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Gestão Estratégica de Pessoas Gestão Estratégica de Pessoas © Copyright 2013 da Laureate. É permitida a reprodução total ou parcial, desde que sejam respeitados os direitos do Autor, conforme determinam a Lei n.º 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituição Federal, art. 5º, inc. XXVII e XXVIII, "a" e "b". Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Sistema de Bibliotecas da UNIFACS Universidade Salvador - Laureate International Universities) D436g Derner, Dália Gestão estratégica de pessoas. / Dália Derner. – Salvador: UNIFACS, 2013. 313 p.; 18,3 x 23,5cm. ISBN 978-85-87325-77-8 1. Administração de pessoal. 2. Planejamento estratégico. I.Título. CDD: 658.3 Sumário ( 1 ) Gestão Estratégica de Pessoas como Alinhamento Sistêmico, 13 1.1 Fundamentos de gestão estratégica de pessoas , 16 1.2 Abordagens: contingencial, universalista e cultural , 23 1.3 Atuação estratégica de RH e o modelo de diagnóstico , 26 1.3.1 Diagnóstico das condições de negócio, 28 1.3.2 Planejamento Estratégico de Pessoas, 30 1.3.3 Planejamento das atividades e dos processos de gestão de pessoas , 33 1.4 Ambiente atual da gestão de pessoas, 38 1.4.1 Dimensão mundo dos negócios, 38 1.4.2 Dimensão mundo do trabalho, 40 1.4.3 Dimensão cultura e clima organiza- cional, 50 ( 2 ) Gestão Estratégica de Pessoas como Potencial Competitivo, 57 2.1 Vantagem competitiva e gestão de pesso- as, 60 2.2 Recursos, competências e capacidades: visão baseada em recursos (RBV) e compe- tências e capacidades dinâmicas , 64 2.3 Aprendizagem organizacional, 75 ( 3 ) Gestão estratégica de pessoas: pers- pectivas sobre um novo modelo de atua- ção, 93 3.1 Antes de começar, 96 3.2 Dos comportamentos às competências, 98 3.3 De alinhamento estratégico à flexibilida- de organizacional, 104 3.4 Das culturas organizacionais fortes à diversidade cultural , 107 3.5 Reestruturando a função gestão de pes- soas, 110 3.6 Competências para a reestruturação da gestão de pessoas, 124 ( 4 ) Gestão de Competências, 129 4.1 Antes de começar, 132 4.2 Competência individual, 135 4.3 Competência organizacional, 139 4.4 Gestão das competências, 147 4.5 Gestão por competências, 149 4.6 Mapeamento das competências, 151 4.7 Desenvolvimento de competências, 155 ( 5 ) Gestão do conhecimento, 169 5.1 Conceitos básicos, 172 5.2 Era do conhecimento e da informação: o contexto das organizações, 174 5.3 Criação do conhecimento: os modos de conversão do conhecimento, 178 5.4 Gestão do conhecimento, 183 5.5 Gestão do conhecimento nas empresas, 187 ( 6 ) Gestão da mudança, 207 6.1 Antes de começar, 210 6.2 Cultura e mudança organizacional, 213 6.2.1 Artefatos visíveis , 214 6.2.2 Crenças e valores, 214 6.2.3 Pressupostos básicos latentes , 215 6.3 Mudança: um processo planejado, 217 6.4 Modelando oprocesso de mudança/trans- formação organizacional, 222 6.5 Mudança e a gestão de pessoas, 228 6.6 Líderes como agentes de mudanças, 232 6.7 Resistência à mudança, 234 6.7.1 Contribuição para a identificação e tra- tamento de lacunas, 236 6.7.2 Identificação dos riscos envolvidos, 236 6.7.3 Estímulo à reflexão e à discussão, 237 6.7.4 Melhoria do relacionamento interpa- res , 237 6.7.5 Aperfeiçoamento do processo de comunicação , 237 6.7.6 Identificação das necessidades especí- ficas de cada área:, 237 6.7.7 Verificação de alinhamento da mudan- ça com os objetivos estratégicos da empre- sa, 238 ( 7 ) Avaliação de Resultados em Gestão de Pessoas , 243 7.1 Ideia de resultados em gestão de pesso- as, 246 7.2 Retorno do investimento (ROI) em capital humano, 250 7.3 Balanced Scorecard (BSC), 252 7.3.1 Perspectiva de aprendizagem e cresci- mento, 254 7.3.2 Perspectiva do cliente ou mercadoló- gica, 254 7.3.3 Perspectiva financeira, 254 7.3.4 Perspectiva dos processos internos, 255 7.4 BSC aplicado à função gestão de pesso- as, 256 7.5 Avaliando ativos intangíveis, 267 7.6 BSC no Brasil , 271 7.6.1 Indicadores de desempenho da pers- pectiva de aprendizagem e crescimento por grupo de ativo intangível , 272 ( 8 ) Gestão da Diversidade, 279 8.1 Antes de começar , 282 8.2 Diversidade no Brasil, 283 8.3 Diversidade nas organizações, 285 8.4 Ação afirmativa no Brasil, 290 8.5 Diversidade e diversidade cultural: alguns conceitos , 293 8.6 Abordagens tradicionais de tratamento à diversidade, 299 8.7 Gestão da diversidade cultural (GD), 301 8.8 Modelos para a gestão da diversidade, 305 ( 1 ) Gestão estratégica de pessoas como alinhamento sistêmico Objetivos • Apresentar a evolução dos pressupostos da gestão estratégica de pessoas em termos dos conceitos e da visão subjacentes. • Analisar os fundamentos da gestão estratégica como suporte conceitual para a formulação e a implementação de um modelo de gestão estratégica de pessoas. • Analisar o ambiente da gestão de pessoas, desta- cando as principais características que assumem papel relevante na concepção e no funcionamento da gestão estratégica de pessoas. Profª Ms. Dália Derner G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 16 Conteúdo apresentado • Fundamentos de gestão estratégica de pessoas. • Abordagens: contingencial, universalista e cultural. • Atuação estratégica de RH e modelo de diagnóstico. • Ambiente atual da gestão de pessoas. 1.1 Fundamentos de gestão estratégica de pessoas O mundo contemporâneo, altamente competitivo e dinâmico, tem exigido das empresas práticas de gestão que as tornem cada vez mais competitivas e voltadas ao mercado. Mudanças de natureza social, econômica e política têm leva- do as empresas a reverem seus modelos de gestão e os para- digmas que os sustentam. Para Fischer (2002), o paradigma da estabilidade cedeu espaço ao paradigma da transformação organizacional. Neste cenário, a gestão de pessoas tem sido submetida a novos desa- fios, demonstrando a sua capacidade de agregar valor ao negócio. O conceito de modelo de gestão de pessoas é uma dis- cussão acerca de como essa função é operacionalizada nas empresas. É um recurso teórico necessário para analisar as diversas maneiras como a gestão de pessoas acontece em diferentes contextos. De acordo com Albuquerque e Leite (2010), entre 1960 e 1980 foi possível testemunhar mudanças profundas no papel do então chamado “recursos humanos”, que apresentava função predominantemente administrativa. Na década de 1990 foi dada a ênfase à estratégia de negócios e à importância dos sistemas de G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 17 RH, inclusive com as discussões sobre as nomenclaturas “fator humano” e “gestão de pessoas”. A partir de 2000 novas reflexões e diálogos acerca de tais mudanças tem ocorrido. Para Wright e Boswell (2002, apud ALBUQUERQUE e LEITE, 2010), a gestão de pessoas pode ser definida de duas formas: 1. Tomando por base uma orientação micro, centrada nas funções de recrutamento, seleção, desenvolvi- mento, avaliação, remuneração etc. Nessa orientação exploram-se as práticas de gestão de pessoas e seus impactos sobre os indivíduos. 2. Partindo de uma orientação macro, cobrindo as estratégias gerais de gestão de pessoas adotadas pelas empresas e mensurando seus impactos sobre o desem- penho. Essa orientação assume caráter mais abran- gente e direciona o exame das práticas de gestão de pessoas para o nível organizacional. Os modelos de gestão adotados pelas organizações são sempre únicos, influenciados por conjunturas históricas e específicas a cada empresa. De acordo com Mascarenhas(2008) um modelo de gestão de pessoas traduz uma realida- de de múltiplas facetas, que reflete algumas particularidades, tais como: adoção de ideologias e de modelos consagrados de gestão, necessidades e oportunidades tecnológicas, conceitos de cultura organizacional etc. Para o autor, um modelo de gestão de pessoas trans- cende a operação dos tradicionais subsistemas (seleção, trei- namento, remuneração etc.) e abrange princípios, conceitos, políticas, práticas e prioridades em uma organização, que fundamentam a definição e a utilização de ferramentas de G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 18 gestão para direcionar o comportamento humano no traba- lho, incluindo estratégias de ação de gestores e funcionários, líderes e liderados. Segundo Fischer (2002, apud FISCHER, DUTRA, AMORIM, 2010, p. 43) “entende-se por gestão de pessoas a maneira pela qual uma empresa se organiza para gerenciar e orientar o comportamento humano no trabalho”. Para o autor, os modelos de gestão de pessoas são estruturas, proces- sos, sistemas e profissionais especializados que atuam com o objetivo de apoiar a gestão dos contratos psicológicos que predominam em uma empresa. Toda e qualquer empresa depende do desempenho humano para seu sucesso, por essa razão elas desenvolvem e organizam uma forma particular de estimular tal comporta- mento: seu modelo de gestão de pessoas. O que é contrato psicológico? O contrato psicológico de trabalho carac- teriza- se por um conjunto de expectativas que se estabelecem entre o indivíduo e a empresa a respeito das responsabilidades, remuneração, benefícios etc. Este é um fa- tor decisivo no processo de adaptação do indivíduo na empresa e que, no entanto, são geralmente propostos por empresas em forma de modelos estatísticos e limita- dos, visando um enquadramento homogê- neo ao cargo