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SP 1.4 Vacinação ou imunização? 1 ⛲ SP 1.4 Vacinação ou imunização? Túlio tem 13 meses de idade. Há dois dias, segundo a mãe, começou a apresentar secreção nasal hialina (coriza) e febre baixa não medida. Como não encontrou alterações além das decorrentes de uma rinite não complicada, a enfermeira que atendeu a criança na sala de acolhimento da UBS orientou apenas o uso de sintomáticos e limpeza das narinas com soro fisiológico. Avaliando o cartão de vacinações do menino, lembrou à sua mãe que era necessário trazê-lo à UBS para vacinação, tão logo melhorasse do acometimento das vias aéreas e que sempre que suspeitasse, medisse a temperatura axilar para ver se era febre mesmo. Entretanto, Cleide, a mãe, como Túlio melhorou, esqueceu-se da recomendação sobre as vacinas. Seis meses mais tarde, Túlio começou a apresentar prostração, febre, tosse e manchas avermelhadas na pele, iniciando-se na cabeça e caminhando em direção aos pés. Cleide voltou com Túlio a UBS e quando a médica examinou a boca da criança, encontrou pequenas lesões: pontos brancos, com halo eritematoso difuso. Ficou mais tranquila quando não evidenciou ruídos adventícios pulmonares e nem rigidez de nuca. Recomendou repouso, hidratação, Vitamina A e sintomáticos como Paracetamol e pedindo o seu retorno para reavaliação em dois dias. Diante do diagnóstico, a enfermeira perguntou à médica se deveria fazer a notificação da doença no SINAN. A médica respondeu que sim, era necessário. Quando interrogada, a mãe relatou não ter trazido a criança para a vacinação quando a enfermeira recomendou. Perguntou por que não aplicavam todas as vacinas logo depois do nascimento, ou mesmo nela durante a gestação... A médica explicou pacientemente o desenvolvimento “das defesas” do bebê durante a gestação, e as formas pelas quais o bebê recebia os nutrientes e também os anticorpos da mãe através da placenta e que com isso ficava protegido contra certas doenças por algum tempo, explicou também que o SP 1.4 Vacinação ou imunização? 2 calendário vacinal era organizado criteriosamente para que a proteção da criança se fizesse da melhor forma possível. Cleide voltou para casa jurando para si mesma que nunca mais ia esquecer-se de vacinar os filhos nas datas marcadas nos cartões, reconhecendo que o pior poderia ter acontecido. Logo depois da recuperação de Túlio e seguindo instruções da enfermeira, retornou para vacinação do filho. Conceitos: Halo eritematoso difuso: É uma coleção de pus localizada e profunda, situada na derme ou tecido subcutâneo que geralmente se acompanha de sinais inflamatórios (edema, rubor, calor e dor) causada por infecção, inflamação ou degeneração tumoral. Ruídos adventícios pulmonares: Os “ruídos adventícios” são qualquer som anormal audível na ausculta, que não representam os sons respiratórios fisiológicos ou a ressonância vocal. Esses sons são formados por um fluxo anômalo do ar, geralmente secundário ao acúmulo de secreções ou à obstrução brônquica. SINAN: O Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan é alimentado, principalmente, pela notificação e investigação de casos de doenças e agravos que constam da lista nacional de doenças de notificação compulsória, mas é facultado a estados e municípios incluir outros problemas de saúde importantes em sua região. Secreção nasal hialina: Coriza incolor no nariz. Problemas: Vacinação incompleta de túlio Túlio apresentava febre, coriza, tosse, exantema e lesões na boca A enfermeira tinha dúvida se seria um caso de notificação no SINAN O desconhecimento da mãe da importância e das formas de imunização Hipóteses: Túlio estava com Sarampo por falta do conhecimento da mãe sobre a vacinação SP 1.4 Vacinação ou imunização? 