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Treinamento para crianças APRESENTAÇÃO A Organização Mundial da Saúde recomenda que crianças realizem pelo menos 60 minutos de atividade física intensa por dia. Para que tal objetivo seja alcançado, é necessário levar em consideração as diferenças entre os corpos adultos e infantis. Por muito tempo, o corpo infantil foi entendido como um corpo adulto em menores proporções. Hoje sabemos que existem inúmeras diferenças quando o corpo infantil é comparado a um corpo adulto, sendo essas distinções tanto fisiológicas quanto anatômicas. Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá identificar as diferenças fisiológicas entre o corpo infantil e o corpo adulto, listando os prós e os contras do treinamento de alto rendimento para crianças. Além disso, você irá verificar dicas e estratégias para realizar o treinamento dessa população. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Enumerar as diferentes respostas fisiológicas sobre os sistemas cardiorrespiratório e musculoesquelético em crianças. • Listar as contraindicações e as indicações relativas e absolutas do treinamento de alto rendimento para crianças. • Desenvolver programas de treinamento de alto rendimento para crianças, de acordo com a modalidade esportiva praticada. • DESAFIO Os esforços qualitativo e quantitativo dedicados ao desenvolvimento de futuras carreiras em nível de esporte de elite envolvem uma série de influências biológicas e pedagógicas que podem causar estresse físico e mental extremamente excessivo durante o treinamento e a competição. Imagine que você é educador físico e analise a seguinte situação: A partir da situação apresentada, responda: a) O volume de treinamento do menino estava adequado? Explique o seu posicionamento. b) O que levou Joaquim a sentir dores no quadril? c) Por que o menino não deveria ter abandonado a prática de atividade física? d) As dificuldades que Joaquim apresentava na escola foram causadas pelo volume de treinamento? Justifique sua resposta. e) Quais ações o professor de Educação Física pode adotar para evitar que situações como essa aconteçam? INFOGRÁFICO Por muitos anos, o corpo da criança foi visto como o de um adulto, porém em miniatura. Com os avanços da ciência, hoje sabemos que existem muitas diferenças fisiológicas e anatômicas entre o corpo adulto e o corpo infantil. Neste Infográfico, você irá visualizar melhor essas diferenças. CONTEÚDO DO LIVRO A infância é um período em que acontecem diversas mudanças no corpo, sempre em uma curva ascendente, sendo compreendida como uma fase de constante desenvolvimento. Nessa etapa, é importante observar os detalhes inerentes desse período da vida e adaptar, sempre que necessário, as atividades para obtermos os melhores resultados sem a ocorrência de lesões. No capítulo Treinamento para crianças, da obra Exercício físico para populações especiais, você irá verificar as diferenças fisiológicas entre o corpo infantil e o corpo adulto, os benefícios e as contraindicações do treinamento de alto rendimento na população infantil, observando estratégias para realizar o treinamento adequado para essa população. EXERCÍCIO FÍSICO PARA POPULAÇÕES ESPECIAIS Lafaiete Luiz de Oliveira Junior Treinamento para crianças Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Enumerar as diferentes respostas fisiológicas sobre os sistemas car- diorrespiratório e musculoesquelético em crianças. Listar as contraindicações e indicações relativas e absolutas do trei- namento de alto rendimento para crianças. Desenvolver programas de treinamento de alto rendimento para crianças, de acordo com a modalidade esportiva praticada. Introdução A infância é um período caracterizado por diversas alterações corporais, marcadas por um contínuo desenvolvimento ascendente até a fase adulta. Tal desenvolvimento abrange características como coordenação motora, força física, aptidão cardiorrespiratória, entre outras. Para a aplicação de programas de treinamento físico durante esse período, é importante ter atenção aos detalhes inerentes a cada criança, sendo necessário adaptar as atividades para obter melhores resultados sem que lesões aconteçam. Neste capítulo, você será introduzido a diversos conhecimentos relacionados ao treinamento físico para crianças, compreendendo o funcionamento fisiológico e esquelético do corpo infantil. Além disso, você também identificará as indicações e