ou função. Estas expectativas e proposições informais ficam encobertas e só emergem em momentos de crise ou in- tervenções específicas, em programas de mudança organizacional, referentes às res- postas psicossomáticas. A empresa tradicio- nal não pretende adaptar o trabalho para o homem e sim este para o trabalho, criando- se um hiato cada vez maior entre eles no ex- igente mundo contemporâneo (Revista de Psicofisiologia, 2000, v3, n2). G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 19 Dentro deste conceito, de acordo com Fischer; Dutra e Amorim (2010, p. 60) “tudo o que interfere ou influencia nas relações organizacionais – externa ou internamente – pode ser considerado um elemento importante do modelo de ges- tão de pessoas de uma empresa”. Para Mascarenhas (2008) cada organização pode ser caracterizada por uma configuração única da função gestão de pessoas, baseada em uma cultura e em competências que seriam o resultado do processo histórico de aprendizagem. No entanto, apesar de podermos reconhecer em cada organização um modelo particular de gestão de pessoas, é possível perceber um padrão de práticas adotadas e compartilhadas por diversas organizações. Isso ocorre porque as organizações, mediante as incertezas ambientais, são impelidas a copiar práticas adota- das por empresas de prestígio, como um modelo a ser seguido. Snell et al (2005, apud MASCARENHAS, 2008) discu- tem a evolução da gestão estratégica de pessoas em termos da existência de três modelos teóricos, cada qual caracterizado pela adoção de certas premissas, conceitos e objetivos, con- forme pode ser observado no quadro a seguir. Para França (2006, p. 11) “o Contrato Psicológico é um fenô- meno psicossocial que ocorre sempre que se constroem vín- culos, em que entra em jogo a satisfação de necessidades de duas ou mais partes”. Para Guzzo E Nooan (1994) os contratos psicológicos podem ser entendidos como o conjunto dos termos subjetivos e espe- cíficos de cada empregado. Estes termos podem ser elementos concretos (salário, condições de trabalho) ou abstratos (segu- rança, desafio pessoal) de uma relação de troca entre empre- gado e empregador. Para os autores os contratos psicológicos podem ser considerados como a cola que liga os empregados às organizações, de tal forma que, quando tal contrato é vio- lado, os empregados podem apresentar queda em seu com- prometimento com a organização, além de aumento nas intenções de abandono/demissão e outras formas de desafeto. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 20 Paradigmas em gestão estratégica de pessoas Fonte: Mascarenhas (2008) Paradigmas da gestão estratégica de pessoas Adequação indivíduo- -cargo Alinhamento sistêmico Recursos hu- manos como potencial competitivo Valores de competitivi- dade • Integração vertical • Economia de escala • Eficiência e produtividade • Globalização • Diversifica- ção • Qualidade total e reengenharia • Competição baseada em conhecimento • Mudança e inovação • Alianças e parcerias Ênfase da estratégia de RH • Administra- ção • Tarefas • Cargos • Implantação da estratégia • Comporta- mentos • Culturas • Papéis orga- nizacionais • “Formação” da estratégia • Competências • Conhecimen- tos, cultura e aprendizagem. Lógica prevalente • Análise dos cargos • Dedutiva • Síntese, inte- gração • Dedutiva • Transforma- cional • Indutiva Parâmetros de planeja- mento • Divisão de tarefas • Padronização do trabalho • Estabilidade no emprego • Eficiência • Facilidade de substituição de RH • Minimização dos investi- mentos • Alinhamento interno • Alinhamento externo • Sistemas de trabalho de alto desempenho • Configura- ções • Modelos con- tingenciais • Valor estratégi- co dos recursos • Imitabilidade dos recursos • Criação, transferência e integração do conhecimento. • Agilidade, flexibilidade e alinhamento. • Sistemas complexos de gestão de pessoas Questões de gestão e avaliação de resultados • Eficiência (custo por funcionário) • Rotatividade e absenteísmo • Tamanho do departamento de RH • Sinergia entre práticas • Consenso e divergência • Implantação da estratégia • Desempenho da firma • Capital inte- lectual • Capital orga- nizacional • Competên- cias • Balanced Scorecard G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 21 De acordo com Mascarenhas (2008), em um primeiro momento prevalecia uma abordagem comportamental, que apontava a necessidade de ajustar o comportamento orga- nizacional às demandas estratégicas. Cada empresa deve- ria modelar o comportamento organizacional em função das contingências do negócio, o que a levaria a patamares eleva- dos de desempenho. Nesse contexto as pessoas assumiriam papéis organizacionais para a implantação das estratégias, o que imporia o alinhamento estratégico da gestão de pessoas ao objetivo dos gestores de RH. A estratégia implícita a esse paradigma seria o alinha- mento entre os requisitos do cargo, as posições hierárquicas e as pessoas que os ocupam. A concepção simplificada de indiví- duo e de organização, compreendida por esse modelo, recebeu diversas críticas ao longo do século XX, o que permitiu a defini- ção de bases de modelos mais sofisticados de gestão de pesso- as. Em um segundo momento, conforme Mascarenhas (2008), o modelo de gestão estratégica de pessoas se dá em consequ- ência da crescente visão baseada em recursos, de perspecti- vas baseadas em conhecimento e das noções de aprendiza- gem organizacional na explicação da vantagem competitiva. Esses referenciais destacam o papel do indivíduo – seusrelacionamentos e conhecimento –, as competências organizacionais, a gestão da mudança e a efetividade de sis- temas complexos de gestão de pessoas. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 22 Saiba mais Visão baseada em recursos (RBV) A visão baseada nos recursos da empresa tem tido grande impacto no pensamento estratégico, além do conheci- mento organizacional como um dos mais significati- vos recursos estratégicos sob as condições competitivas atuais. A origem da teoria dos recursos pode ser encontrada em ideias discutidas nas décadas de 60 e 70, nas quais as empresas eram tidas como conjuntos únicos de recur- sos produtivos integrados ao longo da história organiza- cional, detentoras de competências diferenciais a serem exploradas para a geração de vantagem competitiva. O desenvolvimento dessa corrente estratégica se intensifi- cou a partir da década de 80, tornando-se, em 2000, um corpo teórico central no campo da estratégia empresarial. A teoria dos recursos busca entender a diferença de perfor- mance entre as empresas. Sugere que se encontre a fonte de vantagem competitiva, primariamente no conjunto de recursos e competências controladas pelas empresas e, secundariamente, na estrutura das empresas nas quais elas se posicionam. Essas ideias deslocam a ênfase dada aos determinantes externos para os determinantes inter- nos na discussão sobre estratégia organizacional. A teoria dos recursos desenvolve-se em duas direções: uma perspectiva centrada nos recursos propriamente ditos e outra baseada nos conceitos de competência e de capacidade dinâmica da empresa. Vantagem Competitiva Habilidade de produzir produto ou serviço tido como valioso, de modo que ninguém consiga imita-lo, dife- renciando deste modo a organização perante suas concorrentes. Uma empresa ganha vantagem competitiva executando atividades estrategicamente importantes, com menor custo do que a concorrência. Fonte: Mascarenhas, 2008 G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 23 1.2 Abordagens: contingencial, universalista e cultural Mascarenhas (2008) afirma que foi a partir de 1980 que a gestão de pessoas passou a ser vista como área detentora de capacidade de gerar contribuições significa- tivas para a definição e para o alcance dos objetivos orga- nizacionais estratégicos, abrindo caminho para a pers- pectiva macro e para a perpetuação do conceito de gestão estratégica de pessoas. De acordo com o autor, o alinha- mento estratégico de gestão de pessoas pode ser analisa- do em duas perspectivas: 1. Alinhamento externo ou vertical, que se refere à adequação do modelo de gestão de pessoas às contin- gências externas, tais como: objetivos e estratégias orga- nizacionais, desafios do ambiente competitivo, aspectos culturais e sociais em que a organização está inserida. 