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Strategic Sourcing Unidade I Prof. Mario Dias SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 3 1. STRATEGIC SOURCING – METODOLOGIA .................................................................. 4 1.1 Custo de aquisição ........................................................................................................... 5 1.2 Ênfase na importância do material ou serviço ................................................................. 6 1.3 A função compras ............................................................................................................. 7 2. PERSPECTIVA ESTRATÉGICA DAS COMPRAS .......................................................... 8 2.1 Ações de compras na estratégia geral ............................................................................. 9 2.2 Gerenciamento da área de compras .............................................................................. 10 3. COMPETITIVIDADE ....................................................................................................... 11 4. MAPEAMENTO DE PROCESSOS ................................................................................ 14 4.1 Revisão nas ações de compras no processo ................................................................. 14 4.2 Revendo a relação com fornecedores ........................................................................... 15 4.3 Análise das propostas e seleção da fonte de suprimento .............................................. 17 5. ESTRATÉGIA NAS COMPRAS ..................................................................................... 19 5.1 Concretização das contratações .................................................................................... 19 5.2 Comprar ou fabricar? ...................................................................................................... 20 5.3 O analista de compras nessa conjuntura ....................................................................... 21 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 23 BIBLIOGRAFIA............................................................................................................................ 23 3 INTRODUÇÃO Na estratégia, decisiva é a aplicação. Napoleão Bonaparte. Napoleão Bonaparte, foi um líder político e militar francês e imperador de maio de 1804 a abril de 1814 e por poucos meses em 1815. Ela é digna de atenção por simbolizar uma realidade pouco percebida: em um certo momento, é necessário finalizar o planejamento e iniciar a execução. A melhor estratégia possível de ser elaborada, se não for implementada, não terá qualquer valor. A função “compras” no contexto das organizações tem conquistado relevância crescente. Em passado não tão distante, o processo de adquirir era tido em conta como puramente operacional. Havia a necessidade de se obter materiais e de ter serviços prestados e era incumbência de compras garantir a consecução dessas tarefas. Como decorrência, o departamento de compras era percebido como uma área sugadora de recursos financeiros e sem muita competência. A percepção dos vários departamentos que usufruíam do trabalho de compras era de haver demora excessiva no atendimento das necessidades, de serem forçados a aceitar mercadorias de marcas com menos notoriedade e ainda assim os preços pagos por elas serem elevados. A própria evolução dos mercados consumidores motivou a mudança dessa mentalidade. A concorrência por participação nesses mercados se acirrava constantemente. Como decorrência, foi ficando cada vez mais evidente a importância de dispor de produtos inovadores tecnologicamente e, para alcançar essa condição, a contribuição de compras era indispensável. Estudos sobre como modernizar as ações da área, qualificar os profissionais alocados e associar os objetivos da área com os da organização ganham vulto continuamente. Nesse contexto, a visão estratégica se faz presente e temos então o nascedouro do strategic sourcing. 4 STRATEGIC SOURCING – METODOLOGIA Um senhor com idade avançada vivia sozinho. Ele queria cavoucar o jardim e plantar flores, mas não era capaz. Seu único filho estava preso. O homem escreveu a ele: “Estou velho para cavar a terra. Se você estivesse aqui, sei que me ajudaria”. O pai recebeu um telegrama do filho: “Pai, não escave o jardim! Foi onde escondi os corpos”. As correspondências eram monitoradas e às quatro da manhã do outro dia, vários policiais apareceram e cavaram o jardim inteiro, sem encontrar corpo algum. O velho escreveu ao filho contando o fato e recebeu a resposta: “Pode plantar seu jardim, pai. Isso é o máximo que posso fazer daqui” (autor desconhecido). Uma boa estratégia pode não solucionar todos os problemas, mas proporciona um belo avanço. Quando se analisa a estratégia aplicada ao departamento de compras, avulta- se o processo de strategic sourcing. Podemos estabelecer como sendo esta metodologia o detalhamento planificado das aquisições com o propósito de reestruturar continuamente as atividades de compras para aperfeiçoá-las e, mais importante, mantê-las atualizadas com as práticas modernas, as quais surgem ininterruptamente. No modelo convencional de compras, as etapas se aplicam indistintamente a todos os materiais e serviços solicitados. O processo segue a estrutura básica abaixo descrita: 1. Compras recebe solicitação para contratar serviço ou adquirir mercadoria. 2. A área verifica se as aprovações da requisição obedecem às competências estabelecidas pela organização, definindo quem pode pedir o quê. 3. O comprador escolhe fornecedores cadastrados para consulta e solicita encaminhamento de propostas. 4. Entre as propostas recebidas, é selecionada aquela mais apropriada aos objetivos da compra. 5. O comprador pode emitir diretamente o pedido se o valor estiver dentro de sua alçada ou encaminhá-lo para a aprovação do fornecedor assinalado. 6. A partir da aprovação do fornecedor, emite-se o pedido; cópias são distribuídas internamente e a via original é enviada ao vendedor. 7. A área de compras realiza o follow-up dos pedidos para se assegurar da manutenção do prazo de entrega fixado. 