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APARELHO ESTOMATOGNÁTICO Alfredo Julio Fernandes Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 Sabedor de que é um ser bio psico social, boa parte das ações do homem na sociedade objetiva fazer a vida melhor para a humanidade, ou despertá-la para as medidas ou precauções necessárias. Um importante elemento neste caso é o nível de saúde do indivíduo, de um grupo ou de uma sociedade. Saúde não significa apenas a ausência de doença, mas também bem estar somático, psico, social e harmonia no meio em que vive. É importante que os profissionais que trabalham com pacientes que apresentam e sofrem com as conseqüências das desordens do Aparelho Estomatognático e estruturas relacionadas, tenham consciência de que também os fatores somáticos, psíquicos e sociais podem estar alterados e compro- meter o senso normal de bem estar. Estes pacientes podem apresentar persistente desconforto na face, cabeça, articulações temporomandibulares – ATMs e pescoço, além de contrações, fadiga muscular e limitação dos movimentos mandibulares. Estalidos nas ATMs ocorrem com freqüência e geralmente são tolerados pelos pacientes, até que atraiam a atenção de outros, originando um incômodo e um problema social ao paciente. A dor de cabeça pode ser tolerada uma única vez, mas a repetição diária altera o comporta- mento do paciente, irrita familiares e colegas de trabalho. Os sintomas mencionados se forem discretos e esporádicos podem ser ignorados por alguns pacientes, porém para outros podem ser sérios a ponto de causar redução da capacidade de trabalho, complicações emocionais, sociais e econômicas. Mesmo com o conhecimento que os profissionais da Odontologia tem sobre as desordens do Aparelho Estomatognático, um grande número de pacientes continua sem um diagnóstico definitivo, seguido de uma falta de interesse em tratá-los. Isto constitui um importante estímulo aos profissionais em aprofundar os conheci- mentos nesta área. Pesquisas epidemiológicas têm dado importantes informações da freqüência destas desordens em pacientes de ambos os sexos, e de diferentes faixas etárias e classes sociais. Considerando que todas as condutas terapêuticas se sustentam no respeito à natureza, e objetivam a remoção dos fatores etiológicos e o resgate da biologia dos tecidos e fisiologia do Aparelho Estomatog- nático, não se pode pensar em promoção de saúde sem um profundo conhecimento deste aparelho, o que justifica uma breve revisão sobre esse assunto. O Aparelho Estomatognático - AE, é uma entidade fisiológica, funcional, perfeitamente definida e integrada por um conjunto heterogêneo de órgãos e tecidos, cuja biologia e fisiopatologia são absoluta- mente interdependentes, envolvidos nos atos funcionais como: fala, mastigação e deglutição dos alimentos, e nos atos para- funcionais como: apertamento dentário e bruxismo. Esse aparelho tem como funções mastigação, deglutição, fonação, expressão e estética facial e postura da mandíbula, da língua e do osso hióide. Dentre elas a Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 2 mastigação é que gera o maior esforço oclusal. Seus componentes anatômicos são: todos os ossos fixos da cabeça, a mandíbula, o hióide, as clavículas e o esterno, os músculos da mastigação, deglutição, expres- são facial e posteriores do pescoço, as articulações dento-alveolar (periodonto) e temporomandibular (ATM) e seus ligamen- tos, os sistemas vasculares e nervoso, os dentes, a língua, os lábios, as bochechas e as glândulas salivarias. O sistema neuromuscular, as articula- ções temporomandibulares - ATMs, a oclu- são dentária e o periodonto são as quatro unidades fisiológicas básicas que integram uma unidade biológica funcional do AE, que por sua vez pertence à outra unidade biológica fundamental, o indivíduo, do qual não pode ser separada ao se fazer conside- rações diagnósticas, prognosticas e terapêu- ticas em se tratando de promoção de saúde. Sistema Neuromuscular O sistema neuromuscular é conside- rado fator preponderante nas funções do Aparelho Estomatognático, pois os múscu- los excitados pelo sistema nervoso, constituem-se no elemento ativo, que origina as forças necessárias às funções a que se destinam (fig. 01). As demais unidades representam os elementos passivos encarregados de receber e transmitir a ação das forças. Fig. 01 – Sistema neuromuscular Para o entendimento da interação do sistema neuromuscular com a morfologia oclusal, faz-se necessário o conhecimento das relações anatômicas das ATMs e de seus ligamentos com os músculos que o constituem. Este conhecimento inclui a função, a inervação e a vascularização destes músculos. ª SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso tem como funções básicas: 9 Manutenção da constância do meio interno (homeostase), por meio de funções vegetativas que asseguram sua organização. 9 Emissão de comportamentos que são funções globais do organismo no meio em que vive. Para o melhor entendimento do mecanismo de ação do sistema nervoso, deve-se recordar que este se constitui de sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP). O SNC constitui-se do encéfalo e da medula espinhal. O encéfalo abrange o cérebro, o cerebelo e o tronco encefálico. No cérebro distinguem-se: o córtex motor que se relaciona com os movimentos voluntários dos músculos estriados, o córtex sensorial que se relaciona com a sensibi- lidade profunda e cutânea e o tálamo que é o centro de passagem de todas as sensações, com exceção do olfato. O cerebelo tem como função principal a coordenação e refinamento dos movimen- tos musculares, sendo também importante na postura e tônus muscular. No tronco encefálico distinguem-se o mesencéfalo, a ponte e o bulbo. A principal estrutura do sistema nervoso periférico é o neurônio (célula nervosa), que é composto de um corpo celular e seu processo (axônio) que conduz impulsos para e do corpo celular. Um neurônio aferente conduz impulsos nervosos em direção ao SNC, enquanto um neurônio eferente conduz impulsos para a periferia por meio de axônios. A detecção e subseqüente transmissão de um evento nocivo é chamada de Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 3 nocicepção. Nervos aferentes primários com terminais periféricos (receptores) são conhecidos como nociceptores. Os principais nervos do Aparelho Estomatognático são o facial (fig. 02), o trigêmeo, o glossofaríngeo e o hipoglosso. Fig. 02 - Nervo facial • Neurofisiologia A neurofisiologia bucal é a parte da biologia que explica os mecanismos a serem explorados como recursos terapêuticos. É fundamental aprofundar o conhe- cimento nesta área, para estabelecer um elo entre o estímulo e a resposta nas abordagens clínicas, visto que os diversos caminhos percorridos pelos estímulos, elucidam por meio da participação do sistema nervoso, onde e como agir. A neurofisiologia se desenvolve em três etapas definidas: 1. Percepção do estímulo sensorial. 2. Integração no SNC. 3. Reação motora (na forma de contração muscular e/ou função glandular). A percepção do estímulo sensorial é o mecanismo pelo qual o SNC se mantém informado das condições internas e externas existentes no organismo, e se constitui de duas fases: a recepção do estímulo por meio dos receptores nervosos e a condução do estímulo até o SNC por meio das vias condutoras aferentes (sensorial).Os receptores nervosos são termina- ções nervosas sensoriais, especializadas e sensíveis a determinados estímulos. Em geral, cada tipo de receptor só responde a um determinado tipo de estímulo, e pouco ou quase nada a outros. Os receptores são classificados em grandes grupos: • Exteroceptores que são estimulados por mudanças externas, como dor (termi- nações nervosas livres), temperatura (corpúsculo de Ruffini ao calor e bulbo terminal de Krause ao frio), tato (corpúsculo de Meissner), pressão (corpúsculo de Paccini), audição, visão, e outros. Estão localizados nas mucosas, pele e estruturas especializadas dos órgãos dos sentidos. • Interoceptores que são estimulados pelas mudanças das condições internas do indivíduo, como pressão (corpúsculos de Vater-Paccini localizados no tecido gengival, periósteo, tecido sub-cutâneo, ligamentos e cápsulas articulares), mudanças químicas, posição relativa, e outros. Os interoceptores incluem: a) os visceroceptores, localizados nas vísceras e vasos sangüíneos, que percebem a fome, a sede e a dor visceral. b) os proprioceptores, localizados nas articulações, músculos, ligamentos e mem- brana periodontal que estão relacionados com a sensação de posição e pressão, sentido de movimentos, etc. Todos os interoceptores, especialmen- te os proprioceptores, são mais sensíveis que os exteroceptores, e informa ao SNC sobre possíveis condições adversas na intimidade dos tecidos do organismo. Como exemplo, na membrana periodontal há proprioceptores capazes de perceber uma folha de papel de um centésimo de milímetro de espessura entre os