2. Alinhamento interno ou horizontal, que diz res- peito à coerência interna do modelo de gestão de pes- soas, através da articulação de suas práticas, políticas e estratégias associadas à cultura organizacional e às pessoas na organização. A gestão estratégica de pessoas pode ser compreendi- da com base em três abordagens teóricas: a universalista, a contingencial e a configuracional, conforme pode ser obser- vado no quadro a seguir: G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 24 A pesquisa sobre a gestão de pessoas e o desempenho das organizações Para Silva, Albuquerque e Costa (2009), as abordagens podem ser assim sintetizadas: • A abordagem universalista sugere a existência de um conjunto de melhores práticas de gestão de pessoas que seriam adequadas a todas as organizações, promo- vendo desempenho superior das empresas em qual- quer situação, independentemente de sua estratégia de negócios, do seu setor ou do seu tamanho. • A abordagem contingencial complementa a pers- pectiva universalista, acrescentando uma terceira variável, considerada como um fator de contingên- cia, como a estratégia, o contexto organizacional ou o ambiente externo. Abordagem universalista Sugere que haja algumas práticas universais de gestão de pessoas, cuja adoção está diretamente relacionada a níveis superiores de desempenho organizacional. Entre essas práticas estariam os sofisticados métodos de recrutamento interno e externo, programas formais de desenvolvimen- to de pessoas, sistemas de avaliação e gestão de desempenho, sistemas de remuneração baseados em desempenho etc. Abordagem contingencial Sugere que certas práticas de gestão de pessoas são mais adequadas que outras em dado contexto organizacional. Destaca a necessidade de padrões distintos de comportamentos, considerados os desafios estratégicos particulares que cada tipo de organização enfrenta. Abordagem configuracio- nista Haveria coleções de práticas de gestão de pessoas capazes de gerar valor a uma organização por meio das pessoas. Salienta a importância do alinhamen- to interno dos modelos de gestão de pessoas ao destacar configurações especificas de múltiplas práticas interdependentes, de difícil imitação. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 25 Logo, para serem eficazes e resultarem em melhor desempenho, determinadas práticas de gestão de pes- soas devem ser consistentes com determinadas estraté- gias, exigindo assim o alinhamento externo ou vertical. • Por sua vez, a abordagem configuracional leva em consideração não só a necessidade de alinhamento ver- tical, mas também o alinhamento interno. Ela explora a dinâmica interna do sistema de gestão de pessoas e analisa como seus diferentes componentes podem ser configurados em diferentes modelos de gestão, que repre- sentam diversas orientações para a gestão de pessoas. Assim, inúmeras combinações entre fatores relevantes da gestão de pessoas e da estratégia organizacional podem condu- zir a um desempenho superior, o que leva a uma busca constan- te por configurações de práticas de gestão de pessoas que sejam consistentes internamente e alinhadas externamente. De acordo com Paschini (2006, apud SILVA et al, 2009), somente a partir da abordagem configuracional é que se passa a reconhecer a importância do alinhamento interno e a visualizar a cultura organizacional como um fator de extre- ma importância, que deve ser considerado no processo de ali- nhamento estratégico, por sua capacidade de moldar e de ser moldado pelos sistemas de gestão de pessoas. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 26 1.3 Atuação estratégica de RH e o modelo de diagnóstico A abordagem contingencial diz respeito à necessidade de alinhar estratégias e práticas de gestão de pessoas aos desa- fios da organização na busca por comportamentos compatí- veis. Conforme Albuquerque (1987, apud MASCARENHAS, 2008) há um descompasso entre as necessidades previstas para a implementação das estratégias organizacionais e a rea- lidade das empresas, em termos de pessoas para implantá- -las. Diminuir esse descompasso implica em executar o pla- nejamento estratégico de pessoas. Para Teixeira et al (2010), a gestão estratégica é um processo de ação gerencial, sistemático e contínuo que visa assegurar à empresa, simultaneamente: senso de direção e continuidade em longo prazo e flexibilidade e agilidade no cotidiano organizacional. Em outras palavras, na gestão estratégica, tenta-se, de certo modo, prever e analisar o futu- ro para assim poder planejá-lo. De acordo com Mascarenhas (2008, p.31), “a gestão estratégica pode ser definida como os esforços para a formu- lação e implementaçãodas estratégias empresariais”. A for- mulação de estratégias é abordada como um processo de pla- nejamento que envolve duas etapas: • A primeira, que abrange a definição do negócio e a explicitação da missão da organização; • A segunda, implicando na determinação dos objeti- vos estratégicos, seus indicadores de acompanhamento, G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 27 bem como a formulação das estratégias corresponden- tes para alcançá-los. No que tange a gestão de pessoas, para Mascarenhas (2008), o planejamento estratégico de pessoas pode ser com- preendido como o processo por meio do qual são antecipadas as demandas ambientais e dos negócios, assim como direcio- nadas em suas dimensões de gestão de pessoas. São muitos os modelos e as prescrições, sugeridos por diferentes autores, no que se refere ao planejamento estratégi- co de pessoas, bem como para a implementação e a avaliação de estratégias. Em sua maioria, autores como, Milkovich e Boudreau (2000) indicam o modelo de diagnóstico das condições de negó- cio, que implica no reconhecimento dos recursos da empresa e na sua inserção estratégica, atual e futura, no mercado e sociedade. Veja na figura a seguir o modelo de diagnóstico coeren- te com a abordagem contingencial. Fonte: Mascarenhas, 2008, p.32 Modelo de Diagnóstico para Atuação de GP Diagnóstico das condições do negócio Definição das estratégias de GP Avaliação e acompanhamento Planejamento das atividades de GP G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 28 O modelo de diagnóstico, conforme vimos na figura, está dividido em quatro etapas. Vamos conhecê-las a seguir. 1.3.1 Diagnóstico das condições de negócio Cada empresa está inserida em determinado ambien- te econômico e cultural, sendo dotada de recursos físicos, humanos, financeiros e organizacionais cuja interação e ges- tão influenciam na implementação adequada das estratégias empresariais, e em certa medida, determinam a estrutura do modelo de gestão de pessoas. Na primeira fase do modelo de diagnóstico, levantam- -se informações para a compreensão da situação e das necessi- dades de gestão de pessoas, isto é, como a empresa se encontra em termos de estrutura, cultura e pessoas para implementar as estratégias (MIRVIS, 1985 apud MASCARENHAS, 2008, p. 38). A atuação estratégica de gestão de pessoas envolve a análise das variáveis do contexto de negócios de modo a viabilizar o alinhamento estratégico. Com tal finalidade, de acordo com Teixeira et al (2010), é necessária a análise dos ambientes externo e interno da organização. Entre as condições externas destacam-se o ambiente sociocultural, econômico, político e institucional que podem ser mais especificamente analisados, por exemplo, pelo nível de qualificação dos indivíduos em uma determinada região, pelos índices de desemprego e competitividade do mercado de trabalho, pelas leis e tendências da legislação etc. Por sua vez, dentre os fatores internos destacam-se as decisões, as inten- ções e a inserção estratégica da empresa, a estrutura e a cultura organizacional, os padrões tecnológicos, as condições financei- ras da empresa, as competências dos funcionários etc. Anthony, Perrewé e Kacmar (1996, apud ALBUQUERQUE E LEITE, 2009) sugerem que o ambiente que influencia a organização e, consequentemente, a gestão G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 29 de pessoas pode ser dividido em dois tipos: o social e a tarefa, conforme mostra o quadro que veremos a seguir. O ambiente social compreende várias tendências e for- ças que não estão diretamente relacionadas com a organiza- ção, mas que podem impactá-la eventual ou indiretamente. Os autores se referem a quatro forças: econômicas, tecnológi- cas, políticas e legais e socioculturais e demográficas. Por sua vez, o ambiente da tarefa inclui os elementos que influenciam diretamente as operações e as estratégias da organização e são constituídos por: mercado de trabalho, competição, clien- tes e consumidores, e stakeholders. O ambiente Social e o Ambiente da Tarefa Ambiente Social Ambiente da Terefa ECONÔMICAS As condições econômicas de uma nação determinam o contexto geral de negócios para as empresas e seus gestores. Os principais indicadores,que devem ser monitorados, são o Produto Interno Bruto (PIB), a renda per capita e a taxa de inflação. No Brasil, sugere-se acompanhar também a taxa de juros e a taxa de câmbio. MERCADO DE TRABALHO É importante acompanhar ten- dências relacionadas ao nível de desemprego, de educação, ao grau de diversidade cultural e altera- ções nas categorias de trabalho. A recessão e os planos de estabi- lização econômica, a busca do setor privado por maior competi- tividade, abertura comercial etc., impactam sobre a (des)ocupação e rendimento das pessoas. TECNOLÓGICAS Como resultado da revolução tec- nológica, podem ser observadas inovações em produtos, serviços e processos. As novas tecnolo- gias culminaram em alterações profundas na organização do trabalho e elevaram as exigências de capacitação profissional em todos os âmbitos organizacionais. No Brasil, o avanço da tecnologia levou à eliminação de postos de trabalho e ao desaparecimento de várias categorias de ocupação, como datilógrafa, operador de telex etc. COMPETIÇÃO Conhecer as ações dos competi- dores é importante para a elabo- ração de estratégias corporativas adotadas pela gestão de pessoas para a atração e retenção de talentos. Algumas questões – tais como: quais níveis salariais são praticados? Que benefícios são oferecidos? Como os talentos são reconhecidos? Que incentivos são oferecidos para a educação conti- nuada? – podem contribuir para a implementação de objetivos de gestão de pessoas consonantes com a estratégia empresarial. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 30 Fonte: adaptado de Albuquerque e Leite (2009, p. 20 - 21) 1.3.2 Planejamento Estratégico de Pessoas Na segunda fase do modelo de diagnóstico, a empresa precisa definir princípios, objetivos e estratégias de gestão de pessoas de forma a viabilizar a implementação das estraté- gias organizacionais no que diz respeito às variáveis huma- nas e organizacionais. Segundo Golden e Ramanujam (1985, apud MASCARENHAS, 2008, p. 38), as relações, entre a área de pessoas e as equipes de planejamento estratégico que surgem com a gestão estratégica de pessoas podem ser classificadas de duas formas: 1ª) Conexão de mão única, nas quais as equipes de gestão de pessoas assumem responsabilidades rela- cionadas à implementação das estratégias por meio de POLÍTICAS E LEGAIS A legislação trabalhista é um dos aspectos mais importan- tes do ambiente externo a ser considerado na gestão estratégica de pessoas. CLIENTES E CONSUMIDORES Informações sobre esse grupo são importantes para o proces- so decisório estratégico. Suas características podem influen- ciar na prática de contratação de pessoas. Por exemplo, a motivação por diversidade cul- tural que pode levar a contrata- ção de grupos de minorias. SOCIOCULTURAIS E DEMOGRÁFICAS Refere-se às características sociais e demográficas que compõem a sociedade. Inclui: valores culturais, normas de conduta, estilo de vida, assim como características físicas de composição da sociedade (idade, gênero, origem geográ- fica, nível sócio econômico e educacional etc.) STAKEHOLDERS Compostos por grupos que têm interesses específicos nosresultados organizacionais. Por exemplo: governo, comunida- des locais, sindicatos, associa- ções de classe etc. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 31 planejamento de políticas e de práticas de gestão de pessoas. Nesse tipo de articulação, gestão de pessoas não tem nenhum papel na formulação da estratégia organizacional. 2ª) Conexão de mão dupla, conforme pode ser obser- vado na figura a seguir, na qual a gestão de pessoas contribui para a formulação das estratégias empre- sariais, fornecendo informações sobre o ambiente interno e externo à organização em suas dimensões humanas, discutindo possibilidades estratégicas e arti- culando-se por meio de políticas e de práticas de ges- tão de pessoas. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 32 Planejamento estratégico e planejamento estratégico de pessoas Fonte: Mascarenhas, 2008, p.39 Visão de negócio Desenvolvimento da compre- ensão e do comprometimento com a visão do negócio Definição da missão Missão da gestão de pessoas Análise do ambiente Análise do ambiente da gestão de pessoas Análise das capacidades Análise das pessoas Definição dos objetivos organizacionais Definição dos objetivos da gestão de pessoas Definição das macropolíticas Definição das políticas de gestão de pessoas Elementos estratégicos críticos Elementos estratégicos críticos de gestão de pessoas Seleção e desenvolvimento da estratégia Estratégia de gestão de pes- soas para inclusão no plano estratégico da empresa Implementação Estratégia da empresa (planejamento estratégico) Estratégia de GP (planejamento estratégico de pessoas) G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 33 Em ambas as formas, o planejamento estratégico de gestão de pessoas é visto como um processo paralelo ao pla- nejamento estratégico geral da empresa, baseado no pressu- posto da adaptação, ou seja, uma subordinação da definição das estratégias de gestão de pessoas às etapas do planejamen- to estratégico da empresa. 1.3.3 Planejamento das atividades e dos pro- cessos de gestão de pessoas A terceira fase do modelo de diagnóstico prevê o planeja- mento tático de atividades e de processos de gestão de pessoas. A cultura organizacional é um fenômeno de caráter mais profundo e de maior permanência, que requer mais tempo para mudar. Em razão disso, uma mudança na cul- tura organizacional é um processo complexo, que tem na área de gestão de pessoas a liderança mais apropriada. Uma mudança cultural demanda alterações em vários conteúdos, de modo que possam repercutir em novos padrões de nor- mas, valores e expectativas de comportamento. Independentemente do contexto considerado, a cultu- ra pode ser analisada de acordo com Teixeira et al (2010, p. 60) com base em alguns aspectos: • É sistêmica, ou seja, é constituída de diferentes par- tes entre as quais existe interdependência. • Contém partes materiais e não materiais. • Confere características diferenciadoras às organizações. • É adquirida e transmitida socialmente Para Trompenaars (1994, apud TEIXEIRA et al, 2010, p. 61) a cultura é a forma por meio da qual um grupo de pes- G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 34 soas resolve problemas, sendo a essência da cultura o modo que esses grupos entendem e interpretam o mundo. Para o autor, a cultura pode ser definida como “um sistema comum de significados, que nos mostra a que devemos prestar aten- ção, como devemos agir e o que devemos valorizar”. A ideia de significado é relevante para se entender a importância dos valores nos sistemas culturais. De acordo com Teixeira et al (2010, p. 62), o valor é uma relação que se estabelece entre um sujeito que avalia e algo que é avaliado positivamente. Os valores podem ser categorizados de acor- do com o contexto em que surgem ou são aplicáveis. Dessa forma, existem desde os valores mais elevados e transcen- dentais, relacionados com concepções filosóficas de vida e de mundo, até os valores utilitários, como os valores da maioria das ciências e das tecnologias e suas aplicações, cuja valora- ção é suscetível de mudanças, por força do próprio progresso. Outra característica do valor é a sua conotação subje- tiva, ou seja, os mesmos valores se manifestam nas pesso- as de maneira diferente ou sob diferentes gradações. Para Mascarenhas (2008) os subsistemas de gestão de pesso- as devem ser pensados como ferramentas para a mudança cultural e devem ser capazes de mobilizar as pessoas para a busca de objetivos estratégicos. Mudanças – nos sistemas de recompensa, recrutamento e seleção, nos estilos de liderança, na construção de novas habilidades individuais e na imple- mentação de novas estruturas e estratégias organizacionais – podem contribuir para a internalização de novas expectativas e valores, além de promover novos comportamentos. Em um nível tático, as decisões giram em torno do como fazer para que os objetivos de gestão de pessoas sejam alcançados. Nesse sentido, decisões relacionadas às políti- cas e às ferramentas de gestão de pessoas assumem implica- ções importantes no alcance desses objetivos, o que salienta G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 35 a importância do alinhamento interno, uma vez que as defi- nições a respeito das políticas de gestão de pessoas não são somente operacionais, mas devem contemplar as suas inter- -relações de modo mais amplo. Por exemplo, a remuneração por competências pode estimular o desenvolvimento, sendo recomendada para empresas que pretendem implementar sistemas de aprendizagem e educação continuada. No âmbito da gestão estratégica de pessoas tornou-se clara a necessidade de promover padrões técnicos e comporta- mentais adequados às organizações, o que fez, de acordo com Mascarenhas (2008), com que o subsistema de gestão de desem- penho fosse destacado por constituir-se em uma espécie de elo entre os demais subsistemas. Lucena (2004), por exemplo, trata a gestão de desempenho como uma metodologia capaz de veri- ficar se os objetivos organizacionais – através de metas departa- mentais, coletivas e individuais – estão sendo alcançados. Outros autores, tais como Pontes (1986, apud MASCARENHAS, 2008) destacam as vantagens de uma abor- dagem integrada de gestão de pessoas que utilize como base as informações geradas por meio da aplicação sistemática de avaliação de desempenho. Os autores enfatizam que a avaliação de desempenho poderia integrar as atividades de todos os subsistemas de gestão de pessoas, integrando o alinhamento estratégico de gestão de pessoas. Por exemplo, a avaliação de desempenho pode servir de base para o levantamento e as necessidades de treinamento, assim como para as iniciativas de capacitação, ou mesmo, estimular determinados comportamentos, deseja- dos no ambiente de trabalho, ao servir como parâmetro para promoções e/ou remuneração. Para Armstrong (2006, apud MASCARENHAS, 2008), ao fornecer aos gestores e à área de gestão de pessoas dados e parâmetros aos diversos processos de gestão de pessoas, a G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 36 avaliação de desempenho teria como funções principais: for- necer feedback a todos os colaboradores com relação ao seu desempenho; promover valores, expectativas e comporta- mentos coerentes com as estratégias organizacionais e ser- vir de base à integração de todos os subsistemas de gestãode pessoas. A figura a seguir ilustra a função integradora da avaliação de desempenho. Avaliação de desempenho como integra- dor de gestão estratégica de pessoas Fonte: Mascarenhas, 2008, p. 