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Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé Antimetabólitos Sulfonamidas As sulfonamidas são derivadas da para- aminobenzenossulfonamida e são congêneres do PABA. A maioria é relativamente insolúvel em água, mas seus sais de sódio são rapidamente solúveis. São inibidores competitivos da di- hidropteroato-sintase, enzima bacteriana responsável pela incorporação do PABA ao ácido di-hidropteroico, o precursor imediato do ácido fólico. Os microrganismos sensíveis são aqueles que precisam sintetizar o seu próprio ácido fálico; as bactérias capazes de utilizar o folato pré-formado não são afetadas. As sulfonamidas administradas isoladamente são bacteriostáticas; os mecanismos de defesa celulares e humorais do hospedeiro são essenciais à erradicação final da infecção. A toxicidade é seletiva para as bactérias, pois as células dos mamíferos necessitam de ácido fálico pré-formado, não conseguem sintetizá-lo e, por esta razão, não são sensíveis aos fármacos que atuam por esse mecanismo. Exemplos de sulfonamidas: sulfisoxazol, sulfametoxazol, sulfadiazina e mafenida. Compostos sinérgicos das sulfonamidas A trimetoprima produz efeito sinérgico com as sulfonamidas. Ela é um inibidor competitivo seletivo e potente da enzima microbiana di-hidrofolato redutase, que reduz o di-hidrofolato a tetra- hidrofolato necessário às reações de transferência de um carbono. A administração simultânea de uma sulfonamida com trimetoprima (p. ex., suifametoxazol-trimetoprima) introduz bloqueios sequenciais da via de biossíntese do tetra-hidrofolato; essa combinação é muito mais eficaz do que um desses dois fármacos administrados isoladamente. Espectro antibacteriano Na época em que foram introduzidas originalmente como agentes terapêuticos, as sulfonamidas tinham atividade antimicrobiana ampla contra bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. Contudo, a resistência crescente desses microrganismos às sulfonamidas é tão disseminada, que não se pode supor que esses patógenos sejam sensíveis a esses antibióticos, que hoje desempenham um papel pouco importante no tratamento empírico. Além disso, as sulfonamidas têm atividade significativa contra alguns parasitas. Resistência A resistência bacteriana às sulfonamidas podem desenvolver-se depois de mutação aleatória e seleção, ou transferência de resistência por plasmídeos; em geral, isso não ocorre por resistência cruzada às outras classes de antibióticos. Essa resistência pode ser atribuída aos seguintes fatores: Á afinidade reduzida da di-hidropteroato-sintase pelas sulfonamidas; Redução da permeabilidade bacteriana ou do efluxo do fármaco; Uma via metabólica alternativa para a síntese de um metabólito essencial; ou Produção aumentada de um metabólito essencial ou de um antagonista do fármaco (p. ex., PABA). Absorção, distribuição, metabolismo e excreção Com exceção das sulfonamidas especialmente desenvolvidas pelos seus efeitos locais no intestino, essa classe de fármacos é rapidamente absorvida pelo trato GI. Cerca de 70 a 100% de uma dose oral é absorvida e a sulfonamida pode ser detectada na urina dentro de 30 minutos depois da ingestão. O intestino delgado constitui o principal local de absorção, mas parte do fármaco é absorvida no estômago. Depois da administração sistêmica de doses adequadas, a sulfadiazina e o sulfisoxazol alcançam concentrações no líquido cerebrospinal potencialmente eficazes para tratar meningite. Entretanto, devido ao aparecimento de microrganismos resistentes às sulfonamidas, esses fármacos raramente são utilizados para tratar meningite. As sulfonamidas Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé atravessam rapidamente a placenta e alcançam a circulação fetal. As concentrações alcançadas nos tecidos fetais podem causar efeitos antibacterianos e tóxicos. As sulfonamidas são metabolizadas no fígado e eliminadas em parte na porta alterada e, em parte como produtos metabólicos. Com a urina ácida, as sulfonamidas mais antigas são insolúveis e podem formar-se depósitos cristalinos. Usos terapêuticos Para infecções do trato urinário, a associação sulfametoxazol-trimetoprima é preferível, por conta da grande quantidade de microrganismos causadores de infecções do trato urinário que são resistentes às sulfonamidas. A combinação de sulfametoxazol- trimetoprima é geralmente utilizada para tratar infecções causadas por espécies de Nocardia, mas o sulfísoxazol ou a sulfadiazina são outras alternativas. Já a combinação de pirimetamina com sulfadiazina é o tratamento preferido para toxoplasmose. Reações adversas Entre as manifestações cutâneo-mucosas atribuídas à sensibilização às sulfonamidas destacam- se as erupções, eritema nodoso, eritema multiforme tipo Stevens-Johnson, síndrome de