Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TBL 4 – HAB. MÉDICAS VII – IATROGENIA, POLIFARMÁCIA E DESPRESCRIÇÃO NO IDOSO CAMILA MATARAZZO ALTERAÇÕES FARMACOLÓGICAS FARMACOCINÉTICA Processos que determinam a concentração de uma droga no corpo a partir de sua entrada (dose, freqüência, absorção, distribuição, metabolização, excreção); OBS: principal componente que o envelhecimento altera. ALTERAÇÕES NAS 4 ETAPADAS DA FARMACOCINÉTICA 1. ABSORÇÃO: passagem de um fármaco de seu local de administração até a circulação sistêmica Biodisponibilidade o quanto da droga que atinge a circulação após sua administração. - Drogas injetáveis apresentam 100% de biodisponibilidade e isso não se altera com a idade. - Outras drogas que possuem outras vias de administração terão alterações. Uso oral – biodisponibilidade sujeita a alterações do trato digestório que alteram absorção: ↓ superfície absortiva, ↑ pH gástrico, ↓ fluxo sanguíneo esplâncnico e ↓ peristalse. Transdérmicos – vascularização ↓ afeta absorção OBS: na prática, as alterações de absorção possuem pouca repercussão na biodisponilidade das drogas. 2. DISTRIBUIÇÃO passagem do fármaco da circulação para os tecidos/fluidos/órgãos. É dependente de fatores como nível de proteínas séricas ligantes e proporção de água e gordura. - drogas hidrofílicas terão seu volume de distribuição reduzido e, portanto, será necessário que uma dose menor da droga - drogas lipofílicas serão o contrário, terão maior volume de distribuição e uma meia-vida aumentada, podendo se acumular causando toxicidade (ex: bzd). OBS: na prática, as alterações de distribuição possuem bastante repercussão na distribuição das drogas. 3. METABOLIZAÇÃO transformação da droga de forma inativa em ativa. Ocorre principalmente no fígado e nos rins, mas também podem ocorrer nos pulmões e intestino. · Efeito de primeira passagem = fenômeno do metabolismo da droga no qual a concentração do fármaco é significativamente reduzida pelo fígado antes de atingir a circulação sistêmica. 4. EXCREÇÃO/ Clearance eliminação dos metabólitos da droga. Dependem das funções hepáticas e renais. - clearance renal: estimado pelos cálculo do clearance de creatinina OU emprego de fórmulas (CKD-EPI, equação de Cockroft-Gault, MDRD) OBS: a equação de Cockroft-Gault tende a superestimar a função renal nos idosos. - clearance hepático: não é possível ser estimado (mas não esquecer que existe ↓fluxo sg hepático). OBS: ↓clearance → ↑MEIA-VIDA. FARMACODINÂMICA As interações que a droga faz no corpo (locais que atua, receptores, etc). ALTERAÇÕES DA FARMACODINÂMICA São menos estudadas do que as farmacocinéticas. Os efeitos das drogas dependem da interação com os receptores. Ex: receptores beta-adrenérgicos possuem uma resposta reduzida, por isso que os idosos são menos sensíveis ao efeito dos betabloqueadores ou beta-agonistas. POLIFARMÁCIA Uso de 5 ou + medicações concomitantemente. OBS: polifarmácia excessiva = uso de 10 ou + medicações. Riscos da polifarmácia: erros de prescrição; dificuldade de adesão; prescrição de medicamentos potencialmente inapropriados; reação adversa a medicamentos; interação medicamentosa. IATROGENIA Iatrogenia é a conseqüência prejudicial à saúde de um paciente de uma ação (certa ou errada, justificada ou não) praticada pelo médico ou outro membro da equipe. FATORES DE RISCO PARA IATROGENIA · Presença de multimorbidade; · Maior grau de complexidade das doenças; · Má condição clínica inicial ou doença descompensada; · Polifarmácia; · Tempo de internação (diretamente proporcional); · Desempenho funcional (inversamente proporcional). Iatrogenia está dentro dos “5 I’s” instabilidade, imobilidade, incontinência, intelecto