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1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV EXECUÇÃO CIVIL e PROCEDIMENTOS ESPECIAIS (7º período – FASEC) Prof.ª Ramilla Cavalcante TEORIA GERAL DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS Um procedimento é especial por opção política, em que o legislador entende que determinada relação jurídica de direito material pode ser mais conveniente do que o procedimento comum, tornando-a mais simplificada, com características particulares – ex. dos Juizados Especiais Cíveis. Dividem-se em procedimentos especiais de jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária. DA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO Meio alternativo para que se libere o devedor da obrigação creditícia mediante o depósito (judicial ou bancário) do valor devido, a fim de se evitar a mora – forma indireta de pagamento. SITUAÇÕES DE CONSIGNAÇÃO (artigo 335 do CPC/15): a) Mora do credor – as três primeiras hipóteses versam sobre o credor que não quer/não pode receber (inciso I) – ex. do funcionário que não aparece na empresa para receber as verbas rescisórias, seja porque não obedeceu ao lugar/modo convencionados – ex. do recebimento de soja em Mafra (inciso II) ou por demais obstáculos subjetivos ou objetivos (inciso III) – doença, militar em guerra, desastre natural da natureza que cause isolamento; b) Dúvida objetiva sobre a quem pagar – dúvida sobre quem é o credor (inciso IV) – ex. de credor falecido que não abriu inventário para habilitar os herdeiros, ou o pagamento esteja sob litígio (inciso V) – ex. de companheiro que contesta a venda de um bem que pertence ao patrimônio comum do casal. MODALIDADES DA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO a) EXTRAJUDICIAL (Lei n° 8.951/94) – requisitos: obrigação em dinheiro, depósito em estabelecimento bancário oficial (exceção de lugares onde não houver, podendo ser feito em banco privado), depósito efetuado no lugar do pagamento e providência pelo devedor de certificar posteriormente o credor, por carta com aviso de recebimento; Regramento previsto na Resolução n° 2.814/2001 do Banco Central do Brasil. b) JUDICIAL 2 LEGITIMIDADE: DEVEDOR ou TERCEIRO COMPETÊNCIA: juízo do local onde a obrigação deva ser satisfeita (arts. 540 e 53, III. “d”, do CPC/15). PETIÇÃO INICIAL: apresentada com os requisitos gerais do art. 319, somando- se dois pedidos específicos previstos no art. 542 do CPC/15: a) Depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado no prazo de cinco dias contados do deferimento, ressalvada a hipótese do art. 539, § 3º; b) A citação do réu para levantar o depósito ou oferecer contestação. Obrigação em $: depósito em conta judicial Obrigação diversa de $ (coisa): designação de depositário judicial para guarda do bem até o fim do processo. DEFESA: Réu aceita – procedência do pedido e pagamento da sucumbência; Réu apresenta contestação – matérias limitadas ao art. 544 do CPC/15: I – não houve recusa ou mora em receber a quantia ou coisa devida; II – foi justa a recusa; III – o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; IV – o depósito não é integral, devendo indicar o montante que entender devido (réu pode aceitar levantar o valor e prosseguir pela diferença ou autor pode complementar o valor). DA AÇÃO DE EXIGIR CONTAS – arts. 550 a 553 do CPC OBJETIVO: obrigar alguém a apresentar documentos que comprovem receitas e despesas realizadas no interesse de terceiro – ex. das contas que devem ser prestadas pelo tutor ou curador ao tutelado ou curatelado, pelo administrador judicial da falência, pelo inventariante, pelo testamenteiro em 4 relação aos herdeiros, pelo síndico ao condomínio, pelo sócio que administra a sociedade aos demais sócios, entre outros. NATUREZA: ação bifásica, em que num primeiro momento a parte é citada para prestar contas, podendo o réu prestar ou contestar negando esse dever, e caso haja valores em aberto, uma segunda fase de eventual restituição de valores. LEGITIMIDADE: a) ATIVA – aqueles cujos bens são administrados por outrem; 3 b) PASSIVA – inventariante, tutor, curador, depositário, dentre