5 8. O material ou serviço é entregue no cliente, inspecionado e colocado à disposição do usuário. 9. Finalmente o fornecedor é pago e o processo se encerra. O esquema descrito evidencia o caráter operacional dessa abordagem. Cumpre ressaltar, entretanto, como ele é adequado para a maioria dos itens a serem comprados, característicos por serem de valor reduzido e menor importância na operação da organização. No âmbito de compras estratégicas, o foco é distinto. É possível refletir sobre o tema do modo a seguir: 1. Arquitetar programa estratégico visando a seleção de fornecedores adequados à obtenção das metas fixadas pela organização; 2. Identificar fornecedores com excelente desempenho, superior aos demais, para formalizar parcerias estratégicas com fixação de padrões de performance com acompanhamento permanente; 3. Estudar detidamente os produtos e serviços demandados para serem personalizados na medida exata das necessidades dos usuários, possibilitando menor custo global com atendimento customizado. De modo mais objetivo, a metodologia básica de strategic sourcing está fundamentada em conceber o plano de fornecimento com pormenorização dos passos nos campos tático e operacional. Inúmeros desses procedimentos seguirão o modelo convencional, até porque este acabou sendo consagrado por ser eficiente em muitos casos. No modelo de planificação, particular ênfase será conferida à qualificação dos requisitos das compras, com asespecificações dos materiais sendo pormenorizadas em atuação conjunta com as áreas usuárias de qualidade, projetos, estoques e outras mais com contribuição a oferecer. Finalmente, mas nem por isso menos importante, é essencial o estabelecimento de metas para os custos almejados. Retomando a importância da execução no processo, é mandatório estipular tempo para as ações caracterizando o início e o término do fornecimento em função das etapas decididas. Naturalmente a consideração do tempo é sempre uma estimativa e, portanto, está sujeita a variações, mas a noção de duração ajustada oferece rumo à condução do processo. 1.1 Custo de aquisição A metodologia de strategic sourcing dá sentido mais amplo à questão do custo em oposição à análise do preço exclusivamente. No ambiente de compras, é comum os profissionais darem especial atenção ao preço oferecido pelo fornecedor na proposta apresentada. Trata-se de condicionamento transmitido de forma natural pelos compradores mais experientes para os ingressantes na profissão. Cabe o destaque de que, em 6 muitos casos, não há interferência na escolha do fornecedor, pois o detentor do menor preço pode também ser quem propõe o menor custo. Não é admissível um analista de compras treinado não elaborar uma análise mais abrangente: é necessário compreender que o preço é parte integrante do custo, mas não responde sozinho pela sua totalidade. Quando se examina o custo de um produto ou serviço, devem ser considerados: 1. preço sugerido pelo proponente; 2. incidência de frete; 3. necessidade de embalagem e desembolso; 4. ocorrência de reajuste no preço ofertado; 5. incidência de impostos e sua potencial recuperação; 6. prazo de pagamento e custo financeiro associado; 7. outros aspectos específicos de compras especiais. Da subdivisão acima avulta a razão pela qual o preço individualmente não é suficiente para a análise da aquisição em termos de procedimentos e tomada de decisão. Não obstante o destaque acima sobre preço e custo, desconsiderar os demais parâmetros pode levar à escolha totalmente equivocada da proposta de fornecimento. 1.2 Ênfase na importância do material ou serviço Pela profundidade e expressivo consumo de tempo de um processo de strategic sourcing aprofundado, fica clara a impossibilidade de usar a mesma metodologia para todos as mercadorias e serviços a serem comprados. É imperativo haver múltiplas abordagens, algumas sobremaneira simples e outras bastante sofisticadas. Determinar a abordagem será reflexo da relevância do objeto do processo na operação da organização. Nessa conjuntura, sistemas de classificação de materiais como ABC e XYZ são indispensáveis. No sistema ABC, por exemplo, fundamentado na relevância financeira do material, itens da classe A, aqueles de mais recurso destinado no período escolhido para comparação, serão os merecedores de mais tempo na análise e condução do processo de suprimento. Os critérios de fixação de níveis de estoque, de lote econômico e de periodicidade de reposição resultarão dessa avaliação. 7 1.3 A função compras Inicialmente vale reforçar o fato de uma metodologia de strategic sourcing não ter foco exclusivo na aquisição, mas sim em essencialmente toda a cadeia de suprimentos (supply chain é o termo em inglês). Pela natureza do curso, a atenção será mais concentrada na função compras, e sobre ela, é justo sublinhar: Atenção à necessidade do usuário, centralizando o esforço nas ações necessárias para disponibilizar o objeto da compra em total conformidade com o requisitado. O solicitante é soberano para definir marcas, modelos, tipos e tudo capaz de potencialmente individualizar o item ou serviço. Observação rigorosa do fator tempo no atendimento da solicitação. Cumpre lembrar como atrasos e antecipações são igualmente indesejados no quadro geral. Fiscalizar, junto aos fornecedores, as performances no atendimento dos prazos combinados são indispensáveis para garantir o suprimento. Viabilizar o volume fixado na solicitação de modo a possibilitar o pleno cumprimento das operações vinculadas ao objeto da aquisição. É útil rememorar a existência de softwares específicos para determinar o lote mais apropriado para reduzir os custos de estocagem em equilíbrio com a redução dos riscos de falta. Concentrar esforços em conseguir a proposta capaz de permitir alcançar o menor custo possível, compatível com a busca em atingir as metas enunciadas nos itens acima. O conceito de strategic sourcing é resposta a um mercado em permanente evolução. Aquilo capaz de atender hoje a necessidade da empresa, amanhã poderá estar superado por algo inovador. Dispor de ferramentas para fazer frente a esse constante desenvolvimento é parte do desafio submetido aos analistas de compras no exercício das suas atividades. A disputa pela atenção do consumidor é cada vez mais intensa e equipar-se com as últimas tendências de produtos e serviços faz diferença nesse processo. Como qualquer consumidor deseja ter acesso a bons produtos, mas anseia por reduções no preço em consequência de ganhos decorrentes de novas tecnologias e aumento de produtividade, as empresas perseguem de forma incessante mecanismos para cortar custos, e mais uma vez compras está no centro desse “redemoinho”. Entre as ações recomendadas para a consecução de metas de custos, avultam: importação de países com custos menores para os produtos; terceirização de atividades para firmas especializadas e com potencial para atuar mais produtivamente e oferecer menores custos. Em linha para ratificar essa recomendação, cabe lembrar a citação de Jennings (2002): “A maioria dos estudos anteriores revelou que a redução foi o motivo da terceirização”. 