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Sabrina Feitosa de Sousa Psicoterapias - abordagem cognitivo comportamentalUDF História e Filosofia da TCC Na década de 1960, a Revolução Cognitiva começou a surgir. Na década 70, os primeiros textos cognitivos foram publicados. A TCC começou a se formar contradizendo teorias que eram dominantes na época (Knapp & Beck, 2008). A pesquisa de Albert Bandura a respeito dos modelos de processamento de informações e aprendizagem vicária, somadas às evidências empíricas encontradas nos estudos sobre o desenvolvimento da linguagem levantou questionamentos sobre a abordagem comportamental tradicional. Um número cada vez maior de terapeutas começou a se identificar como terapeutas cognitivos - comportamentais, alguns mais importantes foram: Beck, Cautela, Meichebaum, Ellis e Mahoney (Knapp & Beck, 2008). Várias teorias cognitivos-comportamentais começaram a surgir. As TCCs são classificadas em 3 tipos: 1. Terapias de habilidades de enfrentamento: tem por objetivo auxiliar ao paciente a desenvolver uma série de comportamentos que o auxilie a lidar com situações traumáticas; 2. Terapias de solução de problemas: tem por objetivo auxiliar ao paciente a desenvolver habilidades para lidar com problemas pessoais; e 3. Terapias de reestruturação: tem por objetivo reformular pensamentos distorcidos que causam problemas emocionais (Knapp & Beck, 2008). A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) se mostra eficaz para o tratamento de transtornos ansiosos, depressivos e alimentares. Existem várias teorias cognitivas, mas a terapia cognitiva mais conhecida é a terapia de Aaron Beck. Em 1956, Beck testou pressupostos da psicanálise relacionados à depressão (isso será descrito mais adiante na sessão Terapia Cognitiva). Diferença entre TC e TCC → TC: terapia cognitiva - caracterizada pela ênfase da influência do pensamento distorcido e da avaliação irrealista sobre os comportamentos e sentimentos do indivíduo; e → TCC: terapia cognitivo- comportamental (abarca a TC padrão e combinações de técnicas cognitivas e comportamentais) (Knapp & Beck, 2008). Diferença entre terapias comportamentais e cognitivas As terapias comportamentais utilizam dois pressupostos básicos para explicar tudo: o comportamento operante e o comportamento respondente, ignorando a cognição. As terapias cognitivas utilizam o comportamento e crenças, não ignorando a cognição, mas dando ênfase a ela. Além disso, é comum terapeutas cognitivos utilizarem técnicas baseadas em evidências (PBE). Psicoeducação A psicoeducação tem por objetivo: 1. aumentar o conhecimento do paciente sobre o seu próprio transtorno mental. Sabrina Feitosa de Sousa Psicoterapias - abordagem cognitivo comportamentalUDF Assim, o terapeuta lhe fornece informações sobre sintomas, mecanismos envolvidos na origem e transmissão do transtorno, recaídas, como lidar com os déficits causados pelo transtorno, tratamentos disponíveis e seus efeitos colaterais. 2. fazer o paciente conhecer a terapia e suas estratégias. Reestruturação Cognitiva É o processo de correção de distorções cognitivas, de percepções e interpretações erradas ou distorcidas. Nesse processo, comportamentos e emoções são modificados. Em outras palavras, são mudanças dos pensamentos automáticos, crenças e esquemas cognitivo disfuncionais. 1. Pensamentos automáticos: são ideias prontas sobre um determinado contexto. Geralmente, quando são distorcidas ou irrealistas, são catastróficas e negativas, dando origem a emoções e comportamentos perturbadores, como a esquiva fóbica. São pensamentos imediatos que estão na fronteira de nossa consciência. São interpretações imediatas sobre tudo o que nos acontece. Geralmente, são tidos como verdadeiros, pois a maioria das pessoas não está treinada para monitorá-los. Os pensamentos distorcidos que dão origem aos PAs são esquemas ou crenças nucleares (Knapp & Beck, 2008). 