dentes ocluídos, assim ocorre com restaurações ligeiramente altas que são percebidas por estes. Um outro tipo especial de receptor é o fuso neuromuscular, localizado nos múscu- los, na região de transição entre as fibras musculares e as fibras tendíneas. São sensí- veis às mudanças de tensão muscular e aos impulsos provenientes do SNC, com inerva- Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 4 ção sensorial e motora própria, permite produzir os estímulos no próprio músculo. A integração no SNC ocorre a partir da produção de um estímulo no SNP captado por um receptor específico, a partir do qual, se inicia uma via ascendente (pelos nervos sensoriais aferentes) até o SNC especificamente até o córtex sensorial, por meio dos diferentes constituintes do sistema nervoso (cerebelo, tálamo, e outros), quando o estímulo é então identificado, tornando-se consciente. Cada estímulo específico é individua- lizado e determina uma reação específica correspondente. A reação motora, do córtex motor, inicia-se após a integração de um estímulo ao córtex sensorial do cérebro. O impulso motor gerado inicia uma via descendente, por meio dos vários constituintes do sistema nervoso até o executor correspondente. Ex.: córtex motor, cerebelo, tronco encefálico, mesencéfalo (núcleo motor), nervos eferen- tes e músculos. Em todo o trajeto seguido pelos impulsos, existem vários controles de regis- tro, regulação, modificação e coordenação em diversos níveis (tálamo, formações reticulares), para dar uma resposta motora adequada. Porém a função reguladora principal dos impulsos sensoriais e motores estão no cerebelo, cumprindo uma impor- tante função de coordenação e refinamento da reação motora. Existe outro tipo de mecanismo neuromuscular inconsciente, cuja ação motora se produz sem intervenção do córtex cerebral, de forma automática que são os arcos reflexos. Os componentes fundamentais de um arco reflexo são: 1- Estímulo específico, um receptor perifé- rico, sensível a um determinado estímulo ambiental; 2- Integração (cérebro), uma ou mais célu- las intercalares ou interneurônios, que competem a elaboração das informações transmitidas pelos receptores e sua posterior transmissão; 3- Reação motora (específica), um neurônio motor eferente que transmite a infor- mação ao órgão executor. Os arcos reflexos se classificam como incondicionados e condicionados. Os incondicionados (inatos – congêni- tos) são aqueles que não intervêm previa- mente no cérebro, nem há treinamento. Ex.: respiração, sucção, deglutição, movimentos mandibulares. Os condicionados (adquiridos ou aprendidos) são aqueles nos quais o cérebro atua nas primeiras ocorrências da percep- ção, da integração e da resposta motora. Com a sucessiva repetição do estímulo e sua correspondente integração e reação motora, estabelece-se uma sinapse entre os neurô- nios aferentes (sensitivos) e os eferentes (motores) ao nível do talo encefálico, sem a intervenção do córtex cerebral, tornando-se automático ou inconsciente. Ex. Presente nas crianças antes da erupção dos dentes, os movimentos reflexos simples de abertura e fechamento mandibu- lar fazem parte dos reflexos inatos de sucção e amamentação. Com a erupção e oclusão dos dentes, os contatos interoclusais excitam os proprioceptores da membrana periodontal, cujos estímulos sensoriais chegam ao SNC pelo cérebro onde são integrados, produzindo a resposta motora indicada. Posteriormente, ante a situação de reforço constante do mesmo estímulo, cria- se um arco reflexo adquirido, produzindo-se a sinapse dos neurônios aferentes e eferen- tes, tornando-se desnecessária a intervenção do córtex cerebral para que ocorra a mastigação, reflexo semelhante ocorre no ato de andar e outros. Os reflexos mais importantes que se apresentam no Aparelho Estomatognático são: - Reflexo de estiramento (miotático): atua no sentido de evitar o estiramento passivo dos músculos. Apresenta-se mais sensível nos músculos que se opõem à força de gravidade. Ex. masseter, temporal e pterigóideo lateral (que evitam queda da mandíbula). Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 5 - Reflexo tactoceptivo (tangoceptivo): existente na membrana periodontal e nos músculos, a partir de receptores nervosos sensitivos permitem ao SNC reconhecer o movimento mandibular a ser realizado e a intensidade da força que deverá aplicar. - Reflexo flexor (nociceptivo): tem função protetora de todas as estruturas do Aparelho Estomatognático, pois afasta a parte excitada do agente injuriante. É responsável pela alteração da posição mandibular para evitar o trauma periodontal em um dente com distúrbio oclusal. - A coordenação dos reflexos se deve em razão dos reflexos de estiramento e flexor serem antagônicos, logo a atividade de um deve necessariamente inibir a do outro. Se ambos os reflexos forem ativados simultaneamente, o padrão flexor é o domi- nante, o que é muito favorável ao organismo, pois o mesmo é fundamental- mente protetor. - A inervação recíproca atua quando um músculo é ativado simultaneamente, inibindo ou relaxando os músculos de ação antagônica. O fracasso dessa inervação recíproca desempenha um papel importante na patogenia de diversas disfunções do Aparelho Estomatognático. ª Sistema Muscular O sistema muscular humano compõe- se: de músculos esqueléticos, também chamados músculos estriados, que atuam sob controle voluntário e estão envolvidos com os movimentos, postura e equilíbrio, e de músculos lisos que atuam sob controle involuntário e encontram-se nas paredes dos vasos sangüíneos e em estruturas como bexiga urinária, intestinos, estômago e músculo cardíaco. Muitos invertebrados e todos os vertebrados dependem deste tecido contrátil para locomoverem-se, e tais tecidos são agrupados em sistemas coordenados para maior eficiência.• Tipos funcionais dos músculos Os músculos são divididos pelos fisiologistas em dois grandes grupos: fásicos e tônicos. Os músculos fásicos são compostos de fibras capazes de rápida ativação e relaxamento. Eles são bem adaptados para movimentos rápidos de curta duração. As fibras dos músculos tônicos contraem-se e relaxam mais lentamente, induzem movi- mentos lentos e sustentam as estruturas anexas por um longo período de tempo. Ainda que seja muitas vezes útil pensar nos músculos como fásicos ou tônicos é difícil caracterizá-los claramente como tal, pois os períodos de contração e relaxamento variam intensamente nos diferentes músculos, além disso, alguns deles podem contrair fasica- mente num determinado momento e tonicamente em outro. A extremidade de um músculo ligada a um elemento móvel é chamada de inserção e a extremidade oposta, unida a um elemento fixo, é chamada de origem. A inserção e a origem são termos descritivos convenientes, mas deve-se enfatizar que a tensão nos dois extremos é a mesma. Não se pode atribuir uma função específica a cada músculo, pois estudos recentes mostram uma integração extrema- mente complexa em cada um dos movi- mentos mandibulares. As descrições a seguir se limitam às funções principais de cada músculo para o entendimento dos movimentos e posições mandibulares. Fig. 03 – Músculos do Aparelho Estomatognático Durante a função fisiológica dos músculos do AE na oclusão dos dentes em uma posição mandibular estável, um distúrbio oclusal poderá se tornar Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 6 intolerável ao paciente e gerar desconforto muscular, podendo precipitar uma pato- logia. O acadêmico e o Cirurgião Dentista devem ser capazes de palpar a musculatura do AE (fig. 03), e diagnosticar qualquer possível patologia e seus fatores etiológicos. 