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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Projeto Pós-graduação Curso Saúde Pública com ênfase na Saúde da Família Disciplina Políticas públicas de Saúde Tema O Pacto pela Saúde de 2006 – novos rumos para as políticas públicas de saúde Professor Tânia Maria Santos Pires Introdução Olá! O desenvolvimento das políticas públicas de saúde é um processo que vem sendo construído ao longo do tempo e modificado ao longo do tempo, de acordo com as diferentes necessidades que se apresentam. Nesse sentido, a revisão proposta pelo Pacto pela Saúde de 2006 torna- se um marco para a organização de prioridades e estratégias de ação, de modo a garantir o desenvolvimento das políticas públicas de saúde em todo território nacional. (vídeo disponível no material online) Problematização Santarém, Pará, 1998. Dr. Severino Giovanetti dos Santos Filho completa 10 anos de formado, tem 35 anos de idade e está apaixonado. Ele costumava dizer que era apaixonado pela medicina, pelas pessoas, pela vida, mas agora tem que admitir que não saberá mais viver sem Jarana. Jarana é enfermeira na comunidade de Alter do Chão, um dos distritos da cidade de Santarém, no Pará. Seu rosto de traços indígenas marcantes, lindos cabelos de fios grossos, longos e negros, remetem aos seus antepassados tupaiús, tribo que ocupava aquela região desde a época do CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 descobrimento, assim como o seu nome, que homenageia uma árvore da Amazônia. Jarana não conheceu seu pai, mas sua mãe contou-lhe que fora ele que escolhera seu nome em homenagem a essa arvore nativa, que gera uma madeira muito dura, forte e com alta resistência natural ao ataque de insetos e fungos. Seu pai era seringueiro e morreu quando ela era ainda recém-nascida. Foi criada pela mãe e pelos avós, mas sua mãe também faleceu em consequência de calazar e diversas malárias, quando Jarana tinha 7 anos. Jarana gostava do seu nome e desde criança dizia para si mesma o quanto iria ser tão forte quanto a árvore jarana (Holopyxidium jarana). Ela não imaginava quão forte ela precisaria ser ao longo da vida. Seu sonho e paixão era cuidar de pessoas. Sua avó era conhecida parteira e benzedeira da região e, por isso, Jarana cresceu sabendo sobre os óleos de andiroba e copaíba, que serviam para tudo, desde alergias de pele a piolhos, como também sobre as diversas ervas que sua avó usava nos chás. Quando uma mulher ia dar à luz, sua avó se mudava para a casa da família naquela semana para atendê-la e, depois que nascia o nenê, sua avó ainda ficava lá preparando o pirão de peixe, orientando quais comidas eram permitidas, inclusive quais peixes poderiam ser usados ou não na alimentação das parturientes, pois não poderia usar comida “reimosa1” para uma “mulher parida2”. Em todas essas vezes, Jarana acompanhava sua avó e a auxiliava na prestação desses cuidados, e foi assim que percebeu que era isso que queria fazer na vida. Foi difícil deixar sua avó, mas foi morar com uma de suas tias em Santarém para conseguir fazer o segundo grau, e depois passou na UFPA para cursos a Faculdade de Enfermagem. 1 Expressão regional que significa comida que pode provocar inflamação no corpo. 2 O norte não teve influência de outros grupos europeus, portanto o português falado guarda muito da originalidade linguística e de expressões que são pouco conhecidas no sul e sudeste, os quais sofreram influencias de outras línguas europeias. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Foram tempos difíceis morando em Belém, na casa de outra tia e madrinha. Pouco dinheiro, cidade grande, mas finalmente formou-se, fez um concurso do Estado e foi nomeada para Santarém, mas sua vontade ainda era trabalhar em Alter do Chão. Na sua formação, ela especializou-se em Obstetrícia, mas queria uma ação mais abrangente na comunidade, e em 1996 ela foi designada para atuar em Alter do Chão, sua região natal. A pequena Unidade de Saúde estava sendo inaugurada com o PACS. Ainda não tinham uma equipe completa e ela sabia que seria muito difícil ter um médico fixo ali. Em tempos de eleição, vinha um médico de Belém ou Santarém e ficava por lá um final de semana, mas, na maioria das vezes, eles não tinham médico, realidade a qual Jarana conhecia há muito tempo. De repente, chega por lá