51. A integração dos diversos subsistemas de gestão de pessoas em torno dos critérios de avaliação de desempenho foi comum a todas as metodologias emergentes. A ideia era viabilizar o alinhamento externo – vincu- lando expectativas de comportamentos a metas divisionais e corporativas – e o alinhamento interno, associando as deci- AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO Motivação das pessoas Remuneração das pessoas Promoção e movimentação de pessoas Planejamento de pessoal Seleção de pessoas Necessidade de qualificação G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 37 sões de gestão de pessoas entre si e em torno das estratégias, tornando possível a coerência das políticas que incidem sobre os colaboradores, a consistência das condições de trabalho dos indivíduos que exercem funções similares e a coerência no tratamento dos colaboradores. Acompanhamento e avaliação das políticas de gestão de pessoas Sempre foi uma questão crítica em gestão de pessoas o acompanhamento e a avaliação de suas políticas no que se refere à sua capacidade de alcançar os objetivos estratégicos predefinidos. Muitos autores têm questionado as ferramentas e os métodos de gestão utilizados pela área de gestão de pes- soas, sugerindo a necessidade de se verificar em que medida as iniciativas de gestão de pessoas efetivamente contribuem para o sucesso organizacional. Uma das dificuldades da área sempre foi a avaliação dos resultados de suas práticas. A subjetividade que as caracteriza dificulta a definição de indicadores objetivos, capazes de quan- tificar o retorno sobre o investimento em gestão de pessoas. É comum que os indicadores de desempenho da área de gestão de pessoas sejam voltados a processos e a tarefas e não a resultados efetivos. Por exemplo, fala-se da quantidade de horas de treinamento por funcionário e não o que os processos de treinamento representam em termos de contribuição real para a empresa. Entretanto, conforme assinala Mascarenhas (2008), o advento da gestão estratégica de pessoas reforçou a necessidade de avaliar objetivamente políticas e práticas de gestão de pessoas, sob o risco de ser considerada um centro de custos e não uma função indispensável nas organizações. A definição de indicadores de avaliação das práti- cas de gestão de pessoas deveria assumir os objetivos de gestão de pessoas como parâmetros. Isso implica em dizer G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 38 que cada subsistema de gestão de pessoas deveria ser pla- nejado e avaliado em relação à sua capacidade de contribuir para o alcance dos macro-objetivos de gestão de pessoas. (MASCARENHAS, 2008). As atividades de acompanhamento e avaliação normal- mente requerem a definição de uma série de indicadores que seriam capazes de sistematizar os efeitos das políticas e ati- vidades de gestão de pessoas na empresa. Por exemplo, para avaliar políticas de recrutamento e desenvolvimento por meio de programa de estágio é necessário acompanhar a trajetória dos estagiários durante um período de cinco anos para que se possa conhecer a porcentagem foi efetivada, promovida e des- ligada da empresa nesse período. É possível, ainda, fazer tam- bém um acompanhamento mais qualitativo da trajetória, ava- liando suas contribuições individuais para a organização. 1.4 Ambiente atual da gestão de pessoas Para Teixeira et al (2010), o ambiente da gestão de pessoas, por sua abrangência, envolve diversas dimensões, tanto externas como internas, que refletem as mudanças tecnológicas, sociais, cul- turais que deveriam ser processadas no mundo organizacional. Os autores classificam essas dimensões em três gran- des grupos que possuem especial relevância e que requerem especial atenção da gestão de pessoas: o mundo dos negócios, o mundo do trabalho, a cultura e o clima organizacional. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 39 1.4.1 Dimensão mundo dos negócios O atual mundo dos negócios é condicionado por uma série de variáveis que atuam sobre as organizações em ritmo acelerado de velocidade. Destacam-se, por seu impacto: a sociedade do conhecimento, a sociedade da informação e a hipercompetitividade. a) Sociedade do conhecimento Nessa sociedade se sobressai o capital humano, que expressa o valor do conhecimento e de outros bens intangíveis. Segundo Davenport e Prousak (1998, p. 20), “(...) ao con- trário dos ativos materiais, que diminuem à medida que são usados, os ativos do conhecimento aumentam com o uso: ideias geram novas ideias e o conhecimento é compartilhado com o doador, ao mesmo tempo em que enriquece o recebedor”. Uma das implicações do papel do conhecimento como ativo de uma empresa está levando esse conhecimento à transformação em um ativo a seu serviço e não apenas em propriedade de indivíduos ou de grupos de profissionais. No mundo dos negócios o conhecimento passa a ser um forte diferencial competitivo das organizações. “As empresas de sucesso do século XXI serão aquelas que conseguirem cap- tar, armazenar e alavancar melhor o que os seus funcionários sabem” (PLATT apud BOHLANDER, 2003, p. 9), ou seja, em uma sociedade do conhecimento o trabalho tende a ser cada vez mais de natureza intelectual, transformando o trabalhador manual tradicional em trabalhador do conhecimento. b) Sociedade da informação Na sociedade da informação, cada vez mais se fortale- ce a dimensão digital, o que leva as empresas a enfatizarem, como estratégias de competitividade, o e-business e a gestão de pessoas, a e-GP. Pode-se dizer, de acordo com Teixeira et G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 40 al (2010), que a e-GP é uma estratégia que, utilizando meios digitais e tecnologias de rede, agiliza e otimiza os serviços para seus clientes: gerentes e colaboradores. A e-GP implica na substituição de processos burocráti- cos por tecnologias que incluem um sistema de informações de gestão de pessoas, a utilização inteligente de tecnologias de rede e o uso de canais de comunicação. A gestão de pessoas abandona a abordagem do isolamento do antigo departamento de pessoal e passa a atuar de forma inte- rativa e online com os parceiros das demais unidades da empre- sa. São exemplos de otimização do uso da e-GP: o acesso às infor- mações sobre o negócio, o recrutamento pela internet, o e-learning, o acesso às oportunidades de capacitação, a facilitação da gestão por competências, o autoatendimento dos colaboradores etc. Essa sociedade proporciona uma rede mundial de ges- tão, permitindo que decisões empresariais sejam tomadas de forma interativa e em tempo real. Com a integração de com- putadores e tecnologias de comunicação, gradualmente se está chegando à empresa virtual. Uma das implicações disso para a gestão de pessoas é o surgimento do trabalhador vir- tual, proporcionando maior flexibilidade do trabalho e maior mobilidade de colaboradores. c) Hipercompetitividade Com o acirramento da globalização e de outras con- dicionantes da competição empresarial, as empresas passa- ram a atuar num regime de hipercompetitividade, que vem influenciando, ao longo dos últimos anos, a privatização, o crescimento de empresas multinacionais e brasileiras e as fusões e aquisições. A hipercompetitividade aumenta na medida em que o ritmo de negócios se acelera, exigindo res- postas imediatas, independentementede lugar e de tempo. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 41 1.4.2 Dimensão mundo do trabalho No atual mundo de negócios têm ocorrido mudanças na natureza do trabalho e nas relações entre as empresas e seus colaboradores, configurando uma nova situação que gera importantes implicações para a gestão de pessoas. De acordo com Teixeira et al (2010), essa nova situação repercute em um novo mundo do trabalho, cada vez mais caracterizado por: a) Convivência do emprego clássico com um novo tipo de emprego O emprego clássico é normalmente entendido como aquele em que o colaborador trabalha para um único empregador, em suas dependências, em tempo integral e por prazo indeterminado. Nesse contexto, o trabalho é sinônimo de emprego. Embora continue e tenha tendências de continuar nas empresas, o emprego clássico começa a conviver com um novo tipo de emprego, caracterizado pela possibilidade de se trabalhar para mais de um empregador, fora de suas depen- dências, em regime parcial de horário e por prazo temporá- rio. Essa modalidade não deve ser entendida como trabalho informal, sem proteção legal e social. Ela só se torna um pro- blema quando empregadores deturpam o sentido desse tipo de trabalho e o utilizam como instrumento de supressão dos direitos básicos do empregado. b) Desconfiguração do cargo em sua forma tradicional O cargo, tal qual o conhecemos, em sua forma tra- dicional, limitado a um conjunto de tarefas específicas e prescritas, vem sendo substituído por uma nova forma. Ele passa a ser uma classificação genérica, com a definição de sua missão, incluindo, além das tarefas específicas e perma- G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 42 nentes, tarefas transitórias e diversificadas, desempenhadas em uma perspectiva de interdependência, interdisciplinari- dade e multifuncionalidade. A característica desse novo tipo de cargo é a possibili- dade de as empresas poderem dispor de maior flexibilidade na alocação de