9 Consideram-se músculos da mastigação: O músculo Temporal. • Tem origem na linha temporal superior e soalho da fossa temporal. • Insere-se no processo coronóide e borda anterior do ramo mandibular, por meio dos tendões: superficial e longo profundo (fig. 04). • É inervado pelos nervos temporais profundos (ramos do trigêmeo). • É vascularizado pelas artérias tempo- rais profunda anterior, média e posterior. • Tem as funções de elevar, retrair e posicionar a mandíbula e ocluir os dentes (fig. 05). Fig. 04 – Inserção do músculo temporal: A – tendão superficial: B – tendão longo profundo Fig. 05 – Músculo temporal – funções: elevação, retração e posicionamento da mandíbula. O músculo Masseter. • Sua porção superficial tem origem nos 2/3 anteriores do arco zigomático e sua porção profunda na superfície média do arco zigomático. • Insere-se na superfície lateral externa do ramo e ângulo da mandíbula. • É inervado pelo nervo masseterino (ramo do trigêmeo). • É vascularizado pela artéria masseterina (ramo da artéria maxilar). • Têm as funções de elevar a mandíbula e ocluir os dentes (fig. 06). Fig. 06 – Músculo masseter – funções: elevar a mandíbula e ocluir os dentes. A força dos músculos (masseteres) tem sua maior concentração sobre a cúspide mésio-palatina dos primeiros molares (fig. 07). Fig. 07 – Localização do ponto de maior concentração das forças dos músculos masseteres. O músculo Pterigóideo Lateral. • Sua porção superior tem origem na superfície infratemporal da asa maior do osso esfenóide, e a porção inferior na A A B Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 7 superfície do processo pterigóide do osso esfenóide. • Insere-se ao feixe superior no disco articular (menisco) e cápsula da ATM, e o feixe inferior na fossa pterigóidea (colo do côndilo). • É inervado pelo nervo pterigóideo lateral (ramo do trigêmeo), • Vascularizado pela artéria pterigóidea lateral (ramo da artéria maxilar). • Tem as funções de protruir a mandíbula e tracionar o disco articular para frente, assistindo aos movimentos protrusivos da mandíbula (fig. 08). Fig. 08 – Músculo pterigóideo lateral – função: protrusão mandibular. O músculo Pterigóideo Medial • Tem sua origem na face medial da lâmina lateral da fossa pterigóidea na base do crânio. • Insere-se nas porções posterior e inferior da superfície medial do ramo ascendente e ângulo da mandíbula. • É inervado pelo nervo pterigóideo (ramo do trigêmeo). • É vascularizado pela artéria pterigóidea medial (ramo da artéria maxilar). • Tem as funções de elevar e estabilizar lateralmente a mandíbula (fig. 09). PFO-UFU PFO-UFU Fig.09 – Músculo pterigóideo medial – elevar e estabilizar lateralmente a mandíbula. 9 Consideram-se músculos supra-hióideos: O músculo gênio-hióideo. • Tem sua origem nos tubérculos genia- nos inferiores na superfície interna da sínfise mandibular (fig. 10). • Insere-se na superfície anterior do corpo do osso hióide. • É inervado pelo nervo genio-hióideo (ramo do nervo hipoglosso). • É vascularizado pelas artérias lingual e sublingual. • Tem a função de movimentar o osso hióide para frente. Fig 10 – Músculo gênio-hioídeo O Músculo milo-hióideo. • Tem sua origem na linha milo-hióidea da mandíbula (da raiz do último molar à sínfise mandibular), (fig. 11). • Insere-se no corpo do osso hióide e rafe milo-hióidea. • É inervado pelo nervo milo-hióideo (ramo do nervo mandíbula). • É vascularizado pela artéria submento- niana (ramo da artéria facial). Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 8 • Tem as funções de elevar o soalho da boca e com ele a língua, e se os dentes estão ocluídos, auxiliar na deglutição. Fig. 11 – Músculo milo-hióideo O músculo Digástrico. • Tem a origem do ventre posterior: na incisura mastóidea do temporal e do ventre anterior na fossa digástrica da mandíbula (fig. 12). • Insere-se no tendão intermediário, aderindo ao osso hióide por uma alça fibrosa. • É inervado pelos nervos milo-hióideo (ramo do trigêmeo) e facial. • É vascularizado pelas artérias submento- niana, occipital e auricular posterior. • Tem a função de puxar o mento para trás e para baixo na abertura da boca, auxiliando assim o pterigóideo lateral na protrusão da mandíbula. Fig. 12 – Músculo digástrico O Músculo estilo-hióideo. • Tem sua origem na borda posterior do processo estilóide, (fig. 13). • Insere-se no corpo do osso hióide, na junção com o corno maior. • É inervado pelo ramo estilo-hióideo (do nervo facial). • É vascularizado pela artéria auricular posterior. • Tem com função tracionar o osso hióide para cima e para trás. Fig. 13 – Músculo digástrico 9 Consideram-se músculos infra-hióideos: O tiro-hióideo, o esterno-hióideo, o esterno-tireóideo e o omo-hióideo (fig. 14),. Agindo em grupo estão envolvidos nas funções mandibulares de abaixar e estabilizar o osso hióide, o que permite a ação auxiliar dos músculos supra-hióideos no abaixamento da mandíbula. São inervados pelo nervo hipoglosso, tem origem na clavícula e inserção no osso hióide. Fig. 14 – Músculos infra-hióideos 9 Músculos posteriores do pescoço Músculo esternocleidomastóideo • Tem sua origem no manúbrio do esterno e na porção medial da clavícula(fig.15 A). • Insere-se no processo mastóide do osso temporal. • É inervado pelo nervo acessório. • É vascularizado pelas artérias supra escapular e occiptal Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 9 • Tem as funções de flexionar a coluna vertebral e girar a cabeça para o lado oposto. Músculo trapézio • Tem sua origem na protuberância occipital externa (fig. 15 B). • Insere-se na borda posterior do terço lateral da clavícula. • É inervado pelo nervo acessório espinhal. • É vascularizado pela artéria trapezoidal. • Tem a função de girar a escápula. Músculos intrínsecos do pescoço • Tem a função de atuar na fala (fig. 15 C). Fig. 15 – Músculos posteriores do pescoço: A – esternocleidomastóideo, B – trapézio, C – intrínsecos 9 Músculo bucinador • Tem sua origem nos processos álveo- lares das maxilas e mandíbula na região molar e no ligamento pterigomandibular (fig. 16). • Insere suas fibras que se misturam com as fibras do músculo orbicular da boca, no ângulo da boca. • É inervado pelo nervo facial. • É vascularizado pela artéria bucal. • Tem a função de auxiliar na mastigação, distende a bochecha e a comprime de encontro aos dentes, e retrai o ângulo da boca. Fig. 16 – Músculo bucinador 9 Músculo Orbicular da Boca • Tem sua origem nas fibras do bucinador e outros músculos vizinhos (fig.17). • Insere suas fibras de um lado com as fibras do lado oposto na linha mediana dos lábios. • É inervado pelo nervo facial. • É vascularizado pelas artérias labial superior e inferior. • Tem as funções de comprimir os lábios sobre os dentes, fechar a boca e protruir os lábios. Fig. 17 – Músculo orbicular da boca 9 Músculo Platisma • Tem sua origem na fáscia dos músculos peitoral maior e deltóide (fig. 18). • Insere-se na borda inferior da mandi- bula, pele do mento e bochecha. • É inervado pelo nervo facial • Tem a função de abaixar a mandíbula, o lábio inferior e os ângulos da boca e repuxar a pele do pescoço. A B C Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 10 Fig. 18 – Músculo platisma 9 Músculos da língua São dezessete, um ímpar o lingual superior e mais oito pares que executam os diferentes movimentos da língua. A pressão da língua para fora versus a pressão do músculo bucinador para dentro da cavidade bucal, determinam o posicionamento do corredor da pressão neutra (zona neutra), (fig. 19). Conforme os dentes erupcionam, essas forças oponentes os conduzem horizontalmente para sua posição. O tamanho da língua e o comprimento dos músculos peribucais influenciam na posição da zona neutra, assim como o faz qualquer hábito parafuncional que altere a pressão da língua ou dos lábios. Fig. 19 – Direcionamento das forças de pressão da língua e do músculo bucinador, delimitando a zona neutra (região dentada) • Funções musculares Ocorrem por meio de contrações sempre em direção à sua origem, podendo ser: • ISOTÔNICA: quando o músculo ao se contrair tem somente um de seus extremos de inserção fixo, e se encurta sem aumentar a tensão de suas fibras (ex.: abrir e fechar a boca). • ISOMÉTRICA: quando o músculo ao se contrair tem os dois extremos de inserção fixos, não podendo se encurtar, o que gera um aumento da tensão de suas fibras (ex.: hábito de apertamento dentário ou bruxismo). Com base na ação integrada em relação às funções primárias, os músculos da mastigação podem ser divididos em: 1. Motores Primários: também chamados de iniciadores. 2. Sinergistas: que atuam auxiliando os motores primários. 3. Antagonistas: que se opõem à ação dos primários. 4. Estabilizadores (ou de fixação): que mantêm firmes os ossos ou articulações, permitindo uma ação efetiva do grupo muscular ativo. No movimento de fechamento fisioló- gico da mandíbula atuam: -como músculos primários os masséteres; -como sinergistas, os pterigoídeos mediais, temporais anteriores e médios; -como antagonistas os pterigoídeos laterais e o digástrico e - como estabilizadores os temporais posteriores (figs 20 A e B). Fig. 20 – Movimento de fechamento fisiológico, A – fase inicial, B – fase intermediária. • Vascularização A principal artéria do aparelho estomatognático é a carótida externa com seus ramos maxilar e facial (fig. 21). A B Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 11 VASCULARIZAÇÃO Artérias: - facial - maxilar - carótida externa Fig. 21 – Representação esquemática do suprimento arterial do Aparelho Estomatognático Articulação Temporomandibular - ATM A articulação temporomandibular pode ser tecnicamente considerada uma articulação ginglemoartroidal, por realizar movimentos de rotação (ginglemoidal) e translação (artroidal). O homem é portador das articulações temporomandibulares desde o seu nasci- mento, quando ainda inexistem os dentes nas arcadas dentárias. Durante o seu desenvolvimento, os côndilos e as fossas vão se remodelando continuamente por meio da transição da dentição temporária para a permanente e mesmo quando da perda desta última (fig. 23). As ATMs se projetarão ligeiramente para anterior quando da ausência de todos os dentes e são, juntamente com o sistema neuromuscular, as referências que se mantêm durante toda a vida do