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LEI ANTICORRUPÇÃO

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LEI ANTICORRUPÇÃO: 
COMPARAÇÕES ENTRE A LEI 
BRASILEIRA E OUTROS SISTEMAS 
ANTICORRUPÇÃO
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1.
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© 2018 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida 
de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou 
qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, 
por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Presidente
Rodrigo Galindo
Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada
Paulo de Tarso Pires de Moraes
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Carolina Yaly
Danielle Leite de Lemos Oliveira
Giani Vendramel de Oliveira
Juliana Caramigo Gennarini
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo
Coordenador
Tayra Carolina Nascimento Aleixo
Revisor
Roberson Augusto Marcomini
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Daniella Fernandes Haruze Manta
Flávia Mello Magrini
Hâmila Samai Franco dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Dias, Renato Traldi
D541 Lei anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e 
 outros sistemas anticorrupção/ Renato Traldi Dias – 
 Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2018.
 151 p.
 ISBN 978-85-522-1325-3 
1. Administração pública. 2. Corrupção. 
I. Dias, Renato Traldi. II. Título.
 CDD 300
Responsável pela ficha catalográfica: Thamiris Mantovani CRB-8/9491
2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 3
SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 04
Tema 01 – O Foreign Corrupt Practices Act, de 1977, dos Estados Unidos 
 da América 05
Tema 02 – Convenção Interamericana contra a corrupção, de 1996, 
 da organização dos estados americanos 25
Tema 03 – Convenção sobre o combate da corrupção de funcionários 
 públicos estrangeiros em transações comerciais internacionais, 
 de 1997, da OCDE 48
Tema 04 – A Lei brasileira antilavagem de dinheiro e dispositivos do 
 código penal contra a corrupção 68
Tema 05 – Convenções civil e penal sobre a corrupção, de 1999, 
 do conselho da europa 91
Tema 06 – Convenção das Nações Unidas contra a corrupção 112
Tema 07 – Bribery Act 2010 do Reino Unido 135
Tema 08 – Lei n 12.846/13, a lei anticorrupção brasileira 153
LEI ANTICORRUPÇÃO: COMPARAÇÕES ENTRE A LEI 
BRASILEIRA E OUTROS SISTEMAS ANTICORRUPÇÃO 
4 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
Apresentação da disciplina
Nesta disciplina, você aprenderá sobre a Lei n. 12.846/13, que é comu-
mente chamada de Lei Anticorrupção, bem como sobre outros sistemas 
anticorrupção do Brasil e do mundo, que serão vistos para que, ao final, 
possa haver comparação entre a eficácia deles no combate às mais diver-
sas formas de corrupção existentes.
A corrupção é um problema amplo, de escopo frequentemente interna-
cional. Vem sendo tratado há décadas como algo único e merecedor de 
atenção especial; além de ser algo complexo, cujo fim não se vislumbra. 
É uma questão importante que afeta todos os aspectos da vida moderna, 
organizada por governos nacionais, cujos funcionários encontram-se em 
posições privilegiadas que podem facilmente conferir benefícios indevi-
dos tanto a eles, como a outros que queiram oferecer recompensa pecu-
niária ou itens de valor para agir em favor de seus interesses privados.
Ao longo da disciplina serão estudados: o Foreign Corrupt Practices Act, dos 
Estados Unidos da América (EUA); a convenção Interamericana contra a 
Corrupção, da Organização dos Estados Americanos (OEA); a convenção 
sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em 
Transações Comerciais Internacionais da Organização para a Cooperação 
e Desenvolvimento Econômico (OCDE); a lei brasileira antilavagem de di-
nheiro e os dispositivos do Código Penal sobre corrupção; a convenção 
Penal e a convenção Civil sobre a Corrupção do Conselho da Europa; a 
convenção das Nações Unidas contra a Corrupção; o Bribery Act, do Reino 
Unido; e a Lei brasileira n. 12.846/13. 
Muitos dos dispositivos estrangeiros e internacionais listados serviram de 
inspiração para a referida norma brasileira anticorrupção e todos ainda 
estão em vigência. Ademais, muitos podem afetar cidadãos brasileiros, 
portanto, seu estudo em separado já tem grande valor.
As aulas referentes a cada um dos instrumentos foram organizadas em 
ordem cronológica, com a última abordando a Lei Anticorrupção brasilei-
ra, para que, após ser adquirido conhecimento de como funcionam os de-
mais sistemas, a comparação objeto desta disciplina possa ser realizada 
de modo adequado.
5 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
TEMA 01
O FOREIGN CORRUPT PRACTICES ACT, 
DE 1977, DOS ESTADOS UNIDOS DA 
AMÉRICA
Objetivos
• Compreender em que contexto histórico foi produzi-
do o Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), dos Estados 
Unidos, e quais motivações levaram esse país a se 
preocupar com a corrupção que ocorre além de suas 
fronteiras.
• Tomar conhecimento das exigências que o FCPA faz 
para emissores de valores mobiliários e das proibi-
ções que impõe em termos de suborno de indivíduos 
e entidades estrangeiras.
• Analisar as penalidades impostas para cada violação 
das disposições do FCPA, quer se trate de violação por 
empresas ou pessoas físicas, nacionais dos EUA ou 
estrangeiras.
6 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
Introdução
Nesta aula, você se familiarizará com o conteúdo do chamado Foreign Corrupt 
Practices Act (FCPA), de 1977, dos Estados Unidos da América (EUA), que se 
constituiu como uma das primeiras grandes normas internacionais de com-
bate à corrupção, apesar de se tratar de uma norma interna desse país, pois 
traz disposições que afetam tanto nacionais como estrangeiros e, inclusive, 
considera como violação à lei norte-americana atos corruptos que ocorrem 
fora das fronteiras dos EUA e afetam diretamente governos estrangeiros.
Inicialmente, será estudado o contexto histórico em que o FCPA foi ela-
borado, com olhar especial para dois casos específicos: o escândalo de 
Watergate, envolvendo o então presidente norte-americano Richard Nixon; 
e o escândalo da empresa Lockheed, que envolveu práticas de corrupção 
em diversos países. Esses eventos fizeram com que os EUA reconheces-
sem a necessidade de criar uma legislação sobre corrupção que incluísse 
tratamento sobre problemas que se estendiam para além de suas fron-
teiras nacionais.
Feito isso, o conteúdo do FCPA será analisado para se descobrir as peculia-
ridades que traz acerca de exigências feitas para emissores de valores mo-
biliários, que servem fins de transparência, de proibição e punição de atos 
que são considerados como corruptos por envolverem o suborno de atores 
estrangeiros e utilizarem de meios ou organismos governamentais dos EUA.
1. Contexto histórico
No ano de 1974, o então presidente norte-americano Richard Nixon re-
nunciou de seu cargo eletivo sob alegações de corrupção no chamado 
escândalo de Watergate, em que cinco homens, agindo segundo ordens 
de Nixon, invadiram a sede do Comitê Nacional Democrata para obter 
informações que seriam úteis para ele em sua campanha de reeleição.
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 7
PARA SABER MAIS
É interessante lembrar que o ex-presidente Richard Nixon se-
quer foi condenado criminalmente por suas ações, já que, logo 
em seguida à sua renúncia, o seu sucessor, Gerald Ford, con-
cedeu um altamentecontroverso perdão presidencial que se 
estendeu a todos os crimes que Nixon cometeu durante seu 
mandato como presidente dos Estados Unidos da América.
Sendo assim, a ocorrência de corrupção de altos níveis no governo nor-
te-americano não poderia estar mais evidente para a população e o tema 
do combate a estas práticas, naturalmente, começou a ser discutido mais 
vigorosamente.
Nesse contexto, passou-se a analisar a ética e legalidade em vários aspec-
tos da sociedade e, dessa forma, “constatou-se a prática comum de atos 
de corrupção no exterior dos Estados Unidos, em transações comerciais 
promovidas por empresas americanas, as quais se aproveitavam de lacu-
na legislativa que não a proibia” (VICENTE; ROSSI, 2015, p. 43).
Um desses atos envolveu a empresa norte-americana Lockheed. Em 1976, 
descobriu-se que esta fabricante de aviões corrompeu, ao longo de duas 
décadas, diversos dirigentes estrangeiros com a finalidade de facilitar a 
venda de seus produtos para os respectivos governos estrangeiros des-
ses dirigentes. Foram várias as ocorrências apuradas, como bem lembra 
Pestana (2016):
Na Alemanha ocidental foi denunciado que o Ministro de Defesa, Franz Josef 
Strauss, e o partido a que pertencia teriam recebido cerca de US$ 10 milhões 
para facilitar a aquisição de 900 aeronaves F-104G Starfighters, no ano de 
1961, denúncia essa que, ao que consta, não foi documentalmente provada.
Na Itália, entretanto, as provas demonstraram que o escândalo envolveu 
políticos do Partido Democrata Cristão no intuito de facilitar a aquisição, 
pela Força Aérea Italiana, de aviões C-130 Hércules.
