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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/332879011 Casos Clínicos na Osteoporose Chapter · May 2019 CITATIONS 0 READS 2,481 15 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Spine Infections View project Guidelines on treatment of Type 2 Diabetes View project Antonio Tirado Hospital de Santa Maria 18 PUBLICATIONS 61 CITATIONS SEE PROFILE Carlos Vaz University of Porto 36 PUBLICATIONS 220 CITATIONS SEE PROFILE Davide Carvalho Universidade do Porto / Centro Hospitalar Universitário de S. João/ i3S Instituto d… 499 PUBLICATIONS 2,401 CITATIONS SEE PROFILE Gisela Eugénio Centro Hospitalar do Baixo Vouga 34 PUBLICATIONS 118 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Davide Carvalho on 15 May 2019. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/332879011_Casos_Clinicos_na_Osteoporose?enrichId=rgreq-e041cd35ee63156ebe41f3578347c2a5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMjg3OTAxMTtBUzo3NTg4NjY2ODE3OTQ1NjBAMTU1NzkzOTMyNDgwMw%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/332879011_Casos_Clinicos_na_Osteoporose?enrichId=rgreq-e041cd35ee63156ebe41f3578347c2a5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMjg3OTAxMTtBUzo3NTg4NjY2ODE3OTQ1NjBAMTU1NzkzOTMyNDgwMw%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Spine-Infections-3?enrichId=rgreq-e041cd35ee63156ebe41f3578347c2a5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMjg3OTAxMTtBUzo3NTg4NjY2ODE3OTQ1NjBAMTU1NzkzOTMyNDgwMw%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf 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https://www.researchgate.net/profile/Davide-Carvalho?enrichId=rgreq-e041cd35ee63156ebe41f3578347c2a5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMjg3OTAxMTtBUzo3NTg4NjY2ODE3OTQ1NjBAMTU1NzkzOTMyNDgwMw%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf Casos Clínicos na Osteoporose 12 especialistas | 12 perfis de doentes | 12 casos clínicos Coordenação: Dr.ª Eugénia Simões Colaboração: Dr. António Tirado Prof. Doutor Carlos Vaz Prof. Doutor Davide Carvalho Dr.ª Gisela Eugénio Prof. Doutor Jaime Branco Dr. José António Costa Dr. José Carlos Romeu Dr.ª Manuela Micaelo Prof. Doutor Mário Rui Mascarenhas Dr.ª Teresa Nóvoa Dr.ª Viviana Tavares A rAzão de ser deste mAnuAl Assente no espírito de partilha de experiências e de conheci- mentos, o presente manual nasceu da vontade de evidenciar diferentes realidades, onde a osteoporose se assume como um denominador comum. Os casos clínicos aqui apresentados refletem diferentes di- mensões na osteoporose, demonstrando alguns dos desa- fios que os especialistas confrontam na prática clínica atual. Com o aumento da esperança média de vida e o contínuo en- velhecimento da população, a osteoporose é, hoje, uma das patologias mais comum em todo o mundo, representando um problema grave de saúde pública. Além da exposição dos casos clínicos propriamente ditos, este livro apresenta ainda o perfil de cada um dos especia- listas convidados, com o intuito de dar a conhecer um pouco melhor o seu percurso profissional a par de um tema de re- levância dentro do vasto campo da osteoporose. É também neste espaço que os respetivos autores têm a oportunidade de lançar um breve olhar sobre os casos crite- riosamente elegidos, colocando em evidência as principais especificidades que os demarcam, sem o intuito de ocorrer em conclusões abrangentes ou extrapolações de resultados. Espera-se, pois, que esta obra possa representar um impor- tante contributo para todos aqueles que desenvolvem a sua atividade clínica em prol do doente com osteoporose. Cientes de que a troca de práticas e saberes é um legado inestimável, os autores deste projeto ambicionam que este livro corresponda inteiramente às expectativas de quem o lê. Nota iNtrodutória 3 Dr.ª Eugénia Simões (coordenadora) Guidelines atuais e futuras: os desafios Dr.ª Teresa Nóvoa Prevenir a osteoporose – “doença silenciosa” Caso Clínico: Prevenção primária da primeira fratura Dr. António Tirado Atuar perante as fraturas vertebrais osteoporóticas Caso clínico: Cifose por fraturas dorsais em osteoporose secundária Dr.ª Eugénia Simões O papel da prevenção secundária nas fraturas do colo femoral Caso clínico: Osteoporosefraturária: efeito “dominó” (co-autoria: Dr.ª Nathalie Madeira) Prof. Doutor Mário Rui Mascarenhas Os desafios da osteoporose no jovem adulto Caso clínico: Osteoporose no jovem adulto Prof. Doutor Davide Carvalho As particularidades da osteoporose masculina Caso clínico: Fraturas vertebrais compressivas com perda estatural num jovem Prof. Doutor Carlos Vaz Especificidades da osteoporose no idoso Caso clínico: Osteoporose no indivíduo idoso Dr.ª Viviana Tavares A abordagem sequencial na osteoporose Caso Clínico: Tratamento sequencial da osteoporose Dr. José Carlos Romeu Quando considerar uma resposta inadequada à terapêutica? Caso Clínico: Resposta inadequada à terapêutica ÍNDICE 54 Dr.ª Gisela Eugénio Corticoterapia: risco acrescido de fratura Caso Clínico: Osteoporose e corticosteroides Dr.ª Manuela Micaelo A doença renal crónica como fator precipitante de osteoporose Caso clínico: Desafios no tratamento da osteoporose na doença renal crónica Dr. José António Costa Osteoporose associada às doenças reumáticas inflamatórias Caso Clínico: Abordagem do doente com doença reumática de longa evolução: a importância da avaliação das comorbilidades e manifestações extra-articulares (co-autoria: Dr.ª Joana Rodrigues) Prof. Doutor Jaime Branco Questões do tratamento da osteoporose a longo prazo Caso Clínico: Tratamento da osteoporose a longo prazo (co-autoria: Dr. Tiago Costa) 06 10 12 14 16 20 22 26 28 32 34 38 40 44 46 50 52 56 58 60 62 66 68 72 74 ÍNDICE Guidelines atuais e futuras: os desafios Em Portugal, estima-se que a prevalência da osteoporose seja acima dos 10%, sendo de 17% nas mulheres e 2,6% nos homens1. Estima-se ainda que cerca de 40 mil fraturas osteoporóticas ocorrem anualmente no nosso país2, o que se traduz num eleva- do fardo socioeconómico. As fraturas de fragilidade represen- tam uma elevada mortalidade e morbilidade, com consequên- cias graves para a economia e sistemas de saúde a nível mundial. A atualização, em 2018, das recomendações portuguesas para a prevenção, diagnóstico e tratamento da osteoporose primá- ria3, por parte da Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR), alerta-nos para estes números, ao mesmo tempo que fornecem orientações precisas para diferentes questões como a avaliação do risco de fratura, o início da terapêutica, as opções farmacoló- gicas e a duração do tratamento, entre outras. Na sua opinião, considera que a atualização das recomendações portuguesas para a prevenção, diagnóstico e tratamento da os- teoporose primária corresponde às necessidades reais sentidas na prática clínica? Estas novas recomendações, elaboradas pelo Grupo de Estudo de Doenças Ósseas Metabólicas (GEODOM) da SPR, para além de atualizarem as últimas guidelines publicadas em 2007, traduzem- -se, sem dúvida, num artigo mais didático, com indicações precisas, fundamentadas e aplicáveis na prática clínica diária, sobretudo nos cuidados de saúde primários (CSP). Quer em termos de prevenção, como do diagnóstico e da terapêu- tica, julgo que as 11 questões clínicas selecionadas e que compõem esta atualização são, de facto, as mais assertivas para a prática clí- nica. Neste sentido, o artigo está construído na forma de respostas a essas perguntas, podendo orientar, de forma abrangente, em di- ferentes situações. Como avaliar o risco de fratura, quando recorrer à medição da den- sidade mineral óssea ou quando não há indicação para a densito- metria óssea, quem tratar e como tratar, quais as indicações para o intervalo/paragem da terapêutica com bisfosfonatos, quando sus- peitar de osteoporose secundária, quais as melhores estratégias preventivas de osteoporose e quando referenciar a um reumato- logista são algumas das orientações que se podem encontrar de forma muito precisa e de grande mais-valia para a prática clínica. É certo que, como qualquer guideline, as recomendações são infor- mações gerais que podem ser consideradas nas decisões clínicas individuais. Tem de existir sempre um bom senso clínico por parte de cada médico de modo a encontrar a solução mais adequada para o seu doente. Um outro aspeto desta atualização, e que poderá ser interpretada de forma mais controversa, mas é, sem dúvida, bastante útil, rela- ENTREVISTA ciona-se com a eficácia dos fármacos e suas indicações, assim como o posicionamento desses fármacos em termos de custo-benefício. Esta atualização das recomendações, coloca mais ênfase no FRAX e retira um pouco o protagonismo à densitometria óssea… É uma tendência geral, não só a nível nacional, e que tem alterado o paradigma da osteo- porose. Até há uns anos, o raciocínio clínico baseava-se muito na densidade mineral óssea e, atualmente, baseia-se mais no FRAX®, enquanto ferramenta para avaliação dos fatores de risco clínicos de fraturas de fragilidade, sendo um deles a densidade mineral óssea, mas existindo outros, como por exemplo, a existência de fratura do colo do fémur na história fa- miliar, sobretudo em familiares de 1.