homem. PFO /UF U Fig. 23 - Nesta ilustração vê-se os diferentes estágios das ATMs durante o desenvolvimento do crânio e da mandíbula de um recém nascido, de uma criança, de um adulto e de um idoso. As articulações temporomandibulares possuem todos os elementos de uma articulação sinovial, incluindo um disco articular (fig. 24). O côndilo é revestido de uma camada fibrocartilaginosa, posiciona-se ânterosuperiormente na fossa mandibular e, apoia-se anteriormente contra a eminência articular, que é protegida por uma camada fibrocartilaginosa em toda a superfície de relacionamento funcional. O disco articular (menisco) com forma bicôncava está colo- cado entre ambas as superfícies articulares, e apresenta a inserção do feixe superior do músculo pterigóideo lateral (no disco arti- cular), e do feixe inferior na fossa pterigói- dea (colo do côndilo). Posterior-mente ao côndilo, encontra-se a zona bilaminar com vascularização e inervação própria, que não é apropriada para suportar o côndilo. C J A L M B D E Fig. 24 – Elementos da ATM – vista sagital: A- superfície articular do osso temporal, B- disco articular, C- cavidade sinovial superior, D- tecido retrodiscal, E- feixe superior da zona bilaminar, J- superfície articular do côndilo, L- feixe superior do pterigoideo lateral, M- feixe inferior do pterigoideo lateral. A irrigação dos elementos que consti- tuem as ATMs é conduzida por ramos das artérias temporal superficial, timpânica an- terior, meníngea média e auricular posterior. A inervação se dá a partir dos receptores localizados em: • Regiões posteriores e laterais da cápsula e ligamento lateral externo – inervados pelo nervo aurículo-temporal. • Região anterior da cápsula – inervada pelos nervos temporais profundos posteriores e massetérico. • Região anterior (articular) do menisco e membrana sinovial contendo poucos receptores. São descritos quatro tipos dereceptores nas ATMs: • Os receptores de Ruffini que determi- nam o ângulo de abertura da boca e variam dependendo do grau de abertura. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 12 • Os receptores de Pacini que são ativados juntos ou transitoriamente com os de Ruffini e assinalam o início e o fim do movimento, e suas respostas não dependem da direção nem da posição inicial do movimento. • Os receptores de Golgi que respondem à pressões fortes nos tecidos articulares e são protetores. • As Terminações Nervosas Livres que são nociceptivas e respondem pela dor. São ligamentos da ATM: 9 Temporomandibular com origem na superfície lateral da eminência articular do osso temporal e inserção no colo da mandíbula (fig. 25). ligamento temporomandibular disco articular Fig. 25 – Cápsula da ATM – ligamento temporomandibular. 9 Estilomandibular com origem no processo estilóide e inserção no ângulo da mandíbula, (fig. 26A). 9 Esfenomandibular com origem na espinha do osso esfenóide e inserção na língula mandibular, (fig. 25B). B A Fig. 26 – A: ligamento estilomandibular; B: ligamento esfenomandibular. 9 Capsular com origem no osso temporal, ao longo da fossa mandibular e eminência articular, e inserção na face lateral do côndilo. Oclusão Oclusão se refere ao estudo das relações estáticas (intercuspidação dentária) e dinâmicas (movimentos mandibulares) entre as superfícies oclusais, e entre estas e todos os demais componentes do AE. Uma oclusão é fisiológica quando apresenta harmonia entre os determinantes anatômicos e as unidades fisiológicas do AE, não gerando patologias aos tecidos. Entretanto na presença de desarmonia a oclusão será patológica, podendo gerar patologias aos tecidos. É considerado maloclusão os contatos oclusais antagônicos ou adjacentes dos dentes em desarmonia, com os componentes anatômicos e unidades fisiológicas do AE. O termo maloclusão não significa doença ou saúde, e sim dentes mal posicionados ou desalinhados. Muitas pessoas apresentam uma maloclusão, mas se adaptam à ela não apresentando sinais patológicos. No Aparelho Estomatognático, os dentes posteriores têm como funções: masti- gação, ponto de apoio da mandíbula durante a deglutição, manutenção da dimensão vertical de oclusão, transmissão e dissipação das forças axiais, e proteção aos dentes anteriores e às ATMs na posição de oclusão em relação cêntrica - ORC. Os dentes anteriores têm como fun- ções: estética, fonética, apreensão e corte dos alimentos, e proteção aos dentes posteriores e às ATMs nos movimentos excêntricos da mandíbula. Periodonto As forças que incidem sobre os dentes são transmitidas aos ossos por meio das fibras periodontais (fig. 22). O equilíbrio entre as forças de ação que incidem sobre os dentes e a reação biológica adequada dos tecidos do periodonto de sustentação, cemento, fibras periodontais e osso alveolar, mantêm a integridade das estruturas e Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 13 representa o principal componente da homeostasia desse periodonto. Fig. 22 Transmissão das forças incidentes ao osso por meio das fibras periodontais. Na mandíbula as forças seguem a trajetória das trabéculas ósseas em direção aos côndilos, de onde são transmitidas e neutralizadas nas regiões temporal, parietal e occipital. Nas maxilas a trajetória trabecular forma três pilares ósseos: anterior, médio e posterior, por meio dos quais as forças se direcionam para as áreas frontal, orbital, nasal e zigomática, onde são neutralizadas. Essas disposições trabeculares asseguram o máximo de resistência óssea ao estresse. A manutenção ou reabilitação do Aparelho Estomatognático A manutenção ou reabilitação do Aparelho Estomatognático pelo Cirurgião- Dentista tem como objetivo preservar ou restabelecer a: • Dimensão vertical – DV. • Relação cêntrica – RC. • Estabilidade oclusal – EO. • Guia anterior – GA. Para isto se fazem necessários os conhecimentos de: • Biologia dos tecidos. • Fisiologia do Aparelho Estomatogná- tico. • Propriedade dos materiais odontológi- cos. • Técnicas de execução dos procedimen- tos clínicos e laboratoriais. • Fundamentos de estética odontológica. E os procedimentos: • Anamnésia, exames: clínico, radiográ- fico e dos modelos de estudo montados em articulador semi-ajustável em RC. • Diagnóstico. • Planejamento e execução de procedi- mentos educativos, preventivos e restau- radores. O que são e a que se destinam os objetivos: Dimensão vertical (DV) é a medida vertical da face, entre dois pontos quaisquer, arbitrariamente selecionados e conveniente- mente localizados um acima, e outro abaixo da boca, normalmente na linha mediana da face, variando entre a dimensão vertical de repouso e dimensão vertical de oclusão. Fundamental na preservação da saúde da unidade fisiológica neuromuscular do AE. A dimensão vertical de repouso (DVR) é a dimensão vertical da face, quando a mandíbula se encontra sustentada pela posição postural, ou de repouso fisiológico dos músculos do AE e com os lábios se contatando levemente. Independe da presença ou não dos dentes. A dimensão vertical de oclusão (DVO) é a dimensão vertical da face, quando os dentes estão em máxima intercuspidação e os músculos contraídos em seu ciclo de potência máxima. Depende da presença dos dentes em oclusão (fig. 27). Músculos da Mastigação Supra-hióideos Infra-hióideos Músculos anteriores e posteriores cervicais Fig. 27 - Grupo de músculos que atuam na dimensão vertical O paciente pode apresentar diferentes perfis faciais em detrimento de alterações na DV (fig. 28). Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 14 Correta Excessiva Reduzida Fig. 28 Diferentes perfis sociais: A- DV correta, B- DV excessiva, C- DV reduzida. A distância existente entre as superfícies oclusais e incisais dos dentes antagonistas, quando a mandíbula se encontra sustentada pela posição postural ou de repouso muscular fisiológico, é denominada espaço funcional livre (EFL) o que representa a diferença entre a DVO e a DVR, sendo de aproximadamente 3 mm. A relação cêntrica (RC) trata do relacionamento temporomandibular, funda- mental na preservação da saúde das unidades fisiológicas, neuromuscular e ATMs, do AE. Existem na literatura odontológica várias conceituações de diferentes autores, entre as quais se destacam algumas citadas abaixo. - Neff (1975), é a posição inicial dos movimentos mandibulares, estável e fácil de ser reproduzida. - Celenza (1978), é a posição fisiológica mais anterior e superior dos côndilos contra a inclinação da eminência articular, permitida pelas estruturas limi- tantes da ATM, a uma DV dada. É uma posição que comumente não coincide com a máxima intercuspidação e é uma referência aceitável para o tratamento. - Moffett (1978), é uma relação crânio-mandibular, na qual a mandíbula se encontra numa posição mais retruída em relação à máxima intercuspidação quando os dentes fazem os seus contato oclusal inicial. É uma posição bordejante e fácil- mente reproduzível. - Ramfjord (1983), é uma posição ligamentosa mais retruída da mandíbula, a partir da qual os