comprometido e iatrogenia). EXEMPLOS DE AÇÕES IATROGÊNICAS · Durante procedimentos diagnósticos: IRA após uso de contraste, preparos que envolvam risco de desidratação, delirium após indução anestésica, perfuração de vísceras em exames endoscópicos. · Decorrente de intervenções terapêuticas: procedimentos invasivos ou cirúrgicos, complicações pós-operatórias, reações adversas a medicamentos (RAM) · Infecções hospitalares, úlceras por pressão, etc. REAÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS (RAM) Qualquer resposta prejudicial ou indesejável e não intencional a um medicamento, que ocorre nas doses usualmente empregadas no homem para profilaxia, diagnóstico, terapia da doença ou para modificação de funções fisiológicas. · RAM ↑ risco de óbito (>20%), de internação, de custo e pode desencadear a “cascata iatrogênica” (ex: dor tratada com opioide causando constipação que é tratada com laxante) Forma de evitar a cascata iatrogênica: verificar se qualquer sintoma do paciente não é atribuível a algum medicamento de que faça uso, sobretudo se houver contemporaneidade entre a introdução (ou ↑ dose) do medicamento e o surgimento do sintoma. Fatores de risco para RAM: polifarmácia; multimorbidade; grau de complexidade das doenças; má condição clínica no momento da admissão; tempo de internação; baixo desempenho funcional; alteração do metabolismo e excreção hepática; má adesão ao tratamento; déficit cognitivo; uso de medicações potencialmente inapropriadas. DESCPRESCRIÇÃO Processo de retirada de medicamentos inapropriados, supervisionado por um profissional de saúde, com o objetivo de administrar a polifarmácia e melhorar desfechos. A desprescrição depende da participação do paciente (ou seu responsável) no processo terapêutico e de uma boa comunicação entre médico e paciente. A preocupação com uso excessivo de medicação não se resolve apenas com a restrição, deve-se tornar disponível o tratamento não-farmacológico (fisioterapia, nutricionista, psicoterapia). Há inúmeros parâmetros para a adequação de prescrição de medicamentos: · START = contempla as omissões terapêuticas – aquilo que deveria ser tratado, mas frequentemente, não é. · STOPP = contempla as medicações de não deveriam ser usadas em idosos, estabelecendo uma balança entre o benefício e malefício do uso. · Critérios de Beers = lista de medicamentos inapropriados CLASSES FARMACOLÓGICAS PROBLEMÁTICAS · AINE’s: - risco de lesão TGI (úlceras gástricas + sangramento ou perfuração) – que piora com o uso associado de corticoide, antiagregante plaquetário e anticoagulante. - Nefrotoxicidade, principalmente se usados com diuréticos. · Anticoagulantes: riscos de sangramento. É mais comum a omissão terapêutica. · Digoxina: limiar de toxicidade fácil de ultrapassar se disfunção renal e desidratação. - Interage com outros antiarrítmicos e tem potencial anti-colinérgico. · Anti-hipertensivos: podem causar desidratação, hipotensão postural, bradicardia, edema. - Alfa-agonistas (metildopa, clonidina) agem no SNC, podendo causar sonolência e depressão. · ATB: depende da classe e requer indicação e ajuste de dose. · BZD: ação 1ª de efeito inibitório no SNC (↓ atenção e reflexos), provocando sonolência e confusão mental e alto índice de dependência. · Anticolinérgicos: risco de sonolência, confusão mental, declínio cognitivo, constipação intestinal, xerostomia, taquicardia. Portanto, as complicações iatrogênicas são, normalmente, previsíveis e preveníveis. Deve-se realizar revisão periódica da prescrição e procura de alternativas não-farmacológicas ao tratamento. Referência: Geriatria Prática Clínica, Duarte PO, Amaral JRG.2020 Editora Manole
Compartilhar