outros, aos quais são outorgadas a gestão ou administração de interesses ou bens de outras pessoas. COMPETÊNCIA: foro do local onde deva ser satisfeita a obrigação (art. 53, IV,”b”, CPC/15). EXCEÇÕES: art. 553, CPC (apenso aos autos principais) PETIÇÃO INICIAL: petição inicial deve conter os requisitos do art. 319, CPC, bem como do art. 550, CPC, como as razões pelas quais as contas são exigidas, comprovadas documentalmente, se possível. Necessário comprovar a recusa do gestor/administrador em prestar contas ou prestá-las de forma defeituosa. PROCEDIMENTO: gráfico em sala de aula Primeira fase: verificar o dever do réu em prestar contas; Segunda fase: caso apurado o dever de prestar contas, é o momento do réu cumprir essa determinação judicial; Terceira fase: havendo saldo devedor, o autor poderá executá-lo pelo valor devido. DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS (artigos 554 a 559, CPC) Posse é uma situação de fato tutelada pelo direito e, portanto, não constitui direito real. ART. 1.196, CC: “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.” 3.1. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE: a) Quanto ao exercício (art. 1.197, CC): DIRETA – quando há contato direto com a coisa; INDIRETA – exercida por via reflexa (ex. locador de um imóvel); b) Quanto à legitimidade (art. 1.202, CC): POSSE DE BOA-FÉ – ato de posse de acordo com a lei ou na convicção/ignorância da posse correta; POSSE DE MÁ-FÉ – artigo 1.202, CC: “a posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente.” c) Quanto à integridade da posse (art. 1.200, CC): 4 JUSTA – definição que se abstrai por exclusão, sempre que a posse não for injusta, será justa; INJUSTA – posse violenta, clandestina ou precária. d) Quanto ao tempo (art. 558, CPC): POSSE NOVA – é a que existe há menos de ano e dia; POSSE VELHA – é a que existe há mais de ano e dia. e) Quanto à proteção: POSSE “AD USUCAPIONEM” - é a posse que gera aquisição da propriedade; POSSE “AD INTERDICTA” – gera o direito de se defender a posse por meio das ações possessórias (interditos possessórios). DEFESA DA POSSE POR AUTOTUTELA - em regra, compete ao Estado o poder-dever de solucionar conflitos. Porém, a autotutela é admitida excepcionalmente no caso da posse, conforme previsto no art. 1.210, § 1º, do Código Civil, em que o possuidor pode manter-se ou restituir-se na posse por força própria, se o fizer logo. 3.2. LEGITIMIDADE a) ATIVA: possuidor direto e indireto; b) PASSIVA: aquele que viola ou ameaça violar a posse do autor, podendo ser um grupo de pessoas (art. 554, § 1º, CPC/2015). 3.3. PETIÇÃO INICIAL E COMPETÊNCIA: regras gerais do art. 319, CPC, sendo endereçada ao foro de situação do imóvel (art. 47, § 2º, CPC/15) ou ao foro de domicílio do réu, se for bem móvel. 3.4. PROCEDIMENTO: a) Procedimento especial - seguirão o rito especial (liminar obtida apenas com a prova da posse legítima o ajuizamento da ação em menos de um ano e dia) as ações possessórias ajuizadas em até um ano e dia da data em que houve a turbação ou esbulho (art. 558, CPC/15). Caso contrário, a posse será velha e o procedimento será o comum (liminar obtida por meio de tutela de urgência – art. 300, CPC). Necessária prova pelo autor de que exerce direitos à propriedade legitimamente – tem direito à proteção possessória prevista no artigo 1.210 do Código Civil. 5 b) Natureza dúplice – o réu pode demandar proteção possessória e até mesmo indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor (art. 556, CPC/15) – a improcedência do pleito possessório acarreta na automática declaração da posse justa do réu (situação ativa).c) Exceção de domínio – não cabe às partes discutir propriedade em sede de ação possessória e enquanto pendente esta, é vedado ao autor e réu propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se for em desfavor de terceira pessoa – art. 557, CPC/15): se trata de condição suspensiva, sendo possível a apresentação de ação reivindicatória ao final da possessória. d) Cumulação de pedidos – o art. 555 do CPC aduz que é possível ao autor cumular na petição inicial pretensões de