º grau, e a ocorrência de fratura de fragilidade prévia. A evidência revela-nos que, de facto, o FRAX®, validado para a nossa população, é a forma mais adequada de avaliar o risco de fratura. Há também, nas recomendações, um enfoque crucial na prevenção da osteoporose. O que é preciso fazer ou mudar para prevenir a osteoporose? Como medidas preventivas não farmacológicas, as recomendações trazem esse enfoque para o exercício físico (recomendável ao longo da vida da pessoa, adaptado às diversas fases da vida) e para a alimentação saudável (nomeadamente a dieta mediterrânica que, para além dos benefícios do ponto de vista cardiovascular, é também vantajosa para a aquisição e manuten- ção da massa óssea), assim como a ingestão adequada de cálcio e a exposição solar apropriada por causa da importância da vitamina D. Pensa-se que 60 a 80% da aquisição do pico da massa óssea é determinada de forma genética. Porém, a evidência também nos diz que a adoção de um estilo de vida saudável é essencial para alcançar esse potencial genético. Deste modo, faz todo o sentido intervirmos nestes fatores de risco modificáveis que nos permitem capitalizar massa óssea e reduzir o risco de fratura. O próprio exercício físico, para além de evitar a perda da massa óssea, permite um fortalecimento muscular e auxilia na prevenção de quedas. Implementar estas medidas preventivas, é o principal desafio na osteoporose? Felizmente, já começamos a assistir a uma mudança na mentalidade dos portugueses e a procura por uma alimentação saudável e pelo exercício físico é cada vez mais visível. Em todo o caso, a promoção por um estilo de vida saudável e sua adesão deve continuar a ser sempre uma orientação da nossa parte para os doentes e, por vezes, nem sempre é tão bem con- seguido. Porém, diria que o verdadeiro desafio é a própria especificidade da osteoporose, enquanto doença silenciosa. É crucial o diagnóstico precoce da osteoporose e, neste aspeto, a densitometria óssea tem o seu papel. É importante que o clínico saiba e identifique os fatores de risco em utentes acima dos 50 anos e, no caso de existirem fatores de risco que justifiquem, seja solicitada uma densitometria ós- sea. Se houver uma densidade mineral óssea baixa, podemos estabelecer o diagnóstico pre- coce de osteoporose. Como se sabe, a osteoporose é assintomática até acontecer a primeira fratura ou a primeira fratura identificável. Convém relembrar que a fratura vertebral muitas vezes é assintomática, o que reforça a necessidade, também, de um diagnóstico precoce. Dentro dos fatores de risco para causas secundárias de osteoporose e fraturas de fragi- lidade, as mulheres são um grupo de risco que deve ser avaliado… Exatamente, mas não só... As mulheres, principalmente as que têm uma menopausa precoce, dr.ª eugénia simões assistente Hospitalar Graduada de reumatologia no instituto Português de reumatologia e Coordenadora do livro Casos Clínicos na osteoporose 76 8 9 constituemum grupo de risco e devem ser avaliadas e acompanhadas, independentemente de terem outros fatores de risco para a osteoporose. Sabemos que a menopausa é, por si só, uma situação de risco para a osteoporose. Outras causas, essas relacionadas com relacio- nadas com a osteoporose secundária, podem estar relacionadas com a toma de corticoides, disfunção da tiroide ou o hiperparatiroidismo primário, por exemplo. A baixa/moderada adesão à terapêutica por parte dos doentes com osteoporose é uma realidade evidenciada nestas recomendações. Quais as razões? Para além de serem, muitas vezes, doentes polimedicados, a verdade é que, como é uma pato- logia assintomática, não é fácil convencer o doente – principalmente o doente que não sofreu fratura – que necessita de fazer corretamente a sua medicação. Algo que se agrava, quando a terapêutica é um bisfosfonato oral que tem um modo de administração menos agradável (estar em jejum e após a toma estar em pé/sentado durante 30 minutos) e pode ter alguns efeitos secundários indesejáveis. Doentes que já sofreram fraturas, têm uma melhor perceção do que é a osteoporose e, por norma, acabam por ter uma melhor adesão à terapêutica. De salientar que, para sabermos o resultado da terapêutica – e neste aspeto as mulheres são mais ansiosas e questionam muito se a terapêutica está a ter efeito – a densitometria óssea tem o seu papel. Sabemos que as terapêuticas são eficazes, mas há fármacos, como é o caso do raloxifeno, que tem uma eficácia anti-fraturária, mas esta eficácia é independente do efeito sobre a densidade mineral óssea e, como tal, tem cada vez menos indicação. Outras terapêuticas, como os bisfosfonatos, o denosumab ou a teriparatida têm uma eficácia anti- -fraturária e aumentam a densidade mineral óssea. Quando tal não acontece, em princípio só há duas razões: ou o doente não faz uma boa adesão e uma boa administração do medi- camento ou há uma outra condição clínica que pode ter passado despercebida ao médico, como uma alteração da tiroide ou um défice de vitamina D, entre outras. Doentes que não evidenciem uma boa adesão à terapêutica de primeira linha (bisfosfo- natos de forma oral), é recomendável a substituição da terapêutica? Nessas situações, sim. Quer através do ácido zoledrónico de administração intravenosa ou do denosumab de administração subcutânea, consegue-se um melhor controlo da toma do fármaco – diria que, deste modo, a adesão é quase 100%. Também em situações de intolerân- cia oral, má absorção ou em casos de contraindicação como a insuficiência renal é necessá- rio considerar a substituição da terapêutica de primeira linha. A verdade é que, atualmente, dispomos de terapêuticas eficazes e seguras, sendo importante o diagnóstico precoce da patologia, o tratamento atempado e o acompanhamento destes doentes para inverter os números elevados de fraturas e os custos associados. O que é importante no papel das sociedades científicas para a prevenção das fraturas? Acima de tudo é essencial haver uma boa articulação entre as várias sociedades. A osteopo- rose é uma patologia que, pelas suas características, acaba por ser uma entidade transversal e que exige um envolvimento multidisciplinar. Neste sentido, a SPR, a SPODOM, a Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT), a Sociedade Portuguesa de Medicina Fí- sica e de Reabilitação (SPMFR), a Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG), a Sociedade Portuguesa de Menopausa (SPM) e a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) são entidades que, de uma forma ou de outra, têm ligação com doen- tes com osteoporose. É claro que esta articulação tem também de ser estabelecida ao nível dos CSP. A Medicina Geral e Familiar tem o seu papel primordial na implementação das medi- das preventivas e na identificação dos fatores de risco de fratura. Na sua perspetiva, quais os passos futuros a serem adotados? A maior parte dos doentes que sofre fraturas, nomeadamente fraturas do colo do fémur, tem indicação cirúrgica. Contudo, grande parte destes doentes, quando tem alta do Serviço de Ortopedia, não é referenciada, nem tratada – estes doentes saem do hospital sem pres- crição de terapêutica farmacológica para a osteoporose. Isto é grave, na medida em que sa- bemos que um doente com fratura osteoporótica sem ser tratado tem um risco acrescido de sofrer nova fratura. Além disso, um doente com fratura do colo do fémur tem indicação para tratamento e, neste ponto, não podem haver dúvidas. A International Osteoporosis Foundation (IOF), a SPR, a Sociedade Portuguesa de Osteopo- rose e Doenças Ósseas Metabólicas (SPODOM), assim como outras associações e socieda- des científicas internacionais, pretendem alterar esta situação, de modo a que a mesma não aconteça ou aconteça cada vez menos. Para alcançar este objetivo, a Prof.ª Doutora Helena Canhão e a Prof. Dr.ª Ana Rodrigues, através do GEODOM da SPR, têm estado envolvidas no desenvolvimento de um projeto nacional – o Grupo de Centros de Ligação para Fraturas (Fracture Liason Centers Group) – que, de certa forma, vai permitir a captação destes doentes. Em finais de 2018, o Grupo de Centros de Ligação para Fraturas arrancou em 15 centros de Reumatologia. Através do estabelecimento de protocolos com os Serviços de Ortopedia e/ ou com a Medicina Geral e Familiar, os Centros de Ligação para Fraturas vão permitir, para o doente com fraturas primárias, um diagnóstico, terapêutica e referenciação de forma mais célere e mais eficaz, assim como o adequado seguimento destes casos. Referências bibliográficas 1. Branco JC, Rodrigues AM, Gouveia N, et al. Prevalence of rheumatic and musculoskeletal diseases and their im- pact on health-related quality of life, physical function and mental health in Portugal: results from EpiReumaPta national health survey. RMD Open. 2016;2(1):e000166. 2. Circular Normativa Direção Geral da Saúde – Orientação técnica sobre suplemento de Cálcio e Vitamina D em pessoas idosas. Nº: 13/DSCS/DPCD/ DSQC Ad. 3. Rodrigues AM, et al. Portuguese recommendations for the prevention, diagnosis and management of primary osteoporosis - 2018 update. Acta Reumatol Port. 2018 Jan-Mar;43(1):10-31. ENTREVISTA «o verdadeiro desafio é a própria especificidade da osteoporose, enquanto doença silenciosa. É cru- cial o diagnóstico precoce da osteoporose e, neste aspeto, a densitometria óssea tem o seu papel.» Perfil - dr.