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Geriatria Senescência e Senilidade: Entender o processo de envelhecimento começa com a definição e a distinção entre os termos senescência e senilidade. O envelhecimento pode ser compreendido como um processo natural, de diminuição progressiva da reserva funcional dos indivíduos – senescência - o que, em condições normais, não costuma provocar qualquer problema. No entanto, em condições de sobrecarga como, por exemplo, doenças, acidentes e estresse emocional, pode ocasionar uma condição patológica que requeira assistência - senilidade. Cabe ressaltar que certas alterações decorrentes do processo de senescência podem ter seus efeitos minimizados pela assimilação de um estilo de vida mais ativo. Dois grandes erros devem ser continuamente evitados. O primeiro é considerar que todas as alterações que ocorrem com a pessoa idosa sejam decorrentes de seu envelhecimento natural, o que pode impedir a detecção precoce e o tratamento de certas doenças e o segundo é tratar o envelhecimento natural como doença a partir da realização de exames e tratamentos desnecessários, originários de sinais e sintomas que podem ser facilmente explicados pela senescência. AGA - Avaliação Geriátrica Ampla A avaliação de um paciente idoso, especialmente os frágeis e com muitas comorbidades, deve ser feita considerando aspectos multifatoriais, levando em conta sua complexidade e abordando fatores fisiológicos, cognitivos, sociais, funcionais e psicológicos. A resposta para a necessidade de uma maneira particular de avaliar um idoso se encontra na Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) O que diferencia a AGA de uma anamnese comum é a ênfase dada na avaliação funcional e de qualidade de vida, utilizando-se de instrumentos (testes, índices, escalas), e sempre com foco em uma intervenção – seja para um aconselhamento sobre saúde, reabilitação ou até mesmo indicação de institucionalização ou internação hospitalar. Deborah Batista - M35 Componentes da AGA: Avaliação funcional:1. A funcionalidade do idoso é a capacidade que ele tem de cuidar de si mesmo e de viver de forma independente dentro da sociedade; é analisada por dois conceitos distintos: Independência – quando o idoso realiza atividades específicas sem precisar da ajuda de uma outra pessoa (avaliada através das Atividades Básicas de Vida Diária - ABVDs), e a Autonomia – que é a capacidade do idoso tomar decisões (avaliada pelos instrumentos de Atividades Instrumentais de Vida Diária - AIVDs) Deborah Batista - M35 A Escala de Lawton, apesar de não ter sido validada ainda para a população brasileira, é utilizada como instrument para avaliar as AIVDs. 2. Avaliação da função cognitiva e alterações de humor: O declínio cognitivo pode levar a dependência progressiva e culminar na perda de autonomia do idoso; os testes de rastreio cognitivo costumam ser simples, práticos de aplicar e fáceis. A depressão nos idosos pode cursar com incapacidade funcional e déficit cognitivo, sendo um importante diagnóstico diferencial, e deve ser também rastreado. Deborah Batista - M35 São vários os motivos que podem levar um idoso ao risco de nutrição, como viver sozinho, restrições funcionais e condições sociais desfavoráveis. A Mini Avaliação Nutricional (MAN) é o único instrumento validado para avaliação nutricional do idoso, com pontuação máxima da avaliação total de 30 pontos – uma pontuação abaixo de 23,5 indica risco de desnutrição e com menos de 17 pontos o paciente é considerado desnutrido. Esse instrumento é feito inicialmente com uma triagem – se o paciente pontuar menos de 12 pontos então será necessária continuar a avaliação nutricional. Importante lembrar que as medidas antropométricas devem sempre ser avaliadas nas consultas, com aferição de peso e altura e cálculo de IMC (Atenção! O IMC considerado eutrófico do idoso é entre 22 e 27 kg/m²). Durante essa avaliação também são importantes as medidas de circunferência do braço – avalia gordura subcutânea a musculature, e a circunferência da panturrilha – medida mais sensível da massa muscular em idosos. 3. Avaliação de Equilíbrio, Mobilidade e Risco de Quedas 4. Avaliação Nutricional: 5. Avaliação do sono: É importante dar atenção aos horários da rotina do sono do paciente; que horas ele se deita, que horas se levanta, se ao acordar se sente descansado, se há insônia – e caracterizar essa insônia como inicial, de manutenção ou terminal – e se há presença de roncos como sonolência diurna na tentative de identificar a Apneia do Sono. Deborah Batista - M35 Uma das mais complexas avaliações do idoso; abrange as relações e atividades sociais que o idoso está envolvido, os recursos financeiros e familiars disponíveis e com quem o idoso pode contar se for preciso. Essas relações podem ser informais - com membros da família, vizinhos amigos – ou formais. As atividades sociais do idoso estão muito correlacionadas com qualidade de vida; o isolamento social é considerado um fator de risco importante para o déficit cognitivo. O Apgar da família (e dos amigos) é uma escala que pode ser utilizada para avaliar a qualidade da interação social dos idosos; essa escala varia de 0 a 10 e um escore menor que 3 indica disfunção nas relações familiares e/ou de amizade. 