movimentos de abertura e lateralidade podem ser executadosconforta- velmente. - Thomas (1979), diz ser o relacio- namento espacial entre o crânio e os côndilos, sob o mínimo estresse fisiológico, numa posição posterior, superior e media-na na fossa condilar. - Okeson (1989), é a posição mais anterior e superior dos côndilos nas suas fossas com os discos adequadamente inter- postos. - Dawson (1995), é a posição mais superior que as estruturas côndilo-disco propriamente alinhados, podem alcançar contra a eminência. - Jiménez (1995), é a posição fisioló- gica do côndilo, na qual ele se encontra centrado na fossa, em seu posicionamento mais superior e correta-mente relacionado com o disco articular, contra a vertente posterior da eminência articular. - Fernandes Neto (2002), é a relação do côndilo com a fossa mandibular do osso temporal em completa harmonia com o disco articular (fig. 29). É uma posição estável e reproduzível pelo equilíbrio fisiológico dos músculos de sustentação mandibular, e independe do relacionamento dentário. Fig. 29 – RC: relação côndilo – fossa. Estabilidade oclusal – EO é a estabilidade dada à mandíbula em relação às maxilas pela intercuspidação simultânea das cúspides funcionais, nas respectivas fossas antagonistas em ambos os lados da arcada dentária. Fundamental na preservação da saúde das unidades fisiológicas, neuro- muscular, ATMs e oclusão dentária (fig. 30) e periodonto(fig. 31), do AE. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 15 Fig. 30 – A: Estabilidade condilar, B: estabilidade oclusal Fig. 31 – Estabilidade oclusal, direcionamento das forças para o longo eixo dos dentes e conseqüente saúde periodontal Para manter ou restabelecer a estabi- lidade maxilo-mandibular do aparelho estomatognático, são indispensáveis a oclusão dos pré-molares e dos 1ºs molares antagônicos. Fig. 32 - Estabilidade maxilo-mandibular Denomina-se oclusão em relação cêntrica - ORC (oclusão cêntrica ou máxima intercuspidação cêntrica) quando há coinci- dência da posição de máxima intercuspi- dação dentária com a posição de RC das ATMs (fig. 33). Fig. 33 – Oclusão em relação cêntrica: A – RC, B – intercuspidação dentária. Como máxima intercuspidação habi- tual - MIH, é considerada a posição maxilo- mandibular com o maior número de conta- tos entre os dentes antagonistas. É uma posição dentária que independe da posição dos côndilos, logo não deve ser impro- priamente chamada de oclusão cêntrica, pois nesta posição a mandíbula estará sempre desviada da RC. Estudos têm mostrado que, na maioria dos casos, a neuromusculatura posiciona a mandíbula para alcançar a máxima inter- cuspidação independente da posição dos côndilos na fossa. Quando interferências oclusais estão presentes o “feedback” proprioceptivo das fibras periodontais ao redor do dente envolvido programa a função muscular para evitar as interferências. A função muscular resultante pode ser tão dominante que a posição mandibular adquirida será freqüentemente considerada erroneamente pelos clínicos como a verdadeira RC. Para melhor entendimento de toda esta nomenclatura é importante observar que o termo relação cêntrica se refere sempre a uma posição de estabilidade entre o côndilo e a fossa mandibular, indepen- dente dos dentes. Os termos intercuspidação e oclusão referem-se a uma relação de estabilidade dentária entre as maxilas e a mandíbula (maxilo-mandibular), indepen- dente dos côndilos. No entanto, uma oclusão fisiológica requer estabilidade e reprodutibilidade no relacionamento da mandíbula com os ossos temporais e maxilas. Para que isto ocorra, é necessário preservar ou restabelecer simultaneamente, A B A B Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 16 a relação temporomandibular por meio das ATMs direita e esquerda em RC como apoio posterior, e a relação maxiloman- dibular por meio da intercuspidação dos dentes posteriores simultaneamente de ambos os lados da arcada dentária, como apoio anterior. Obtém-se desta forma, uma oclusão em relação cêntrica ou uma máxima intercuspidação cêntrica, de tal maneira que, quando unidos os extremos destes pontos de apoio, forme uma figura geométrica (quadrilátero de estabilidade). Como Guia Anterior GA, descreve-se o relacionamento das bordas incisais dos dentes anteriores inferiores, com a face lingual dos dentes anteriores superiores, durante os movimentos protrusivo e retrusivo da mandíbula (fig. 34), sem contato dental posterior, formando-se com as ATMs direita e esquerda um tripé de estabilidade (fig. 35). Fundamental na preservação da saúde das unidades fisiológicas: neuromuscular, ATMs, oclusão dentária e periodonto do AE Fig. 34 – Representação esquemática de guia anterior Fig. 35 – Guia anterior – plano sagital O objetivo maior da Odontologia está em preservar ou restabelecer a biologia dos tecidos e a fisiologia do AE. Recomenda-se assim a prática da odontologia 4 x 4, onde o alcance dos quatro objetivos resulta na preservação e ou restabelecimento das quatro unidades fisiológicas (Tab. 01) Objetivos permanentes a serem alcançados: Unidades fisiológicas – preservadas: Dimensão vertical Neuromuscular Relação cêntrica Neuromuscular ATMs Estabilidade oclusal Neuromuscular ATMs Dentes Periodonto. Guia anterior Neuromuscular ATMs Dentes Periodonto Tabela 01 – Odontologia 4 x 4: quatro objetivo da odontologia que visam preservar quatro unidades fisiológicas do aparelho estomatognático. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 17 Bibliografia consultada CELENZA, F., NASEDKIN, J. N. Occlusion The state of the art. Chicago: Quintessence, 1978. DAWSON, P. E. New definition for relating occlusion to varying conditions of the temporomandibular joint, JPD. V. 74(6), p. 619-629, dec., 1995. EYZAGUIRRE, C., FIDONE, S. J. Fisiologia do sistema nervoso Traduzido por Aglai Penna Barbosa de Sousa. 2ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan. 398 p. 1977. FIELDS, HL. Pain. New York: Mcgraw- Hill, 1987: 1-78. GUICHET, N. F. Occlusion. Anaheim, California: Denar Corp., 117 p. 1977. JIMÉNEZ-LOPEZ, V. Próteses sobre implantes: Oclusão, casos clínicos e laboratório. 2ª ed. Tradução por Zulema Eugênia G. Batista. São Paulo: Quintessence, 264p. 1996. MADEIRA,M.C. Anatomia da face. Bases anátomofuncionais par a prática odontoló- gica. 2ª ed. São Paulo, Sarvier Editora, 1997. NEFF, P. E. TMJ Occlusion and Function. Washington: Georgetown University - School of Dentistry, Seventh printed, Washington, D.C. 60 p. 1993. OKESON, J. P. Management of tem- poromandibular disorders and occlusion. St.' Louis: Mosby; 108. 1989. RAMFJORD, S. ASH, M.M. Occlusion. 3rd ed. Philadelphia: Saunders; 1983. SENCHERMAN, G. et. al. Manual sobre neurofisiologia de la oclusion. Bogota, Pontificia Universidad Javeriana, 66 p. 1975. PAIVA, H. J. et. al. Oclusão. Noções e Conceitos Básicos. São Paulo, Santos Liv. Editora. 336 p. 1997. PERTES, R. A., GROSS, G. S. – Functional Anatomy and Biomechanics of the joint. In: PERTES, R. A., GROSS, S. G. Clinical management of temporo-mandibular disorders and orofacial pain. Illinois: Quintessence, Cap. 1. 368p. 1995. POKORNY, D. K., BLAKE, F.P. Principles of Occlusion. Detroit: University of Detroit, 56 p., s.d. THE ACADEMY OFPROSTHO- DONTICS. The glossary of pros-thodontics terms., 6th ed. Journal of Prosthetic. Dentistry St. Louis, 112 p., 1994. MOVIMENTOS MANDIBULARES Alfredo Julio Fernandes Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 Para o entendimento da dinâmica dos movimentos mandibulares, além dos quatro determinantes anatômicos do aparelho estomatognático, deve-se também considerar um quinto, o fator emocional do paciente ligado ao sistema nervoso central – SNC. Os determinantes posteriores são as articulações temporomandibulares direita e esquerda, que estabelecem a relação temporomandibular e estão fora do controle do Cirurgião Dentista, exceto por via cirúrgica (fig. 01A). O determinante anterior é a oclusão dentária, que estabelece a relação maxilo- mandibular que pode ser modificada pelo Cirurgião Dentista, tendo a fonética e a estética como fatores limitantes (Fig 01B). Fig. 01 – Determinantes anatômicos: A- ATM direita e esquerda e B - oclusão dentária Esses três determinantes têm como função delimitar mecanicamente o limite superior dos movimentos mandibulares e programar o quarto determinante, constituído pelo sistema neuromuscular proprioceptivo, presente também nas ATMs, polpa e tecido periodontal, que enviam impulsos nervosos para o SNC, criando reflexos condicionados. Pode ser modificado pelo Cirurgião Dentista, modificando-se o terceiro determinante. O quinto determinante esta direta- mente relacionado com o SNC é o estado emocional, estresse ou tensão do paciente, que contribui para o apertamento dentário, bruxismo, espasmo muscular, queixas sobre a ATM e outros. Cinco são os fatores que incidem sobre os movimentos mandibulares e os relacionam à morfologia oclusal: 1- A posição fisiológica inicial que é a relação cêntrica - RC. 2- O tipo de movimento: rotação e translação. 