ª euGÉnia simões É reumatologista do Instituto Português de Reumatologia (IPR) desde Fevereiro de 1994. Nesta Instituição é responsável por uma Consulta de Doenças Ósseas Metabólicas. É responsável técnica pelo Sector de Den- sitometria Óssea, tendo igualmente desempenhado funções de Direção Clínica. Possui Certificação técnica em Densitometria Óssea pela ISCD, pela IOF e competência Técnica pela Ordem dos Médicos. Pertenceu aos Corpos Sociais do IPR e Direção da Sociedade Portuguesa de Doenças Ósseas Metabólicas. Participa regularmente em diversas reuniões nacionais e internacionais, como palestrante convidada, com a apresentação de trabalhos científi- cos, alguns deles distinguidos com prémios. Publicou diversos trabalhos em várias revistas nacionais e internacionais. Pertence ao grupo de Trabalho da DOR, ao Grupo de estudos da Artrite Reumatóide (GEAR) e das Doenças Ósseas Metabólicas (GEODOM) da SPR, da qual foi relactora. É sócia da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, Sociedade Portugue- sa de Doenças Ósseas Metabólicas, Sociedade Portuguesa de Doenças Psicossomáticas, da ANDAR e da APOROS. Prevenir a osteoPorose – – “doença silenciosa” A prevenção da osteoporose deve iniciar-se na infância e adoles- cência para diminuir, em cerca de 50%, o risco de fratura na idade adulta. De acordo com a Dr.ª Teresa Sampaio Nóvoa, assistente graduada de Reumatologia do Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, a identificação dos grupos de risco deve igual- mente ser valorizada, tendo em conta os fatores de risco fixos e modicáveis, sendo que «omaior desafio é alterar os fatores de risco modificáveis, na medida do possível, e instituir medidas preventivas de perda de massa óssea». A prevenção da osteoporose começa, desde logo, na infância «com hábitos de vida saudáveis, para adquirir um pico de massa óssea adequada. É na infância que a massa óssea se forma paralelamente ao crescimento do esqueleto. Os ossos são um tecido vivo e o es- queleto cresce continuamente, desde o nascimento até aos 20 anos, altura em que se atinge o tamanho e estrutura máxima (e também o pico de massa óssea)». Neste sentido, é importante nas crianças e nos adolescentes consi- derar «uma dieta adequada de cálcio, evitar a malnutrição (princi- palmente a proteica), manter um adequado aporte de vitamina D, praticar regularmente exercício físico e evitar o tabaco. Estas me- didas estão relacionadas com uma diminuição de risco de fratura na idade adulta de cerca de 50%.» Uma vez obtido o pico de massa óssea, «ele é mantido por um processo denominado remodelação óssea: processo contínuo, no qual o osso é renovado e criado. No início da idade adulta, a formação óssea é mais importante do que a reabsorção, mas à medida que a idade vai avançando o processo vai-se invertendo», explica a Dr.ª Teresa Sampaio Nóvoa. Neste contexto, é importante «identificar os grupos de risco, como por exemplo as mulheres pós-menopáusicas. Todos os doentes que apresentam fatores de risco de desenvolvimento de uma fratura, devem ser seguidos regularmente. Os fatores de risco que nos aju- dam a identificar estes doentes, podem ser classificados em fixos e modificáveis» (ver tabela). Uma vez identificados os doentes de risco, o maior desafio é, na opinião da reumatologista, «alterar os fatores de risco modificáveis, na medida do possível, e instituir medidas preventivas de perda de massa óssea. Algumas das medidas mais importantes incluem a prá- tica de exercício físico (caminhadas, corridas e aeróbica) e exercícios com resistência (pesos), a dieta com ingestão adequada de cálcio e de proteínas (leite e derivados, brócolos e espinafres, linhaça, grão de bico, sardinha), a exposição solar frequente (15 minutos por dia sem protetor solar em zonas do corpo descobertas de roupa) para PREvENção PRimáRiA DA PRimEiRA fRATuRA dr.ª teresa sampaio nóvoa assistente Graduada de reumatologia do Hospital do divino espírito santo de Ponta delgada 10 fAToRES DE RiSco fixoS fAToRES DE RiSco moDificávEiS - Idade superior a 65 anos - Alcoolismo (+ de 3 unidades/dia) - Sexo feminino - Tabagismo - História familiar de osteoporose - Baixo IMC (18,5 Kg/m2) - História de fratura prévia - Nutrição pobre - Etnia (caucasianos e asiáticos) - Deficiência de vitamina D - Menopausa/ovariectomia - Baixa ingestão de cálcio na dieta - Terapêutica prolongada com corticoides (+5mg/dia por mais de 3 meses) - Quedas frequentes - Doenças inflamatórias crónicas como a artrite reumatoide - Hipogonadismo primário ou secundário masculino que exista metabolismo da vitamina D, a avaliação e prevenção das quedas (retirar obstácu- los à livre circulação, proporcionar uma boa iluminação, sedação adequada ao estado vígil do doente, calçado adequado e correção da visão e audição) e cessação tabágica e alcoólica». Os desafios da “doença silenciosa” Uma vez estabelecida e diagnosticada a osteoporose, «esta tem de ser tratada par evitar a fratura primária. O diagnóstico é feito através da densitometria óssea (DXA), quando existe uma densidade mineral óssea (DMO) inferior a 2,5 desvios padrões pela densitometria óssea (normalmente medido ao nível da coluna lobar e colo do fémur e/ou antebraço)», refere a Dr.ª Teresa Sampaio Nóvoa. Uma das recomendações portuguesas para tratar a osteoporose é de «basear-se no risco de um doente desenvolver uma fratura osteoporótica a dez anos, estima- do pela ferramenta FRAX®Port. A DXA deve ser realizada quando exista uma probabilidade razoável de ela alterar a decisão de tratar/não tratar que pode ser tomada com base na ava- liação de risco do FRAX®Port, feito sem a DXA. De qualquer modo a presença de fraturas de fragilidade prévias justifica a decisão de tratamento farmacológico, independentemente da estimativa de risco do FRAX®Port». Muitas pessoas «não sabem que têm osteoporose até ao aparecimento da primeira fratura, ra- zão pela qual esta doença, muitas vezes, é denominada de “doença silenciosa”. O não diagnós- tico precoce representa um risco em si, na medida em que o desconhecimento da existência da patologia aumenta o risco de fratura. Os dados atuais apontam que 1 em cada 3 mulheres e 1 em cada 5 homens sofrem de fraturas osteoporóticas e que a cada 3 segundos há um osso que se parte, devido a esta doença, logo esta doença tem um grande impacto socioeconómi- co. Portanto, o não diagnóstico, constitui por si só um risco acrescido de fratura por não se poder prevenir a mesma, para além das implicações socioeconómicas de suma importância». Outra questão, pelo facto de a osteoporose ser uma “doença silenciosa”, prende-se com «a não adesão ao tratamento. «O facto de o doente não sentir os sinais ou sintomas da doença faz com que, muitas vezes, resista à instituição da terapêutica médica. Assim, a decisão de utilização de um fármaco deve ser uma decisão conjunta, tomada pelo médico e pelo doente, tendo em conta a gravidade da osteoporose, a existência de fraturas prévias e a existência de outras doenças que possam interferir com o tratamento», afirma a especialista, concluindo: «É muito importante responsabilizar o doente pela sua doença e pelo seu tratamento, bem como pelo seu estado de saúde posterior. Os doentes com osteoporose devem manter um seguimento regular no seu médico, de modo a vigiar a evolução da doença e a resposta ao tratamento instituído.» 11 cASo clíNico Prevenção Primária da Primeira fratura Na prevenção primária da primeira fratura, as guidelines suge- rem como terapêutica de primeira linha os bisfosfonatos, não sendo possível quando há a existência de determinadas compli- cações associadas, como descreve o caso clínico apresentado, que terapêutica usar? L.M.P.P., de 75 anos de idade, viúva, 4.º ano de escolaridade, do- méstica de profissão. Antecedentes pessoais: antecedentes de carcinoma da mama sob terapêutica hormonal, antecedentes de radioterapia, fibrilha- ção auricular paroxística – hipocoagulada, osteoartrose axial (cer- vical, dorsal e lombar), hérnia de hiato esofágico, gastrite crónica, litíase renal. Menarca aos 14 anos, Gesta-6 Para- 6, menopausa cirúrgica aos 39 anos sem THS: Histerectomia com anexectomia bilateral aos 39 anos de idade. História clínica: doente referiu, desde há vários anos, “dores nos ossos”, inicialmente não as sabendo especificar. Após inquéri- to dirigido, apuramos os seguintes sintomas: lombalgia de ritmo mecânico com irradiação pelo membro inferior esquerdo com pa- restesias, mas sem quaisquer alterações motoras; cervicalgia de ritmo mecânico; gonalgias bilaterais de ritmo mecânico; talalgias de ritmo mecânico e artralgias das interfalângicas distais de am- bas as mãos. Negava a existência de artrites ou rigidez matinal, de hábitos etílicos ou tabágicos. Apresentava uma baixa ingestão de produtos lácteos. Negava história de quedas e história anterior de fraturas. Não fazia nem nunca tinha feito qualquer tipo de exercí- cio físico. Referia sentir que estava a ficar mais pequena, mas não sabia especificar quanto. Na revisão por órgão e sistema referia: taquicardias frequentes acompanhadas de sudação; epigastralgias frequentes e refluxo gastroesofágico. Estava medicada com: pan- toprazol 20- 1 comp./dia, metamizol magnésico 575 em sos, riva- roxabano 15 mg-1/dia, glucosamina, condroitina, msm, colagénio marinho, ácido hialurónico, quercetina e silício-1+1 por dia, diosmi- na 450 mg+hesperidina 50 -1+1/dia. Exame objetivo: doente lúcida, colaborante e orientada no tempo e no espaço. Idade aparente compatível com a idade real. Peso: 60,8 Kg; Altura:153 cm; IMC: 26 Kg/m2; TA:123/75; F.C: 66 bpm. Marcha sem alterações; cifose dorsal; boa mobilidade cer- vical embora dolorosa nos movimentos de rotação; ligeira dimi- nuição da flexão lombar; sem alterações dos movimentos ativos cASo clíNico: PREvENção PRimáRiA DA PRimEiRA fRATuRA ou passivos dos