8 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
Da mesma forma, a empresa corrompeu diversas autoridades japone-
sas, como o que se passou em 1957 com as vendas de aeronaves F-104 
Starfighters à Força Aérea Japonesa, quando a preferência dos técnicos locais 
recaía sobre o Grumman F-11 Super Tiger. Mais tarde, utilizando-se do mes-
mo expediente, a empresa vendeu para a All Nippon Airways (ANA) os L-1011 
Tristar, sobrepujando, com tal expediente subalterno, a aquisição dos DC-
10, produzidos pela concorrente McDonnel Douglas. (PESTANA, 2016, p.5)
Destarte, percebeu-se claramente que o fenômeno da corrupção não 
poderia ser adequadamente tratado sem normas que se estendessem 
para além das fronteiras nacionais; contudo, ainda não havia mobiliza-
ção internacional suficiente para forjar e assinar tratados multilaterais 
anticorrupção.
Vale ressaltar a qualidade da iniciativa norte-americana à época, pois, ao 
estudar o tema, os legisladores demonstraram sabedoria ao afirmar que, 
embora várias de suas empresas nacionais - mais de quatrocentas, se-
gundo admissões das próprias empresas à época (EUA, 1977b) – estives-
sem se beneficiando da ausência de normas anticorrupção para adquirir 
vantagens no exterior. A prática é antiética e, a longo termo, também pre-
judicial para o sistema do livre mercado e para os negócios norte-ameri-
canos de modo geral:
O uso de suborno para influenciar atos ou decisões de dirigentes estran-
geiros, partidos políticos estrangeiros ou candidatos à cargos políticos es-
trangeiros é antiético. Ele é contrário às expectativas morais e os valores 
do público americano. Mas não é somente antiético, é também um mal 
negócio. Corrói a confiança do público na integridade do sistema de li-
vre mercado. Causa um curto-circuito no mercado ao direcionar negócios 
para empresas ineficientes, incapazes de competir em termos de preços, 
qualidade ou serviço, ou preguiçosas demais para se envolverem na arte 
de vendas honestas, ou com intenção de descarregar produtos meramen-
te marginais. Em suma, recompensa a corrupção ao invés da eficiência e 
impõe pressão em empresas éticas para reduzirem seus padrões e arris-
carem perder seus negócios.
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 9
O suborno de dirigentes estrangeiros por algumas empresas americanas, 
gera suspeita sobre todas as empresas dos EUA. A exposição de tal ativi-
dade pode danificar a imagem de umas empresas, levar a ações judiciais 
custosas, causar o cancelamento de contratos, e resultar em apropriação 
de ativos valiosos no exterior (Ibidem)1.
Além disso, tem o custo em termos de relações internacionais entre os 
Estados Unidos e outros países que ignorar essas práticas de corrupção 
gerariam. Assim, com base nessas justificativas, editou-se, em 1977, o 
Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), nos EUA, revelando-se como uma das 
primeiras grandes legislações de âmbito internacional no mundo, apesar 
de se tratar de norma interna desse país, como se verá mais adiante.
LINK
Se você tiver curiosidade, pode conferir também o históri-
co legislativo do Foreign Corrupt Practices Act, disponível no 
site do Departamento de Justiça dos EUA, que lista todas as 
alterações que ocorreram ao longo dos anos na norma e, 
inclusive, todos os debates realizados em Congresso sobre 
suas cláusulas. Para mais informações: ESTADOS UNIDOS DA 
AMÉRICA. Departamento de Justiça dos EUA. Legislative his-
tory. Washington, 2018. Disponível em: <https://www.justice. 
gov/criminal-fraud/legislative-history>. Acesso em: 12 fev. 2019.
1 Traduzido do original: “The payment of bribes to influence the acts or decisions of foreign officials, foreign political parties 
or candidates for foreign political office is unethical. It is counter to the moral expectations and values of the American 
public. But not only is it unethical, it is bad business as well. It erodes public confidence in the integrity of the free market 
system. It short-circuits the marketplace by directing business to those companies too inefficient to compete in terms of 
price, quality or service, or too lazy to engage in honest salesmanship, or too intent upon unloading marginal products. 
In short, it rewards corruption instead of efficiency and puts pressure on ethical enterprises to lower their standards or 
risk losing business. Bribery of foreign officials by some American companies casts a shadow on all U.S. companies. The 
exposure of such activity can damage a company’s image, lead to costly lawsuits, cause the cancellation of contracts, and 
result in the appropriation of valuable assets overseas”.
10 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
2. Conteúdo do Foreign Corrupt Practices ACT
2.1. Exigência de relatórios e registros
Incorporado ao Código Federal dos EUA (United States Code), o FCPA inicia-
-se com a seção 78m, onde estabelece regras que exigem a apresentação 
de relatórios periódicos e a criação e manutenção de livros contábeis e 
outras formas de registro, com o intuito de gerar maior transparência nas 
transações em bolsas de valores norte-americanas.
Na subseção (a) se determina que esta exigência se estende a todos os 
emissores de valores mobiliários, registrados em bolsas de valores nacio-
nais dos EUA, e que as informações e relatórios de que se trata devem ser 
apresentados à Comissão de Valores Mobiliários (Securities and Exchange 
Commission - SEC).
Vale adiantar que não há distinção entre emissores registrados nacionais 
ou internacionais, pois as determinações do FCPA podem ser invocadas 
até contra empresas estrangeiras, como se verificou no exemplo da bra-
sileira Embraer, que, em 2016, anunciou que realizou acordo para pagar 
mais de duzentos e cinco milhões de dólares por violações das normas 
anticorrupção do FCPA (MENDELSOHN; OH, 2016).
Segundo os parágrafos (1) e (2) desta subseção, a Comissão de Valores 
Mobiliários poderá exigir quaisquer informações e documentos que jul-
gue serem necessários para seu trabalho e, inclusive, pode demandar que 
os emissores apresentem relatórios anuais ou até trimestrais, certificados 
ou não por contadores públicos independentes, conforme a preferência 
da comissão. Ademais, nessas situações, o emissor também deve subme-
ter duplicata de qualquer desses documentos enviadosà comissão para 
as bolsas de valores onde estão registrados.
Entretanto, as exigências de manutenção de registros das transações 
que ocorrem nas bolsas de valores não terminam aí, pois a subseção se-
guinte, (b), determina que é necessário também preparar e manter livros 
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 11
contábeis, registros e contas que reflitam adequadamente aquelas tran-
sações; além de criar e manter um sistema interno de controles contábeis, 
cuja forma exata não é especificada, mas que deve ser suficiente para que 
se garanta apropriado acesso a informações pertinentes e a legalidade 
das transações.
São vários os tipos de transações que se tenta ocultar ou caracterizar de 
forma enganosa em registros. Alguns exemplos são: pagamentos signi-
ficativos para dirigentes estrangeiros de médio e alto nível; pagamentos 
facilitadores para dirigentes de baixo nível; subornos ou propinas; contri-
buições políticas; doações; atividades de contrabando; violações de im-
posto de renda; violações aduaneiras ou cambiais; e presentes luxuosos 
(TARUN; TOMCZAK, 2018). Há, ainda, várias formas de se caracterizar es-
sas transações de forma enganosa em livros contábeis, como: comissões 
sobre royalties; honorários de consultoria; despesas de vendas e marke-
ting; incentivos à pesquisa científica ou estudos; despesas com viagens e 
entretenimento; descontos eventuais; taxas de serviço cobradas em pós-
venda; múltiplos saques de pequeno valor; bens; contas divididas entre 
empresas; ou pagamentos alfandegários (Ibidem). Até essa parte é louvá-
vel o texto do FCPA, mas, em seguida, abrem-se consideráveis exceções 
para as determinações mencionadas que reduzem sua utilidade no com-
bate à corrupção.
Primeiro, abre-se, no subparágrafo (A) do parágrafo (3), ampla e relativa-
mente vaga exceção quanto à exigência de manutenção de registros para 
casos relativos à segurança nacional dos Estados Unidos, decorrentes não 
só de uma ou outra agência, departamento ou órgão do país, mas de 
qualquer ente federal que trate de tais questões.
Ainda, conforme o disposto no subparágrafo (B), não é sequer necessário 
que o referido ente federal mantenha os registros por conta própria, mas 
meramente que mantenha arquivos das diretivas a que o agente mencio-
nado em (A) atendeu. Isso significa dizer que um chefe de departamen-
to federal dos EUA pode justificar a inexistência de livros contábeis em 
12 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
alguma empresa registrada em bolsas de valores nacionais daquele país 
pelo mero argumento de interesse da segurança nacional, já que o único 
registro necessário, nesse caso, é o de que a ordem para ocultar os deta-
lhes das transações foi dada.
Em seguida, os parágrafos (4) e (5) estabelecem que não pode haver res-
ponsabilização criminal de quem falhar no cumprimento da exigência de 
manter livros contábeis e outros registros de transações de valores mo-
biliários, exceto se for comprovada a intenção de se burlar a exigência ou 
falsificar as informações descritas. Entretanto, é o parágrafo seguinte, (6), 
que mais reduz a eficiência da referida norma, pois nele afirma-se que 
será tratada como cumprida a exigência de manutenção de um sistema 
de controle interno contábil para casos em que o emissor tenha cinquen-
ta por cento, ou menos, do poder de voto na empresa nacional ou estran-
geira, bastando que tenha utilizado razoavelmente de sua influência para 
tentar convencer a empresa a criar o sistema exigido. Portanto, a não ser 
que um único emissor tenha controle majoritário, meras intenções de se 
cumprir a exigência legal equivalem ao cumprimento efetivo dela.