8 PERSPECTIVA ESTRATÉGICA DAS COMPRAS Um novo presidente é contratado para tornar a empresa mais produtiva. Em seu primeiro dia, vê um rapaz encostado na parede com as mãos no bolso e ar entediado. Para revelar a nova diretriz, o presidente pergunta: “Quanto você ganha por mês, rapaz?”. Ele responde: “Mil reais”. O presidente tira a quantia do bolso, dá a ele e diz: “Tome seu salário e suma daqui”. O rapaz pega o dinheiro e sai sem responder. O presidente então pergunta a outros funcionários por perto o que o rapaz fazia ali e ouve que ele viera entregar pizza e esperava o pessoal juntar o dinheiro para pagar (autor desconhecido). Conclusão: analise bem a situação antes de tomar qualquer decisão! Nas organizações, há grande empenho dos administradores em planejar o aumento nas vendas com consequente crescimento da participação no mercado e na elevação dos lucros. Afinal, é a partir desses objetivos que a longevidade da empresa se viabiliza. O desafio central da estratégia está no fato de todos os players se moverem com a mesma finalidade. Nesse cenário, ganha destaque a possibilidade de ações estratégicas nas aquisições ajudarem no alcance das metas vistas no parágrafo anterior. Sobre isso, Baily (2002) destaca como comprar pode gerar mais lucro em comparação a vender mais, realçando esse potencial de contribuição dos departamentos de compras. Afinal, se é incumbência do departamento de compras concretizar a obtenção dos bens e serviços necessários para a plena operação em conformidade com o planejamento elaborado (e nessa missão há significativa utilização de recursos financeiros), a conclusão imediata é que das ações de compras planejadas “brotam” inúmeras reduções de custos. A atuação dos compradores deve seguir um roteiro adequado para ir ao encontro da estratégia traçada para a companhia. Afinal, a soma das contribuições individuais das áreas produzirá os ganhos de produtividade e a elevação nos lucros pretendidos. A ação de compras produz efeitos por meio de um agente externo à organização: o fornecedor. Em razão dessa premissa, destaca-se a obrigatoriedade de se estabelecer métodos eficientes e eficazesde gestão de fornecedores para atingir os objetivos táticos e operacionais fixados. Quando se analisa a administração do cadastro de fornecedores, surge a inevitabilidade da existência de sistema de compartilhamento de informações com esses mesmos fornecedores. Equívoco capaz de cobrar preço elevado é a percepção de alguns sobre a necessidade de ser mantido sigilo sobre todos os assuntos relacionados ao fornecimento, como se a missão da empresa vendedora fosse apenas viabilizar o plano do cliente, sem poder participar de discussões técnicas ou de engenharia relacionadas ao desenvolvimento de produtos. 9 Esta visão é retrógada e responsável por eliminar várias grandes empresas do mercado por não terem acesso a soluções mais modernas e desempenho superior, resultado da contribuição das fontes de materiais e serviços no processo. Basta raciocinar brevemente para concluir como empresas especializadas em seus segmentos de atuação podem apontar soluções técnicas mais adequadas e sugerir materiais mais apropriados para desempenhar tarefas. Depender apenas do desenvolvimento interno da engenharia da empresa, muitas vezes defasada tecnologicamente, pode custar a existência do negócio. 2.1 Ações de compras na estratégia geral Cabe ao departamento de compras atuar na capacitação dos supridores buscando alinhá-los com as particulares exigências da companhia, buscando extrair do processo de suprimentos todos os benefícios possíveis. Organizar reuniões com departamentos da empresa permite subsidiar o vendedor de informações e particularidades sobre o material ou serviço pretendido, sendo parte dessa estratégia de alinhamento e produzindo efeitos no relacionamento comercial no longo prazo. Para acompanhar a evolução do processo e o desenvolvimento dos fornecedores, é recomendável a elaboração de indicadores de performance, os conhecidos KPI (Key Performance Indicator). Como é de conhecimento de todos os envolvidos com metodologias de qualidade, somente o que é medido pode ser gerenciado. Se o objetivo é a gestão estratégica das fontes de suprimentos, fixar indicadores de desempenho e acompanhá-los permanentemente é indispensável para o sucesso do sistema. Eventuais dúvidas sobre as variáveis a serem medidas podem surgir. Naturalmente, merecem destaque aquelas diretamente relacionadas ao departamento de compras: qualidade e ajuste às especificações fixadas; quantidade do fornecimento; prazo de entrega da mercadoria ou da prestação do serviço; custos negociados e contratados. A maioria das empresas tem outros parâmetros sob controle: os acima listados são os mais relevantes e frequentemente acompanhados. Cabe ao analista de compras identificar outros aspectos e analisá-los em função das particulares demandas da própria organização. Outra ação com potencial sinérgico é envolver as áreas usuárias dos serviços de compras no desenvolvimento do fluxo de informações para a eficiente concretização das aquisições. Cabem nesse processo analisar definições importantes no processo de aquisição como, por exemplo, o modelo de requisição a ser adotado, as informações obrigatórias e a antecedência para encaminhamento das requisições de compras. 