3 A doença de Túlio é altamente contagiosa e poderia ter sido evitada com a vacinação. O tratamento inicial dos sintomas de Túlio dado pela enfermeira foi correto. Trata-se de uma doença de notificação compulsória. Questões de Aprendizagem: Descreva a diferença entre vacinação e imunização Imunização: é o processo pelo qual uma pessoa se torna imune ou resistente a uma doença infecciosa, normalmente pela administração de uma vacina. Vacinas: estimulam o próprio sistema imunológico do corpo a proteger a pessoa contra infecções ou doenças posteriores. A imunização evita doenças, incapacidade e mortes por enfermidades. IMUNIDADE PASSIVA: Adquirida sem que o sistema imune seja estimulado por um antígeno Transferência de soro ou gamaglobulinas de um doador imune para um indivíduo não imune Adquirida naturalmente ou artificialmente. Imunidade passiva naturalmente adquirida: Imunidade é transferida da mãe para o feto através da transferência placentária de IgG ou transferência pelo colostro de IgA. Imunidade passiva artificialmente adquirida: transferida artificialmente pela injeção com gamaglobulinas de outros indivíduos ou gamaglobulinas de um animal imunizado. Vantagem de prover proteção imediata. Eficientes durante apenas por uma curta duração e frequentemente resulta em complicações patológicas. Imunoglobulinas homólogas têm o risco de transmitir hepatites e HIV. IMUNIDADE ATIVA: Imunidade produzida pelo corpo após exposição de antígenos Imunidade ativa naturalmente adquirida: Exposição a diferentes patógenos leva a infecções sub-clínicas ou clínicas que resultam em uma SP 1.4 Vacinação ou imunização? 4 resposta imune protetora contra esses patógenos. Imunidade ativa artificialmente adquirida: Imunização pode ser conseguida ao administrar patógenos vivos ou mortos ou seus componentes. Vacinas usadas para imunização ativa consistem em organismos vivos (atenuados), organismos completos mortos, componentes microbianos ou toxinas secretadas (que tenham sido detoxificadas). Vacina: A vacina é um imunobiológico que atua de forma preventiva. Para produzir a resposta imune, inocula-se um agente patogênico em um organismo, que prepara o sistema imunológico para se defender quando o corpo tiver contato com esse micro-organismo novamente. Normalmente, os imunizantes utilizam vírus fragmentados ou vírus inteiros inativados (mortos), que não são capazes de adoecer o indivíduo. A resposta imunológica induzida pela vacina é chamada de imunidade ativa. Para que serve: Prevenir o adoecimento quando a pessoa entra em contato com o vírus. Prós: A vacina confere imunidade duradoura e diminui casos graves da doença e evitar óbitos e internações. Soro: O soro é também um imunobiológico mas, diferentemente da vacina, é uma forma de tratamento, não de prevenção. Geralmente, o agente causador da doença é inoculado em um animal, que responde produzindo anticorpos. Depois, utiliza-se o plasma do animal para separar as imunoglobulinas, que atuam contra organismos invasores. Trata-se de uma imunidade passiva. Para que serve: Tratar pessoas já infectadas. Prós: Controlar de forma precisa a quantidade de anticorpos introduzidos no paciente. Plasma O plasma convalescente, também um tratamento, tem uma finalidade parecida com a do soro. Porém, não houve injeção do vírus inativado no organismo. A SP 1.4 Vacinação ou imunização? 5 pessoa teve contato direto com o novo vírus e adoeceu. O organismo do indivíduo reconhece o micro-organismo como estranho e se defende, produzindo anticorpos que a protegem. A ideia de utilizar o plasma como tratamento é fazer um processo parecido com uma transfusão de sangue de uma pessoa curada para uma pessoa infectada. Como o doador tem anticorpos, a pessoa que recebe o plasma será capaz de reconhecer o vírus e combatê-lo mais rapidamente. Para que serve: Tratar pessoas já infectadas. Prós: Ser uma alternativa rápida para tratar a doença e diminuir a gravidade dos casos e as internações enquanto não há tratamento específico. Descreva a fisiologia desenvolvimento da imunidade antes e após o nascimento (inata, adquirida, sistema complemento e órgãos de desenvolvimento imune). O sistema-complemento desempenha um importantepapel na defesa contra inúmeros microrganismos infecciosos, como parte tanto da resposta imunológica natural quanto da resposta imunológica adquirida mediada por anticorpos. Ele foi assim denominado em consequência das primeiras observações de sua atividade — um material sérico, sensível