Por um lado, compreende-se que a falta de controle majoritário impos-
sibilita a coerção pelo emissor da conduta da empresa e que, portanto, 
não seria razoável penalizá-lo pela falta desta. Por outro, contudo, o texto 
do FCPA parece inadequado ao não dar tratamento especial para esses 
casos relativamente comuns em que nenhum emissor, sozinho, possui 
controle majoritário de uma empresa.
2.2. Proibições
As proibições previstas no FCPA são extremamente amplas. Isso é ade-
quado, pois práticas corruptas podem ser realizadas de diversas formas 
e, como tendem a envolver dirigentes governamentais, empresas e indi-
víduos de elevados recursos, a existência de definições restritas facilitaria 
o contorno a elas para que certas atividades não pudessem ser tecnica-
mente caracterizadas como sendo corruptas, apesar de o serem em ter-
mos éticos.
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 13
Nas seções 78dd-1, 78dd-2 e 78dd-3, a legislação dá tratamentos simila-
res para emissores registrados nos EUA, empreendimentos nacionais dos 
EUA e outras pessoas físicas ou jurídicas, bem como outros que agem em 
nome desses atores, como se verá mais adiante; todos em situações em 
que agem no exterior.
Estranhamente, a subseção (h), da seção 78dd-2, define como empreendi-
mento nacional não só as sociedades anônimas, sociedades, associações, 
empresas de capital comum, trustes comerciais, organizações não cons-
tituídas comercialmente ou empresas de um só proprietário que tenham 
sua sede nos EUA, ou que tenham sido organizadas segundo as leis de um 
estado dos EUA, ou de um território ou membro da comunidade dos EUA; 
mas também, conforme o subparágrafo (A) do parágrafo (1), “qualquer 
indivíduo que é cidadão, nativo ou residente dos Estados Unidos”.
Posto isso, o FCPA proíbe a todos esses atores e qualquer dirigente, diretor, 
funcionário ou agente deles, ou acionista que aja em nome deles, utilizan-
do-se corruptamente de meios ou organismos governamentais de comér-
cio interestadual dos EUA “promover uma oferta, pagamento, promessa de 
pagamento ou autorização de pagamento de qualquer soma em dinhei-
ro, ou oferta, doação” ou promessa ou autorização de doação de qualquer 
item de valor para influenciar ou obter vantagens indevidas de dirigentes, 
partidos políticos ou candidatos a partidos políticos estrangeiros.
EXEMPLIFICANDO
Algumas das vantagens que se pode tentar obter por meio 
de corrupção, que serviriam para obter ou manter negócios, 
são: obtenção de um contrato com um governo estrangeiro; 
ganho de influência em processos de aquisição de bens; a 
circunvenção de regras para a importação de produtos; aces-
so a informações não disponíveis para o público, em proces-
sos licitatórios; evasão de impostos ou multas; ganho de in-
fluência em ações judiciais ou atos de fiscalização; obtenção 
de exceções para regulamentos; e o benefício de se evitar a 
rescisão de um contrato (EUA, 2012).
14 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
Essa proibição é estendida para o uso de pessoas intermediárias, que 
agem sabendo que toda ou parte do dinheiro, ou item de valor, será di-
reta ou indiretamente utilizado para aqueles fins. Curiosamente, o FCPA 
considera como ciente não só aquele que sabe, de fato, o que está ocor-
rendo, mas também a pessoa que acredita que haja uma alta probabili-
dade de que as suas ações estejam sendo utilizadas para fins corruptos.
É necessário explicar que comércio interestadual (EUA, 1977a), segundo 
a definição da norma norte-americana, inclui não só o “intercâmbio, co-
mércio, transporte ou comunicação entre vários Estados ou entre um país 
estrangeiro e qualquer Estado” (Ibidem), mas também a realização dessas 
atividades em âmbito intraestadual; ou seja, dentro dos próprios estados 
federativos, sem que seja necessária a passagem de um estado para outro.
Para essas proibições, constam defesas preestabelecidas no próprio tex-
to do FCPA, nas subseções (c) das seções 78dd-1, 78dd-2 e 78dd-3. Assim, 
não se consideram ofendidas as proibições mencionadas se, à título de 
defesa afirmativa, alegar-se que:
(1) o pagamento, doação, oferta ou promessa feitos de qualquer item de 
valor era considerado lícitoà luz da legislação codificada e dos regulamen-
tos do país do dirigente governamental, partido político ou candidato de 
partido político; ou
(2) o pagamento, doação, oferta ou promessa de qualquer item de valor 
feito era considerado despesas razoáveis e legítimas – por exemplo, des-
pesas de viagem e acomodação – incorridas pelo dirigente governamental, 
partido político, dirigente ou candidato de partido político estrangeiro ou 
em nome destes, despesas essas diretamente relacionadas à --
(A) promoção, demonstração ou explicação de produtos ou serviços; ou
(B) execução ou cumprimento de um contrato com um governo estrangeiro 
ou órgão do mesmo. (Ibidem)
As exceções do parágrafo (2) e seus subparágrafos são compreensíveis, 
mas a do parágrafo (1) considera-se, no mínimo, como mal considerada. 
Embora a ideia de que não se deve considerar como corrupta a conduta, 
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 15
que é considerada como lícita em outro país seja razoável, esta dispo-
sição do FCPA, essencialmente, reduz a eficiência de seus dispositivos 
anticorrupção ao menor nível entre os EUA e os países estrangeiros en-
volvidos em algum caso particular. Destarte, a norma norte-americana, 
surpreendentemente, determinou que o governo dos EUA ignorará ações 
que ordinariamente consideraria como corruptas, até as realizadas por 
seus nacionais, se só tiverem efeito direto além de suas fronteiras e lá fo-
rem consideradas como lícitas. Quanto a isso, vale notar que o Congresso 
americano já, há muitos anos, determinou que para que essa defesa seja 
considerada, não basta a ausência de leis que definam a prática como 
corrupta no país estrangeiro; é necessário que o arcabouço legal daquele 
país deixe claro que a prática é lícita (EUA, 1988).
No entanto, de forma inversa, nas subseções que tratam de jurisdição al-
ternativa das três seções mencionadas do FCPA, determinou-se que qual-
quer ato considerado como corrupto fora dos EUA praticado por emis-
sores registrados, empreendimentos nacionais ou outras pessoas, será 
considerado como ilícito nesse país. Portanto, a norma norte-americana 
segue as normas estrangeiras, tanto para mais como para menos na con-
sideração sobre o que constitui um ato corrupto praticado no exterior por 
aqueles atores vinculados aos EUA.
Por fim, antes de se adentrar na análise das penalidades impostas pelo 
FCPA, há que se mencionar uma diferença entre o tratamento de emis-
sores registrados e aquele referente aos empreendimentos nacionais e 
outras pessoas.
Segundo o disposto no parágrafo 78dd-2(d)(1) e no 78dd-3(d)(1), um 
Procurador Geral que verifique envolvimento de um empreendimento 
nacional ou outra pessoa que não seja emissora registrada em prática 
corrupta (ou um dirigente, diretor, funcionário, agente ou acionista des-
ses), pode impetrar uma ação cível em vara federal para suprimi-la, que 
pode, inclusive, vir munida de liminar ou mandado de segurança, se hou-
ver prova adequada.
16 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
Ademais, a ação pode ser impetrada até contra prática que ainda não se 
materializou, mas que se considera a ponto de ocorrer, que é algo inte-
ressante como medida anticorrupção, já que previne problemas futuros, 
possivelmente difíceis de se reverter dada a complexidade que práticas 
de corrupção transfronteiriças tendem a ter. Vale notar também que esta 
ação contra ilícito não ocorrido não deve gerar preocupação em termos 
de injustiça, pois o texto da norma dá entendimento de que a ação men-
cionada tem o propósito único de impedir a materialização do ato corrup-
to e não de punir os atores envolvidos. Dessa forma, não parece haver ris-
co de punição injusta por corrupção futura possível, não realizada de fato.
PARA SABER MAIS
Importante ressaltar sobre uma diferença entre a legislação 
brasileira e a americana, pois a questão de prevenção de cri-
mes futuros é mais forte nos EUA, porém inadequada aos 
olhos do Direito brasileiro. Nesse país, é mais comum que 
se considere como crime o mero planejamento de certas ati-
vidades criminosas, enquanto, no Brasil, isso não ocorre, já 
que se presume que é sempre possível que, mesmo tendo 
planejado um crime, a pessoa ou grupo de pessoas desista 
antes de realizar de fato a atividade criminosa. Fazer ameaça, 
no entanto, ainda é crime, já que é algo material, ocorrido. 
Relacionado a isso, há outra diferença no sentido de que, nos 
EUA, a premeditação de um crime é considerada como um 
agravante de pena, enquanto que, no Brasil, não interessa 
se o crime foi planejado ou se foi resultado de uma decisão 
espontânea do criminoso.
2.3. Consequências
O Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) traz consequências nas esferas crimi-
nal e civil para atores que violam suas determinações e outras legislações 
norte-americanas, como o Alternative Fines Act (AFA), que possibilitam a 
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 17
imposição de penas ainda mais graves, ou até permitem que hajam con-
sequências colaterais não estritamente pecuniárias para aqueles atores.