10 Envolver outras pessoas de áreas clientes de compras propiciará a construção de um fluxo de dados consistente e com potencial para agilizar o processo de modo geral. Por terem tido a chance de serem ouvidas e opinarem, o comprometimento dessas pessoas nos procedimentos deverá ser incentivado. 2.2 Gerenciamento da área de compras Em consulta ao dicionário, o termo “gerenciamento” indicará a ação de planejar, estabelecer e executar um elenco de atividades para o cumprimento dos trabalhos necessários para a consecução dos objetivos fixados. Gerenciar envolve atuar na concepção de planos estratégicos, decidir sobre alternativas para a solução de problemas, agir na elaboração das rotinas da área, distribuir as atividades entre os colaboradores, interagir com outras áreas, certificar- se da correta execução das tarefas e orientar o esforço coletivo na obtenção das metas atribuídas. A evolução dos modelos de administração saiu do padrão de foco na execução das múltiplas tarefas do cotidiano para atingir metas e objetivos. O gestor deve estipular as metas para a área sob sua influência e dizer o que espera da sua equipe, sempre ajustando suas expectativas aos “objetivos macro” da organização. Como os resultados do departamento de compras advêm dos fornecedores, nesse modelo de gestão é essencial integrar as necessidades próprias com o potencial de atuação dos supridores. Deve-se cobrar deles compromisso com os parâmetros negociados, impedir que se desviem de suas metas e garantir o feedback apropriado para ajustarem a atuação nos aspectos devidos. Como em qualquer área da empresa, os resultados só serão alcançados se existir acompanhamento e medição da performance individual e coletiva. Estabelecer critérios para essa avaliação é parte importante do gerenciamento do departamento. Novamente vale a ressalva de tais critérios serem definidos com base em aspectos importantes para o alcance dos resultados. De nada vale medir um atributo se a contribuição dele no todo for muito pequena. Como destacam Dias e Costa (2003), apenas um pequeno número de empresas tem condições de avaliar corretamente a performance do departamento. Nesse processo, é válido fazer uso de planilhas eletrônicas para controlar aspectos não abrangidos pelo sistema informatizado da organização. Questões como o prazo médio entre a chegada da requisição no departamento até a emissão do pedido de compras são exemplos de acompanhamento útil. 11 COMPETITIVIDADE Todas as organizações podem entregar resultados melhores. Jim Collins Jim Collins é autor de best-sellers sobre liderança e negócios como Empresas feitas para vencer. Sua citação aponta como a competição e a longevidade no mercado começam internamente. Antes de acompanhar concorrentes externos a serem superados, toda empresa deveria estar permanentemente vigilante sobre as possibilidades de melhoria de seus produtos, dos serviços oferecidos aos clientes e das operações necessárias para tanto. Uma versão atualizada do próprio negócio já o fará estar mais bem posicionado na disputa pela preferência do consumidor. O mercado é um ente impreciso: resulta dos desejos e da capacidade de compra de milhões de consumidores individuais e é a soma das preferências de cada um deles que define as expectativas desse mercado. Um problema complicador dessa equação é derivado das inovações tecnológicas. A cada dia surge uma solução nova para uma questão rotineira. Essa nova opção muda as preferências dos consumidores e altera o rumo do mercado. Para se manter nesse ambiente permanente de mudança, é imprescindível monitorar a inclinação do mercado e ajustar-se rapidamente às novas demandas. Nesse cenário, compras é um “ator” incumbido de desempenhar “papel” crucial. É a porta de entrada para fornecedores ávidos para apresentar seu mais novo produto, fruto de mudanças mercadológicas e tecnológicas. O comprador deve ser receptivo a essas oportunidades, não se permitindo comportamento reacionário capaz de desperdiçar uma oportunidade somente por não ter percebido de imediato suas possibilidades. No âmbito da competição, é possível relacionar três fatores de grande importância para a conquista da atenção do cliente: custo; qualidade; disponibilidade. Em um primeiro exame, parecem ser atributos antagônicos na medida em que produtos mais sofisticados comumente têm preços mais elevados e acesso mais restrito. Porém, se na percepção das pessoas uma determinada marca transmitir essa sensação, ela se apossará do interesse do consumidor e estabelecerá novo patamar de excelência a ser perseguido pelos demais competidores (forma superficial de conceituar benchmarking).12 Michael Eugene Porter, americano professor de Harvard e autor de diversos livros sobre estratégias de competitividade, desenvolveu o modelo das “cinco forças de Porter”, apresentado por meio do artigo: “As cinco forças competitivas que moldam a estratégia”, publicado em 1979 na Harvard Business Review. Nesse trabalho, ele enumerou as seguintes forças: 1. Rivalidade entre concorrentes: a disputa pelo mercado tem foco no preço do produto, na inovação e em ações de marketing. Em ambientes de acirrada disputa, os concorrentes buscam exaustivamente captar clientes e, para isso, reduzem suas margens insensatamente com a competição focando em redução nos preços e descontos para quantidades. Chama a atenção o fato de esse sistema se desenvolver para atender as pessoas: o lucro passa a ser decorrência; 2. Poder de negociação dos clientes: consumidores exigem continuamente produtos e serviços com mais qualidade, mas não se dispõem a pagar mais por isso. Essa atitude provoca um ambiente de disputa entre os concorrentes pela atenção dos compradores em função do poder deles de colocar pressão nas empresas. Essa influência decorre de variáveis como preço total da compra e existência de produtos substitutos; 3. Poder de negociação dos fornecedores: empresas possuidoras de matérias-primas, componentes e serviços usam isso como fonte de poder. Afinal, um fornecedor pode se recusar a trabalhar com determinada empresa ou cobrar preços exorbitantes por recursos exclusivos. Influem também o grau de