um jovem médico, alegre, brincalhão, atencioso com as pessoas. Pela fala, ele vinha do Sul. Chegou dizendo que estava realizando o grande sonho da vida dele, que era trabalhar num lugar como aquele. Jarana não acreditou muito a princípio. Apostou silenciosamente que ele não ficaria um mês, mas passou o tempo e ele permaneceu. Ela passou a admirá-lo, respeitá-lo profissionalmente e percebeu que ele também nutria os mesmos sentimentos por ela. Ele perguntava a opinião dela sobre as doenças, pedia ajuda e valorizava muito quando ela usava o conhecimento de sua avó com as ervas. Eles estudavam juntos algumas doenças, planejavam ações na comunidade e trabalhavam bastante. Aos finais de semana, Dr. Severino não saía da comunidade, mas gostava de explorar a floresta, visitar as comunidades ribeirinhas. Ele conseguia mobilizar as pessoas, falava de cidadania, preocupava-se com o trabalho, com a escola, com as casas, e era uma preocupação genuína nele, e dizia sempre que tudo isso resultava em saúde e doença, talvez mais que malária ou outras doenças. Um dia, enquanto cruzavam o azul do Rio Tapajós num pequeno barco, para visitar uma comunidade ribeirinha, na frente de suas agentes comunitárias CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 de saúde, Dr. Severino diz que ama Jarana e que quer se casar com ela. Eles nem namoravam, mas ele já a pediu em casamento. Poderia parecer meio clichê o médico casar com a enfermeira, mas o que fazer se eles se apaixonaram? Eles se casaram e agora nasceu sua filhinha Antônia, nome escolhido por Severino, mantendo a tradição das “Antônias” na sua família. Eles continuam trabalhando muito, mas sentem-se frustrados porque não têm tido remédios na Unidade de Saúde, principalmente os que não podem faltar, de uso continuo. Os profissionais da saúde querem implementar a Assistência Pré-natal com mais qualidade e elaboração de protocolos. Querem um hospital de referência mais próximo para que as gestantes possam ser atendidas no parto, mas o município-sede não tem dado as respostas necessárias. De que forma eles poderiam ter suas reivindicações atendidas pela Secretaria de Saúde do seu município? Não responda agora. Vamos voltar ao conteúdo teórico do nosso tema e, ao final, retomaremos a nossa história e apresentaremos as possibilidades de solução para o problema. (vídeo disponível no material online) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 A municipalização da saúde Após as reformas institucionais que modificaram o sistema de saúde, o maior passo que impactou na prática da assistência à saúde foi a implementação da Rede de Atenção à Saúde Básica (RAS), sobretudo com a Estratégia Saúde da Família. Porém, além da criação de programas, havia a necessidade de estruturar diretrizes legais de assistência e de gestão para a melhor distribuição dos recursos e o monitoramento da execução e da qualidade dos programas. A municipalização da saúde trouxe mais recursos aos municípios, juntamente com o aumento da responsabilidade. Prefeitos e gestores da saúde, sobretudo dos pequenos municípios, sentiram-se perdidos quanto as suas novas atribuições. Para organizar o sistema de gestão, destacam-se duas normativas que delinearam o sistema de gestão naquele momento: a NOB 96 (Norma Operacional Básica) e a NOAS 2002 (Norma Operacional de Assistência à Saúde). NOB 96 A NOB 96 modificou o sistema de pagamentodas ações municipais, até então baseado no antigo modelo de pagamentos por produção. O modelo de transferência de recursos por implantação de programas, principalmente aqueles que tinham mais impacto na população como o PACS e PSF, incentivou a ampliação destes, com transferência de recursos diretamente do Fundo Nacional de Saúde para o Fundo Municipal de Saúde. Os recursos destinados aos municípios passaram a se basear no número de habitantes do município, obedecendo a uma lógica de compromissos fixados pelo gestor municipal e a habilitação do município ao sistema de gestão proposto, ou seja, gestão plena do sistema municipal, ou gestão plena da atenção básica. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 A partir de 1996, fortaleceu-se as decisões pactuadas pelas comissões de gestores e pelos conselhos de saúde (BRASIL, 1996). NOAS 2002 Apesar do foco no município, havia necessidade de se reforçar a regionalização do sistema de saúde, pela sua operacionalidade e apoio aos pequenos municípios. Neste sentido, a importância da NOAS 2002, que atuou no sentido de organizar a assistência especializada e rede referenciada dos municípios, levou o Estado a assumir com maior clareza o seu papel de gestor na saúde (BRASIL 2002). Em 2006, houve uma revisão importante da caminhada do SUS enquanto sistema, dos seus pontos frágeis e de seus avanços. É importante lembrar que o sistema anterior, o INAMPS, era um sistema de gestão centralizada, de exclusão e de divisão operacional, dissociando assistência à saúde de vigilâncias sanitárias, pagamento por produção e ausência de ações de promoção de saúde. A evolução para um sistema diferente em todos os aspectos necessitaria de etapas, de reformulações, até que se consiga chegar ao modelo mais adequado. Na dimensão da gestão, o subfinanciamento da saúde, consequência de desvios de recursos para outros setores, foi muito questionado e constituiu- se numa luta dos gestores municipais e estaduais para a sua correção através da Emenda Constitucional nº 29. Havia necessidade de estabelecer os compromissos de gestão envolvidos nas três esferas governamentais, tanto na questão financeira, quanto nos compromissos sanitários, de forma a melhorar a Estas duas normativas constituíram a base da gestão e do direcionamento da assistência até 2006, quando foram substituídas pelo Pacto pela Saúde. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 atuação da gestão local e o monitoramento das ações. As deficiências da gestão local também foram analisadas dentro do foco operacional. Devido ao contexto político, é muito comum que o cargo de Secretário Municipal de Saúde seja ocupado por pessoas que não são ligadas à saúde, ou quando o são, não tiveram experiência de gestão. Para que os sistemas funcionem com êxito, é necessária uma equipe que: Realize o monitoramento da gestão. Crie vínculo com a prática dos profissionais de saúde. Entenda os processos de trabalho do dia a dia das equipes de atenção primária. Identifique quais são as maiores demandas para os especialistas, as maiores demandas de internações e as causas mais prevalentes de adoecimento da população local. Uma das maiores críticas ao processo de trabalho do SUS está na gestão local, justamente pela baixa qualificação dos gestores e equipes de gestão, principalmente no que se refere aos pequenos municípios. Neste sentido, 73% dos municípios brasileiros é constituído de municípios com menos de 20.000 habitantes, e o impacto das mudanças políticas reflete-se nos funcionários públicos de forma mais acentuada do que nos grandes municípios, por ser o município o maior gerador de empregos nas localidades mais pobres. Outro fator importante demonstrado nas pesquisas realizadas refere-se à qualificação dos profissionais de saúde, sobretudo dos médicos, para trabalhar nos diversos setores do SUS, especialmente na atenção primária à saúde, e sua fixação nos municípios pequenos. Os problemas apontados relacionam-se a formação dos profissionais de saúde, voltada primordialmente às especialidades focais em detrimento da CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 formação generalista, aliada a falta de estrutura da rede, para que os profissionais se sintam seguros para atuar a partir de uma estrutura de apoio diagnóstico e estabelecimento de um fluxo na rede de atenção. O modelo proposto, a partir do trabalho em equipe e centrado no paciente e sua família, ainda não é realidade na maioria dos municípios, e demonstra que o modelo biomédico ainda não está superado e segue como padrão na maioria da assistência. Há necessidade de alinhamento das ações de saúde nos municípios, a partir de um grupo de ações pactuadas, como um pacote mínimo a ser executado pelas secretarias municipais de saúde passível de monitoramento e análise de resultados. Em resposta a estas demandas, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 399, de 22 de fevereiro de 2006, que manifesta o Pacto pela Saúde: O Pacto pela Saúde é um conjunto de reformas institucionais do SUS pactuado entre as três esferas de gestão (União, Estados e Municípios) com o objetivo de promover inovações nos processos e instrumentos de gestão, visando alcançar maior eficiência e qualidade das respostas do Sistema Único de Saúde. Ao mesmo tempo, o