Primeiramente, há que se ressaltar que, se ocorrer violação dos termos 
do FCPA por uma pessoa física, em nenhum caso é permitido que a mul-
ta imposta a ela seja paga pela empresa ou indivíduo em nome de quem 
agiu, conforme os parágrafos 78dd-2 (g)(3), 78dd-3 (e)(3) e 78ff (c)(3).
Sendo assim, no âmbito criminal, cujas penalidades são impostas pelo 
Departamento de Justiça dos EUA, o FCPA estabelece, para as violações 
relativas a suborno de dirigentes, partidos políticos ou candidatos polí-
ticos estrangeiros: multa máxima de US$2.000.000,00 por violação, para 
empresas; e multa máxima de US$250.000,00 por violação, para pessoas 
físicas, junto a uma pena máxima de cinco anos de prisão.
Ainda em termos criminais, mas agora por violações relativas à manu-
tenção de livros contábeis e outros registros, bem como à prestação de 
informações requisitadas pela Comissão de Valores Mobiliários, os limites 
são de: multa máxima de US$25.000.000,00 por violação, para empresas; 
e multa máxima de US$5.000.000,00 por violação, para pessoas físicas, 
junto a uma pena máxima de vinte anos de prisão.
São as violações contábeis, portanto, consideradas como muito mais gra-
ves pelo governo norte-americano. Isso é compreensível, pois têm maior 
relação com o aspecto interno desse país (ao contrário da corrupção de 
governos estrangeiros) e, sendo violações relativas a registros de tran-
sações que, eventualmente, poderiam constituir provas e evidências de 
corrupção, são naturalmente mais problemáticas aos olhos dos EUA.
Os valores podem ser considerados como adequados em casos em que 
somam múltiplas violações, mas em circunstâncias como a de uma úni-
ca violação que tenha resultado no ganho de elevados valores indevi-
dos para uma empresa, multas máximas de US$2.000.000,00 ou até de 
US$25.000.000,00 parecem insignificantes frente aos lucros anuais de 
bilhões de dólares de grandes corporações multinacionais. Portanto, 
18 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
adequada foi a determinação do Alternative Fines Act (AFA), que estabe-
leceu que essas penas podem ser ainda mais elevadas, totalizando um 
máximo de duas vezes o valor do que foi obtido por meio do ato corrupto.
Já na esfera civil, as penalidades relativas a subornos no exterior podem ser 
impostas, pelo Departamento de Justiça, contra empreendimentos nacio-
nais e outras pessoas; e as penalidades contra emissores registrados nas 
bolsas de valores norte-americanas, seja por violações relativas a subor-
no ou contabilidade, são impostas pela Comissão de Valores Mobiliários.
ASSIMILE
Vale recordar que o termo empreendimentos nacionais, no 
contexto do Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) inclui também a 
certas pessoas físicas nacionais dos EUA, e que outras pesso-
as se refere a atores dequalquer país do mundo que não são 
classificados como emissores registrados nas bolsas de valores 
norte-americanas e nem como empreendimentos nacionais.
Diferentemente da esfera criminal, há dois limites alternativos para as 
penalidades cíveis. O valor máximo das penalidades cíveis será o maior 
entre a somatória dos ganhos pecuniários resultantes das violações e os 
valores máximos predeterminados em lei.
Para violações relativas a suborno, estranhamente, os valores máximos 
são idênticos para empresas e pessoas físicas, de US$16.000,00 por vio-
lação. Já para as violações de cunho contábil, a penalidade máxima para 
empresas é de US$725.000,00 por violação; e para pessoas físicas é de 
US$150.000,00.
Finalmente, há outras consequências que podem decorrer da viola-
ção das disposições do FCPA, mas que não estão previstas em seu con-
texto, como a suspensão de contratos ou a proibição de realização de 
negócios futuros de qualquer espécie com o governo federal dos EUA; 
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 19
a suspensão ou revogação de privilégios de exportação relativos a esse país; 
ou até o bloqueio de acesso a Bancos Multilaterais de Desenvolvimento 
(Multilateral Development Banks - MDBs), como o Banco Mundial e o Banco 
Interamericano de Desenvolvimento, por recomendação (munida de pro-
vas ou evidências de corrupção) do Departamento de Justiça e da Comissão 
de Valores Mobiliários (EUA, 2012).
Considerando-se o que foi estudado, reflita sobre a eficácia do Foreign 
Corrupt Practices Act como dispositivo anticorrupção. As penalidades 
previstas são suficientes? É adequado que uma lei dos EUA atinja es-
trangeiros? Há algo que deve ser atualizada neste dispositivo origina-
do em 1977?
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
3. Considerações Finais
• O Foreign Corrupt Practices Act se aplica a um elevado número de pesso-
as, físicas e jurídicas, incluindo alguns que não são nacionais dos EUA.
• O FCPA inclui dispositivos relativos a temas contábeis, relativos a 
bolsas de valores, e de suborno; e, embora tenha tratamento mais 
extenso para o tema de suborno, parece considerar como mais 
importante o outro.
• Embora o FCPA estabeleça multas máximas, é possível, em âmbito 
criminal, que se ultrapasse esses valores, pelas determinações do 
Alternative Fines Act (AFA).
• Segundo as determinações do FCPA, os EUA aumentam ou reduzem 
sua consideração sobre o que é lícito, até certo ponto, confor-
me a legislação dos países estrangeiros envolvidos na prática de 
corrupção.
20 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
Glossário
• Valor mobiliário: é um título financeiro, cujo conceito exato varia 
de país para país, mas a legislação brasileira, na Lei n. 6.385/76, dá 
vários exemplos que nos permite compreender do que se trata. 
Assim, são considerados como valores mobiliários: ações; debên-
tures; notas comerciais; contratos futuros, de opções e outros de-
rivativos, cujos ativos subjacentes sejam valores mobiliários; con-
tratos derivativos, independentemente dos ativos subjacentes etc.
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 01
1. Para que uma pessoa que intermedia uma prática de ato 
de corrupção seja considerada como violadora das dispo-
sições do FCPA, não é necessário que tenha certeza desse 
fato PORQUE basta que ela tenha uma mínima suspeita 
de que suas ações estejam contribuindo para a prática de 
corrupção.
Analisando as afirmações acima, conclui-se que: 
a) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda justi-
fica a primeira.
b) As duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda 
não justifica a primeira.
c) A primeira afirmação é verdadeira, mas a segunda é 
falsa.
d) A primeira afirmação é falsa, mas a segunda é 
verdadeira.
e) As duas afirmações são falsas.
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 21
2. Da violação das disposições do Foreign Corrupt Practices Act 
(FCPA) podem decorrer consequências de caráter criminal, 
civil e colateral. Em termos de consequências da esfera cri-
minal, pode(m) ser imposta(s) ; na esfera civil, pode(m) 
ser imposta(s) ; e em termos de consequências colate-
rais, um dos exemplos do que pode ocorrer é o(a) .
Selecione a alternativa que preenche corretamente as 
lacunas:
a) Pena de multa; pena de prisão; proibição de negociar 
com o governo federal dos EUA.
b) Penas de multa e prisão; penas de multa e prisão; sus-
pensão de contratos.
c) Pena de prisão; penas de multa e prisão; bloqueio de 
acesso à Organização das Nações Unidas.
d) Penas de multa e prisão; multa; revogação de privilé-
gios de exportação.
e) Pena de prisão; multa; bloqueio de acesso a Bancos 
Multilaterais de Desenvolvimento.
3. A respeito das disposições do Foreign Corrupt Practices Act 
(FCPA), sobre a exigência de relatórios e registros, é cor-
reto afirmar que:
a) O emissor de valores mobiliários, ao qual se aplica o 
FCPA e que controla até 50% do poder de voto em em-
presa, deve convencer esta a criar sistema de controle 
interno de transações em bolsas de valores, sob pena 
de não se considerar como cumpridas as determina-
ções do FCPA.
b) Há exceção quanto à exigência de produção de rela-
tórios e registros contábeis para casos relativos à se-
gurança nacional dos EUA. Nesses casos, basta que se 
mantenha um arquivo das diretivas relativas à questão 
de segurança nacional que obstaram a manutenção do 
registro de transações.
22 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
c) O não cumprimento das exigências de relatórios e re-
gistros não gera responsabilidade criminal para os 
emissores de valores mobiliários, aos quais se aplica o 
FCPA.
d) O não cumprimento das exigências de relatórios e re-
gistros não gera responsabilidade civil para os emisso-
res de valores mobiliários, aos quais se aplica o FCPA.
e) A criação e manutenção de registros contábeis e a 
apresentação de relatórios à Comissão de Valores 
Mobiliários dos EUA são práticas voluntárias, não obri-
gatórias; porém, são fortemente incentivados. Já a exis-
tência de registros, é útil para a comprovação da ino-
cência dos emissores de valores mobiliários sobre os 
quais paira suspeita de irregularidade.
Referências Bibliográficas
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2013). São Paulo: Saraiva, 2015.
Gabarito – Tema 01
Questão 1 – Resposta: C
De fato, não é necessário que a pessoa intermediária tenha certeza 
de que esteja contribuindo para corrupção para que seja considera-
da como violadora das disposições do FCPA, contudo, para que assim 
seja, precisa acreditar que haja alta probabilidade de que suas ações 
estejam contribuindo para práticas corruptas; ou seja, não basta uma 
mínima suspeita, é necessário um grau maior, uma quase certeza.