membros superiores; ligeira diminuição e dolorosa da rotação externa de ambas as coxo-femurais particularmente à esquerda; crepitações de ambos os joelhos, mas sem limitações aos movimentos ativos ou passivos; Hallux valgus bilaterais. Exames complementares de diagnóstico: Rx da coluna lombar: osteofitose periférica e artrose das interapofisárias posteriores. Osteopenia radiológica. Rx da coluna cervical: os- teofitose periférica. Artrose das interapofisárias posteriores. Discopatia C5-C6. Anterolis- tese de C4-C5. Rx da coluna dorsal: osteofitose marginal. Osteopenia radiológica. Rx da ba- cia: coxartrose bilateral mais evidente à esquerda. Rx das mãos: artrose das interfalângicas proximais e distais de ambas as mãos. Densitometria óssea: coluna lombar T score -2.8; Z score -2,0 e colo do fémur T score -3,5; Z score-1,3. Rotinas: hemograma sem alterações; Velocidade de sedimentação de 17; proteína C reativa de 0,25; Ureia: 52 mg/dl; creatinina: 0.70 mg/dl; glicemia: 82mg/dl; Provas hepáticas sem alterações; colesterol total: 215 mg/dl; HDL: 63 mg/dl; LDL: 115 mg/dl; F. reumatoide negativo; cálcio: 8,8 mg/dl; fósforo: 2,5mg/ dl; depuração da creatinina: 75,64 ml/min; vitamina D (25-Hidroxi-Vitamina D3): 40 ng/ml e TSH: 1.48 ulU/ml. Diagnóstico: Osteoartrose axial e periférica e Osteoporose. Discussão da terapêutica da osteoporose Estamos perante uma doente com um diagnóstico de osteoporose e que apresenta fatores de risco para a mesma, logo tem um risco fraturário elevado. Ao pensar no tratamento para esta doente e tendo em conta as guidelines, a terapêutica de primeira linha seriam os bisfos- fonatos. No entanto, esta doente tem alguns problemas que nos impedem a sua utilização e que são: a existência de uma fibrilhação auricular ativa e o facto de estar hipocoagulada; sintomatologia gastroesofágica ativa. Assim sendo, uma boa escolha para esta doente foi a terapêutica com desonumab 60 mg sc de 6/6 meses. dr.ª teresa sampaio nóvoa assistente Graduada de reumatologia do Hospital do divino espírito santo de Ponta delgada 1312 AtuAr perAnte As “frAturAs vertebrAis osteoporóticAs” Sendo a osteoporose uma “doença silenciosa”, o primeiro sinal é, na maioria das vezes, a fratura. Porém, as fraturas vertebrais, frequentes na osteoporose, nem sempre são identificadas e são, muitas vezes, confundidas com outras causas de “dor nas costas”. O diagnóstico e terapêutica precoces são fundamen- tais para prevenir novas fraturas osteoporóticas. «Nos últimos tempos, temos assistido a um incremento substancial do núme- ro de fraturas de fragilidade. Com o aumento da longevidade nas sociedades desenvolvidas, existe naturalmente uma inci- dência maior destas», afirma o Dr. António Tirado, ortopedista com longos anos de experiência, que trabalha na “Unidade da Coluna” do Serviço de Ortopedia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa. «As fraturas osteoporóticas mais frequentes são as vertebrais, seguidas pelas de anca e punho. Afetam essencialmente pessoas com mais de 60 anos e podem ocorrer com um mínimo esforço ou uma queda da própria altura. Estas podem impossibilitar os mo- vimentos normais da articulação envolvida, sendo acompanhadas de dor e de impotência funcional», descreve o Dr. António Tirado. Nas fraturas vertebrais, «frequentemente os doentes confundem os sintomas com “dores nas costas”, desvalorizando o evento e não recorrendo, aos serviços clínicos. Acontece, por vezes, que o próprio médico de Medicina Geral e Familiar, perante as queixas de raquialgia, prescreve terapêutica analgésica sem investigar a origem daquela, considerando tratar-se de um sintoma associado à patologia degenerativa da coluna ou a um problema muscular. Assim, em até 60 a 70% dos casos este tipo de fratura não é diag- nosticada». «As consequências das fraturas vertebrais osteoporóticas» explica o Dr. António Tirado, «são a perda progressiva de altura do doente e a deformidade da coluna, tanto no plano sagital (cifose), como no coronal (escoliose), ou mesmo em ambos os planos. O excesso de carga a que são submetidas as restantes vertebras, na nova po- sição decorrente da fratura, pode levar a novas fraturas vertebrais. Num período inicial, o organismo consegue adaptar-se utilizando mecanismos fisiológicos de compensação. Quando estes são esgo- tados, como acontece ao aparecer novas fraturas, torna-se mais difícil manter o equilíbrio normal, com inclinação do tronco e difi- culdade na marcha». Em estádios mais avançados, podem «aparecer complicações mais sérias como a diminuição da função motora global e da função respiratória, cansaço rápido com as atividades da vida diária, aca- FrATurAs DorsAis em osTeoporose secunDáriA mamento, obstipação, escaras, infeções respiratórias, agravamento progressivo do estado geral e aumento do risco de morte. Este é um processo fisiopatológico bem conhecido e descrito como “cascata da fratura vertebral osteoporótica”, perante o qual devemos agir de forma mais pró-ativa e menos contemplativa», salienta o especialista. Tratar a fratura e evitar novas fraturas Quando a fratura osteoporótica acontece e o doente é atendido de urgência, «é frequente percebermos que não há uma história prévia de osteoporose e o ortopedista acaba por ser o médico de primeira linha a encarar este diagnóstico. Isto é algo que, idealmente não deveria acontecer. O desejável seria que o doente com osteoporose tivesse acesso ao diagnóstico e ao tratamento de forma precoce, evitando assim qualquer fratura de fragilidade. Está de- monstrado em diferentes estudos que, quando a osteoporose é tratada, o risco de fratura diminui em 50 a 60%», refere o clínico, acrescentando: «Também é verdade que, habitualmente, o médico ortopedista centra-se no tratamento da fratura e não orienta o da osteoporose; deixa assim uma janela aberta para o aparecimento indesejado de novas fraturas. Não podemos esquecer que a consequência mais grave da osteoporose é a fratura. No caso específico da fratura do colo do fémur, ela é responsável por uma mortalidade de 20% no primeiro ano pós-fratura». Tentando dar resposta ao cenário anteriormente descrito, nos últimos anos foram criados a nível internacional os chamados “Centros de Ligação de Fraturas” (Fracture Liason Services). Os seus principais objetivos incluem «a deteção e tratamento da fratura de fragilidade, o estudo da patologia de base, a orientação terapêutica da osteoporose e a prevenção secun- dária de novas fraturas». «Isto é realizado por equipas multidisciplinares, que incluem ortopedistas, enfermeiros, fi- sioterapeutas, assistentes sociais, médicos de outras especialidades com dedicação à osteo- porose, formando uma pirâmide cuja base assenta nos cuidados prestados pelos centros de saúde. É necessário salientar que a osteoporose e as suas consequências muitas vezes requerem uma abordagem que vai além do tratamento cirúrgico e farmacológico, incluindo aspetos como os hábitos alimentares, o exercício físico e as condições médio-ambientais», conclui o Dr. António Tirado. Dr. António tirado Assistente Graduado de ortopedia na unidade da coluna do serviço de ortopedia do Hospital de santa Maria, do centro Hospitalar universitário Lisboa norte (cHuLn) 1514 cAso clínico cifose por frAturAs DorsAis eM osteoporose secunDáriA As fraturas vertebrais são as fraturas de fragilidade mais frequentes na população que sofre de osteoporose. Carac- terizam-se pelo aparecimento progressivo, sem antecedente de trauma ou perante um trauma de baixa energia, como a queda da própria altura. Mais de 30% das mulheres pós-menopáusicas e até 50% dos homens com diagnóstico de osteoporose podem teruma causa subjacente (osteoporose secundária). Com frequência a etiolo- gia é multifactorial. Quando o diagnóstico e orientação corretos da causa subjacente são feitos, pode ser desnecessário o trata- mento da osteoporose. Causas frequentes de osteoporose secundária são: certas me- dicações prolongadas (corticoides, inibidores da bomba de protões, anticonvulsivantes, quimioterapia), doenças renais ou hepáticas, síndromes de malabsorção intestinal, doenças endo- crinológicas (diabetes, hipertiroidismo, hipogonadismo), entre outras. Caso clínico O caso que descrevemos é de uma doente de 63 anos, com trombocitopenia idiopática. Referenciada da consulta de Hema- tologia, por queixas de dorsalgia com meses de evolução. Referia aparecimento progressivo de postura cifótica e episó- dios repetidos de dor, com irradiação para a região abdominal e inguinal, sem história traumática. Existia perda ponderal (de 50 para 36 kg) e de estatura (de 1,50m para 1,39 m), nos últimos anos. Tinha iniciado corticoterapia (prednisolona 10 a 20 mg/dia) três anos antes, para tratamento da doença de base; negava outras terapêuticas osteopenizantes, fraturas ou história familiar de osteoporose. Menarca: 14 anos; menopausa fisiológica: 55 anos. A doente iniciou seguimento na nossa consulta em janeiro de 2016. As radiografias realizadas previamente mostravam colap- so vertebral em D7, D8 e D11. Posteriormente, observou-se também colapso de D12 e D10. Era muito evidente um agravamento sequencial da cifose dor- sal, comparativamente com radiografia de tórax de 2015 e quando comparadas as radiografias mais recentes. cAso clínico: FrATurAs DorsAis em osTeoporose secunDáriA Dr. António tirado Assistente Graduado de ortopedia na unidade da coluna do serviço de ortopedia do Hospital de santa Maria, do centro Hospitalar universitário Lisboa norte (cHuLn) 1716 A doente foi submetida a vertebroplastia em D10 e cifoplastias em D11 e D12. O pós- -operatório decorreu favoravelmente, com alta para o domicílio 48h depois. Foi solicitada ressonância magnética da coluna dorsal e lombo-sagrada, a qual eviden- ciou edema nos cortes STIR nas fraturas de D11, 12 e no corpo vertebral de D10. Os restantes colapsos vertebrais encontravam-se com sinais de consolidação. 