contraindicações relacionadas à prática de esporte na infância, podendo perceber os momentos mais oportunos para intervenções. Respostas fisiológicas ao treinamento na infância Para entender melhor o corpo infantil, é preciso retomar o próprio conceito de infância, pois para a sociedade, e consequentemente para a ciência, por muito tempo o corpo infantil nada mais foi do que um corpo adulto em miniatura. Segundo Nascimento, Brancher e Oliveira (2008), até o século XVI era possível um homem passar a vida toda na infância, pois o conceito em si estava vinculado à relação de autonomia do ser humano. Assim, se você fosse um escravo, viveria para sempre na infância, pois dependeria dos outros por toda a sua vida. Já no século XIX, sob análises de Descartes (2005) e pela criação de um nova visão de mundo, o chamado pensamento moderno, o corpo infantil começa a despertar o interesse de estudiosos. Entretanto, foi apenas por meio de Rousseau (1995), um dos primeiros pedagogos da história, que a criança começa a ser vista de forma diferente do ser adulto. Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) compreendem que o desenvolvimento motor é um processo que está em constante movimento, sendo iniciado já no nascimento e terminando apenas na morte. Ao longo desse processo, cada pessoa acaba avançando por diferentes níveis de desenvolvimento, que são classificados e explicados no Quadro 1. Fase Estágio Idade Características Movimentos reflexivos 1 – Codificações das informações 2 – Decodificação das informações Desde a gestação até 11 meses Recebe as informações do am- biente e cria conexões cerebrais, sem apresentar movimentos organizados e voluntários. Movimentos rudimentares 1 – Pré-controle 2 – Reflexos 1–2 anos São determinadas de forma maturacional e caracterizam-se por uma sequência de aparecimento previsível. Envolvem movimentos estabilizadores, como obter o con- trole da cabeça, pescoço e múscu- los do tronco; tarefas manipulativas de alcançar, agarrar e soltar; e movimentos locomotores de se arrastar, engatinhar e caminhar. Movimentos fundamentais 1 – Inicial 2 – Elementar 3 – Maduro 2–7 anos Período no qual as crianças peque- nas estão envolvidas ativamente na exploração e na experimentação das capacidades motoras de seus corpos. Por exemplo: andar, correr, saltar, saltitar, etc. Quadro 1. Fases do desenvolvimento motor (Continua) Treinamento para crianças2 A partir dessa nova perspectiva, o corpo infantil e a própria criança come- çam a ser objeto de estudos fisiológicos, pois é com o início da distinção entre um corpo adulto e um corpo infantil que os médicos e especialistas da época passam a se debruçar na perspectiva de identificar essas diferenças capazes de separar homens e meninos. A partir de inúmeros estudos, compreendeu-se que a função de quase todos os sistemas fisiológicos passa por aprimoramentos até que a maturi- dade completa seja atingida. Após essa fase, percebe-se uma estabilidade fisiológica que permanece até seu declínio, concomitante com o aumento de idade. Nesse contexto, o corpo infantil encontra-se ainda em constante processo de desenvolvimento fisiológico (WILMORE; COSTILL; KEN- NEY, 2010). Um dos principais atributos fisiológicos do corpo humano, sabidamente, é a força, que é adquirida com o passar dos anos e por meio do ganho de massa corpórea. Sendo assim, o pico de força do corpo humano está atrelado à chegada da segundadécada de vida, principalmente com o advento da puberdade e o aumento de produção hormonal (WILMORE; COSTILL; KENNEY, 2010). A Figura 1 exemplifica esse processo de ganho de força com o passar de cada ano de vida para uma parte do corpo. A imagem apresenta, por meio da inclinação da linha preta contínua e das intersecções de bolas brancas, o ritmo de ganho de força, mostrando um aumento considerável por volta dos 12 anos, que é a idade em que normalmente se inicia a puberdade. Fonte: Adaptado de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013). Fase Estágio Idade Características Movimento especializado 1 – Transitório 2 – Aplicação 3 – Utilização permanente Dos 8 anos em diante Período em que as habilidades estabilizadoras, locomotoras e manipulativas fundamentais são progressivamente refinadas, combinadas e elaboradas para o uso em situações cada vez mais exigentes. Quadro 1. Fases do desenvolvimento motor (Continuação) 3Treinamento para crianças Figura 1. Ganhos de força de membros inferiores (medidos