reparação de danos causados pelo réu ao bem (inciso I) e a seus frutos (inciso II) junto ao pedido de tutela provisória, bem como que requeira a imposição de medida “necessária e adequada” com o fim de se evitar nova turbação ou esbulho ou o cumprimento da tutela a ser concedida (parágrafo único). PRESTAÇÃO DE CAUÇÃO PELO AUTOR – art. 559, CPC: o réu poderá demonstrar a impossibilidade financeira de o autor, caso lhe seja concedida provisoriamente a manutenção ou a reintegração de posse, responda por perdas e danos em caso de condenação, podendo o juiz fixar prazo de 05 dias para fixar caução. CITAÇÃO DO RÉU – novidade do CPC permitindo um número elevado de pessoas, podendo o oficial de justiça fazer a citação pessoal somente daqueles que forem encontrados no local, sendo os demais citados por edital, com intimação do Ministério Público e Defensoria Pública, se for o caso. FUNGIBILIDADE – art. 554, CPC/15: o pedido de tutela possessória, se equivocado, não impede que seja apreciado, podendo ser por alteração da situação fática (ex. de quando propõe interdito possessório pela ameaça iminente e quando a liminar está para ser cumprida, ocorre a invasão) ou por erro sobre a agressão (dificuldade de aferir a correta agressão à posse). DA MANUTENÇÃO E DA REINTEGRAÇÃO DE POSSE – arts. 560 a 566, CPC/15 REQUISITOS FUNDAMENTAIS (art. 561, CPC): a) a sua posse; b) a turbação ou esbulho praticado pelo réu; c) a data em que houve a turbação ou esbulho; d) a continuidade da posse turbada na primeira, e a perda da posse na segunda. AGRESSÃO À POSSE DEFINIÇÃO INTERDITO ESBULHO Perda total ou parcial da posse – ex. de indivíduo que Reintegração da posse 6 se utiliza de cômodo de um sítio sem a sua autorização. TURBAÇÃO Embaraço ao livre uso da posse, com perda de alguns elementos de fato sobre a coisa, mas não a posse – hipóteses em que esse mesmo indivíduo tome posse de todo o imóvel, impedindo o acesso à propriedade Manutenção da posse POSSÍVEIS DESDOBRAMENTOS JUDICIAIS: atendidos os requisitos legais do art. 561, CPC/15, o juiz poderá determinar a expedição de mandado liminar ou, caso não convencido, a designação de audiência de justificação prévia com citação do réu para comparecimento – prazo da defesa conta a partir da decisão que deferir ou não a liminar (art. 563, CPC/15). Litígios coletivos em sede de ação coletiva (art. 565, CPC/15) – designação de audiência de mediação em esbulho ou turbação ocorridos há mais de ano de ano e dia, facultando ao juiz o comparecimento pessoal à área objeto de litígio coletivo. INTERDITO PROIBITÓRIO – artigos 567 e 568, CPC/15 Cabível nos casos em que houver ameaça ao exercício da posse – justo receio de ser molestado em seu direito: expedição de mandado proibitório pelo juiz, com fixação de pena pecuniária em caso de desobediência. Art. 568, CPC/15: aplicam-se as normas relativas às ações de reintegração e manutenção de posse. AÇÕES DE DEMARCAÇÃO E DIVISÃO DE TERRAS Apenas terras particulares seguem o procedimento especial do CPC; as terras devolutas, que são bens públicos dominicais, são objeto das denominadas ações discriminatórias previstas na Lei nº 6.383/76. Ação de divisão e demarcação de terras Previsão: arts. 569 a 598 do CPC Objetivo: dividir ou demarcar terras particulares Ação discriminatória Previsão: Lei nº 6.383/76 Objetivo: reconhecer domínio de bem público ainda não devidamente estremado e proceder a sua demarcação. CARACTERÍSTICAS GERAIS: Ações de natureza dúplice – o juiz pode demarcar os limites entres as terras ou dividir um imóvel comum. 