Pacto pela Saúde redefine as responsabilidades de cada gestor em função das necessidades de saúde da população e na busca da equidade social. (BRASIL, 2006) O Pacto pela Saúde surge de a necessidade dos municípios discutirem o formato de repasse de recursos da União e definir as responsabilidades financeiras de cada nível de gestão, porém o seu principal objetivo era a consolidação do SUS, estabelecendo as ações prioritárias e as formas de financiamento de cada uma delas. (vídeo disponível no material online) Acesse o Pacto pela Saúde na íntegra no link: http://conselho.saude.gov.br/webpacto/volumes/01.pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Três blocos foram formatados dentro deste acordo: Pacto em defesa do SUS. Pacto de gestão. Pacto pela vida. Pacto em defesa do SUS Reafirma o compromisso do Estado com o provimento das ações de saúde e o direito do cidadão de ter acesso a todos os serviços de saúde dos quais necessitar. Como estratégia para alcançar esta meta, acentuou-se a pressão para a aprovação da Emenda Constitucional nº 29, pelo Congresso Nacional, que mudaria a forma de provimento para o setor saúde. Pacto de gestão Este pacto traz as definições dos investimentos financeiros de cada nível de gestão, mediante acordos entre a Federação, Estados e Municípios, sobre os percentuais de investimentos e quais seriam suas responsabilidades nas diversas ações de saúde. A inclusão dos Estados e Municípios aconteceria por meio de adesão voluntária do município ou estado, mediante assinatura do termo de compromisso de gestão. A tão sonhada aprovação pelo Congresso Nacional da Emenda Constitucional nº 29, promulgada em setembro de 2000, somente aconteceu em setembro de 2011, e tornou-se um importante instrumento legal de gestão. Esta lei determina que: Municípios deverão aplicar 15% de suas receitas no Setor da Saúde. Estados deverão aplicar 12% de suas receitas no Setor da Saúde. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Governo Federal deve aplicar o valor empenhado no exercício financeiro anterior, acrescido do percentual relativo à variação do Produto Interno Bruto (PIB). A forma como ficou aprovada esta lei, no quesito de investimentos do governo federal, não agradou a todos os segmentos. Há vários grupos sociais que compõem os conselhos de saúde que defendem a fixação de um percentual mínimo de investimentos porparte do governo, como estava na proposta original da emenda, que definia o investimento federal em 10% acrescido da variação do PIB. Apesar de tudo, a aprovação da lei trouxe avanços no aporte de recursos para a saúde pois delimitou os gastos da saúde apenas com as despesas especificas do setor. Na formatação anterior, os recursos da saúde poderiam ser usados em investimentos de outros setores, que apesar de serem igualmente importantes para a sociedade e com interface com a saúde, limitavam os investimentos específicos pelo desvio das verbas para outros setores. Exemplo: investimento do dinheiro da saúde em esgoto, na merenda escolar, na alimentação de presidiários. Apesar de importantes, estes setores têm orçamentos próprios e deveriam demandar recursos de suas pastas correspondentes. Assista a entrevista de um representante de um movimento social que defende a fixação da parcela do Governo Federal em 10%: http://pensesus.fiocruz.br/financiamento CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Os principais destaques do Pacto de gestão são: Definição financeira das responsabilidades. Monitoramento das ações implementadas e as auditorias. Ordenamento das ações e atividades. Monitoramento das ações de saúde. Estabelecimento das metas que permitem uma avaliação contínua através dos indicadores de saúde. (BRASIL 2006) (vídeo disponível no material online) Pacto pela vida É constituído por um conjunto de compromissos sanitários, expressos em objetivos e metas, derivados da análise da situação de saúde da população e das prioridades definidas pelo Governos Federal, Estadual e Municipal. O Pacto pela vida deverá ser permanente (BRASIL, 2006). As principais ações de saúde pactuadas foram: Pacto da Atenção básica (ou atenção primária) Ações de Saúde da Criança. Ações de Saúde da Mulher. Controle da Hipertensão. Controle da Diabetes. Controle da Tuberculose. Eliminação da Hanseníase. Saúde Bucal. Gerais (ampliação da cobertura ESF). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 As outras pactuações são: saúde do idoso, saúde do trabalhador, saúde mental, fortalecimento da capacidade de resposta do sistema de saúde às pessoas com deficiência, atenção integral às pessoas em situação ou risco de violência, saúde do homem, fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e as endemias (dengue, hanseníase, tuberculose, malária); Promoção de Saúde, fortalecimento da APS. A adesão dos municípios ao pacto acontece mediante assinatura de contrato, onde os gestores se comprometem com as metas a serem alcançadas e alimentar o SISPACTO, com os dados resultantes das ações. As ações e programas pactuados traduzem-se em melhoria na qualidade de vida das pessoas, e foram selecionadas após os levantamentos das principais necessidades de saúde dos brasileiros. Para que aconteçam as melhorias na saúde que todos os brasileiros necessitam e anseiam, não basta apenas os recursos financeiros, mas também o comprometimento dos profissionais e funcionários da saúde, o compromisso dos gestores e a participação da comunidade através do controle social, monitorando, sugerindo e cobrando dos representantes eleitos para que cumpram as metas propostas. (vídeo disponível no material online) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 Revendo a problematização Após o período de estudos, responda ao desafio apresentado: de que forma eles poderiam ter suas reivindicações atendidas pela Secretaria de Saúde do seu município? a) Uma boa argumentação deve basear-se nos indicadores de saúde da localidade. Dr. Severino, e a enfermeira Jarana devem apontar os indicadores de mortalidade materna-infantil ainda elevados e mostrar como o fluxo estabelecido diminuiria os riscos. b) Argumente com o Secretário de Saúde que a elaboração de protocolos e fluxos de atenção, além de diminuírem a mortalidade materno- infantil, ainda diminuem os gastos com a saúde, evitando deslocamentos desnecessários e custos com traslados e UTI. c) O fluxo de atendimento às gestantes, além de diminuir a mortalidade e economizar recursos financeiros para os cofres municipais, ainda trará ótimos rendimentos políticos pois a população se sentirá satisfeita com a gestão municipal. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Síntese Nesta aula, estudamos as três normativas mais importantes desde a organização do SUS, que direcionaram a gestão nas três esferas governamentais: a NOB 96, a NOAS 2002 e o Pacto pela Saúde 2006. Cada uma dessas normativas teve um importante papel no sentido de aproximar os gestores dos objetivos operacionais, sanitários e financeiros do SUS, em seu devido tempo. O Pacto pela Saúde foi publicado em 2006 com o objetivo de repactuar os compromissos e estabelecer os percentuais de investimento de cada esfera de governamental. O pacto deve ser aceito pelo gestor municipal e estadual mediante assinatura de contrato. A partir da assinatura, as partes comprometem-se com as metas estabelecidas e com o abastecimento do sistema de informações, o SISPACTO. O pacto tem 3 áreas de atuação: o Pacto de gestão, o Pacto em defesa do SUS e o Pacto pela vida. O Pacto pela gestão visa estabelecer as responsabilidades financeiras de cada esfera e criar um sistema de monitoramento que possa permitir a análise dos dados. O Pacto em defesa do SUS reafirma o direito do cidadão à saúde e o SUS como o sistema público provedor desse direito. O Pacto pela vida é permanente e consiste num conjunto de compromissos sanitários que impactam a vida do cidadão e os indicadores de saúde. (vídeo disponível no material online) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 Referências BRASIL, 1997. Ministério da Saúde. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde/ NOB-SUS 96. Gestão plena com responsabilidade pela saúde do cidadão Diário Oficial da União, Brasília, DF. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1996/prt2203_05_11_1996.html. Acesso em 27 abr. 2016. BRASIL, 2002. Ministério da Saúde Portaria nº 373, de 27 de fevereiro de 2002 Norma Operacional de Assistência à Saúde/NOAS-SUS 01/2002, Brasília, DF, 2002. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2002/prt0373_27_02_2002.html. Acesso em: 27 abr. 2016. BRASIL, 2006. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de atenção básica, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. CECÍLIO, L. (et al). O gestor municipal na atual etapa de implantação do SUS: características e desafios RECIIS. Revista eletrônica de comunicação, informação & inovação em saúde, v 1, p 200-207, 2007. Disponível em: <http://www.reciis.icict.fiocruz.br/index.php/reciis/article/viewFile/903/1546>. Acesso em: 27 abr. de 2016. VARGAS D. J. História das Políticas Públicas de Saúde no Brasil: revisão da literatura. Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) – Escola de Saúde do Exército, Programa de Pós-Graduação em Aplicações Complementares às Ciências Militares) - Rio de Janeiro, 2008. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Atividades 1. O redirecionamento das políticas públicas de saúde no Brasil aconteceu a partir de 1988, ano da reforma constitucional e criação do SUS. Os maiores entraves para esta evolução centralizavam-se no quesito “gestão”. Assinale a melhor alternativa compatível com esta afirmação. a) Haveria necessidade da implantação da diretriz descentralização de recursos para que acontecesse a implementação das ações de saúde. b) Um projeto de governo nacional ésuficiente para que possam ser implementadas as políticas de saúde. c) O governo federal disponibilizaria auditores para visitas trimestrais nas capitais, e semestrais nos pequenos municípios, para supervisionar a aplicação orçamentária dos programas d) O pagamento por produção continuaria sendo uma proposta de gestão, porque evitaria fraudes e a descapitalização dos municípios, além da valorização dos procedimentos de maior custo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 2. O Pacto pela saúde de 2006 tem 3 linhas de atuação: a defesa do SUS, a gestão e a vida. A respeito do Pacto em defesa do SUS, assinale a alternativa correta. a) O SUS necessita ser defendido porque há interesses econômicos que desejam sua eliminação. b) O SUS deve refletir o direito do cidadão à saúde, sendo o garantidor desse direito, portanto, uma defesa ideológica com foco no cidadão. c) A permanência do SUS dependerá do seu desempenho. Portanto, a defesa do SUS depende da atuação dos profissionais de saúde. d) A permanência do SUS dependerá da capacidade de articulação dos prefeitos e secretários de saúde, no sentido de pressionar os representantes do congresso para votarem leis de apoio ao sistema e defesa política. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 3. Na dimensão da gestão, o Pacto pela saúde estabeleceu responsabilidades financeiras para cada esfera de gestão. Assinale a alternativa correta. a) Os estados devem contribuir com 15% de seu orçamento para a saúde. b) Os municípios acima de 200.000 habitantes devem contribuir com 20% do orçamento, e os abaixo deste número de habitantes, contribuem com 10%. c) A União deve contribuir com 10% do PIB, corrigindo a cada ano de acordo com a inflação. d) A União deve aplicar o valor empenhado no exercício financeiro anterior, acrescido do percentual relativo à variação do Produto Interno Bruto. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 4. As principais propostas do Pacto pela vida relacionam-se aos principais problemas de saúde da população. Assinale a alternativa correta. a) Os cuidados com a saúde da criança e da mulher visam diminuir os indicadores de morbimortalidade. Suas principais ações se concentram na APS. b) Dengue, malária, tuberculose e hanseníase são doenças consideradas endêmicas, com sua cadeia epidemiológica resolvida e fora do Pacto da Saúde. c) A saúde bucal está integrada na assistência especializada tanto quanto a assistência farmacêutica. d) A organização da rede de atenção às urgências e emergências não está inclusa na pactuação de 2006. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 5. Uma das tarefas pactuadas é a inserção de dados no SISPACTO, uma base de dados alimentadas pelos municípios. Quais as principais utilidades dessa base de dados? a) A base de dados permite o pagamento por produção de cada município. b) A base de dados permite fazer o monitoramento das ações pactuadas e a análise do desenvolvimento de saúde do município. c) A base de dado é considerada para a realização do orçamento do município, negociando o número de atendimentos. d) A base de dados não se relaciona às internações, apenas de ações de atenção primária.