em libras [lb]) de meninos acompanhados de forma longitudinal (dos 7 aos 19 anos de idade). Fonte: Adaptada de Wilmore, Costill e Kenney (2010). Ainda assim, é preciso destacar que o corpo infantil não pode atingir os ápices de força, potência e habilidade muscular física sem antes atingir a maturidade nervosa. Sendo assim, independente da carga de treinamento exercida sobre o corpo infantil, suas respostas máximas serão atingidas apenas mediante a aquisição da plasticidade neural e, consequentemente, a maturidade do sistema nervoso central (CLARKE, 1971). Além dos aspectos de força e potência muscular, outro aspecto fisio- lógico muito relevante para o desenvolvimento da criança são as funções cardiovasculares e respiratórias, que durante todo o processo de crescimento passam por diversas mudanças, até que atinjam o estágio maturado e adulto de suas funções. Nesse contexto, a pressão arterial de repouso e a pressão arterial durante a prática de exercícios físicos são ambas menores em crianças do que em adultos, mas progressivamente apresentam aumentos, até a chegada da puberdade. Cabe lembrar que a pressão arterial também está diretamente atrelada à estatura Treinamento para crianças4 de cada indivíduo, e, por isso, uma criança tende a apresentar uma pressão arterial inferior a de um adulto não somente por seu estágio de desenvolvi- mento fisiológico, mas também por geralmente ser mais baixa (FROBERG; LAMMERT, 1996). Paralelo a isso, o coração da criança é menor que o coração adulto, o que indiretamente tende a elevar o ritmo infantil de batimentos sob exercício físico. A explicação é a seguinte: a necessidade de oxigênio para uma atividade de desgaste severo é a mesma para adultos e crianças; com isso, o coração infantil necessita de mais movimentos musculares involuntários para garantir um volume de circulação adequado, resultando em um aumento significativo da frequência cardíaca (WILMORE; COSTILL; KENNEY, 2010). Para ilustrar melhor essa relação de batimentos cardíacos e pressão arterial, vamos usar um exemplo com crianças recém-nascidas: em repouso, elas podem atingir incríveis 110 batimentos por minuto, o que é equivalente ao número de batimentos por minuto de um adulto em uma corrida leve (trote). Depois de compreender as diferenças fisiológicas relacionadas à muscu- latura e ao sistema cardiorrespiratório, é importante ressaltar as diferenças pulmonares entre o corpo adulto e o corpo infantil. Assim como nas situações recém-examinadas, existe uma relação de mudanças com o passar dos anos neste quesito, sendo que o desenvolvimento fisiológico pulmonar determina as suas mudanças até o fim da puberdade, as quais, subsequentemente, se estabilizam por anos, chegando a uma curva descendente com o avanço da idade. Treinamento de alto rendimento A prática de atividades físicas e esportivas é importante para um bom desen- volvimento motor e fi siológico de crianças e adolescentes, sendo inclusive um fator de proteção para diferentes doenças, como hipertensão arterial e diabetes. Por essa razão, programas e rotinas de atividades devem ser recomendadas e estimuladas para crianças e adolescentes (GAYA et al., 2018). 5Treinamento para crianças Diante de um cenário de muitos estímulos e possibilidades de atividades voltadas a crianças, uma das que mais se desenvolveram nos últimos anos foi a do esforço físico infantil em grupos organizados de esportes. O esporte de alto rendimento ou o esporte de competição contribui para o desenvolvimento físico, emocional e intelectual, e, por isso, a competição deve ser encarada de forma positiva para crianças (FIMS, 1997). Entretanto, o envolvimento direto com a prática de alto rendimento ou de esforço físico severo acaba por envolver diversas variáveis biológicas e físicas, e não existem evidências científicas, tampouco justificativas fisiológicas ou pedagógicas, que possam sustentar o benefício de práticas físicas de alto rendimento ou de exercício físico severo na infância (FREITAS, 2015). É inerente na prática pedagógica ou desportiva uma relação direta entre intencionalidade e resultado, sempre prezando pelo desenvolvimento pleno do indivíduo participante do processo. Nesse sentido, é imprescindível que o técnico ou o professor da criança tenha o discernimento dos seus estágios de desenvolvimento e dos seus processos de aquisição motora e fisiológica, caso contrário, as perdas e prejuízos podem ser irreparáveis, conforme