ao calor, que “complementava” a capacidade de o anticorpo matar bactérias — e atualmente sabemos que o complemento é constituído por aproximadamente 30 proteínas entre as circulantes e as expressas na membrana. Os componentes do complemento são sintetizados no fígado e por células envolvidas na resposta inflamatória. Existem três vias de ativação do complemento: a via clássica, a via da lectina e a via alternativa. A via clássica é ativada quando o componente C1 do complemento se liga a um complexo antígeno–anticorpo (mais frequentemente, o anticorpo se liga à superfície do patógeno como, por exemplo, uma bactéria); a via da lectina é ativada quando a lectina de ligação à manana (MBL) se liga a resíduos terminais de manose na superfície de bactérias Gram-positivas ou Gram-negativas, fungos e leveduras, enquanto a via alternativa é ativada quando o componente C3b do complemento se deposita na superfície do patógeno. As etapas iniciais de cada via de ativação envolvem a ativação sequencial de sucessivos componentes do complemento na superfície do patógeno: a ativação de um componente induz uma função SP 1.4 Vacinação ou imunização? 6 enzimática que atua no componente seguinte na cascata, clivando-o em fragmentos biologicamente ativos, e assim por diante. Descreva a fisiopatologia e resposta imune evolutiva do sarampo (diagnóstico, tratamento e prevenção). O sarampo é uma doença exantemática febril e aguda causada pelo vírus Measles morbillivirus, que tem o homem como único hospedeiro natural. O vírus do Sarampo (MeV) é um patógeno aéreo que, quando aspirado para o trato respiratório, infecta, principalmente, os Macrófagos Alveolares e as Células Dendríticas (DCs). O sarampo é considerado uma das doenças infecciosas mais contagiosas do mundo, sendo capaz de atingir todos os grupos etários e é uma das principais causas de morte evitáveis por vacinas entre crianças. Transmissão: de pessoa para pessoa pela via respiratória, através da inalação de aerossóis ou por contato com secreções de nasofaringes infectadas. A transmissibilidade desse vírus é alta, e o mesmo pode permanecer ativo no ar ou superfícies infectadas por até duas horas (MELLO, 2014; LEMOS, 2016). Tratamento: Cuidados de suporte Para crianças, vitamina A O tratamento do sarampo é de suporte, inclusive para encefalite. Pacientes hospitalizados com sarampo devem ser tratados com precauções de contato e ambientais padrão: quartos isolados individuais proteção para infecção aerotransportada e máscaras N-95 ou equipamentos de proteção individual semelhantes. Pacientes ambulatoriais com sarampo e sem outras doenças são mais contagiosos por 4 dias após o desenvolvimento do exantema e deve-se limitar severamente o contato com outras pessoas durante a doença. A suplementação de vitamina A mostrou reduzir a morbidade e a mortalidade decorrentes do sarampo em crianças nos países em SP 1.4 Vacinação ou imunização? 7 desenvolvimento. Como os baixos níveis séricos de vitamina A estão associados à doença grave decorrente do sarampo, o tratamento com vitamina A é recomendado para todas as crianças com sarampo. A dose é administrada por via oral uma vez ao dia, durante 2 dias, e depende da idade da criança: > 1 ano: 200.000 unidades internacionais (UI) 6 a 11 meses: 100.000 UI < 6 meses: 50.000 UI Em crianças com sinais clínicos de deficiência de vitamina A, uma dose adicional única especifica para a idade é repetida 2 a 4 semanas mais tarde. Quais os impactos da não-vacinação nos primeiros anos de vida? Os recém-nascidos e lactentes jovens apresentam seu sistema imunológico imaturo, o que os torna mais suscetíveis aos agentes infecciosos presentes nesse período. Diferenças observadas na imunidade inata e adaptativa são responsáveis pelo prejuízo das defesas do neonato. Os defeitos da imunidade adaptativa requerem o contato prévio com antígenos, enquanto o sistema inato não necessita de experiência imunológica prévia. As vacinas atuam estimulando a imunidade específica, que é exercida por meio de anticorpos (imunidade humoral) e de linfócitos com função efetora (imunidade celular), portanto é de suma importância para desenvolvimento da imunidade nas crianças. As conseqüências da não vacinação: Ressurgimento de doenças até então erradicadas, como por exemplo o sarampo. Muitas crianças que contraíram a doença não foram vacinadas por recusa de seus pais ou orientações equivocada Aumento da morbidade e da mortalidade, não somente de crianças, mas também da população adulta Fonte: Diniz, L. M. O. et al. O sistema imunológico do recém-nascido. Revista Médica de Minas Gerais 2014; 24(2): 233-240. DOI: 10.5935/2238- 3182.20140056 SP 1.4 Vacinação ou imunização? 