pessoas em diferentes atividades e a oportuni- dade de as pessoas encontrarem melhores condições de pro- gresso profissional. Interdisciplinaridade A interdisciplinaridade pode ser entendida como a coo- peração de várias disciplinas científicas no exame de um mesmo e único objeto. Esse intercâmbio e a integração recí- proca entre várias ciências, tem como resultado um enri- quecimento recíproco e a construção do conhecimento. Surgiu como uma resposta à necessidade de uma recon- ciliação epistemológica, devida à fragmentação dos conhecimentos, ocorrida com a revolução industrial e a necessidade de mão de obra especializada. A interdisciplinaridade buscou conciliar os conceitos per- tencentes às diversas áreas do conhecimento a fim de pro- mover avanços, como a produção de novos conhecimentos ou mesmo, novas subáreas. Interdependência A interdependência de tarefas pode ser definida como a extensão em que os membros do grupo devem intera- gir e dependem mutuamente para completar o trabalho de maneira satisfatória. A interdependência de tarefas é o grau em que o desempenho das tarefas de um membro da equipe depende do esforço e habilidades dos outros. Multifuncionalidade O conceito de variedade na tarefa é ampliado para o con- ceito de multifuncionalidade. É a capacidade do colabo- rador de se adaptar aos diversos meios, desenvolvendo tarefas múltiplas. O mercado de trabalho moderno exige profissionais com várias habilidades, que são chamados também de multies- pecialistas, profissionais que possuem uma ou mais for- mações específicas, mas que apresentam também noções genéricas sobre outros assuntos. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 43 c) Base tecnológica mais sofisticada Essa característica leva à extinção de cargos menos qualificados e à criação de outros que exijam maiores qua- lificações. São conhecidos os exemplos de extinção de cargos decorrentes do impacto tecnológico, como caixa, operador de telex, datilógrafa e outros. Em consequência da extinção de cargos menos qualifi- cados e da criação de cargos com maiores qualificações, algu- mas empresas passam a enfrentar o problema de não encon- trar no mercado de trabalho candidatos preparados para determinados cargos. d) Migração do emprego É um fenômeno decorrente da globalização econômi- ca que, gradativamente, é inserida no mercado de trabalho brasileiro. Pastore (2003) destaca que, nos dias atuais, surge uma nova forma de migração, em que as empresas permane- cem nos países onde estão sediadas e os empregos migram. Cita o exemplo de contadores, na Índia, que fazem a análise de empréstimos pessoais que são concedidos por uma insti- tuição financeira sediada na Califórnia. No Brasil podemos encontrar o caso de algumas montadoras de automóveis e de indústrias de vestuário e calçados. São duas as implicações para o país com relação à migração do emprego: ocorre o deslocamento de empregos de outros países para o Brasil, o que torna necessário criar con- dições facilitadoras, como melhorar o nível educacional dos empregados e flexibilizar a legislação trabalhista. Por outro lado, pode ocorrer também o deslocamento do emprego do Brasil para outros países, onde é preciso criar condições ini- bidoras dessa realidade, a partir de maior capacitação profis- sional e condições para sua retenção. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 44 e) Novas formas de flexibilização do trabalho São utilizadas novas formas de flexibilização do traba- lho, compreendendo: formas de organização, de duração fle- xível e de contratação. Essas novas formas são inseridas em um contexto maior, que é a empresa flexível. O modelo de empresa flexível pode ser abordado de duas formas: 1) Procura-se analisar as exigências que essa flexi- bilidade faz à empresa, em termos de um contexto organizacional propício para a sua efetivação. Nessa abordagem, além da necessidade de uma estrutura organizacional horizontalizada e baseada em resulta- dos, na necessidade do cliente, na interdependência e na interdisciplinaridade, ressalta-se como condição fundamental a atuação dos executivos, pois a empresa flexível requer uma nova liderança, capaz de enfrentar situações em que pequenas mudanças possam desen- cadear amplos resultados. 2) Enfoca-se um modelo de organização que distribui as diferentes formas de flexibilidade do trabalho, em função do núcleo central dos negócios da empresa, o chamado core, e de suas atividades periféricas. Nesse modelo as diferentes formas de trabalho flexível estão relacionadas ao core business das empresas e às suas atividades periféricas. O core business reúne os empre- gados permanentes e as atividades periféricas incluem os empregados temporários, terceirizados, de jornada parcial e outros de condições semelhantes. Os empregados permanentes desempenham, princi- palmente, as tarefas essenciais da empresa que procura atin- G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 45 gir, com eles, o máximo de flexibilidade funcional, oferecen- do-lhes alto grau de segurança no emprego. Formas de organização do trabalho Entre essas formas, têm maior importância na análise do ambiente da gestão de pessoas a equipe interdisciplinar, o cargo compartilhado, o teletrabalho e a multifuncionalidade. • Equipe interdisciplinar: Tradicionalmente, o trabalho em equipe é realizado por equipes constituídas por pessoas com a mesma formação ou do mesmo campo de conhecimento.Com essas características, a equipe aborda os problemas à luz de uma única disciplina, o que leva, na maioria das vezes, a uma solução setorial dos pro- blemas. Ao contrário, a equipe interdisciplinar é integrada por pessoas de diferentes formações, integrando conhecimentos, tecnologias e práticas do seu campo profissional com outras áreas do conhecimento, na busca da eficiência e da eficácia do trabalho. Nessas condições, a equipe interdisciplinar aborda os problemas com uma visão integrada dos diversos campos do saber, procurando alcançar a solução global para os problemas. • Cargo compartilhado: É uma forma de organização do trabalho em que dois empregados partilham, em jornada parcial, o que antes era Core Business Core Business significa a parte central de um negócio ou de uma área de negócios, que é geralmente definido em função da estratégia dessa empresa para o mercado. Esse termo é utilizado habitualmente para definir qual o ponto forte e estratégico da atuação de uma determinada empresa. É utilizado também para definir a área de atu- ação onde não pode, ou não se deve existir terceirização. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 46 um cargo de tempo integral. Surgiu como um mecanismo voluntário pelo qual os empregados propõem à empresa o compartilhamento do cargo para resolver problemas pessoais. Nesse tipo de organização do trabalho, a partilha pode ser feita por dia – dividindo a jor- nada pelos dois empregados –, por semana – dividindo a dura- ção semanal em dias ou alternando semanas inteiras. O salá- rio e os benefícios são divididos entre os ocupantes do cargo, proporcionalmente ao número de horas trabalhadas. No Brasil, não se tem notícia da aplicação do cargo compartilhado. • Teletrabalho: O teletrabalho ganhou maior expressão com o desen- volvimento das corporações virtuais. Murphy (1996, apud TEIXEIRA et al, 2010, p. 50) define teletrabalho como: “Uma situação em que uma pessoa desempenha o trabalho à dis- tância do empregador ou do cliente para o qual o trabalho está sendo desempenhado, com a utilização de ferramentas de informática e telecomunicações”. Apesar de o tipo mais conhecido ser o trabalho em casa, Trope (1999, apud TEIXEIRA et al, 2010) menciona outras modalidades, tais como o teletrabalho pendular, onde o fun- cionário trabalha alguns dias em sua residência e outros na sede da empresa e o trabalho nômade, no qual o funcionário é itinerante, como funcionários do setor comercial. No Brasil, cerca de 11 milhões de colaboradores já utili- zam esse regime. (OSCAR, 2008). • Multifuncionalidade: Conforme Teixeira et al (2010), os cargos estrutura- dos com base no princípio da especialização de tarefas, com descrições excessivamente detalhadas, durante muito tempo G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 47 limitaram o empregado a uma área restrita de atuação, com o desempenho de uma única função. A crescente velocida- de das mudanças tecnológicas, a constatação do desperdício das competências dos empregados na situação de trabalho e a necessidade da otimização dos custos levaram a que empre- gados passassem a romper as barreiras rígidas do cargo, desempenhando funções diversificadas e de outras áreas, principalmente correlacionadas. Essa situação levou à multifuncionalidade, condição em que os empregados com as competências corresponden- tes passam a exercer mais de uma função. A multifuncionalidade implica desempenho de fun- ções diversas, em toda a sua plenitude e com o mesmo nível de proficiência. Não pode, assim, ser confundida com situa- ções em que o empregado detém o domínio completo de uma função e desempenha eventualmente outras, em caráter com- plementar ou em substituição esporádica, o que na lingua- gem popular representa o “quebra-galho”. Três cuidados são fundamentais para maior eficácia da multifuncionalidade: a seleção e o