24 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
Questão 2 – Resposta: D
A primeira alternativa está incorreta, pois não menciona as penas de 
prisão para a esfera criminal e o faz para a esfera civil, que não tem 
essas penas no contexto do FCPA. Já a segunda alternativa, está incor-
reta só por incluir penas de prisão nas consequências da esfera civil. 
A terceira alternativa, por sua vez, está incorreta, pois não menciona a 
aplicação de multas na esfera criminal, inclui a pena de prisão na es-
fera civil e afirma que o bloqueio de acesso à ONU pode ser uma das 
consequências colaterais por violação do FCPA – o que seria absurdo, 
pois o bloqueio de acesso à ONU a qualquer pessoa ou empresa seria 
uma consequência muito drástica. Por fim, a última alternativa está 
incorreta, simplesmente por não mencionar a imposição de pena de 
multa como uma das consequências da esfera criminal.
Questão 3 – Resposta: B
A primeira alternativa está incorreta, pois não é necessário que o 
emissor mencionado consiga convencer a empresa, basta que de-
monstre que tentou usar da sua influência para fazê-lo. A terceira 
alternativa está incorreta, pois há casos em que o não cumprimento 
dessas exigências gera responsabilidade criminal, que são os casos 
em que o emissor não cumpriu as exigências de forma intencional. 
A quarta alternativa está incorreta, pois o não cumprimento das exi-
gências mencionadas, gera responsabilidade civil. Por fim, a última 
alternativa está incorreta, pois as práticas mencionadas são obriga-
tórias para os emissores de valores mobiliários aos quais se aplica o 
FCPA, não voluntárias.
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 25
TEMA 02
CONVENÇÃO INTERAMERICANA 
CONTRA A CORRUPÇÃO, DE 1996, 
DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS 
AMERICANOS
Objetivos
• Tomar conhecimento da história do desenvolvimento 
da Convenção Interamericana contra a Corrupção e de 
sua eventual ratificação, em alguns casos, reservada 
pelos países integrantes da Organização dos Estados 
Americanos (OEA).
• Compreender as motivações que inspiraram a criação 
da convenção, contidas no seu preâmbulo.
• Analisar o conteúdo normativo da convenção, a fim 
de determinar: quais são as medidas contidas; quais 
delas os países ratificantes se comprometeram, de 
fato, a cumprir; qual é o estado da adoção dessas, de 
modo geral, no Brasil.
26 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
Introdução
Você estudará outro dos vários sistemas anticorrupção existentes no 
mundo, baseado nos dispositivos da convenção Interamericana contra 
a Corrupção, criada em 1996, no âmbito da Organização dos Estados 
Americanos (OEA).
Num primeiro momento, será delineado o contexto histórico, para que se 
compreenda: como a convenção foi criada; quando entrou em vigor; de 
que forma os países que a assinaram, e depois a ratificaram, interagiram 
inicialmente com o conteúdo.
Logo em seguida, adentraremos no conteúdo propriamente dito da con-
venção, passando, antes de se chegar à sua parte mais normativa, por 
uma análise do preâmbulo, que, embora possa não ter força direta sobre 
o que se trata, deve ser respeitado como fundamento de tudo o que se 
menciona nos artigos do tratado. Destarte, quando houver necessidade 
de se realizar interpretação desses dispositivos normativos, deverão ser 
vistos à luz das intenções contidas no preâmbulo.
Feito isso, serão analisados os artigos que se julga mais importantes da 
convenção, envolvendo medidas preventivas cuja aplicabilidade interna 
os países se comprometeram a estudar; os dispositivos que listam nor-
mas que, salvo reservas, os Estados Partes da OEA aceitaram adaptar em 
seus ordenamentos jurídicos nacionais; e outras determinações, de cará-
ter relativamente menos complexo, mas não menos importantes.
1. Contexto Histórico
Embora o Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), dos Estados Unidos da América 
(EUA), tenha iniciado a onda de grandes normas que tratam do tema da 
corrupção, em 1977, foi quase vinte anos depois, em 1994, que se tomou o 
primeiro passo significativo para se assinar um tratado multilateral sobre 
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 27
o assunto, no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA). 
Nesse ano, foi manifestado apoio ao estudo de medidas para combate 
à corrupção na Declaração de Belém do Pará; foi estabelecido o Grupo de 
Trabalho sobre Probidade e Ética; e, no final do ano, na Primeira Cúpula das 
Américas, os chefes de governo e de Estado reconheceram o nexo entre 
combate à corrupção e fortalecimento da democracia (BRASIL, 2016a).
Assim, em 1995, iniciou-se o desenvolvimento de um projeto de conven-
ção sobre o tema e, finalmente, em 29 de março, de 1996, em Caracas, na 
Venezuela, a Convenção Interamericana contra a Corrupção foi firmada 
e assinada por vinte e um Estados-membros da OEA – sendo, posterior-
mente, assinada por todos. Só entrou em vigor, no entanto, em 6 de mar-
ço, de 1997, por determinação de seu artigo XXV, que afirma que “esta 
convenção entrará em vigor no trigésimo dia a partir da data em que haja 
sido depositado o segundo instrumento de ratificação”. Isso ocorreu após 
o Paraguai e a Bolívia terem realizado o depósito da convenção, em 28 de 
janeiro e 4 de fevereiro, respectivamente.
Todavia, mesmo estando em vigor, isso não significa que todos os Estados, 
integrantes da OEA, estavam obrigados a cumprir suas disposições e isso 
sequer se aplicava aos que a assinaram. A assinatura de um tratado serve 
para encerrar as negociações, cimentar suas cláusulas e demonstrar in-
tenção de ratificá-lo no futuro (HUSEK, 2012).
A vigência só implica que, naquele momento, o tratado passa a poder 
ser cobrado daqueles Estados membros que já o ratificaram, o que, ge-
ralmente, ocorre junto ao depósito. A maioria dos países da OEA fizeram 
isso logo na década de 90, como a Argentina, o Equador, o México e o 
Uruguai, mas alguns só foram se obrigar internacionalmente a cumprir as 
determinações da Convenção Interamericana contra a Corrupção após a 
virada do milênio. Todos, exceto Cuba, país suspenso da OEA, no entanto, 
ratificaram ou aderiram à convenção.
28 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
PARA SABER MAIS
A adesão a um tratado internacional é similar à ratificação. É 
o método pelo qual um país, que não participou das negocia-
ções que geraram o tratado, obriga-se ao conteúdo dele.
O Brasil só o fez em 7 de outubro, de 2002, seis anos após a assinatura 
da convenção,por meio do Decreto n. 4.410/02, que promulgou a con-
venção, trazendo-a para o ordenamento brasileiro com força de lei ordi-
nária. Ainda, dois meses depois, em 19 de dezembro, fez reserva à sua 
ratificação do texto da convenção, por meio do Decreto n. 4.534/02, para 
não aceitar o artigo XI, I, c – o que será tratado mais adiante, quando for 
analisado o seu conteúdo. Não precisaria, pois basta que não proíba, mas 
a convenção permitiu explicitamente a realização de reservas no seu arti-
go XXIV – inclusive para adesões, o que não é comum – e, além do Brasil, 
fizeram reservas também o Canadá, a Guiana, o Panamá, São Cristóvão e 
Neves, os EUA e o Uruguai (OEA, 2018).
Por fim, ao longo dos anos seguintes, o Brasil e os demais países-mem-
bros da OEA apontaram autoridades para servir o propósito do artigo 
XVIII, da convenção, que permite a designação de autoridades centrais 
encarregadas de formular e receber solicitações de assistência e coopera-
ção conforme os ditames da convenção. No caso do Brasil, estabeleceu-se 
que o Ministério da Justiça realizará essa tarefa (Ibidem).
2. Conteúdo da convenção interamericana contra a 
corrupção
2.1. Motivações da Convenção
Uma parte frequentemente ignorada, mas muito interessante, das mais 
diversas convenções internacionais, é o preâmbulo. Nele, os países des-
crevem, de forma ampla, os eventos ou motivos que inspiraram a criação 
do respectivo tratado e, por meio de sua leitura, pode-se extrair os temas 
com os quais os líderes mundiais se preocuparam à época.
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 29
Esse exercício é importante não só para melhor compreender a convenção 
em si, mas porque não é raro que preâmbulos de tratados, que tendem a 
conter textos ambiciosos, pareçam se exceder aos próprios artigos propria-
mente ditos dos mesmos. A respeito disso, vale ressaltar que os preâmbu-
los constituem parte integral dos tratados e, portanto, ao aderir ou ratificar 
um tratado, um país também evidencia que concorda com o texto do pre-
âmbulo e, assim, obriga-se a agir em consonância com o que lá está escrito.
PARA SABER MAIS
Muito se fala do Direito Internacional, no dia a dia, sobre a 
prática de se remover artigos muito ambiciosos e controver-
sos do corpo principal de um tratado, incluindo seu conteúdo, 
ao invés, no preâmbulo, como tática de negociação para que 
um tratado seja assinado sem, no entanto, perder a menção 
àquelas partes ambiciosas que os criadores do instrumento 
julgaram como importantes.