2. Crenças subjacentes, crenças nucleares ou esquemas cognitivos: são estruturas cognitivas que começam a se formar já na infância. Elas dão origem às afirmativas (crenças nucleares), às suposições ou regras (crenças intermediárias) sobre o próprio indivíduo, seu contexto e seu futuro. Esquemas são estruturas cognitivas duradouras que armazenam ideias para interpretar novas experiências. Um esquema (ou crença) é ativado por situações semelhantes à situação que lhe deu origem. Assim, guiam o comportamento do sujeito (Knapp & Beck, 2008). As distorções cognitivas nem sempre são percebidas pelo próprio indivíduo. E são responsáveis por comportamentos e emoções disfuncionais. “Os homens não se perturbam pelo que acontece, e sim pela percepção delas”. Em outras palavras, a frase acima quer dizer que a interpretação das coisas é mais importante, pois é como percebemos o que aconteceu. Insight Usado para se referir ao grau de conhecimento que o paciente tem sobre seus problemas. É, portanto, um aumento de autoconhecimento e capacidade de auto-observação. Martin Seligman – Teoria do Desamparo Aprendido Por meio de um experimento com um rato, Seligman explicou a depressão. No experimento, o rato ficava quieto, pois aprendeu que seria punido independente do que fizesse. Aplicando o experimento à depressão, Seligman explicou que o depressivo enxerga o mundo como punitivo, por isso prefere não fazer nada, pois será punido de qualquer forma. Sabrina Feitosa de Sousa Psicoterapias - abordagem cognitivo comportamentalUDF Terapia Racional Afetiva Comportamental (RET) A RET ou Terapia do ABC foi criada por Albert Ellis. Explicando o ABC: • A = ativador que é o que você faz • B = “believe” que significa “crença” em português • C = consequência que é a consequência do que você fez • D = debate no qual o terapeuta ataca a crença, enquanto o paciente a defende, então inverte-se os papeis, o terapeuta defende a crença, enquanto o paciente a ataca (com esse debate Ellis pretendia que o paciente racionalizasse suas crenças) Modelos Conceituais De Modificação Cognitivo-Comportamental 1. Treinamento de autoinstrução: desenvolvida por Donald Meichenbaum em 70. Tem foco na relação entre autoinstrução verbal e comportamento. Dá ênfase às tarefas graduais, como modelagem cognitiva, orientação do treinamento mediacional e auto-reforço (Knapp & Beck, 2008). 2. Treinamento de inoculação de estresse: também desenvolvida por Donal Meichenbaum, é uma abordagem com foco em habilidades de enfrentamento. É baseada no pressuposto de que ao aprender a lidar com níveis baixos de estresse, os pacientes se tornam inoculados contra altos níveis de estresse (Knapp & Beck, 2008). 3. Terapia de solução de problemas: foi desenvolvida por D'Zurilla e Goldfried em 71. Tem por objetivo treinar habilidades reais de soluções de problemas (Knapp & Beck, 2008). 4. Terapia racional emotiva comportamental (TREC): foi desenvolvida apor Albert Ellis, sendo uma das primeiras TCCs. Ellis propôs um modelo que chamou de ABC: A. ativador - é a situação que ativa a crença; B. crença - vem de "believe" em inglês; e C. consequências - podem ser as reações emocionais, comportamentais e fisiológicas (Knapp & Beck, 2008). A TREC tem como objetivo fazer o paciente questionar seus pensamentos distorcidos e irreais por meio do debate (racionalização) (Knapp & Beck, 2008). 5. Terapia Construtivista: a teoria cognitiva estrutural foi introduzida no início da década de 80. As teorias construtivistas enfatizam o processo de formação do pensamento e seu significado, em vez do conteúdo do pensamento (Knapp & Beck, 2008). Semelhanças Entre As TCCs As TCCs compartilham 3 semelhanças principais: 1. Papel mediacional da cognição ou Hipótese de mediação:a percepção do mundo influencia no que sinto e no modo que me comporto (ou seja, media meus sentimentos e comportamentos); 2. A cognição é acessível ou Hipótese de acesso: a cognição é passível de ser acessada, ou seja, é possível monitorar, avaliar e medir a atividade cognitiva; e 3. Mudança de comportamento ou Hipótese de mudança: por meio da Sabrina Feitosa de Sousa Psicoterapias - abordagem cognitivo comportamentalUDF mudança cognitiva, é possível alterar o comportamento (Knapp & Beck, 2008). O que define a TCC é a crença de que a melhora dos sintomas ou a mudança nos comportamentos pode ser realizada por meio da mudança cognitiva (alterando pensamentos disfuncionais) (Knapp & Beck, 2008). A maioria das TCC define limite de tempo: a. para depressão e ansiedade não complicadas: 12 a 16 sessões; e b. para tratamento de transtornos crônicos ou de personalidade: 1 a 2 anos (Knapp & Beck, 2008). Quase todas as TCCs são aplicadas a transtornos ou a problemas específicos - isso reflete a natureza de documentar efeitos terapêuticos (Knapp & Beck, 2008). A maioria tem o paciente como agente ativo do seu tratamento. Além disso, a maioria são psicoeducativas e, em consequência, pressupõe que o paciente aprenderá recursos para lidar com seus problemas e prevenir recaídas. Assim, o paciente se torna o seu próprio terapeuta (Knapp & Beck, 2008). Terapia Cognitiva Foi construída por Aaron Beck que estava testando a teoria freudiana sobre a depressão como raiva retroflexa. Entretanto, invés de encontrar raiva e hostilidade, sua pesquisa sobre os sonhos demonstrou que os pacientes deprimidos se sentiam derrotados, fracassados e com sensação de perda. Além disso, encontrou que os sonhos eram parecidos com os conteúdos dos pensamentos em vigília, então concluiu que os sonhos são reflexos dos nossos pensamentos em vigília. Assim, Beck concluiu que a depressão é um conjunto de interpretações negativas sobre o mundo (Knapp & Beck, 2008). Além disso, Beck também encontrou que os pacientes ansiosos tem uma tendência a perceber o futuro como negativo. O princípio fundamental da TC é que: o modo como percebemos as coisas influência diretamente no modo como nos sentimos e comportamos. Portanto, desde sua formulação, o objetivo da TC é reformular esses pensamentos distorcidos(Knapp & Beck, 2008). → Modelo diátese-estresse: crenças disfuncionais podem aumentar o risco do desenvolvimento de certas psicopatologias, pois a cognição e o afeto estão diretamente relacionados (Knapp & Beck, 2008). → Empirismo colaborativo: o paciente e terapeuta trabalham juntos na modificação de crenças. Para isso, o terapeuta realiza o questionamento socrático para que o paciente tenha um insight sobre suas crenças disfuncionais (descoberta guiada) (Knapp & Beck, 2008). Em todo o tratamento, é utilizada a abordagem colaborativa e psicoeducativa com o objetivo de ensinar o paciente: 1. a monitorar seus PAs; 2. a compreender a relação entre afeto, cognição e comportamento; 3. a testar seus PAs e crenças nucleares, para identificar quais são reais ou disfuncionais; e 4. a modificar seus pensamentos disfuncionais (Knapp & Beck, 2008). O terapeuta tem uma abordagem colaborativa com o paciente, o auxiliando no processo de identificar focos para a Sabrina Feitosa de Sousa Psicoterapias - abordagem cognitivo comportamentalUDF terapia, a modificar seus pensamentos e combinam tarefas colaborativamente. O plano de tratamento da terapia é discutido com o paciente. O feedback sobre a sessão é solicitado ao paciente, ao fim de cada sessão (Knapp & Beck, 2008). A conceitualização de caso deve ser realizada desde o início do tratamento, de preferência, de forma colaborativa com o paciente. Conforme novos dados vão surgindo na terapia, a conceitualização de caso é atualizada. A conceitualização de caso é extremamente importante para realizar o planejamento do tratamento, pois é ela quem irá guiar as intervenções terapêuticas (Knapp & Beck, 2008). Na conceitualização de caso deve ter: 1. avaliação histórica de padrões de pensamentos; 2. avaliação do paciente sobre esses padrões de pensamentos; 3. estratégias comportamentais que o paciente tem para lidar com suas crenças. A seguir, segue um exemplo do Diagrama de Conceitualização Cognitiva feito por Judith Beck: Em casos que precisam de ativação comportamental, técnicas comportamentais podem ser de grande ajuda para o paciente. Por exemplo: no tratamento de depressivos. Por outro lado, em casos que a ativação comportamental não é necessária, deve-se priorizar técnicas cognitivas. No caso particular de pacientes com transtornos de ansiedade, a cognição deve ser trabalhada, antes de incluir experimentos comportamentais (Knapp & Beck, 2008). Inicialmente, o tratamento tem como foco identificar os PAs. Assim, o terapeuta pode fazer perguntas como "o que está pensando?". Para identificar distorções cognitivas, o terapeuta pode questionar: "existe outra forma de explicar essa situação?" ou "essa explicação segue a lógica dos fatos que você observou?" (Knapp & Beck, 2008). PAs negativos são antecedentes de emoções negativas e inibições de comportamentos. A sequência ABC de Ellis é uma técnica útil para rastrear emoções, comportamentos e pensamentos. Outra técnica com o mesmo objetivo é o Registro de Pensamento Disfuncional (RPD) de Judith Beck. A seguir, segue um exemplo da RPD: Sabrina Feitosa de Sousa Psicoterapias - abordagem cognitivo comportamentalUDF Crenças nucleares e crenças subjacentes são avaliadas da mesma forma que os PAs, ou seja, verificando sua veracidade a fim de corrigi-las (Knapp & Beck, 2008). A técnica do ensaio cognitivo tem como objetivo ajudar ao paciente a pensar em outras soluções ou pensamentos que não sejam disfuncionais. Solicita-se ao paciente que imagine determinada situação que ative um esquema disfuncional para que pense em uma nova estratégia funcional para lidar com a situação (Knapp & Beck, 2008). Todos os pensamentos do paciente são tidos como hipóteses que precisam ser testadas a fim de verificar se são verdadeiros ou não (Knapp & Beck, 2008). O modelo cognitivo da TCC é: Em resumo, a situação desencadeia pensamentos que geram reações emocionais, comportamentais e/ou fisiológicas. • Atenção! Ao aplicar técnicas, deve-se ter o cuidado de não sobrecarregar o paciente com tarefas que estão além de suas capacidades atuais (Knapp & Beck, 2008). 5 Ideias Chaves da Ciência Cognitiva 1. A mente não fica vazia, mas é possível focar em um pensamento. 2. Os comportamentos podem ser infinitos. 3. Alguns mecanismos mentais são inatos para todos os seres humanos, como a capacidade de aprender a linguagem e emoções. 4. Informação, computação e feedback. 5. A mente é um substrato do cérebro complexo que interage com o cérebro. 3 Pontos para Construir uma Teoria (segundo Beck) 1. Construir uma teoria. 2. Pesquisar bases empíricas para a teoria. 3. Realizar estudos empíricos para a teoria. • A TCC incorpora técnicas de outras teorias com base em evidências. Esquema do Funcionamento Psíquico na TCC • Crença Central: é a forma como o indivíduo se percebe (como eu me percebo). É formada na infância a partir de relações significativas. A partir dessa crença, se forma uma “lente” para interpretar as situações. São ativadas em determinadas situações. São rígidas e supergeneralizadas, geralmente ignoram outras informações, levando em consideração apenas aquelas que estejam de acordo com a crença. É o modo como o sujeito se definiu. • Crença intermediária: atitudes e regras. São criadas a partir da crença central. São tentativas de dar sentido ao mundo. Sãoregras, um Situação Pensamento Reações Crença Central Crença Intermediária Pensamento Automático Sabrina Feitosa de Sousa Psicoterapias - abordagem cognitivo comportamentalUDF raciocínio do tipo “se... então...”. São crenças subjacentes ou condicionais mais enraizadas que os Pensamentos Automáticos. • Pensamento Automático: são pensamentos pré-conscientes e aparecem automaticamente. É o nível mais superficial da cognição, são espontâneos. Podem ser imagens ou palavras reais. É o que percebemos da situação que ocasiona a emoção. Surgem a partir das crenças. Referências Knapp, P., & Beck, A. T. (2008). Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia cognitiva. Revista Brasileira de Psiquiatria, 30(suppl 2), s54–s64. https://doi.org/10.1590/S1516- 44462008000600002
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