diferenciação das mercadorias, o custo do fator de produção quando comparado ao preço de venda do produto e dispor de somente um fornecedor, que pode sair do mercado ou elevar os preços de insumos muito acima da concorrência; 4. Ameaça de novos entrantes na disputa por mercado e pelos recursos vultosos: se existirem barreiras de entradas, será mais difícil a fixação do novo concorrente no mercado. Entretanto, caso um novo player se instale, haverá perda de rentabilidade das demais empresas. Barreiras de entrada dificultam para o novo concorrente “roubar” os melhores clientes. Se ele conseguir se colocar no mercado, acabará com os piores clientes, assim, avaliará a conveniência de ingressar nesse mercado; 5. Ameaça de produtos substitutos capazes de desempenhar funções semelhantes e comprometer a posição de marcas tradicionais: se produtos com potencial para executar funções semelhantes surgirem, afetarão as empresas estabelecidas. Substitutos provocam reduções nos lucros em função do aumento no número de concorrentes, dos preços e da qualidade por eles oferecidos em comparação com os negócios estabelecidos. Essa possível concorrência é acentuada pela disposição do consumidor em mudar de marca considerando fatores como a relação entre o preço e o benefício decorrente, a qualidade do produto, sua utilidade percebida pelo cliente na comparação, entre outras possibilidades. Sob o horizonte da área de compras, a competitividade será perseguida pela obtenção de redução de custos nas contratações. Muitas vezes o sentimento comum é que esse objetivo será alcançado apenas pelas negociações de fato concretizadas. Na verdade, vai muito além disso. Uma seleção de fornecedores a serem consultados efetuada com competência originará propostas mais favoráveis e resultará em economia. Como reforçam Dias e Costa (2003), a seleção de fornecedores busca ser amostra do mercado e somente 13 se obterá sucesso nesse projeto se forem escolhidos os fornecedores que melhor representem o mercado (DIAS; COSTA, 2003). Cabe relembrar a incoerência em buscar negociar todos os processos de compras, quer seja pela limitação de tempo quer pelo fato de os resultados serem inferiores se comparados a haver foco nos casos de mais impacto financeiro. De fato, essa é a recomendação: centrar atenção nas compras envolvendo mais quantidade de recursos financeiros. Neles há mais potencial de redução de custos e consequentemente uma economia mais expressiva. Além de se concentrar nos custos, o analista de compras precisa manter vigilância a possíveis inovações introduzidas no ambiente de negócios. Os avanços da ciência permitem visualizar novas soluções para problemas já existentes. Em geral tais soluções somente prosperam se forem de qualidade superior e com custos menores. Se um concorrente encampa uma dessas novas possibilidades, ele estará em posição mais vantajosa. Merecem também um olhar dedicado os parâmetros de qualidade e prazos no momento de decidir em qual fornecedor colocar o pedido. Muitas vezes o elemento custo nubla a visão do comprador e este perde de vista outras possibilidades. Saber manter-se alerta e crítico é a melhor forma de não se deixar enganar pelas aparências. Examinar detidamente as particularidades de cada proposta oferece a chance de detectar a oportunidade de negociar uma condição melhor para um produto mais qualificado. 14 MAPEAMENTO DE PROCESSOS Quando o ritmo de mudança dentro da empresa for ultrapassado pelo ritmo da mudança fora dela, o fim está próximo. Jack Welch Jack Welch foi CEO da General Electric por mais de 20 anos. Jack é coautor, com a esposa Suzy Welch, de Paixão por vencer (2005) e O MBA da vida real (2016). A citação é apropriada considerando o propósito de demonstrar como modelos funcionais, em um passado próximo, podem perder a eficiência em um ambiente em permanente alteração. O processo de strategic sourcing é justamente a resposta da cadeia de suprimentos a novos desafios impossíveis de serem superados com velhas práticas. Como foi visto no capítulo 1, a forma usual de aquisição começa com o recebimento da requisição de materiais, seguido pela seleção dos fornecedores e solicitação de propostas com posterior análise das recebidas e escolha do proponente mais qualificado para a emissão do pedido. Tudo se encerra com o follow-up motivando a entrega e o fornecedor sendo pago. Deve ser destacado como em muitas compras esse modelo ainda produz bons resultados. Não há razão para não ser empregado nas contratações de serviços e materiais de baixo custo e relevância. Um esforço mais intenso sobre estas classes de bens não resultará em diferenças expressivas no desfecho. 4.1 Revisão nas ações de compras no processo Do ponto de vista de ação estratégica de compras, a primeira recomendação é revisar as especificações dos principais materiais com os usuários e com outras áreas qualificadas para o assunto. A razão da existência de compras é atender as necessidades dos clientes internos satisfatoriamente. Para atender essa condição, é indispensável acompanhar as mudanças nas demandas dos solicitantes, sendo aconselhável apresentar alternativas, caso existam, para contribuir com o processo de modernização das operações. Outra providência acertada é analisar as informações históricas de demanda interna e verificar a correlação com a oferta do mercado. É bastante improvável que qualquer uma delas seja linear. O normal para ambas é um comportamento do tipo “ondas”, isto é, com altos e baixos. Como influenciar no mercado é virtualmente impossível, associar sua demanda a ele é a opção certa. Buscar concentrar as compras em momentos nos quais a oferta está elevada, e por isso os preços tendem a ser menores, é a política de suprimentos mais indicada. Naturalmente esta ação não se aplica a todos os itens de estoque, mas se destina aos pertencentes às classes A e B de materiais, aqueles com mais concentração de recursos financeiros. Para as mercadorias da classe C, a 15 recomendação, em termos de política de compras, é haver mais espaçamento entre as aquisições, sendo esta tática viabilizada com níveis de estoque mais elevados. Aproveitando o ensejo da aplicação da classificação ABC, é