3- A direção do movimento e o plano em que ocorre. Isto é necessário porque cada cúspide e superfície oclusal tem diferentes planos. 4- O grau do movimento e sua relação com as superfícies oclusais. 5- Os significados clínicos do movimento, que expressa diferenças entre os pacientes. 1- Posição fisiológica inicial Como posição fisiológica inicial dos movimentos mandibulares, é considerada a RC, por ser a posição mais estável e mais fácil de ser reproduzida (Fig. 02), podendo os pacientes se apresentar numa posição de máxima intercuspidação habitual, que é uma adaptação e não pode ser considerada como referencial. A relação cêntrica deve ser a posição de eleição para o tratamento restaurador, em pacientes que apresentam sinais e sintomas de oclusão traumática. Movimentos Mandibulares Fernandes Neto, A.J. et. al Univ. Fed. Uberlândia - 2006 19 Fig 02 Posição condilar em relação cêntrica: A - plano sagital, B - plano frontal e C - plano horizontal. 2 - Tipos de movimentos A partir da posição inicial os movi- mentos mandibulares de abertura, fecha- mento, protrusão, retrusão e lateralidade são executados pelos movimentos de rotação e translação condilar, direcionados em planos e graus distintos. Movimento de rotação é o movimento de um corpo ao redor do seu centro (fig. 03). Fig. 03 Movimento de rotação condilar: A - plano sagital, B – plano frontal, C – relacionamento dentário no plano frontal. Movimento de translação é o movi- mento de um corpo quando todos os seus pontos se movem em uma mesma direção ao mesmo tempo (fig. 04). Fig. 04 Plano sagital: A - movimento de translação condilar, B – relacionamento dentário. 3- Direção dos movimentos (planos) A direção dos movimentos se faz em relação aos planos frontal, sagital e horizontal (fig. 05) Fig. 05 Planos: F – frontal, H – horizontal e S – sagital. 4- Grau de movimento O grau de movimento é um fator importante, pois a maioria das funções mandibulares ocorre ao menor grau de abertura. A abertura máxima normal é de aproximadamente 40 mm. 5- Significado clínico dos movimentos: Expressa as diferenças entre os pacientes, demonstrando que cada um apresenta suas próprias relações maxilo- mandibular e temporomandibular. Movimentos mandibulares Movimento de protrusão é o movi- mento mandibular na direção póstero- anterior, de aproximadamente 10 mm. No movimento protrusivo, os côndilos deslizam sobre a eminência articular (guia posterior), e simultaneamente os dentes Movimentos Mandibulares Fernandes Neto, A.J. et. al Univ. Fed. Uberlândia - 2006 20 incisivos inferiores deslizam sobre a fossa lingual dos incisivos superiores (guia anterior) (fig 06). Fig. 06 – Movimento de protrusão mandibular, plano sagital: A – deslize do côndilo sobre a eminência articular, B – guia anterior. A relação dos planos inclinados dis- tais das cúspides dos dentes superiores e os planos inclinados mesiais das cúspides dos dentes inferiores, permitem a desoclusão de todos os dentes posteriores, (fig. 07). Fig. 07: Movimento de protrusão mandibular, desoclusão dos dentes posteriores: A - plano sagital, B.- plano horizontal. Significado clínico das diferentes relações côndilo-eminência e cúspide-fossa (fig. 08). Fig. 08: Significado clínico das diferentes relações côndilo-eminência e cúspide-fossa, plano sagital: A- rasa, B – média, C - profunda. Movimento de trabalho é o movi- mento em direção ao lado para o qual a mandíbula se desloca durante a função mastigatória, com o côndilo rotacionando e transladando sobre as paredes posterior e superior da fossa mandibular do osso temporal (fig. 09A e 09B). As cúspides devem ser capazes de passar pelos planos inclinados antagonistas sem contato (fig. 09C), quando houver uma guia canina de proteção lateral (fig.10) ou, apresentarem contatos contínuos de deslocamento quando houver uma guia lateral de proteção por função em grupo (fig. 11). Esse movimento é de aproximadamente 10 mm. Fig. 09 Movimento para o lado de trabalho: • relacionamento do côndilo com a parede superior e posterior da fossa mandibular do osso temporal, A – plano sagital, B – plano frontal • relacionamento dos dentes posteriores, C - plano frontal e D – plano horizontal. Fig. 10 Guia canina de proteção lateral: A - trajeto da guia pelo canino, plano sagital e plano frontal, B – relacionamento côndilo-fossa e dentes antagonistas no lado de trabalho, C - relacionamento côndilo- fossa e dentes antagonistas no lado de balanceio. Movimentos Mandibulares Fernandes Neto, A.J. et. al Univ. Fed. Uberlândia - 2006 21 Fig. 11 Guia lateral de proteção em função em grupo, plano frontal: A – trajeto da guia, B – relacionamento côndilo-eminência e dentes antagonistas no lado de trabalho, C - relacionamento côndilo-eminência e dentes antagonistas no lado de balanceio. Significado clínico das diferentes relações côndilo-eminência e cúspide-fossa (figs. 12 e 13). Fig. 12 Significado clínico das diferentes relações côndilo-eminência e cúspide-fossa, plano frontal: A- rasa, B – média, C - profunda. Fig. 13 Significado clínico das diferentes relações côndilo-eminência e cúspide-fossa, plano frontal: A- rasa, B – média, C - profunda. Movimento de balanceio ou não trabalho é o movimento em direção ao lado oposto de trabalho. No plano frontal, o côndilo movimenta-se para anterior e para baixo ao longo da parede medianada fossa mandibular, enquanto as cúspides funcio- nais inferiores se movem para baixo, anterior e medialmente, sem contatar os planos inclinados antagonistas, (fig. 14, 15 e 16). Esse movimento é de aproximada- mente 10 mm. Fig. 14 - Movimento para o lado de balanceio: relacionamento do côndilo com a parede mediana da fossa mandibular do osso temporal, A – plano sagital, B – plano frontal, C – plano horizontal Fig. 15 - Significado clínico das diferentes relações côndilo-parede mediana e cúspide-fossa, plano frontal: A - rasa, B - média, C - profunda. Movimentos Mandibulares Fernandes Neto, A.J. et. al Univ. Fed. Uberlândia - 2006 22 Fig. 16 - Significado clínico das diferentes relações côndilo-parede mediana (deslocamento imediato lateral) e cúspide-fossa, plano frontal: A - profunda, B –rasa. Movimentos compostos, nestes movimentos os contornos das paredes da fossa mandibular e a trajetória condilar mantêm uma relação de paralelismo com os planos inclinados das fossas e das cúspides, o que resultará, além do contorno das mesmas, uma posição correta dos sulcos através dos quais as pontas das cúspides antagônicas podem mover-se sem contatos em suas trajetórias de protrusão, trabalho e balanceio, (figs. 17 e 18). Fig. 17 - Movimentos compostos, relacionamento côndilo-fossa e dentes antagonistas, plano frontal: A – lado de trabalho B - lado de não trabalho. Fig. 18 - Movimentos compostos, trajetórias das cúspides funcionais em suas respectivas fossas, plano horizontal: A ponta de cúspide funcional, T – trajetória de trabalho, P – trajetória de protrusão, B – trajetória de balanceio. Oclusão mutuamente protegida é um esquema oclusal no qual os dentes posteriores previnem o excessivo contato dos dentes anteriores numa máxima intercuspidação, (fig. 19) e os dentes anteriores desocluem os dentes posteriores em todos os movimentos excursivos da mandíbula. Fig. 19 - Oclusão mutuamente protegida: dentes posteriores ocluídos e ATMs, protegendo os dentes anteriores, plano sagital. Oclusão anteriormente protegida é um componente da oclusão mutuamente protegida em que, o trespasse vertical e horizontal dos dentes anteriores desocluem os dentes posteriores em todos os movimentos excursivos mandibulares, (fig. 20). Fig. 20 Oclusão mutuamente protegida: dentes anteriores e ATMs, protegendo os dentes posteriores, plano sagital. Trespasse vertical (overbite, sobre- mordida) é a distância em que os dentes superiores se projetam verticalmente sobre os dentes inferiores, na posição de máxima intercuspidação, (fig. 21V). Trespasse horizontal (overjet, sobressaliência) é a distância em que os Movimentos Mandibulares Fernandes Neto, A.J. et. al Univ. Fed. Uberlândia - 2006 23 dentes superiores se projetam horizontal- mente sobre os dentes inferiores, na posição de máxima intercuspidação (fig.21H). Fig. 21 – V: trespasse vertical, H: trespasse horizontal. Todavia, os trespasses vertical e horizontal podem também indicar as relações verticais das cúspides antagonistas (figs.22 23e 24). Fig. 22 – Relação vertical das cúspides antagonistas e trespasse vertical dos dentes anteriores, A: trespasse vertical pequeno – cúspides baixas, B: trespasse vertical grande – cúspides altas. Fig. 23 – Relação horizontal das cúspides antagonistas e trespasse horizontal dos dentes anteriores, A: trespasse horizontal pequeno – cúspides baixas, B: trespasse horizontal grande – cúspides altas Fig. 24 - relação entre dentes anteriores (guia anterior) e a altura das cúspides posteriores, nos trespasses, A: horizontal e B: vertical. Movimento de Bennett é o movimento de deslocamento lateral realizado pelo corpo da mandíbula durante o movimento de lateralidade, que é observado pelo movimento do côndilo de trabalho (fig. 25). Fig. 25 - Movimento de Bennett: LT: lado de trabalho, LB: lado de balanceio, plano horizontal. Movimentos bordejantes são os movi- mentos mandibulares extremos, limitados pelas estruturas anatômicas (fig. 26A). Envelope de movimentos de Posselt é o espaço tridimensional delimitado pela trajetória de um ponto na incisal de um incisivo, durante os movimentos mandibulares bordejantes (fig. 26B). V Movimentos Mandibulares Fernandes Neto, A.J. et. al Univ. Fed. Uberlândia - 2006 24 Fig: 26 - Movimento bordejante, plano sagital: A - anterior e superior, B - envelope de movimentos. Plano oclusal refere-se a uma superfície imaginária que está relacionada anatomicamente com o crânio, e que teoricamente, é delimitado pelas bordas incisais dos incisivos e as pontas das cúspides dos dentes posteriores.