9 Possibilidade de cumulação das ações (artigo 570, CPC/15) – a demarcação total ou parcial do bem 7 comum será processada em primeiro lugar, com a citação de confinantes e condôminos, para que posteriormente se proceda à divisão – procedimento previsto no artigo 572, CPC/15. Possibilidade de demarcação ou divisão extrajudicial (artigo 571, CPC/15): interessados maiores, capazes e estiverem de acordo quanto à necessidade e forma como se dará a demarcação ou a divisão – exigência de escritura pública e de outorga uxória dos interessados casados, exceto no regime de separação de bens. Dispensa de prova pericial (artigo 573, CPC/15): no caso de imóvel georreferenciado (coordenadas e limites geograficamente identificados), com averbação no Registro de Imóveis. ESPÉCIES: I - AÇÃO DE DEMARCAÇÃO DE TERRAS (artigo 569, I, c/c artigos 574 a 587, todos do CPC/15): serve para que o titular de um domínio saiba quais os limites entre o seu terreno e o outro, que não estejam esclarecidos ou que seja necessário aviventar – direito potestativo do proprietário sempre que houver dúvida quanto aos limites entre dois imóveis previsto no artigo 1.297, CC. PETIÇÃO INICIAL (artigo 574, CPC/15): o autor deve instruir a ação com os títulos que comprovem a propriedade do imóvel cujos limites serão demarcados, com identificação da situação e denominação do terreno, descrição dos limites a serem constituídos, aviventados ou renovados, indicando, ainda, todos os confinantes da linha demarcada. LEGITIMIDADE: quem for o proprietário do imóvel (alguns autores entendem que o possuidor pode propor ação demarcatória de posse). Havendo copropriedade, a ação poderá ser proposta por qualquer deles, com intimação dos demais para, querendo, intervir no processo (artigo 575, CPC/15). COMPETÊNCIA: o foro competente é o da situação do imóvel. PROCEDIMENTO (artigos 576 a 578, CPC/15): as citações serão feitas por correio ou por edital, com a publicação de edital (caso de interessados incertos ou desconhecidos). Citação dos réus para apresentar defesa, seguindo o procedimento do rito comum. Nomeação de perito(s), que apresentará minucioso laudo sobre o traçado da linha demarcanda (arts. 579 a 580, CPC/15) 10 O procedimento possui duas sentenças distintas: a primeira reconhece os limites do imóvel e impõe a restituição da porção que estiver sob o poder do vizinho vencido no processo. Após o trânsito em julgado, tem-se a fase de demarcação, que será realizada pelo perito, com a colocação dos marcos necessários, ensejando a prolação da segunda sentença, com a função de homologar o trabalho do perito e natureza declaratória. II - AÇÃO DE DIVISÃO DE TERRAS (artigo , CPC/15): PETIÇÃO INICIAL: o autor deve instruir a ação com os títulos que comprovem o domínio do imóvel objeto do litígio, indicando a origem da comunhão, a descrição detalhada do imóvel, a qualificação completa dos demais condôminos, bem como as benfeitorias comuns. 8 LEGITIMIDADE: qualquer dos coproprietários do imóvel (alguns autores entendem que o possuidor pode propor ação de divisão de terras). Se o condômino for casado, deve obter o consentimento do cônjuge (artigo 73, CPC/15). PROCEDIMENTO: citação nos moldes da ação de demarcação, com concessão do prazo de 15 dias para contestação e, em seguida, observará o procedimento comum. Nomeação de perito para medição do imóvel (artigo 590, CPC/15) Intimação dos condôminos que não tiverem apresentados os seus títulos para que o façam em dez dias e formular suas pretensões acerca da constituição dos quinhões (artigos 591 e 592, CPC/15) – primeiro momento em que o juiz decidirá pela necessidade ou não de divisão do bem, seguida da fase de efetivação dessa divisão. Benfeitorias permanentes dos confinantes feitas há mais de 1 (um) ano deverão serrespeitadas (artigo 593 do CPC). Após a sentença de divisão, os confinantes do imóvel dividendo poderão requerer a devolução de terrenos que lhes tenham sido indevidamente usurpados, assim como os quinhoeiros terão direito a haver dos outros condôminos a composição pecuniária proporcional ao desfalque sofrido (artigo 594, §§ 1º e 2º, CPC/15). Proposta do perito de forma da divisão (artigo 595, CPC/15): laudo que deverá observar a comodidade das partes, respeitar, para adjudicação a cada condômino, a preferência dos terrenos contíguos às suas residências e benfeitorias e evitar o retalhamento dos quinhões em glebas separadas. Deliberação do juiz quanto à partilha, com demarcação pelo perito dos quinhões e organização do memorial descritivo – lavratura do auto de divisão, sendo proferida sentença homologatória da divisão (artigos 596 e 597 do CPC/15).
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