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Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: End�crin�l�gia Clínica - Lúcio Villar Insuficiência adrenal Introdução Conceito: ● A insuficiência é o comprometimento da síntese dos esteróides adrenais, por mecanismos primários, secundários e terciários. ● Causas primárias: destruição do córtex glandular. ○ Mais comum em mulheres. ○ Idade mais acometida: 30-50 anos. ○ Não é comum, mas pode ocorrer na infância. ● Causas secundárias: comprometimento hipofisário (ACTH). ○ Mais comum em idosos, a partir dos 60 anos. ● Causas terciárias: comprometimento hipotalâmico (CRH). Obs: de forma geral se chama de deficiência secundária as causas hipofisárias e hipotalâmicas. Etiologias da causa primária: ● Doença autoimunes → 80% dos casos. ○ Principal causa de insuficiência adrenal primária: doença de Addison. ○ Adrenalite autoimune. ○ Síndrome Poliglandular Autoimune (SPA). ■ Pode ser SPA isolada, do tipo 1, 2 ou 4. ● Causas infecciosas → 20% dos casos, por… ○ Tuberculose → pode estar associada a doença de Addison, como causa infecciosa. ○ SIDA. ○ Causas fúngicas. ● Causas genéticas: ○ Adrenoleucodistrofia. ■ Pensar quando: pacientes jovens e do sexo masculino. ■ Pode ter acometimento cerebral e adrenal. ■ Quadro comum: insuficiência suprarrenal com desmielinização da substância branca. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Hiperplasia adrenal congênita. ○ Hipoplasia adrenal congênita. ○ Síndromes de resistência ao ACTH. ● Outras causas: ○ Hemorragia suprarrenal bilateral: pode ocorrer por sepse e meningococcemia, principalmente. ○ Infiltração suprarrenal não infecciosa: ocorre por metástases, sarcoidose, amiloidose e hemocromatose. ○ Adrenalectomia bilateral: por hiperplasia micronodular e síndrome de cushing ACTH-dependente. ○ Drogas: uso de mitotano, etomidato, cetoconazol e mifepristone → uso crônico. Etiologias da causa secundária e terciária: ● Mais comum: causa iatrogênica, por glicocorticoterapia crônica. ● Tumores hipofisários. ● Irradiação hipofisária. ● Hipofisite linfocítica. ● Causas genéticas: deficiência isolada de ACTH congênita e insuficiência adrenal associada à síndrome de Prader-Willi. ● Apoplexia hipofisária. ● Infiltração ou granuloma hipofisário. ● Trauma cerebral. Breve conceito fisiológico Divisões das camadas da adrenal: córtex + medula → a insuficiência adrenal está relacionada com o córtex. ● Medula: possui as células cromafins, produtoras de catecolaminas. ● Córtex: possui 3 camadas, sendo elas → glomerulosa, fasciculada e reticular. ○ Camada glomerulosa: produz aldosterona → estímulo renal, pela renina. ■ É, principalmente, a diminuição da aldosterona que causa o quadro sintomático da insuficiência adrenal. ○ Camada fasciculada: produz cortisol → estímulo pelo ACTH. ○ Camada reticular: produz andrógenos (DHEAs) → estímulo pelo ACTH. Eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal: 1. Produção de CRH pelo hipotálamo. 2. CRH estimula a hipófise a produzir ACTH. 3. ACTH atua na suprarrenal e estimula a produção e liberação do cortisol e de andrógenos. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so 4. Cortisol, por feedback negativo, sinaliza à hipófise que diminua sua produção de ACTH → por consequência, o hipotálamo também diminui sua secreção de CRH. Consequências da insuficiência por causa primária: ● Diminuição da produção de cortisol: causa maior estímulo à hipófise e ao hipotálamo para produção de ACTH e CRH. ● Diminuição da produção de aldosterona: causa aumento da retenção de K (hipercalemia), aumento excreção de Na (hiponatremia) e aumento da depleção de fluidos. Além disso, pela diminuição da aldosterona, há um aumento da secreção de renina → principais clínicas na insuficiência adrenal. ○ De forma fisiológica, a aldosterona atua nos rins, estimulando a excreção de K e a retenção de Na - bomba Na⁺/ K⁺ - e de fluídos. ○ Ademais, visto que a aldosterona é estimulada pela renina (produzida pelos rins), a diminuição de aldosterona aumenta a secreção de renina. Consequências da insuficiência por causa secundária e terciária: ● Detalhe importante: como o ACTH não estimula a produção de aldosterona, não haverá alteração na secreção de aldosterona → o setor mineralocorticóide é preservado. ● Insuficiência hipofisária: diminuição da secreção de ACTH, que diminui a secreção de cortisol e andrógenos. ● Insuficiência hipotalâmica: diminuição da secreção de CRH, que diminui a secreção de ACTH e, por consequência, de cortisol e de andrógenos também. Quadro clínico Insuficiência adrenal primária: ● Sinais - def. corticóide: ○ Hiperpigmentação mucocutânea → apenas na insuficiência primária. ○ Hiponatremia. ○ Hipercalcemia. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Hipoglicemia. ○ Hipotensão. ○ Alterações no hemograma → anemia, linfocitose e eosinofilia. ○ Febre. ○ Aumento de TSH. ● Sintomas - def. de corticóide: ○ Fadiga e adinamia. ○ Anorexia e perda de peso. ○ Dor abdominal e distúrbios gastrintestinais. ○ Náusea, vertigens e vômito. ○ Mialgia e artralgia. ● Quadro da deficiência de aldosterona/mineralocorticóides: ○ Avidez por sal. ○ Hipovolemia. ○ Hiponatremia. ○ Hipercalemia. ○ Hipotensão, que pode ser postural também → pode ser um sintoma precoce. ● Quadro da deficiência de andrógenos: ○ Perda de pêlos axilares e pubianos. ○ Amenorréia ○ Fadiga e adinamia. ○ Redução da força. ○ Redução da libido → mulheres. ○ Pele seca → mulheres. ● Sintomas psiquiátricos: ocorrem como manifestação inicial da doença ou em IA grave ou de longa duração. ○ Síndrome cerebral orgânica. ○ Depressão. ○ Psicose. Obs: na IA secundária não há deficiência de mineralocorticoide, visto que o sistema renina-angiotensina não se altera, mantendo a secreção de aldosterona; mas, pode haver hiponatremia por redução do clearance de água livre, devido ao hipocortisolismo. Obs: 15-22% dos pacientes com doença de Addison também tem doença celíaca, então deve-se sempre pesquisar quando houver sintomas gastrintestinais. Obs: vitiligo é observado em 10-20% dos casos de doença de Addison. Insuficiência adrenal secundária: ● Há deficiência apenas dos glicocorticóides e de andrógenos. ● Aspectos diferentes da IA primária: não há hiperpigmentação, não há depleção de @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so volume ou desidratação e não há hipercalemia. ● Há hipotensão apenas em casos agudos. ● Caso haja associação com neoplasias centrais, pode haver cefaléia e distúrbios visuais. Insuficiência adrenal aguda/crise adrenal/crise Addisoniana: urgência. ● Possíveis causas da crise: infecções, cirurgia ou desidratação (por privação de sal, diarreia ou vômitos), reposição isolada de hormônios tireoidianos em indivíduos com hipotireoidismo e hipocortisolismo. ● Sinais: ○ Hipotensão e choque hipovolêmico → principal. ○ Desidratação. ○ Cianose ou palidez. ○ Febre. ○ Confusão mental ou torpor. ○ Coma. ○ Hipoglicemia - rara em adultos e comum em crianças. ● Sintomas: ○ Dor abdominal. ○ Náuseas e ou vômitos. ○ Fraqueza. ○ Apatia. Diagnóstico Dosagem de cortisol sérico basal: medido pela manhã, entre 8-9h da manhã. (VR: 5-25 mcg/dl) → deve ser o primeiro exame solicitado. ● Pessoas normais: 10-15 mcg/dl. ● < 5 mcg/dl: indicativo de insuficiência renal. ● < 3 mcg/dl: diagnóstico de insuficiência adrenal. ● > 3 e < 18 mcg/dl: se faz o teste de estímulo de cortisol, para diagnosticar ou excluir a possibilidade. ○ Para o estímulo pode-se usar 250 mcg ACTH, IV, seguido de nova dosagem de CS após 30-60 min. ○ Se, após o estímulo, o cortisol se mantiver < 18, tem o diagnóstico de insuficiência adrenal. ● > 18 mcg/dl: exclui a insuficiência adrenal. ● Gestantes: indicação de IA quando… ○ Primeiro trimestre: < 11 mcg/dl. ○ Segundo trimestre: < 16 mcg/dl. ○ Terceiro trimestre: < 22 mcg/dl. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Quando os valores forem indicativos, se faz a estimulação com 250 mcg de ACTH → pontos de corte: (para o diagnóstico os valores devem estar diminuídos). ■ 1º trim.: 25 μg/dℓ. ■ 2º trim.: 29 μg/dℓ. ■ 3º trim.:32 μg/dℓ. Obs: em pacientes críticos, com doença aguda grave (ex: sepse), valores ao acaso de cortisol sérico < 10 μg/dℓ indicam hipocortisolismo e > 34 μg/dℓ exclui o diagnóstico. Dosagem de ACTH plasmático: medido pela manhã, entre 7-8h da manhã, em tubo com EDTA no gelo. (VR: < 46 pg/ml) ● ACTH > 100 pg/ml: insuficiência adrenal primária → doença de Addison. ○ Na DA esses valores podem podem alcançar 4.000 pg/ml ou mais. ● ACTH baixo: insuficiência adrenal secundária. ○ Geralmente < 10 pg/ml ou no limite inferior da normalidade - entre 10 e 20 pg/ml. ● Elevação de ACTH + valores normais de cortisol pode ser o primeiro sinal da fase precoce da IA primária. ● Cortisol sérico < 5 μg/dℓ + ACTH plasmático 2x o limite superior da normalidade = alta indicação de doença de Addison. Outros: ● DHEAs: 443-3310 ng/ml. ● Aldosterona: < 10,5 ng/dl. ● Renina: 2,8-39,9 u/ml. Para IA secundária: ● Teste da hipoglicemia induzida por insulina ou teste de tolerância à insulina (ITT). ○ Resposta normal do CS: pico > 18 μg/dℓ → esse valor descarta IA e baixa reserva hipofisária. ○ Resposta glicêmica normal: a glicemia deve cair para menos de 40 mg/d ℓ. ○ Contraindicação do teste: idosos, presença de doença cardiovascular ou cerebrovascular ou doenças que cursem com convulsões. ● Se o ITT for contraindicado, se faz o teste de metirapona ou glucagon. Obs: na prática clínica não se mede o CRH, pois independente do resultado, se mede o ACTH. Exames adicionais: ● DHEAs: baixo. ● Aldosterona e renina: aldosterona baixa e renina elevada → alterações apenas em casos primários, em casos secundários esse sistema está íntegro. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Investigação de doenças autoimunes: no caso de diagnóstico de Addison, se faz investigação de outras doenças autoimunes. ○ Dosar TSH e T4 livre. ○ Vitamina B12. ○ Hemograma. ○ Glicemia. ○ Hb glicada. ● Anticorpo anti-210H: positivo em 85% dos casos de adrenalite autoimunes → recomenda a pesquisa na avaliação diagnóstica de IA primária. ● Dosagem de ácidos graxos de cadeia longa: investigar adrenoleucodistrofia. ● Dosagem de 17-hidroxiprogesterona: pesquisa-se principalmente em crianças, na investigação de hiperplasia adrenal congênita. Alterações bioquímicas: ● Hiponatremia e hipercalemia → por deficiência mineralocorticoide. ● Uremia → secundária à depleção volumétrica e à desidratação. ● Hipoglicemia em jejum ou pós-prandial. ● Hipercalcemia. ○ Na IA secundária, não ocorre hipercalemia pela manutenção do sistema renina-angiotensina-aldosterona. ● Anemia normocítica e normocrômica. ● Eosinofilia. ● Linfocitose. ● Elevação de transaminases. ● Hipomagnesemia (raro). Exame de imagem: ● TC suprarrenal ou RNM: na doença autoimune, as adrenais têm tamanho normal ou diminuído, enquanto estão quase sempre aumentadas nos outros casos. ● TC suprarrenal SEM contraste: após o diagnóstico - para afastar a possibilidade de doenças infecciosas → ex: TB pode causar calcificações na adrenal. ○ Exceto nos casos de adrenoleucodistrofia ou em adrenalite autoimune inequívoca. Diagnósticos diferenciais: ● Sepse ou choque séptico. ● Causas inflamatórias → pancreatite ou colecistite aguda. ● Isquemia mesentérica. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Tratamento Crise suprarrenal aguda - crise Addisoniana: ● Medidas gerais: ○ Coletar amostra de sangue para hemograma, dosagens bioquímicas e hormonais (cortisol e ACTH) ○ Corrigir volemia, com solução glicofisiológica, desidratação, distúrbios eletrolíticos e hipoglicemia. ○ Tratar a infecção ou outros fatores precipitantes. ● Hidrocortisona: (ação de glico e mineralocorticóide) ○ Inicialmente - 100 mg, EV. ○ Segue com - 200 mg em infusão contínua IV, ou 50 mg de 6/6h, IV. ■ Reduzir a dose em 50% no dia seguinte. ○ Reposição volêmica com SF a 0,9% glicosado a 10% → 1000 ml em 1h. ○ Quando o paciente estiver tolerando alimentos VO, passar a administrar o glicocorticoide VO também. ■ Se necessário, adicionar fludrocortisona (0,1 mg VO). Tratamento de manutenção e na insuficiência adrenal crônica: ● Prednisolona: 5 mg às 7h da manhã, VO, e 2,5 mg às 14h da tarde, VO. ● Deidroepiandrosterona (DHEA): 25 a 50 mg/dia, VO - apenas para mulheres. ● Reposição de mineralocorticoide na doença de Addison: uso de fludrocortisona 0,05 a 0,2 mg, VO pela manhã. ● Gestantes: aumentar, durante o terceiro trimestre, sua dose diária de HC em 20 a 40% (geralmente, 5 a 10 mg). ○ Após o parto, realizar reposição EV de hidrocortisona. Seguimento clínico: ● Manter o paciente assintomático, com peso, pressão arterial e eletrólitos normais. ● Informar ao paciente a necessidade de usar cartão ou bracelete de identificação da insuficiência adrenal. ● Duplicação da dose do glicocorticóide em períodos de estresse → ex: infecções virais ou bacterianas, cirurgias… Obs: a resposta clínica é o melhor parâmetro para avaliação da eficácia do tratamento. Obs: os mineralocorticóides são importantes para reabsorção de sódio e excreção de potássio → normalização de distúrbios hidroeletrolíticos. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Consequência do seguimento crônico: ● A reposição crônica de glicocorticóide pode causar síndrome de cushing → primeiro ponto é sempre evitar doses supra-fisiológicas de glicocorticóides. ○ Face em lua cheia. ○ Obesidade do tronco, com bolsas de gordura cervicais no dorso (giba de búfalo). ○ dedos e extremidades distais finos. ○ Desgaste muscular e fraqueza. ○ Pele fina e atrófica. ○ Má cicatrização de ferimentos e facilidade para formar hematomas. ○ Estrias violáceas no abdome. ○ Outros achados comuns: hipertensão, cálculos renais, osteoporose, intolerância à glicose, diminuição da resistência a infecções e distúrbios mentais. ● Exames de monitoração: ○ Peso. ○ PA. ○ Perfil metabólico. ○ Avaliação de sódio, potássio e renina. ○ Concentração de vit. D. ○ Densitometria óssea. ○ Em crianças - avaliar o desenvolvimento. TSH elevado e insuficiência suprarrenal: ● A primeira coisa a se fazer é administrar corticóide. ● Após administração de corticóide e estabilização do TSH, se pesquisa melhor a hipótese de hipotireoidismo. ○ Caso o TSH esteja alto por conta da crise addisoniana, a administração de corticóide noralizará o TSH. ● Nunca se administra levotiroxina sem antes administrar corticóide, pois a levotiroxina aumenta a necessidade de cortisol e, nesse caso, com o cortisol baixo, a crise pode piorar. Prognóstico e seguimento Adultos com IA: reavaliação anual com relação à dose de reposição, para descartar doses excessivas ou insuficientes. Pacientes com DA autoimune: investigação anual para outras doenças autoimunes, como DM tipo 1, doença tireoidiana autoimune, falência ovariana precoce, doença celíaca e gastrite autoimune com deficiência de vitamina B12. Pacientes com IA primária devido a distúrbios monogênicos: aconselhamento genético. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Fluxograma de investigação diagnóstica para insuficiência adrenal @p�sitivamed
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