Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O processo de compra dos consumidores: reconhecimento das necessidades e busca de informações Renata Mateus Introdução O consumidor vai às compras, e é preciso compreender a razão pela qual isto acontece, para que as empresas possam disponibilizar produtos que atendam seus desejos e necessidades (vale ressal- tar que serviços também são produtos). Nesta aula, conheceremos o processo de compra do consu- midor e as duas etapas que o compõem: a identificação das necessidades e a busca de informações. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender como o processo de compra acontece e a importância de cada etapa; • identificar os tipos de necessidades. 1 O processo de compra É importante compreendermos tudo que envolve o processo de compra do consumidor, bem como os papéis que o indivíduo desempenha dentro dele. Para Sheth, Mittal e Newman (2001), por exemplo, os papéis podem ser de: • Iniciador: quem percebe uma necessidade não satisfeita. • Influenciador: pode orientar ou modificar a compra do produto. • Decisor: quem toma a decisão da compra, ou parte dela, e autoriza o que comprar, como e onde comprar. • Comprador: pessoa encarregada de realizar a compra. • Usuário/consumidor: pessoa que usufrui do produto. • Avaliador: pessoa que avaliará (positiva ou negativamente) a compra. FIQUE ATENTO! Os papéis podem ser exercidos por diferentes pessoas ou por uma única durante o processo. Além disso, eles podem ser desempenhados por grupos de pessoas, como amigos, por exemplo. Para dar aos consumidores o que eles querem durante o processo, as organizações precisam compreender de que forma eles compram. No modelo do processo de compra de Engel, Blackwell e Miniard (2005), existem seis fases distintas, sequenciais e complementares. • Reconhecimento da necessidade • Busca de informações • Avaliação das alternativas • Compra • Consumo e avaliação • Descarte Figura 1 – O processo de compra Reconhecimento do produto Detecção de uma carência Busca de informação Análise das alternativas Decisão de compra Avaliação pós-compra Estou com sede Reconhecimento do problema Tenho que comprar água Busca de informação Vou a algum lugar comprar água Avaliação das alternativas Quais são as marcas disponíveis? Quais são os preços, quantidades e formatos? COMPRA Compro a água Consumo e avaliação Bebo a água, valeu a pena? Etapa pré-compra Etapa compra Etapa pós-compra Fonte: elaborado pela autora, 2016. Nesse processo, diversos fatores infl uenciarão o comportamento do consumidor em cada etapa. Tais forças externas têm um papel importante nas decisões e ações de compra. • Infl uências sociais: envolve cultura, subcultura, classe social, grupos de referência e família. Aqui também temos as infl uências demográfi cas e socioeconômicas. As primei- ras se referem a características como idade do indivíduo, gênero, estado civil, situação familiar etc. As socioeconômicas, por sua vez, referem-se geralmente ao status, à pro- fissão, ao rendimento, à posição de um indivíduo em um grupo, e ao nível educacional. • Influências situacionais: estão fora do controle das organizações e precisam ser estu- dadas quanto às suas interações com as influências de marketing. Entre elas, podemos destacar o ambiente físico no qual a empresa está inserida, as condições momentâ- neas, como clima ou o humor do indivíduo. • Influências de marketing: estão sob controle da empresa, a qual se utiliza das ferra- mentas: produto; preço; praça; promoção. • Influências internas: são subjetivas e envolvem a personalidade e o estilo de vida do consumidor. A personalidade é complexa e afeta o comportamento de modo significa- tivo e constante, sendo difícil para as empresas utilizá-la. Já o estilo de vida refere-se às atividades que o indivíduo pratica (trabalho, hobby, esporte, compromissos sociais), seus interesses (comida, moda) e opiniões. Figura 2 – Influências no processo de compra Influências sociais Cultura Subcultura Classe social Grupos de referência Família Reconhecimento do produto Busca de informação Análise das alternativas Decisão de compra Avaliação pós-compra Influências Marketing Produto Preço Praça Promoção Reinício do processo em caso de insatisfação Influências Situacionais Ambiente físico Ambiente social Tempo Tarefa Condições momentâneas Influências Internas Percpção Motivação Atitudes Aprendizado Personalidade/ autoconhecimento