Behçet, dermatite esfoliativa e fotossensibilidade. A Síndrome de Stevens-Johnson provoca o surgimento de lesões avermelhadas em todo o corpo e outras alterações, como dificuldade em respirar e febre. O risco de desenvolver cristalúria é muito pequeno com os fármacos mais solúveis como o sulfisoxazol. A cristalúria pode ser evitada mantendo- se o volume urinário diário mínimo de 1.200 mL (nos adultos) ou, como alternativa, alcalinizando a urina. Anorexia, náuseas e vômitos ocorrem em 1 a 2% dos pacientes tratados com sulfonamidas. A administração de sulfonamidas aos recém- nascidos, especialmente aos prematuros, pode causar deslocamento da bilirrubina ligada à albumina plasmática e causar icterícia nuclear. As sulfonamidas não devem ser administradas às gestantes que estão prestes a dar à luz, pois esses fármacos atravessam a placenta e são secretados no leite. Interações medicamentosas As interações medicamentosas das sulfonamidas ocorrem principalmente com os anticoagulantes orais, os hipoglicemiantes orais do grupo das sulfonilureias e os anticonvulsivantes derivados da hidantoína. Em todos os casos, as sulfonamidas podem potencializar os efeitos dos outros fármacos inibindo seu metabolismo ou deslocando-os da albumina. Pode ser necessário um ajuste da dose quando se administra concomitantemente uma sulfonamida. Sulfametoxazol-trimetoprima A trimetoprima inibe a di-hidrofolato- redutase bacteriana, que é uma enzima subsequentes à que as sulfonamidas inibem na mesma sequência de biossíntese. A atividade antimicrobiana dessa combinação resulta das ações desses compostos em etapas sequenciais da via enzimática de síntese do ácido tetra-hidrofólico. Embora cada fármaco usado isoladamente tenha atividade bacteriostática, quando o microrganismo é sensível aos dois, pode-se alcançar atividade bactericida. Resistência A resistência deve-se à aquisição de um plasmídeo que codifica uma di-hidrofolato-redutase alterada. Absorção, distribuição, metabolismo e excreção Depois de uma dose oral única da combinação, a trimetoprima é absorvida mais rapidamente que o sulfametoxazol. Em geral, as concentrações sanguíneas máximas de trimetoprima são alcançadas Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé em 2 horas na maioria dos pacientes, enquanto as concentrações máximas de sulfametoxazol são alcançadas em 4 horas depois de uma única dose oral. As t1/2 da trimetoprima e do sulfametoxazol são de cerca de 11 e 10 horas, respectivamente. Quando são administrados 800 mg de sulfametoxazol com 160 mg de trimetoprima, 2 vezes/dia, as concentrações de pico desses antibióticos no plasma são de cerca de 40 e 2 µg/mL (ou seja, a razão ideal 1:20). O fármaco entra facilmente no líquido cerebrospinal e no escarro. Além disso, os dois componentes dessa combinação são encontrados em concentrações altas na bile. Cerca de 60% da trimetoprima administradae 25 a 50% do sulfametoxazol administrado são excretados na urina em 24 horas. Usos terapêuticos O tratamento das infecções do trato urinário inferior não complicadas com sulfametoxazol- trimetoprima é altamente eficaz quando as bactérias são sensíveis. A trimetoprima também é encontrada em concentrações terapêuticas nas secreções prostáticas e sua combinação com sulfametoxazol geralmente é eficaz no tratamento da prostatite bacteriana. A combinação de sulfametoxazol- trimetoprima é eficaz nas exacerbações agudas leves da bronquite crônica. Entretanto, essa combinação não deve ser utilizada para tratar faringite estreptocócica, porque ela não erradica o microrganismo. Essa combinação é uma alternativa ao uso de uma fluoroquinolona para tratar shigelose causada por cepas sensíveis, que setornaram menos comuns em todo o mundo. Efeitos adversos O sulfametoxazol-trimetoprima pode acentuar a toxicidade das sulfonamidas. A margem entre toxicidade bacteriana e humana pode ser relativamente pequena quando o paciente tem deficiência de folato. Nessas circunstâncias, a combinação sulfametoxazol-trimetoprima pode causar ou precipitar megaloblastose, leucopenia ou trombocitopenia. Fluoroquinolonas Esses antibióticos têm atividade antimicrobiana ampla e são eficazes depois da administração oral para tratar grande variedade de doenças infecciosas. As fluoroquinolonas têm como alvos bacterianos a DNA-girase e a topoisomerase IV. Para algumas bactérias Gram-positivas, a topoisomerase IV é o alvo principal. Por outro lado, a DNA-girase é o alvo principal das quinolonas em algumas bactérias Gram-negativas. Esses fármacos inibem o superespiralamento do DNA mediado pela girase em concentrações que se correlacionam adequadamente com as necessárias para inibir o crescimento bacteriano. A topoisomerase IV, que separa as moléculas de DNA filhas interligadas formadas durante a replicação do