oportuno destacar como a ordenação dos materiais deve levar em conta o custo total de aquisição. Para isso, a atitude esperada é a reavaliação de todos os custosincidentes nas mercadorias. Para ilustrar como algumas possibilidades podem ser esquecidas, o caso das perdas por obsolescência, quebras e extravios de estoque é exemplar. Hipoteticamente, um determinado rolamento tem um índice de perda pelas razões acima e eventuais outras de 3%. Isto significa que, se o consumo efetivo for de 970 unidades mensais, devem ser adquiridas, para cada mês, o total de 1.000 unidades de rolamentos. No estabelecimento de custo efetivo por unidade, deve-se dividir o valor total de aquisição de 1.000 itens pelo volume de fato compreendido na fabricação mensal de produtos acabados, isto é, 970 peças. Nesse reexame dos custos, conforme acabou de ser demonstrado, pesquisar todas as possibilidades é indispensável para a correta alocação. Nos casos mais expressivos financeiramente, uma ação prática consiste em refazer o fluxo com o propósito de averiguar omissões e corroborar aqueles considerados previamente. Ressalte-se ser importante verificar, tanto interna quanto externamente, a ocorrência de fatos produtores de custos. Observar exclusivamente o próprio ambiente pode induzir a erros. Neste tema, a recomendação é mudar o foco do preço proposto para o custo total. Afinal, além do preço, há o frete, as embalagens, os impostos e os custos de operação, manutenção e armazenagem, só para ficar em algumas possibilidades. A caracterização do custo total exige examinar o processo de compra e posterior armazenagem e a utilização do produto ou serviço. Essa avaliação depende da ação conjunta entre comprador, cliente interno e fornecedor. 4.2 Revendo a relação com fornecedores No reexame do processo convencional com o fito de torná-lo mais produtivo, não se admite ignorar a importância dos fornecedores. Afinal, eles são o destino da maior parte do dinheiro da empresa, logo, estar seguro de escolher sensatamente o proponente e dar a melhor destinação ao recurso é prioritário. Por assim ser, há recomendações, em quase todos os livros de compras, sobre a importância da revisão periódica das informações acerca dos fornecedores. Revalidar capacidade financeira, técnica e comercial são obrigações permanentes do comprador. Se esse trabalho for desenvolvido de modo contínuo, destinando uma pequena fração do dia para isso e concentrando-se nos momentos de menor demanda da atenção do comprador, haverá a segurança de dispor de fornecedores bem qualificados e o tempo consumido na tarefa não comprometerá as demais atividades. Outro ato produtivo consiste em firmar alianças com os fornecedores dos materiais essenciais. Especial atenção deve ser destinada à comunicação. Esta precisa ser bidirecional, colocando tanto o comprador como o vendedor no mesmo patamar, com a responsabilidade conjunta de gerenciar o relacionamento. 16 Em outras palavras, engloba representantes das duas partes agindo juntos para aperfeiçoar o relacionamento cliente x fornecedor. Como recomendações para extrair os melhores resultados da relação, temos: desenvolva meios para sustentar um relacionamento profícuo e intenso; estabeleça um programa destinado a analisar e solucionar problemas; elabore objetivos para aperfeiçoamento permanente, gerando mais valor para todos os envolvidos; desenvolva indicadores de desempenho, acompanhe periodicamente e, nas ocasiões de desvio de rota, atue e dê feedback para retomar a trajetória desejada. Ainda no sentido de afinar a relação com fornecedores, é básico fixar rotinas e documentá-las fartamente para posterior divulgação e esclarecimento junto aos fornecedores. Essa prática propiciará esclarecer dúvidas, orientar as ações dos supridores e tornar mais ágil o processo de abastecimento. Claro está que a documentação deve ser elaborada considerando o fato de, posteriormente, estar disponível no ambiente externo, logo, informações confidenciais e práticas de exclusivo interesse interno devem ser excluídas desse tipo de comunicação. Se esse esforço tem por intuito tornar a cadeia de suprimentos mais eficiente e eficaz, estruturar categorias para os fornecedores vai ao encontro dessa meta. Organizar as fontes de suprimentos em função de características comuns dos produtos, do tipo de mercado no qual se situam e características de aplicação são respostas a demandas por mais efetividade no atendimento das necessidades de bens e serviços. A literatura relaciona múltiplas formas de categorizar fornecedores, mas a recomendação é conjugar qualidades dessas alternativas na elaboração de solução própria, customizada para as particulares necessidades da organização, com ênfase nos critérios mais utilizados para identificar as empresas a serem contratadas. Outra alteração na abordagem histórica está na maneira de encarar os vários processos de compras no tempo. Na forma costumeira, é praxe interpretar cada aquisição como um fim em si, desconsiderando aquisições anteriores e buscando apenas a maior redução de custos possível na negociação com o atual fornecedor. O modelo estratégico considera cada nova aquisição como mais uma oportunidade de tornar o relacionamento com o fornecedor parceiro mais profícuo pela reiterada confiança depositada. Esse tratamento tem o efeito subconsciente de induzir o fornecedor a concretizar as entregas com elevados padrões de performance, perseguindo a consistência na consecução da compra. De fato, trata-se de criar incentivos para o fornecedor buscar sempre se sobressair e o maior deles é a oportunidade de deter a preferência do cliente. Nesse modo conjunto de atuação, o foco está nas competências do vendedor e tem por objetivo alcançar metas de longo prazo; para assegurar o envolvimento dele, é componente importante a elaboração conjunta dos requisitos a serem atingidos. Usualmente o cliente estabelece seus critérios de performance e simplesmente os comunica aos pretensos parceiros, porém, em análise menos rasa, fica claro se 17 tratar de relação unilateral, pois uma das partes pretende possuir o monopólio do controle da situação. A consequência comum é o baixo comprometimento do supridor com as metas. 