(fig. 27). Fig.- 27– Delimitação do plano oclusal, vista pelo plano sagital. Componente anterior de força, em razão da inclinação que os dentes naturais apresentam para a mesial, as resultantes das forças oclusais se dissipam em direção ao longo eixo e nos contatos proximais dos dentes posteriores, e se anulam na linha mediana entre os incisivos centrais (fig. 28). Fig. – 28 - Componente anterior de forças. Curva de Spee é a curvatura anatômica no plano sagital, de sentido ântero-posterior do alinhamento oclusal dos dentes, partindo do ângulo incisal do canino (ponta da cúspide), passando pelas cúspides vestibulares dos pré-molares e molares, continuando em direção à borda anterior do ramo da mandíbula (fig. 29). Fig. - 29 Curva de SPEE Curva de Wilson é a curvatura anatômica no plano frontal, de sentido vestíbulo-lingual, passando pelas cúspides vestibulares e linguais dos dentes posteriores de ambos os lados. A curva é côncava no arco inferior e convexa no arco superior, resultando principalmente das diferentes inclinações axiais dos dentes posteriores de ambos os arcos (fig.30). Fig – 30: Curva de Wilson, em função no ciclo mastigatório. Curva de Manson é a curva de oclusão na qual as cúspides e bordas incisais dos dentes inferiores tocam ou se conformam a um Segmento de uma esfera, com 8 polegadas de diâmetro, cujo centro se localiza na glabela (fig. 31A). Triângulo de Bonwill é o triângulo equilátero, com lados de 10 cm, que une ambos os côndilos aos ângulos mésio- incisais dos incisivos centrais inferiores (1885). Este conceito já foi muito contestado e desmistificado (fig. 31B). Movimentos Mandibulares Fernandes Neto, A.J. et. al Univ. Fed. Uberlândia - 2006 25 Fig. – 31 A: Curva de Monsan e B: triângulo de Bonwill Ângulo de Bennett é o ângulo formado pela trajetória de avanço do côndilo do lado de balanceio com o plano sagital, durante o movimento excursivo lateral mandibular, visto no plano horizontal, fig. 32. Tem em média 15 graus. Durante esse desloca-mento, o côndilo se movimenta para frente, para baixo e para dentro. Fig. 32 - Representação esquemática de A: ângulo de Bennett, LM: linha média, RC: relação cêntrica, B: trajetória do movimento de balanceio, P: plano sagital e a trajetória do movimento de protrusão, T: trajetória do movimento de trabalho. Ângulo de Fischer é o ângulo formado pelas inclinações das trajetórias condilares de protrusão e balanceio visto no plano sagital, fig. 33. Fig. 33 - a: Ângulo de Fischer –plano sagital, RC: relação cêntrica, T: trajetória do côndilo de trabalho, B: trajeto do côndilo de balanceio, P: trajetória do côndilo em protrusão. Quanto maior a distância intercon- dilar, menor será o ângulo formado pelos trajetos lateralidade da mandíbula, fig. 34. Fig. 34 - Relação entre as distancias intercondilares, A – A1: grande e B – B1: pequena e as respectivas trajetórias laterais da mandíbula observadas pelo plano horizontal, na face oclusal dos dentes. Bibliografia Consultada GUICHET, N. F. Occlusion. Anaheim, Califonia: Denar Corp., 1977. 117 p. NEFF, P. E. TMJ Occlusion and Function. Washington: Georgetown Uni-versity - School of Dentistry, Seventh printed, Washington, D.C. 1993. 60 p. SENCHERMAN, G. et. al. Manual sobre neurofisiologia de la oclusion. Bogota, Pontificia Universidad Javeriana, 1975. 66 p. PAIVA, H. J. et. al. Oclusão Noções e conceitos Básicos. São Paulo, Santos Liv. Editora. 1997. 336 p. POKORNY, D. K., BLAKE, F.P. Principles of Occlusion. Detroit: Univer-sity of Detroit, s.d. 56 p. THE ACADEMY OF PROSTHO- DONTICS. The glossary of prosthodontics terms., 6th ed. Journal of Prosthetic. Dentistry St. Louis, 1994. 112 p. ENCERAMENTO PROGRESSIVO Alfredo Julio Fernandes Neto & Marlete Ribeiro da Silva - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 Os critérios para o sucesso de uma reabilitação oral incluem, além das habili-dades técnicas clínicas e laboratoriais, o conhecimento da harmonia entre os componentes fisiológicos do aparelho estomatognático - AE: ATMs, oclusão dentária (morfologia oclusal), sistema neuromuscular e periodonto. A morfologia oclusal em harmonia com os demais componentes do aparelho estomatognático, promove um estímulo fisiológico ao periodonto imprescindível na manutenção da estabilidade oclusal. Para isto, a superfície oclusal deve: 1. Apreender e triturar alimentos; 2. Estar em harmonia com os tecidos adjacentes; 3. Direcionar as forças no longo eixo do dente; 4. Promover conforto e, 5. Ausência de interferência oclusal. 1. Apreensão e corte dos alimentos. As estruturas que compõem a superfície oclusal dos dentes posteriores são: cúspides (ponta, vertentes triturantes e lisas, arestas longitudinais mesial e distal), sulcos, fossas e cristas marginais mesial e distal. As cúspides vestibulares superiores e linguais inferiores (cúspides não funcionais ou de não contenção cêntrica), exercem a função de apreensão e corte dos alimentos. As cúspides palatinas superiores e vestibulares inferiores (cúspides funcionais ou de contenção cêntrica), ocluem nas fossas dos antagonistas triturando o alimento que escapa pelo trajeto dos sulcos principais e secundários, (fig. 01). Fig. 01 - Apresentação esquemática da trituração e escape do alimento, pelo dentes posteriores. (desenho modificado de THOMAS, P.K.) 2. Harmonia com os tecidos adjacentes. O movimento articular implica em movimento mandibular. Este movimento apresenta vários padrões de diferenças individuais, entre eles, a configuração de ambas as fossas condilares, o relaciona- mento vertical dos dentes anteriores e o relacionamento da mandíbula com o crânio através do sistema neuromuscular, (fig. 02). O relacionamento ideal dos elemen- tos da oclusão deve ser tal que os dentes posteriores nunca se contatem durante o movimento mandibular, e este inicie e termine na posição fisiológica inicial dos movimentos mandibulares, relação cêntri- ca - RC. O contato dos dentes posteriores durante os movimentos mandibulares Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 27 poderá resultar ao sistema neuromuscular uma situação de estresse, uma desordem no periodonto de sustentação, um desgas- te dentário e ou desordem nas ATMs. Fig. 02 - Harmonia dos elementos da oclusão, e entre estes e o sistema neuromuscular. (desenho modificado de THOMAS, P.K.) 3. Direcionamento das forças oclusais no longo eixo dos dentes. A força lateral que incide sobre os dentes é sempre destrutiva ao periodonto. Quando os dentes naturais ocluem em uma relação cúspide-fossa, os contatos devem ser do tipo tripoidismo, (fig. 03). Fig.. 03 - Côn- tatos de tripoidis- mo na oclusão dentária. desenho modificado de THOMAS, P.K.) Dessa maneira, quando os dentes posteriores ocluem numa relação cúspide- fossa, a força é direcionada no longo eixo do dente (fig. 04). Assim, a força não será deflectiva, seja no sentido vestíbulo- lingual ou mesio-distal. Fig. 04 - Direcionamento das forças oclusais no longo eixo dos dentes posteriores. (desenho modificado de THOMAS, P.K.) 4. Promover conforto. Uma restauração fisiológica é aquela cujo paciente não tem consciência da mesma, seja em função ou não, não causando nenhum desconforto ao paciente. Dessa maneira, a superfície oclusal de uma restauração deve estar em harmonia com os movimentos mandibu- lares, não induzindo nenhum estresse ao sistema neuromuscular, (fig. 05). Fig. 05 - Representação esquemática da estabili- dade condilar e oclusal, proporcionando conforto ao sistema neuromuscular. (desenho modificado de THOMAS, P.K.) 5. Ausência de interferência oclusal. Assim que se inicia o movimento mandibular os dentes posteriores são separados devido à função harmoniosa entre os dentes anteriores (guia anterior) e a fossa condilar. Os dentes posteriores antagônicos não podem contatar durante os movimentos mandibulares, essa Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 28 relação é chamada de desoclusão, (fig. 06B). Já o contato das cúspides dos dentes posteriores durante os movimentos mandibulares são referidos como interferência oclusal, (fig. 06C). Fig. 06 - Relacionamento oclusal, A: ORC, B: desoclusão durantes os movimentos mandibu- lares, C: interferência oclusal durante os movimentos mandibulares. (desenho modificado de THOMAS, P.K.) Oclusão orgânica O homem adquire no decorrer da vida vários tipos de oclusão. No entanto, estas relações oclusais nem sempre são ideais para os dentes naturais, periodonto, ATMs e demais componentes do aparelho estomatognático. Na busca de uma oclusão harmônica com a biologia dos tecidos e a fisiologia do aparelho estomatognático, Stallard, Stuart e Thomas baseados nos trabalhos de McCollum, que a princípio acreditava na oclusão balanceada, estabeleceram os requisitos da oclusão orgânica para dentes naturais. Sendo aplicada pelos gnatologistas na prática da reabilitação oral e no tratamento da oclusão patológica, a oclusão orgânica é também largamente reconhecida pelos periodontistas. A oclusão orgânica é o arranjo fisiológico da dentição. Requisitos de uma oclusão orgânica: 1. Oclusão em relação cêntrica - ORC. 2. Estabilidade oclusal - EO. 3. Relacionamento oclusal. 