relata a Federação Internacional de Medicina do Esporte: O esporte competitivo de alto nível na infância não só tem limites biológicos de rendimento, mas também traz riscos de natureza psicológica e de desen- volvimento social. Um preparo intensivo para competições desportivas de alto nível pode provocar abandonos e/ou crianças com problemas psicológicos (FIMS, 1997, documento on-line). É indicado que o treinamento esportivo seja iniciado na fase em que a criança está desenvolvendo movimentos especializados, durante a qual ocorrem o refinamento e o aperfeiçoamento das habilidades motoras fundamentais. Nesse período, os movimentos começam a ser especializados e aplicados em di- ferentes modalidades esportivas ou em atividades da vida diária (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Essa fase é composta por três etapas: estágio transitório, estágio de aplica- ção e estágio de utilização permanente. No estágio transitório (7–8 anos), já é possível introduzir atividades de iniciação esportiva, visando aspectos lúdicos e respeitando o grau de desenvolvimento da criança. No estágio de aplicação (11–13 anos), as atividades já podem ser um pouco mais complexas, incluindo jogos, pois a criança está apta a tomar decisões de modo a solucionar problemas mais complexos. A partir dos 14 anos, o estágio de utilização permanente é iniciado, e somente a partir deste período o treinamento de alto rendimento é Treinamento para crianças6 indicado, pois as habilidades motoras já foram desenvolvidas e estão prontas para serem lapidadas. (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). É diante desse cenário que a intervenção do treinador ou professor da criança surge como o principal norteador, responsável pela qualificação da saúde e do desenvolvimento do indivíduo. Vale ressaltar que não deve haver nesse contexto uma demonização das práticas esportivas de competição, ou mesmo de qualquer tipo de exercício físico, mas sim o cuidado para que tais práticas não venham a surtir um efeito inverso ao esperado, e, assim, acabem criando complicações para a continuidade da vida da criança. Elaboração de treinamento físico para crianças Estímulos físicos via diferentes formas de treinamento e atividades com níveis controlados de intensidade, cobrança, repetição e competição são sabidamente subterfúgios práticos responsáveis pelo desenvolvimento pleno dos sistemas fi siológicos, neurais e psicomotores. Ainda assim, é preciso compreender que, conforme examinamos anteriormente, a criançanão é mais compreendida como um adulto em miniatura; portanto, sempre que for preciso pensar ou elaborar um programa de atividades direcionadas ao público infantil, não basta somente diminuirmos as repetições e as cargas, pois, dessa forma, estaríamos atribuindo aos indivíduos uma correlação proporcional e direta de idade e força que simplesmente não existe. Para elaborar programas de treinamento físico voltado a crianças, é im- portante entender como cada um dos princípios básicos do treinamento físico se adapta a essa população (MODENEZE; SERQUEIRA; KOREN, 2009): Princípio da individualidade biológica: cada ser humano é único, ou seja, não pode ser igualado a nenhum outro. Com isso em mente, é necessário realizar uma gama de testes e observações de maneira bastante atenta para identificar, no caso de crianças, em qual estágio de desenvolvimento elas se enquadram, e quais suas dificuldades e potencialidades. Princípio da sobrecarga: este princípio disserta sobre a necessidade do indivíduo ser submetido a esforços cada vez maiores para adquirir melhoras no seu desempenho. No público infantil, isso não é diferente, uma vez que, mesmo que as atividades aconteçam de maneira lúdica, é importante que elas tenham uma progressão de dificuldade, buscando sempre desafiar a criança. 