4.3 Análise das propostas e seleção da fonte de suprimento Quando as organizações examinam os vários processos, o de compras envolvido, procuram construir um quadro de atividades cujo desenlace seja maximizar o lucro. Essa forma de administrar é lógica, pois o objetivo primário de toda empresa é produzir bons resultados. Desse modo de atuar resultam múltiplos objetivos estipulados para todas as áreas e, no caso de suprimentos, não é diferente. A gestão de compras é a maneira do departamento de elevar a eficiência e a eficácia nas suas ações e, com isso, alcançar as metas fixadas. Dentro de uma conduta planejada, são indicados meios diferentes de concretizar as aquisições. O conceito é tratar de modo desigual entes que são desiguais. Quando se trata de materiais e serviços de pequeno valor e reduzida importância na operação do negócio, a recomendação é dispor do mínimo de tempo possível na finalização da contratação. Em tais casos, não há benefício em consultar vários fornecedores e examinar minuciosamente cada oferta. De fato, com apenas uma proposta contemplando os parâmetros básicos, é possível encerrar o assunto e dedicar-se a temas mais produtivos. Ainda para itens com o perfil recém-estudado, a negociação de contratos por períodos semestrais ou anuais é outra boa orientação. Haverá a necessidade de mais dedicação em um primeiro momento para não ser necessário lidar com o assunto nos meses subsequentes. E tudo isso sem prejuízo dos resultados desejados pela empresa. O foco para tais contratos deverá estar na qualidade envolvida no fornecimento e no estrito cumprimento dos prazos negociados. Indicadores de desempenho monitorarão esses aspectos de forma primordial, pois o custo é secundário em tais processos. Por outro lado, bens e serviços de valor elevado ou indispensáveis às operações merecema dedicação de mais tempo na análise dos inúmeros dados envolvidos – foco está em reduzir custos competentemente e garantir impecável cumprimento dos prazos e da qualidade demandada. Pelo expressivo movimento de dinheiro em tais situações, obter grande quantidade de propostas é extremamente desejável. De fato, o ideal consiste em contatar e solicitar ofertas de todos os fornecedores cadastrados. A posse de um vasto elenco de propostas eleva as possibilidades de executar a aquisição com bom ganho. Em oposição à conduta sugerida para itens de baixo valor, aqui se deve examinar meticulosamente cada proposta dando máxima atenção a todos os detalhes capazes de interferir no resultado da contratação. O foco natural está na redução dos custos do suprimento sem, contudo, descuidar de atribuir preferência ao fornecedor de qualificação superior como mecanismo de segurança na consecução do plano de fornecimento negociado. Nesse 18 particular ponto, é mandatório definir metas de desempenho para o período contratado em comum acordo com o fornecedor. Mais uma vez, engajar o vendedor nos procedimentos de avaliação aumenta seu comprometimento em atender aos padrões. A continuidade do processo de aquisição prevê algumas ações administrativas, como a emissão dos documentos, entre eles destacando-se o pedido de compras. Com o propósito de elevar a confiabilidade da execução da entrega, há a realização do follow-up e, em muitos casos, essa atribuição pode ser cedida ao departamento solicitante, principal interessado no atendimento da necessidade. O efetivo pagamento ao fornecedor na data acertada é o ponto final e, ao contrário do que muitos analistas de compras interpretam, apenas neste momento sua responsabilidade finaliza. 19 ESTRATÉGIA NAS COMPRAS É mais importante adotar a estratégia correta do que buscar o lucro imediato. Philip Kotler Philip Kotler é um professor universitário estadunidense e considerado um dos maiores especialistas em marketing do mundo. A partir de sua colocação acima, entende-se que a organização capaz de conceber uma estratégia apropriada e for competente em colocá-la em prática terá o lucro como consequência. Por outro lado, visar o lucro rápido tende a demandar ações de alta eficiência no curto prazo, mas de baixa eficácia no longo. No âmbito de compras, as ações estratégicas estão principalmente relacionadas a mercadorias ou serviços associados ao core business (atividade central de um negócio, maior gerador de valor), visto serem os com mais impacto no resultado da organização. Estes casos merecem mais tempo dedicado pelos analistas de compras e foco na redução de custos e nas garantias do abastecimento em condições apropriadas. Também são itens a terem local cativo na escala de prioridade de ações os materiais das classes A e B por envolverem uma quantidade de recursos financeiros muito grande. Suas aquisições precisam ser conduzidas com estratégia diferenciada focada em obter reduções de custo. Da mesma forma, os materiais mais críticos, os itens Z, precisam ser acompanhados muito de perto para tornar infalível a entrega e evitar prejuízos expressivos pela falta de disponibilidade no instante da necessidade. O foco aqui está em fornecedores de alta confiabilidade de entrega. 5.1 Concretização das contratações O conceito de strategic sourcing pode induzir compradores a acreditarem na necessidade de firmar contratos em todas as aquisições abrigados por esse conceito. Nada mais equivocado. A fundamentação de qualquer movimento organizado está na conquista do objetivo pretendido. E para os diferentes tipos de mercadorias e serviços, as abordagens também serão distintas. A escolha do modelo de processo de compra a ser empregado será função dos objetivos pretendidos para a particular aquisição. Como recomendação, temos: Consulta mediante concorrência aberta a todo o mercado: se o alvo pretendido é reduzir custos com máxima intensidade, o conhecimento amplo das múltiplas condições existentes é essencial. E a forma mais apropriada de construir tal entendimento é examinar a maior quantidade de alternativas disponíveis. Naturalmente não se contratará qualquer fornecedor ainda não testado na organização apenas por ele deter a melhor condição comercial, mas conhecer sua oferta permitirá conduzir o processo 20 com mais segurança acerca das possibilidades oferecidas e