6. Avaliação sensorial: As deficiências sensoriais são muito comuns com o envelhecimento e podem ser causas de declínio funcional nas atividades de vida diária e de quadros confusionais; os idosos devem ser questionados – e testados – para declínio visual e audivito. Para avaliar a audição, pode ser feito o teste do sussurro e, para avaliação da visão, pode ser feito o teste com a tabela de Snellen. Se for encontrada alguma alteração, o paciente deve ser encaminhado ao especialista pois o prejuízo sensorial pode causar isolamento social e maior risco de quedas e de quadros confusionais. 7. Avaliação Socioambiental: Envelhecimento Osteomolecular A massa muscular diminui quase 50% entre os 20 e 90 anos, e a força muscular, que é máxima por volta dos 30 anos, sofre perda de 15% por década a partir dos 50 anos. Essa perda é mais acelerada, chegando a 30%, por década, aos 70 anos e, praticamente a metade aos 80 anos. Essa redução ocorre tanto em número quanto no volume das fibras. Entretanto, a força muscular do diafragma sofre pouca alteração, enquanto a força da musculatura da panturrilha diminui significativamente ao longo dos anos. O trabalho muscular é necessário para a manutenção de quase todas as funções do corpo como postura, locomoção, respiração e digestão. A atividade física, independentemente da idade, aumenta a força e a velocidade muscular, além de prevenir perda óssea, quedas, hospitalizações e melhorar a função articular. Deborah Batista - M35 Os homens e as mulheres perdem massa óssea trabecular e cortical durante toda a vida adulta; os homens mais lentamente, e as mulheres mais rapidamente depois da menopausa, o que leva a um aumento do risco de fratura. Reabsorção de cálcio do osso, em vez de dieta, aumenta com o envelhecimento à medida que os níveis do paratormônio se elevam. Perdas sutis de altura começam logo após a maturidade; encurtamento significativo é evidente na velhice. A maior perda de altura ocorre no tronco e reflete o adelgaçamento dos discos intervertebrais e encurtamento ou mesmo colapso dos corpos vertebrais em decorrência de osteoporose, que resulta em cifose e aumento do diâmetro anteroposterior do tórax. A flexão adicional dos joelhos e quadris também contribui para a redução da altura. Essas alterações fazem com que os membros de uma pessoa idosa tendam a parecer longos em comparação com o tronco. Marcha, postura e equilíbrio: O sistema nervoso participa, praticamente, de todas as funções orgânicas. Uma das mais importantes para a pessoa idosa é o controle da marcha e do equilíbrio. A instabilidade postural representa um dos gigantes da geriatria devido às suas complicações. Várias são as estruturas centrais e periféricas responsáveis por essa função de independência motora. Com o avanço da idade a marcha se altera.Na maioria das vezes a mulher, tanto adulta jovem quanto idosa, tem um desempenho pior quando comparada ao homem. Deborah Batista - M35 É comum uma certa hesitação no andar, menor balanço dos braços e passos menores. Ao mudar de direção no caminho faz a volta com o corpo em bloco. A postura típica, mais rígida, como se estivesse em alerta para se defender de alguma queda, caracteriza-se pela base alargada, retificação da coluna cervical, um certo grau de cifose torácica, flexão do quadril e dos joelhos. Fatores que predispõe a queda: Riscos ambientais, como má iluminação, superfícies de piso escorregadio, calçados inadequados, contribuem aproximadamente com 10% das quedas nos hospitais. Os riscos ambientais aumentam o risco de queda em pacientes com alteração da deambulação e dificuldade de mobilização durante transferências. Por exemplo, pacientes com dificuldade de marcha possuem maior risco de perder o equilíbrio e cair ao andar em pisos escorregadios do que aqueles com marcha normal. Os fatores de risco ambientais são divididos em: fatores de risco individuais (são os relacionados com o ambiente onde o paciente está alocado) e fatores de risco relacionados ao ambiente de uso coletivo. Os fatores de risco ambientais devem ser avaliados, de acordo com as alterações no ambiente, na função cognitiva e/ou rotina do paciente. Fatores que predispõe ALTO para DANO GRAVE de queda: Deborah Batista - M35 Síndrome da Imobilidade A síndrome da imobilidade é definida como um conjunto de repercussões deletérias ao organismo acamado por um período prolongado. Sendo muito prejudicial principalmente para os indivíduos que apresentam idade superior aos 60 anos. As causas desta imobilidade são variadas, porém as mais predominantes são afecções neurológicas e músculo-esqueléticas. O sistema músculo-esquelético é o mais acometido por esta síndrome, porém não é o único. Praticamente todos os sistemas do organismo ficam comprometidos: cardiorrespiratório, vascular, endócrino, gastrointestinal, urinário e neurológico, além do tecido conjuntivo e epitelial. Existe a possibilidade de a imobilidade afetar também o estado emocional do paciente, podendo levá -lo à apatia, isolamento, depressão, ansiedade. A síndrome da imobilidade representa um risco para o indivíduo acometido por causa da redução da capacidade funcional, a redução das funções fisiológicas e por causa das complicações. As complicações