Estilo de vida Fonte: elaborado pela autora, 2016. O comportamento de compra do consumidor será também influenciado pelo valor da com- pra, pela quantidade de opções e pelas diferenças percebidas entre elas. Pela complexidade desse processo, existem quatro tipos de comportamento. Confira! • Comportamento de compra complexo: há um alto envolvimento na compra e os con- sumidores percebem diferenças expressivas entre as marcas. • Comportamento de compra com dissonância cognitiva reduzida: há um alto envolvi- mento em uma compra de alto valor, incomum e que envolve risco, mas os consumido- res percebem poucas diferenças entre as marcas. • Comportamento de compra habitual: há um baixo envolvimento e poucas diferenças expressivas entre as marcas. Os consumidores escolhem uma marca (que pode ser sempre a mesma) mais por hábito do que por lealdade. • Comportamento de compra em busca de variedade: há um baixo envolvimento e expressivas diferenças entre as marcas. Os consumidores, normalmente, trocam de marca devido à variedade e não necessariamente por insatisfação. A seguir, entenderemos o que é a identificação das necessidades. 2 O que é a identificação das necessidades? A identificação das necessidades, segundo Engel, Blackwell e Miniard (2005) “é uma percep- ção da diferença entre a situação desejada e a situação real suficiente para despertar e ativar o processo decisório”. O consumidor percebe uma diferença expressiva entre seu estado atual e o estado desejado ou ideal, ou seja, há um problema a ser resolvido e um estado de privação, des- conforto, em que o consumidor sente falta de algo, física ou psicologicamente. EXEMPLO O indivíduo possui uma impressora, mas acabou o cartucho de tinta. Seu estado atual é a falta de tinta para poder imprimir seus trabalhos, o que gera um descon- forto e uma necessidade: a de comprar o material que está faltando. O reconhecimento de uma necessidade é ativado por estímulos. Imagine ficar sem café, ver um anúncio de desodorante na rua, ou estar insatisfeito com um sapato desgastado. Quando uma carência se torna muito intensa, transforma-se em necessidade. FIQUE ATENTO! Necessidade é diferente de desejo. Não se pode criar necessidades. Necessidade é diferente de desejo. Desejo é almejar algo que não necessariamente é essen- cial para melhorar a condição atual. Já necessidade significa ter uma condição atual insatisfatória, que levará a uma ação para que a condição seja alterada. EXEMPLO Um indivíduo está com fome, porém ele só tem pão em casa. O pão atenderia sua necessidade, porém ele deseja comer sanduíche. SAIBA MAIS! Confira o artigo que Paulo Francisco Mantello escreveu sobre a motivação para o consumo: “O desejo e suas implicações na contemporaneidade”. Disponível em: <http://bocc.unisinos.br/pag/mantello-paulo-motivacao-para-consumo-desejo- implicacoes.pdf>. As necessidades são ativadas antes mesmo de serem reconhecidas. Acompanhe algumas maneiras de ativar necessidades. • Tempo: a deterioração/obsolescência de um produto pode ativar a necessidade de um novo. • Mudanças de circunstâncias: alterações e mudanças na vida, estado de solteiro para casado ou mudança de local. • Aquisição de produtos: com a aquisição de produtos, pode surgir a necessidade de itensagregados, como seguro de carro, por exemplo. • Consumo do produto: consumir determinados produtos ativa a necessidade de com- prar mais. O próprio consumo pode ativar o reconhecimento de uma necessidade. As organizações podem estimular o reconhecimento das necessidades. É preciso identificar as circunstâncias que desencadeiam determinada necessidade para desenvolver estratégias que provoquem o interesse. A inovação de produtos, por exemplo, é uma forma de estimular a identifi- cação de necessidades, assim como a exposição a um produto por meio de propaganda. Ao estudar o comportamento do consumidor, abordamos atividades habituais como adquirir, consumir e descartar produtos. Além de entender todo o processo decisório, que precede e sucede tais ações. 