DNA, também é um alvo das quinolonas. Exemplos de fluoroquinolonas: ácido nalidíxico (1ª geração), norfloxacino (2ª geração), levofloxacino (3ª geração) e trovafloxacino (4ª geração). Resistência O desenvolvimento de resistência às quinolonas pode ocorrer durante o tratamento em consequência de mutações nos genes cromossômicos bacterianos que codificam a DNA-girase ou a topoisomerase IV, ou devido ao transporte ativo do fármaco para fora da bactéria. Em casos menos comuns, as bactérias desenvolvem resistência mediada por plasmídeos por meio de proteínas que se ligam e protegem as topoisomerases das ações das quinolonas. Absorção, distribuição, metabolismo e excreção A maioria das quinolonas é bem absorvida depois da administração oral. Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé O volume de distribuição das quinolonas é grande e as concentrações na urina, nos rins, nos pulmões, nos tecidos prostáticos, nas fezes, na bile, nos macrófagos e nos neutrófilos são maiores do que os níveis séricos. Os alimentos podem retardar o intervalo até alcançar as concentrações séricas de pico. Ciprofloxacino, ofloxacino e levofloxacino foram detectados no leite materno; em razão de sua biodisponibilidade excelente, existe possibilidade de exposição significativa dos lactentes amamentados. Com exceção do moxifloxacino, as quinolonas são eliminadas predominantemente pelos rins e as doses devem ser ajustadas quando há insuficiência renal. Usos terapêuticos O ácido nalidíxico é útil apenas para tratar infecções do trato urinário causadas por microrganismos sensíveis. As fluoroquinilonas são significativamente mais potentes e constituem a base do tratamento das infecções do trato urinário superiores e inferiores. Norfloxacino, ciprofloxacino, ofloxacino e levofloxacino são eficazes para tratar prostatite causada por bactérias sensíveis. Algumas fluoroquinolonas mais novas, inclusive levofloxacino, moxifloxacino e genlifloxacino, têm atividade excelente contra patógenos respiratórios típicos. Efeitos adversos As reações adversas mais comuns são náuseas, vômitos e desconforto abdominal. Os efeitos colaterais referidos ao SNC (1-11 % dos casos) incluem cefaleia leve e tontura. Artralgias e dor articular são relatadas ocasionalmente por pacientes tratados com fluoroquinolonas. Interações medicamentosas Todas as quinolonas formam complexos com cátions bivalentes e trivalentes (p. ex., cálcio, ferro ou alumínio). Quando são administrados por via oral com quinolonas, esses cátions podem formar quelatos com esses antibióticos e reduzir sua biodisponibilidade sistêmica. Antissépticos para infecções do trato urinário Os antissépticos do trato urinário concentram-se nos túbulos renais, onde inibem o crescimento de muitas espécies. Esses compostos não podem ser usados para tratar infecções sistêmicas, porque as doses seguras não alcançam concentrações eficazes; contudo, eles podem ser administrados por via oral para tratar infecções do trato urinário. Metenamina A metanimina é um profármaco que atua formando formaldeído. Com pH de 7,4, quase não ocorre decomposição; a produção de formaldeído é 2 de 6% da quantidade teórica no pH de 6 e de 20% no pH de 5. Por conseguinte, a acidificação da urina favorece a produção do formaldeído e a ação antibacteriana dependente desse composto. Quase todas as bactérias são sensíveis ao formaldeído livre em concentrações de cerca de 20 µg/mL. Os microrganismos não desenvolvem resistência ao formaldeído. Os microrganismos que decompõem a ureia (p. ex., Proteus spp.) tendem a elevar o pH da urina e, portanto, a inibir a liberação de formaldeído. A metenamina é absorvida por via oral, mas 10 a 30% sofrem decomposição no suco gástrico, a não ser que o fármaco seja protegido por revestimento entérico. Devido à produção de amônia, a metenamina está contraindicada na insuficiência hepática. Nitrofurantoína A nitrofurantoína é usada para evitar e tratar infecções do trato urinário. É ativada por redução enzimática com formação de intermediários altamente reativos, que parecem ser responsáveis pela capacidade observada desse fármaco de causar danos ao DNA bacteriano. As bactérias reduzem a nitrofurantoína mais rapidamente do que as células dos mamíferos, o que é Thaís Lopes Valente – Instituto de Ciências Farmacêuticas UFRJ Macaé responsável pela atividade antimicrobiana seletiva do fármaco. A nitrofurantoína é rápida e completamente absorvida pelo trato gastrintestinal. Concentrações antibacterianas não são alcançadas no plasma depois da ingestão de doses recomendadas, devido à rápida eliminação do fármaco. A nitrofurantoína foi aprovada para tratar infecções do trato urinário inferiores, mas não é recomendada para tratar pielonefrite ou prostatite
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