A Convenção Interamericana contra a Corrupção, em seu preâmbulo, de-
monstra, em primeiro lugar, que os países envolvidos reconhecem a cor-
rupção como ameaça à própria democracia, ao mencionar que ela “exige, 
por sua própria natureza, o combate a toda forma de corrupção no exer-
cício das funções públicas e aos atos de corrupção especificamente vincu-
lados a seu exercício” (BRASIL, 2002a).
Ainda, nesse contexto, sugere-se também que esta luta é necessária para 
que se evitem “distorções na economia, vícios na gestão pública e deterio-
ração da moral social” (Ibidem), que foram os mesmos fatores que impul-
sionaram a criação do Foreign Corrupt Practices Act, em 1977.
No entanto, as motivações da convenção vão além daquelas referentes à 
essa norma dos EUA, pois envolvem o apontamento da necessidade de 
ação coordenada de vários países para o combate eficaz à corrupção, de 
30 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
conscientização das populações dos respectivos países em relação à exis-
tência e à gravidade do problema; e de reforço da participação da socie-
dade civil no seu combate, bem como envolvem o reconhecimento de que 
“a corrupção é um dos instrumentos de que se serve o crime organizado 
para concretizar os seus fins” (Ibidem). É, portanto, mais amplo o escopo 
de ação da Convenção Interamericana contra Corrupção, o que é de se 
esperar de um tratado internacional multilateral.
Ao final, o preâmbulo faz menção também aos vínculos entre corrupção 
e o tráfico ilícito de entorpecentes, que, embora seja inegável, parece ter 
sido objeto de menção especial em razão da época em que foi redigido, 
pois a corrupção tem nexo similar com todo tipo de crime internacional 
organizado.
2.2. Conteúdo normativo da Convenção
2.2.1. Medidas preventivas
Após os dois primeiros artigos introdutórios, o artigo III da Convenção 
Interamericana contra a Corrupção determina que os Estados Partes se 
comprometem a examinar a aplicabilidade de certas medidas em seus 
sistemas normativos internos.
É importante ressaltar que não se trata de obrigação de implementar as 
medidas exatamente, mas meramente de estudar a viabilidade dessa im-
plementação. Isso difere da determinação presente no artigo VII, que será 
tratado mais adiante, pelo qual os países que ratificaram este tratado se 
comprometeram a realizar alterações em suas legislações internas.
Posto isto, a primeira das medidas preventivas presentes no artigo III é a 
de implementação de normas de conduta que tenham finalidade de pre-
venir conflitos de interesses e uso inadequado de recursos públicos, bem 
como que exijam que funcionários públicos informem as autoridades com-
petentes de quaisquer atos de corrupção de que tenham conhecimento. 
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 31
Já há algum respaldo para isso na legislação brasileira, como na Lei n. 
8.112/90, que regulamenta o regime jurídico dos servidores públicos fe-
derais, trazendo, dentre outras, normas sobre nepotismo e abuso de fun-
ção pública para obtenção de proventos pessoais indevidos; e na Lei n. 
12.813/13, que dispõe sobre o “conflito de interesses no exercício de car-
go ou emprego do Poder Executivo federal e impedimentos posteriores 
ao exercício do cargo ou emprego” e traz punições para os casos em que 
este conflito se verifica.
EXEMPLIFICANDO
No capítulo I, da Lei n. 8.112/90, que trata dos deveres dos 
servidores públicos federais, o artigo 116, inciso VI determina 
que quaisquer irregularidades de que tenha ciência um ser-
vidor público, deverão ser levadas ao conhecimento de sua 
autoridade superior; ou até ao conhecimento direto de outra 
autoridade competente, se houver suspeita de envolvimento 
da autoridade imediatamente superior ao servidor.
A segunda medida trata de mecanismos que sirvam para tornar efetivo 
o cumprimento das normas anteriores. Nesse sentido, há várias entida-
des voltadas para a fiscalização da conduta de funcionários públicos no 
Brasil, como a Comissão de Ética Pública e o Ministério da Transparência, 
Fiscalização e Controladoria Geral da União.
Em seguida, o texto da convenção menciona a necessidade de se educar 
funcionários públicos para que compreendam adequadamente suas res-
ponsabilidades e as normas éticas que precisam seguir. Esta medida tem 
caráter mais administrativo e, assim sendo, é difícil a averiguação de seu 
cumprimento sem que se realize um estudo próprio voltado para este fim.
Outra medida, presente no artigo III do tratado, refere-se à declaração 
de receitas, ativos e passivos, da parte de funcionários públicos, para fins 
de transparência e fácil averiguação em caso de apropriação indevida de 
32 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
recursos públicos. Quanto a isso, o ordenamento brasileiro estabelece, 
no § 5º do artigo 13, da Lei n. 8.112/90, que o servidor deve apresentar de-
claração de bens e valores que constituem seu patrimônio como requisito 
essencial para que possa tomar posse de um cargo público.
Também tem algum tratamento na quinta medida da convenção, que des-
creve a necessidade de sistemas transparentes de recrutamento de fun-
cionários públicos, que tratem candidatos com equidade e que sejam efi-
cientes. Isso se realiza na forma dos concursos públicos, que têm normas 
rígidas, públicas e que oferecem amplo acesso, inclusive com auxílio paracandidatos portadores de deficiência mental ou física. Evidentemente, 
não se sugere que não possam haver aperfeiçoamentos nesse sistema, 
ou em qualquer dos outros mencionados, mas é importante ressaltar que 
ele existe e tenta servir àquele propósito do artigo III da convenção.
A sexta medida propõe a implementação de sistemas para arrecadação 
e controle da renda do Estado, o que é algo um pouco vago, pois não se 
imagina país sério que não possua tais sistemas fundamentais de organi-
zação estatal e o item não deixa claro de que forma se poderia aprimorar 
esses sistemas para o combate à prática da corrupção.
Na medida seguinte, reconhece-se a necessidade de se criar leis que ve-
dem a concessão de benefícios tributários para empresas e indivíduos 
que pratiquem atos corruptos além das fronteiras nacionais de cada res-
pectivo país. Aqui, novamente, o Brasil agiu para adequar seu ordena-
mento interno, pois com a criação da Lei n. 12.846/13, objeto principal de 
estudo desta disciplina, determinou-se que uma série de atos considera-
dos como corruptos, realizados contra a administração nacional ou es-
trangeira, são punidos, entre outras sanções previstas, com a “proibição 
de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos 
de órgãos ou entidades públicas e de instituições financeiras públicas ou 
controladas pelo poder público, pelo prazo mínimo de 1 (um) e máximo 
de 5 (cinco) anos”, conforme o artigo 19, IV, dessa lei.
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 33
A oitava medida, recomendada pela convenção, é muito pertinente para 
o Brasil, pois refere-se à criação de sistemas voltados para a proteção 
de funcionários públicos e cidadãos particulares, que denunciem práticas 
corruptas. O país sofreu repetidas críticas relativas à insuficiência de suas 
normas com relação a isso, feitas pela Comissão de Peritos do Mecanismo 
de Acompanhamento de Implementação da Convenção Interamericana 
contra a Corrupção (MESICIC), no âmbito da primeira (OEA, 2006), segun-
da (Idem, 2008) e terceira (Idem, 2011) rodadas de avaliação.
LINK
A Comissão de Peritos do MESICIC da OEA tem regulamenta-
ção própria, bem detalhada, sobre seu funcionamento, com-
posição e regras de conduta, que pode ser conferida no link 
a seguir. OEA. MESICIC. Regulamento e normas de proce-
dimento. SG/MESICIC/doc.9/04 rev. 4. Washington DC, 2006. 
Disponível em: <http://www.cgu.gov.br/assuntos/articulacao-
-internacional/convencao-da-oea/documentos-relevantes/
arquivos/regulamento-da-comissao-de-peritos>.
Acesso em: 13 fev. 2019.
De fato, o Brasil não oferece muitas garantias nessa área, pois, embora 
servidores públicos da União que informem autoridades de práticas cor-
ruptas tenham proteção contra serem responsabilizados civil, penal ou 
administrativamente por isto, conforme o artigo 126-A da Lei n. 8.112/90, 
a lei não lhes confere a possibilidade de oferecerem denúncia anônima 
– embora, na prática, por vezes se permita isto. Ainda, cidadãos particula-
res só possuem proteções esparsas em casos específicos, como no caso 
de denúncia ao Tribunal de Contas da União, em que se confere a possi-
bilidade de tratamento sigiloso de denúncias, mas somente até a decisão 
definitiva da matéria, conforme o artigo 55 da Lei n. 8.443/92, ou seja, 
eventualmente será exposto o denunciante. 
34 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
Já a nona medida é outra ampla, referente à qual a adequação dos sistemas 
existentes do Brasil é difícil de ser medida. Sugere a criação de “órgãos de 
controle superior, a fim de desenvolver mecanismos modernos para pre-
venir, detectar, punir e erradicar as práticas corruptas” (BRASIL, 2002a), o 
que existe no Brasil na forma do Ministério da Transparência, Fiscalização 
e Controladoria Geral da União, das inúmeras agências fiscalizadoras go-
vernamentais e das entidades que compõem o Poder Judiciário.