1918 Durante o seguimento em consulta, verificou-se o rápido alívio da dor. Foi referenciada às consultas de Osteoporose Fraturária e de Doenças Ósseas Metabólicas, para estudo complementar de outras possíveis causas associadas e início de terapêutica adequada. Os únicos fatores de risco para osteoporose encontrados foram o tratamento com me- tilprednisolona em dosagem superior a 10 mg/dia desde o diagnóstico da doença e o baixo índice de massa corporal. Após estudo analítico, de DXA e exclusão de outras causas, concluiu-se o diagnóstico de osteoporose grave secundária a corticoterapia oral. Foi decidido tratamento com teriparatide, por história prévia de intolerância ao alendro- nato (tonturas, náuseas e vómitos). Após 18 meses de terapêutica (teriparatide, 1 inj. sc. de 20 mg/dia), foi realizada transi- ção para denosumab (1 inj. sc. de 60 mg/semestral), que manteve até ao momento atual, sem intercorrências. Durante ambos os períodos, o tratamento foi suplementado com cálcio e vitamina D, em dosagens terapêuticas. Tanto em consulta de Ortopedia como de Reumatologia (Doenças Ósseas Metabólicas), constatou-se a boa evolução clínica e imagiológica. A doente continua em seguimento na consulta de ambas as especialidades médicas. Conclusões 1. A orientação diagnóstica e terapêutica da fratura vertebral por osteoporose secundária frequentemente precisa da intervenção de equipas multidisciplinares, para chegar ao corre- to diagnóstico e orientação terapêutica. 2. A osteoporose secundária a corticoides predispõe com frequência a uma muito deficiente qualidade óssea, tornando difícil o tratamento cirúrgico quando aparece a fratura. Nestes casos, o reforço cimentado tem-se mostrado um recurso complementar de grande utilida- de. cAso clínico: FrATurAs DorsAis em osTeoporose secunDáriA O papel da prevençãO secundária nas fraturas dO cOlO femOral Dentro do espetro das fraturas osteoporóticas, a fratura do colo femoral (também designada por fratura da anca ou do colo do fémur) é a mais dramática do ponto de vista clínico. Por norma, este tipo de fratura (que surge a partir dos 70 anos) não passa despercebido e acarreta custos diretos e indiretos avultados. A Dr.ª Eugénia Simões, assistente hospitalar gradua- da de Reumatologia no Instituto Português de Reumatologia (IPR), sublinha a importância da prevenção secundária, na qual se incluem «o reconhecimento das pessoas em risco de osteo- porose, a identificação dos doentes com fraturas prévias e o respetivo tratamento da patologia osteoporótica». Estima-se que «20% dos doentes com fratura do colo femoral mor- rem no primeiro ou no segundo ano após o procedimento cirúr- gico. Entre os que sobrevivem, apenas 1/3 recupera a autonomia que tinham antes da fratura; 1/3 fica dependente de terceiros; e 1/3 fica totalmente dependente ou acamado. Estes indicadores são preocupantes e devem-nos obrigar a refletir sobre a necessi- dade de reforçarmos a aposta na prevenção secundária», conside- ra a Dr.ª Eugénia Simões. Neste sentido, é expetável que, num doente com fratura prévia (vertebral ou no punho, por exemplo), venha a ocorrer mais tar- de uma fratura do colo femoral. Portanto, o papel da prevenção secundária torna-se bastante pertinente. «Das atitudes a tomar fazem parte o reconhecimento das pessoas em risco de osteopo- rose, a identificação dos doentes com fraturas prévias (não esque- cendo que, muitas vezes, a fratura vertebral passa despercebida) e o respetivo tratamento da patologia osteoporótica (aliando as medidas farmacológicas com as não farmacológicas)», refere a es- pecialista, acrescentando: «A prevenção secundária só é realmente eficaz se abranger uma dimensão multidisciplinar. Atendendo a que as quedas constituem o principal fator desencadeante das fraturas do colo femoral, tem de existir uma estratégia preventiva destinada às pessoas de ida- des mais avançadas. Este trabalho pode ser facilitado pelos tera- peutas ocupacionais ou até pelos próprios especialistas de Me- dicina Geral e Familiar (MGF). Além da modificação de eventuais hábitos de risco, o objetivo passa por assegurar que o doente usa próteses oculares indicadas e/ou que tem os défices de audição corrigidos.» Vigilância e reforço do equilíbrio Nas populações idosas, é particularmente importante uma vigilân- OStEOPOROSE fRAtuRáRIA: EfEItO “DOmInó” dr.ª eugénia simões assistente Hospitalar Graduada de reumatologia no instituto português de reumatologia (ipr) 20 cia adequada da medicação. «Classicamente, fármacos como os corticoides estão associa- dos à osteoporose e ao risco de fraturas, pelo que a sua utilização deve ser devidamente monitorizada. Mais recentemente, foi publicado um estudo que associa também os inibi- dores da bomba de protões (cujo uso é bastante frequente entre as populações de idades mais avançadas). Este trabalho, aliás, reforça a ideia que já prevalecia há algum tempo: estes fármacos constituem, de facto, um fator de risco independente de fratura osteoporótica1», esclarece. A prevenção secundária inclui ainda a prática de exercício físico – sobretudo o treino e o re- forço do equilíbrio, com vista à proteção das quedas. A reumatologista adianta que, de uma forma geral, «há um reconhecimento da utilidade do exercício. No entanto, não há ainda uma estratégia a nível nacional capaz de assegurar a prestação destes cuidados a todos os doentes que deles necessitam». Na opinião da Dr.ª Eugénia Simões, «não há ainda a noção exata, entre a população, da seve- ridade e das consequências inerentes às fraturas do colo femoral. Mesmo entre a comunida- de médica, aliás, deveria haver uma maior sensibilização. Grande parte dos doentes com fra- turas querecorrem à urgência são intervencionados cirurgicamente e, aquando da alta, não são referenciados para a Reumatologia nem sequer medicados de forma adequada. Seria de extrema importância determinar se a fratura resultou de um processo osteoporótico». As ilações do estudo SCOOP Com vista a uma avaliação e identificação mais rigorosa dos doentes em risco de fratura do colo femoral, importa destacar as evidências do estudo Screening in the community to reduce fractures in older women (SCOOP)2, realizado no Reino Unido e que envolveu dois grupos: «um constituído por mulheres previamente tratadas com fármacos anti-osteoporóticos e avaliadas com recurso ao FRAX® (i.e., com fatores de risco clínico e sem densitometria reali- zada) e um outro formado por mulheres que não fizeram a avaliação por FRAX®». Segundo os resultados, no primeiro grupo «foram identificados mais doentes que vieram a ter fraturas do colo femoral e, através da terapêutica, evitou-se uma maior ocorrência desse mesmo tipo de fraturas (embora não tenha acontecido o mesmo com outras fraturas clínicas)». A especialista diz que, daqui, devem ser retiradas duas ilações: «em primeiro lugar, e no que diz respeito aos fatores de risco para a osteoporose, é importante a identificação dos doentes verdadeiramente em risco para a fratura do colo femoral; e, sem segundo lugar, talvez seja pertinente englobar a densitometria em doentes específicos, de maneira a evi- tar a ocorrência dos restantes tipos de fraturas. Seguramente que, aplicando o FRAX®, os especialistas identificarão muitos mais doentes que venham a ter fratura do colo femoral. Há, assim, um reforço da utilidade desta ferramenta». Referências bibliográficas 1. Liu J, Li X, Fan L, Yang J, Wang J, Sun J, Wang Z. Proton pump inhibitors therapy and risk of bone diseases: an update meta-analysis. Life Sci. 2019 Feb 1;218:213-223. 2. Lee Shepstone et al. Screening in the community to reduce fractu- res in older women (SCOOP): a randomised controlled trial. The Lancet. 2018, Feb 24, vol. 391, nr. 10122; p713-812. 21 CASO ClínICO OsteOpOrOse fraturária: efeitO “dOminó” A ocorrência de fratura de fragilidade prévia constitui um dos principais fatores de risco (fR) para a ocorrência de novas fra- turas osteoporóticas. Para além do tratamento farmacológico da osteoporose (OP), todos os FR modificáveis devem ser corri- gidos para controlar da melhor forma esta doença que é “silen- ciosa” até ser complicada pela ocorrência de fraturas. Apresen- tamos o caso de uma doente com múltiplos fR para OP. Doente do sexo feminino*, 54 anos, caucásica, técnica de labora- tório, seguida em consulta de Reumatologia por Artrite Psoriática (AP), forma poliarticular, “AR-Like”, com cerca de 25 anos de evo- lução, sob metotrexato 15 mg semanal, lansoprazol 30 mg e cele- coxib 200mg em SOS, referenciada à consulta de Doenças Ósseas Metabólicas (DOM) da nossa Instituição, em Junho de 2009, por OP fraturária. 1.