tornem diferentes das que eles esperavam, articulando o prazer com o aprender na sala de aula. O ser humano é movido pelo princípio do prazer, e esse princípio deve estar presente no aprender a ler e a escrever. A educação de jovens e adultos deve ser orientada no sentido de despertar no aluno a consciência da importância de alfabetizar-se, de instruir-se. E essa necessidade será despertada também a partir da compreensão crítica da sua realidade e da sociedade em que está inserido. Os alunos jovens e adultos geralmente retornam à escola em busca de uma aprendizagem que não conseguiram construir em outros momentos de suas vidas. O professor precisa conhecer seus estudantes e seus anseios, além de descobrir o que 33 eles buscam no espaço escolar, para que servirá a aprendizagem e de que forma será possível atingir os objetivos propostos. E, a partir desse conhecimento, o profissional deverá pautar suas ações, oportunizando que os sujeitos falem, participem, sugiram e explicitem suas expectativas e seus medos, diminuindo assim a ansiedade em frente ao desconhecido. A atividade docente deve ser permeada de máxima competência técnica para que o desenvolvimento das capacidades linguísticas de ler, escrever, falar e ouvir sejam proporcionados aos alunos. É preciso estabelecer um pacto de confiança entre professor e aluno para atingir plenamente os objetivos propostos pela EJA. O conhecimento, nas suas novas dimensões, exige uma interação muito maior entre a escola e o seu espaço social. Trata-se de aprender e reaprender em todas as fases da nossa vida e de reorganizar a educação em função dessa nova realidade. De acordo com Raiça (2008), o professor tem o papel de mediador de inúmeras teias relacionais da vida, nesse mundo em constante transformação, diante de inúmeros aparatos tecnológicos, sem perder sua maior essência: a paixão por educar. Já não é mais possível ver a educação como um universo isolado ou vê-la sem compreender as suas complementaridades com outros espaços do conhecimento: relacionar, integrar, contextualizar, fazer nosso o que vem de fora, saber, desvendar, ir além da superfície, transcender o previsível e a exterioridade, aprofundar os níveis de descoberta e penetrar mais fundo nas coisas da realidade, do nosso interior. 10 AÇÕES METODOLÓGICAS A PARTIR DE UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR E INTERCULTURAL PARA A EJA De acordo com Martins (1999), o planejamento educacional é um processo dinâmico que tem uma meta a ser atingida e que prevê as formas de atingi-la, partindo de uma situação atual e visando a uma situação futura provável da educação que deverá atender tanto ao indivíduo quanto à sociedade. Nessa perspectiva, a educação é um desafio constante para a sociedade e a luta contra o fracasso escolar, por meio do uso de novas metodologias e técnicas de ensino, da especialização dos professores e da integração escola-família são requisitos fundamentais no processo de educar para a vida. 34 A partir dessas ponderações é imprescindível repensar o currículo escolar, pois a escola assume a função de transformação dos sujeitos enquanto construtores da sua própria história. Assim, a escola vai fortalecendo sua importância na vida do cidadão, não só por possibilitar o acesso à cultura por meio do conhecimento socialmente valorizado, como também por sua função na promoção da cidadania, por intermédio do convívio social e do exercício de práticas participativas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) normatizam a organização pedagógica da escola em torno de três princípios orientadores que são a contextualização, a interdisciplinaridade e as competências e habilidades. A interdisciplinaridade está relacionada ao conceito de contextualização sócio- histórica como princípio integrador do currículo. Indissociável da interdisciplinaridade, a transversalidade estrutural, complementa e insere a educação no contexto social e histórico. Issoporque ambas propõem uma articulação que vá além dos limites cognitivos próprios das disciplinas escolares, sem, no entanto, recair no relativismo epistemológico. Ao contrário, elas reforçam essas disciplinas ao se fundamentarem em aproximações conceituais coerentes e nos contextos sócio-históricos, possibilitando as condições de existências e constituição dos objetos dos conhecimentos disciplinares. Interdisciplinaridade é uma nova atitude diante da questão do conhecimento, de abertura à compreensão de aspectos ocultos do ato de aprender e dos aparentemente expressos, colocando-os em questão (FAZENDA, 2001, p.11). Isso significa olhar para o cotidiano escolar problematizando as supostas obviedades. O lugar da busca hospeda-se na escola e, em especial, na sala de aula, onde as relações são disseminadas. São desenvolvidos sujeitos que compartilham e ocupam o mesmo espaço, embora habitando lugares diferentes, com expectativas e necessidades variadas. A sala de aula na interdisciplinaridade constitui um espaço intermediário entre os sujeitos, para que as fronteiras existenciais e intelectuais sejam entrelaçadas, cuidando para promover a manutenção do diálogo, compartilhando para que esse lugar seja habitado. A interdisciplinaridade exige certa ordem e determinado rigor e reconhece alunos e professores como pessoas portadoras e construtoras de história. 