Por sua vez, a décima medida é uma que se considera cumprida em nível 
razoável no Brasil. Sugere a instituição de medidas de prevenção ao su-
borno de funcionários públicos nacionais e estrangeiros, “como mecanis-
mos para garantir que as sociedades mercantis e outros tipos de associa-
ções mantenham registros” (BRASIL, 2002a). A legislação brasileira, já há 
muito tempo, demanda a criação de manutenção de registros e sistemas 
de controle contábil internos por empresas. Um exemplo disso é a seção 
II, “Demonstrações Financeiras”, da Lei n. 6.404/76 que determina a forma 
e o conteúdo dessas para as sociedades por ações.
A penúltima das medidas, que a convenção exige que os Estados Partes 
considerem, é a criação de “mecanismos para estimular a participação da 
sociedade civil e de organizações não governamentais nos esforços para 
prevenir a corrupção” (BRASIL, 2002a). O ponto central da questão, aqui, é 
a ideia de estímulo da participação e, nesse aspecto, talvez o Brasil não te-
nha feito muito desde a ratificação da convenção. O que fez, contudo, que 
não deve ser ignorado, é facilitar esta participação ao editar leis como a 
Lei n. 12.527/11, a Lei de Acesso à Informação, que permite que cidadãos 
e ONGs possam verificar problemas relativos à administração com maior 
facilidade e, consequentemente, demandar soluções.
Finalmente, a última das medidas refere-se simplesmente ao “estudo de 
novas medidas de prevenção, que levem em conta a relação entre uma 
remuneração equitativa e a probidade no serviço público”. Relativamente 
vaga, esta medida pode-se presumir cumprida, já que qualquer governo 
provido de um mínimo grau de seriedade constantemente realiza estu-
dos sobre novas medidas nesse sentido, assim como estuda a viabilidade 
de aplicação de inúmeras outras formas de prevenção da corrupção.
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 35
2.2.2. Adequação das legislações internas dos Estados Partes
Como já mencionado, diferentemente do que acontece com as medidas 
preventivas, a Convenção Interamericana contra a Corrupção traz alguns 
artigos que determinam não só um compromisso de estudo de aplicabili-
dade, mas um compromisso de internalização, de fato, de certos disposi-
tivos em cada Estado Parte.
Assim, salvo casos em que tenham sido feitas reservas, os países que rati-
ficaram a convenção comprometeram-se a tipificar em seus ordenamen-
tos jurídicos nacionais, como delitos, os atos de corrupção descritos no 
artigo VI, I – conforme o disposto no artigo VII –, as condutas descritas 
como suborno transnacional e enriquecimento ilícito nos artigos VIII e IX, 
respectivamente, e as condutas descritas no artigo XI.
São descritos como atos de corrupção pelo artigo VI, I, da convenção:
a. a solicitação ou a aceitação, direta ou indiretamente, por um funcionário 
público ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor 
pecuniário ou de outros benefícios como dádivas, favores, promessas ou 
vantagens para si mesmo ou para outra pessoa ou entidade em troca da re-
alização ou omissão de qualquer ato no exercício de suas funções públicas;
b. a oferta ou outorga, direta ou indiretamente, a um funcionário público ou 
pessoa que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor pecuniário 
ou de outros benefícios como dádivas, favores, promessas ou vantagens a 
esse funcionário público ou outra pessoa ou entidade em troca da realiza-
ção ou omissão de qualquer ato no exercício de suas funções públicas;
c. a realização, por parte de um funcionário público ou pessoa que exerça 
funções públicas, de qualquer ato ou omissão no exercício de suas funções, 
a fim de obter ilicitamente benefícios para si mesmo ou para um terceiro;
d. o aproveitamento doloso ou a ocultação de bens provenientes de qual-
quer dos atos a que se refere este artigo; e
e. a participação, como autor, coautor, instigador, cúmplice, acobertador ou 
mediante qualquer outro modo na perpetração, na tentativa de perpetra-
ção ou na associação ouconfabulação para perpetrar qualquer dos atos a 
que se refere este artigo.
36 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
Todos esses atos, descritos minuciosamente no contexto da convenção, já 
foram tipificados com maior simplicidade, o que não afeta sua eficácia; no 
âmbito do Código Penal brasileiro, que descreve os crimes de corrupção 
passiva cometida por funcionário público; e de corrupção ativa, cometida 
por aquele que tenta corromper funcionário público.
O artigo 317, do Código Penal, descreve a corrupção passiva como a prá-
tica de “solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indireta-
mente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão 
dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem”, sendo 
vantagem indevida termo que aborda quaisquer dos benefícios indevidos 
listados no texto da convenção. Já o artigo 333 descreve a corrupção ativa 
como a prática de “oferecer ou prometer vantagem indevida a funcioná-
rio público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício”.
Similarmente, o artigo 337-B descreve a prática de corrupção ativa em tran-
sação comercial internacional como a de “prometer, oferecer ou dar, direta 
ou indiretamente, vantagem indevida a funcionário público estrangeiro, ou 
a terceira pessoa, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de 
ofício” naquele contexto, o que preenche o requisito do artigo VIII da con-
venção, que requer a tipificação da prática de suborno transnacional.
Aqui, vale ressaltar uma determinação interessante da convenção que, 
nesse último artigo mencionado, cria obrigação para os Estados Partes 
que ainda não cumpriram esse dever de tipificação do suborno transna-
cional, ao estabelecer que cada um deles “prestará a assistência e coope-
ração previstas nesta convenção relativamente a este delito, na medida 
em que o permitirem as suas leis” (BRASIL, 2002a). Assim, esses países 
devem, no mínimo, auxiliar os demais Estados Partes nesse aspecto, mes-
mo que não tenham tipificado o delito de suborno transnacional inter-
namente, para que a morosidade de um país em cumprir com suas obri-
gações internacionais não prejudique a boa intenção de outro, que age 
para punir a ocorrência dessa prática delituosa. Isto, já se adianta, ocorre 
também com relação aos demais casos em que a convenção exige a tipi-
ficação de condutas delituosas.
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 37
Além disso, sobre o tema de suborno transnacional, assunto não tra-
tado com a devida seriedade pelo Brasil, visto o segundo relatório do 
Grupo de Trabalho Antissuborno da Organização para a Cooperação e 
Desenvolvimento Econômico (OCDE), que teve o total de processos envol-
vendo o tema, entre os anos de 2002 e 2014, de apenas cinco (MARINELA 
et. al., 2015).
A noção de enriquecimento ilícito é mais controversa do que as ante-
riores, tanto que o Canadá fez reserva em sua ratificação da convenção 
quanto à adoção do artigo IX, que trata do tema, alegando que o conceito 
lá presente é contrário à garantia de presunção de inocência presente na 
constituição canadense (OEA, 2018).
O artigo descreve enriquecimento ilícito como “o aumento do patrimônio 
de um funcionário público que exceda de modo significativo sua renda 
legítima durante o exercício de suas funções e que não possa justificar 
razoavelmente” (BRASIL, 2002a); portanto, trata-se, em essência, da crimi-
nalização de uma forte suspeita de crime.
Por um lado, é algo que gera estranheza, pois se acusaria um funcionário 
público de agir corruptamente sem se saber exatamente o que ele fez 
para obter o aumento suspeito de seu patrimônio. Por outro, o fato de 
um funcionário público não ter nenhuma comprovação de uma transação 
que gerou significativo, mesmo que pequeno, aumento de seu patrimô-
nio é certamente suspeito e constitui uma situação quase inacreditável 
como resultado de uma conduta lícita.
Países como a Argentina, o México e a França já possuem leis contra o 
enriquecimento ilícito, mas o Brasil ainda não tipificou esta ocorrência, 
tendo proposta de acrescentá-la na forma de artigo adicional no Código 
Penal, que teria número 312-A, segundo o Projeto de Lei do Senado n. 327 
de 2016. Seja como for definido, da forma como lá consta no projeto ou 
com alterações, é um crime que, se instituído no Código Penal, terá cará-
ter subsidiário, pois não fará sentido definir conduta como sendo de enri-
quecimento ilícito quando se tiver conhecimento do fato real que gerou o 
aumento significativo do patrimônio do servidor.
38 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
O artigo XI da convenção, o último que exige a tipificação como delito 
de certas condutas, requer a tipificação das condutas de apropriação e 
uso indevidos de informações reservadas ou privilegiadas e do desvio de 
bens ou valores para fins indevidos. Todas essas condutas já constam do 
Código Penal brasileiro, na forma do crime de peculato, que, inclusive, 
tem forma culposa e de “peculato mediante erro de outrem”; emprego 
irregular de verbas ou rendas públicas; violação de sigilo funcional e vio-
lação do sigilo de proposta de concorrência, previstos no título XI, “Dos 
Crimes Contra a Administração Pública”.
Curiosamente, há uma quarta conduta que a convenção requer que seja 
tipificada como delito conforme aquele artigo, mas que foi objeto de re-
serva do Brasil. Trata-se da prática de lobby, voltado para a obtenção de 
benefícios ou proveitos ilícitos. Não se vislumbra nenhuma razão que jus-
tifica a reserva, senão, talvez, que a criminalização daquela prática tenha 
sido considerada como desnecessária, sendo que já é punida a obtenção 
do benefício ou proveito ilícito, pois, do contrário, seria lícito.