8 Qual é e como/por que é organizado o calendário vacinal e os tipos de vacina? (Resposta imune para cada vacina/ atenuado) O planejamento de um calendário vacinal deve, do ponto de vista epidemiológico, evitar um grande intervalo entre vacinas sucessivas, iniciando-se o mais precocemente possível, considerando a resposta imunológica dos produtos em relação às idades, assim como a história das enfermidades na população. Para ser aceitável, deve-se avaliar: hábitos de deslocamento da população; as alterações climáticas que interrompem atividades comunitárias; crenças e costumes locais que possam representar um obstáculo à divulgação e execução. Em relação a questões operacionais, o calendário deve prever um mínimo de visitas para um mesmo indivíduo e otimizar a administração simultânea de várias vacinas e de vacinas combinadas. Periodicamente, deve haver uma atualização e revisão dos critérios estabelecidos, considerando-se as respostas obtidas, assim como novas informações científicas, demonstrando a eficácia do calendário estabelecido. Coico, Richard, e Geoffrey Sunshine. Imunologia. Descreva a imunidade via transplacentária (transporte placentário). O feto em desenvolvimento é passivamente imunizado com IgG materna como resultado da transferência transplacentária de anticorpos. Tais anticorpos estão presentes no momento do nascimento e protegem o neonato contra infecções que possam ser combatidas pela IgG oriunda da imunidade materna. Por exemplo, a transferência de anticorpos contra toxinas (tétano, difteria), vírus (sarampo, poliovírus, caxumba etc.) e para determinadas bactérias (H. influenza e ou Streptococcus agalactia e do grupo B) pode dar proteção à criança nos primeiros meses de vida. Logo, imunizações ativas e adequadas da mãe constituem um meio simples e eficiente de garantir proteção passiva ao feto e ao lactente. (Notar, porém, que alguns bebês prematuros podem não adquirir anticorpos maternos na proporção que bebês com gestação completa o fazem.) A vacinação com toxoides pode desencadear uma resposta por IgG que atravessa a placenta e protege o feto e o recém- nascido. Essa proteção é extremamente importante em áreas do mundo onde SP 1.4 Vacinação ou imunização? 9 o ambiente obstétrico insalubre pode resultar em tetanus neonatorum (tétano em recém-nascidos). Coico, Richard, e Geoffrey Sunshine. Imunologia. O neonato é altamente dependente da transferência materna passiva de anticorpos no início da vida fetal e neonatal. O desenvolvimento imunológico somente estará completo na infância tardia. O leite materno é um exemplo importante de transferência de imunidade passiva no período pós-natal. Ele possui funções antimicrobianas, anti-inflamatórias e imunorreguladoras. Contém a IgA secretora, que coloniza o trato gastrintestinal e respiratório do neonato, células ativas (fagócitos, células natural killer e linfócitos), citocinas (IL-4, IL-6, IL-8, IL-10) além de lisozima,lactoferrina, peroxidase e lípides antimicrobianos. http://rmmg.org/artigo/detalhes/1604 → IgG: transferido de forma TRANSPLACENTÁRIA. E altas concentrações ao RN. → IgM, IgA e IgE: Transferido em baixas doses ao RN Descritores: Fenômenos do Sistema Imunológico / Immune System Phenomena. Sistema Imunitário / Immune System. Desenvolvimento Infantil / Child Development. Imunização / Immunization. Imunogenicidade da Vacina / Immunogenicity, Vaccine. Programas de Imunização / Immunization Programs. Sarampo / Measles. http://rmmg.org/artigo/detalhes/1604
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