ª consulta de DOm (06/2009): Apurou-se a ocorrência de 6 episó- dios anteriores de quedas da própria altura, a primeira nos últimos 7 anos, tendo estas resultado em fraturas do colo do úmero direito (figura 1), do ramo ísquio-púbico direito e de 5 costelas; menarca aos 10 anos; menopausa aos 44 anos; vários episódios de recurso a corticoterapia em baixa dose, por curtos períodos, durante epi- sódios de agudização da sua artrite; consumo de leite e iogurtes diariamente; consumo esporádico de um copo de vinho ao almoço; consumo de cerca de um maço de tabaco por dia entre os 15 e os 25 anos (10 Unidades maço/ano); mãe com antecedente de fratura de colo do fémur aos 80 anos, na ausência de traumatismo. Antecedentes pessoais: para além da AP, referia hipertensão ar- terial, medicada desde há 9 anos com indapamida. Era portadora CASO ClínICO: OStEOPOROSE fRAtuRáRIA: EfEItO “DOmInó” de densitometria óssea (DEXA), (02/2008, tabela 1) com níveis de DMO do colo do fémur compatíveis com OP e de radiografias da coluna dorsal com deformação do corpo vertebral de D7 e D10 (figura 2), tendo sido introduzida suplementação de cálcio e realizada perfusão de ácido zoledrónico 3 meses após a realização destes exames. A doente era seguida anteriormente numa consulta privada de Reumatologia e cumpria irregularmente terapêutica com bisfosfonatos orais. Exame objetivo: altura de 1,51 m (-3 cm que aos 25 anos), peso de 107,2 kg, resultando num índice de massa corporal (IMC) de IMC 47,01 kg/m2 (obesidade grau III); lesões de psoríase na superfície extensora dos cotovelos; palpação dolorosa e tumefação de cotovelos, pu- nhos, joelhos e tibio-társicas. Exames complementares de diagnóstico: VS 61 mm/H, PCR 4,14 mg/dL; hipergamaglo- bulinemia de base larga; hemograma, função renal e hepática, fosfatase alcalina, cálcio e fósforos séricos, cálcio urinário, PTH, 25-hidroxivitamina D, TSH, T4L, prolactina, proteino- grama, imuno-eletroforese sérica e urinária sem alterações de relevo, marcadores de reab- sorção e formação não aumentados. Nova DEXA (04/2009, tabela 1) que mostrou aumento da Densidade Mineral Ósssea (DMO) tanto a nível lombar como do colo do fémur; novas radiografias da coluna dorsal revelaram deformação dos corpos vertebrais de D7, D8, D9 e D10 (figura 3), portanto com agravamento em relação ao estudo axial anterior. Dada a ocorrência de novas fraturas, apesar da melhoria da DMO após tratamento com bis- fosfonato, decidiu-se trocar de mecanismo de ação, suspendendo-se o ácido zoledrónico e iniciando hormona paratiroideia (09/2009). Consulta de Reumatologia (08/2009): Paralelamente à terapêutica para a OP, foi ajustada a terapêutica imunomoduladora para controlo da atividade da AP. Fez ecografia abdominal, renal, pélvica, estudo mamário e torácico sem alterações, decidindo-se iniciar etanercept (12/2009), com resposta favorável. Reavaliação na consulta de DOm (03/2011): Após 16 meses sob hormona paratiroideia, o tratamento foi interrompido por esta ter sido retirada do mercado, tendo sido proposto áci- do zoledrónico, que foi iniciado em 06/2011. Por ter sido identificado nódulo da supra-renal direita em RMN, a doente foi seguida em consulta de Endocrinologia onde efetuou estudo e onde se concluiu que se tratava de um adenoma não funcionante. dr.ª eugénia simões assistente Hospitalar Graduada de reumatologia no instituto português de reumatologia (ipr) 2322 dr.ª nathalie madeira interna de reumatologia (ipr) L1-L4 COlO DO fémuR DMO (g/cm2) T-score Δ exame prévio DMO (g/cm2) T-score Δ exame prévio 02/2008* 0,843 -1,9 0,483 -3,3 04/2009* 0,887 -1,5 +5,2% 0,527 -2,9 + 0,2% 10/2010 0,808 -2,1 0,631 -2,5 04/2013 0,907 -1,2 + 12,2% 0,729 -1,7 + 15,4% 06/2015 0,933 -0,9 + 2,9% 0,729 -1,7 + 0,1% 05/2017 0,971 -0,6 + 4,0% 0,673 -2,2 - 7,7% *exames realizados em densitómetro de outra instituição, não podendo ser comparados com os mais recentes figura 1. Radiografia dos ombros AP: status pós fratura da cabeça do úmero direito tabela 1. Evolução densitométrica CASO ClínICO: OStEOPOROSE fRAtuRáRIA: EfEItO “DOmInó” 2524 Reavaliação na consulta de DOm (12/2015): Cumpriu terapêutica com ácido zoledrónico anual, com melho- ria da DMO (04/2013, 06/2015 tabela 1), mantendo contudo uma elevada frequência de quedas, algumas atribuídas a um défice de equilíbrio associado à obesi- dade, resultando em nova fratura de costela (11/2015). Foi referenciada à consulta de cirurgia da obesidade onde foi proposta cirurgia barátrica, que realizou em 12/2015. Reavaliação na consulta de DOm (05/2017): A doen- te tinha perdido cerca de 50 kg, referia uma melhoria franca do equilíbrio durante a marcha, referindo “não tropeçar tanto” (sic) e negando a ocorrência de quedas e de novas fraturas. Radiograficamente também não se verificou a ocorrência de novas deformações verte- brais, e apesar de na reavaliação por DEXA se verifi- car um agravamento da DMO a nível do colo do fémur (-7,7%, ver tabela 1), este resultado foi interpretado comcautela, considerando-se que a perda considerá- vel de peso veio alterar a leitura da DEXA. A doente tinha efetuado um total 5 infusões de ácido zoledrónico (última em 03/2016), decidiu-se realizar um “drug holiday” de um ano e retomar ácido zoledrónico em 03/2018. Reavaliação na consulta de DOm (07/2018): Em janeiro de 2018 a doente sofreu novamen- te uma queda, resultando em fratura do colo do fémur direito. Foi submetida a artroplastia total, esta posteriormente complicada por infeção peri-protésica, protelando a administra- ção de ácido zoledrónico para 12/2018. Discussão Na altura da sua referenciação para a consulta de DOM, a doente apresentava um T-score do colo do fémur ≤ -2,5 e tinha sofrido 7 fraturas em contexto de traumatismos de baixo impacto, cumprindo desta forma critérios para OP severa, segundo a OMS. Como FR não modificáveis apresentados pela doente apontamos o facto de se tratar de uma mulher pós- -menopáusica, com menopausa precoce (< 45 anos) e com história familiar em 1.º grau de fratura muito provavelmente em contexto de OP (mãe com fratura do colo do fémur na ausência de traumatismo). Dos FR modificáveis fazem parte o consumo de tabaco, que a doente suspendeu há cerca de 20 anos; a propensão para as quedas, que se atribuiu em parte a um défice de estabilidade associada ao elevado grau de obesidade, sendo este argumento corroborado pelo facto da doente referir um incremento significativo da sua segurança na marcha e a ausência de que- das nos meses a seguir à cirurgia bariátrica; a sua doença reumática inflamatória sistémica, AP, tanto pela patologia em si, justificando a necessidade do controlo inflamatório, como pelos fármacos utilizados para o seu tratamento e para a prevenção de complicações gas- trointestinais a estes associados: corticoides, inibidores da bomba de protões e metotrexa- to. É indiscutível nesta doente a importância da realização da cirurgia bariátrica, devido ao risco cardiovascular associado ao seu grau de obesidade. No entanto, segundo a literatura, este tipo de intervenção tem vindo a mostrar efeitos prejudiciais na OP. De fato, vários estudos prospetivos têm mostrado que a cirurgia bariátrica está associada não somente ao aumento dos marcadores de turnover ósseo, em favor do aumento da reabsorção, mas também à diminuição da DMO. Um risco aumentado de fratura em qualquer localização em doentes submetidos a procedimentos cirúrgicos bariátricos tem sido apontado. Em suma, verificou-se que nesta doente, apesar da tentativa de correção dos múltiplos FR e da instituição de terapêutica para a OP após as primeiras fraturas, novas fraturas foram sur- gindo, culminando na ocorrência da fratura osteoporótica mais temida: a fratura do colo do fémur. Devido ao seu elevado risco de fratura, é muito provável que esta doente não possa suspender a terapêutica dirigida à OP. O denosumab, atualmente já com dados de seguran- ça a 10 anos, será com certeza o próximo fármaco a considerar nesta doente. figura 2. Radiografia da coluna dorsal perfil: deformação de D7 e D10 Referências bibliográficas 1. National Osteoporosis Foundation. Clinician’s Guide to Preven- tion and Treatment of Osteoporosis. Washington, DC: National Osteoporosis Foundation; 2013. 2. Lespessailles E, Hammoud E, Toumi H, Ibrahim-Nasser N. Consequences of bariatric surgery on outcomes in rheumatic diseases. Arthritis Res Ther. 2019 Mar 28;21(1):83. figura 3. Radiografia da coluna dorsal perfil: deformação de D7, D8, D9 e D10 * Doente também seguida pelo Dr. Luís Miranda. Os desafiOs da OsteOpOrOse nO jOvem adultO A existência de fatores hereditários são motivo de suspeita de osteoporose no jovem adulto, sobretudo «se os progenitores tiverem já sofrido fratura osteoporótica ao longo da vida (es- tima-se que o peso da componente genética seja na ordem dos 30-40%)». Tal como sublinha o Prof. Doutor Mário Rui Mascare- nhas, assistente hospitalar graduado de Endocrinologia no Ser- viço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo do Hospital de Santa Maria, do Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Norte (CHULN), em alguns casos «a administração de determi- nados fármacos e a presença de patologias também poderão favorecer a perda de massa óssea». Não raras vezes, os jovens adultos ficam surpreendidos com o diag- nóstico de fratura por osteoporose, na medida em que se trata de complicação de uma patologia muito associada às idades mais avançadas. Na fase em que há o “surto” de crescimento (durante a puberdade), a ocorrência de fraturas é uma realidade frequente – e esse é o sinal mais visível de uma eventual fragilidade óssea por vezes já detetável. No jovem adulto, e de acordo com o Prof. Doutor Mário Rui Mas- carenhas, as fraturas «estão geralmente associadas a doenças que originam uma acentuada fragilização do osso. Alguns défices enzi- máticos, por exemplo, podem contribuir para que algumas crianças nasçam já com osteoporose