2.2.3. Outras determinações da Convenção
Outros artigos relevantes da convenção, mas menos complexos, são os 
de número XII a XIX. O artigo XII simplesmente determina que, para todos 
os fins da convenção, a inexistência de prejuízos patrimoniais a Estados, 
por si só, não deve desclassificar um ato como sendo corrupto.
Por sua vez, o artigo XIII, estabelece que os Estados Partes devem coo-
perar para a realização de procedimentos de extradição voltada para a 
punição da corrupção ocorrida entre eles, especialmente no que se trata 
dos delitos descritos no contexto da convenção.
Para este e outros fins da convenção, o artigo XIV determina que os Estados 
Partes devem cooperar e providenciar assistência mútua entre eles, de 
modo geral. Aliás, o artigo XVIII até permite, mas não obriga, que seja de-
signada uma autoridade central em cada país, que ficará encarregada de 
facilitar esta cooperação.
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 39
ASSIMILE
Vale lembrar que, no Brasil, a entidade que foi apontada como 
autoridade central encarregada de solicitar e receber solicita-
ções de assistência, de acordo com a possibilidade do artigo 
XVIII, da Convenção Interamericana contra a Corrupção, foi o 
Ministério da Justiça.
Ainda sobre a ideia de assistência e cooperação, o artigo XV requer dos 
Estados Partes que se auxiliem mutuamente para “identificar, localizar, 
bloquear, apreender e confiscar bens obtidos ou provenientes” (BRASIL, 
2002a), de práticas corruptas, segundo o entendimento da convenção e, 
inclusive, com respeito aos bens usados para a realização das práticas ou 
que sejam produtos delas.
Já o artigo XVI, evidentemente criado à luz do conhecimento que se tem 
de como são conduzidas as práticas de corrupção a nível transnacional, 
estabelece que o dever de assistência entre Estados Partes deve estar 
acima do dever que um país tenha com relação à manutenção de sigilos 
bancários de seus nacionais. Trata-se de um dispositivo ambicioso e vital 
para o combate à corrupção transnacional, mas que não é desprovido 
de razoabilidade, pois o referido artigo também determina que“o Estado 
Parte requerente compromete-se a não usar informações protegidas por 
sigilo bancário que receba para propósito algum que não o do processo 
que motivou a solicitação, salvo com autorização do Estado Parte reque-
rido” (Ibidem).
Finalmente, o último dos artigos da convenção que merece menção es-
pecial é o artigo XIX, que eleva a importância do combate à corrupção ao 
determinar que as disposições da convenção retroagem para afetar atos 
de corrupção ocorridos anteriormente à sua existência. Isso é muito rele-
vante quando se considera que condutas delituosas de escala internacio-
nal podem ter efeitos graves e duradouros.
40 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
Considere os dispositivos da Convenção Interamericana contra a 
Corrupção, sobre enriquecimento ilícito e sobre a prática de lobby 
voltada para obtenção de benefícios ilícitos, e reflita sobre a razoabi-
lidade da realização de reservas quanto a eles pelo Canadá e o Brasil, 
respectivamente.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
3. Considerações Finais
• Para os países que ratificaram a Convenção Interamericana contra 
a Corrupção, prática considerada como um instrumento do crime 
organizado, constitui uma ameaça à democracia, à economia, à boa 
gestão pública e à moral social. Ademais, o combate a ela requer 
ação coordenada de vários países e a conscientização e participação 
de seus cidadãos.
• A maioria das medidas preventivas, listadas no artigo III da 
Convenção Interamericana contra a Corrupção, têm algum respal-
do na legislação brasileira, o que não significa que não podem haver 
aprimoramentos. Entretanto, o país ainda peca com relação à imple-
mentação de algumas, como a medida que fala sobre a proteção 
dos que denunciam práticas corruptas.
• Todos os atos de corrupção, listados na Convenção Interamericana 
contra a Corrupção, já estão tipificados no Código Penal brasileiro, 
exceto a prática de enriquecimento ilícito, que o Brasil se compro-
meteu a tipificar, e a prática de lobby com a finalidade de obtenção 
de benefícios ilícitos, cuja parte que a menciona na convenção foi 
objeto de reserva do Brasil.
• A Convenção Interamericana contra a Corrupção demanda que os 
Estados Partes assistam uns aos outros e cooperem no combate à 
corrupção e, para este fim, quase todos os Estados Partes aponta-
ram autoridades centrais que ficaram encarregadas de solicitar e 
receber solicitações de assistência.
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 41
• A Convenção Interamericana contra a Corrupção atinge, por deter-
minação de seu artigo XIX, inclusive, atos de corrupção que são 
anteriores a ela.
Glossário
• Retroatividade: é a capacidade daquilo que retroage, ou seja, que 
age para afetar algo que lhe foi anterior. No Brasil, por exemplo, a 
descriminalização legal de uma conduta retroage para beneficiar 
todos os que eventualmente estiverem presos por terem agido 
desta forma que deixou de ser considerada como crime.
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 02
1. Uma das medidas preventivas de corrupção, presentes no 
artigo III da Convenção Interamericana contra a Corrupção, 
é a que sugere a criação de sistemas de proteção de funcio-
nário públicos e cidadãos particulares que denunciem prá-
ticas corruptas. Neste aspecto, o Brasil foi repetidamente 
criticado pela , pois o país não tem leis que contem-
plem a denúncia por parte de funcionários públicos, 
embora na prática ela seja permitida. Ainda, mesmo no 
caso de cidadãos particulares não há lei geral de proteção 
ao denunciante, só havendo , o que não é suficiente. 
Assinale a alternativa que preenche corretamente as 
lacunas:
a) Comissão de Peritos do MESICIC; anônima; normas es-
parsas de proteção para casos específicos.
b) Comissão Interamericana de Peritos; múltipla; normas 
esparsas de proteção para casos específicos.
c) Comissão Interamericana de Peritos; anônima; normas 
relativas à proteção de sigilo profissional.
42 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
d) Comissão de Peritos da OEA; múltipla; normas relativas 
à proteção de sigilo profissional.
e) Organização das Nações Unidas; anônima; normas re-
lativas à proteção de pessoas jurídicas.
2. A Convenção Interamericana contra a Corrupção atinge 
atos de corrupção que são anteriores a ela PORQUE tra-
ta-se de um tratado internacional de grande importância, 
ratificada por todos os países da OEA.
Analisando as afirmações acima, conclui-se que:
a) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda justi-
fica a primeira.
b) As duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda 
não justifica a primeira.
c) A primeira afirmação é verdadeira, mas a segunda é falsa.
d) A primeira afirmação é falsa, mas a segunda é 
verdadeira.
e) As duas afirmações são falsas.
3. De acordo com o que foi estudado sobre as medidas pre-
ventivas presentes na Convenção Interamericana contra 
a Corrupção, é correto afirmar que, entre elas, estão:
a) A criação de um organismo internacional contra a cor-
rupção e a implementação de normas internas, em cada 
Estado Parte, que prevejam a submissão daqueles que 
cometem atos corruptos ao julgamento do organismo 
internacional contra a corrupção.
b) A criação de mecanismos para estimular a participação 
da sociedade civil e organizações não governamentais, 
nos esforços para prevenir a corrupção e a implemen-
tação de normas internas, em cada Estado Parte, que 
proíbam o trânsito internacional de pessoas ligadas à 
corrupção, salvo se forem extraditadas para outro país.
Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção 43
c) A criação de mecanismos para estimular a participação 
da sociedade civil e organizações não governamentais, 
nos esforços para prevenir a corrupção e a realização 
de estudos relacionados ao aumento de penas para 
atos de corrupção.
d) A criação de mecanismos para estimular a confissão 
de atos de corrupção, por meio da oferta de benefí-
cios para aqueles que o fazem e a realização de estu-
dos relacionados ao aumento de penas para atos de 
corrupção.
e) A criação de mecanismos para estimular a participação 
da sociedade civil e organizações não governamentais, 
nos esforços para prevenir a corrupção e a realização 
de estudo de novas medidas de prevenção, que levem 
em conta a relação entre uma remuneração equitativa 
e a probidade no serviço público.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Decreto n. 4.410, de 7 de outubro de 2002. Promulga a Convenção 
Interamericana contra a Corrupção, de 29 de março de 1996, com reserva para o art. 
XI, parágrafo 1o, inciso “c”. Brasília, 2002a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/decreto/2002/d4410.htm>. Acesso em: 12 fev. 2019.
. Decreto n. 4.534, de 19 de dezembro de 2002. Dá nova redação ao art. 1º do 
Decreto nº 4.410, de 7 de outubro de 2002, que promulga a Convenção Interamericana 
contra a Corrupção, de 29 de março de 1996, com reserva para o art. XI, parágrafo 
1º, inciso “c”. Brasília, 2002b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/2002/D4534.htm>. Acesso em: 12 fev. 2019.
. Decreto-lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, 1940. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.
htm>. Acesso em: 12 fev. 2019.
44 Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira e outros sistemas anticorrupção
. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por 
Ações. Brasília, 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6404 
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. Lei n. 8.443, de 16 de julho de 1992. Dispõe sobre a Lei Orgânica do Tribunal 
de Contas da União e dá outras providências. Brasília, 1992. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8443.htm>. Acesso em: 12 fev. 2019..
. Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos 
servidores públicos civis da União,

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