treinamento com base no perfil de competências das funções; a avaliação contínua e sistemática das competências e do desempenho; e a adoção de mecanismos de recompensas. Formas de flexibilidade relacionadas à duração do trabalho • Horário flexível: Consiste na possibilidade de os empregados flexibili- zarem a duração de trabalho diária no início e no final do expediente, ou, ainda, no intervalo do almoço. Para essa flexi- bilização, as empresas estabelecem núcleos, como, por exem- G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 48 plo, das 8h às 10 h para a entrada e das 17h às 19 h para a saída. Funciona como um sistema de crédito/débito, cujo balanço pode ser fechado, tendo por referência o número de horas estabelecido para a semana ou para o mês. • Banco de horas: Sistema em que a duração do trabalho varia em fun- ção da demanda da produção das empresas. Nos casos de alta demanda, a jornada de trabalho aumenta e aos empregados é atribuído um crédito de horas correspondente à maior jorna- da. Nos casos de baixa procura, o crédito é compensado pela redução da jornada ou pela concessão de folgas em número de horas correspondentes às creditadas. No Brasil as horas tra- balhadas a mais não podem exceder de duas horas diárias e o período máximo para compensação das horas é de um ano. São apontadas como vantagens do banco de horas: a manutenção de empregos na época de baixa demanda, a redução do número de horas extras e a melhoria da qualida- de de vida, pela concessão das folgas. • Ano flexível: Sistema em que empregados trabalham na base de um número de horas fixado para o ano e não para a semana ou mês, como usualmente se pratica. Exemplificando: empregados são designados para tra- balhar 1.800 horas por ano e não 44 horas semanais ou 220 mensais. Nessa modalidade, as horas a serem trabalhadas pelos empregados podem variar ao longo do ano, em fun- ção das necessidades de trabalho das empresas. A variação do número de horas pode ocorrer por dia, semana ou mês. É um sistema altamente flexível que, embora praticado de forma preponderante com base nas necessidades de traba- G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 49 lho das empresas, não impede que se levem em conta, tam- bém, as necessidades do empregado. • Jornada parcial: Situação em que o empregado trabalha um determina- do número de horas, abaixo da duração semanal normal do trabalho no país. O limite máximo de horas semanais para caracterizar a jornada parcial varia de país para país. Assim, na Alemanha o limite é de 38 horas, no Reino Unido, de 30 horas e no Brasil, de 35 horas. • Formas relativas à contratação Essas formas – representadas principalmente pelo tra- balho temporário, pelo trabalho terceirizado e pela prestação de serviços mediada por cooperativas de trabalho – têm sido amplamente discutidas na teoria e na prática da gestão de pessoas e no campo das relações do trabalho face à sua posi- ção em relação ao contrato permanente, considerando a rela- ção ideal de emprego. As discussões têm se concentrado em torno de duas posições: uma que aborda a precariedade dessas formas de contratação e outra que considera essa flexibilidade um dos fatores facilitadores da competitividade das empresas e da geração de empregos. Pastore (2004), ao analisar a reforma trabalhista da Espanha, demonstra a grande redução do desemprego, que caiu de 24% em 1994 para 10,5% em 2004, não pela aceleração do crescimento e melhoria da educação, mas pela flexibiliza- ção do sistema de contratação, que incluiu, entre outros, os seguintes tipos flexíveis de contratos: tempo parcial, eventu- al, obra certa,interino, de formação de jovens e de estímulo a pessoas de meia-idade. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 50 Esses tipos de contrato têm menor custo para as empre- sas por oferecerem proteção legal parcial, assegurando, no entanto, a proteção básica. f) Exigência de novo tipo de profissional Na sociedade do conhecimento e com o forte impacto da tecnologia na organização e no gerenciamento das empre- sas, a maioria dos trabalhos envolve conhecimentos mais abrangentes e sua integração, bem como a necessidade de capacitação continuada, a busca constante de novas informa- ções e a polivalência. Com essa configuração, o trabalho, para ser eficaz e passa a exigir um novo tipo de profissional: • orientado para a interdisciplinaridade; • orientado para o autodesenvolvimento; • capaz de aprender e manter-se atualizado; • orientado para missões; • orientado para desafios; • empreendedor; • comprometido com o negócio da empresa; • polivalente/policompetente. 1.4.3 A dimensão cultura e clima organizacional A abrangência da cultura e do clima organizacional como uma dimensão da gestão estratégica de pessoas requer a compreensão dessas duas variáveis. Para Teixeira et al (2010, p. 56) a cultura pode ser enten- dida como “um conjunto de ideias, conhecimentos, modo de agir, pensar e sentir expressas em termos materiais ou não, que são partilhadas por um grupo ou uma organização, com G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 51 certa regularidade no tempo e no espaço”. Então, podemos dizer que é um conjunto de padrões valorativos, técnicos e comportamentais construídos ao longo da história de uma organização, que adquirem caráter permanente, passando a constituir seu referencial de atuação interna e externa. Por sua vez, o clima organizacional pode ser defini- do como o conjunto de percepções, opiniões e sentimentos manifestos no comportamento de um grupo em determinado momento ou situação. É um fenômeno psicossocial e mutá- vel, baseado nas percepções e opiniões que as pessoas têm da organização em que trabalham, em uma dada situação. Enquanto as mudanças no clima podem ocorrer por meio de uma intervenção localizada e em curto tempo, mudanças na cultura depreendem estratégias e ações específicas de médio e longo prazo. Enquanto a cultura é um fenômeno organiza- cional de caráter mais profundo e de maior permanência, que requer mais tempo para mudar, o clima organizacional é um fenômeno de caráter menos profundo, passível de mudan- ça em menos tempo. Ambos, cultura e clima organizacional, precisam ser compreendidos dentro do ambiente mais amplo da organização em sua relação com a gestão de pessoas. Organizações são sistemas sociais e a gestão de pesso- as, de acordo com Teixeira et al (2010), um dos seus subsiste- mas com características políticas, estruturais, normas e pro- cedimentos que refletem as características do sistema global, incluindo a cultura e o clima. Depreende-se daí que não exis- tem duas empresas iguais. Apesar de características tecnoló- gicas, estruturais e algumas práticas poderem ser as mesmas, sempre as organizações assumirão identidade própria, trans- mitida inclusive às pessoas que ali trabalham. As pessoas tra- zem a “marca“ da cultura de suas empresas e, do mesmo modo, a gestão de pessoas tende a assumir as características culturais do sistema organizacional imediato em que está inserida. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 52 Independentemente do tipo de organização, um sis- tema de gestão de pessoas terá sempre a função de captar, desenvolver e reter o elemento humano necessário para o cumprimento da missão da empresa. Hoje a gestão de pessoas está orientada para duas dire- ções que precisam ser compatibilizadas: sua adequação eficaz ao negócio da organização e sua capacidade de proporcionar às pessoas oportunidade e condições de trabalho, adequa- das às novas conquistas da cidadania plena. Para Teixeira et al (2010) essas orientações são a base conceitual e valorativa ideal na qual deveria estar apoiada a gestão de pessoas de qualquer organização. Saiba Mais • “Inovação digital: em qual século você está?” é uma entrevista de Gil Giardelli, concedida ao portal HSM online, na qual são discutidos alguns aspectos referen- tes aos impactos da revolução digital nas organizações. A entrevista pode ser acessada no link http:// w w w. h s me duc ac ao.c om.br/S a l a -D e -I mpr e n s a / Inovacao-digital3a-em-qual-seculo-voce-esta3f/115. • “Gestão estratégica de pessoas ainda está só no dis- curso” é a visão de Pedro Martins, presidente da PM - International Consulting, professor e consultor de empresas em 23 países, inclusive no Brasil com relação à gestão estratégica de pessoas. A entrevista pode ser acessada no link: http://www2.uol.com.br/canalexecu- tivo/notas101/1309201013.htm. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 53 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, L. G. de; LEITE, N. P. Diálogo teórico-em- pírico em gestão estratégica de pessoas. In: XIII SEMEAD - Seminários Em Administração. São Paulo, set. 2010. Dis- ponível em: http://www.ead.fea.usp.br/semead/13semead/ resultado/trabalhosPDF/3.pdf. Acesso em set. 2013. ____. Gestão estratégica de pessoas: conceito, evolução e vi- são. In: ALBUQUERQUE, L. G. de; LEITE, N. P. Gestão de pessoas: perspectivas estratégicas. São Paulo: Atlas, 2009. BOHLANDER, G. W. Administração de recursos humanos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. FISCHER, A. L.; DUTRA, J. S.; AMORIM, W. A. C. de. Gestão de pessoas: práticas modernas e transformação nas organi- zações. São Paulo: Atlas, 2010. FISCHER, R. M. Mudança e transformação organizacional. In: FLEURY, M. T. L. (org.). As pessoas na organização. São Paulo: Gente, 2002. LUCENA, M. D. da S. Planejamento estratégico e gestão do desempenho para resultados. São Paulo: Atlas, 2004. MASCARENHAS, A. O. Gestão estratégica de pessoas: evo- lução, teoria e crítica. São Paulo: Cengage Learning, 2008. MILKOVICH, G. T.; BOUDREAU, J. W. Administração de re- cursos humanos. São Paulo: Atlas, 2000. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 54 SILVA, L. M. T. da; ALBUQUERQUE, L. G. de; COSTA, B. K. O alinhamento estratégico entre cultura organizacional e es- tratégias de gestão de pessoas. RECADM – Revista Eletrôni- ca de Ciência Administrativa. Paraná, v8, n2, nov. 2009. Dis- ponível em: http://revistas.facecla.com.br/index.php/recadm/ article/view/562/457. Acesso em: 27 nov. 2009. TEIXEIRA, G. M.; SILVEIRA, A. C. da; BASTOS NETO, C. P. dos S.; OLIVEIRA, G. A. de. Gestão estratégica de pessoas. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o A lin ha m en to S ist êm ic o 55 ( 2 ) Gestão estratégica de pessoas como potencial competitivo Objetivos • Discutir os novos paradigmas para uma estratégia competitiva organizacional e sua relação com a gestão de pessoas. • Apresentar as tendências na área de gestão estra- tégica de pessoas e a maneira que podem sustentar estratégias organizacionais. Conteúdo apresentado • Vantagem competitiva e gestão de pessoas. • Recursos, competências e capacidades: visão base- ada em recursos (RBV) e competências e capacidades dinâmicas. • Aprendizagem organizacional. Profª Ms. Dália Derner 60 G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as 2.1 Vantagem competitiva e gestão depessoas As transformações econômicas ocorridas a partir de 1980 e 1990 têm impelido empresas a uma constante revisão de seus processos, dada à necessidade de sobreviver em um mercado altamente concorrido e, por assim dizer, competitivo. A perda de prestígio da indústria norte-america- na foi um dos fenômenos que levaram a uma crescente preocupação com o tema competitividade em diversos âmbitos, tanto nas universidades como nas instituições responsáveis pelas análises e formulação de políticas eco- nômicas (LEITE, 2008). No Brasil, com a abertura comercial promovida pelo Governo Collor, em 1990, as empresas foram impulsionadas a buscar metas de produtividade, redução de custos, mecanis- mos para inovação tecnológica, entre outras estratégias, para fazer frente à concorrência em nível mundial. Para Leite (2008, p. 9), os movimentos estratégicos das empresas referem-se às constantes buscas por vantagens competitivas no ambiente econômico onde se desenrola o processo de concorrência. Dessa forma, para o autor, “compe- titividade é o atributo que deveria ser buscado pelos agentes, de modo a obter melhor posicionamento estratégico no mer- cado”. Posição similar apresentam Teixeira e Zaccarelli (2008), para quem a competitividade reflete-se na posição relativa de uma empresa frente aos seus concorrentes, devendo possuir fontes de vantagem competitiva que resultem na atratividade de clientes superior aos seus concorrentes. G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o Po te nc ia l C om pe tit iv o 61 De acordo com Teixeira e Zaccarelli (2008), a obtenção de uma vantagem competitiva não é suficiente, pois o recur- so que gera ganho competitivo pode ser assimilado rapida- mente pelos concorrentes. O recurso, por si só, pouco contri- bui como fonte eficaz de vantagem competitiva sustentável, pois é passível de imitação pelo mercado. Isso implica na necessidade de desenvolver recursos intangíveis, visando criar competências particulares a cada organização, menos sujeitas à imitação. Uma empresa obtém vantagem competitiva de diferen- tes formas e vários autores têm procurado identificar quais os fatores que influenciam a sua construção. Vamos conhe- cer alguns deles: Michael Porter, George Stalk Jr., Flávio Vasconcellos e Álvaro Cyrino. Porter (1986 apud TEIXEIRA E ZACARELLI, 2008) pro- pôs o modelo das cinco forças, entendendo que as empresas constroem a sua vantagem competitiva traçando estratégias de custos, diferenciação e enfoque, tendo como se posicionar perante as cinco forças: • o poder de barganha dos clientes; • o poder de barganha dos fornecedores; • a ameaça da entrada de novos concorrentes; • a ameaça dos produtos substitutos; • a força dos concorrentes existentes. Nessa perspectiva da escola do posicionamento, os patamares de desempenho empresarial podem ser explica- dos com base nos fatores externos à empresa e pelo seu posi- cionamento no mercado, o que leva a gestão de pessoas a um segundo plano na explicação do desempenho das empresas. 62 G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as Ao entender as organizações como um conjunto de ati- vidades organizadas de acordo com certos posicionamentos de mercado, suas particularidades internas são deixadas em segundo plano. Saiba mais Escola do posicionamento Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) criaram uma tipo- logia dos distintos aspectos da administração estratégica, resultando na elaboração de uma classificação das estraté- gias já realizadas. Analisando a produção sobre estratégia, praticamente desde seus primórdios, os autores organi- zaram as ideias e teorias existentes em torno do que eles denominaram “10 escolas” do pensamento estratégico. De acordo com esses autores a terceira escola é a Escola do Posicionamento. Baseada nos trabalhos de Michael Porter, essa escola enfa- tiza a importância das estratégias, além de tratar de técni- cas para a análise competitiva e de mercado, partindo de determinadas premissas (MINTZBERG, 2000, apud Silva Filho et al, 2005): - Estratégias são posições genéricas, especificamente comuns e identificáveis no mercado. - O mercado (o contexto) é econômico e competitivo. Assim, as estratégias saem desse processo totalmente desenvolvidas para serem articuladas e implementa- das; a estrutura do mercado dirige as estratégias posi- cionais deliberadas que, por sua vez, dirigem a estrutura organizacional. O atual ambiente de negócios é marcado pelo acirramento da concorrência empresarial, promovendo a importân- cia do conceito de competitividade. Perante essa inten- sificação da rivalidade, a concepção de estratégias em consonância com seu planejamento constituem elementos fundamentais para as organizações. Isso reforça o pensa- mento de Porter (1990), que argumenta que o desempenho acima da média, em um determinado setor, é alcançado e sustentado por meio de uma estratégia competitiva. Fonte: SILVA FILHO et al. Sistema integrado de marketing: contribuindo para um modelo In: REAd – Edição 44 Vol. 11 No. 2, mar-abr 2005, p. 6-7 G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as co m o Po te nc ia l C om pe tit iv o 63 Stalk (1988 apud SERIO e VASCONCELLOS, 2009) chama a atenção para o fator tempo. Para ele, o tempo é a vantagem-chave. Por sua vez, Prahalad e Hamel (1995) afir- mam que a performance superior é um fenômeno derivado das características internas da organização. Criam o concei- to de competências essenciais da organização, as raízes da vantagem competitiva, capazes de gerar produtos essenciais que permitam à empresa competir em vários mercados. Para esses autores, competência é a capacidade de integrar, mistu- rar e combinar recursos em produtos e serviços, sendo a com- petitividade de uma organização determinada pela relação dinâmica entre as competências organizacionais e a estraté- gia competitiva. Competências constituem o aprendizado cole- tivo na organização, especialmente como coor- denar as diversas habilidades de produção e integrar as múltiplas correntes de tecnologia. (...) Ela também está associada à organização do trabalho e à entrega de valor (...), à comuni- cação, ao envolvimento e a um profundo com- prometimento em trabalhar através das fron- teiras organizacionais (PRAHALAD; HAMEL, 1995, p. 268). Mais recentemente, perspectivas alternativas ao enten- dimento da vantagem competitiva sustentável destacam os recursos e a dinâmica interna das organizações como deter- minantes de níveis superiores de desempenho. De acordo com Vasconcelos e Cyrino (2000, apud MASCARENHAS, 2008) há uma convergência entre os temas da área de estratégia e teoria das organizações, movimento que tem implicações abrangentes para a gestão de pessoas, pois passa a ser considerada fundamental para a compreen- 64 G es tã o Es tr at ég ic a de P es so as são e geração de níveis superiores de resultados organiza- cionais. Para Mascarenhas (2008), novos princípios passam a ser incorporados a esse debate, sendo os mais significati- vos: recursos, competências e capacidades; a visão baseada em recursos; competências e capacidades dinâmicas e apren- dizagem organizacional. 2.2 Recursos, competências e capacidades: visão baseada em recursos (RBV) e competências e capacidades dinâmicas As origens da teoria dos recursos são encontradas em ideias de autores que, entre 1960 e 1970, já discutiam as empre- sas como conjuntos únicos de recursos produtivos integrados ao longo da historia organizacional, detentoras de competên- cias peculiares a serem exploradas para a geração de vanta- gem competitiva. O desenvolvimento dessa corrente se intensifi- ca a partir