fraturária, cujo grau de severidade é tal que o óbito acaba por ocorrer nas primeiras semanas de vida. A designada osteogénese imperfeita e o hipogonadismo são outras situações associadas à diminuição de massa óssea. A ocorrência de fratura é um episódio que demonstra que já existe uma osteopo- rose estabelecida (ou uma osteoporose relativamente grave)». A asma, só por si, origina diminuição da densidade de massa óssea. O tratamento (com recurso a corticoides) desta condição «tam- bém poderá levar à paragem do crescimento. Essa noção tem de estar bem presente em especialidades como a Pediatria e a Pneu- mologia, já que têm um contacto privilegiado com os doentes mais jovens (e, nesse sentido, deverão estar particularmente atentos a eventuais alterações)». Não significa isto que todos os indivíduos com patologias, como as referidas anteriormente, tenham automaticamente um diagnósti- co de osteoporose. «A massa óssea poderá apresentar valores nor- mais; mas, ainda assim, a microarquitetura do osso pode já estar de tal forma alterada que a possibilidade de pequenos traumatismos causarem fraturas é bastante elevada», refere o endocrinologista. OSTEOPOROSE NO jOvEM ADULTO Evolução da osteoporose nas populações jovens «Quando pesquisamos os fatores secundários que resultam na perda de massa óssea, em cerca de 50% a 60% dos homens (até 50 anos de idade) é possível detetar uma causa. Nas mulheres, e mesmo na pós-menopausa, em cerca de 30% dos casos também é possível iden- tificar o motivo para uma perda de massa óssea acentuada, comparativamente com as par- ceiras da mesma idade», afirma o Prof. Doutor Mário Rui Mascarenhas. Nos jovens adultos, «a abordagem constitui um enorme desafio, já que é preciso chegar a um diagnóstico de uma eventual patologia subjacente (e isto caso a osteoporose não esteja associada a condições clínicas que causem secundariamente osteoporose ou medicações, por exemplo)». Comparativamente com as pessoas com 70 ou mais anos de idade, o proces- so de desenvolvimento da osteoporose nos jovens adultos «parece ocorrer de uma forma mais célere. Sabemos que há um pico de formação de massa óssea que se atinge durante a terceira década de vida. Esse pico, aliás, acaba por ser maior nos homens do que nas mu- lheres. É igualmente conhecido que, por altura do climatério, a falência ovárica faz com que se verifique uma perda significativa de densidade mineral óssea – e que poderá atingir até cerca de 50% do conteúdo ósseo que existia anteriormente. Significa isto que a ausência de estrogénios é, de facto, um fator bastante relevante». Abordagem terapêutica e vigilância O tratamento dos jovens adultos com osteoporose exige algum cuidado por parte do espe- cialista médico. Não se encontrando qualquer patologia subjacente, a abordagem terapêu- tica «é empírica e passa por inibir a ação das células que destroem o osso (ou seja, contribuir para que haja uma diminuição da reabsorção óssea). Já nos indivíduos em que há a identifi- cação de uma causa patológica, essa doença deveser tratada – e confirmar posteriormente se a abordagem terapêutica é ou não suficiente para aumentar a massa óssea e inverter ou travar o processo da reabsorção óssea», acrescenta o Prof. Doutor Mário Rui Mascarenhas. Em caso de fratura no adulto jovem (e sem que haja qualquer causa identificada), deve-se «recorrer a terapêuticas que não permaneçam durante muitos anos no osso (isto porque não se conhece verdadeiramente qual o seu efeito a nível do organismo a médio e a longo prazo). Esta é uma preocupação recorrente em indivíduos em idade fértil, por exemplo». A avaliação é sempre feita caso a caso, com o intuito de determinar «eventuais necessidades de correção e de estipular medidas preventivas – quer em relação aos fatores que resultam na perda de massa óssea, quer em relação ao risco de quedas. De notar que a avaliação do risco de fratura terá de ser realizada com frequência». O impacto da osteoporose (ou das doenças subjacentes à diminuição da densidade mineral óssea) é particularmente «tremendo nos jovens adultos. Esta é uma população bastante ativa, que se encontra na plenitude das suas capacidades, e as fraturas vertebrais podem resultar em queixas dolorosas crónicas, na região da coluna. Independentemente da idade em que ocorre, qualquer fratura envolve sempre o risco de comorbilidades e até mesmo de mortalidade mais precoce», conclui o especialista. prof. doutor mário rui mascarenhas assistente Hospitalar de endocrinologia do Hospital de santa maria, do Centro Hospitalar universitário de lisboa norte (CHuln) e professor de endocrinologia e doenças do metabolismo da faculdade de medicina de lisboa (fmul) 2726 CASO CLíNiCO OsteOpOrOse nO jOvem adultO Antes dos 40 anos de idade, o risco de fratura osteoporótica é geralmente baixo, mesmo em pessoas com níveis baixos da DMO. O caso clínico que se segue é referente a doente jovem que sofreu um episódio de fratura osteoporótica de uma vér- tebra, o que também aumenta o risco de fratura subsequente, sobretudo nos 2 anos seguintes. Apesar da massa óssea ter um componente genético importante, diversos fatores, como os do ambiente, podem influenciar a otimização do pico máximo de massa óssea e posteriormente a manutenção desta. Doente 34 anos de idade, sexo feminino, caucasiana, doméstica, enviada para avaliação da etiologia de osteoporose grave. A doen- te referiu raquialgia súbita e lacinante, na região dorso-lombar, quando efetuava uma limpeza de mesa baixa, há 4 anos. O diag- nóstico de fratura osteoporótica da vértebra D12 efetuara-se há dias por RM da coluna dorso-lombar (figura 1) por dor persistente. A doente referiu amenorreia secundária, após períodos de oligo- menorreia desde os 23 anos idade. A doente contou sofrer cefa- leias frontais e o aparecimento progressivo de acne facial, associa- do ao da pilosidade na face e tronco desde tal data; menarca aos 12 anos de idade, ciclos regulares até há 4 anos. Nulípara. A doente negou quedas e/ou fraturas prévias, medicações recen- tes e/ou corticoterapia crónica, traumas cranianos, episódios de fraturas de fragilidade nos pais. A observação detetou acne facial, na região do mento e face dorsal do trono. Hirsutismo ligeiro na face, região inter-mamária, mamas e linha branca. Galactorreia bilateral. Sem estrias nem distribuição facio-troncular do tecido adiposo superficial. Exames requisitados: Laboratório: hemograma, eletroforese das proteínas, provas de função renal, hepática, tiróide e eixo hipotálamo-hipófise-córtex da suprarrenal nos parâmetros de referência para a normalidade. - PRL = 453 ng/mL LH = 0,1 UI/l FSH = 0,9 UI/l Estradiol = 15pg/mL - Calcémia = 9,7 mg/dL P = 3,1 mg/dl PTHi = 69 pg/ml 25(OH)D = 16,5 ng/mL - Fosfatase alcalina total = 81 UI/mL CTX = 0,68ng/ml P1NP = 32 DXA = DMO diminuída, com Z-score = -2,1 DP e T-score = -2,0 DP. Ressonância magnética crânio-encefálica (RM CE) = Macroadenoma da hipófise holosselar, sem invasão das estruturas vizinhas. CASO CLíNiCO: OSTEOPOROSE NO jOvEM ADULTO A doente foi medicada com bromocriptina, fármaco dopaminérgico, com reinício das mens- truações três meses depois e com ciclos regulares, tendo realizado 2 anos depois nova RM CE que não mostrava tecido tumoral na região da hipófise. A doente teve indicação para parar a bromocriptina com manutenção da estabilidade clínica e biológica. No entanto a doente a dor dorso-lombar permaneceu, apesar da medicação com tapentadol, um analgé- sico opióide forte. Discussão Não existem dados epidemiológicos que permitam saber qual a prevalência de fraturas os- teoporóticas em adultos jovens. Um episódio fraturário por osteoporose em adulto jovem é, em geral, muito raro e pode refletir uma densidade mineral óssea baixa em adulto jovem, um pico de massa óssea baixo, uma perda de massa óssea precoce ou uma combinação de ambos. A osteoporose idiopática associa-se frequentemente a pico máximo de massa óssea baixo e é provável que a DMO baixa já seja de longa duração e se mantenha estável. A osteopo- rose secundária pode detetar-se já em idades muito precoces, podendo mesmo surgir em crianças e em adolescentes, dependendo da sua etiologia, como por exemplo a osteogé- nese imperfeita e a hipofosfatasia (quadro 1). Outro aspeto importante é que as fraturas se repetem muitas vezes e em locais não habituais das fraturas osteoporóticas nos idosos. Antes dos 40 anos de idade, o risco de fratura osteoporótica é geralmente baixo, mesmo em pessoas com níveis baixos da DMO. Esta doente era jovem e sofreu um episódio de fratura osteoporótica de uma vértebra, o que também aumenta o risco de fratura subsequente, sobretudo nos 2 anos seguintes. prof. doutor mário rui mascarenhas assistente Hospitalar de endocrinologia do Hospital de santa maria, do Centro Hospitalar universitário de lisboa norte (CHuln) e professor de endocrinologia e doenças do metabolismo da faculdade de medicina de lisboa (fmul) 2928 iNíCiO jUvENiL ENDOCRiNO- PATiAS OUTRAS DOENçAS iATROgENiA ESTiLO DE viDA Idiopática Hipogonadismos Artrite reumatoide Corticoterapia prolongada Alcoolismo, tabagis- mo crónicos Doenças Colagénio / genéticas Osteomalácia Doença celíaca Levotiroxina Fraca ingestão de cálcio Síndrome Ehler-Danlos Hipertiroidismo Nefropatia crónica Anticonvulsivantes Excesso de cafeína Síndrome Marfan Hiperparatiroidismo Hepatopatia crónica Anticoagulantes Sedentarismo Osteogénese imperfeita Diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2 Doença