7Treinamento para crianças Princípio da especificidade: este princípio determina que, para melho- rar determinada habilidade motora ou aptidão física, é necessário fazer atividades que a aborde de maneira específica. Quando, por exemplo, a intenção é melhorar a habilidade motora das crianças na corrida, é necessário que elas corram de diferentes maneiras, ritmos e intensi- dades. Nesse aspecto, o professor de educação física deve estar muito atento para não se ater apenas às atividades lúdicas e se esquecer do objetivo de sua aula. Princípio da continuidade: este é o princípio que trata da importância de qualquer atividade física ser feita de maneira contínua, uma vez que sua interrupção faz com que o sujeito tenha perdas no seu rendimento, e isso se aplica a todas as idades. Princípio da reversibilidade: a falta de continuidade na prática de atividades físicas faz com que seus benefícios sejam perdidos em poucas semanas, devendo o treinamento ser revisto sempre que houver uma interrupção significativa em seu andamento. É a partir desses preceitos e com base nas considerações recém-descritas que a Federação Internacional de Medicina do Esporte (FIMS, 1997) apresenta as seguintes recomendações para a organização e a aplicação de atividades físicas junto a crianças: Antes de ingressar em um programa desportivo de competição, cada participante deve ser submetido a um exame clínico detalhado que garanta, por um lado, que somente crianças sem condições clínicas que repre- sentem riscos para a saúde sejam admitidas para o esporte competitivo, e que, por outro lado, o programa represente uma oportunidade de um aconselhamento sobre os diferentes esportes e treinamentos existentes. É importante que cada criança esteja sob a supervisão de uma equipe de saúde multidisciplinar, a fim de prevenir lesões por excesso de carga, bem como para diminuir o impacto das lesões oriundas do processo natural de crescimento. Além da sua tarefa meramente desportiva, o treinador tem uma respon- sabilidade pedagógica em relação ao presente e ao futuro das crianças a ele confiadas. O professor deve conhecer os principais problemas possíveis relacionados a aspectos biológicos, físicos e sociais intrínsecos ao desenvolvimento da criança, e ser capaz de aplicar esse conhecimento nos treinamentos. Treinamento para crianças8 A individualidade da criança e as oportunidades para um maior de- senvolvimento devem ser identificadas pelo treinador e tidas como um critério relevante para a organização e elaboração do seu programa de treinamento. A responsabilidade sobre o desenvolvimento integral da criança deve estar acima das necessidades em termos de treinamento e competição. As crianças devem ser expostas a uma ampla variedade de atividades desportivas, para assegurar que elas possam identificar os esportes que melhor se adaptam às suas necessidades, interesses, constituição física e capacidade. Isso tende a aumentar seu êxito e prazer no esporte, reduzindo o número de abandonos. O estímulo de uma especialização esportiva precoce não é recomendado. Principalmente em esportes de contato, os participantes devem ser classificados de acordo com sua maturidade, suas dimensões corporais, sua habilidade e sexo (entendido como condição biológica), não apenas com base em sua idade cronológica. As regras e a duração das partidas devem ser adequadas para a idade dos participantes, e as sessões de treinamento devem ser relativamente curtas e estar bem organizadas. Sessões planejadas otimizam a instru- ção quanto à atividade e à habilidade exigida e reduzem ao mínimo o risco de lesão. O levantamento de pesos, a hipertrofia e o halterofilismo não devem ser recomendados antes do fim da puberdade, bem como qualquer atividade que tenha como principal demanda física a sobrecarga. Eventos competitivos de corrida de longa distância ou longa dura- ção não são recomendados para crianças antes da sua maturação completa. O link a seguir leva a um vídeo didático no YouTube. Nele, você poderá assistir ao pro- fessor de educação física Luiz Carlos de Oliveira falando um pouco sobre a importância da atividade física para crianças e adolescentes e as melhores formas de envolver os indivíduos nessas práticas. https://qrgo.page.link/ZWsZi 9Treinamento para crianças Somadas, todas essas indicações e contraindicações representam um nor- teador para sua intervenção como professor ou treinador; lembre-se, porém, que é o seu olhar e a individualidade de cada praticante que acabarão sendo o fator determinante para a melhor abordagem metodológica. CLARKE, H. H. Physical and motor tests in the medford boys’ growth study. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1971. DESCARTES, R. Meditações metafísicas. 2. ed. São Paulo, Martins Fontes, 2005. FIMS. Posicionamento oficial: treinamento físico excessivo em crianças e adolescentes. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 3, n. 4, p. 122–124, 1997. Disponível em: http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-86921997000400007&lng=e n&nrm=iso. Acesso em: 26 jul. 2019. FREITAS, M. V. A participação de crianças no esporte de alto rendimento: para além de do “como deve ser”. 