35 Por isso, trabalhar de modo interdisciplinar pressupõe trabalhar com a história no singular e no plural, ou seja, com suas diferentes narrativas; elas são o ponto de partida e o de chegada para o dimensionamento e o redimensionamento da realidade, que sempre se encontra embebida de significados, os quais não podem ser desprezados em função de perfis pré-moldados de aluno. Fonte: certificadocursosonline.com A teoria da interdisciplinaridade sustenta-se em uma relação de reciprocidade, em que o desvendar de novos saberes é também compartilhado pelo professor por meio da atitude de se desafiar e de se encantar perante o novo. É necessário que o educador aprenda a interagir com o outro e não apenas com os educandos, que desempenhe um papel social na interação e na construção dos saberes interligados e que suas atitudes em relação ao outro sejam estabelecidas e fundadas na busca de sua identidade. As obrigações devem ser realizadas prazerosamente com a cooperação mútua, em espaços construídos sobre bases sólidas, com estruturas resistentes, passo a passo e, nessa troca, será possível perceber o educador com identidade única, constituindo, com os educandos, um grupo que toma forma, com identidade e parceria, estabelecendo vínculos, aprimorando conhecimentos, compondo um pequeno universo com energia única. Reconhecer a condição de busca significa reconhecer a si mesmo e ao outro como autores da história e do 36 conhecimento, em um processo marcado pela parceria, que inclui um educador necessariamente provocador da construção de perguntas, de dúvidas e, portanto, de algumas diferentes saídas. Trabalhos interdisciplinares nos primeiros ciclos da Escola Fundamental, na EJA, como no ensino para crianças, têm encontrado um espaço muito mais receptivo do que nos ciclos seguintes. Não podemos considerar esse fato sem relacioná-lo à formação dos educadores e à própria organização do trabalho escolar que nos primeiros anos de escolarização apresenta uma rigidez muito menor na distribuição dos tempos, dos espaços e dos profissionais para o trabalho com diversas disciplinas. Intenção interdisciplinar é planejar, estar disponível para rever atitudes, ter o respeito pelo aluno e fazer da sala de aula um espaço inovador e pleno de descobertas para o aprendizado. É o trabalhar docente visando a uma troca de experiências, provocando um enriquecimento na construção do conhecimento. Segundo Fazenda (1994, p. 31), o professor interdisciplinar traz em si um gosto especial por conhecer e pesquisar, ele possui um grau de comprometimento diferenciado para com seus alunos e usa novas técnicas e procedimentos modernos de ensino. No caso específico da EJA, na linha da Proposta Curricular para Jovens e Adultos, elaborada pela Ação Educativa sob a chancela do Ministério da Educação, foram produzidos materiais didáticos bastante consistentes para o desenvolvimento de um projeto pedagógico de escolarização de jovens e adultos. Esses materiais foram desenvolvidos a partir de temas como a identidade do aluno, as trajetórias de vida, as relações com o espaço físico e social, questões de saúde, condições de vida e integração ao ambiente, cidadania e participação. Essas questões adquirem tonalidades próprias quando esse ensino se realiza em um contexto de EJA, uma delas se destaca pela dramaticidade que assume quando se torna decisiva, não apenas para as opções pedagógicas dos educadores, mas para a própria inserção, permanência e para o crescimento do aluno no processo de escolarização. Os temas transversais são muito utilizados em sala de aula. São debatidos em diferentes espaços sociais em busca de soluções e de alternativas, confrontando posicionamentos diversos, tanto em relação à intervenção no âmbito social mais amplo, quanto em relação à atuação pessoal. São questões relevantes sobre temas sociais, que interrogam sobre a vida humana e sobre a realidade que está sendo 37 construída. Ao fazer uso dos temas transversais, o professor estará utilizando um artifício muito rico e poderoso no desenvolvimento do ser humano, ao lidar com temas do cotidiano da sociedade. Os Parâmetros Curriculares Nacionais tratam essas duas dimensões de forma diferenciada, porém, na prática pedagógica, alimentam-se mutuamente, tornando o currículo estruturado e priorizando o desenvolvimento de competências e de habilidades. Portanto, entende-se por competência a capacidade de mobilizar e articular recursos para a resolução de situações complexas de forma criativa. Para Ambrossetti (2002, p. 90), o que se observa na sala de aula é que o aprender não é mais um problema unicamente seu, mas coletivo. O aluno precisa sentir prazer no aprender e cabe ao professor desenvolver o conteúdo, contemplando novos caminhos em busca de uma maior aprendizagem. A prática pedagógica interdisciplinar visa à superação da estrutura fragmentada do conhecimento, a partir da articulação dos conteúdos, das metodologias e das práticas pedagógicas. Nesse sentido, metodologicamente, o trabalho é desenvolvido nas concepções de interatividade, interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade, como formas de ações pedagógicas, que promovem a conectividade, a integração, o diálogo, a interseção, a reciprocidade e a integralização das experiências entre disciplinas da EJA. O processo de ensino e aprendizagem não é igual para todos os sujeitos, já que ninguém aprende da mesma forma, pois os conhecimentos prévios de cada um são diferentes. Essa perspectiva defende a reorganização dos conteúdos a partir da sua compreensão e da solução de problemas. Na sociedade atual, existe um preconceito em relação àqueles que não dominam o código escrito. O domínio da leitura e da escrita fortalece a cidadania, por isso, há políticas públicas dos movimentos sociais e de projetos educacionais para integrar o analfabeto à sociedade. Em muitas dessas iniciativas, a alfabetização associa-se à incorporação de jovens e adultos não escolarizados às estruturas sociais. Saber ler e escrever é recurso capaz de por si só levar à prosperidade e ao bem-estar social. A mera aquisição de conhecimentos e habilidades não é suficiente para alcançar tal propósito; são necessárias iniciativas articuladas a outras políticas e a mudanças sociais mais amplas. 38 Assim, necessita-se assumir a importância desse objetivo pelas construções metodológicas a se manifestarem em práticas na EJA, diagnosticando
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