inflamatória intestino Inibidores da recap- tação da serotonina Imobilização prolongada Hipofosfatasia Hiperprolactinémias Inibidores da aro- matase Emagrecimento Cushing endógeno Inibidores das bom- bas de protões Acromegalia Cirurgias extensas do tubo digestivo Anorexia nervosa Transplantes Tabela 1. Etiologias da DMO baixa e da osteoporose em adultos jovens, por doenças, medicações e tipo do estilo de vida. Apesar da massa óssea ter um componen- te genético importante, diversos fatores, como os do ambiente podem influenciar a otimização do pico máximo de massa óssea e posteriormente a manutenção desta. Entre tais fatores, salientam-se doenças, fármacos e o estilo de vida. Na avaliação clínica é importante a de- teção da etiologia da DMO reduzida ou da osteoporose (quadro 1). Neste caso, a doente tinha história de alterações dos ciclos menstruais com oligomenorreia e amenorreia secundária prolongada, indi- ciando a presença de hipoestrogenismo (ou hipogonadismo). A galactorreia, le- vou à suspeição de hiperprolactinémia. Como a doente negou a ingestão de fár- macos, a suspeita de uma causa orgânica da hiperprolactinémia por lesão da hipó- fise foi colocada, confirmada pelos exa- mes requisitados. A hiperprolactinémia prolongada pode ser causa de hipogonadismo hipogona- dotrófico (níveis dos esteróides sexuais e das gonadotrofinas reduzidos no sangue periférico). O hipoestrogenismo decor- rente da hiperprolactinémia causa habi- tualmente uma perda precoceda massa óssea e desenvolvimento de osteoporo- se, por aumento intenso da atividade dos osteoclastos. A densitometria bifotónica para estudo do componente ósseo deve ser considerada apenas em adultos jovens com fraturas por fragilidade ou fatores de risco relevantes para a massa óssea diminuída ou mesmo osteoporose. Antes de se atingir o pico máximo de massa óssea, é inadequado expressar os resultados da densidade mineral óssea (DMO) com o T-score, sendo necessário usar o Z-score para qualifi- cação ou diagnóstico da osteoporose e a sua interpretação deve ser cuidadosa. A DMO revela apenas o risco de fratura osteoporótica, que está estabelecido apenas para mulheres na pós-menopausa. O CTX, marcador da atividade dos osteoclastos, aumentado CASO CLíNiCO: OSTEOPOROSE NO jOvEM ADULTO 3130 Figura 1. Ressonância magnética da coluna vertebral: obser- va-se fratura com concavidade da face superior do corpo da vértebra D12. e a elevação ligeira do P1NP, marcador bioquímico da atividade dos osteoblastos, mostra- ram um aumento do “turnover ósseo”, favorecendo a perda de massa óssea e o aumento consequente da fragilidade do tecido ósseo, favorecendo o aumento do risco de fraturas osteoporóticas. A medicação com a bromocriptina provocou o desaparecimento da imagem tumoral na RM, a normalização dos níveis de PRL e normalização dos níveis de esteroides sexuais e a normalização dos ciclos menstruais. O tratamento etiológico da osteoporose em adultos jovens será o preferencial, sempre que possível, com a compensação de uma doença, em caso de iatrogenia com a utilização da menor dose que seja exequível de um fármaco. Exceto se complicadas por fraturas de fragi- lidade, nestas faixas etárias não se preconizam associações as terapêuticas usadas na osteo- porose da pós-menopausa, mesmo que a DMO seja muito reduzida. Os bisfosfonatos podem permanecer no tecido ósseo durante anos, não se conhecendo os seus efeitos a longo prazo em pessoas adultas jovens; a teriparatida tem indicação para uti- lização durante dois anos na vida; a paragem do tratamento com o denosumab pode causar um regresso rápido ao estádio prévio à medicação. Nos casos de fraturas osteoporóticas em adultos jovens a utilização de tais medicamentos não é consensual e as opiniões são muitas vezes contraditórias. Os doentes com osteopo- rose ser instruídos educados sobre um estilo de vida saudável e o seu seguimento é impor- tante para confirmar que a DMO permanece estável, sendo deste modo possível adiar o tratamento empírico para a osteoporose por muitos anos. As pArticulAridAdes dA osteoporose mAsculinA De acordo com o Prof. Doutor Davide Carvalho, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabo- lismo (SPEDM), «embora a osteoporose seja tipicamente uma doença feminina, em particular a pós-menopáusica, nos últimos 25 anos, a osteoporose masculina tem adquirido protagonismo e tem sido progressivamente reconhecida como um problema de saúde pública devido à ocorrência cada vez maior de fraturas de fragilidade1. A osteoporose masculina pode ser considerada primária ou secundária2. O envelhecimento e o hipogonadismo associado são fatores muito importantes1». A osteoporose está muito associada às mulheres, podendo ser um desafio acrescido quando o doente é do sexo masculino. «É essencial que os próprios médicos pensem na possibilidade de um diagnóstico de osteoporose quando estão perante um doente do sexo masculino – nem sempre isso acontece e, com frequência, os doentes têm alterações ósseas, até mesmo fraturas, sem se pen- sar que se pode estar perante uma osteoporose subjacente a um problema hormonal», afirma o Prof. Doutor Davide Carvalho. No desenvolvimento e perda de massa óssea há diferenças mar- cadas entre homens e mulheres. «Nos primeiros dias de vida, o desenvolvimento dos ossos é influenciado por múltiplos fatores: nível de atividade física, corpulência e fatores hormonais (hormo- nas sexuais, somatotrofina e IGF-1), tendo a puberdade um papel crucial sobre a formação e o desenvolvimento ósseo em homens e mulheres», refere o especialista, acrescentando: «Os homens iniciam, em geral, a puberdade mais tarde e conti- nuam na puberdade por mais tempo que as mulheres, o que pode causar diferenças no desenvolvimento ósseo. Os homens tendem a ter membros mais longos que as mulheres. A calcificação das cartilagens de crescimento que limita o crescimento ósseo, ocor- re mais tarde, e por isso, os homens tendem a ter um período de maturação óssea mais longo3. As hormonas sexuais desempenham um papel importante no crescimento ósseo e na massa óssea pre- sentes no fim da puberdade4. Nos homens, a testosterona durante a puberdade leva ao desenvolvimento de esqueleto maior, ao con- trário dos estrogénios5.» Quanto à densidade mineral óssea, «os estrogénios normalmen- te reduzem a reabsorção óssea, conservando a massa óssea. A testosterona também pode reduzir a reabsorção óssea, mas esse efeito parece ser devido à conversão da testosterona em estro- génios. A testosterona também tem um efeito direto, ainda que pequeno, na formação óssea6. Ao atingir a vida adulta, os homens OStEOPOrOSE MASCulinA possuem maior pico de massa óssea, ossos mais longos (devido à puberdade mais tardia) e maior resistência óssea7.» No entanto, há muitas circunstâncias, «particularmente nas situações de hipogonadismo (quer de origem testicular ou de origem hipofisária), em que os doentes apresentam, de forma precoce, uma diminuição significativa da massa óssea e consequente aumento do risco de fraturas. De frisar que a maioria dos casos de osteoporose no sexo masculino está, muitas vezes, ligada ao hipogonadismo». Nas formas do hipogonadismo congénito, «o doente apresenta uma diminuição dos níveis de testosterona muito cedo, não atingindo o pico de massa óssea, sendo, muitas vezes, a manifestação inicial a fratura. São indivíduos mais longilíneos, mais altos e com membros mais longos, porque falta a testosterona para se dar a ossificação das cartilagens do cres- cimento, tendo maior probabilidade de quedas e de fraturas. Por outro lado, o hipogona- dismo faz com que o doente tenha menos massa muscular o que leva a que o doente faça menos atividade física, o que agrava também a diminuição da massa óssea». Por vezes, «a osteoporose é a primeira manifestação do hipogonadismo. Estabelece-se o diagnóstico de osteoporose e na investigação das suas causas secundárias, acabamos por estabelecer o diagnóstico de hipogonadismo. Noutros casos, o doente já tem estabelecido, há bastante tempo, o hipogonadismo, como nos casos de hipogonadismo congénito, e a nossa atuação é verificar as repercussões do hipogonadismo sobre o órgão alvo que é o osso, estabelecendo-se posteriormente o diagnóstico de osteoporose». De acordo com o especialista, em termos de tratamento, «temos de tratar a situação de base – neste caso do hipogonadismo – mas também fazer a avaliação e o tratamento da os- teoporose, utilizando os fármacos anti-osteoporóticos convencionais. Normalmente, quan- do fazemos terapêutica de substituição hormonal (THS) num doente com hipogonadismo, conseguimos obter alguma recuperação da massa óssea. O mesmo se aplica às causas se- cundárias de osteoporose, uma vez que a resolução do hiperparatiroidismo ou do hipercor- tisolismo acaba por ser suficiente para melhorar, de forma parcial, a osteoporose (o que não invalida a necessidade de fazer a terapêutica anti-osteoporótica)». Referências bibliográficas 1. Willson, T., et al., The clinical epidemiology of male osteoporosis: a review of the recent literature. Clin Epide- miol, 2015. 7: p. 65-76. 2. Watts, N.B., et al., Osteoporosis in men: an Endocrine Society clinical practice guideline. J Clin Endocrinol Metab, 2012. 97(6): p. 1802-22. 3. Seeman, E., Growth in bone mass and size - are racial and gender differences in bone mineral density more apparent than real? J Clin Endocrinol Metab, 1998. 83(5): p. 1414-9. 4. Karsenty,
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