3 Tipos de necessidades Maslow apresenta as necessidades do ser humano dispostas em prioridades e hierarquias. Nessa hierarquia, o indivíduo passa de um nível a outro conforme suas necessidades vão sendo satisfeitas. É importante lembrar que esses níveis são independentes, assim a satisfação de um não elimina a necessidade de outro (KARSAKLIAN, 2004). Figura 3 – Níveis de necessidades Nível Produtos Básico/Fisiológico Emprego Alimentação Roupa Moradia Saúde Segurança Emprego Fixo Plano de Saúde Acesso a Reméridos Casa Própria Seguro Aceitação Social Clubes Jantar fora Roupas Associações Carro Estima/Reconhecimento Roupas de marca Elogios Casa bonita Promoção no trabalho Auto-realização/Auto-estima Reconhecimento Férias Carro do ano Alimentos refinados Esportes Hobbies Fonte: elaborada pela autora, 2016. SAIBA MAIS! O professor Ricardo Schlatter Bohrer escreveu um artigo que aborda a Teoria de Maslow de forma mais aprofundada. “Motivação - abordagem crítica da teoria de Maslow pela propaganda” está disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901981000400004>. Além disso, existem diferenças entre necessidades genéricas e seletivas: a) necessidades genéricas: são básicas para manutenção. Exigem baixo poder de persu- asão e a fonte é a interna para ativação. b) necessidades seletivas: são diferenciadas, exigem alto poder de persuasão e a fonte é externa para ativação. 4 Processos determinantes e busca de informações Após identificar uma necessidade, o consumidor passa a buscar informações sobre o produto que atenderá sua necessidade. Ele pode até passar por essa etapa rapidamente, agindo por impulso e efetuando a compra, porém pode ter sua atenção ampliada, tornando-se mais receptivo a infor- mações sobre um produto. É posssível também que ele inicie uma busca ativa por informações. Primeiramente, há uma busca interna, que é lembrar-se de experiências/compras passadas que possam tê-lo satisfeito. Caso tais informações não sejam suficientes, o indivíduo passa a fazer uma busca externa por outras fontes. Figura 4 – Processo de busca de informações Reconhecimento da necessidade Determinantes de busca interna Conhecimento existente. Habilidade para recuperar conhecimento armazenado. Prossegue com a decisão Empreende busca externa Busca interna Busca interna bem-sucedida SIM NÃO Fonte: elaborada pela autora, 2016. Essas fontes podem ser pessoais (família e amigos), comerciais (propagandas, vendedores, embalagens, vitrines ou até mesmo a internet), públicas (mídias), e também experimentais (manu- seio, exames ou test drive do produto). FIQUE ATENTO! À medida que informações adicionais são obtidas, a consciência e o conhecimento do consumidor em relação às marcas e aos atributos disponíveis aumentam. O indivíduo, portanto, passa a conhecer marcas concorrentes e seus atributos. Essa busca por informações externas pode ser classificada em dois níveis de interesse: busca moderada e ativa. No primeiro, o consumidor possui uma atenção elevada para determi- nado produto e fica mais receptivo a informações sobre ele. O segundo ocorre quando o próprio indivíduo vai atrás de informações sobre o produto. Fechamento Chegamos ao final do conteúdo, que abordou o processo de compra do consumidor e suas particularidades. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • compreender como o processo de compra acontece e a importância de cada etapa; • identificar os tipos de necessidades. Referências BOHRER, Ricardo Schlatter. Motivação: abordagem crítica da teoria de Maslow pela propaganda. Rev. adm. empres., São Paulo, v. 21, n. 4, p. 43-47, dez. 1981. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?s- cript=sci_arttext&pid=S0034-75901981000400004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 08 nov. 2016. ENGEL, James; BLACKWELL, Roger; MINIARD, Paul. Comportamento do consumidor. 9. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. KARSAKLIAN, Eliane. Comportamento do consumidor. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004. ______. Comportamento do consumidor. São Paulo: Atlas, 2000. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin L. Administração de marketing. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. MANTELLO, Paulo Francisco. Motivação para o consumo: O desejo e suas implicações na con- temporaneidade. Biblioteca Online de Ciências da Comunicação (BOCC), 2012. Disponível em: <http://bocc.unisinos.br/pag/mantello-paulo-motivacao-para-consumo-desejo-implicacoes.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2016. SHETH, Jagdish; MITTAL, Banwari; NEWMAN, Bruce. Comportamento do cliente: indo além do comportamento de do consumidor. São Paulo: Atlas, 2001. SOLOMON, Michael R. O comportamento do consumidor: comprando, possuindo e sendo. 7. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008.
Compartilhar