4. Força oclusal vertical. 5. Tripoidismo. 6. Guia anterior - GA. 7. Limitação da mesa oclusal. 1. Oclusão em relação cêntrica é a coincidência da relação cêntrica com a intercuspidação bilateral simultânea e uniforme, na oclusão dentária. 2- Estabilidade oclusal é obtida através dos contatos dentários bilaterais simultâneos, em RC e com a mesma intensidade quando da oclusão dentária. Pequenos movimentos mandibulares desocluem os dentes posteriores. 3- Relacionamento oclusal: 3.1- cúspide x fossa: é a relação de um dente contra um dente, através da oclusão das cúspides funcionais dos dentes inferiores (vestibulares) ocluindo nas fossas dos dentes superiores(fig. 07A e 07C) e as cúspides funcionais dos dentes superiores (palatinas) nas fossas dos inferiores, (fig. 07B). Fig. 07 - Relacionamento oclusal cúspide x fossa: A - oclusão das cúspides funcionais dos dentes inferiores (vestibulares) nas fossas dos dentes superiores; B - oclusão das cúspides funcionais A B C B A C Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 29 dos dentes superiores (palatinas) nas fossas dos inferiores; C- relação cúspide x fossa em OCR. A oclusão cúspide-fossa direciona as forças para o longo eixo dos dentes e é fisiológica (Fig. 08). Fig. 08 - Direcionamento das forças para o longo eixo do dente em uma relação cúspide x fossa. (desenho modificado de THOMAS, P.K.) 3.2- Cúspide x crista marginal: Este tipo de oclusão é freqüente- mente encontrado nos dentes naturais (fig. 09A). Ao contrário da oclusão cúspide x fossa, que é estável com o tripoidismo, na oclusão cúspide x crista marginal tanto a cúspide de contenção, como as cristas marginais tendem a se desgastar e a impactar alimentos no espaço interpro- ximal (fig. 09B), sendo potencialmente destrutiva ao periodonto. Fig. 09 - A: Relacionamento oclusal cúspide x crista marginal; B: relação de um dente contra dois dentes, resultando em impacção alimentar e injúrias ao periodonto. (desenho modificado de THOMAS, P.K.) No quadro 01 observa-se a comparação dos relacionamentos oclusais, cúspide versus fossa e cúspide vesus crista marginal: Quadro comparativo dos tipos de oclusão Cúspide- fossa Cúspide-crista marginal Localização dos contatos oclusais nos antagonistas Somente nas fossas oclusais Cristas marginais e fossas oclusais Relação entre os dentes antagonistas Um dente contra um dente Um dente contra dois dentes Vantagens Forças oclusais no eixo médio longitudinal do dente Encontra-se em 95% dos adultos Desvantagens Raramente é encontrada em dentes naturais Impacções alimentares e deslocamento de dentes Aplicações Em reabilitações orais completas Na maioria das restaurações na prática diária Quadro 01- Comparação dos relacionamentos oclusais. 4- Força oclusal vertical na oclusão dentária, é o contatar uniforme dos dentes posteriores quando ocluem numa relação cúspide fossa (Fig 10). Este relacionamento objetiva dire- cionar a força oclusal no longo eixo médio do dente, evitando sobrecarga late- ral e produzindo uma relação fisiológica. Fig. 10 - Força oclusal vertical na oclusão dentária. (desenho modificado de THOMAS, P.K.) A B Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 30 5- Tripoidismo é o contato tipo tripé entre as cúspides funcionais e as fossas antagonistas dos dentes em uma relação cúspide-fossa, (Fig. 11). Fig 11 - Dese- nho esquema- tico do tripé na fossa. (desenho modificado de THOMAS, P.K.). A fossa é uma depressão criada por três elevações e a cúspide toma a forma de uma esfera. O contato entre estas é similar ao de uma bola suportada por três dedos, criando um tripé. Naturalmente, a cúspide nunca toca o fundo da fossa, fig. 12. Fig. 12 - Representação esquemática do relacio- namento cúspide fossa (desenho modificado de THOMAS, P.K.). Esse relacionamento produz o máximo de estabilidade no sentido vestíbulo-lingual e mesio-distal, com o mínimo contato o que evita a abrasão de ponta de cúspide funcional, (fig. 13). Fig. 13: Representação esquemática do tripoidismo, (desenho modificado de THOMAS, P.K.). Numa vista vestíbulo lingual, na figura 14.A, os contatos na oclusão cúspide-fossa são denominados A, B, C. Sem o contato A ou C, a força oclusal pode ser direcionada próxima ao longo eixo do dente com grau de tolerância. No entanto sem o contato B, a força oclusal é aplicada lateralmente, criando uma oclusão patológica, logo o contato B é extremamente importante (fig. 14.B). Fig. 14 - Conatos na oclusão cúspide fossa, A: pontos de contatos A, B e C; B: ausência do contato B. (desenho modificado de THOMAS, P.K.) Onde ocorrer pontos de contato versus superfície de contato, haverá um aumento na eficiência de corte das restaurações e proporcionará uma desoclusão imediata, fazendo com que as restaurações se tornem mais duradouras. Já o contato entre duas superfícies desgastadas tem o perigo potencial de incluir força oclusal lateral, e são sempre deteriorantes. 6- Guia anterior, ocorre durante os movimentos mandibulares, quando todos os dentes posteriores se afastam, não contatando, até que entrem em oclusão no final do ciclo mastigatório. Na oclusão orgânica os dentes anteriores protegem os posteriores e os posteriores, os anteriores. É a chamada oclusão mutuamente protegida. O termo desoclusão, significando separação, é utilizado em contraste com o termo oclusão. Especificamente, desoclu- são significa que os dentes posteriores (que ocluem por meio das faces oclusais) são separados durante os movimentos A B AA BB CC Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 31 mandibulares pelos anteriores (que incisam por meio das faces incisais) e que os anteriores são separados quando os dentes posteriores ocluem. Por tanto em condições anatomo fisiológicas o indivíduo não oclui e incisa ao mesmo tempo. O fato dos posteriores não contatarem nos movimentos mandibu- lares, mantém a superfície oclusal dos posteriores sem facetas, conservando a oclusão estável, (fig. 15). Fig. - 15 Representação esquemática da desoclusão dos dentes posteriores pela ação da guia anterior. (desenho modificado de THOMAS, P.K.) Qualquer contato nos dentes poste- riores feito durante o movimento mandi- bular, é chamado interferência oclusal. Quando esta interferência existe, a força oclusal é aplicada lateralmente ao dente sendo destrutiva ao periodonto, Fig. 16. Fig. 16 - Interferência oclusal durante movimento mandibular. (desenho modificado de THOMAS, P.K.) Quando ocorre uma interferência oclusal durante o ciclo mastigatório, esta é reconhecida pelos sensores proprio- ceptivos do periodonto (aferentes), e a mensagem é transmitida ao SNC. Por sua vez, o SNC envia uma mensagem ao músculo, e este desvia a mandíbula de sua trajetória fisiológica. Esta tendência é particularmente aparente, no movimento que antecede o retorno da mandíbula para a posição fisiológica de fechamento. 7-Limitação da mesa oclusal, em uma restauração, a mesa oclusal não deve ser maior que a dimensão original do dente natural, diretamente relacionada ao dente antagonista, pois seu aumento resulta em uma maior dificuldade em direcionar a força oclusal no longo eixo do dente, (Fig. 17). 6 10 Fig. 17 - Limitação da mesa oclusal para melhor direcionamento das forças oclusais no longo eixo do dente. (desenho modificado de THOMAS, P.K.) Na superfície oclusal, cúspide, fossa e sulcos definidos proporcionam uma mastigação e desoclusão mais efetivas. Para o melhor entendimento de todos estes fundamentos se faz necessário o exercício de escultura pela técnica de enceramento progressivo, para o que deve-se primeiramente obter um modelo de trabalho a partir da moldagem com alginato de um modelo padrão e montá-lo em um articulador semi-ajustável. Modelo de trabalho Enceramento progressivo
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