vão variar de acordo com a condição do paciente anterior à imobilidade, comorbidades pré-existentes e aos cuidados no leito com este paciente As principais consequências da imobilidade em cada sistema são: 1. Sistema cardiovascular: hiporresponsividade barorreceptora (hipotensão ortostática); intolerância ortostática (taquicardia, náusea, sudorese e síncope após repouso prolongado); redistribuição do volume circulante dos membros inferiores para a circulação central (11% ou 500 mL), especialmente para o pulmão; redução da capacidade aeróbica, com diminuição da tolerância ao exercício; alto risco de trombose venosa profunda; 2. Sistema digestório: anorexia secundária a restrição dietética, doença de base, efeito de medicamentos, alterações psíquicas; desidratação por redução da ingestão hídrica; alto risco de aspiração pulmonar por engasgo, tosse ou refluxo associados a posicionamento inadequado; doença do refluxo gastroesofágico; constipação intestinal e fecaloma; Deborah Batista - M35 Considera-se que a família é a principal fonte de apoio instrumental e financeiro, sendo esses aspectos os mais fragilizados quando nota-se a insuficiência familiar. Sendo assim, é notável idosos com insuficiência familiar se queixarem de falta de atenção da família, apresentarem sinais de descuido com a saúde e aparência, além de claros sinais de ansiedade e possivelmente depressão. É importante ressaltar o risco que estes pacientes têm de sofrerem quedas ou complicações de doenças prévias devido à ausência de um cuidado que só poderia ser desempenhado por outra pessoa na redução da independência dessa população. Dois pilares estão intrinsecamente relacionados a essa síndrome: baixo apoio social e relação familiar prejudicada. Quando se trata de apoio social, considera-se a interação do idoso com familiares, amigos e vizinhos, vínculos estes muitas vezes feitos ao longo de vários anos e que desempenham papel fundamental no aspecto psicológico do paciente, pois este grupo pode estar presente em grupos religiosos, entidades não-governamentais ou simplesmente constitui uma comunidade local. Insuficiência familiar: 3. Sistema geniturinário: aumento do volume residual da bexiga e alto risco de retenção urinária ("bexigoma"); alto risco de incontinência urinária de urgência, transbordamento e/ou funcional; alto risco de infecção urinária aguda ou recorrente e bacteriúria assintomática; nefrolitíase (hipercalciúria da imobilidade e pouca ingestão de água); 5. Pele: intertrigo nas regiões de dobras cutâneas, particularmente nas regiões inframamária e interglútea; dermatite amoniacal da "fralda"; escoriações, lacerações e equimoses, frequentemente causadas por manipulação inadequada do idoso; xerodermia; prurido cutâneo; úlcera de pressão por compressão prolongada da pele, levando a comprometimento da circulação local; redução do tônus e da força muscular (3 a 5% ao dia), encurtamento e atrofia muscular; redução da elasticidade das fibras colágenas com hipertonia, encurtamento muscular e tendinoso e contraturas. Deborah Batista - M35 O apoio emocional é muito evidente nesse grupo e trabalha a capacidade comunicativa e interpessoal do idoso. No âmbito familiar – frequentemente representado pelos filhos -, deve ser considerada a atual transição demográfica, com uma enorme queda na taxa de natalidade, além da inserção feminina no mercado de trabalho e a tendência de mudança de cidade de residência dos familiares, resultando num apoio cada vez mais escasso. Risco de quedas e as escalas usadas para identifica-las: Para avaliar diferentes tipos de quedas: Determinar a contribuição externa à queda, avaliando-se se a contribuição teria sido suficiente para derrubar alguém saudável e mais jovem; Investigar somente aqueles indivíduos que sofreram duas ou mais quedas; Classificar a intensidade de movimento no momento da queda. a) Epidemiologia: A incidência de quedas aumenta com a idade e varia de acordo com a situação funcional do indivíduo. Estima-se incidência de cerca de 28 a 35% de quedas em indivíduos com mais de 65 anos, 35% naqueles com mais de 70 anos e 32 a 42% nos indivíduos com mais de 75 anos. Algumas evidências apontam para uma incidência de 50% em indivíduos com mais de 80 anos. A prevalência de quedas entre os homens é cerca de 34,8% e nas mulheres de 40,1%. Deborah Batista - M35 b) Causas das quedas: Fatores associados ao envelhecimento -> tendência à lentidão dos mecanismos de integração central, importantes para os reflexos posturais. O envelhecimento parece reduzir a capacidade de processamento e a habilidade de dividir a atenção. A escala de risco de quedas de Downton é um instrumento de rápida aplicação para o avaliador determinar o risco de quedas diante de sinais físicos e mentais apresentados pelo idoso que está sendo avaliado. Pontuação igual ou superior a 3 indica alto risco de quedas Escalas: A escala de Morse é composta por seis critérios para a avaliação do risco de quedas. Cada critério avaliado recebe uma pontuação que varia de zero a 30 pontos, totalizando um escore de risco, cuja classificação é a seguinte: risco baixo, de 0 – 24; risco médio, de 25 – 44 e risco alto, ≥452. Deborah Batista - M35
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