2015. Dissertação (Mestrado em ciências do Movimento Humano) — Faculdade de Educação Física, Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. FROBERG, K.; LAMMERT, O. Development of muscle strength during childhood. In: BAR-OR, O. (ed.). The child and adolescent athlete. London: Blakwell, 1996. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. GAYA, A. R. et al. Agregação dos indicadores de risco à saúde cardiometabólica e musculoesquelética em adolescentes brasileiros nos períodos de 2008/09 e 2013/14. Jornal de Pediatria (Rio J.), v. 94, n. 2, p. 177–183, 2018. Disponível em: http://www.scielo. br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572018000200177&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 9 ago. 2019. MODENEZE, D. M.; SERQUEIRA, R. S; KOREN, S. B. R. Qualidade de vida & educação física: uma perspectiva real e aplicável. In: BOCCALETTO, E. M. A.; MENDES, R. T. (org.). Alimentação, atividade física e qualidade de vida dos escolares do Município de Vinhedo/ SP. 1. ed. Campinas: IPES Editorial, 2009. Disponível em: https://www.fef.unicamp.br/ fef/sites/uploads/deafa/qvaf/escolares_completo.pdf. Acesso em: 9 ago. 2019. NASCIMENTO, C. T.; BRANCHER, V. R.; OLIVEIRA, V. F. A Construção social do conceito de Infância: algumas interlocuções históricase sociológicas. Revista Contexto & Educação, v. 23, n. 79, p. 47–63, 2008. Disponível em: https://www.revistas.unijui.edu.br/index. php/contextoeducacao/article/view/1051. Acesso em: 26 jul. 2019. Treinamento para crianças10 ROUSSEAU, J. J. Emilio ou da educação. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L.; KENNEY, W. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 4. ed. São Paulo: Manole, 2010. Leituras recomendadas BENTO, J. O. et al.(org.). Cuidar da casa comum: da natureza, da vida, da humanidade. Oportunidades e responsabilidades do desporto e da educação física. Belo Horizonte: Casa da Educação Física, 2018. v. 1. GOUVEIA, E. V.; SILVA, R. V.; PIMENTA, T. F. F. Estímulos para o desenvolvimento motor de escolares: quantidade versus qualidade. In: EVINCI, 12, 2017, Curitiba. Anais [...]. Paraná: UniBrasil, 2017. Disponível em: http://portaldeperiodicos.unibrasil.com.br/index.php/ anaisevinci/article/view/3189/2745. Acesso em: 26 jul. 2019. OLIVEIRA, J. A. M. Especialização precoce ao movimento e sua influência no desenvol- vimento motor. Redfoco, v. 4, n. 1, p. 2–10, 2017. Disponível em: http://periodicos.uern. br/index.php/redfoco/article/view/2274/1211. Acesso em: 26 jul. 2019. 11Treinamento para crianças DICA DO PROFESSOR O excesso de treinamento físico em crianças pode acarretar em problemas e não necessariamente trazer os benefícios necessários para o seu desenvolvimento. Nesta Dica do Professor você vai observar a importância de utilizar o lúdico como uma ferramenta para auxiliar o desenvolvimento das crianças. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Por muito tempo, o corpo infantil nada mais era do que um corpo adulto em miniatura, apresentando diferenças conceituais ao longo do tempo. Sobre as modificações do conceito de infância ao longo do tempo, observe as assertivas a seguir: I) A infância era compreendida como um período em que não havia autonomia. II) O corpo infantil começou a ser estudado com profundidade e a ser visto de forma diferente do ser adulto, a partir de Rousseau. III) A puberdade é um marco importante da infância, pois é nessa fase que diversos marcadores biológicos, como a capacidade respiratória e a força, começam a apresentar crescimento. IV) O corpo infantil está em constante processo de desenvolvimento. V) Atualmente, o corpo infantil é entendido como um corpo diferente em diferentes aspectos do corpo adulto. Assinale a alternativa que contém apenas assertivas corretas: A) I, II, III, V. B) I, II, III, IV. C) I, III, IV, V. D) I, II, IV, V. E) II, III, IV, V. 2) Como o corpo infantil é diferente do corpo adulto, existem diferenças em algumas funções biológicas, como a pressão arterial (PA) e a frequência cardíaca (FC). Assinale a alternativa correta sobre o sistema circulatório de crianças. A) A frequência cardíaca é menor em crianças, pois seu corpo é menor e precisa de menos circulação de sangue. B) A pressão arterial infantil apresenta valores menores quando comparada a de adultos, pois ela tem uma relação inversamente proporcional com a altura do sujeito. C) A pressão arterial e a frequência cardíaca em crianças têm os mesmos valores encontrados em adultos. D) A pressão arterial em crianças é inferior à pressão em adultos, e a frequência cardíaca é mais lenta. E) A pressão arterial em crianças é inferior à pressão em adultos, e a frequência cardíaca é mais acelerada. 