elaborar a solução mais acertada. Solicitação de propostas a poucos fornecedores selecionados: em oposição à possibilidade anterior, restringir o leque de opções é ação cabível em situações nas quais a confiabilidade do fornecedor for determinante para a conclusão da compra. Sob esse prisma, conhecer todas as alternativas será de pouca serventia, pois um fornecedor sobre o qual nada se sabe, para este tipo de aquisição, não serve como parâmetro ou referência. Assim, buscar conhecer suas condições significará apenas desperdício de tempo. Formação de parcerias exclusivas com um fornecedor: aqui a opção pela modalidade de relação se fundamenta ou no fato de ser ele o único capaz de satisfazer plenamente todas as exigências do fornecimento ou de se destacar sobremaneira dos demais competidores em contexto nos quais a confiabilidade seja mandatória. Mesmo para itens de alto custo, esta opção pode ser a mais acertada, pois dá continuidade do abastecimento advém mais informações para o fornecedor em otimizar suas ações e, como resultado, diminuir os custos envolvidos e poder repassar parte desses ganhos ao cliente. 5.2 Comprar ou fabricar? A estratégia em suprimentos visa encontrar a melhor maneira de satisfazer uma necessidade. E nem sempre adquirir de fonte externa se revela a alternativa mais vantajosa. Evidentemente, tal decisão não se restringe à competência do departamento de compras. Para concluir, por fabricar internamente ou comprar é exigida a atuação simultânea de vários departamentos na quantificação das duas possibilidades, elencando vantagens e desvantagens. A participação de outras áreas se justifica pela necessidade de coletar inúmeras informações não disponíveis no âmbito de compras. A decisão decorrerá da análise dos custos envolvidos para as possibilidades existentes. Envolver outros setores procura detectar a existência de capacidade produtiva ociosa ou a possibilidade de cortar alguns custos fixos já alocados em outras tarefas. Na discussão com colaboradores de outros departamentos também se identifica a ocorrência de custos extras ao se optar por produtos de fontes externas e despontam questões como a possibilidade de fracionar as quantidades a adquirir para melhorar a administração dos estoques e agilizar a resposta a situações de urgência. A contribuição de compras será resultante de obter cotações para todas as necessidades existentes, como para a matéria-prima e outros componentes para fabricar internamente e as melhores condições oferecidas pelo mercado para receber o produto já acabado do mercado. Obviamente, a decisão passará pela identificação da opção de menor custo global, embora seja indispensável destacar não ser esta a única variável de definição. 21 5.3 O analista de compras nessa conjuntura A atuação do comprador será diferente nesse novo modelo de atendimento das necessidades dos clientes internos. Espera-se dele: Planejar a forma de condução da aquisição em razão da natureza do bem ou serviço, elaborando soluções particulares para as especiais características percebidas. Administrar o tempo de processamento em razão das peculiaridades da compra, visto não haver sentido em buscar uniformizar o período se cada aquisição é única e com demandas próprias. Naturalmente, as compras mais complexas exigem mais etapas, e a consequência será mais tempo gasto. Para tornar o sistema mais produtivo, a concepção é simplificar os procedimentos e agilizar a contratação dos itens C e X, pois como elestêm reduzida importância na operação da empresa, o reflexo estará na atenção menor dispensada. Outra alteração na conduta será avaliar a necessidade de informação para a consecução bem-sucedida das aquisições. Cabe avaliar o efeito da particular compra no planejamento da organização se for ponderado o fato de as metas do negócio se sobreporem às das partes. A própria questão decisória será resultante dessa análise, identificando os aspectos determinantes na escolha do fornecedor mais adequado. Ter ciência da importância de envolver os usuários ao elaborar a estratégia de abastecimento é ponto essencial no sucesso da empreitada e produz, como efeito colateral positivo, o envolvimento do solicitante no êxito da aquisição por ter tido a oportunidade de expor seus pontos de vista. Sob o aspecto da qualificação do comprador para as mudanças na sua atuação, Heinritz e Farrel (1983) destacam o treinamento dos compradores por meio de rodízio nas divisões de compras e fornecedores e com cursos específicos anuais para mantê-los atualizados. Na construção do cenário de execução das compras estratégicas, são recomendáveis alguns cuidados: Elaborar plano específico para cada categoria, considerando um determinado horizonte de tempo. Fixar a periodicidade de repetição do processo de compra em razão dos propósitos estabelecidos. Planejar a concretização das compras de maior valor com mais frequência ou entregas planejadas para acontecerem em intervalos reduzidos. As compras de baixo valor devem ter menos etapas com período mais longo entre aquisições. Itens críticos à operação devem considerar a segurança na reposição como fator determinante na escolha. 22 Na construção de parcerias, sempre compartilhar informações com os fornecedores como instrumento para estes atuarem com mais eficiência. É perceptível como muitas das condições elencadas não diferem sobremaneira das ações convencionais, mas a especial atenção a cada recomendação produzirá expressiva diferença no resultado da operação “compras”. 23 REFERÊNCIAS BAILY, P. Compras: princípios e técnicas. São Paulo: Saraiva, 1989. DIAS, M.; COSTA, R. F. Manual do comprador: conceitos, técnicas e práticas indispensáveis em um departamento de compras. São Paulo: Edicta, 2003. HEINRITZ, S.; FARREL, P. Compras: princípios e aplicações. São Paulo: Atlas, 1983. JENNINGS, D. Strategic sourcing: benefits, problems and a contextual model. London: MCB UP limited, 2002. BIBLIOGRAFIA BAILY, P. Compras: princípios e técnicas. São Paulo: Saraiva, 1979. BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J. Logistical management: the integrated supply chain process. New York: McGraw-Hill, 1996.
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