3) Força muscular é a quantidade máxima de força que um músculo ou um grupo muscular pode gerar. Sobre a força muscular na infância, é correto afirmar que: A) o aumento do ganho de força parece diminuir na infância a partir dos 12 anos, idade que a puberdade inicia. B) o ganho de força muscular está associado à maturidade do sistema nervoso central. C) a produção hormonal interfere de maneira mínima na força muscular. D) a força não é importante para as atividades diárias de uma criança. E) o ganho de massa muscular não significa que acontecerá um aumento da força. 4) Mediante recomendações da Organização Mundial da Saúde e da Federação Internacional de Medicina do Esporte, uma criança deve realizar 60 minutos de exercício físico diariamente, mesmo que de forma fragmentada. Além disso, sabe- se que a atividade física regular traz inúmeros ganhos físicos, motores e neurais para a criança. Sendo assim, é correto afirmar que: A) o esporte de alto rendimento é indicado para crianças, pois potencializa os ganhos fisiológicos e musculares. B) cada criança tem um biotipo diferente de corpo. Sendo assim, práticas de hipertrofia podem trazer muitos benefícios para algumas crianças. C) na hora de propor práticas esportivas de contato, deve-se considerar as diferentes variáveis biológicos das crianças e não apenas seu peso e sua idade. D) a iniciação esportiva deve estar vinculada à correção frequente dos movimentos certos de cada atividade, pois é a partir do domínio técnico precoce que o desenvolvimento neural e cognitivo é potencializado. estudos apontam para uma relação direta entre ganho de plasticidade neural e atividades E) físicas de corrida de longa duração ou distâncias. 5) Entender os princípios do treinamento físico auxilia a pensar estratégias para planejar a atuação com crianças. Diante desse cenário, relacione as colunas a seguir: I) Princípio da individualidade biológica. II) Princípio da sobrecarga. III) Princípio da especificidade. IV) Princípio da continuidade. V) Princípio da reversibilidade. ( ) Quando uma criança fica afastada das aulas por muito tempo, é importante reavaliá-la. ( ) As atividades de uma aula devem ser pensadas em progressão, partindo sempre do mais fácil para o mais difícil. ( ) É importante a prática regular de atividade física. ( ) É necessário utilizar para cada turma e cada criança um planejamento diferenciado. ( ) Em uma aula com o objetivo de melhorar o equilíbrio, o professor pode utilizar exercícios de posturas invertidas ou de caminhar sobre cordas. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas. A) I, II, III, IV, V. B) I, IV, V, II, III. C) V, II, IV, I, III. D) I, V, II, IV, III. E) V, IV, III, II, I. NA PRÁTICA As faixas etárias têm características diferenciadas e cabe ao professor saber adequar a aula para cada fase do desenvolvimento. A utilização de metodologias que permitam o engajamento dos estudantes é muito importante, lembrando que as atividades devem ser desafiadoras, mas não impossíveis de serem realizadas. Neste Na Prática você irá acompanhar como atua um professor de Educação Física na Educação Infantil. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: A importância do brincar Neste vídeo, a Profa. Dra. Tizuko Morchida, da Universidade de São Paulo (USP), fala sobre a importância do brincar no desenvolvimento infantil. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Plasticidade cerebral e aprendizagem Neste vídeo da Dra. Débora de Mello, você irá aprender sobre como a neuroplasticidade pode ser uma aliada do aprendizado. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Especialização precoce ao movimento e sua influência no desenvolvimento motor Este artigo busca responder quais as influências que a especialização precoce pode causar no desenvolvimento de crianças. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Cuidar da Casa Comum O livro aborda temas que envolvem o esporte na escola. Acesse e boa leitura. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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